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Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 213

INEFICIÊNCIA DA POLÍTICA CRIMINAL


DE DROGAS DO BRASIL: EFEITOS DO
PROIBICIONISMO NO SISTEMA PENAL E
NO MEIO SOCIAL1
INEFFICIENCY OF THE CRIMINAL DRUG POLICY IN BRAZIL: EFFECTS OF
PROHIBITIONISM ON THE PENAL SYSTEM AND IN THE SOCIAL ENVIRONMENT

Isabella Parzewski Henrique SILVA2

André Luis Jardini BARBOSA3

RESUMO
O presente estudo tem por objetivo demonstrar o impacto do modelo punitivista atual brasileiro no que
diz respeito às drogas, eminentemente fundamentado no proibicionismo e os seus erros e acertos e a
possibilidade de que venha a ser aperfeiçoado, desde que adotado novo paradigma de prevenção e
punição, que não mais se mostrem meramente estigmatizantes e seletivos. Aponta-se, como forma de
redução dessas características o modelo adotado por Portugal, que se mostra apegado à tutela da
dignidade humana e satisfativa da questão.
Palavras-chave: Direito Penal. Guerra às Drogas. Lei de Drogas. Cárcere. Estigmatização social.

1 O presente artigo sintetiza a monografia de conclusão da pesquisa, realizada para o


Programa Interno de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC 2020-2021) da Faculdade de
Direito de Franca (FDF), Franca/SP.
2 Discente da Faculdade de Direito de Franca (FDF), Franca/SP. Bolsista do Programa

Interno de Bolsas de Iniciação Científica (PIBIC 2020-2021).


3 Graduado em Direito pela Faculdade de Direito de Franca (2000), possui os Títulos de

Especialista em Direito Processual Penal pela Escola Paulista da Magistratura, de Mestre


em Direito pela Universidade Estadual Paulista - UNESP - campus Franca (2008) e de
Doutor em Direito pela Faculdade Autônoma de Direito/FADISP. Exerce o cargo de
Delegado de Polícia do Estado de São Paulo. Tem experiência na área de Direito, com
ênfase nas áreas de Direito Penal, Direito Processual Penal, Legislação Penal Especial,
Direito Constitucional, Direito Administrativo e Medicina Legal. É Professor das cadeiras
de Investigação Policial e Inquérito Policial da Academia de Polícia Doutor Coriolano
Nogueira Cobra.
214 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

ABSTRACT
The present study aims to demonstrate the impact of the current Brazilian punitive model with regard
to drugs, eminently based on prohibitionism and its mistakes and successes, and the possibility that it
will be improved, provided that a new prevention and punishment paradigm is adopted, that they no
longer prove to be merely stigmatizing and selective. As a form of reduction, it is pointed out the
characteristics of the model adopted by Portugal, which shows itself attached to the protection of
human dignity and satisfaction of the issue.
Keywords: Criminal Law. War on Drugs. Drug Law. Prison. Social stigmatization.

1 INTRODUÇÃO

Para tangenciar a problemática das drogas o Brasil passa a adotar,


a partir do final do século XX, o Modelo Proibicionista, que intenta tutelar
a complexa problemática sob a ótica do Direito Penal, cm nítido caráter de
Guerra às Drogas. Com isso, constrói-se uma legislação de caráter
repressivo severo e criminalizam-se as condutas que tangenciam as drogas
no meio social, sob a justificativa de proteção ao bem jurídico da saúde
pública. Contudo, segundo apontam especialistas, a referida política
criminal provoca mazelas de uma verdadeira guerra velada contra parcelas
já vulneráveis da população.
Portanto, o presente artigo tem por questão central demonstrar as
bases de construção do Modelo Proibicionista, a contribuição da política
criminal de drogas para a estigmatização social e seu impacto negativo
significativo sobre o sistema penal. Bem como, apontar o modelo
alternativo português.
Para tanto, o texto se desenvolverá em quatro partes, nas quais,
inicialmente, intentar-se-á demonstrar os aspectos históricos que
originaram a política atual de combate às drogas, bem como os recortes
sociais, culturais, econômicos e morais inerentes aos fatos históricos. Após
tal explanação, tratar-se-á do estigma social das condenações criminais,
dos conceitos de seletividade penal, superlotação carcerária e
superencarceramento, correlacionados à política proibicionista. Por
derradeiro, far-se-á análise da Jurisprudência do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, bem como apresentar-se-á a política de drogas
portuguesa enquanto alternativa para a tutela dos entorpecentes no Brasil.
Por meio do método dedutivo bibliográfico serão realizados
estudos sobre os diversos aspectos envoltos na construção do Modelo
Proibicionista, análise da legislação criminal que tangencia as drogas no
Estado brasileiro, bem como levantamento de dados estatísticos e diversos
apontamentos doutrinários, além de análise da legislação portuguesa.
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Nas considerações finais, restará demonstrado que o Modelo


Proibicionista se delineia segundo interesses econômicos, sociais, morais e
políticos, mas não médico-científicos. Ademais, será elucidado também o
relevante impacto negativo da política criminal de drogas para a
estigmatização social e para o sistema penal brasileiro. Bem como,
apontados os avanços obtidos por políticas alternativas que não intentam
tutelar as mazelas das drogas através da criminalização.

