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ENTIDADES

DE
UMBANDA
SEMANA 01
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SUMÁRIO
A religião Umbanda........................................08
Gênese divina de
Umbanda Sagrada...........................................39
Uma cosmogênese
Umbandista.....................................................86
Os Tronos de Deus..........................................98
7 mistérios.....................................................107
Estudo histórico das
Sete Linhas de Umbanda...............................125
Pioneiros na Umbanda:
uma rota literária...........................................173
Frei Malagrida Jesuíta...................................206
Em defesa do estudo e do conhecimento
da religião de Umbanda................................214
Quando você responde Sim,
Sou Umbandista!..........................................236
Uma carta de Bezerra de Menezes................233
O que a Umbanda tem a oferecer?................244
Umbanda e os quatro
caminhos de Deus.........................................256
Eu Sou Umbandista.......................................268
Do que a Umbanda
precisa?.........................................................280
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Saudações!
Desde que cheguei na Umbanda sempre me coloquei

com olhos desconfiados para tudo. Talvez por isso que


meu contato não foi “amor a primeira gira”, também

não fui pela dor e sim por curiosidade. Após alguns

acontecimentos é que meus olhos desconfiados torna-

ram-se olhos de encantamento e amor. Porém não pos-

so dizer que em algum momento tive uma fé cega, isso


não pertence a minha natureza. No entanto percebemos

não só na Umbanda, mas na humanidade que de forma

geral quer ter uma fé cega em algo e o pior, não querem

se esforçar para alcançar o que almejam.

Posso dizer que minha busca ao conhecimento dos con-


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ceitos e sistemas dentro do ritual de Umbanda foi e é

por muitos visto como “heresia” ou arrogância, enfim,

buscar o saber parece não ser bom negócio. Sou sincero

em dizer que esta posição parte daqueles que ou pre-

tendem criar cordeirinhos robotizados para manipular a


seu bel prazer ou tem medo de descobrir que por muito

tempo foi enganado ou enganou-se.

Ufa! Desabafo à parte aluno, seja bem vindo ao cur-

so Entidade de Umbanda, originalmente entitulado Ar-

quétipos na Umbanda. Este surgiu através das entida-

des que dirigem o Templo Escola Umbanda Sagrada do

qual sou Dirigente. A necessidade de entender como se

forma, em que se baseia e quais as atribuição de tantas

linhas de trabalho dentro de um terreiro é que fez a es-

piritualidade organizar este curso.


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Teórico e prático, neste momento estou encantado por

ele. Pois, sobretudo os textos que compõem esta aposti-

la foram ditados pelos mentores que regeram cada aula

sobre determinada linha. O maior encantamento apa-

rece quando percebemos a sapiência da espiritualida-


de em organizar um sistema espiritual, religioso, que é

brasileiro e não deixou escapar a formatação baseada

no povo brasileiro. Por isso o nome original “Arquéti-

pos na Umbanda”.

ARQUÉTIPO: 1. Modelo de seres criados; 2. protóti-

po; 3. símbolo que se repete com frequência.

Na estrutura das linhas de trabalho na Umbanda enten-

demos o Arquétipo das linhas perguntando: em que se

baseia? E logo vem a resposta de forma clara e prática.


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Estudar, entender e praticar é o que aconselho à todos

que almejam ser mais que um instrumento quando o

assunto é mediunidade. Seja você um parceiro da espi-

ritualidade, consciente e ativo no entrosamento com os

mentores senão já viu, o carro pode atropelar.


Felicidades!

SARAVÁ UMBANDA!
Rodrigo Queiroz
A RELIGIÃO
UMBANDA
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A
Umbanda uma religião brasileira, tem na
sua origem conceitos questionáveis e vem
sendo tema de estudos e profundos deba-
tes.
Estes conceitos variam de uma suposta origem na
antiga Atlântida vindo de desenvolvendo até culmi-
nar no adventos do dia 15 de Novembro de 1908
quando ocorre a manifestação do Sr. Caboclo das
Sete Encruzilhadas através do então jovem Zélio
Fernandino de Morais em Niterói, Rio de Janeiro
que contava com seus 17 anos membro de uma fa-
mília tradicionalmente católica. Nesta ocasião este
espírito, o Caboclo, anuncia que veio para fundar
uma nova religião cujo nome seria UMBANDA.

Em 1906 o jornalista João do Rio lança um livro


denominado Religiões do Rio, uma coletânea de ar-
tigos e relatos sobre as religiões afro-brasileiras que
ele visitava semanalmente e não havia registro al-
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gum de existir um seguimento religioso com o tal


nome UMBANDA.

O crescimento da religião foi bombástico e neste


processo muitos fiéis com espírito de pesquisa fo-
ram dedicando-se a entender esta nova religião bem
como sua “origem”.

Sincrética com excelência, a UMBANDA traz em


seu bojo o que tem de melhor nas principais reli-
giões. Hoje cem anos depois de sua fundação, ela
tornou-se muito mais Universal e ecumênica. Tam-
bém muitas vertentes teológicas e litúrgicas vêm se
firmando. Percebemos desta forma em alguns segui-
mentos uma maior presença do africanismo, noutro
da pajelança, noutro o esoterismo e o exoterismo,
noutro o catolicismo existindo até uma Ordem Fran-
ciscana Umbandista e assim por diante. Frisemos
que tudo é UMBANDA, pois partimos da premis-
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sa de que “Umbanda é a manifestação do espírito


para a obra de caridade”, proferido pelo Sr. Cabo-
clo das Sete Encruzilhadas que ainda reforça que na
Umbanda todos poderão se manifestar sem medo do
preconceito ou qualquer tipo de intolerância.

Independente da forma como se manifesta a Umban-


da, não podemos perder de foco que forma é FOR-
MA, por onde se manifesta a ESSÊNCIA que cha-
mamos de Umbanda.

Sua forma universal e socrática ao mesmo tempo em


que se faz uma fonte de cultura também é o fator
complicador para os cientistas das religiões, teólo-
gos e pesquisadores que num certo momentos ca-
racterizaram a Umbanda como um religião afro-bra-
sileira alegando que ela bebe muito do africanismo.

Pensamos que esta sistematização é frágil e insus-


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tentável, pois a Umbanda não pode ser considerada


afro-brasileira apenas por ter elementos africanos,
justamente por ela extravasar elementos da pajelan-
ça, da magia européia, do catolicismo, do hinduís-
mo, etc. Desta forma seria ela uma religião “amerín-
dio-anglo-saxônica-esoafricano”.

Então pergunto: qual nação é verdadeiramente o re-


trato da miscigenação de todas as raças? Brasil, logo
a Umbanda é uma religião brasileira, se não bastasse
isso ela foi “criada”e fundada no Brasil. Seria ela a
religião genuinamente brasileira com a cara do Bra-
sil.

Portanto, partimos da premissa de que a Umbanda


não é uma religião milenar só porque encontramos
elementos dela em outras civilizações enquanto que
é o contrário, é ela que manifesta preceitos e ma-
gias de outras civilizações e culturas, pois assim é
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que ela foi idealizada. Arriscaria dizer que ela é a


agremiação de várias culturas esquecidas ou não que
se juntaram e se renovaram para manifestar-se neste
novo tempo que vivemos.

Nossa história
Um som envolvente ecoava pelos terreiros des-
te Brasil, atraindo milhares de pessoas do simples
ao abastado, do doutor ao iletrado, todos com suas
aflições e dores buscavam nas casinhas do tambor a
orientação, e quem sabe a cura para seus males.

Este movimentos chamou atenção de um jovem jor-


nalista carioca chamado João do Rio, visitando
tendas, terreiros e ylês, lançava semanalmente em
sua coluna crônicas sobre este universo “não”cris-
tão.

Em 1906, João do Rio lança sei centenário livro Re-


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ligiões do Rio, que é uma junção de seus textos e


experiências. Lá encontramos relatos de de várias
vertentes religiosas como o Catimbó, Macumba,
Xangô, Candomblé e outras. Contudo, nada consta
sobre Umbanda.

Claro que não constaria. Talvez se ele tivesse espe-


rado mais dois anos lá estaria alguma citação, prova-
velmente da origem, Zélio Fernandino de Moraes, o
fundador da Umbanda.

Por outro lado, penso que assim tinha que ser, por-
que ainda hoje, 99 anos após a fundação desta reli-
gião, temos uma comprovação histórica da veraci-
dade deste fato, ainda que muitos queiram falar ser
a Umbanda originária disto ou daquilo, até mesmo
que seja milenar.

Vamos aos fatos históricos. Relatados ao mundo por


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Pai Ronaldo Linares, pois recebeste esta incumbên-


cia do próprio Zélio.

Em 1908, um jovem carioca de 17 anos, se preparava


para ingressar na Marinha. De família tradicional-
mente católica, seguia sua fé como matava o figuri-
no. Eis que num determinado momentos este jovem
começa a ter atitudes e posturas estranhas. Por vezes
se posicionava como um velho de linguajar precário
e falava sobre ervas e remédios naturais, ora se man-
tinha como um jovem cheio de vigor e agilidade.

Estes fenômenos começaram a assustar sua família.


Sua carinhosa mãe começou a via sacra em busca da
cura para o filho que julgava estar louco.

Foi quando sua mãe o encaminhou para o tio médi-


co, Dr. Epaminondas de Moraes, psiquiatra e diretor
do Hospício da Vargem Grande. Após vários dias de
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observação e exames, não encontrando nada pareci-


do na literatura médica da época, sugeriu à mãe do
garoto que o levasse até um padre para fazer exor-
cismo, pois entendia que o mesmo sofria de uma
possessão demoníaca.

Mais um tio de Zélio foi chamado, era padre e acom-


panhado de outros sacerdotes realizou três exorcis-
mos, no entanto, os ataques” prosseguiram deixando
a família desolada.

Passado um tempo, Zélio foi tomado por uma para-


lisia parcial, não explicada pelos médicos, vez que
não se mostrava nenhuma enfermidade. Certo dia
Zélio acorda em seu leito e diz: - Amanhã estarei
curado! No dia seguinte começou a andar como se
nada tivesse acontecido e detalhe, não houve atrofia-
mento muscular, como é típico em alguém que fica
muito tempo deitado.
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Sua mãe foi aconselhada a procurar um centro, de


pronto negou-se, pois entendia que ele deveria ser
curado na sua religião e não tinha que se envolver co
estas “coisas de espíritos”.

Mas teve que render-se, foi então que procurou a re-


cém fundada Federação Kardecista de Niterói, cida-
de vizinha de São Gonçalo das Neves, onde residia
a família Moraes. A Federação era então presidida
pelo senhor José de Sousa, chefe de um departamen-
to da marinha chamado Toque Toque.

Zélio Fernandino de Moraes foi conduzido àquela


Federação no dia 15 de Novembro de 1908, na pre-
sença do senhor José de Sousa, em meio aos ata-
ques reconhecidos como manifestações mediúnicas.
Convidado, sentou-se à mesa e logo em seguida le-
vantou-se, afirmando que ali faltava uma flor. Foi
até o jardim, apanhou uma rosa branca e colocou-a
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no centro da mesa onde se realizava o trabalho. Tal


iniciativa contrariou todas as normas da instituição
o que causou certo tumulto e discussão. Após os âni-
mos se acalmarem, Zélio foi “tomado” por uma en-
tidade.

José de Sousa, que possuía também a clarividên-


cia, verificou a presença de um espírito manifestado
através de Zélio e passou ao diálogo a seguir: (este
texto abaixo foi extraído das Apostilas do Curso de
Formação Sacerdotal da FEDERAÇÃO UMBAN-
DISTA DO GRANDE “ABC” e confirmando de for-
ma presencial pelas turmas do 1º ao 4º Barco, mi-
nistrado por Pai Ronaldo Linares, na ocasião estes
tiveram contato pessoal com Zélio).

“Senhor José: Quem é você que ocupa o corpo deste


jovem?
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O espírito: Eu? Eu sou apenas um caboclo brasileiro.

Senhor José: Você se identifica como caboclo, mas


vejo você em vestes clericais!

O espírito: O que você vê em mim, são restos de


uma existência anterior. Fui padre, meu nome era
Gabriel Malagrida, acusado de bruxaria fui sacrifi-
cado na fogueira da inquisição por haver previsto
o terremoto que destruiu Lisboa em 1755. Mas em
minha última existência física, Deus concedeu-me o
privilégio de nascer como um caboclo brasileiro.

Senhor José: Porque o irmão fala nesses termos, pre-


tendendo que esta mesa aceite a manifestação de es-
píritos que pelo grau de cultura que tiveram, quando
encarnados são claramente atrasados? E qual é o seu
nome irmão?

O espírito: Se, julgam atrasados esses espíritos dos


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pretos e dos índios, devo dizer que amanhã estarei na


casa deste aparelho (o médium Zélio) para dar início
a um culto em que esses pretos e esses índios pode-
rão dar a sua mensagem, e assim, cumprir a missão
que o plano espiritual lhes confiou. Será uma religião
que falará aos humildes, simbolizando a igualdade,
que deve existir entre todos o irmãos encarnados e
desencarnados. E se querem saber o meu nome, que
seja este: “Caboclo das Sete Encruzilhadas, porque
não haverá caminhos fechados para mim. Venho tra-
zer a Umbanda, uma religião que harmonizará as fa-
mílias e que há de perdurar até o final dos séculos.

Senhor José: Julga o irmão que alguém irá assistir


ao seu culto?

O espírito: Cada colina de Niterói atuará como por-


ta-voz, anunciando o culto que amanhã iniciarei.
No desenrolar da conversa senhor José pergunta se
já não existem religiões suficientes, fazendo inclusi-
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va menção ao espiritismo.

O espírito: Deus, em sua infinita bondade, estabele-


ceu na morte, o grande nivelador universal, rico ou
pobre, poderoso ou humilde, todos tornam-se iguais
na morte, mas vocês homens preconceituosos, não
contentes em estabelecer diferenças entre os vivos,
procuram levar estas mesmas diferenças até mesmo
além da barreira da morte. Por que não podem nos vi-
sitar estes humildes trabalhadores do espaço, se ape-
sar de não haverem sido pessoas importantes na Ter-
ra, também trazem importantes mensagens do além?
Porque o não aos caboclos e preto velhos? Acaso não
foram eles também filhos do mesmo Deus? Amanhã,
na caso onde meu aparelho mora, haverá uma mesa
posta e toda e qualquer entidade que queira ou preci-
se se manifestar, independente daquilo que haja sido
em vida, todos serrano ouvidos, nós aprenderemos
com aqueles espíritos que souberem mais e ensina-
remos aqueles que souberem menos e a nenhum vi-
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raremos as costas, a nenhum diremos não, pois esta


é a vontade do Pai.

Senhor José: E que nome darão a esta Igreja?

O espírito: Tenda Nossa Senhora da Piedade, pois da


mesma forma que Maria ampara nos braços o filho
querido, também serão amparados os que se socor-
rerem da Umbanda.”

Zélio de Morais contou que no dia seguinte, 16 de


novembro, ocorreu o seguinte:

- Minha família estava apavorada. Eu mesmo não sa-


bia explicar o que se passava comigo. Surpreendia-
-me haver dialogado com aqueles austeros senhores
de cabeça branca, em volta de uma mesa onde se
praticava para mim um trabalho desconhecido.

Como poderia, aos dezessete anos, organizar um


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culto? No entanto eu mesmo falara, sem saber o que


dizia e por que dizia. Era uma sensação estranha:
uma força superior me impelia a fazer e a dizer o
que nem sequer passava pelo meu pensamento.

- E, no dia seguinte em casa de minha família, na Rua


Floriano Peixoto, 30, em Neves, ao se aproximar a
hora marcada, 20 horas, já se reuniam os membros
da Federação Espírita, seguramente para comprovar
a veracidade dos fatos que foram declarados na vés-
pera, os parentes mais chegados, amigos, vizinhos
e, do lado de fora, grande número de desconhecidos.

Pontualmente às 20:00 horas o Caboclo das Sete En-


cruzilhadas incorporou e as palavras abaixo iniciou
seu culto:

- Vim para fundar a Umbanda no Brasil, aqui ini-


cia-se um novo culto em que os espíritos de pretos
velhos africanos e os índios nativos de nossa ter-
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ra, poderão trabalhar em benefício dos seus irmão


encarnados, qualquer que seja a cor, raça credo ou
posição social. A prática da caridade no sentido do
amor fraterno, será a característica principal deste
culto.

O caboclo estabeleceu as normas do culto: sessões,


assim as chamariam os períodos de trabalho espi-
ritual, diárias das 20 às 22 horas, os participantes
estariam uniformizados de branco e o atendimento
seria gratuito.

O fato de se ter fundado a Umbanda numa sexta-fei-


ra fez com que até hoje, tradicionalmente, a maioria
dos terreiros trabalhem neste dia.

Ditados as bases do culto, após responder, em latim


e em alemão às perguntas dos sacerdotes ali presen-
tes, o Caboclo das Sete Encruzilhadas passou à parte
prática dos trabalhos, curando enfermos e fazendo
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andar aleijados.

Após a “subida” do Caboclo, manifestou-se uma en-


tidade conhecida como “preto velho” que saindo da
mesa se dirigiu a um canto da sua sala onde perma-
neceu agachado. Questionado sobre o porquê de não
ficar na mesa respondeu:

- “Nêgo num senta não meu sinhô, nego fica aqui


mesmo. Isso é coisa de sinhô branco e nego deve
respeita”. Após insistência ainda completou: - “Num
carece preocupa não, nego fica no toco que é lugar
de nego. E assim continuou dizendo outras coisa
mostrando a simplicidade, humildade e mansidão
daquele que trazendo o estereótipo do preto velho,
se identificou como Pai Antônio e logo cativou a to-
dos com seu jeito. Ainda lhe perguntaram se ele não
aceitava nenhum agrado, ao que respondeu: - Minha
cachimba, nego qué pito que deixou no toco, manda
muleque buscar”. Esta frase originou o ponto canta-
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do com este texto.

Todos ficaram perplexos, estavam presenciando a


solicitação do primeiro elemento material de traba-
lho dentro da Umbanda. Na semana seguinte todos
trouxeram cachimbos que sobraram diante da neces-
sidade de apenas um para Pai Antônio. Assim, o ca-
chimbo foi instituído na linha de pretos velhos. Pai
Antônio também foi a primeira entidade a pedir uma
guia (colar) de trabalho.

O pai de Zélio frequentemente era abordado por


pessoas que queriam saber como ele aceitava tudo
isso que vinha acontecendo em sua residência. Sua
resposta era sempre a mesma, em tom de brincadeira
respondia que preferia um filho médium em lugar de
um filho louco. Foi um trabalho árduo e incessan-
te para o esclarecimento, difusão e sedimentação da
Umbanda.
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Dez anos após a fundação da Tenda Nossa Senhora


da Piedade (registrada como tenda Espírita, porque
não era seria aceito na época o registro de uma enti-
dade com especificação de Umbanda), o Caboclo das
Sete Encruzilhadas declarou que iniciava a segunda
parte de sua missão: a criação de sete templos, que
seriam o núcleo do qual se propagaria a religião da
Umbanda.

Em 1935, estavam fundados os sete templos ideali-


zados pelo Caboclo das Sete Encruzilhadas, sendo
curiosa a fundação de sétimo, que receberia o nome
de Tenda São Jerônimo (a casa de Xangô). Falta-
va um dirigente adequado a mesma, quando numa
noite de quinta feira, José Alvares Pessoa, espírita e
estudioso de todos os ramos do espiritualismo, não
dando muito crédito ao que lhe relatavam sobra as
maravilhas ocorridas em Neves, resolveu verificar
pessoalmente o que se passava.
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Logo que entrou na sala em que se reuniam os discí-


pulos do Caboclo das Sete Encruzilhadas, este inter-
rompeu a palestra e disse:

- Já podemos fundar a Tenda São Jerônimo e seu di-


rigente acaba de chegar.

O Senho Pessoa ficou muito surpreso, pois era des-


conhecido no ambiente e não anunciara a sua visita.
Viera apenas verificar a veracidade do que lhe nar-
ravam. Após breve diálogo em que o Caboclo das
Sete Encruzilhadas demonstrou conhecer a fundo o
visitante, José Alvares Pessoa assumiu a responsa-
bilidade de dirigir o último dos sete templos que a
entidade criava.

Dezenas de templos e tendas, porém, seriam cria-


dos posteriormente, sob a orientação direta ou indi-
reta do Caboclo das Sete Encruzilhadas. Em 1939,
o Caboclo determinou a fundação de um Federa-
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ção (posteriormente denominada de União Espírita


de Umbanda do Brasil, segundo relata Seleções de
Umbanda n.º 7 1975) para congregar templos Um-
bandistas e ser o núcleo central deste culto, no qual
o simples uniforme branco de algodão dos médiuns
estabelece a igualdade de classes e a simplicidade
permitida pelo ritual. Enquanto Zélio esteve encar-
nado foram fundadas mais de 10.000 tendas. Após
55 anos de atividades este entregou a direção dos
trabalhos da Tenda Nossa Senhora da Piedade à suas
filhas Zélia e Zilméia. Mais tarde junto com sua es-
posa Maria Elizabete do Moraes, médium ativa da
tenda e aparelho do Caboclo Roxo fundou a cabana
de Pai Antônio no distrito de Boca do Mato, municí-
pio de Cachoeiras do Macacu - RJ.

+ Zélio Fernandino de Moraes desencarnou no dia


03 de Outubro de 1975. +

A cerimônia fúnebre de Zélio foi celebrada por Pai


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Ronaldo Linares a pedido de seus familiares.

Suas filhas deram continuidade ao trabalho e a “Ten-


da Nossa Senhora da Piedade” existe até hoje sob a
direção de Zilméia de Moraes.

Nesta história temos o fato histórico da primeira ma-


nifestação de Umbanda, o momento em que um Ca-
boclo manifesta-se em um vertente diferente das das
conhecidas afro-brasileiras. Pois é, Caboclos e Pre-
tos Velhos já se manifestavam nos terreiros de Ca-
timbó, de Macumba Carioca e outros. Ficou a cargo
do Caboclo Sete Encruzilhadas a separação do joio
e do trigo. As manifestações espirituais começaram
a se focar na Umbanda, o que facilitou a criação de
sua identidade.

Alguns estudiosos defendem que a origem da Um-


banda não seria o Brasil, e sim uma ramificação
de outros cultos africanos, outras linhas de estudo
ENTIDADES DE UMBANDA
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apontam que ela se originou na Lemúria e Atlântida,


vindo se reapresentar no Brasil na data citada.

Veja o que Pai Ronaldo Linares, Sacerdote de Um-


banda e presidente de Federação Umbandista do
Grande ABC, comenta numa entrevista concedida a
TV Umbanda Sagrada, ressaltando que Pai Ronaldo
conviveu com Zélio, o qual o delegou a função de
fazer ser conhecida a história do nascimento da Um-
banda.

“Há um pouco de desinformação, também houve


um tempo em que se quis “branquear” a Umbanda,
levando a crer que ela se originaria do Hinduísmo,
ou do Egito Antigo, enfim… Port meu fiz uma pes-
quisa séria aliada a outras e ao que tudo indica não
existia nenhuma tenda ou segmento religioso antes
de 1908. A Umbanda é um pouco negra, um pouco
indígena, um pouco branca, temperada com tudo o
que faz parte do povo brasileiro. O vocabulário Um-
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banda é africano, e daí? Se 50% da população brasi-


leira é negra e mistos?

Não creio na teoria da Umbanda quadrimilenar, pra


mim, Umbanda é o Preto Velho o Caboclo e a Crian-
ça, como ensinou Papai Zélio…”

Enfim leitor, estamos neste mês comemorando 99


anos da Umbanda, rumo ao centenário desta religião
que tanto cura e alimenta a alma das pessoas. No dia
15 de Novembro, que é feriado da Proclamação da
República, lembre-se que também foi proclamada a
religião de alimenta nossa Fé e que nos permite sen-
tirmo-nos próximos de Deus. Então acenda uma vela
branca em homenagem ao Caboclo da Sete Encruzi-
lhadas e seu aparelho Zélio Fernandino de Moraes,
agradecendo por terem sido resignados emissários
da luz na implantação desta maravilhosa religião.

Também lembre seus companheiros de terreiro desta


ENTIDADES DE UMBANDA
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data e comore este grande aniversário.

Parabéns Umbanda, parabéns Pais e Mães no Santo


que tantos anos resistiram em prol desta bandeira
que é branca, não tem símbolo e nem cor, porque é
neutra, cristalina e Universal.

Parabéns a você Umbandista como eu que veste o


branco semanalmente em prol de nossos semelhan-
tes para esperar nada com isso. Pratique Umbanda
pela Umbanda e isso basta.

Parabéns Pai Zélio que lá de Aruanda deve se emo-


cionar com este belo exército branco de Oxalá que
honra seu trabalho.

Saravá Umbanda!

FONTE: Revista Umbanda Sagrada, Ed. 01, 2007


GÊNESE DIVINA
DE
UMBANDA SAGRADA

O LIVRO DOS TRONOS DE DEUS


A CIÊNCIA DIVINA REVELADA
RUBENS SARACENI
ENTIDADES DE UMBANDA
34 SEMANA 01

A
qui consta a apresentação e uma parte do
texto sobre a “Gênese do Planeta Terra”,
editado por Alexandre Cumino:

“A Gênese e a Teologia da Umbanda são insepará-


veis, porque uma está na outra. Escrever sobre a sua
gênese é criar um tratado teológico, e escrever sobre
a sua teologia é criar uma gênese divina das coisas.

A Gênese Divina de Umbanda é uma ampla e ele-


vada abordagem sobre o Divino Criador e sobre as
Suas divindades, regentes da criação e dos seres.

Uma gota de água cristalina não purifica um litro


de água suja. Mas uma gota de água suja contamina
um litro de água cristalina. Assim também acontece
com o conhecimento: um conhecimento verdadeiro
não anula todas as inverdades já semeadas. Mas um
falso conhecimento pode induzir muito à regressão
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
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do espírito.

Purifiquem-se nesta fonte cristalina do conhecimen-


to.

***
As informações aqui contidas vieram diretamente do
Magno Colégio de Umbanda Sagrada, astral, dirigi-
do pelo nosso amado mestre-mago Seiman Hamiser
yê, também conhecido na Umbanda como Senhor
Ogum Megê “Sete Espadas da Lei e da Vida”, um
trono humanizado e espiritualizado.

Mestre Seiman Hamiser yê é um dos mentores as-


trais responsáveis pelo Ritual de Umbanda Sagra-
da e transmitiu-nos a Gênese Divina de Umbanda,
secundado por todos os outros mestres-magos aqui
não citados a pedido do Senhor Ogum Beira-mar,
meu mestre pessoal.
ENTIDADES DE UMBANDA
36 SEMANA 01

Deus, ao gerar-nos de Si, dotou-nos com Suas quali-


dades divinas e espera que cada um vá revelando-as,
à medida que for evoluindo.
***
As necessidades do espírito não são as mesmas do
corpo físico por ele ocupado; se recorre a elas, é para
evoluir mais em menor espaço de tempo.

Muito obrigado, meus Pais e Mães Orixás!


Muito obrigado, meus amados Mestres e Mestras da
Luz!
Muito obrigado, meus Guardiões!
Muito obrigado a todos os que têm apoiado nossas
obras mediúnicas!

Em nome do Pai, aceitem esta obra mediúnica como


nossa contribuição à evolução espiritual, religiosa e
teológica da humanidade, mediante o Ritual de Um-
banda Sagrada. Rubens Saraceni”
A GÊNESE DO
PLANETA TERRA
ENTIDADES DE UMBANDA
38 SEMANA 01

N
ós sabemos que o “universo” dos Orixás
é vastíssimo e isto tem intrigado uns e
confundido outros estudiosos deste mis-
tério do Criador.
Sim, porque muitos julgam que a história da huma-
nidade começou a alguns milhares de anos após o
dilúvio, tal como está escrito na Bíblia.

Mas temos informações seguras, recebidas dos pla-


nos espirituais superiores, que o “dilúvio bíblico”
não se refere a uma chuva torrencial durante qua-
renta dias, e sim a toda uma transformação da cros-
ta terrestre que aconteceu há muito tempo, fato este
que encerrou um ciclo evolutivo e deu início a outro.
Havia toda uma civilização avançadíssima, mas que
tinha esgotado sua capacidade de evoluir, já que a
“produção” daquela época não era mecânica e capaz
de se reproduzir como a de hoje: em larga escala.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
39

Aconteceu um dilúvio? Sim. Mas não exatamente


como está na Bíblia ou nas lendas de outros povos
tão antigos quanto o semita.

Em várias culturas religiosas encontramos vestígios


deste acontecimento incomum, já como narrativas
míticas ou lendárias. Encontramos vestígios dilu-
vianos em diversas regiões do globo terrestre, sem
que umas tivessem contato com as outras, regiões
habitadas por povos totalmente diferentes nas suas
expectativas religiosas e na forma de expressarem
seus anseios quanto ao incognoscível (Deus). O fato
é que aconteceu toda uma transformação geográfi-
ca, cultural e religiosa que durou vários milênios e
resultou na atual configuração da crosta terrestre,
assim como na distribuição das antigas populações,
quase extintas enquanto durou o processo.
A Gênese Divina nos revela que este ponto do uni-
ENTIDADES DE UMBANDA
40 SEMANA 01

verso onde hoje vivemos já foi um caos energético,


que pouco a pouco foi sendo ordenado pelo poderoso
magnetismo planetário, e que por bilhões de anos a
Terra era inabitável, pois nenhum tipo de vida resis-
tiria às explosões energéticas, que aconteciam por-
que elementos contrários se chocavam e se repeliam
com violência. Mas, de explosão em explosão, todo
um esgotamento energético foi acontecendo, e os
elementos mais “reativos” foram sendo consumidos
e começaram a rarear, tornando possível a acomoda-
ção dos elementos estáveis. Então, pouco a pouco, a
crosta terrestre foi se resfriando, ou melhor, foi per-
dendo calor para o espaço vazio existente além do
seu campo eletromagnético.

Este campo tem seu limite nas camadas mais altas


da estratosfera, justamente onde “vapores” ou ga-
ses ficavam concentrados, porque não conseguiam
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
41

ultrapassar o cinturão eletromagnético que se for-


mou com o giro do planeta sobre si mesmo, ou so-
bre seu eixo magnético. Quando o “espaço” interno
do planeta ficou saturado destes gases, a Terra era
semelhante ao planeta Júpiter que vimos quando foi
atingido por um cometa, que penetrou numa camada
gasosa antes de atingir a massa sólida. Saibam que
a bilhões de anos atrás, a Terra se encontrava toda
envolta por uma densa camada gasosa composta
por muitos elementos, que, pouco a pouco foram se
combinando e dando origem a moléculas mais pesa-
das, que começaram a baixar ou se precipitar sobre
a massa incandescente que era a Terra então.

A ciência divina nos diz que desde o assentamento


do divino Trono das Sete Encruzilhadas neste pon-
to do universo, pelo Divino Criador, já se passaram
cerca de uns treze bilhões de anos, sendo que nos
ENTIDADES DE UMBANDA
42 SEMANA 01

primeiros quatro bilhões, o nosso planeta se parecia


com uma estrela azul, mas que cintilava outras co-
res.

Este período foi o tempo que o divino Trono das Sete


Encruzilhadas passou “absorvendo” energias, atra-
vés do seu poderoso magnetismo cósmico. Fato este
que deu início aos choques “nucleares” geradores de
explosões gigantescas e geradoras de novas ondas
eletromagnéticas hiper-carregadas de energias, visí-
veis desde outras constelações.

Com o tempo, o núcleo magnético do planeta foi


alcançando um ponto de equilíbrio, as ondas ele-
tromagnéticas foram perdendo força e as energias
foram se condensando em torno do eixo magnético
planetário.
Então, o planeta que era uma massa incandescente
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
43

com pequena “reatividade” começou a perder calor


para o geladíssimo espaço cósmico, que é o absor-
vente natural do excesso de calor dos corpos celes-
tes.

Tanto isso é verdade, que o brilho que vemos nas es-


trelas é energia que flui com as ondas eletromagné-
ticas, mas que vai sendo diluída no espaço cósmico.
Mas as ondas eletromagnéticas geradas no interior
delas, e que nos chegam, são absorvidas pelo mag-
netismo planetário e o recarregam, mantendo-o em
equilíbrio vibratório.

Já o excesso, é lançado fora pelos pólos magnéticos


(norte-sul), mantendo constante o campo em torno
do planeta.

Afinal, nada é gerado do nada. Se a Terra tem seu


ENTIDADES DE UMBANDA
44 SEMANA 01

magnetismo constante, algo tem que estar alimen-


tando-o continuamente para que ele se mantenha es-
tável.

“Esta absorção das ondas eletromagnéticas irradia-


das por outros planetas é o fundamento da astrolo-
gia.”

O poderoso magnetismo de Vênus, que é um planeta


regido por um trono planetário de natureza femini-
na, explica a influencia deste planeta nas questões
do amor, do coração e da sexualidade.

Saibam que o planeta Vênus não é igual ao nosso,


porque o magnetismo do trono que o rege não é igual,
não é da mesma natureza e sua dimensão física ou
material tem uma finalidade inversa à do planeta ter-
ra. Lá, a dimensão física é doadora de energias para
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
45

as outras dimensões paralelas a ela. Já aqui, a di-


mensão física tanto é doadora quanto receptora das
energias das nossas dimensões paralelas.

Em Vênus, nas suas dimensões paralelas à dimensão


material, em todas, só vivem seres femininos. Sejam
de que espécies forem, certo?

Vênus é um planeta feminino; Marte é um planeta


masculino; Terra é um planeta misto; Urano é femi-
nino;
Plutão é masculino; Mercúrio é misto; Júpiter é mis-
to;
Sol é misto;
Netuno é misto e
Saturno é misto.

Lembrem-se de que estamos nos referindo a suas di-


ENTIDADES DE UMBANDA
46 SEMANA 01

mensões paralelas onde vivem trilhões de seres e


criaturas.
Seres – espécies racionais
Criaturas – espécies instintivas

Saibam que nos planetas femininos só vivem seres


femininos e nos planetas masculinos só vivem seres
masculinos.

Saibam que a Terra tem 77 dimensões paralelas. Já


outros planetas, uns tem 33, 49, 11, 21, 333, 777, 999
e etc. Cada planeta possui um numero de dimensões,
todas paralelas umas as outras e todas atendendo aos
desígnios do Divino Criador.

Cada planeta possui seu trono planetário, cujo mag-


netismo divino desencadeou seu processo formador
e o tem sustentado desde que foi assentado ali pelo
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
47

Divino Criador. Estes Tronos são individualizações


do Divino Criador e têm em si mesmo tantas quali-
dades de Deus quanto forem necessárias à manuten-
ção da vida que têm que amparar e têm de fornecer
as condições ideais para que os seres subsistam e
evoluam.

Nós, aqui na terra, só conseguimos raciocinar a par-


tir do que conhecemos e nos é tangível. Mas a obra
divina não se limitou à dimensão física, e só a partir
da dimensão espiritual nos é possível raciocinar a
partir de novas realidades.

Mas o fato é que a Terra é um pólo eletromagnético


e capta as vibrações ou ondas eletromagnéticas dos
planetas do nosso sistema solar, porque todos estão
acomodados dentro do “espaço” solar. Já o mesmo
não acontece com as ondas de outros planetas, pois
ENTIDADES DE UMBANDA
48 SEMANA 01

o magnetismo deles não sai de dentro do campo do


“sol” que os sustenta.

Mas as ondas eletromagnéticas oriundas de algumas


estrelas são mais sutis que as ondas do Sol, penetram
em seu campo eletromagnético e são absorvidas pe-
los planetas que formam o sistema solar, sobrecarre-
gando-os magneticamente e alimentando os magne-
tismos planetários, distinguindo-os do magnetismo
solar que, se não fosse por isto, anularia os campos
eletromagnéticos dos planetas em sua órbita.

Este magnetismo estelar mais sutil sobrecarrega os


planetas e dá a eles as condições de resistirem à atra-
ção magnética (ou gravitacional) do Sol.

Saibam que o mesmo acontece com os elétrons que


giram em torno do núcleo de um átomo, ou com o
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
49

magnetismo mental dos espíritos, pois estes absor-


vem o magnetismo sutil das Divindades Irradiantes
(luminosas), vão se afastando da faixa neutra (ponto
zero) e vão ascendendo às faixas vibratórias mais
elevadas.

Tudo o que acontece no macro se repete no micro,


e tudo o que acontece na criação acontece nas cria-
turas e nos seres. Deus se repete e se multiplica em
tudo o que gerou a partir de Si mesmo, quer esse
tudo seja animado ou inanimado. Quer seja instinti-
vo ou racional.

“E se assim é, é porque tudo acontece em Deus”.


Bom, já viram como somos influenciados pelas on-
das eletromagnéticas das estrelas (outros sóis) e dos
planetas dentro do campo magnético do Sol, que
forma o nosso sistema solar, que nada mais é que
ENTIDADES DE UMBANDA
50 SEMANA 01

um macro átomo.

Então perceberam que assim como um enunciado


químico nos diz que na natureza nada se perde e tudo
se transforma, também no campo das energias e dos
magnetismos o mesmo se aplica.

Nós dissemos que por uns quatro bilhões de anos o


nosso planeta foi uma massa energética reativa, mas
assim que o divino Trono das Sete Encruzilhadas
alcançou seu limite máximo em sua capacidade de
absorver energias, as reações foram diminuindo e só
restou uma bola incandescente cercada de vapores
(gases) cujos elementos (átomos) foram se combi-
nando e dando origem a moléculas mais pesadas que
se precipitavam sobre a superfície incandescida.

Pouco a pouco, com a perda de calor para o gelado


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
51

espaço cósmico, a crosta foi se resfriando e se soli-


dificando, até que se tornou densa o suficiente para
reter em sua superfície as moléculas que iam se for-
mando nas camadas gasosas mais elevadas.

Mas o interior incandescido, que era energia pura,


criava e ainda cria pressão, elevando para a superfí-
cie os átomos hiper-aquecidos.

É o mesmo processo da fervura da água: o fogo


aquece o fundo da chaleira, as moléculas de águas se
energizam e sobem, criando lugar para que as menos
energizadas se precipitem para o fundo. Com isto
cria-se uma corrente dupla, onde moléculas mais
energizadas (quentes) sobem, e as menos energiza-
das (menos quentes) descem para o fundo da chalei-
ra. Quando as que haviam subido se desenergizam
(perdem calor), então se tornam mais “pesadas” e
ENTIDADES DE UMBANDA
52 SEMANA 01

descem, enquanto as que antes haviam descido se


energizaram (aqueceram) e sobem.

Nesta ebulição algumas moléculas hiper-aquecidas


saem pelo bico da chaleira e se perdem no espaço.
O mesmo aconteceu com o planeta Terra.

Nesta dupla corrente, estabelecida no magma ener-


gético, o planeta foi perdendo calor e moléculas hi-
per-aquecidas. Mas outras se precipitavam, já res-
friadas, absorvendo calor, voltando a subir até as
camadas magnéticas mais frias, onde perdiam o ca-
lor e se desenergizavam.

O fato é que o processo de resfriamento do nosso


planeta Terra durou mais de três bilhões de anos e
as ligações atômicas comandadas pela imanência do
divino Trono das Sete Encruzilhadas deram origem
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
53

a muitos tipos de moléculas, que deram origem a


muitas substâncias. Umas sólidas, outras líquidas e
outras gasosas.

Se tudo aconteceu assim, é porque assim foi esta-


belecido pelo Divino Criador quando se individua-
lizou no divino Trono das Sete Encruzilhadas, Seu
herdeiro “natural”.

Tal como acontece durante a fecundação do óvulo


pelo sêmen e toda uma cadeia genética geradora é
formada e ativada, o mesmo ocorreu quando um ser
divino (o divino Trono das Sete Encruzilhadas) mag-
netizou-se e se polarizou dentro do ventre da Mãe
Geradora (a natureza cósmica de Deus).

Então se criou um magnetismo novo que, tal como


um feto, começou a absorver os nutrientes da Mãe
ENTIDADES DE UMBANDA
54 SEMANA 01

Geradora (o Cosmo).

O feto alimenta-se de sua mãe e o mesmo fez o divi-


no Trono das Sete Encruzilhadas e sua parte gerado-
ra, que é uma individualização da parte feminina do
Divino Criador (a Natureza).

Enquanto (o divino Trono das Sete Encruzilhadas)


crescia magneticamente, o planeta se energizava
(materializava).

Com isto dito, saibam que o divino Trono das Sete


Encruzilhadas é o magnetismo que sustenta a exis-
tência do planeta em suas muitas dimensões. Já a sua
contra parte natural é a individualização e repetição
“localizada” da natureza cósmica de Deus ou de Sua
parte feminina, que é um ventre gerador de vida.
Na criação divina (a gênese das coisas) tudo se re-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
55

pete e se multiplica. Tudo que está acontecendo aqui


e agora, em um outro nível dentro de um grau da
escala magnética divina, já aconteceu ante.

Ou seja: o que antes aconteceu numa macro esca-


la hoje, acontece num grau dessa mesma escala,
amanhã acontecerá num nível e depois de amanhã
acontecerá num subnível. E assim sucessivamen-
te, bastando guardar as proporções das repetições e
multiplicações, a célula-mãe se repete e se multipli-
cam nas suas células filhas.

Saibam que na gênese de um corpo humano, a par


da herança genética dos pais, o sêmen do homem
tem um magnetismo análogo ao do divino Trono das
Sete Encruzilhadas que atrai as energias (nutrientes),
enquanto o magnetismo do óvulo da mulher é análo-
go ao da mãe geradora (cosmos) que vai agregando
ENTIDADES DE UMBANDA
56 SEMANA 01

e distribuindo os nutrientes, segundo um código pre-


estabelecido.

Esta é a razão de todos os planetas serem “redondos”.


Eles são formados dentro de um tipo de magnetismo
ovular (de óvulo ou ovo). Nesse magnetismo plane-
tário, os eixos são do divino Trono das Sete Encru-
zilhadas. Já o magnetismo que os reveste e retém
em cada camada os elementos, estes são o da Divina
Mãe Geradora, ou sua natureza divina.

Só quando estes dois magnetismos se fundem surge


algo, tal como só quando o macho se une com a fê-
mea (copula) uma nova vida é gerada.

Tudo se repete e tudo se multiplica, bastando saber-


mos que é assim que tudo acontece dentro de Deus,
porque Ele é o eixo da geração e a própria geração
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
57

em Si mesmo.
Ele tanto é o macho quanto à fêmea. Mas quando se
individualiza aí assume a Sua dualidade e biparte-Se
em ativo e passivo, positivo e negativo, irradiante e
absorvente, macho e fêmea.

E foi o que aconteceu aqui na Terra, porque da união


magnética do divino Trono das Sete Encruzilhadas
com a “mãe natureza” surgiu um planeta magnífico
e único no nosso sistema solar.

Como já dissemos, Vênus é um planeta tipicamente


feminino e Marte é masculino. Já a Terra é um pla-
neta misto ou bipolar.

As energias irradiadas pelo planeta Vênus são emo-


tivas, as de Marte são racionais.
As vibrações (ondas) magnéticas do planeta Vênus
ENTIDADES DE UMBANDA
58 SEMANA 01

são “cochoidais” e as de Marte são retas.

A essência de Vênus é estimuladora da ovulação fe-


minina e a de Marte é estimuladora da fertilidade
masculina.

O fator venusiano desenvolve a natureza sensual das


fêmeas e o fator marciano desenvolve a natureza vi-
ril dos machos.

Voltando à gênese do nosso planeta. O fato é que


durou sete bilhões de anos desde que se iniciou, até
que uma atmosfera, ainda saturada de gases, tivesse
sido formada.

O planeta de então era instável e a todo o momen-


to sacudido por gigantescas erupções vulcânicas. A
partir daí, as “substâncias” já não retornavam ao in-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
59

terior incandescido, porque a crosta sólida retinha


em sua superfície as lavas, que iam “engrossando-a”
e expandindo-a cada vez mais.

Este processo de resfriamento interno via erupções


vulcânicas durou um bilhão e meio de anos e iniciou-
-se a partir das calotas polares ou pólos magnéticos.
Até este ponto já havia passado uns oito bilhões de
anos e tempo suficiente para que todas as setenta e
sete dimensões paralelas se completassem. Mas ain-
da não estavam alinhadas magneticamente em fun-
ção das atividades magmáticas no interior do plane-
ta.

Este alinhamento durou uns dois bilhões de anos e


só quando se completou a vida propriamente dita
teve início com o surgimento em formas ainda rudi-
mentares e unicelulares.
ENTIDADES DE UMBANDA
60 SEMANA 01

As algas foram a primeira forma de vida unicelular


que aqui surgiu. Mas isto só foi possível porque a
formação de moléculas de água acelerou-se e alagou
a crosta terrestre com a precipitação de toda uma
formação gasosa acumulada nos pólos magnéticos.
Plânctons começaram a surgir nas águas paradas e
logo (uns quinhentos milhões de anos), toda a crosta
terrestre estava recoberta de uma vegetação unicelu-
lar ou de esporos (bolores), fato este que começou a
gerar as condições ideais para o surgimento de uma
vida superior formada por seres instintivos.

Nas dimensões paralelas, as básicas ou elementais


já estavam formadas e começaram a receber seres
ainda inconscientes e em estado puro.

Uns eram elementais ígneos, outros eram aquáticos,


eólicos, minerais, vegetais, cristalinos, etc.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
61

Estes seres provinham da dimensão essencial ou úte-


ro divino gerador de vida.

Enquanto seres virginais viviam na dimensão divina


que nomeamos de “dimensão Mãe da Vida”, e nela
eles iam sendo fatorados e adquirindo uma ancestra-
lidade, pois adquiriam um magnetismo que os indi-
vidualizava e os distinguia uns dos outros.

Saibam que neste ponto as lendas dos Orixás são as


mais corretas descrições de um fatoramento divino
que acontece no útero da Mãe da Vida ou dimen-
são essencial (seria fatoral? A.C.), pois nela existem
correntes eletromagnéticas que transportam essên-
cias fatoradas que vão sendo absorvidas pelos seres
ainda em estado de “óvulos” ou mentais pulsantes.

Nós não temos palavras para descrever o “nascimen-


ENTIDADES DE UMBANDA
62 SEMANA 01

to” dos seres virginais porque é um mistério impe-


netrável e irrevelável. Mas até onde nos é possível
descrevê-lo, saibam que tal como certos órgãos do
nosso corpo geram células continuamente, ali são
gerados seres virginais que vão sendo lançados den-
tro desta dimensão virginal ou Mãe da Vida, satura-
da de essências puras, mas que vão sendo fatoradas
pelos mistérios de Deus, que são as Suas divindades
geradoras de Suas qualidades divinas.

Nós temos sete dimensões elementais básicas que


recebem os seres assim que adquirem uma “consis-
tência” magnética que os influenciará dali em dian-
te, distinguindo-os por uma ancestralidade.

“O fator que for absorvido pelo ser ainda virginal o


distinguirá e o caracterizará por todo o sempre”...
[...] Saibam que depois de cerca de dez bilhões de
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
63

anos aconteceu o alinhamento natural das dimen-


sões paralelas e a vida começou a fluir com intensi-
dade em todas elas, porque todas as sete hierarquias
planetárias se completaram e criaram as condições
ideais para que o útero gerador da Mãe da Vida se
abrisse e lançasse nas sete dimensões básicas ele-
mentares tantos seres, quanto elas comportam.

Isto aconteceu entre dois e três bilhões de anos atrás,


e a face da terra já estava toda coberta de vegetais,
oceanos, rios, lagos, campos etc., ainda que rudi-
mentares, e habitada só por criaturas que se adapta-
vam às condições climáticas de então.

Não nos perguntem como surgiram tais criaturas,


porque este é um mistério de Deus e quem sabe algo
sobre ele nada revela, e quem fala algo é porque nada
sabe.
ENTIDADES DE UMBANDA
64 SEMANA 01

Nas dimensões paralelas os seres “essenciais”con-


tinuavam vindo do útero divino da mãe geradora e
sendo lançados nas sete dimensões elementais pu-
ras, onde estagiavam e desenvolviam o corpo ele-
mental básico, afim com a sua essência e natureza
(fator divino).

Isto continua acontecendo até hoje, uns dois ou três


bilhões de anos depois do inicio da evolução em
nosso abençoado planeta.

Nas dimensões paralelas, em numero de setenta e


sete, a vida superior se expandia e ia ocupando seus
espaços, enquanto a dimensão humana resumia-se à
sua parte física habitada só por criaturas, tendo sua
parte espiritual ou etérica, totalmente deserta.