2 CONTORNOS HISTÓRICOS, CULTURAIS E SOCIAIS


DAS DROGAS E DO MODELO PROIBICIONISTA

O termo droga tem origem na palavra droog, proveniente do


holandês antigo, cujo significado é folha seca. Esta denominação deve-se
ao fato de que, antigamente, quase todos os medicamentos tinham vegetais
em sua composição4.
Já segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), tem-se
como droga toda substância que por sua natureza química tem a
propriedade de afetar a estrutura do organismo e produzir alterações em
seu funcionamento5.
No que tange o recorte histórico das substâncias psicoativas, é
importante ressaltar que as drogas atualmente consideradas ilícitas já eram
consumidas no passado. No entanto, passam a ser objeto de controle penal
somente nas primeiras décadas do século XX, sob a forte influência do
processo de colonização eivado da moral cristã.

A proscrição das “plantas sagradas” passou a fazer parte da


imposição da cultura do descobridor-colonizador, e da
afirmação do catolicismo como religião oficial, por meio da
“catequese” dos índios, habitantes nativos das terras
americanas. Esse aspecto da religiosidade deve ser
necessariamente incluído como um dos elementos básicos
para se compreender as origens da proibição das drogas no
mundo moderno, especialmente porque que um dos pilares
da política proibicionista veio da influência do
protestantismo norteamericano, e de seu ideal religioso de

4 BRASIL. Polícia Civil do Paraná (Departamento Estadual de Narcóticos). Drogas. [S.l.],


[s.d.]. Disponível em: https://www.policiacivil.pr.gov.br/DENARC#. Acesso em: 16 set.
2021.
5 Ibid.
216 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

abstinência, pregado pelas proeminentes figuras de


formação religiosa que atuaram como influentes arquitetos
do proibicionismo6.

Assim, nota-se que a moralidade cristã constitui um dos pilares


do Modelo, mas, o valor econômico dessas substâncias atrai o interesse das
economias das grandes potências.
De mais a mais, dentro do cenário histórico a Guerra do Ópio,
entre o Reino Unido e a China, no século XIX, alcança grande notoriedade
na história do controle internacional de drogas. E em análise a esse conflito,
nota-se que no cenário Chinês, o tradicional consumo do ópio cresce muito
e os Britânicos passam a explorar essa realidade e obter lucro significativo.
No entanto, o Império chinês, em 1729, proíbe o uso não medicinal da
substância na extensão de todo o território e trava guerra com a Coroa
Inglesa, que não quer renunciar ao lucro obtido com esse comércio.
E quanto à proibição do uso, esclarece-se que esta não se dá por
motivos voltados à preocupação com a população, mas por razões
autoritárias do Império, que não obtém sucesso econômico ao negociar
com os países ocidentais7.
Desse modo, nota-se que desde o primeiro conflito envolvendo a
proibição ou legalização das substâncias psicoativas, têm-se os interesses
econômicos como determinantes dessas perspectivas.
Ainda, após quarenta anos dos conflitos entre os Impérios chinês
e inglês, o controle sobre as drogas volta a ocupar as discussões entre as
potências mundiais. E na Conferência de Xangai, reunida para discussão
sobre a produção e comercialização do Ópio, obtém destaque a imposição
do Modelo Proibicionista estadunidense, que motiva também os governos
das potências a se reunirem para tratar sobre o controle das substâncias
psicoativas.

6 RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:


o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
7 TORCATO, Carlos Eduardo Martins. A história das drogas e sua proibição no Brasil:

da colônia à República. Orientador: Henrique Soares Carneiro. 2016. 371 f. Tese


(Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-05102016-
165617/publico/2016_CarlosEduardoMartinsTorcato_VCorr.pdf. Acesso em: 16 set. 2021.
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E sobre a postura norte-americana explica-se:

Até o início do século XX, podia-se comprar livremente


cocaína e derivados do ópio em qualquer farmácia dos
EUA, para uso medicinal ou não; no entanto, em meados do
século XIX houve uma dramática mudança de atitude dos
americanos com relação às drogas, ocorrendo uma forte
alteração de atitude institucional, influenciada por um
movimento proibicionista com fortes raízes puritanas, que
pregava o combate e a proibição de vícios em geral, dentre
eles o consumo de álcool8.