Houve uma época em que as águas cobriam qua-


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
65

se toda a crosta terrestre, mas pouco a pouco, com


o resfriamento e congelamento das calotas polares,
devido ao magnetismo dos pólos, o nível começou a
baixar e muitas partes ficaram emersas, cobrindo-se
de vegetação e de espécies rudimentares. Até que
vieram as espécies inferiores, tais como os répteis e
anfíbios.

A cerca de meio bilhão de anos atrás surgiram as


grandes criaturas e os sáurios rapinantes, que domi-
naram a face da Terra durante milhões de anos. De-
pois começaram a desaparecer lentamente.

Este período foi encerrado com o desencadeamen-


to de um ciclo de erupções vulcânicas devastadoras
que aqueceu muito os mares de então e partiu a cros-
ta em vários pontos, isolando as porções de terra,
antes contíguas.

Então aconteceu toda uma nova configuração geo-


ENTIDADES DE UMBANDA
66 SEMANA 01

gráfica, vegetal, aquática e eólica. E só a cerca de


cinquenta milhões de anos atrás a vida voltou a vice-
jar no plano físico, porque nas dimensões paralelas
elas já estavam ocupadas de alto a baixo. A evolu-
ção natural nunca sofreu interrupção nas dimensões
naturais. Nelas os seres superiores haviam evoluí-
do tanto, que os divinos tronos planetários haviam
completado suas hierarquias horizontais e verticais
em todos os níveis vibratórios e em todas as faixas
magnéticas.

No plano físico teve inicio a geração de criaturas


simiescas, de feras e de aves. A Terra foi coberta
por uma fauna e flora exuberante, nunca vista nestas
bandas do nosso universo. O mesmo aconteceu com
os mares, rios e lagos, muitos dos quais formados
por águas quentes e destinados a algumas espécies
intermediárias.

A cerca de dez milhões de anos atrás surgiram raças


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
67

intermediarias entre os símios e os futuros humanos.


Eram semelhantes aos lendários “ogres” e se desti-
navam a abrigar num corpo denso (físico) seres que
ascenderam de um universo inferior ao nosso, pois
se localiza um grau abaixo do nosso na escala divi-
na.

Este período de ascensão de “espíritos” vindos de


“baixo” durou seis milhões de anos e exauriu a cros-
ta terrestre, levando a um esgotamento da fauna e
flora. Também havia se encerrado a “subida” dos
“espíritos” desse universo contíguo ao nosso, mas
localizado um grau magnético abaixo na escala di-
vina e, por isso, inferior.

Após um período de descanso do plano físico, tudo


foi restaurado e se restabeleceram as condições ide-
ais para a vida retornar plena e vigorosa. Então sur-
giram os ancestrais do atual ser humano, ainda rudi-
mentares, portando-se como os animais selvagens.
ENTIDADES DE UMBANDA
68 SEMANA 01

Este período durou até um milhão e meio de anos


atrás, quando aconteceu uma “catástrofe” celeste:
uma nuvem de cometas atravessou o sistema solar e
muitos colidiram com os planetas, assim como três
muito grandes chocaram-se contra o sol, atraídos
pela sua poderosa gravidade ou magnetismo.

A nossa Terra não foi poupada e a vida quase foi


extinta. Recuperou-se, e a cerca de um milhão de
anos atrás surgiu à civilização que muitos chamam
de adâmica, atlante, lemuriana etc.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS
ENTIDADES DE UMBANDA
70 SEMANA 01

A
Umbanda não possuía uma explicação
só sua sobre o “início dos tempos” e os
umbandistas recorriam às gêneses alheias
para comentar alguma coisa a respeito.
A ideia de fazer algo nesse sentido e suprir essa la-
cuna surgiu em 1992 e, pouco tempo depois, come-
çou a tomar corpo junto com outra lacuna, até então
não percebida pelos umbandistas: o Estudo Teológi-
co Regular.

Aqui, só estão cinco livros das muitas partes dessa


gênese umbandista. Mas quero que saibam que ou-
tros, publicados à parte (“As Sete Linhas de Evolu-
ção e a Ascensão”; “A Tradição Comenta a Evolu-
ção”; “A Teogonia de Umbanda”; “A Androgenesia
de Umbanda”; “Tratado Geral de Umbanda”, etc.),
fazem parte dos livros psicografados e que preen-
chem parcialmente algumas lacunas existentes e que
não haviam sido vislumbradas ou detectadas antes
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
71

pelos escritores umbandistas.

Juntamente com o Código de Umbanda e os livros


sobre Magia Divina, este livro encerra um conjunto
de informações sobre o universo Divino e Espiritual
da Umbanda que a coloca em igualdade com todas
as outras religiões existentes, não ficando a dever
nada, seja quanto a fundamentos divinos ou a conhe-
cimentos acerca dos planos invisíveis dos espíritos e
sobre a magia.

Ainda que nem todos os livros já psicografados es-


tejam publicados, a Umbanda já tem uma fonte ines-
gotável e só sua de conhecimentos fundamentais e
espirituais.

Muitos livros fundamentais ainda estão à espera de


ser publicados, algumas lacunas continuarão expos-
tas. No entanto, os que já estão à disposição dos lei-
tores umbandistas são suficientes para que se sintam
bem fundamentados em suas práticas espirituais e
ENTIDADES DE UMBANDA
72 SEMANA 01

necessidades teológicas.

Tenho certeza de que quando toda a obra literária,


concedida a mim pelos espíritos mentores da Um-
banda, tiver sido publicada, não haverá um só um-
bandista que não se sentirá orgulhoso de pertencer a
tão luminosa religião espiritualista.

Também posso afirmar que quando todos os livros


estiverem à disposição do público, não só os um-
bandistas, mas os seguidores de outras religiões se
servirão deles para preencher lacunas existentes nas
suas próprias “teologias” ou doutrinas. E esses mes-
mos livros serão a fonte de novos adeptos para a lu-
minosa religião Umbandista.

Nós sabemos o quanto é importante para uma reli-


gião ter grande acervo de obras literárias de primeira
grandeza à disposição dos leitores em geral, pois é
por meio delas que ela chega ao conhecimento e é
em si uma fonte formadora de opinião.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
73

Lamentavelmente, ainda se encontram na Umban-


da dirigentes avessos ao estudo permanente de sua
religião e há até aqueles que acreditam que não pre-
cisam estudar, assim como o estudo é contrário às
práticas mediúnicas.
A essas pessoas alertamos o fato de que muitos já
entraram e saíram da Umbanda justamente porque
não encontraram uma leitura ampla, que preenches-
se as lacunas teológicas e doutrinárias existentes em
suas mentes e que não foram preenchidas na nova
religião que adotaram.

Só oferecer “trabalhos” espirituais aos adeptos um-


bandistas não é o suficiente e enquanto essa menta-
lidade arcaica e obscurantista não for erradicada da
Umbanda, nossa religião não mostrará a todos a sua
magnífica fundamentação Divina e não alcançará o
seu merecido lugar no coração dos seus adeptos.
Bem sabemos que muitos dos que são contrários ao
estudo teológico nos criticam e nos rejeitam e até
ENTIDADES DE UMBANDA
74 SEMANA 01

proíbem que seus médiuns estudem. Mas também


sabemos que é justamente essa mentalidade que
mais tem prejudicado o crescimento da Umbanda e
bloqueado a expansão da sua literatura, pois impe-
dem que os livros dos muitos autores umbandistas
já colocados para o público circulam regularmente e
sejam objeto de estudo e análise dos médiuns e dos
consulentes de suas tendas.

A você, amigo leitor que chegou ao final deste, peço


que reflita sobre esse alerta e espero que se junte
a nós na disseminação do estudo regular dentro da
Umbanda e nunca se esqueça de que só a fé não bas-
ta para satisfazer as necessidades religiosas das pes-
soas.

O conhecimento a complementa e sedimenta-a na


mente dos fiéis. Rubens Saraceni

Este texto faz parte do livro “Gênese Divina de Um-


banda Sagrada”, de Rubens Saraceni, Ed. Madras.
UMA
COSMOGÊNESE
UMBANDISTA

RUBENS SARACENI
ENTIDADES DE UMBANDA
76 SEMANA 01

A
Umbanda é uma renovação do tradicional
culto às divindades africanas, englobados
na classificação “cultos das nações”, assim
denominado porque cada povo possuía sua religião
própria, com seus ritos específicos, mas que manti-
nham uma analogia muito grande, tanto na prepara-
ção sacerdotal quanto organizacional, de seus pante-
ões divinos.

Com o passar dos anos o Panteão Nagô dos povos


nigerianos ou de língua Yorubá acabou se destacan-
do no Brasil e se impondo sobre os demais, pois os
Orixás popularizaram-se com a vinda de muitos es-
cravos nigerianos, trazidos principalmente para a
Bahia a partir do final do século XVIII e início do
século XIX.
Sua classe sacerdotal era mais organizada e desta-
cou-se muito rapidamente e mais ainda no decorrer
dos séculos XIX e XX, espalhando o Culto aos Ori-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
77

xás para todo o Brasil, adaptando-os conforme foi


possível e procurando conservar o máximo possível
do conhecimento sobre eles.
Sendo a transmissão oral a forma que possuíam para
preservarem o conhecimento, muito se perdeu sobre
os Orixás e só uns poucos deles tornaram-se bem
conhecidos e tiveram seus Cultos tradicionais pre-
servados desde 1780 até 1908, quando foi fundada a
Umbanda por Pai Zélio de Moraes.

Assim, muitas das coisas que se sabia sobre eles


dentro dos seus cultos tradicionais na Nigéria não
chegaram até nós ou haviam sido adaptadas confor-
me foi possível.
Daí, para os primeiros umbandistas, não havia muito
sobre os Orixás à disposição, e se um Caboclo iden-
tificava-se como de Ogum, de Xangô etc. os seus
médiuns ficavam sem muitas informações seguras
sobre esses Orixás, e quase todos recorriam aos san-
ENTIDADES DE UMBANDA
78 SEMANA 01

tos católicos sincretizados com eles como forma de


conhecê-los.
E os santos católicos tiveram suas historias popula-
rizada pelos umbandistas, que as passavam de mão
em mão para poderem ensinar os novos médiuns,
sendo que os santos sincretizados com os Orixás tor-
naram-se muito populares e muito cultuados no Bra-
sil devido à compra de suas imagens para os altares
umbandistas.

Esse conhecimento bem “terra” sobre os Orixás pre-


dominou no 1o século de existência da Umbanda,
graças ao sincretismo e ao que se sabia sobre os san-
tos católicos.
Ao estudioso da Umbanda, basta consultar os livros
de muitos autores umbandistas para confirmarem o
que até aqui afirmamos.
Não havia um conhecimento profundo sobre os Ori-
xás, e o que se sabia ou se escrevia sobre eles não
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
79

saía desse nível “terra” do conhecimento.

Antes de terem se espalhado pelo mundo todo, os


Orixás só haviam sido cultuados pelos povos Nagôs
ou Nigerianos... E na língua Yorubá.
Mas um conhecimento novo sobre os Orixás come-
çou a ser aberto por um espírito chamado “Pai Bene-
dito de Aruanda”, e ensinado por seu médium psicó-
grafo e fundador do Colégio de Umbanda Sagrada.

E isso, sem que ele fosse Teólogo ou formado em


qualquer Escola Iniciática, Esotérica ou Ocultista,
mas criando uma base para o estudo doutrinário e
teológico umbandista.
Toda religião tem sua cosmogênese ou gênese di-
vina, que descreve para os seus seguidores a forma
como Deus criou o “mundo”.

A Umbanda por ser a somatória de várias doutrinas


ENTIDADES DE UMBANDA
80 SEMANA 01

e rituais religiosos, tanto pode escolher a cosmogê-


nese dos povos Nagô, quanto aos Cultos Indígenas
Brasileiros, assim como pode servir-se da Judaica,
incorporada pelo Cristianismo, pois essas três reli-
giões estão presentes devido à manifestação dos Ca-
boclos e Pretos-velhos, dentro de uma moral Cristã.
Também pode recorrer à cosmogênese da última
religião de guias espirituais hindus, chineses etc.
Mas sempre será uma adaptação de cosmogêneses
alheias, muitas delas já extintas no plano material.

Portanto, por ser a somatória do conhecimento de


espíritos doutrinados em outras religiões, a Umban-
da não pode e não deve optar por nenhuma delas
porque não seria aceita por todos os umbandistas,
com cada um tendo seu mentor espiritual formado
por alguma das outras religiões do passado ou da
atualidade.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
81

Logo, a Umbanda tem que ter sua própria cosmogê-


nese, genuinamente umbandista.
Ainda que se sirva da base Yorubana na nomenclatu-
ra do seu Panteão Divino e das qualidades dos Ori-
xás e tudo o mais, deve preservar a “essência” desse
conhecimento que nos chegou através da transmis-
são oral para que o culto aos Orixás se perpetuas-
se no tempo e servisse de ponto de partida para o
surgimento de novas religiões fundamentadas ne-
les, tal como Judaísmo preservou sua cosmogênese
que, posteriormente, fundamentou o Cristianismo e
o Islamismo, grandes religiões da atualidade, muito
maiores em número de seguidores.

Como qualquer uma das antigas cosmogêneses só


agradaria um número limitado de seguidores da
Umbanda, após observar a religião em seu lado ma-
terial por muito tempo, os “espíritos superiores” que
a fundaram através de Pai Zélio de Morais liberaram
ENTIDADES DE UMBANDA
82 SEMANA 01

todo um conhecimento ainda não disponível até en-


tão no plano material que fundamenta todas as suas
práticas religiosas e magísticas sem, em momento
algum, contradizer ou negar a essência da cosmogê-
nese Yorubana ou Nagô.
Até porque esse não é o propósito deles, e sim fun-
damentar tudo o que foi preservado e o que não che-
gou ao Brasil e só existe na Nigéria.

A cosmogênese disponibilizada pelos espíritos men-


tores da religião umbandista não se fundamenta em
mitos ou lendas, e sim no estudo profundo e eleva-
díssimo desenvolvido nas escolas espirituais exis-
tentes nos planos mais elevados do nosso Planeta,
estudo esse desenvolvido por espíritos que já não
encarnam mais, porque ascencionaram à 7a faixa vi-
bratória positiva da dimensão humana da vida e hoje
atuam em beneficio da humanidade através de suas
hierarquias ou correntes espirituais, que chegam até
o plano material através dos guias espirituais dos
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
83

médiuns umbandistas e dos protetores espirituais


que todo ser encarnado possui.
Essa cosmogênese é tão abrangente que explica a
religião Umbanda, todos os Orixás cultuados nela,
todas as linhas de trabalhos espirituais, todas as an-
cestralidades dos filhos dos Orixás, todas as práticas
religiosas e magísticas realizadas na Umbanda e pe-
los umbandistas.

Também explica as cores, o uso de colares, de fitas,


de cordões, de toalhas, de flores, de pedras, de ervas,
de velas, de líquidos, de pós, de pembas, de pontos
riscados e cantados etc.
Enfim, ela explica a existência dos seres e das coisas
criadas por Deus, assim como explica porque cada
pessoa, seja umbandista ou não, possui ligação com
os Sagrados Orixás e deles pode servir-se, mesmo
que não tenha sido iniciada na Umbanda e nada sai-
ba sobre eles, as divindades, mistérios que gover-
nam a Criação Divina.
ENTIDADES DE UMBANDA
84 SEMANA 01

Alguns dos livros que trazem esse conhecimento


novo seguem abaixo:
- Umbanda Sagrada
- Tratado Geral de Umbanda
- Orixás Ancestrais
- Orixá Exu
- Orixá Pomba-gira
- Orixá Exu Mirim
- Livro de Exu
- Doutrina e Teologia de Umbanda Teogonia de Um-
banda
- Código de Umbanda
- Gênese de Umbanda
- Formulário de Consagrações Umbandista Inicia-
ção à Escrita Mágica Simbólica Código da Escrita
Mágica Simbólica Tratado de Escrita Mágica etc.

Todos editados pela Madras Editora.


OS
TRONOS
DE DEUS

RUBENS SARACENI
ENTIDADES DE UMBANDA
86 SEMANA 01

D
eus é em si o todo! Mas o todo é formado
por muitas partes. Cada parte é um aspec-
to da criação, e Deus está em todas elas ao
mesmo tempo porque é Onipresente. A onipresença
de Deus é incontestada, e todas as religiões organi-
zadas a têm como dogma.

O Panteísmo tem sua origem nesse fato, verdadeiro,


e fundamenta sua crença de que, se Deus é onipre-
sente e está em tudo e todos ao mesmo tempo, então
se pode cultuá-Lo por meio daquela com que melhor
se afinizar.

Isso é verdadeiro, ainda que nunca devamos nos es-


quecer de que uma parte não é o todo e sim só uma
de suas partes.

Um “deus” do fogo não é Deus, mas uma forma de


cultuá-Lo por meio de uma de suas partes, que é o
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
87

elemento Fogo.
Um “deus” da água é uma de suas partes, que é o
elemento Água.
Um “deus” da terra é uma de suas partes, que é o
elemento Terra.
Um “deus” do ar é uma de suas partes, que é o ele-
mento Ar.
Um “deus” dos minerais é uma de suas partes, que é
o elemento Mineral. Um “deus” dos vegetais é uma
de suas partes, que são os Vegetais.
Um “deus” dos cristais é uma de suas partes, que são
os Cristais.
Um “deus” do tempo é uma de suas partes, que é o
Tempo.
Um “deus” dos animais, dos répteis, das aves, das
montanhas, dos mares, dos rios, dos lagos, das
cachoeiras, dos cemitérios, da chuva, dos ventos, do
sol, dos raios etc. não é Deus, e sim algumas de suas
muitas partes.
ENTIDADES DE UMBANDA
88 SEMANA 01

Deus, nosso Divino Criador, é em si tudo e todos e


está em tudo e é o princípio de tudo, e todos provêm
Dele.

Já não se questiona a Unidade e o Princípio, no en-


tanto todos reconhecem que há uma miríade de se-
res divinos espalhados pela criação e que ou são os
regentes de uma de suas partes ou são guardiões dos
seus mistérios sagrados.

Ninguém duvida da existência dos Anjos, pois estão


descritos na Bíblia, assim como os Tronos, os Ar-
canjos, os Serafins etc.

Ninguém duvida da existência dos Devas porque es-


tão descritos nos livros sagrados hinduístas.

Ninguém duvida da existência dos Orixás porque


estão descritos nos livros sagrados e na tradição oral
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
89

nigeriana. E assim com todas as atuais religiões!

Mas muitos duvidam da existência das cosmogo-


nias antigas, tais como a egípcia, grega, babilônica
ou caldeia, nórdica, caucasiana, mongólica, romana,
cartaginesa, havaiana, polinésia, indígenas america-
nas (índios americanos e canadenses, astecas, maias,
incas, índios tupis-guaranis), africanas em geral
(muitas) etc.

Algumas religiões atuais atribuem a si o domínio da


verdade, e é pura perda de tempo argumentar que o
tempo todo Deus tem amparado a todos por meio
de suas muitas divindades, não importando para Ele
como isso vem acontecendo no decorrer dos tempos
e das muitas culturas e religiões já desaparecidas.

Muitos denominam as religiões e culturas antigas de


ENTIDADES DE UMBANDA
90 SEMANA 01

atrasadas, arcaicas, pagãs, selvagens, primitivas etc.


e nomeiam-se evoluídos, salvos, eleitos, privilegia-
dos, escolhidos etc.

Tudo nesse campo, tão concreto e tão abstrato ao


mesmo tempo, obedece aos que estão comandando
a humanidade, e não adianta discutir quem está certo
ou errado, mas devemos discutir o que nos influen-
cia realmente, e quem conduz a nós e à nossa evo-
lução a partir do lado invisível da criação, e como
podemos acessá- Lo e direcionar Seus poderes em
nosso auxílio e benefício. Já comentamos os Tronos
de Deus em vários dos nossos livros e os temos des-
crito como a classe de divindades sustentadoras da
criação e da evolução dos seres.

Aqui, porque se trata de um livro que comenta e


descreve a magia simbólica, nós os comentaremos a
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
91

partir de suas funções originais na criação para que,


após entendê-los, compreendam a magia riscada
simbólica e sagrada.

Comecemos por assim descrevê-los: Os Tronos são


seres divinos assentados nos muitos níveis vibrató-
rios da criação e têm como funções divinas dar sus-
tentação aos meios, amparar os seres nos seus mui-
tos estágios evolu- tivos.

Existem Tronos para todas as funções divinas sus-


tentadoras dos meios e dos seres.

Logo, os Tronos exercem funções e os nomeamos


por elas. O homem que constrói casa é um constru-
tor. Só que para construir uma casa seu construtor
precisa ter uma equipe de profissionais especializa-
dos, tais como o pedreiro, o carpinteiro, o serralhei-
ENTIDADES DE UMBANDA
92 SEMANA 01

ro, o eletricista, o encanador, o pintor etc., e cada um


deles tem seus auxiliares, especializados ou não.

Cada um desses profissionais contribui com sua par-


cela de trabalho para que uma casa esteja pronta para
ser habitada.

Com os Tronos acontece a mesma coisa e o Trono


Construtor dos meios destinados aos seres é uma
emanação onisciente, onipotente e oniquerente de
Deus. Um Trono é um poder. Logo, Trono e poder
são sinônimos.

O Trono Construtor é uma manifestação de Deus e o


temos como responsável pela construção dos meios
nos quais os seres vivem e evoluem continuamente.

Fonte: “Tratado de Escrita Mágica Simbólica”.


Rubens Saraceni. Ed. Madras
7
MISTÉRIOS

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
94 SEMANA 01

“Sete luzes existem no Altíssimo e é lá que


habita o Ancião dos Anciões, o Misterio-
so dos Misteriosos, o Oculto dos Ocultos:
Ain Soph.”
Sefer há Zohar
Sete Mistérios de Deus

S
ão muitos os mistérios do Criador, são infi-
nitos assim como Ele é, no entanto podemos
identificá-los a partir de nossa visão humana
e classificá-los para poder estudá-los de uma forma
um pouco mais “cartesiana”, que se não é o ideal, no
entanto é a única forma de poder identificá-los em
grupos e a partir daí então enumerá-los por afinidade
ou ainda por identificação de mistério.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
95

Quando falamos em grupos e enumeramos estes gru-


pos entramos em um outro mérito que é o mérito dos
números e seu simbolismo.

Antes de falarmos em “7 mistérios” precisamos en-


tender o que representa o número 7 aqui e porque
organizar em 7 e não 8, 3 ou 12.

Iremos adentrar no seio dos mistérios através de sua


manifestação sétupla, pois desta forma o criador se
assenta em nossa realidade humana, nós também so-
mos sétuplos, e o Trono Maior que rege nosso pla-
neta é também chamado de Trono das Sete Encruzi-
lhadas, a partir deste Trono surge a Coroa Divina, O
Setenário Sagrado, que rege nossa realidade e onde
se assentam todos os Tronos voltados à nossa evo-
ENTIDADES DE UMBANDA
96 SEMANA 01

lução.
Recomendo a quem queira se aprofundar nestes mis-
térios a Obra “Gênese Divina de Umbanda Sagrada”
e “Orixás – Teogonia de Umbanda” ambos do autor
Rubens Saraceni / Editora Madras.

Os Sete Mistérios de Deus aqui serão tratados a par-


tir de sete sentidos (fé, amor, conhecimento, justiça,
lei evolução e geração) ou sete elementos (cristalino,
mineral, vegetal, ígneo, eólico, telúrico e aquático).

Podemos agora de forma isolada nos aprofundar nos


mistérios no número sete (7) que na Cabala é cha-
mado de “O Número da Perfeição”, em grego é cha-
mado de “Sebo” (Venerar) ou “Septa” (Venerável),
em Ronano ou latino “Septos” (Santo, divino).
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
97

Segundo a cultura Judaico–cristã Deus criou o mun-


do em 7 dias, dada a importância deste número, cada
dia representa o abrir de uma nova vibração.

Em Êxodo Deus instrui Moisés a construir um can-


delabro de ouro para sete lâmpadas.
Em Apocalipse, Novo Testamento, vemos Sete Igre-
jas que estão na Ásia, “Sete espíritos que estão dian-
te do seu Trono”, Sete Candelabros de Ouro, Sete
Estrelas, Sete Anjos, Sete Tochas de Fogo diante do
Trono, Sete Selos, Sete Chifres, Sete Olhos, Sete
Trombetas e Sete Trovões.