Desse modo, percebe-se que o intento estadunidense em lançar


bases fortes ao Proibicionismo alia-se aos fatores morais e culturais
fortemente influenciados pelo puritanismo crescente, que prega o combate
e a proibição de qualquer vício. E esse movimento une vários setores
sociais, como os clérigos, missionários, burguesia, proletariado e classes
terapêuticas oficiais9.
Ademais, existem fatores econômicos e jurídicos também
envolvidos, sobre os quais, comenta-se:

Para a compreensão da mudança da mentalidade dos


americanos sobre drogas, um fator jurídico deve ser ainda
acrescentado que a Constituição Norte-Americana atribuía
aos estados federados a responsabilidade de legislar sobre
questões de saúde, regulamentação da profissão médica e
autorização para comercialização de produtos
farmacológicos, estando ausente, até então, qualquer
controle central ou federal. Como cada estado tinha uma
regulação própria sobre o assunto, na prática havia uma
absoluta falta de controle, o que levou potentes e perigosas

8 RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:


o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
9 TORCATO, Carlos Eduardo Martins. A história das drogas e sua proibição no Brasil:

da colônia à República. Orientador: Henrique Soares Carneiro. 2016. 371 f. Tese


(Doutorado em História) – Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas,
Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016. Disponível em:
https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/8/8138/tde-05102016-
165617/publico/2016_CarlosEduardoMartinsTorcato_VCorr.pdf. Acesso em: 16 set. 2021.
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formas novas de ópio e cocaína a estarem disponíveis ao


consumidor norte-americano10.

Segundo infere-se do supracitado, a Constituição norte-


americana confere aos estados federados a responsabilidade de formular
suas próprias legislações sobre a regulamentação das questões de medicina
e fármacos. No entanto, isso leva à completa ausência de uma forma central
de controle e afastamento pleno de qualquer vigilância sobre as drogas
mais novas e agressivas, que alcançam ampla disponibilidade frente aos
cidadãos estadunidenses.
Une-se a esses fatores o claro interesse econômico dos EUA:

As bases da primeira lei que proibiu o uso de drogas nos


EUA estão diretamente ligadas não só à crescente
preocupação dos norte-americanos, mas também tiveram
um motivo adicional: a proibição, em 1905, do uso não-
médico do ópio nas Filipinas, um protetorado norte-
americano na Ásia. Foi a partir daí que os EUA lançaram
uma campanha mundial para o controle internacional sobre
os narcóticos, com várias motivações declaradas: a
conciliação com a China, visando a incrementar as relações
comerciais com aquele país; e a suposição (ainda atual) de
que o controle da produção e do tráfico nos países
produtores poderia bloquear o consumo de drogas em
território americano11.

Portanto, resta claro também seu intento econômico, motivado


pela proibição do uso não medicinal do ópio nas Filipinas, região que
contava com a proteção dos Estados Unidos. Assim, a referida nação passa
a fomentar uma política internacional de combate às drogas, que não só
possibilita o desenvolvimento de seu relacionamento com a China, mas
também honra o sentimento puritano crescente em sua população de guerra
às drogas, que figuram no meio social como inimigas dos bons cidadãos.
Quanto ao desenvolvimento da política de controle em questão
demonstra-se que seu ápice foi atingido com a Convenção das Nações

10 RODRIGUES, op. cit., nota 5.


11RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:
o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
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Unidas (ONU) contra o Tráfico Ilícito de Entorpecentes e Substâncias


Psicotrópicas de 1988, ainda vigente no Brasil. E sobre tal cumpre acrescer:

Esse instrumento internacional, para seus comentaristas,


teria assegurado a coesão da resposta internacional contra o
tráfico de drogas ao propor a harmonização das definições
de tráfico de entorpecentes e assemelhados; a incriminação
da lavagem de dinheiro de origem ilícita; e o reforço da
cooperação internacional entre Estados, para adaptar os
meios de combate aos novos desafios12.

Por meio dessa, proíbe-se a unificação das definições de tráfico


de drogas, incrimina-se a lavagem de dinheiro de origem ilícita e reforça-
se mais uma vez o aspecto de cooperação internacional adaptado para o
combate aos desafios advindos dessa luta.
Passada a análise da referida Convenção, de nítido caráter
voltado ao aperfeiçoamento das políticas repressivas, restam claras as
bases internacionais do Modelo que pauta até a atualidade o combate às
drogas no território brasileiro. E quanto a essas bases expõe-se:

O controle penal atual sobre as drogas tem por base a


proibição do uso e da venda de substâncias rotuladas como
“ilícitas”, por meio de um discurso de proteção da saúde
pública e de intensificação da punição. Porém, essa
distinção entre drogas lícitas e ilícitas deu-se por
conveniência política, sem que houvesse conclusões
médicas definitivas quanto à graduação e à avaliação
concreta dos riscos de cada substância a ser controlada, ou
mesmo sem que se tivesse proposto ou experimentado
nenhum outro modelo intermediário, ou menos repressivo.
O modelo proibicionista de controle de drogas sustenta-se
em dois fundamentos básicos: o fundamento moral e o
fundamento sanitário-social, e a proibição repousa sobre a
premissa da supressão da oferta por meio da interdição geral
e absoluta de todo o uso, comércio e produção, que
passaram a ser previstos como crime, e sancionados com
pena de prisão e tem por objetivo alcançar o ideal da
abstinência13.