“O Número 7”
O autor Albany Braz em seu livro “O Número 7”
ENTIDADES DE UMBANDA
98 SEMANA 01

editado pela Editora Madras cita:


De acordo com Johhn Heydon, “o sete é um dos nú-
meros mais prósperos” e também tem sido definido
como “o todo ou o inteiro da coisa à qual é apli-
cado”; contudo, Pitágoras referia que “o sete era o
número sagrado e perfeito, entre todos números” e
Filolau (séc. V a.C.) dizia que o “sete representava
a mente”. Macróbio (séc. V d.C.) considerava o sete
“como o nó, o elo das coisas”. O sete por sua vez é
um número primo e também o único de 1 a 10 que
não é múltiplo e nem divisor de qualquer número de
1 a 10.

O filósofo grego Platão de Egina (429 – 347 a.C.)


no seu “Timeu”, ensinava que, “do número sete foi
gerada a alma do mundo”. Santo Agostinho via nele
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
99

o “símbolo da perfeição e da plenitude”. Santo Am-


brósio dizia que era “o símbolo da virgindade”. Este
simbolismo era assimilado pelos Pitagóricos, entre
eles Nicômano (50 d.C.), em que o “sete era repre-
sentado pele deusa Minerva (a virgem)” que era a
mesma Atena de Filolau (370 a.C.). Por outro lado,
na antiguidade associava-se o sete: a VOZ, ao SOM,
a CLIO, musa da história, ao deus egípcio OSÍRIS,
às deusas gregas: NÊMESIS e ARASTIA e ao deus
romano MARTE.

...corresponde ao signo da balança (Libra), que é o


emblema do equilíbrio.
Na antiguidade o sete já aparecia como uma mani-
festação da ordem e da organização cósmica. Era o
ENTIDADES DE UMBANDA
100 SEMANA 01

número solar, como é comprovado nos monumentos


da antiguidade: OS 7 PLANETAS DIVINIZADOS
PELOS BABILÔNICOS; OS 7 CÉUS (YMGERS)
DE ZOROASTRO; A COROA DE SETE RAIOS E
OS SETE BOIS DAS LENDAS NÓRDICAS. Es-
tes últimos eram simbolizados por: 7 ÁRVORES,
7 ESTRELAS, 7 CRUZES, 7 ALTARES FLAME-
JANTES, 7 FACAS FINCADAS NA TERRA e 7
BUSTOS.

Com relação à cosmologia, o Universo antigamente


era representado por uma nave com sete pilotos (os
pilotos de Osíris) e segundo a escritora Narcy Fon-
tes, “nossa Galáxia (Via Láctea) é formada por um
Sol central, sete outros sóis e quarenta e nove plane-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
101

tas (sete planetas para cada sol)”.


A Lua passa por fases de sete dias: crescente, cheia,
minguante e nova respectivamente.

Na tradição sânscrita há frequentes referências aos


sete ou SAPTAS: “Archishah – 7 chamas de Agni;
Arânia – 7 desertos; Dwipa – 7ilhas sagradas; Gâvah
– 7 raios ou vacas; Kula – 7 castas; Loka – 7 mun-
dos; Par – 7 cidades; Parna – 7 princípios humanos;
Ratnâni - 7 delícias; Rishi – 7 sábios; Samudra – 7
mares sagrados; Vruk- sha – 7 árvores sagradas”.

Na teologia Zoastriana (masdeísmo, 550 a.C.) há


sete seres que são considerados os mais elevados,
são os Amchaspands ou Ameshaspendes (Sete gran-
ENTIDADES DE UMBANDA
102 SEMANA 01

des gênios): “ORMAZD ou Ormuzd ou Ahura-Maz-


da (Fonte da Vida); BRAHMAN (Rei deste mundo);
ARDIBEHEST (produtor do fogo); SHAHRIVAR
(formador de metais); SPANDARMAT (rainha da
terra); KHORDAD (governante dos tempos e das
estações); AMERDAD (governante do mundo vege-
tal)”. Opostos a estes havia os 7 Arquidevas (demô-
nios ou poderes das trevas). Nesta teologia Masdeís-
ta inicialmente existiam 7 graus iniciáticos no culto
de Mitra: CORVO (Vênus), GRIFO (Lua), SOLDA-
DO (Mercúrio), LEÃO (Júpiter), PERSA (Marte),
PAI (Saturno), HELIÓDROMO (Sol ou corredor do
Sol).

MITRA nasceu no dia 25/12, tinha como número o


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
103

sete e em honra a ele havia os sete altares de fogo,


denominados de sete Pireus.

Na teologia romana na corte do Deus Marte ou Mars


(Ares Grego) figuravam 7 divindades alegóricas:
“PALLOR (a Palidez); PAVOR (o Assombro); VIR-
TUS (a Coragem); HONOR (a Honra); SECURI-
TAS (a Segurança); VICTORIA (a Vitória); PAX (a
Paz)”.

Na teologia dos Sumérios a deusa Inana tinha que


atravessar 7 portas para chegar diante dos juízes do
mundo inferior.

As tabuletas Assírias estão repletas de grupos de


ENTIDADES DE UMBANDA
104 SEMANA 01

sete: 7 deuses do Céu; 7 deuses da terra; 7 deuses


das esferas flamejantes; 7 deuses maléficos; 7 fan-
tasmas; espíritos de 7 céus; espíritos de 7 terras.”

Sendo assim temos muitos motivos para abordar as


divindades de Deus segundo o “Mistério do Número
7”, o que me é muito familiar também por ser Um-
bandista, uma religião (Umbanda) que aborda o seu
próprio universo a partir do que chamamos “Sete
Linhas de Umbanda”, onde se assentam os Orixás,
Divindades cultuadas na Umbanda. Aqui adotamos
a relação de Orixás e Tronos de Deus da forma como
foi psicografada por Rubens Saraceni em sua Obra,
que são hoje mais de 40 livros publicados pela Edi-
tora Madras.
SETE TRONOS
DE DEUS
ENTIDADES DE UMBANDA
106 SEMANA 01

“Os princípios da Verdade são Sete; aquele que


os conhece perfeitamente, possui a Chave Mágica
com a qual todas as Portas do Templo podem ser
abertas completamente.”
Hermes Trismegisto – O Caibalion

Temos a seguir uma relação de sete mistérios do mis-


tério maior. Poderíamos ter colocado muitos outros,
acreditamos que com a combinação desses chega-
mos a todos os outros.

Sendo partes do todo esses mistérios são qualida-


des puras de Divindades, da sua combinação temos
partes das partes, mistérios dos mistérios, Tronos in-
termediários, o que se costuma chamar “Divindades
localizadas”, tão importantes quanto as outras.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
107

Assim, numa tentativa de localizar as Divindades,

de cima para baixo, vamos identificá-las por suas

qualidades, portanto inominadas, para a partir daí

identificarmos os Orixás e as demais Divindades

que correspondem com as qualidades dEstes, já hu-

manizados sob uma cultura que Os reconhece.

Vamos mostrá-Los de forma polarizada manifes-

tando-se em masculino e feminino, logo teremos 14

Tronos Maiores ou Divindades Puras em suas qua-

lidades.

SETE MISTÉRIOS
Sete Tronos Puros = Quatorze Tronos Polarizados
ENTIDADES DE UMBANDA
108 SEMANA 01

Temos SETE MISTÉRIOS (Fé, Amor, Conheci-


mento, Justiça, Lei, Evolução e Geração), Sete Tro-
nos indiferenciados (Trono da Fé, Trono do Amor,
Trono do Conhecimento, Trono da Justiça, Trono da
Lei, Trono da Evolução e Trono da Geração), que
formam a COROA DIVINA, O SETENÁRIO SA-
GRADO.

Estes Tronos indiferenciados se polarizam, ou seja,


cada um deles se desdobra em Trono Masculino e
Feminino (Passivo e Ativo), gerando agora quator-
ze Tronos polarizados (Trono masculino e feminino
da Fé, Trono masculino e feminino do Amor, Tro-
no masculino e feminino do Conhecimento, Trono
masculino e feminino da Justiça, Trono masculino
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
109

e feminino da Lei, Trono masculino e feminino da


Evolução e Trono masculino e feminino da Gera-
ção).

Podemos dizer que são tronos que se completam na


mesma qualidade, pois na fé onde um é masculino
outro é feminino, um é passivo e outro ativo, um
irradia a fé outro absorve, um é positivo outro é ne-
gativo, etc.

O que torna simples sua explicação, pois o Trono


do Amor é parte de Deus como manifestação da sua
qualidade Amor.

AMOR É PARTE DE DEUS E É A DIVINDADE


ENTIDADES DE UMBANDA
110 SEMANA 01

DO AMOR POR INTEIRO.

Quando o Trono feminino irradia Amor, o masculino


absorve, o que fecha um círculo de energia atuante
em que nada é estático.

Vamos defini-los como ORIXÁS DE UMBANDA


PUROS nos mistérios e humanizados como Divin-
dades do panteão umbandista, que trazem seus no-
mes da mitologia Yorubá, africana, sua primeira hu-
manização. Assim, citando as Divindades de outras
mitologias que manifestam o mesmo mistério.

Fonte: Deus, Deuses, Divindades e Anjos.

Alexandre Cumino. Ed. Madras.


ESTUDO HISTÓRICO
DAS SETE LINHAS
DE UMBANDA

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
112 SEMANA 01

Se é preciso que eu tenha um nome,


Me chame de Caboclo das
Sete Encruzilhadas,
Porque não haverá caminhos
fechados para mim!

C
om estas palavras, no dia 15 de Novembro
de 1908, se apresentou a entidade que, por
meio de Zélio de Moraes, fundaria a Um-
banda no Brasil.
Desde então o número sete tem sido fundamental
para entender a religião, de tal maneira que surge
uma classificação, chamada de Sete Linhas de Um-
banda, onde se acomodam Orixás, Santos, Anjos Ar-
canjos e Entidades Espirituais, relacionando-se com
cores, pedras, ervas, dias da semana, notas musicais
e o que mais se puder agrupar nesta escala.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
113

Sete Linhas de Umbanda já foi um tema muito po-


lêmico, pois cada autor umbandista apresentava sua
visão particular sobre quais e “quantas” seriam estas
linhas.

Alguns foram inspirados de originais em suas ver-


sões, outros simplesmente adaptaram novos elemen-
tos ao que já existia sobre o assunto.

Podemos dizer que a origem das Sete Linhas de Um-


banda está em Deus, no Setenário Sagrado ou Coroa
Divina. No entanto, é do interesse de todos nós, um-
bandistas, um resgate cultural e histórico desta ques-
tão “SETE LINHAS DE UMBANDA”.

Zélio não deixou nada escrito, mas, teve filhos e dis-


cípulos, se posso assim dizer, que falaram e falam
sobre a forma como entendia as Sete Linhas de Um-
ENTIDADES DE UMBANDA
114 SEMANA 01

banda.

O primeiro livro de Umbanda que se tem notícia,


publicado em 1933, chama-se O Espiritismo, a Ma-
gia e as Sete Linhas de Umbanda.

Escrito por LEAL DE SOUZA, médium preparado


por Zélio de Moraes, nos apresenta as Sete Linhas
de Umbanda desta forma:

• 1ª Linha de OXALÁ:
Jesus – branco
• 2ª Linha de OGUN:
São Jorge – vermelho
• 3ª Linha de EUXOCE:
São Sebastião – verde
• 4ª Linha de XANGÔ:
São Jeronymo – roxo
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
115

• 5ª Linha de NHÁ-SAN:
Santa Bárbara - amarela
• 6ª Linha de AMANJAR:
N. S. da Conceição – azul
• 7ª Linha de SANTO

Na explicação de LEAL DE SOUZA, a Linha Bran-


ca de Umbanda é que se divide nestas Sete Linhas e
que além da Linha Branca há a Linha Negra, forma-
da pelos Exus e que é tratada a parte. A Sétima Linha
é formada por espíritos egressos da Linha Negra e
que trabalham principalmente no campo da deman-
da, de cortar trabalhos de Magia Negra.

Em conversa com Dona Lygia Cunha, Filha de Dona


Zilmeia de Moraes Cunha, neta de Zélio de Moraes
e atual dirigente da Tenda Espírita Nossa Senhora
da Piedade, nos afirmou que as Sete Linhas de Um-
ENTIDADES DE UMBANDA
11 6 SEMANA 01

banda, segundo o Caboclo das Sete Encruzilhadas e


Zélio de Moraes, são:
1. OXALÁ: Branco
2. OGUM: Vermelho
3. OXÓSSI: Verde
4. XANGÔ: Marrom ou Roxo
5. IEMANJÁ: Azul Claro
6. IANSÃ: Amarelo
7. EXU: Preto

O que se aproxima muito da leitura de LEAL DE


SOUZA, na qual se inverte a posição de Iansã e Ie-
manjá, definindo a Linha de Santo agora como a Li-
nha de Exu.

Em 1941 se realizou o “Primeiro Congresso Brasi-


leiro do Espiritismo de Umbanda”, onde foi apre-
sentado um trabalho com o título:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
117

INTRODUÇÃO AO ESTUDO DA LINHA BRAN-


CA DE UMBANDA - “Memória apresentada pela
Cabana de Pai Thomé do Senhor do Bomfim, na ses-
são do 26 de Outubro de 1941, pelo seu Delegado
Sr. Josué Mendes.”

Neste trabalho é apresentado um esquema da seguin-


te forma:

“A LINHA BRANCA DE UMBANDA E A SUA


HIERARQUIA”
“Os 7 Pontos da Linha Branca de Umbanda”
• 1° Grau de iniciação, ou seja,
o 1° Ponto – ALMAS
• 2° Grau de iniciação, ou seja,
o 2° Ponto – XANGÔ
• 3° Grau de iniciação, ou seja,
o 3° Ponto – OGUM
ENTIDADES DE UMBANDA
118 SEMANA 01

• 4° Grau de iniciação, ou seja,


o 4° Ponto – NHÃSSAN
• 5° Grau de iniciação, ou seja,
o 5° Ponto – EUXOCE
• 6° Grau de iniciação, ou seja,
o 6° Ponto – YEMANJÁ
• 7° Grau de iniciação, ou seja,
o 7° Ponto – OXALÁ

São as mesmas Sete Linhas de Umbanda que apare-


cem na obra de LEAL DE SOUZA, apenas em posi-
ções diferentes.
PAI RONALDO LINARES, que também conviveu
com Zélio de Moraes, apresenta as Sete Linhas de
Umbanda, fundamentado nos ensinamentos que re-
cebeu do “Pai da Umbanda”. E afirma que “Zélio de
Moraes esclareceu que destas Tendas originárias da
Tenda Nossa Senhora da Piedade deveriam nascer
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
119

as Sete Linhas de Umbanda e que seriam represen-


tadas por sete cores.” A saber:

“A primeira linha é caracterizada pela cor amarelo


ouro bem clarinho e que seria a cor da Tenda de San-
ta Bárbara. O Orixá correspondente é INHAÇÃ...”

“A segunda linha é caracterizada pela cor rosa, cor-


respondente à Tenda Cosme e Damião... O Orixá
correspondente é IBEJI...”
“A terceira linha é caracterizada pela cor azul. Com
vários Santos Católicos sincretizados com ela, a sa-
ber: Nossa Senhora da Glória, Nossa Senhora da
Conceição, Nossa Senhora dos Navegantes e Nos-
sa Senhora da Guia. O Orixá que corresponde é IE-
MANJÁ...”

“A quarta linha é caracterizada pela cor verde, repre-


ENTIDADES DE UMBANDA
120 SEMANA 01

sentando a Tenda São Sebastião... O Orixá corres-


pondente é OXOSSE...”

“A quinta linha é caracterizada pela cor vermelho,


representando a Tenda São Jorge. O orixá corres-
pondente é OGUM.”

“A sexta linha é caracterizada pela cor marrom, re-


presentando a Tenda São Jerônimo. Seu Orixá cor-
respondente é XANGÔ...”

“A sétima linha é caracterizada pela cor violeta ou


roxo, corresponde à Tenda de Sant‟Ana... O Orixá
correspondente é NANÃ...”

“Finalmente temos a cor negra, corresponde à Tenda


de São Lázaro (Nas Palavras de Ronaldo Linares). É
a ausência da cor e da luz da vida. Zélio de Moraes
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
121

explica que as cores branca e preta não fazem parte


das sete linhas, pois o branco que é a presença da luz
existe em todas elas e o negro, que é justamente a
ausência da luz, está justamente na ausência delas...
O Santo Católico São Lázaro é sincretizado com o
Orixá ABALUAÊ ou OMULU... Este Orixá é co-
nhecido ainda pelos nomes de XAPANÃ, ATOTÔ, e
BABALÚ.”
“O Orixá maior da Umbanda é OXALÁ... o Chefe
para o qual convergem todas as linhas, assim perfei-
tamente identificado na invocação com Jesus Cris-
to.”

PAI RONALDO LINARES, pessoalmente, me fa-


lou já por diversas vezes que em conversa com Zélio
de Moraes sobre as Sete Linhas de Umbanda este
teria lhe afirmado que ninguém havia entendido o
que são estas Sete Linhas. E para defini-las afirmou
ENTIDADES DE UMBANDA
122 SEMANA 01

que as mesmas podem ser entendidas em analogia


com uma luz branca que ao passar por um prisma
se decompõe em sete cores do outro lado. O que em
nossa limitada visão se amolda perfeitamente à ideia
de que Sete Linhas São Sete Vibrações da Luz Divi-
na que se adapta ou se amolda às concepções mais
variadas a cerca de nomes e formas de compreendê-
-las; seja por meio de Cores, Anjos, Santos, Orixás
ou Tronos de Deus.

LOURENÇO BRAGA, em 1942, publica o títu-


lo “UMBANDA (magia branca) e QUIMBANDA
(magia negra)”, apresentando pela primeira vez mais
sete subdivisões para cada uma das linhas. São Sete
Linhas e quarenta e nove Legiões. Nas primeiras pá-
ginas ele esclarece:

“Trabalho apresentado no 1ª Congresso Brasileiro


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
123

de Espiritismo, denominado Lei de Umbanda, rea-


lizado nesta cidade do Rio de Janeiro, entre 18 e 26
de outubro de 1941.”
“Instado e auxiliado pelos guias espirituais, mercê
de deus, resolvi escrever o presente livro sobre a Lei
de Umbanda - (Magia Branca) – e sobre a Lei de
Quimbanda – (Magia Negra).”

Capítulo II
“A LEI DE UMBANDA
E A LEI DA QUIMBANDA”
“Não se deve dizer – Linha de Umbanda -, mas sim,
- Lei de Umbanda -;
Linhas são as 7 divisões de Umbanda.”

- 1ª Linha de SANTO ou de OXALÁ:


dirigida por Jesus Cristo
ENTIDADES DE UMBANDA
124 SEMANA 01

- 2ª Linha de IEMANJÁ:
dirigida pela Virgem Maria

- 3ª Linha do ORIENTE:
dirigida por São João Batista

- 4ª Linha de OXÓCE:
dirigida por São Sebastião

- 5ª Linha de XANGÔ:
dirigida por São Jerônimo

- 6ª Linha de OGUM:
dirigida por São Jorge

7ª Linha AFRICANA ou de SÃO CIPRIANO:


dirigida por São Cipriano
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
125

Aqui vemos que o autor coloca suas sete linhas mui-


to próximas das sete linhas de LEAL DE SOUZA,
que será o grande modelo copiado, alterado e adap-
tado pela maioria dos autores posteriores. Lourenço
Braga mudou a “Linha de Nha-San” por “Linha do
Oriente” e definiu a “Linha de Santo” como “Linha
Africana”.

Também apresenta o autor as Sete Linhas da Quim-


banda:
Linha das ALMAS
Linha dos CAVEIRAS
Linha de NAGÔ
Linha de MALEI
Linha de MOSSURUBI
Linha dos CABOCLOS QUIMBANDEIROS
Linha MISTA
ENTIDADES DE UMBANDA
126 SEMANA 01

Em 1955 o mesmo LOURENÇO BRAGA publica


“UMBANDA E QUIMBANDA – VOLUME 2”,
onde ele mesmo admite que: “venho agora, embora
contraditando alguma coisa do que eu já havia escri-
to, levantar a ponta do véu mais um pouco”, com-
pletando na outra página, “Os brasileiros crentes de
UMBANDA, em virtude da mentalidade implanta-
da pelo catolicismo, procuraram dar aos ORIXÁS,
chefes das 7 linhas, nomes de entidades cultuadas
na Religião Católica”... “A verdade, porém, é que
os ORIXÁS SUPREMOS, Chefes dessas linhas, em
correspondência com os planetas e as cores, são os 7
arcanjos, os quais mantêm entidades evoluídas, che-
fiando essas linhas, obedientes às suas ordens dire-
tas, as quais nada têm a ver com os santos do Cato-
licismo...”
Ficando assim:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
127

- Linha de OXALÁ ou das ALMAS:


Jesus – Jupter – Roxo

- Linha de IEMANJÁ ou das ÁGUAS:


Gabriel – Vênus – Azul

- Linha do ORIENTE ou da SABEDORIA:


Rafael – Urano – Rosa

- Linha de OXOCe ou dos VEGETAIS:


Zadiel – Mercúrio – Verde

- Linha de XANGÔ ou dos MINERAIS:


Orifiel – Saturno – Amarelo

- Linha de OGUM ou das DEMANDAS:


Samael – Marte – Vermelho
ENTIDADES DE UMBANDA
128 SEMANA 01

- Linha dos MISTÉRIOS ou ENCANTAMENTOS:


Anael – Netuno – Laranja

A Novidade na obra de LOURENÇO BRAGA é


apresentar Sete Subdivisões para cada uma das Sete
Linhas de Umbanda, veja de forma detalhada no
anexo ao final do texto.

MARIA TOLEDO PALMER autora de Chave de


Umbanda, 1949, e A Nova Lei Espírita de Jesus,
1953, recebeu em 1948 ordens do astral para fun-
dar na terra “A Nova Lei Espírita: Jesus a Chave de
Umbanda”. Apresenta as Sete Linhas das Sete Leis
de “Jesus, A Chave de Umbanda”:

• 1. Céu
• 2. Terra
• 3. Água
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
129

• 4. Fogo
• 5. Mata
• 6. Mar
• 7. Almas

OLIVEIRA MAGNO autor dos livros Umbanda


Esotérica e Iniciática, 1950, e Umbanda e Ocultis-
mo, 1952, reconhece Leal de Souza como o primei-
ro autor de Umbanda, apresenta por sua vez as Sete
linhas de Umbanda desta forma:
Oxalá, Iemanjá, Ogum, Oxosse, Xangô, Oxum e
Omulu.
Observe que com relação às linhas de Leal de Sou-
za, trocou apenas Nha-San por Oxum e Linha das
Almas por Omulu.

ALUIZIO FONTENELE, 1951, adotou ao pé da le-


ENTIDADES DE UMBANDA
130 SEMANA 01

tra as sete linhas de Lourenço Braga, sua inovação


foi a de associar os nomes de Exus aos nomes dos
“demônios” da Magia Negativa (“Magia Negra” ou
Goécia) Europeia. Começando um processo de de-
monização interna dos Exus de Umbanda.

YOKAANAM publica em 1951 O Evangelho de


Umbanda, obra polêmica, apresenta as Sete Linhas
de Lourenço Braga e critica dizendo: “Eis o que os
africanistas apresentam como UMBANDA‟! Mera
confusão!”.
Apresenta 7 Legiões que têm como patronos 7 “Ori-
xalás”. Acima delas está o Paraninfo ou Patrono de
Honra: Jesus – “Oxalá” e abaixo como segue:

• 1ª S. JOÃO BATISTA:
“Xangô-Kaô” (Xangô maior), Rosa
• 2ª SANTA CATARINA DE ALEXANDRIA:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
131

“Yanci”, Azul
• 3ª CUSTÓDIO – COSME E DAMIÃO:
“Ibejês”, Branco
• 4ª S. SEBASTIÃO:
“Oxóce”, Verde
• 5ª S. JORGE:
“Ogum”, Vermelho Escarlate
• 6ª S. JERÔNIMO:
“Xangô”, Roxo Violeta.
• 7ª S. LÁZARO:
“Ogum de Lei”

O autor faz algumas observações, afirma que a Le-


gião de Santa Catarina – “Yanci” – era antes de N.S.
da Conceição – “Iemanjá” que passou o comando
para sua “legítima substituta”. Também observa que
S. Lázaro de modo algum pode ser confundido com
“Omulu”, que na opinião dele é “rei da destruição,
ENTIDADES DE UMBANDA
132 SEMANA 01

caveira, espírito do cemitério”.

Para cada uma destas “Legiões” o autor apresenta


seus correspondentes “Chefes de Falange” (Orixás),
Guias-Chefes (Pequenos Orixás – Chefes de Divi-
sões), Guias (Chefes de Grupos) e Guias Individu-
ais.
Por Exemplo:

LEGIÃO DE SÃO JORGE:


“OGUM” – (PATRONO)
Chefes de Falanges – “Orixás”:
Caboclo Águia Branca – Ogum Mearim – Ogum
Guerreiro – Ogum da Cruzada – Ogum Rei – Ogum
do Oriente – Ogum do Mar – Ogum da Estrela –
Ogum Menor – Ogum Mensageiro – Ogum do
Hymalaia – Ogum do Deserto – Ogum da Campina
etc.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
133

Guias Chefes:
Ogum Rompe Mato – Sete Flechas – Caboclo Pena
Vermelha – Caboclo Ipê – Caboclo Araxá – Caboclo
Nanzan – Caboclo Pena Branca – Caboclo Mirim
– Ogum da Lua – Ogum Megê – Ogum da Mata –
Ogum Yara – Ogum Beira Mar – Ogum da Montanha
– Ogum Sete Cachoeiras – Ogum Cavaleiro – Ogum
do Congo – Ogum da Lagoa – Ogum da Angola etc.
Guias: Caboclo Miramar – Caboclo Sete Caminhos
– Caboclo Gurupí – Caboclo Vigilante – Caboclo da
Lua – Caboclo Flecha de Ouro – Caboclo das Sete
Espadas – Caboclo Tietê – Caboclo Araçá – Caboclo
Rio Negro – Caboclo Tupiniquim – Caboclo Tupiára
– Caboclo Tocantins – Caboclo Solimões – Caboclo
Araraquara – Caboclo Pirajá – Caboclo Paraguaçu –
Caboclo Jaguaribe etc.

FLORISBELA M. SOUZA FRANCO é autora de


ENTIDADES DE UMBANDA
134 SEMANA 01

dois títulos conhecidos, UMBANDA, 1953, e Um-


banda para os Médiuns, 1958. No primeiro apresen-
ta as Sete Linhas de Umbanda abaixo:
• Linha de Santo
• Linhas do Mar
• Linha Oriental
• Linha de Oxosse
• Linha de Xangô
• Linha de Ogum
• Linha Africana

BENJAMIM FIGUEIREDO, fundador da Tenda
Espírita Mirim, 1924, e Primado de Umbanda 1952,
apresentou sua forma de entender as Sete Linhas de
Umbanda, inspirada pelo Caboclo Mirim, registra-
do em suas apostilas “Umbanda – Escola da Vida”
bem como publicada em 1961 no livro Okê Cabo-
clo, como segue abaixo:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
135

Oxalá, Ogum, Oxóssi, Xangô, Ybeji, Yofá e Ieman-


já.

W. W. DA MATTA E SILVA, em 1956, publica seu


primeiro título “Umbanda de Todos Nós”, onde apre-
senta sua versão para as Sete Linhas de Umbanda,
acredita-se que Da Mata tenha sido profundamente
influenciado pelos estudos Esotéricos realizados na
Tenda Espirita Mirim, no Primado de Umbanda e
dos demais grupos em que Benjamim também fre-
quentou. Da Matta faz surgir em sua obra os con-
ceitos de AUMBANDÃ, apresentados pela Tenda
Mirim no Primeiro Congresso de Umbanda, 1941,
e traz as Sete Linhas de Umbanda iguais às do Ben-
jamim/Caboclo Mirim, com o detalhe de que aqui
Ybeji aparece como Yori e Yofá como Yorimá:

• 1ª Vibração Original ou Linha de ORIXALÁ


ENTIDADES DE UMBANDA
136 SEMANA 01

• 2ª Vibração Original ou Linha de IEMANJÁ


• 3ª Vibração Original ou Linha de XANGÔ
• 4ª Vibração Original ou Linha de OGUM
• 5ª Vibração Original ou Linha de OXÓSSI
• 6ª Vibração Original ou Linha de YORI
• 7ª Vibração Original ou Linha de YORIMÁ

Embora guarde semelhanças o autor critica as Sete


Linhas de Lourenço Braga, assim como Yokaanam.
Este autor não costumava citar suas fontes de for-
ma adequada, como boa parte dos demais autores
umbandistas, como observamos na teoria do AUM-
BANDÃ.
Em suas Sete Linhas, Matta e Silva, a exemplo de
Lourenço Braga, apresenta sete subdivisões para
cada linha e rebaixa Oxum, Iansã e Nanã Buroque
ao grau de Caboclas de Iemanjá, o que já havia sido
feito em parte por Lourenço Braga.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
137

RUBENS SARACENI apresenta as Sete Linhas de


Umbanda como “As Sete Vibrações de Deus”, afir-
mando que:

“Deus se manifesta de forma Sétupla nesta realida-


de humana.”
“As Sete Linhas têm origem em Deus através do Se-
tenário Sagrado.”

“Cada um pode dar o nome que quiser, associar as


Sete Linhas a Sete Orixás, Sete Santos ou a Sete An-
jos, cada um fala de uma forma diferente, o que nin-
guém pode negar é que as Sete Linhas de Umbanda
são as Sete Vibrações de Deus, que se manifestam
em Sete Essências, Sete Elementos e em tudo o mais
que Deus Criou.”
Explica que existem muitos Orixás, todos podem ser
identificados ou associados às Linhas de Umbanda,
ENTIDADES DE UMBANDA
138 SEMANA 01

no entanto a Criação Divina se estabelece por meio


de uma Coroa Divina em que Sete Tronos Origi-
nais se manifestam através de Quatorze Tronos que
se agrupam em Sete Masculinos e Sete Femininos
correspondentes a Quatorze Orixás, dentro das Sete
Vibrações, Essências, Sentidos e Elementos corres-
pondentes:

• 1ª Linha, Sentido da Fé e
Elemento Cristalino:
Orixás Oxalá e Logunan (Oyá-Tempo)
• 2ª Linha, Sentido do Amor e
Elemento Mineral:
Orixás Oxum e Oxumaré
• 3ª Linha, Sentido do Conhecimento
e Elemento Vegetal:
Orixás Oxóssi e Obá
• 4ª Linha, Sentido da Justiça
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
139

e Elemento Fogo:
Orixás Xangô e Iansã
• 5ª Linha, Sentido da Lei
e Elemento Ar:
Orixás Ogum e Egunitá
• 6ª Linha, Sentido da Evolução
e Elemento Terra:
Orixás Obaluayê e Nanã Buroquê
7ª Linha, Sentido da Geração
e Elemento Água:
Orixás Iemanjá e Omulu

Há ainda outros Orixás que mesmo que não estejam


aqui se agrupam da mesma forma. Por exemplo, jun-
to de Oxóssi estão os outros Orixás Vegetais como
Ossaim, Aroni e Logunedé. Junto de Omulu está Iku
(a morte). Junto de Oxalá está Oxaguiã, Oxalufã,
Obatalá, Orumilá-Ifá etc.
ENTIDADES DE UMBANDA
140 SEMANA 01

Cada Orixá Maior comanda 7 Orixás Intermediários


e cada um destes comandam mais 7 Intermediadores
ou regentes de nível, abaixo destes estão todos os
outros Orixás Naturais, Encantados e Caboclos que
se manifestam na vibração deste ou daquele Orixá.

Ao expor este estudo, histórico e literário, dos con-


ceitos, apresentados por autores umbandistas, sobre
as “Sete Linhas de Umbanda”, tenho como objeti-
vo, única e exclusivamente, oferecer material para
o estudo e/ou observação do que já se falou sobre o
assunto.

Através deste estudo podemos comprovar as dife-


rentes formas em que as Sete Linhas de Umbanda
vêm sendo apresentadas desde sua origem, os livros
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
141

das décadas de 40 e 50 são pouco acessíveis. En-


contramos entre os autores deste período pessoas
que se dedicaram e muito na intenção de entender e
abordar os conceitos teológicos, doutrinários e ritu-
alísticos da Religião de Umbanda, mesmo sem uma
bibliografia sólida.

Não tenho como objetivo apontar este ou aquele au-


tor em graus de acerto ou erro, mas apenas mostrar
o que alguns autores pensaram sobre 7 Linhas da
Umbanda.
Aos que tiveram a paciência de ler até aqui, agrade-
ço e parabenizo pelo interesse em entender um pou-
co mais sobre a Religião de Umbanda.
Alexandre Cumino
ANEXO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
143

As Sete Linhas de Umbanda


de Lourenço Braga

O autor Lourenço Braga é o primeiro a identificar,


além das Sete Linhas, também, as “Legiões” ou sub-
divisões de cada uma delas. Embora Leal de Souza já
tivesse comentado que as linhas tinham subdivisões,
não as identificava. Leal de Souza também citava
Entidades Orientais, mas não identificava como “Li-
nha do Oriente”, o que será um diferencial na forma
de interpretar as Sete Linhas, na visão de Lourenço
Braga.

Título Umbanda e Quimbanda - 1942


Na página 9 deste livro encontramos:
Capítulo I
DIVISÃO DO ESPIRITISMO
“Devemos dividir o Espiritismo, como ele é, na ver-
ENTIDADES DE UMBANDA
144 SEMANA 01

dade, em três partes, a saber: Lei de Kardec:


- Espiritismo doutrinário, filosófico e científico.

Lei de Umbanda:
- Espiritismo – Magia Branca.

Lei de Quimbanda:
Espiritismo - Magia Negra.”

Faz ainda uma observação no:


A LINHA DE SANTO OU DE OXALÁ
A linha de Santo ou de Oxalá é constituída por es-
píritos de várias raças terrenas, entre eles, os pretos
de Minas, pretos da Bahia, padres, frades, freiras e
espíritos que, quando na Terra, tiveram grande sen-
timento católico.

Os chefes das Legiões e das grandes falanges são


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
145

espíritos conhecidos no catolicismo com o nome de


Santos, tais como sejam:
1. Legião de SANTO ANTÔNIO
2. Legião de SÃO COSME E SÃO DAMIÃO
3. Legião de SANTA RITA
4. Legião de SANTA CATARINA
5. Legião de SANTO EXPEDITO
6. Legião de SÃO BENEDITO
7. Legião de Simirômba (Frade) SÃO FRANCISCO
DE ASSIS

As falanges grandes e pequenas de espíritos desta


Linha infiltram-se entre as Linhas da Lei de Quim-
banda com o propósito de diminuir a intensidade do
mal por eles praticado e habilmente arrastá-los para
a prática do bem, e por este motivo, verificamos mui-
tas vezes nos trabalhos de Magia Branca aparecerem
elementos ou falanges da Magia Negra e vice-versa.
ENTIDADES DE UMBANDA
146 SEMANA 01

A LINHA DE IEMANJÁ
A Linha de Iemanjá chefiada por Santa Maria, mãe
de Jesus Cristo, é constituída da seguinte forma:
1. Legião das Sereias – Chefe AXÚN ou Oxún
2. Legião das Ondinas – Chefe NANÁ ou NANA
BURUCÚ
3. Legião das Caboclas do Mar – Chefe INDAIÁ
4. Legião das Caboclas dos Rios – Chefe IARA
5. Legião dos Marinheiros – Chefe TARIMÁ
6. Legião dos Calunguinhas – Chefe CALUNGUI-
NHA
7. Legião da Estrela Guia – Chefe MARIA MA-
DALENA

A missão dessas falanges é proteger os marinheiros,


fazer as lavagens fluídicas dos diferentes ambientes,
de encaminhar no espaço os irmãos que desejarem
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
147

progredir, amparar na Terra, em geral, as criaturas


do sexo feminino e de desmanchar os trabalhos da
Magia Negra feitos no mar ou nos rios e de fazer
trabalhos para o bem, em prol daqueles que de tal
necessitarem.

A LINHA DO ORIENTE
A Linha do Oriente, que é chefiada por São João Ba-
tista, é constituída pelas seguintes Legiões:
1. Legião dos Indus:
Chefiada por ZARTÚ
2. Legião de Médicos e Cientistas:
Chefiada por JOSÉ DE ARIMATEIA e bafejada pelo
ARCANJO RAFAEL
3. Legião de Árabes e Marroquinos :
Chefiada por JIMBARUÊ
4. Legião de Japoneses, Chineses:
Chefiada por ORI DO ORIENTE
ENTIDADES DE UMBANDA
148 SEMANA 01

5. Legião dos Egipcianos, Aztecas, Mongóis e Es-


quimós, Incas e outras raças antigas:
Chefiadas por INHOARAIRI, Imperador Inca antes
de Cristo
6. Legião dos Índios Caraíbas:
Chefiadas por ITARAIACI
7. Legião dos Gauleses, Romanos e outras raças eu-
ropeias:
Chefiada por MARCUS I – Imperador Romano.

São falanges de caridade; são incumbidas de des-


vendar aos habitantes da Terra coisas para eles des-
conhecidas; são os grandes mestres do ocultismo
(Esoterismo – Cartomancia – Quiromancia – Astro-
logia – Numerologia – Grafologia – etc.) – Magia
Mental e Alta Magia.

A LINHA DE OXÓCE
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
149

A Linha de Oxóce, chefiada por São Sebastião, é


constituída por legiões de espíritos com a forma de
caboclos e assim temos:
1. Legião de URUBATÃO
2. Legião de ARARIBOIA
3. Legião do CABOCLO DAS SETE ENCRUZI-
LHADAS
4. Legião dos Peles Vermelhas:
ÁGUIA BRANCA
5. Legião dos Tamoios
GRAJAÚNA
6. Legião da CABOCLA JUREMA
7. Legião dos Guaranis
ARAÚNA
São falanges de caridade, doutrinam os irmãos so-
fredores, desmancham trabalhos de magia Negra,
fazem curas, aplicam a medicina hervanária, dão
passes etc.
ENTIDADES DE UMBANDA
150 SEMANA 01

A LINHA DE XANGÔ
A Linha de Xangô, São Jerônimo, por ele mesmo
chefiada, é a Linha da Justiça. Esta Linha é compos-
ta das seguintes Legiões:
1. Legião de INHASÃ
2. Legião do CABOCLO DO SOL E DA LUA
3. Legião do CABOCLO PEDRA BRANCA
4. Legião do CABOCLO DO VENTO
5. Legião do CABOCLO DAS CACHOEIRAS
6. Legião do CABOCLO TREME-TERRA
7. Legião dos PRETOS - QUEGUELÊ

É o povo da caridade e da justiça, dá a quem mere-


ce, pune com justiça, ampara os humildes, eleva os
humilhados, desmancha trabalhos fortes de Magia
Negra etc.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
151

LINHA DE OGUM
A Linha de Ogum, São Jorge, é dividida em sete Le-
giões, cujos chefes têm o nome de Ogum, seguido
de um sobrenome especial; assim temos:
1. Ogum BEIRA-MAR
2. Ogum ROMPE-MATO
3. Ogum IARA
4. Ogum MEGÊ
5. Ogum NARUÊ
6. Ogum de MALEI
7. Ogum de NAGÔ

Esta é a Linha dos grandes trabalhos de demanda,


exerce grande predomínio sobre os quimbandeiros e
age em vários setores, conforme o nome deles indi-
ca. Ogum Beira-Mar nas praias; Ogum Iara nos Rios;
Ogum Rompe-Mato nas matas; Ogum Megê, sobre
a Linha das Almas; Ogum de Malei, sobre a Linha
ENTIDADES DE UMBANDA
152 SEMANA 01

de malei, - povo de Erú (Exu?); Ogum de Nagô, so-


bre a Linha de Nagô – povo de Ganga.

LINHA AFRICANA OU DE SÃO CIPRIANO


Linha Africana da Lei de Umbanda é composta de
espíritos de pretos de várias raças, como sejam:
1. Legião do Povo da Costa:
PAI CABIDA (Cabinda?)
2. Legião do Povo do Congo:
REI DO CONGO
3. Legião do Povo de Angola:
PAI JOSÉ

4. Legião do Povo de Benguela:


PAI BENGUELA
5. Legião de Moçambique:
PAI JERÔNIMO
6. Legião do Povo de Loanda:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
153

PAI FRANCISCO
7. Legião do Povo de Guiné:
ZUN-GUINÉ

São os grandes feiticeiros de Umbanda, fazem im-


portantes trabalhos de Magia, usando todos os ritu-
ais, porém com o fito de fazer o bem. Os componen-
tes dessa falange infiltram-se com grande facilidade
entre os quimbandeiros, causando muitas vezes con-
fusão aos filhos da Terra.

Os espíritos desta Linha gostam muito de conversar


com os filhos da Terra e nessas ocasiões costumam
dizer “Umbanda tem fundamento e fundamento de
Umbanda tem Mironga”.

Neste mesmo Livro, “Umbanda e Quimbanda”, Lou-


renço Braga define a “LEI DE QUIMBANDA E AS
SUAS SETE LINHAS”.
ENTIDADES DE UMBANDA
154 SEMANA 01

O próprio Lourenço Braga fez alterações em suas


Sete Linhas ao longo do tempo, ao que podemos
concluir que nem Lourenço Braga concorda com
Lourenço Braga, quando comparamos “Umbanda e
Quimbanda” Volume 1 com o Volume 2. Abaixo al-
gumas novidades que aparecem no volume 2:
“O Sol exerce influência sobre os 7 planetas e a lua
recebe influência dos 7 planetas.”

Cita ainda o autor que: “A Linha de Oxalá ou das


Almas, chefiada indiretamente por São Miguel e di-
retamente por Jesus, possui 7 Legiões chefiadas por
um Anjo (Lilazio)” onde surgem 7 anjos identifica-
dos por cores, atuando junto dos chefes de cada li-
nha, a saber:
1. Jesus – ANJO LILAZIO:
Luz roxo claro brilhante
2. Gabriel – ANJO LUZANIL:
Luz azul claro brilhante
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
155

3. Rafael – ANJO ROSÂNIO:


Luz rosa claro brilhante
4. Zadiel – ANJO ISMERA:
Luz verde claro brilhantel
5. Orifiel – ANJO AURIDIO:
Luz ouro claro brilhante
6. Samael – ANJO RUBRION:
Luz vermelho claro brilhante
7. Anael – ANJO ILIRIUM:
Luz branca brilhante

Agora a Linha de Oxalá se subdivide em 7 Legiões


de Anjos conforme abaixo está:
1. Legião do ANJO EFROHIM – na Ásia
2. Legião do ANJO ELEUSIM – na Índia
3. Legião do ANJO IBRAHIM – na África
4. Legião do ANJO EZEKIEL – na Europa
5. Legião do ANJO ISMAIEL – no Brasil
6. Legião do ANJO ZUMALAH – na Quimbanda
PIONEIROS DA UMBANDA
UMA ROTA
LITERÁRIA

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
157

E
xistem diferentes formas de abordar a his-
tória da religião, diferentes pontos de vista
e interpretações variadas dos mesmos fatos.
Proponho, aqui, convidá-los para uma viajem no
tempo, por meio dos primeiros autores umbandistas,
que vão da década de 1930 à primeira metade da dé-
cada de 1950. A partir da segunda metade da década
de 1950, 60 e 70 surgiu uma grande quantidade de
outros autores, os quais boa parte de sua literatura
ainda é disponível e conhecida. Logo é possível sen-
tir falta de um ou outro autor, no entanto o que cabe
no objetivo deste texto é justamente aqueles que
desconhecemos, os quais mesmo em sebos haverá
grande dificuldade de encontrar.

ZÉLIO DE MORAES não escreveu nada sobre a


Umbanda, quando muito deu algumas entrevistas
e preparou médiuns para expandir e continuar sua
obra.
ENTIDADES DE UMBANDA
158 SEMANA 01

Há sobre a obra de Zélio alguns livros e matérias pu-


blicadas por médiuns e admiradores. Entre os “con-
tinuadores” (que se destacam na literatura) podemos
citar LEAL DE SOUZA, CAPITÃO PESSOA e
JOÃO SEVERINO RAMOS. Entre os admiradores
há uma extensa lista de nomes, no entanto um não
pode ser esquecido, da SENHORA LILIA RIBEIRO
da TULEF, editora do Jornal Macaia. Lilia realizou a
maior quantidade de entrevistas com Zélio; também
devemos lembrar de JOTA ALVES DE OLIVEIRA
que conviveu um pouco com Zélio e foi colaborador
do Jornal de Umbanda, e RONALDO LINARES
que se tornou o maior divulgador da obra de Zélio
de Moraes no Estado de São Paulo, conviveu com o
“Pai da Umbanda”, ouvindo e relatando suas histó-
rias. DONA ZILMEIA DE MORAES CUNHA cos-
tumava dizer que Pai Ronaldo é “quem melhor pode
falar de Zélio de Moraes”.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
159

A literatura de Umbanda surge de forma tardia, os


primeiros textos surgem em 1924, no Jornal A Noi-
te, onde o jornalista Leal de Souza relata suas expe-
riências com os espíritos.

Em 1925 todas as reportagens são organizadas em


um livro chamado No Mundo dos Espíritos, a pri-
meira publicação que descreve um trabalho ritual da
religião de Umbanda. Lá está contida a primeira vi-
sita que Leal de Souza fez à Tenda Espírita Nossa
Senhora da Piedade, como repórter e adepto do Es-
piritismo (Doutrina Codificada por Kardec). Partici-
pou de uma sessão com o Caboclo das Sete Encruzi-
lhadas e Pai Antônio. Neste dia Leal de Souza pode
assistir à cura de uma pessoa considerada louca, que
na verdade estava obsidiada.

Leal de Souza passaria a trabalhar na Tenda com Zé-


lio de Moraes e aceitaria a missão de dirigir a Tenda
ENTIDADES DE UMBANDA
1 60 SEMANA 01

Espírita Nossa Senhora da Conceição; em 1933 pu-


blica o primeiro título voltado para a Umbanda, O
Espiritismo, a Magia e as Sete Linhas de Umbanda.
Neste livro o repórter autor (Leal de Souza já tinha
uma caminhada autoral com outros quatro títulos
publicados), médium, dirigente espiritual e pioneiro
da divulgação da Umbanda se propõe a apresentar
a religião. O livro citado foi resultado de uma cole-
tânea de reportagens realizadas por Leal de Souza
para o Jornal Diário de Notícias.

Neste livro aparece pela primeira vez o conceito de


Sete Linhas, que são sete divisões da Linha Branca
de Umbanda em oposição à Linha Negra.

Não havia literatura anterior, portanto, concluímos


que este livro relata o entendimento de Leal de Sou-
za sobre a obra de Zélio e o que aprendeu com ele na
prática e teoria estendido por meio de seus próprios
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
1 61

guias e sem desconsiderar sua militância anterior no


Espiritismo, como influência certa e notória nas li-
nhas de sua obra. No mesmo livro constam textos
sobre Zélio de Moraes, Caboclo das Sete Encruzilha-
das e sobre as três tendas fundadas até então (Nossa
Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Conceição
e Nossa Senhora da Guia). Zélio havia assumido a
responsabilidade de abrir Sete Tendas, além da sua
Tenda, que representariam as Sete Linhas de Um-
banda (seriam fundadas a Tenda São Jorge, Santa
Bárbara, São Pedro, Oxalá e São Jerônimo).

A escolha dos médiuns para dirigir estas tendas mui-


tas vezes se mostra cercada de cenas dignas de se-
rem aqui relembradas:
João Severino Ramos, incrédulo, ao visitar Zélio
em Cachoeiras de Macacu, relutava em acreditar
nas manifestações que assistia a sua frente, pedindo
uma prova decisiva. Zélio manifestado com o Orixá
ENTIDADES DE UMBANDA
1 62 SEMANA 01

Malê apanhou uma pedra na beira do rio acertando a


mesma bem na testa de Severino. Seus colegas pron-
tificaram- se a ir buscá-lo, ao que a entidade ordenou
que não se movessem, pois ele voltaria sozinho. Mi-
nutos depois João Severino, transfigurado, atraves-
saria a margem do Rio Macacu já incorporado da
entidade que identificaria como Ogum de Timbiri.
João Severino se tornaria dirigente da Tenda Espí-
rita São Jorge, fundada por Zélio, e também autor
do livro Umbanda e seus Cânticos, publicado em
1953. O autor divide este livro em duas partes, uma
primeira doutrinária e uma segunda sobre os pontos
cantados de Umbanda.