Nessa linha de construção, explicita-se que o controle penal atual


sobre os entorpecentes se baseia na proibição do uso e comércio das

12 Ibid.
13 Ibid.
220 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

substâncias taxadas por ilícitas, segundo um discurso de proteção à saúde


pública, e se mantém através de punições severas. Contudo, essa definição
não se funda em estudos científicos médicos quanto aos seus riscos, e sim
na conveniência política dos estados que as definem, segundo seus
preceitos morais, culturais e econômicos.

3 POLÍTICA CRIMINAL DE DROGAS DO BRASIL,


ESTIGMATIZAÇÃO SOCIAL E SISTEMA PENAL

No que tange a política criminal de drogas brasileira, afirma-se


que essa se delineia sob a forte influência do Proibicionismo norte-
americano14. E sobre tal modelo político criminal comenta-se: uma
estrutura de poder capaz de se manter mesmo reprimindo e mantendo
elevados índices de desigualdade social não é fácil de ser alterada15.
Para melhor demarcar esse modelo político criminal e seus
índices, esmiuça-se a política de drogas brasileira, seu impacto no sistema
penal e sua contribuição para a estigmatização no meio social.
Paradoxalmente, a Constituição Cidadã de 1988, que retoma o
regime democrático nacional, endurece a política criminal vigente e
confere a característica da hediondez aos crimes de tortura, terrorismo e
tráfico de drogas. A partir disso, nota-se um movimento crescente de
criminalização, que edita novas leis e reduz garantias processuais. Bem
como, expande o rol das condutas típicas e o período de cárcere imposto
aos apenados.
Feita tal contextualização, segue-se à Lei de Drogas (Lei n°
11.343/200616) atualmente vigente.

14 RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:


o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
15 VALOIS, Luís Carlos. O Direito Penal da guerra às drogas. 3. ed. Belo Horizonte:

D’Plácido, 2019.
16 BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas

Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção
e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão
à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível em:
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 221

Importa ressaltar que a Lei tratada é sintomaticamente extensa e


prevê vários tipos penais para condutas que de alguma maneira estejam
envoltas com as drogas. No entanto, debruçar-se-á, predominantemente, no
texto legal estabelecido pelos artigos 28 e 33 da referida Lei.
Assim, passa-se à análise do texto do artigo 28, que define como
usuário aquele que adquire, guarda, tem em depósito, transporta ou traz
consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
com determinação legal ou regulamentar. Sob pena de advertência sobre
os efeitos das drogas, prestação de serviços à comunidade e medida
educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. Ou ainda, de
admoestação verbal ou multa17.
Com isso, a doutrina defende que o delito é despenalizado pela
letra da lei, já que não há previsão legal de hipóteses de cominação de pena
privativa de liberdade. No entanto, não há abolittio criminis, posto que a
conduta segue criminalizada.
E relativamente à despenalização da figura do usuário de drogas,
ressalta-se que essa foi uma importante inovação trazida pela lei tratada em
relação às anteriores, buscando atentar-se aos aspectos sociológicos e de
saúde envoltos. No entanto, mesmo que não submetido a penas privativas
de liberdade, o indivíduo não é afastado do caráter repressivo do Judiciário,
pois ainda responde a processo criminal e sofre o estigma social inerente a
esse.
Continuamente, passa-se à previsão legal do artigo 33, que
estabelece como tráfico as condutas de importar, exportar, remeter,
preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar,
entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar.
Sob pena de reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa18. Ademais, iguala
ao caput aquele que importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire,
vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz
consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 16


set. 2021.
17 Ibid.
18 Ibid.
222 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima,


insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas19.
Além de quem semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização
ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico
ilícito de drogas20.
Observa-se ainda o tratamento gravoso que a lei confere aos
delitos em seu artigo 44, ao estabelecer que os crimes previstos nos artigos
33, caput e § 1°, e 34 a 37 são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça,
indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas
em restritiva de direitos. Ademais, no parágrafo único, prevê que para estes
crimes dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois
terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente específico21.
No entanto, o Supremo Tribunal Federal, no Recurso
Extraordinário 1038925, declara a inconstitucionalidade da expressão e
liberdade provisória constante do caput do artigo 44 da Lei 11.343/200622
. Além disso, no Habeas Corpus 97.256 do Rio Grande do Sul, declara
inconstitucional a proibição de conversão da pena privativa de liberdade
em restritiva de direitos, pois ofende a garantia constitucional de
individualização da pena23.
Passadas tais análises, busca-se apresentar o ponto mais sensível
da legislação, que reside na subjetividade quanto à diferenciação das

19 BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas


Públicas sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção
e reinserção social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão
à produção não autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras
providências. Brasília, DF: Presidência da República, 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 16
set. 2021.
20 Ibid.
21 Ibid.
22 Id. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Repercussão geral no Recurso

Extraordinário n. 1.038.925/SP. Recurso extraordinário. Constitucional. Processo Penal.


Tráfico de drogas. Vedação legal de liberdade provisória. Interpretação dos incisos XLIII e
LXVI do art. 5º da CF. Reafirmação de jurisprudência. Proposta de fixação da seguinte tese:
É inconstitucional a expressão e liberdade provisória, constante do caput do artigo 44 da
Lei 11.343/2006. Negado provimento ao recurso extraordinário interposto pelo Ministério
Público Federal. Recorrente: Ministério Público Federal. Recorrido: José Ricardo
Rodrigues Rocha. Relator: Ministro Gilmar Mendes, 18 ago. 2017. Disponível em:
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=TP&docID=13625646. Acesso
em: 16 set. 2021.
23 Ibid.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 223

condutas de tráfico e consumo próprio de drogas, característica esta que se


relaciona amplamente com a seletividade penal.
Em suma, o referido conceito da criminologia crítica demonstra
que a figura do criminoso é construída, à medida que, não basta a prática
de uma conduta contrária às normas para ser considerado um criminoso, de
modo que a condição de desviante é o resultado do etiquetamento social.
Assim, é possível praticar atos tipificados em lei, mas não ser
criminalizado24.
Portanto, a referida Lei, ao ser subjetiva e não conter critérios
claros de diferenciação entre os delitos de uso e tráfico de drogas, confere
ampla margem para a atuação da seletividade penal, que permeada pelos
preconceitos estruturais da sociedade contemporânea, acaba por definir
quem incorre no delito de tráfico e quem deve figurar como mero usuário.
Ademais, nota-se outra problemática, já que o artigo 33
contempla condutas que objetivamente têm a mesma gravidade que as do
artigo 28, o que possibilita que figuras correspondentes recebam resposta
penal antagônica, a depender da vontade presumida do agente e de outros
elementos subjetivos e interpretativos. Em consonância a isso, aponta-se
que na ausência de regras nítidas, delega-se ao policial, no dia a dia das
abordagens, fazer a distinção e enquadrar as condutas. Posto que, a maioria
das prisões envolvendo tráfico não decorre de flagrante em atividade de
patrulhamento rotineiro da Polícia Militar. Portanto, conferida ao policial
tamanha discricionariedade, resta ao detido a insegurança jurídica
provocada pela seletividade penal, que encontra nessa discricionariedade,
vasto campo de atuação e faz com que a atividade judicial criminal seja
eivada de vício desde o seu nascedouro.
De mais a mais, a referida lei, através de sua generalização, muito
encarcera e por isso, muitas fichas criminais marcam ou expandem. E
ainda, posteriormente, se vale destes antecedentes produzidos para voltar a
punir e encarcerar. Portanto, se relaciona com os antecedentes criminais e
com a estigmatização social advinda desses de forma a retroalimentarem-
se.
Para melhor elucidar o que se apresenta, unem-se os dados
estatísticos que revelam em números o impacto da facilidade em prender,

24 CANAL CIÊNCIAS CRIMINAIS. Seletividade penal e o princípio da insignificância.


Jusbrasil, [s.l.], 2019. Disponível em:
https://canalcienciascriminais.jusbrasil.com.br/artigos/692500325/seletividade-penal-e-o-
principio-da-insignificancia. Acesso em: 16 set. 2021.
224 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