JOSÉ ÁLVARES PESSOA, Capitão Pessoa como


ficou conhecido, era espírita e estudioso do espiri-
tualismo em geral, também não dava muito crédito
ao que vinha ouvindo sobre as “maravilhas de Ne-
ves”, sobre o Caboclo Sete Encruzilhadas, resolveu
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
1 63

ir pessoalmente conhecer a Tenda Nossa Senhora da


Piedade. Isto se deu por volta de 1935, Zélio já tinha
fundado as seis tendas e lhe faltava o médium que
iria dirigir a Tenda São Jerônimo. Assim que Capitão
Pessoa adentrou o ambiente da Tenda, Caboclo Sete
Encruzilhadas, devidamente incorporado, interrom-
peu sua palestra e afirmou: Já podemos fundar a ten-
da São Jerônimo. O seu dirigente acaba de chegar.

O Sr. Pessoa se surpreendeu com tal afirmação, pois


não conhecia ninguém naquele ambiente. Em con-
versa com o Caboclo se surpreendeu mais ainda por
mostrar que o conhecia profundamente. A Tenda São
Jerônimo tornou-se um exemplo dentro da religião
e Capitão Pessoa um umbandista dos mais atuantes.
Nos legou um texto intitulado Umbanda Religião do
Brasil que faz parte de um livro com o mesmo título
onde participa ao lado de mais três autores umban-
distas (Carlos de Azevedo, Madre Yarandasã e Nel-
ENTIDADES DE UMBANDA
1 64 SEMANA 01

son Mesquita Cavalcanti).

Neste livro, Capitão Pessoa ressalta a Umban-


da como “UMA RELIGIÃO GENUINAMENTE
BRASILEIRA” e o Caboclo das Sete Encruzilhadas
como responsável por esta nova religião.

JOÃO DE FREITAS, em 1938, publica o título Um-


banda, no qual descreve visitas a oito tendas de Um-
banda, entre as entrevistas ressalto uma muito inte-
ressante que descreve a visita do “grande Embanda
João da Golmeia” ao Terreiro de Cobra Coral do
confrade Orlando Pimentel. Podemos afirmar que a
ideia e o formato deste livro se aproximam muito do
que foi feito por Leal de Souza na sua obra No Mun-
do dos Espíritos.

Mais tarde, década de 40, viria a escrever Xangô


Djacutá, na apresentação do livro escreve ele:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
1 65

“(...) julgamos oportuno escrever Xangô Djacutá


com o propósito de colaborar com os que pleiteiam
o reconhecimento da Umbanda como religião de
fato...”

“(...) a Umbanda não quer e não precisa viver à som-


bra de outras religiões, suas falhas e lacunas somen-
te aos umbandistas cabe o direito de corrigir.”

WALDEMAR L. BENTO, em 1939, publica o livro


Magia no Brasil, um livro de Umbanda que apre-
senta um “longo estudo da magia, teogonia, ritual,
curimbas, pontos, orixás e um vocabulário de uso
corrente constituindo precioso manancial da época”.

Primeiro Congresso Brasileiro do Espiritismo de


Umbanda, 1942, é um divisor de águas. Este é o tí-
tulo do livro que relata o que foi este Congresso rea-
lizado em 1941, como primeira tarefa da Federação
ENTIDADES DE UMBANDA
1 66 SEMANA 01

de Umbanda do Brasil, fundada em 1939 por incen-


tivo do Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Chegamos à década de 40 e o movimento umbandis-


ta começa a tomar corpo no Rio de Janeiro.
Este congresso é a primeira iniciativa coletiva da
religião em estabelecer o que é e o que não é Um-
banda, buscando entender qual seria a identidade da
Umbanda. Coloco abaixo alguns fragmentos do li-
vro que relata o que foi o Congresso:

“A IDEIA DO CONGRESSO
O conceito alcançado entre nós pelo Espiritismo de
Umbanda...
(...) Sua prática variava, entretanto, segundo os co-
nhecimentos de cada núcleo, não havendo, assim, a
necessária homogeneidade de práticas, o que dava
motivo à confusão por parte de algumas pessoas me-
nos esclarecidas, com outras práticas inferiores de
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
1 67

espiritismo.”

Fundada a Federação Espírita de Umbanda há cer-


ca de dois anos, o seu primeiro trabalho consistiu
na preparação deste Congresso, precisamente para
nele se estudar, debater e codificar esta empolgante
modalidade de trabalho espiritual, a fim de varrer de
uma vez o que por aí se praticava com o nome de Es-
piritismo de Umbanda, e que no nível de civilização
a que atingimos não tem mais razão de ser.

DISCURSO INAUGURAL
Pronunciado pelo 1° Secretário da Federação Espí-
rita de Umbanda, Sr. Alfredo António Rego, na reu-
nião de 19 de Outubro de 1941.

“A obra a que neste momento vamos dar início, com


o pensamento inteiramente voltado para Jesus, Nos-
so Mestre e Senhor, é daquelas que, pelo vulto de
ENTIDADES DE UMBANDA
1 68 SEMANA 01

sua grandiosidade, não podem ser concluídas numa


única encarnação.”

“(...) Umbanda deixará de ser de agora em diante


aquela prática ainda mal compreendida por numero-
sos dos nossos distintos confrades da Seara do Mes-
tre, para se tornar, assim o cremos, a maior corrente
mental da nossa era, nesta parte do continente sul-a-
mericano.”

Foram apresentadas muitas teses sobre a Umbanda


neste congresso, que ela teria origem na Lemúria, na
Atlântida, na África e outras. A Palavra UMBANDA
foi considerada uma palavra sânscrita deturpada de
seu vocábulo original (AUMBANDÃ). No Segundo
Congresso de Umbanda, em 1961, esta ideia foi re-
tificada, reconhecendo-se que a palavra já existia na
língua quimbundo falada em Angola. Seu significa-
do é a prática espiritual de cura do sacerdote chama-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
1 69

do Kimbanda.
Lourenço Braga publica UMBANDA E QUIM-
BANDA, seu “trabalho apresentado” no Primeiro
Congresso de Umbanda, 1941; estranhamos não ser
citado em nenhum momento no livro do Congresso.
Lourenço Braga é o primeiro a dividir as Sete Linhas
em quarenta e nove Legiões. Podemos considerá-lo
um pioneiro, com um trabalho hercúleo que foi a
organização destas legiões que seriam copiadas por
muitos autores posteriores a ele, sem que seu nome
fosse citado. Assim como a teoria do AUMBANDÃ,
do Primeiro Congresso de Umbanda, também apare-
ceria em obras posteriores sem os devidos créditos
ao idealizador (Diamantino Trindade, Delegado da
Tenda Mirim para o Primeiro Congresso de Umban-
da).

Lourenço Braga publica ainda os títulos:


Trabalhos de Umbanda ou Magia Prática, 1950; Os
ENTIDADES DE UMBANDA
170 SEMANA 01

Mistérios da Magia, 1953; Umbanda e Quimbanda


II, 1955.

J. DIAS SOBRINHO publica Forças Ocultas Luz e


Caridade, 1949, um livro interessante com uma óti-
ca bem espírita e dividido em duas partes. Na pri-
meira A constituição espiritual do homem e na outra
Espiritismo. Segue o modelo de Lourenço Braga em
dividir o Espiritismo em três partes (Kardecismo,
Umbanda e Kimbanda) e também nas subdivisões
das Sete Linhas com Legiões. Apresenta algumas te-
orias mirabolantes como o “Cisma de Irschu”, não
são ideias próprias como as de Lourenço Braga, já
são adaptadas das dele e de outros autores. Este “Cis-
ma”, apesar de fantasioso, também seria copiado por
outros autores.
OLIVEIRA MAGNO publica Umbanda Esotérica e
Iniciática em 1950, apresenta logo na primeira pá-
gina o “Símbolo Esotérico-Umbandista” – Um cír-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
171

culo com um triângulo feito de flechas, um coração


e uma cruz, um símbolo dentro do outro respectiva-
mente – e explica: As três setas são os três mundos
(o físico, o intermediário, o espiritual); o coração é
o amor universal; a cruz representa o Cristo (Oxalá)
e o círculo é o Universo.

Publica também:
Práticas de Umbanda, 1951; Umbanda e Ocultismo,
1952; Ritual Prático de Umbanda, 1953; Antigas
Orações da Umbanda, sd.; Umbanda e seus Comple-
xos, sd.; Pontos Cantados e Riscados de Umbanda,
sd.

SILVIO PEREIRA MACIEL se caracteriza por uma


literatura acessível, composta de doutrina, preces,
pontos cantados, pontos riscados e curiosidades. Tí-
tulos:
Alquimia de Umbanda, 1950; Umbanda Mista, sd. e
ENTIDADES DE UMBANDA
172 SEMANA 01

Irradiação Universal de Umbanda, sd., 1974.

ALUÍZIO FONTENELE surge no final da década


de 40, não sabemos a data exata de publicação de
seus títulos, que não consta, mas há na capa dos três
livros uma foto do autor com a data de 1951 e a data
de seu desencarne em 1952. Por se tratar de três tí-
tulos, com certeza foram produzidos no final da dé-
cada de 40.
Aluízio Fontenele retoma e faz uma releitura das Li-
nhas e Legiões de Lourenço Braga, com uma inova-
ção, nas linhas de esquerda ele associa os nomes dos
Exus com nomes dos “demônios” da Magia Negra
Europeia, também conhecida como Goécia. Prova-
velmente foi o primeiro a fazer este tipo de associa-
ção que vai aparecer em outras obras na posteridade.
São seus os títulos:
O Espiritismo no Conceito das Religiões e a Lei da
Umbanda, sd.; Umbanda Através dos Séculos, sd. e
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
173

Exu, sd.

YOKAANAM, Chefe Espiritual da Fraternidade


Eclética Espiritualista Universal, publica Evangelho
de Umbanda, em 1951. Apresenta nesta obra o autor
uma elaboração do que é e como praticar a Umban-
da, desde como se vestir até a forma como deve ser
construído e organizado o templo. Também combate
a ideia das sete linhas de Umbanda pontificada com
sete Orixás, já adotada por alguns autores anteriores
como Leal de Souza e Lourenço Braga. Diz Yokaa-
nan que estes autores são africanistas.

Provavelmente é o primeiro a publicar a ideia de que


UMBANDA é a BANDA de DEUS, a BANDA do
UM ou LEGIÃO de DEUS, conceito que se tornaria
popular, com seu apelo à língua portuguesa.

“(...) UMBANDA – Vem de UM + BANDA.


ENTIDADES DE UMBANDA
174 SEMANA 01

UM que significa DEUS... BANDA que significa Le-


gião, Exército... ou Lado de Deus! Ora, assim sendo
não pode ser confundida com o Africanismo...”

TANCREDO DA SILVA PINTO, Tata Ti Inkice Tan-


credo da Silva Pinto ou simplesmente Tata Tancredo
como era chamado – presidente perpétuo da Con-
gregação Espírita Umbandista do Brasil - defendia a
origem afro da Umbanda e é considerado o pioneiro
do ritual Omolocô. Nas suas palavras, “A origem do
Culto Omolocô vem do sul de Angola, sendo uma
nação pequenina às margens do rio Zambeze que o
tem como Zambi, que lhes dava a alimentação ne-
cessária, proveniente das enchentes.” (A Origem
da Umbanda). Também define o Ritual de Cabula
(Camba de Umbanda), fala com desenvoltura e lin-
guagem simples desde a cultura afro-indígena até
o hinduísmo (Doutrina e Ritual de Umbanda). São
seus os titulo abaixo:
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
175

Doutrina e Ritual de Umbanda, 1951 (parceria de


Byron Torres de Freitas); As Mirongas de Umbanda,
1953 (parceria de Byron Torres de Freitas); Camba
de Umbanda, sd. (parceria de Byron Torres de Frei-
tas); A Origem da Umbanda, sd.; Umbanda - Guia
para Organização de Terreiros, sd.; Horóscopo de
Umbanda, sd.; Negro e Branco na Cultura Religiosa
Afro Brasileira, sd.; O Eró(segredo) da Umbanda,
1968; Os EGBAS, 1976 e As Impressionantes Ceri-
mônias da Umbanda, sd.
Emanuel Zespo é o pseudônimo usado pelo profes-
sor Paulo Menezes, filho de Leopoldo Betiol, escla-
recido e com argumentação clara, defende a Umban-
da como Religião Brasileira.

Codificação da Lei da Umbanda, 1953.


Consiste de um ensaio para a Codificação da Um-
banda ou uma tentativa de chamar a atenção de ou-
ENTIDADES DE UMBANDA
176 SEMANA 01

tros líderes para esta questão. Divide o conteúdo em


Parte Científica e Parte Prática, fecha o prefácio sau-
dando o Caboclo das Sete Encruzilhadas.
“Escrevemos para o umbandista e para o não um-
bandista.
Ao primeiro fornecemos os argumentos científicos
com os quais ele poderá justificar ao mundo a razão
de ser da Umbanda. Ao segundo damos explicações
claras do que é a Umbanda...
(...) Comecemos pela Codificação na parte Científi-
ca e na parte Ritualística; mas não esqueçamos que
a base da parte moral é confraternização de todos os
umbandistas.
(...) Saravá o Caboclo das Sete Encruzilhadas!
Viva Jesus!” Emanuel Zespo (pp.8-11)

SAMUEL PONZE confessa que nunca conheceu


EMANUEL ZESPO, mas toma ao pé da letra o sen-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
177

tido de codificador para este. Em seu livrinho – 46


páginas – faz perguntas e respostas sobre a Umban-
da, sempre citando o codificador. No prefácio afir-
ma “Não me sentiria capaz de continuar a obra de
Zespo, mesmo ela está concluída; contudo, desejo
divulgá-la e esclarecê-la por ser a mais sensata em
matéria de Umbanda, publicada até hoje no Brasil
conforme bem disse o „Jornal de Umbanda”. O Jor-
nal de Umbanda a que se refere é o mesmo que foi
idealizado por Zélio de Moraes e o Caboclo das Sete
Encruzilhadas.
Lições de Umbanda, 1954.

FLORISBELA M. SOUSA FRANCO, autora de


dois livros conhecidos, seu trabalho consiste de
mensagens que variam entre textos inspirados, uma
ou outra mensagem recebida mediunicamente e pes-
quisa. São principalmente textos doutrinários. Sua
ENTIDADES DE UMBANDA
178 SEMANA 01

primeira publicação é de 1953, onde apresenta o tri-


ângulo de Umbanda, Caboclos (energia), Crianças
(inocência) e Pretos-velhos (humildade). Talvez te-
nha sido a primeira pessoa a colocar este triângulo
assim desta forma em livro.
Umbanda, 1953 e Umbanda para os Médiuns,
1958.

AB’D RUANDA fez um livrinho simples de pergun-


tas e respostas, que durante muito tempo foi comer-
cializado, acredito que ainda seja possível encon-
trá-lo, a primeira edição é de 1954, chama-se Lex
Umbanda: Catecismo, mas nas edições posteriores
saíram apenas como Catecismo de Umbanda.
Lex Umbanda: Catecismo, 1954 e Banhos e Defu-
mações na Umbanda, sd.

BENJAMIM FIGUEIREDO fundador da tenda Es-


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
179

pírita Mirim, 1924, e do Primado de Umbanda, in-


centivador do “Colegiado Espiritualista do Cruzei-
ro do Sul”, “Círculo de Escritores e Jornalistas de
Umbanda”, “Movimento de Unificação Nacional
pró Religião de Umbanda”. Fundador da “Escola
Superior Iniciática de Umbanda do Brasil”. Incenti-
vador do Primeiro, Segundo e Terceiro Congressos
de Umbanda (1941, 1961 e 1973). Publicou no livro
abaixo com mensagens do Caboclo Mirim, textos e
pontos cantados.

Okê Caboclo!, sd.

São estes acima os pioneiros na Literatura Umban-


dista, autores que surgiram ou publicaram seus títu-
los até a primeira metade da década de 50. Depois
deste período surgiram muitos outros autores, a to-
dos rendemos nossas homenagens.
A LITERATURA
DE UMBANDA HOJE
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
181

Hoje a literatura de Umbanda passa por uma mudan-


ça de conceito, surgiu na década de 90 uma literatu-
ra psicografada de umbanda, o médium RUBENS
SARACENI trouxe o estilo de romance mediúnico
(tão comum no “Kardecismo”) para a Umbanda.

Publicou inicialmente O Guardião da Meia Noite e


o Cavaleiro da Estrela da Guia que se tornaram ra-
pidamente os títulos mais lidos entre os Umbandis-
tas. Encontrou o autor na Editora Madras, através de
seu presidente, Sr. Wagner Veneziani Costa, apoio
irrestrito para a publicação e divulgação dos títulos
umbandistas.
O Sr. Rubens Saraceni e a Editora Madras mudaram
um paradigma no mundo livreiro, pois as editoras
e livrarias não aceitavam títulos de Umbanda e os
ENTIDADES DE UMBANDA
182 SEMANA 01

mesmos eram encontrados apenas em lojas de arti-


gos religiosos, agora outras editoras já se animam
em publicar títulos de umbanda e outros umbandis-
tas se sentiram incentivados, também, a psicografar
romances umbandistas e obras doutrinárias.

A própria Editora Madras abriu espaço para novos


autores de Umbanda, ao que podemos citar o suces-
so da última Bienal do Livro, 2008, em que ao lado
de Rubens Saraceni estavam também RODRIGO
QUEIROZ, com o romance psicografado Redenção,
IARA DRIMEL com o romance psicografado A His-
tória da Senhora Pomba-gira Rosa do Lodo e AN-
GÉLICA LISANTI com o título Cristais e os Orixás.
Também citamos como autores de Umbanda nesta
editora LURDES CAMPOS VIEIRA, NELSON PI-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
183

RES FILHO, Vicente Paulo de Deus, NILTON DE


ALMEIDA JUNIOR, JOSÉ AUGUSTO BARBO-
SA e PAI RONALDO LINARES.
Citamos estes autores apenas para que se tenha uma
ideia do que vem sendo publicado sobre Umbanda
e do trabalho da Editora Madras (www.madras.com.
br).

Rubens Saraceni conta hoje com mais de cinquen-


ta títulos publicados, e seu Pai espiritual Ronaldo
Linares, que conviveu com Zélio de Moraes, acaba
de publicar em parceria com Diamantino Trindade
e Wagner Veneziani dois títulos importantes pela
Editora Madras. O primeiro é Iniciação à Umban-
da, livro já consagrado no meio umbandista, possuía
publicação anterior em dois volumes, agora ganha
ENTIDADES DE UMBANDA
184 SEMANA 01

uma versão única, ampliada e revisada. Neste título


o leitor irá encontrar a história de Zélio de Moraes,
seus ensinamentos para Ronaldo Linares, fotos do
Pai da Umbanda e de seus trabalhos. O outro título
de Ronaldo Linares é Os Orixás na Umbanda e no
Candomblé, que antes estava dividido em uma co-
leção de títulos sobre os Orixás, agora reunido em
volume único.

Quanto às livrarias aos poucos vêm dado mais des-


taque à Umbanda e aos autores umbandistas.

Esperamos sinceramente que os umbandistas apro-


veitem os ensinamentos e esclarecimentos que sur-
gem na obra literária umbandista. Hoje, mais do que
nunca os guias e mentores da Umbanda registram
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
185

seus ensinamentos no papel, pela psicografia.

Todos podem e devem ler e estudar para entender a


Umbanda além da manifestação mediúnica no ter-
reiro (Tenda, Centro ou Templo de Umbanda), en-
tendê-la enquanto religião – com doutrina, teologia
e ritual próprios. Bons estudos e boa leitura a todos.
.
E mais uma vez, Muito, Muito, Muito obrigado a
todos que possibilitaram este nosso encontro, meu
agradecimento especial a todos os guias e mentores
de cada um de vocês que muito fizeram no astral
para que concluíssemos este curso. Oxalá e todos os
Orixás estejam em nossos corações, palavras e men-
te. Nos abençoem aqui, agora e sempre...
Alexandre Cumino
FREI
MALAGRIDA
O JESUÍTA

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
187

N
o ano de 1689, às margens do rio Como,
na Vila de Monagio, nascia um meni-
no que recebeu o nome de Gabriel Ma-
lagrida (que significa ‘’As Vozes Harmoniosas de
Deus”).

Desde cedo Gabriel demonstrou tendências místicas.


Entrou para o seminário de Milão onde foi ordenado
e professou na Companhia de Jesus em 1711.

Gabriel desejava cumprir sua missão no Brasil, po-


rém Tamborini, o Geral da Companhia de Jesus, ha-
via lhe reservado a cadeira de Humanidades no Co-
légio de Bastis, na Córsega. Mais tarde conseguiu
se transferir para Lisboa, em 1721, onde depois de
algum tempo conseguia embarcar para o Maranhão.
GABRIEL
E O BRASIL
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
189

N
essas terras, Gabriel pregou internando-
-se no sertão, enfrentando sérios perigos
e vencendo com a fibra de quem se jul-
gava destinado a cumprir uma missão superior no
Planeta, uma missão de conquistar almas para o Céu.
Apresentava evidentes sintomas mediúnicos ouvin-
do vozes misteriosas e chegou mesmo a pensar que
operava milagres.

Em 1727 começou a árdua tarefa de catequizar os


índios no Maranhão, conseguindo nessa mesma oca-
sião amansar a feroz tribo dos Barbassos. Fundou
no Maranhão uma missão que teve grande desenvol-
vimento, sustentando uma peregrinação apostólica.
Foi em seguida, em 1730, para a Bahia e Rio de Ja-
neiro onde continuou a pregar, alcançando grande
ascendência sobre os índios. Apareceu então con-
ENTIDADES DE UMBANDA
190 SEMANA 01

vertido no apóstolo do Brasil.

Dizia que conversava com Deus e que lhe aparecia a


Virgem Maria, e para completar seus feitos, descre-
via os “milagres” que operava.
Em 1749 partiu para Lisboa, onde foi recebido com
fama de santo por muitos fiéis. Nessa época Dom
João V se encontrava muito doente, e Gabriel, a seu
pedido, o assistiu nos seus últimos momentos.

Em 1751 retornou ao Brasil onde ficou ate 1754, ano


em que foi chamado a Lisboa pela Rainha Dona Ma-
riana da Áustria. Encontrou no poder Sebastião José,
o terrível Marquês de Pombal, que não permitiu sua
presença por muito tempo junto à Rainha. Por esse
motivo, Gabriel se isolou durante algum tempo em
Setúbal.
GABRIEL
E A INQUISIÇÃO
ENTIDADES DE UMBANDA
192 SEMANA 01

N
o dia 1° de novembro de 1755, Lisboa
foi destruída por um terremoto. Correu o
boato que a catástrofe era castigo do céu.
Pombal mandou publicar um folheto escrito por um
padre, explicando o fenômeno e as causas naturais
que o determinaram. Gabriel apareceu em público
com um opúsculo, onde procurava corrigir o teor da
publicação. Nesse opúsculo, Gabriel afirmava que o
terremoto era verdadeiramente um castigo do céu.
Pombal enfurecido mandou queimar o opúsculo e
desterrou Gabriel para Setúbal.

Em setembro de 1758, ocorreu um atentado contra a


vida de Dom José. Algumas semanas antes, Gabriel
havia escrito uma carta ameaçadora ao Marquês
de Pombal. Gabriel foi preso, em 11 de dezembro,
como responsável pelo atentado e encarcerado nas
prisões do Estado. Pombal vasculhou seus livros e
nessa oportunidade lhe atribuiu passagens que pare-
ciam pouco ortodoxas, e foi entregue à Inquisição.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
193

Gabriel foi condenado à pena de garrote e fogueira,


sendo executado na Praça do Rossio em 21 de se-
tembro de 1761.

Uma comprovação destes fatos pode ser encontrada


na Biblioteca de Amsterdam, onde existe uma cópia
do seu famoso processo, traduzida da edição de Lis-
boa. Nesse processo pode-se ler que Malagrida foi
acusado de feitiçaria e de manter pacto com o Diabo
que lhe havia revelado o futuro!...

Gabriel Malagrida reencarnou no Brasil (talvez para


se refazer da árdua encarnação como jesuíta) se pre-
parando para a importante missão que lhe estava re-
servada dentro do Movimento Umbandista no sécu-
lo XX, como Caboclo das Sete Encruzilhadas.