característica da Lei Antitóxicos para o sistema penal, bem como seu viés
de seletividade penal.
Os crimes relacionados ao tráfico de drogas são a maior
incidência que leva pessoas às prisões, com 28% da população carcerária
total. Roubos e furtos somados chegam a 37%. Homicídios representam
11% dos crimes que causam a prisão25.
Segundo dados disponibilizados pelo Senado Federal, o perfil das
pessoas presas no Brasil é de 67% da etnia negra, 31% dentro da faixa
etária dos 18 aos 24 anos, 25% dos 25 aos 29 anos e 53% com formação
fundamental incompleta26.
Além disso, um estudo realizado no Distrito Federal, no Rio
Grande do Sul, na Paraíba, no Tocantins, em Santa Catarina e em São
Paulo, demonstra que os jovens e negros são a maioria nas audiências de
custódia das localidades analisadas. E possivelmente, os jovens negros
recebem tratamento judicial mais severo, posto que 49,4% dos brancos
detidos permanecem presos e 41% recebem liberdade provisória com
medida cautelar. Já no que se refere à população negra, tais percentuais
alcançam 55,5% e apenas a 35,2% é conferida a liberdade provisória27.
Quanto ao encarceramento feminino tem-se que o tráfico de
drogas é o principal tipo de infração cometido pelas mulheres. Posto que,
segundo os dados do INFOPEN do ano de 2017, os crimes relacionados ao
tráfico de drogas correspondem a quase 60% das incidências penais pelas
quais as mulheres são privadas de liberdade28.
Desse modo, de maneira clara, a atual política criminal de drogas
através da seletividade penal, da quantidade de condutas que criminaliza,
da ausência de necessária comprovação do elemento subjetivo específico
25 BRASIL. Infopen. Há 726.712 pessoas presas no Brasil. Brasília, DF: 08 dez. 2017.
Disponível em: https://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil.
Acesso em: 16 set. 2021.
26 Id. Senado Federal. Perfil das pessoas presas no Brasil. Em discussão, ano 7, n. 29, set.

2016. Disponível em: https://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/privatizacao-de-


presidios/privatizacao-de-presidios/info-perfil-das-pessoas-presas-no-brasil. Acesso em:
16 set. 2021.
27 MARTINS, Helena. Lei de drogas tem impulsionado encarceramento no Brasil: aumenta

o número de mulheres presas por tráfico. Agência Brasil, [s.l.], 24 jun. 2018. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-06/lei-de-drogas-tem-
impulsionado-encarceramento-no-brasil. Acesso em: 16 set. 2021.
28 BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Relatório temático sobre mulheres

privadas de liberdade – junho de 2017. Brasília, 2019. Disponível em:


https://www.gov.br/depen/pt-br/sisdepen/mais-informacoes/relatorios-infopen/relatorios-
sinteticos/infopenmulheres-junho2017.pdf. Acesso em: 16 set. 2021.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 225

de lucro e do tempo prolongado pelo qual submete os apenados ao cárcere,


também sob a influência da Lei de Crimes Hediondos (Lei n° 8.092/1990),
configura-se como importante fator para a superlotação carcerária, para o
superencarceramento e para a difusão da estigmatização social advinda das
condenações criminais.
Dessarte, em uma sociedade já desigual e corrupta, a pretexto de
proteger a saúde das pessoas, implementa-se uma política pública de guerra
que fere muito mais, em termos numéricos e sociais, do que a substância
supostamente combatida.
Continuamente, passa-se à análise da Jurisprudência do Tribunal
de Justiça do Estado de São Paulo no que concerne a aplicação da
legislação criminal sobre drogas vigente.

4 DA REALIDADE DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO


PAULO

Passada a análise sobre o desenvolvimento da política


Proibicionista e feitos os apontamentos sobre a política criminal de drogas
vigente no país, importa demonstrar como tem se dado a aplicação do
diploma legal existente, no recorte do Tribunal de Justiça do Estado de São
Paulo (TJ/SP). O recorte em questão se justifica, haja vista o índice
numérico de ações propostas perante este órgão de justiça e porque tem ele
se demonstrado, em muitos casos, extremamente tradicional e apegado à
interpretação literal das normas postas sob seu julgamento, posição
contrária à de outros Tribunais mais vanguardistas.
Nesse sentido, expõe-se a Ementa do julgamento do recurso de
apelação interposto pela Defensoria Pública do Estado de São Paulo, tendo
em vista a condenação do apelante às penas previstas no artigo 33, caput,
da Lei n° 11.343/06:

Apelação criminal Tráfico de drogas Sentença condenatória


(art. 33, caput, da Lei n. 11.343/06). Recurso defensivo
Pleito de absolvição por insuficiência probatória.
Requerimento subsidiário de desclassificação para o delito
do art. 28 da Lei 11.343/06. Em caso de manutenção da
condenação pelo delito de tráfico de drogas, requer-se a
compensação da circunstância agravante da reincidência
com a circunstância atenuante da confissão espontânea, e a
fixação de regime menos gravoso. Materialidade e autoria
comprovadas Prisão em flagrante- Apreensão de 09 porções
226 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

de cocaína, na forma de crack, pesando 0,610g.