Texto extraído do site http://www.geocities.com/Athens/Acropo-


lis/9175/historia.htm
EM DEFESA DO ESTUDO
E DO CONHECIMENTO DA
RELIGIÃO DE UMBANDA

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
195

H
ouve um tempo em que nada se ensina-
va sobre a religião de Umbanda, muitos
se justificavam dizendo que seus ensina-
mentos eram um segredo (eró), e o praticante, tam-
bém conhecido como médium ou “cavalo de Um-
banda” permanecia aguardando o momento em que
“o segredo” poderia ser revelado a ele. Ao questio-
nar sobre os ensinamentos ou sobre algum funda-
mento, era comum ouvir a frase: “Você ainda não
está pronto, ou ainda não é o momento de você saber
sobre isso”. O fato é que muitos foram preparados
(ou “despreparados”) desta forma dentro da Umban-
da. Muitos ouviram estas frases a vida inteira e hoje
apenas fazem repetir a mesma frase, acompanhada
de um ar de mistério e olhar inquisidor, para os que
estão sob a sua orientação (ou “desorientação”).
Conhecemos muitos médiuns que não sabem expli-
ENTIDADES DE UMBANDA
196 SEMANA 01

car a relação entre Santos Católicos e Orixás exis-


tente na Umbanda, seja ela de Sincretismo ou de Co-
participação no culto a Deus, suas divindades e seus
mensageiros. Outros fazem confusão entre o que é
um Orixá como Oxalá e Deus, que pode ser chama-
do de Zambi, Tupã, Olorum ou Olodumarê.

Confundem-se ainda os conceitos e dogmas católi-


cos com os fundamentos de Umbanda. Muitos ba-
tem cabeça e não sabem por que estão fazendo isso,
sacerdotes que não têm segurança ou não entendem
mesmo o porquê se realizar rituais de batizado, casa-
mento e encomenda fúnebre. Confunde-se Umban-
da, Candomblé e Espiritismo (Kardecismo).
Encontram-se ainda perdidos sem saber como se
classificam ou se devem se classificar como Um-
banda Branca, Umbanda Mista, Umbanda Trançada,
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
197

Umbanda Esotérica, Umbanda Iniciática, Umbanda


Carismática, Umbanda de Raiz, Umbanda Omo-
lokô, Umbanda de Caboclo e Umbanda para todos
os gostos.

O primeiro curso aberto para formação de Sacerdo-


tes de Umbanda é o tradicional curso da Federação
Umbandista do Grande ABC, ministrado por Pai Ro-
naldo Linares desde a década de 70 e que hoje está
na 25a Turma (25° Barco). Pai Ronaldo nos conta
que convivendo com Zélio de Moraes (Fundador da
Umbanda), entendeu que esta era uma vontade dele
também: preparar sacerdotes que pudessem repre-
sentar a religião, transmitindo-lhes o conhecimento
de maneira uniforme e aberta. Hoje este curso está
em sua 25a edição.
ENTIDADES DE UMBANDA
198 SEMANA 01

Pai Jamil Rachid mantém na União de Tendas de


Umbanda e Candomblé os cursos de Batizado, Ca-
samento e Funeral, aberto aos que venham a se inte-
ressar. É ministrado nos finais de semana para faci-
litar aos que vêm de longe para estudar e se preparar
para os rituais de Umbanda.
Muitos outros também ministram cursos de Umban-
da baseados em seus conhecimentos, a maioria das
Federações mantém cursos para seus filiados.

Apesar de a Umbanda ser uma religião aberta, mui-


tos umbandistas sofreram influências do ocultismo e
esoterismo europeu, que zela pelo segredo. Assim,
alguns segmentos preservam o conceito de ocultar os
ensinamentos. Há os que ocultaram o conhecimento
por pressão da sociedade, pela repressão e precon-
ceito que a Umbanda sofreu, assim como há muitos
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
199

que ocultaram sua identidade como umbandista bem


como toda e qualquer informação sobre a Umbanda.

Aos primeiros, podemos dizer que segredo só é se-


gredo quando apenas um o conhece, de outra forma é
notícia. Um exemplo disso está nos livros que foram
publicados sobre Umbanda ao longo dos tempos, in-
clusive de autores que beberam em fontes que não
tinham interesse em ser reveladas; mas logo aparece
um “espertinho”, absorve “o segredo alheio” e o pu-
blica, nem sempre citando a fonte de origem.
Ao segundo grupo, lembramos que não há motivos
para nos esconder ou esconder nossa religião, temos
que assumir “O orgulho de ser Umbandista”.
Há os tradicionalistas habituados ao “segredo” que
afirmam que “são muitos os chamados e poucos os
escolhidos”. Sendo assim, quanto menos Umban-
ENTIDADES DE UMBANDA
200 SEMANA 01

distas melhor, “sou um dos poucos”; quanto menos


umbandistas esclarecidos melhor, “sou um dos raros
a ter informação sobre a umbanda”.

Infelizmente, ainda hoje convivemos com os do ter-


ceiro grupo, que até ontem pregavam o “segredo”, e
hoje querem ensinar não sabem para quem, mas de
qualquer forma pregam que todos são iguais, mas só
eles têm a verdade, criticam tudo, todos e ainda se
dizem universalistas.
Como consequência da evolução, há uma grande
maioria sedenta de conhecimento, que entende que
“o saber é luz e a ignorância é trevas”.

Devemos estudar Umbanda. Estamos na era da in-


formação e a nova geração não aceita mais respostas
redundantes, a fuga ou o esconder-se atrás de frases,
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
201

“caras e bocas”. Não sabemos o que é pior: a sober-


ba ou a falsa modéstia. De qualquer forma, a soberba
atrai os soberbos e a falsa modéstia é algo que mais
dia, menos dia, cai por terra.
“Estudar é preciso” e é urgente em nossa religião,
tanto para popularizar o conhecimento quanto para
termos Umbandistas mais bem preparados para estes
novos tempos. Portanto, podemos e devemos prepa-
rar melhores médiuns, com cursos, sim!
Não temos como evitar que um médium que tenha
estudado e até se dedicado faça alguma besteira, pois
isto é humano, mas ainda assim aquele que estuda
tem menos chance de errar.
Há os que dizem que os cursos ou o conhecimento
podem interferir durante os trabalhos mediúnicos.
Estes não pararam para pensar que quem se permite
interferir com o conhecimento também se permitirá
ENTIDADES DE UMBANDA
202 SEMANA 01

interferir com a ignorância, portanto o risco de in-


terferir com novas informações é idêntico às interfe-
rências com velhas e distorcidas informações.

Nada justifica a ignorância com os fundamentos de


sua religião, nada justifica o não estudar, nada justi-
fica esta paralisia mental e até espiritual, pois espí-
ritos evoluem e estudam. Ou alguém pensa que ca-
boclo e preto velho nunca estudaram para fazerem o
que fazem e receitarem o que receitam?
Há quem acredite que é suficiente o conhecimento
dos Guias. O que é uma verdade parcial, pois mes-
mo que não se tenha nenhuma informação, através
da boa incorporação os guias realizam seu trabalho.
Mesmo no mais ignorante, um sábio pode se mani-
festar; desde que haja afinidades de objetivos, entre
eles, o de ajudar ao próximo. Neste caso temos a
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
203

Umbanda como um fenômeno que “eu não sei de


nada”. Porém, para tê-la como religião é preciso es-
tudar e muito.

No ano de 1995, mentores “de Umbanda” e “da Um-


banda” manifestaram ao médium Rubens Saraceni a
importância de ir ao encontro destas necessidades.
Rubens já vinha recebendo informações deles pela
psicografia há muitos anos, juntando dezenas e de-
zenas de livros que vinham sendo publicados. Ele
mesmo já tinha feito o curso de Sacerdócio na Fede-
ração Umbandista do Grande ABC com Pai Ronal-
do Linares e agora recebia a missão de popularizar
o conhecimento aberto e irrestrito a todos que qui-
sessem estudar sobre a Umbanda. Naquela época, os
mentores explicaram que Umbanda não tinha nada a
esconder. Era preciso multiplicar os ensinamentos e
ENTIDADES DE UMBANDA
204 SEMANA 01

o conhecimento; nada mais seria segredo: tudo seria


revelado, explicado e fundamentado.

Foi então que surgiu o curso de Teologia de Umban-


da Sagrada, o primeiro curso aberto desta forma e
com esta proposta. Doze anos depois, é fato o grande
número de umbandistas beneficiados por este curso.
Também foi por iniciativa do astral que Rubens abriu
o curso de Magia do Fogo, seguido de outras Magias
(hoje já foram abertas 14 Magias), Sacerdócio Um-
bandista e Desenvolvimento Mediúnico.

Em nosso cotidiano, quando queremos conhecer e


nos preparar para algo, nos dedicamos, estudamos,
lemos bons livros e procuramos cursos que nos ins-
truam. Para nos instruir procuramos quem melhor
possa fazê- lo. Algumas pessoas dedicam boa parte
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
205

das suas vidas a ensinar o que sabem, a nós, resta ir


ao encontro destas pessoas.

Que cada um de nós avalie o que é bom, mas que


avalie estudando, pois como avaliar o que não se co-
nhece? Muitos de nós nos perguntamos o que fazer
pela Umbanda além de nossos trabalhos no terreiro,
o que fazer pela Umbanda enquanto religião?

Primeiro devemos fazer por nós, enquanto umban-


distas. Devemos estudar e nos esclarecer para ser
formadores de opinião sobre nossa religião. Depois
devemos sim nos esforçar em esclarecer o que é Um-
banda e multiplicar as informações. Portanto, Estu-
dar Umbanda é um começo, um meio e um destino.

Cursos de Umbanda são essenciais. O estudo dentro


ENTIDADES DE UMBANDA
206 SEMANA 01

do terreiro é fundamental para a evolução da casa;


mas os estudos fora do terreiro são fundamentais
para a evolução e futuro da religião. Um estudo aber-
to, que fale dos fundamentos de forma simples e que
explique o trabalho que já fazemos. Não precisamos
mudar nosso trabalho mediúnico espiritual, apenas
entender melhor o que é a Religião de Umbanda,
entender melhor o que estamos fazendo aqui, qual o
nosso papel.

A grande reclamação dos umbandistas é que não ti-


nha estudo, esclarecimento e nem abertura de diá-
logo sobre suas práticas e fundamentos. Agora há.
Estudo nunca é demais.

“Estudem, Estudem, Estudem...


UMBANDA!”
QUANDO VOCÊ RESPONDE

SIM
SOU UMBANDISTA

DANIEL LOPES GUEDES


ENTIDADES DE UMBANDA
208 SEMANA 01

C
onheço muitos Umbandistas e quando são
questionados sobre qual é a sua crença a
maioria diz: “Sou espírita”, outros “Sou
católico” e poucos “Sou Umbandista”.

Aí vem o meu questionamento, por que não dizer


“Eu sou Umbandista”?

Eu procuro entender estas respostas variadas. Per-


gunte as pessoas de outras religiões qual é a sua cren-
ça? Você verá um orgulho no olhar e com a cabeça
erguida lhe dizer: “Sou evangélico”, “Sou católico”,
“Sou budista” etc.

Pensei, o que os Umbandistas não possuem que os


outros possuem e lhe impede de dizer exatamente
a sua crença? Com base nisso comecei a questio-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
209

nar estas pessoas e a maioria tem a mesma linha de


raciocínio, se eu falo que sou Umbandista não sou
bem visto pelos demais, ou então, um preconceito
baseado na falta de conhecimento que faz com que
as pessoas acabem se afastando de mim.

Então vamos lá:


• A Umbanda é uma religião, certo?
Certo.
• A Umbanda sendo uma religião então só pode fa-
zer o bem, certo?
Certo.
• Os Umbandistas que praticam a essência da Um-
banda, sempre, mas sempre, farão o bem ao próxi-
mo,
certo? Certo.
• Os cultos Afros (Umbanda e Candomblé, por exem-
ENTIDADES DE UMBANDA
210 SEMANA 01

plo) são protegidos pela Justiça, se existir a discri-


minação religiosa é considerada um crime, certo?
Certo.

Com base nos questionamentos e nas respostas aci-


ma não consigo entender o medo de declarar a vossa
crença, este medo de dizer claramente e com convic-
ção “Sou Umbandista”, estamos falando de uma Re-
ligião, somos amparados por uma doutrina de amar
a Deus acima de qualquer coisa, se estamos prote-
gidos pela Justiça no caso de existir uma discrimi-
nação Religiosa. Como todas as outras religiões, a
Umbanda só quer ajudar, direcionar e fazer o bem ao
próximo. Volto a questioná-los, por que não dizer:
“Sou Umbandista”?

Acho que já passou da hora dos Umbandistas apre-


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
211

sentarem as vossas “caras”, sabe meus irmãos de Fé,


desde o seu surgimento até os dias atuais, a Umban-
da vem sendo perseguida, aí vem a dúvida, mas a
culpa é apenas dos outros? Não é apenas dos outros,
é nossa também porque não estamos de mãos dadas,
unidos pra lutar pelo seu nome, seus fundamentos e
seus trabalhos.

Vamos nos unir e vamos dizer a verdade sobre qual


é a nossa crença, sem medo de nada, se você está
aqui pra ajudar e orientar as pessoas, então porque
se esconder atrás de outras religiões?

Tenha orgulho de dizer: “Sim, sou Umbandista”.


Médium, Danilo Lopes Guedes, do Núcleo de Umbanda
Casa da Vovó e do Vovô, 12/08/2009.
UMA CARTA
DE BEZERRA
DE MENEZES

ALEXANDRE CUMINO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
213

N
o ano de 2008, estreou o longa-metra-
gem “Bezerra de Menezes – O Diário
de um Espírito”, que teve grande audi-
ência nas salas de cinema de todo o país. Um dos
momentos tocantes do filme é quando o Dr. Bezerra
de Menezes responde a uma carta de seu amigo So-
ares, que o recrimina por haver abraçado a doutrina
espírita. Esta réplica tornou-se um livro, que recen-
temente foi publicado pela FEB, com o título “Uma
carta de Bezerra de Menezes”, do qual destacamos
alguns trechos que demonstram como o estudo e a
pesquisa da religião e história mundiais foram ins-
trumentos valiosos para que Bezerra de Menezes de-
fendesse sua crença na reencarnação:
BEZERRA DE MENEZES
E OS MISTÉRIOS
DA REENCARNAÇÃO
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
215

O
s Vedas, livro sagrado dos hindus, consig-
nam inúmeras manifestações, como esta:
“Eis-me, de novo, revestido de um cor-
po”.
O Bhagavad Gita, no Shastah e no Colégio de Manu,
manifesta-se positivamente. No Shastah se encon-
tram mil passagens como esta: “Eu tenho muitos re-
nascimentos; e tu também Arjuna”. “Como trocamos
por novos os vestidos usados, assim a alma deixa os
corpos gastos para vestir outros”.
O Budismo é, como sabe, um ramo do Bramanis-
mo, assente sobre a mesma base: a pluralidade de
existências, que se procura evitar pelo nirvana, ou
existências sem consciência.
...
Os gregos e romanos acreditavam nas vidas múlti-
plas.
Louis Ménard, falando da metempsicose, diz:
ENTIDADES DE UMBANDA
21 6 SEMANA 01

“Os mortos podem procurar novos destinos – e re-


encarnar, pelo Letes, no turbilhão da vida universal;
podem tornar à Terra, uns para repararem as faltas de
uma vida anterior e se purificarem por novas lutas,
outros, os redentores mortais, por conduzirem os po-
vos desencaminhados à prática das virtudes antigas.
Vê-se, por isso, que a crença no Hades dos gregos
e no Amentis dos egípcios não fazia desses lugares
senão estações temporárias, donde a alma imperfeita
volvia ao círculo das existências corpóreas, no seio
da Humanidade terrestre”.
...
Assim, pois, toda a teologia pagã da antiguidade pro-
fana, o que vale por dizer – todos os povos antigos
tinham a crença de que o espírito tomava múltiplas
encarnações.
...
Platão tentou firmar em provas a verdade das vidas
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
217

sucessivas e no Fédon desenvolveu largamente as


duas principais: uma, tirada da ordem geral da Natu-
reza, a outra, da consciência humana.
“A Natureza é governada pela lei dos contrários. E,
pois, visto que a noite sucede ao dia, é de rigor que
à morte suceda a vida. Além de que, se ex nihilo
nihil, os seres que vemos morrer não podem deixar
de voltar à vida, porque, ao contrário, tudo acabaria
absorvido na morte – e a natureza seria um dia o que
é o Endimião.
Passando à segunda prova, acrescenta: “Ali encon-
tramos o mesmo dogma atestado pela reminiscência.
Aprender é recordar. Ora, se nossa alma se recorda
de já ter vivido antes de descer ao corpo, como o pro-
vam as ideias inatas, porque não crer que, deixando
ela este corpo, possa vir animar muitos outros?”.
...
Plotino, no curso de suas Enéades, diz: “É dogma
ENTIDADES DE UMBANDA
218 SEMANA 01

de toda a Antiguidade e universalmente reconheci-


do que, se a alma comete faltas, é condenada a ex-
piá-las, sofrendo punições nos infernos tenebrosos,
sendo depois admitida a novos corpos, para recome-
çar suas provas”.

Porfírio, admitindo como fato provado a ideia de


Platão sobre a reminiscência, ensina que já existi-
mos numa vida anterior, que nela cometemos faltas
e que é para expiar essas faltas que somos novamen-
te revestidos de um corpo.
...
O dogma da pluralidade de existências foi o mais
oculto segredo dos Mistérios, transmitido, de idade
em idade, aos iniciados, que eram preparados por
longas provas para receberem essa verdade. Os Mis-
térios eram a representação simbólica dos destinos
humanos, cujos diversos graus se refletem na hierar-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
219

quia dos iniciados.


...
Dos Mistérios passemos aos Druidismo. É tão certo
que os druidas ensinavam o dogma das vidas suces-
sivas, como é certo que acreditavam na unidade de
Deus.

César, que não pode ser suspeito, porque acreditava


no nada depois da morte, diz:
“Uma crença que eles procuravam, principalmente,
firmar era a das almas não perecerem com o corpo,
passando a novos corpos depois da morte”.
...
Amieno Marcelino corrobora aqueles dizeres e Dio-
doro de Sicília fala nestes termos: “Eles fazem preva-
lecer a opinião de Pitágoras, que sustenta a imortali-
dade das almas e que elas vão animar outros corpos,
pelo que, quando queimam seus mortos, lançam à
ENTIDADES DE UMBANDA
220 SEMANA 01

fogueira cartas para seus parentes”.


...
Em Isaías, lê-se: Jeová diz: Eu não disputarei eter-
namente com o culpado e a minha cólera não dura-
rá sempre; porque os espíritos saíram de mim e Eu
criei as almas”.
No Gênesis, 2:7, lê-se também: “E o que foi – é – e
há de ser – fez para o homem um corpo grosseiro,
tirado dos elementos da terra, e uniu a esses órgãos
materiais a alma inteligente e livre, trazendo já con-
sigo o sopro divino: o espírito, que a segue em todas
as suas vidas...”
Só na preexistência se pode achar a razão do que
disse Jeremias: “Antes que fosse ele gerado no ven-
tre de sua mãe, eu já o tinha conhecido”.
E a melhor prova de que era geral a ideia da plurali-
dade de existências, entre os judeus, está no fato de
acreditarem que Jesus era um dos antigos profetas.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
221

...
Santo Agostinho, no livro I das Confissões, expri-
me-se assim: “Antes do tempo que passei no seio de
minha mãe, não terei estado em outra parte e sido
outra pessoa?”.

...
Mais completa prova de que Jesus admitia as reen-
carnações só esta: Nicodemos pediu-lhe explicações
sobre a vida futura e o Senhor respondeu: Em verda-
de, em verdade te digo: ninguém poderá ter o Reino
do Céu, sem renascer de novo.

Introdução de Alexandre Cumino, e citações retira-


das do livro “Uma Carta de Bezerra de Menezes”
- FEB.
O QUE A UMBANDA
TEM A OFERECER?

FERNANDO SEPE
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
223

H
oje em dia, quando falamos em religião,
os questionamentos são diversos. A prin-
cipal questão levantada refere-se à fun-
ção da mesma nesse início de milênio. Tentaremos
nesse texto, de forma panorâmica, levantar e propor
algumas reflexões a esse respeito, tendo como foco
do nosso estudo a Umbanda.

O que a religião e, mais especificamente, a religião


de Umbanda, pode oferecer a uma sociedade pós-
moderna como a nossa? Como ela pode contribuir
junto ao ser humano em sua busca por paz interior,
desenvolvimento pessoal e autorrealização? Quais
são suas contribuições ou posições nos aspectos so-
ciais, em relação aos grandes problemas, paradoxos
e dúvidas, que surgem na humanidade contemporâ-
nea? Existe uma ponte entre Umbanda e ciência (?)
ENTIDADES DE UMBANDA
224 SEMANA 01

– algo indispensável e extremamente útil, nos dias


de hoje, a estruturação de uma espiritualidade sadia.
O principal ponto de atuação de uma religião está
nos aspectos subjetivos do “eu”. Antigamente, a re-
ligião estava diretamente ligada à lei, aos controles
morais e definição de padrões étnicos de uma socie-
dade – vide os dez mandamentos e seu caráter legis-
lativo, por exemplo. Hoje, mais que um padrão de
comportamento, a religião deve procurar proporcio-
nar “ferramentas reflexivas” ou “direções” para as
questões existenciais que afligem o ser humano. Em
relação a isso, acreditamos ser riquíssimo o potencial
de contribuição do universo umbandista, mas, para
tanto, necessitamos que muitas questões, aspectos e
interfaces entre espiritualidade umbandista e outras
religiões e ciência sejam desenvolvidos, contribuin-
do de forma efetiva para que a religião concretize
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
225

um pensamento profundo e integral em relação ao


ser humano, assumindo de vez uma postura atual e
vanguardista dentro do pensamento religioso. Entre
essas questões, podemos citar:
- Um estudo aprofundado dos rituais umbandistas,
não apenas em seus aspectos “magísticos”, mas tam-
bém em seus sentidos culturais, psíquicos e sociais.
Como uma gira de Umbanda, através de seus ritos,
cantos e danças, envolve-se com o inconsciente das
pessoas? Como podem colaborar para trabalhar as-
pectos “primitivos” tão reprimidos em uma socie-
dade pós-moderna como a nossa? Como os ritos
ganham um significado coletivo, e quais são esses
significados? Grandes contribuições a sociologia e a
antropologia podem dar à Umbanda.
- Uma ponte entre as ciências da mente – como a
psicanálise, psicologia – e a mediunidade, utilizan-
ENTIDADES DE UMBANDA
226 SEMANA 01

do-se da última também como uma forma de explo-


rar e conhecer o inconsciente humano. Mais do que
isso, os aspectos psicoterápicos de uma gira de Um-
banda e suas manifestações tão mítico-arquetípicas.
Ou será que nunca perceberemos como uma gira de
“erê”, por exemplo, além do trabalho espiritual rea-
lizado, muitas vezes funciona como uma sessão de
psicoterapia em grupo?

- A mediunidade como prática de autoconhecimento


e porta para momentâneos estados alterados de cons-
ciência que contribuem para o vislumbre e o alcance
permanente de estágios de consciência superiores.
Além disso, por que não a prática meditativa dentro
da Umbanda (?) - prática essa tão difundida pelas re-
ligiões orientais e que pesquisas recentes dentro da
neurociência demonstram de forma inequívoca seus
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
227

benefícios em relação à saúde física, emocional e


mental.

- Uma proposta bem fundamentada de integração de


corpo-mente-espírito. Contribuição muito importan-
te tanto em relação ao bem-estar do indivíduo como
também dentro da medicina, visto que a OMS (Or-
ganização Mundial da Saúde) hoje admite que as
doenças tenham como causas uma série de fatores
dentro de um paradigma bio-psíquico-social cami-
nhando para uma visão ainda mais holística, uma vi-
são bio-psíquico-sócio- espiritual.

- O estudo comparativo entre religiões, com uma


proposta de tolerância e respeito às mais diversas
tradições. Por seu caráter sincrético, heterodoxo e
antifundamentalista, a Umbanda tem um exemplo
ENTIDADES DE UMBANDA
228 SEMANA 01

prático de paz às inúmeras questões de conflitos ét-


nico-religiosos que existem ao redor do mundo.

- A liberdade de pensamento e de vida que a Um-


banda dá as pessoas também deveria ser mais difun-
dida, visto que isso se adapta muito bem ao modelo
de espiritualidade que surge como tendência nesse
começo de século XXI. Parece-nos que a Umban-
da há muito tempo deixou de lado a velha ortodo-
xia religiosa de “um único pastor e único rebanho”,
para uma visão heterodoxa de se pensar espiritua-
lidade, onde ela assume diversas formas de acordo
com o estágio de desenvolvimento consciencial de
cada pessoa, o que vem ao encontro – por exemplo
– das ideias universalistas de Swami Vivekananda e
seu discurso de “uma Verdade/Religião própria para
cada pessoa na Terra”. E a Umbanda, assim como
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
229

muitas outras religiões, pode sim desenvolver essa


multiplicidade na unidade.

- O resgate do sagrado na natureza e o respeito ao


planeta como um grande organismo vivo. Na anti-
ga tradição yorubana tínhamos um Orixá chamado
Onilé, que representava a Terra planeta, a mãe Terra.

Mesmo que seu culto não tenha se preservado, tanto


nos candomblés atuais como na Umbanda, através
de seus outros “irmãos” Orixás, o culto à natureza é
preservado e, em uma época crítica em termos eco-
lógicos, a visão sagrada do planeta, dos mares, dos
rios, das matas, dos animais etc. ganha uma impor-
tância ideológica muito grande e dota a espirituali-
dade umbandista de uma consciência ecológica ne-
cessária.
ENTIDADES DE UMBANDA
230 SEMANA 01

- O desenvolvimento de uma mística dentro da Um-


banda, onde elementos pré-pessoais como os mitos
e o pensamento mágico-animista, possam ser tra-
balhados dentro da racionalidade, levando até mes-
mo ao desenvolvimento de aspectos transpessoais,
transracionais e trans-éticos dentro da religião. A
identificação do médium em transe com o Todo atra-
vés do Orixá, a trans-ética que deve reger os traba-
lhos magísticos de Umbanda, os insights e a lucidez
verdadeira que levam a mente para picos além da
razão e do alcance da linguagem, o fim da ilusão du-
alista para uma real compreensão monista através da
iluminação, são exemplos de aspectos transpessoais
que podem ser (e faltam ser) desenvolvidos dentro
da religião.

- Os aspectos culturais, afinal Orixá é cultura, as en-


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
231

tidades de Umbanda são cultura, o sincretismo um-


bandista é cultura. Umbanda é cultura e é triste per-
ceber o descaso, seja de pessoas não adeptas, como
de umbandistas, que simplesmente não compreen-
dem a importância cultural da Umbanda e da heran-
ça afro- indígena na construção de uma identidade
nacional. A arte em suas mais variadas expressões
tem na Umbanda um rico universo de inspiração.
Cabe a ela apoiar e desenvolver mais aspectos de
sua arte sacra.

Essas são, ao nosso entendimento, algumas das


“questões-desafios” que a Umbanda tem pela frente,
principalmente por ser uma religião nova, estabele-
cendo-se em um mundo extremamente multifaceta-
do como o nosso. Muito mais poderia e com certeza
deve ser discutido e desenvolvido dentro dela.
ENTIDADES DE UMBANDA
232 SEMANA 01

Apenas por essa introdução já se pode perceber a


complexidade da questão e como é impossível ter
uma resposta definitiva a respeito de tudo isso. Mui-
tos podem achar que o que aqui foi dito esteja muito
distante da realidade dos terreiros. Mas acreditamos
que a discussão é pertinente, principalmente devido
ao centenário, onde muito mais que festas devería-
mos aproveitar esse momento para uma maior apro-
ximação de ideais e pessoas, além de uma sólida es-
truturação do pensamento umbandista.
Esperamos em outros textos abordar de forma mais
profunda e propor algumas ideias a respeito das
questões e relações aqui levantas. Esperamos tam-
bém que outros umbandistas desenvolvam esses ou
outros aspectos que acharem relevantes e caminhe-
mos juntos em busca de uma espiritualidade sadia,
integral e lúcida.
UMBANDA E OS
QUATRO CAMINHOS
PARA DEUS

FERNANDO SEPE
ENTIDADES DE UMBANDA
234 SEMANA 01

P
odemos dizer, inspirados pela doutrina hin-
du, que quatro são os caminhos que levam
a Deus: o conhecimento, o amor, a ação e o
exercício espiritual. Creio que esse tipo de conside-
ração é de extrema importância e possa ser utilizado
como base para pensarmos o caminho umbandista.
Mas, primeiramente, apresentemos resumidamente
esses quatro caminhos:

• O CAMINHO DO CONHECIMENTO (jnana) é


o caminho do filósofo místico. Através do discerni-
mento espiritual o Ser rompe a ilusão da identifica-
ção com o eu ilusório (ego) e identifica-se com sua
natureza infinita, vasta e verdadeira. O Deus pessoal
se torna impessoal e o praticante se reconhece Nele.
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
235

• O CAMINHO DO AMOR (bhakti) é devocional.


Devota-se a uma divindade pessoal, com tanto amor,
que se perde o ego nessa imensa louvação. Ama-se
Deus acima de tudo e todos os nossos outros amores
são frutos desse amor primordial. Aqui, Deus é pes-
soal e o praticante não tem a intenção de se fundir
nele, mas sim de viver nesse amor, o que é tradi-
cionalmente representado da seguinte forma: “quero
sentir o doce do açúcar, não ser o açúcar”.

• O CAMINHO DA AÇÃO (karma) é aquele onde


o ser atua no mundo, trabalha e realiza, mas desa-
pega-se do fruto de seu trabalho. Basicamente, essa
prática “mata o ego de fome”, utilizando-o para vi-
ver bem colocado no mundo, mas recusando todo
fruto e benefício pessoal adquirido. É o caminho da
caridade.
ENTIDADES DE UMBANDA
236 SEMANA 01

• O último CAMINHO É O DO EXERCÍCIO ESPI-


RITUAL (raja), do empirismo místico. Nele, prati-
cam-se exercícios espirituais tendo o objetivo de ir
além da mente racional e do nosso eu pessoal, co-
nhecendo, integrando e vivendo nosso eu transpes-
soal ou divino. O exercício espiritual pode ser bem
exemplificado com a prática da yoga, o zazen, a pre-
ce contemplativa do cristianismo, a dança dervixe
sufi etc. Esse caminho trespassa pelos outros três.

Bom, mas o que isso tem a ver com Umbanda? Tudo!


Vejamos a palavra de seu fundador, o senhor cabo-
clo das Sete Encruzilhadas: “Umbanda é amor e ca-
ridade”. Ora, o que aqui ele nos diz claramente é: a
Umbanda é uma religião baseada em uma síntese do
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
237

caminho da devoção (amor) com o caminho da ca-


ridade (ação). Simples, muito simples. Mas, apesar
dessas palavras serem muito conhecidas dentro da
Umbanda, poucos realmente entendem com profun-
didade o que elas representam. Tentarei ser o mais
claro possível a esse respeito.

Peguemos os grandes representantes da Umbanda,


seus verdadeiros mestres. Falo, claro, dos caboclos
e pretos-velhos. Toda prática espiritual deles é base-
ada nesses dois princípios: amor (devoção) e cari-
dade (ação). Devoção ao Orixá a quem respondem,
ao ponto de não trabalharem nunca com seus nomes
pessoais (símbolo do ego), mas sim, com nomes sim-
bólicos, pois se sentem e atuam unidos pelo amor do
Orixá. Um guia dentro da Umbanda realiza o traba-
ENTIDADES DE UMBANDA
238 SEMANA 01

lho pelo Orixá, com a consciência do Orixá, no axé


do Orixá. É um devoto como os médiuns também
são.

Caridade, ou ação, é a palavra de ordem e por isso


dizemos que o guia vem trabalhar. E nesse trabalho
eles não recebem nada em troca, ou talvez até re-
cebam, mas isso pouco ou nada importa. E quando
os agradecemos, as palavras normalmente escutadas
são: “agradece a Deus, filho; nêgo apenas cumpre
sua obrigação”; ou ainda um simples sorriso sereno.

O que eu gostaria de chamar atenção é para o fato de


que se os guias espirituais são mestres ou caminhan-
tes espirituais, a maioria dos médiuns não o são!
Simplesmente, temos um déficit muito grande do en-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
239

tendimento real que se deve ter ao se dedicar à dis-


ciplina umbandista. Em última análise, a Umbanda
deveria ser um caminho para que seus praticantes se
tornassem como os caboclos e pretos-velhos. Sim,
a Umbanda é uma religião de transformação e essa
transformação deve ser calcada no exemplo deles.
Só então o caminho se abre para o médium, para que
ele realmente entenda os fundamentos, princípios e
objetivos mais importantes de sua prática. Vejamos:

• A caridade do trabalho mediúnico deve ser utili-


zada para “matar o ego de fome”. De grande auxílio
é a indiferença ou a ingratidão daquelas pessoas as
quais seus guias tanto ajudaram. Elas te ensinam a
única coisa importante desse caminho: Trabalhar e
agir, simplesmente. Sem a prensa da eficiência, sem
ENTIDADES DE UMBANDA
240 SEMANA 01

o apego aos frutos. Os frutos são sempre dos Orixás.


• Agir não apenas no terreiro, mas no mundo. Ética e
moralidade são pressupostos básicos dentro de qual-
quer religião. Desapego também. Caridade é agir
desinteressadamente no terreiro, na empresa onde
você trabalha ou em qualquer lugar do mundo. É um
estado de ser. Leve isso para onde você for. Não se
esqueça: um caboclo ou preto-velho se comporta da
mesma forma em seu terreiro, em sua casa, ou no
terreiro do amigo, pois essa é a natureza dele, seu
estado de espírito constante.

• “O caminho da magia é como andar sobre uma na-


valha”. O velho axioma hermético alerta-nos sobre
o perigo do ego. A magia não é um fim, apenas um
meio. Além disso, o que o ego pode fazer por si? A
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
241

prática magística verdadeira derivaria de um estado


de consciência maior, onde o Todo-Orixá age, não
o eu relativo. Na Umbanda, a magia deve ter como
mestre e condutora a noção de ação desapegada, ou
não ação.

• Deve-se aprender a amar e louvar os Orixás de co-


ração. A dor, as perdas e dificuldades podem ajudar a
despertar esse amor. Porém, não faça do Orixá uma
entidade superior com a qual você barganha favores
e pedidos. Essa é apenas a fase inicial. Quando o
amor verdadeiro surgir, o Orixá transforma-se em
seu amante, em seu irmão, em seu melhor amigo,
ou seu pai/mãe infinitamente bondoso. O médium
em seus cantos, giras, firmezas, trabalhos e manifes-
tações deve aprender a sentir a unidade no amor do
ENTIDADES DE UMBANDA
242 SEMANA 01

Orixá. Sua natureza infinita, vasta, original. Orixá


é Deus manifestado. Mergulhe, experimente, dance
junto Deles. Quando isso acontece o médium final-
mente entende o que é o Orixá.

• Leve o bem amado por onde for. Não apenas no


terreiro, pois se apaixonar pelos Orixás é se apai-
xonar pela Vida. Viva Neles, por Eles e com Eles.
Perca-se e se ache Neles. Chore e sorria com Eles.
Durma, acorde e se alimente Deles. Esse é o ideal
de devoção. Um amor sutil como os lírios de Oxum,
mas forte e determinado como os olhos de Ogum.

• DOIS ALERTAS: Cuidado com o fanatismo e


principalmente com o erro de confundir a realida-
de infinita com seus símbolos. Os rituais, oferendas,
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
243

imagens etc. não são fins últimos. Eles são apenas


trampolins para a realidade que não é tangível. Po-
tencializadores do axé, mas não o próprio axé. Como
diz a conhecida oração:

“Deus, perdoa três pecados que se devem às minhas


limitações humanas; Tu estás em toda parte, mas eu
Te adoro aqui neste templo; Tu não tens forma, mas
eu Te adoro nestas formas; Tu não precisas de lou-
vor, mas eu te ofereço estas preces e louvores. Se-
nhor, perdoa três pecados que se devem às minhas
limitações humanas”.

Creio que essa rápida e superficial introdução ao as-


sunto já dá aos umbandistas uma ideia do compro-
metimento real que a Umbanda espera de seu prati-
ENTIDADES DE UMBANDA
244 SEMANA 01

cante. Literalmente, ela funciona como uma escola


que tem como objetivo fazer com que os médiuns
alcancem as qualidades morais e éticas dos cabo-
clos e pretos-velhos, assim como sua lucidez e ilu-
minação espiritual. Com isso, a compaixão surge e
o caminho deixa de ser um fim, para ser o começo
do trabalho incansável de auxílio a todos os seres
sencientes desse ou de outros mundos e planos de
manifestação.

Porém, para tanto, deve-se refletir e praticar aqui-


lo que é o objetivo da Umbanda - amor e caridade
- ou: união mística amorosa com Deus através de
suas manifestações Orixás e trabalho desapegado. É
assim que um caboclo ou preto-velho nasce. É por
isso que um caboclo e preto-velho vive...
EU SOU
UMBANDISTA!

MONICA BEREZUTCHI
ENTIDADES DE UMBANDA
246 SEMANA 01

A
doutrina nos desperta a capacidade e a
compreensão e nos traz ensinamentos que
nos toca profundamente modificando nos-
so íntimo. São regras, condutas e explicações que
são facilitadoras de nossas práticas rituais e litúrgi-
cas aplicadas no nosso dia a dia umbandista.
Mas, com um profundo pesar muitos irmãos ainda
não conseguiram assumir sua escolha religiosa de
ser umbandista.

Por que será?


Será que é porque não compreenderam que a reli-
gião de Umbanda não é inferior a nenhuma outra
religião existente no nosso país?
Vamos expressar algumas atitudes não umbandistas:
- Têm vergonha de aplicar a defumação em sua casa,
preocupada com o cheiro que os vizinhos irão sen-
tir...
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
247

- Não sai de casa com sua guia de proteção no pes-


coço...
- Não veste sua roupa branca em casa e não sai ves-
tido de branco, para não pensarem que ele vai traba-
lhar no templo de Umbanda...
- Lava e estende sua roupa branca de noite ou es-
tende em varais dentro de casa para não surgirem
comentários...
- Quando surge o assunto de religião em seu traba-
lho, ele desconversa...
- Monta seu congá escondido para que amigos e pa-
rentes não vejam...
- Acende suas velas bem à noite para ninguém per-
ceber nem o clarão que sai das chamas das velas...
- Sua vela do anjo da guarda, quando acende, fica
bem lá em cima do armário bem escondida...
- Nos dias de preceito que não pode comer carne e
nem ingerir bebida alcoólica, quem trabalha fora dá
ENTIDADES DE UMBANDA
248 SEMANA 01

um jeito de almoçar sozinho só para não ter que ex-


plicar para as pessoas...
- No espelho do carro só coloca um tercinho para
disfarçar, e a guia de proteção fica escondida no por-
ta-
luvas...
- Adesivo de Umbanda no carro... não nem pensar...
- Se o guia que trabalhou em seu favor pedir para
despachar uma vela na encruzilhada, finge que es-
quece
no carro só para a vela derreter e depois joga fora.
- No momento que precisa realizar qualquer tipo de
oferenda, anda de carro dando voltas e só para em
um lugar onde ninguém está passando...
- E no momento da oferenda ou da entrega, pega tudo
muito rápido e JOGA literalmente alegando que
tem medo de assalto...
- Quando questionado sobre sua religião, disfarça e
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
249

não esclarece as pessoas quanto suas dúvidas e


perguntas...
- Se alguém lhe pergunta o que você faz no templo,
como é, o que acontece lá, você fica branco e dá
branco, não sabe nem por onde começar, simples-
mente dá um sorriso amarelo e consegue dizer: “lá,
bem, é um lugar que pratica a caridade”...
- Não sabe nem a diferença de Umbanda, Candom-
blé, Espírita, Kardecista...
- Quando for casar, casa-se na Igreja Católica, ou
pior, casa-se no templo e na Igreja...
- Batiza seu filho na igreja e depois pede para um
guia ser o padrinho da criança...
- Chama o padre no funeral de seus parentes...
- Encapa seus livros de Umbanda com um papel,
para encobrir o título...
- Entra bem depressa na casa de artigos religiosos,
disfarçando...
ENTIDADES DE UMBANDA
250 SEMANA 01

- E quando faz suas compras, pede para embrulhar


para ninguém perceber o que tem na sacola...

Vamos parar por aqui, porque infelizmente esta lista


não tem fim...
Para que estes absurdos não aconteçam mais, preci-
samos com urgência reformular nossa consciência
religiosa, o primeiro e o mais importante é: Assumir
que é um UMBANDISTA!
E o caminho mais coerente e mais verdadeiro que
existe é o estudo, aprimorando o conhecimento, prá-
tica da leitura e participando de cursos ministrados
por pessoas sérias e que realmente repassem o co-
nhecimento, desmistificando e quebrando dogmas
e principalmente mudando nossa postura perante a
religião de Umbanda Sagrada.

Na sociedade, ou seja, no meio em que vivemos es-


ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
251

tamos fechados no ostracismo, vamos com empenho


e dedicação quebrar estas cascas e mostrarmos para
o mundo em que vivemos que a nossa Umbanda é
uma Religião e que está sendo amparada pelos Sa-
grados e Divinos Orixás.
Cada umbandista é individualmente o seu templo
vivo. Já lhe ocorreu que com essas atitudes precon-
ceituosas que você está tendo, tudo está sendo vis-
to pelo astral, pelos seus Pais e Mães Orixás, pe-
los guias espirituais, caboclos, preto-velho, baiano,
boiadeiro, marinheiro, ciganos, crianças, exu, pom-
ba-gira e exu-mirim?

Irmão, pense bem, você está renegando o seu pró-


prio dom mediúnico.
Não tenha receio de mudar, de assumir, crescer, ins-
truir-se, modificando e melhorando em seu próprio
benefício perante o Criador, saiba que todas as reli-
ENTIDADES DE UMBANDA
252 SEMANA 01

giões são criações que o nosso Pai Olorum nos per-


mitiu, para que cada um cultue sua religiosidade da
melhor maneira.

Levante sua cabeça, tenha satisfação de encher seu


peito de amor e dizer:
EU SOU UMBANDISTA!
Nós temos o direito garantido pela Constituição de
cultuar, através de suas práticas ritual e litúrgica,
livremente sem preconceitos sem descriminação,
não tenha medo de perseguição religiosa, é seu di-
reito escolher a Umbanda como sua religião.

Vamos mudar agora, esse é o seu momento!


Nossa religião possui seus próprios fundamentos,
ela tem base e sua Hierarquia está em Olorum, abai-
xo dele estão suas Divindades Naturais, que através
de fatores (essências) vêm sustentando tudo em sua
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
253

criação. Os Sagrados Orixás são os administradores


da criação, criados e geradas pelo Pai Olorum, ex-
teriorizados para que tudo seja alcançado por suas
vibrações multidimensionais, sustentando a tudo e a
todos sem distinção; e cada Orixá traz uma qualida-
de, atributo e atribuição únicos e essenciais que vão
se desdobrando em hierarquias, agregando outros
fatores até chegarmos ao Orixá individual que você
incorpora, e este Orixá cuidará da sua vida aqui no
seu estágio humano de evolução. Através desta hie-
rarquia que vem se desdobrando como um triângulo
onde lá no topo está Olorum, e que os guias espi-
rituais estão ligados a estas hierarquias reportando-
-se direta e indiretamente a um ou mais Orixás, e
os guias de lei de Umbanda consagram-se a essas
hierarquias para assumirem seus nomes simbólicos,
enfim isto é só um exemplo para que você tenha uma
noção de como a nossa Umbanda é vasta em conhe-
ENTIDADES DE UMBANDA
254 SEMANA 01

cimento que estamos só no começo...

Agora voltando ao assunto, se você tem dúvidas em


relação a alguma dessas práticas litúrgicas descri-
tas abaixo e não sabe para que servem, e nem sabe
explicar para um leigo o que elas são, é natural que
você se sinta constrangido, pois é difícil falarmos
de algo que não conhecemos, procure seu dirigente
espiritual para que ele lhe esclareça suas dúvidas e
que lhe dê o que é seu de direito, sua religiosidade,
mas se ele desconversar e ainda assim censurá-lo
não lhe respondendo, então irmão você tem o direito
de procurar o conhecimento em outro lugar, leia um
bom livro, faça um bom curso e busque a evolução
espiritual, pois só assim você poderá levar o conhe-
cimento da Umbanda para outras pessoas.

• defumação,
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
255

• cantos, hinos e orações, -oferenda ritual, vesti-


menta (roupa branca), -atabaques,
• danças,
• banhos,
• amacis,
• bater cabeça,
• saudar o Congá,
• saudar a tronqueira,
• velas e suas cores,
• palmas,
• pés descalços.

Abra seu coração e seu íntimo, e inunde seu templo


vivo com sabedoria da nossa Umbanda Sagrada. Um
abraço Monica Berezutchi.
DO QUE A
UMBANDA PRECISA?

RODRIGO QUEIROZ
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
257

D
ia destes, ao final de uma gira de desen-
volvimento mediúnico, manifestou-se Pai
João de Angola, o Preto Velho regente da
casa.
Como de costume, acendeu seu cachimbo, cumpri-
mentou os presentes e chamou todos para bem perto
dele, e após se acomodarem ele pediu que todos res-
pondessem uma pergunta simples:

“– Do que a Umbanda precisa?”


E assim um a um foram respondendo:
“- Mais união...”
“– Mais estudo...”
“– Mais divulgação...”
“– Mais respeito...”
“– Mais reconhecimento...”
Mais, mais e mais...
Após todos manifestarem suas opiniões, Pai João
sorriu e disparou:
ENTIDADES DE UMBANDA
258 SEMANA 01

“– Muito se diz do que a Umbanda precisa, não é? E


eu digo que a Umbanda precisa de Filhos!”
Silêncio repentino no ambiente.
Naturalmente os filhos ficaram surpresos e ansiosos
para a conclusão desta afirmação.
Pai João pitou, pensou, pitou, sorriu e continuou:
“É isso, a Umbanda precisa sobretudo de FILHOS.

Porque um filho jamais nega sua mãe, sua origem,


sua natureza. Quando alguém questiona vocês sobre
o nome de sua mãe, vocês procuram dar um outro
nome a ela que não seja o verdadeiro? Um filho nem
pensa nisso, simplesmente revela a verdade. Assim
é um verdadeiro Filho de Umbanda, não nega sua
religião, nem conseguiria, pois seria o mesmo que
negar a origem de sua vida, seria o mesmo que negar
o nome de sua mãe.
Um filho de Umbanda, dentro do terreiro limpa o
chão com devoção e não como uma chata necessi-
ENTIDADES DE UMBANDA
SEMANA 01
259

dade de faxinar.
Um filho de Umbanda dá o melhor de si para e pelo
terreiro, pois sente que ali, no terreiro, ele está na
casa de sua mãe.
Um filho de Umbanda ama e respeita seus irmãos de
fé, pois são filhos da mesma mãe e sabem que por
honra e respeito a ela é que precisam se amar, se res-
peitar e se fortalecer.
Um filho de Umbanda sente naturalmente que o ter-
reiro é a casa de sua mãe, onde ele encontra sua fa-
mília e por isso quando não está no terreiro sente-se
ansioso para retornar, e sempre que lá está é um mo-
mento de alegria e prazer.
Um filho de Umbanda não precisa aprender o que é
gratidão. Porque sua entrega verdadeira no convívio
com sua mãe, a Umbanda, já lhe ensina por obser-
vação o que é humildade, cidadania, família, carida-
de e todas as virtudes básicas que um filho educado
carrega consigo.
ENTIDADES DE UMBANDA
260 SEMANA 01

Um filho de Umbanda não espera ser escalado ou


designado por uma ordem superior para fazer e cola-
borar com o terreiro, ele por si só observa as neces-
sidades e se voluntaria, pois lhe é muito satisfatório
agradar sua mãe, a Umbanda.
Um filho de Umbanda sabe o que é ser Filho e sabe
o que é ter uma Mãe.
Quando a Umbanda agregar em seu interior mais
Filhos que qualquer outra coisa, estas necessidades
que vocês tanto apontam como união, respeito, edu-
cação, ética, enfim, não existirão, pois isto só existe
naqueles que não são Filhos de fato.
Tenham uma boa noite, meus filhos!”

Pai João pitou mais uma vez e desincorporou.

Diante dele, seus filhos, com olhos marejados, rosto


rubro, agradeciam a lição. Saravá a Umbanda, salve
a sabedoria, salve os Pretos Velhos.

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