Depoimentos firmes dos Guardas Municipais, narrando
como se deram os fatos. (...). Recurso da Defesa
improvido29. (grifo nosso)

Em análise à decisão, ressalta-se que a condenação, por


quantidade ínfima de drogas, se dá, unicamente, com base na prova
testemunhal produzida pelos Guardas Municipais responsáveis pela prisão.
Ademais, a decisão em segundo grau também entende que a prova
produzida, qual seja o depoimento dos Guardas Municipais, aliado às
circunstâncias do crime, são coesas e seguras à comprovação da autoria
delitiva de traficância de um indivíduo que portava 0,6g de crack e R$ 5,10
(cinco reais e dez centavos).
No entanto, apesar da negativa do Tribunal estadual, o Superior
Tribunal de Justiça (STJ) em julgamento ao Habeas Corpus impetrado pela
Defensoria Pública estadual em favor do paciente, reconhece:

HABEAS CORPUS. DESCLASSIFICAÇÃO DELITIVA.


TRÁFICO DE DROGAS (0,61 G DE CRACK).
SENTENÇA CONDENATÓRIA. PRETENSÃO DE
DESCLASSIFICAÇÃO DE TRÁFICO DE DROGAS
PARA POSSE DE ENTORPECENTES PARA USO
PESSOAL (ART. 28 DA LEI N. 11.343/2006).
POSSIBILIDADE. EXCEPCIONALIDADE DO CASO.
PRECEDENTE. AUSÊNCIA DE PROVAS DA
MERCANCIA. PARECER MINISTERIAL PELA
CONCESSÃO DA ORDEM. CONSTRANGIMENTO
ILEGAL EVIDENCIADO. PARECER ACOLHIDO.
Ordem concedida nos termos do dispositivo30.

29 BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (8ª Câmara de Direito Criminal).
Apelação n. 1501074-79.2020.8.26.0530. Apelante: Antônio Marcos da Silva. Apelado:
Ministério Público Estadual de São Paulo. Relatora: Desembargadora Ely Amioka, 02 fev.
2021. Disponível em:
https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=14323098&cdForo=0. Acesso em:
16 set. 2021.
30 Id. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus n. 662186 SP (2021/0123728-5).

Impetrante: Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Impetrado: Tribunal de Justiça do


Estado de São Paulo. Paciente: Antônio Marcos da Silva. Relator: Ministro Sebastião Reis
Júnior, 05 maio 2021. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&
componente=MON&sequencial=126149344&tipo_documento=documento&num_registro
=202101237285&data=20210505&formato=PDF. Acesso em: 16 set. 2021.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 227

Por meio de sua decisão, o Relator aponta que deve haver a


desclassificação para o tipo penal do artigo 28 da lei n° 11.343/06, posto
que o depoimento dos Guardas não forma por si só suficientemente sólida
quanto à mercancia.
Já em recurso de apelação interposto pelo Ministério Público do
Estado de São Paulo o TJ/SP dá provimento à pretensão ministerial e afasta
a condenação em 1° instância pelo artigo 28 da Lei de Drogas:

1. Inconformado com a decisão do MM. Juiz de Direito da


3ª Vara Criminal da Comarca de Franca, que desclassificou
a infração descrita na denúncia e condenou o réu Rafael
Banega Martins como incurso no artigo 28, “caput”, da Lei
nº 11.343/06, à pena de advertência sobre os efeitos nocivos
das drogas, por ter sido surpreendido no dia 14 de maio de
2019, por volta de 19h40, na Rua Irênio Greco, nº 3.565,
naquela cidade, a trazer consigo, sem autorização e em
desacordo com determinação legal ou regulamentar, vinte e
sete porções de “crack”, com peso de 1,670g, substância
essa entorpecente e causadora de dependência física e
psíquica, o Ministério Público apelou pleiteando a
condenação do réu nos termos da denúncia, por estar
provada a imputação (...). (...) Ora, no caso em pauta,
inexiste motivo para se repudiar a firme e segura
palavra dos policiais (...). Assim, cabe concluir que as
provas reunidas nos autos eram mesmo suficientes para
justificar o acolhimento da acusação do réu, indivíduo já
anteriormente condenado por infração da mesma
natureza, a bem revelar sua inclinação para o cometimento
desse crime e da persistência no exercício do tráfico de
tóxicos, de modo que a condenação do réu como incurso no
artigo 33, “caput”, da Lei nº 11.343/2006 é a medida que se
impõe (...) 3. Destarte, pelo meu voto, dá-se provimento ao
apelo do Ministério Público para condenar o réu como
incurso no artigo 33, “caput”, da Lei nº 11.343/06, a seis
anos, nove meses e vinte dias de reclusão, em regime
prisional inicial fechado, e seiscentos e oitenta dias-multa,
no piso mínimo31. (grifo nosso)

Em seu voto, o Desembargador aponta que há segurança no


conjunto probatório formado pelas declarações dos Policiais Militares que
31BRASIL. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo (1ª Câmara de Direito Criminal).
Apelação n. 1502132-86.2019.8.26.0196. Apelante: Ministério Público. Apelado: Rafael
Banega Martins. Relator: Desembargador Mário Devienne Ferraz, 08 jun. 2020. Disponível
em: https://esaj.tjsp.jus.br/cjsg/getArquivo.do?cdAcordao=13627612&cdForo=0. Acesso
em: 16 set. 2021.
228 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

efetuarem a prisão em flagrante do apelado com 1,67g de crack e R$ 8,40


(oito reais e quarenta centavos), mesmo que ele tenha alegado de pronto
ser dependente químico. Pois, inexiste motivo para repudiar a firme e
segura palavra dos policiais. Assim, o recorrido é condenado como incurso
no artigo 33, caput, da Lei n° 11.343/06, à pena de 06 (seis) anos, 09 (nove)
meses e 20 (vinte) dias, em regime inicial fechado.
No entanto, em julgamento ao Habeas Corpus impetrado pela
Defensoria Pública estadual, o STJ concede a ordem e colaciona:

Chama particular atenção deste julgador o fato de o paciente


haver sido condenado à pena de 6 anos, 9 meses e 20 dias
de reclusão, em regime inicial fechado, mais multa, pela
prática do crime previsto no art. 33, caput, da Lei n.
11.343/2006, a despeito da reduzida quantidade de drogas
apreendidas: 1,67 gramas de crack (...). Na espécie,
contudo, entendo que as instâncias ordinárias não
apontaram elementos suficientes para concluir pela prática
do delito de tráfico de drogas (...). (...) Não por outro
motivo, a prática nos tem evidenciado que a concepção
expansiva da figura de quem é traficante acaba levando à
inclusão, nesse conceito, de cessões altruístas, de consumo
compartilhado, de aquisição de drogas em conjunto para
consumo próprio e, por vezes, até de administração de
substâncias entorpecentes para fins medicinais. (...). Reitero
que, o réu foi apreendido com pequena quantia em dinheiro
e pouca quantidade de drogas, situação plenamente
compatível com um mero usuário recreativo de
entorpecentes.
De igual modo, faço menção ao fato de que a única conduta
imputada pelo Ministério Público em sua denúncia – dentre
as várias previstas no art. 33, caput, da Lei n. 11.343/2006
(que é de conteúdo múltiplo) – foi a de trazer consigo (fl.
56), a qual também está prevista no tipo descrito no caput
do art. 28 da Lei n. 11.343/2006. (...) O que se tem dos
elementos coligidos aos autos é apenas a intuição acerca de
eventual traficância praticada pelo paciente.
No entanto, no caso ora em análise, a ausência de
diligências investigatórias que apontem, de maneira
inequívoca, para a narcotraficância por parte do acusado –
e não apenas a acenada existência de ponto de comércio de
drogas no local em que ele se encontrava – evidencia o
equívoco da condenação pelo delito previsto no art. 33,
caput, da Lei n. 11.343/2006, porque o ora paciente não foi
flagrado comercializando droga e, portanto, a conclusão
sobre sua conduta decorreu de avaliação subjetiva não
amparada em substrato probatório idôneo a corroborar a
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 229

acusação. Logo, impõe-se a desclassificação da conduta


imputada ao paciente para o delito descrito no art. 28, caput,
da Lei de Drogas32. (grifo nosso)

Por meio de seu voto, o Ministro destaca que chama sua atenção
a condenação por tráfico de um indivíduo que trazia consigo quantidade
tão ínfima de drogas. De mais a mais, aponta que a diferenciação entre as
figuras de usuário e traficante é problemática na legislação e pela
concepção expansiva conferida pela lei vigente por vezes acaba-se por
incluir nas condenações de tráfico, ocasiões de consumo compartilhado e
aquisições para consumo próprio.
Além disso, afirma que embora o Tribunal a quo paute a
condenação nas circunstâncias da prisão (decorrente de denúncia anônima)
e na quantidade de drogas apreendidas, aliadas à tentativa de fuga do réu
ao avistar os policiais, a quantidade de droga apreendida é pequena e não
é possível identificar que ele estivesse efetivamente realizando a mercancia
de entorpecentes, haja vista que inclusive estava sozinho no local da
abordagem.
Para além do exposto, a conduta que lhe foi imputada pelo
Parquet foi a de trazer consigo, figura também tipificada pelo art. 28 da
Lei de Drogas, e não há elementos probatórios seguros que demonstrem
seu dolo de narcotraficância; o que se tem é apenas uma intuição acerca de
eventual traficância, não sendo suficiente à sua condenação a existência de
ponto de comércio de drogas no local. Com isso, evidenciado o equívoco,
posto que a conclusão sobre sua conduta decorre de avaliação subjetiva não
amparada em substrato probatório, impõe-se a desclassificação da conduta
para o delito descrito no art. 28, caput, da Lei de Drogas.
Portanto, demonstra-se na prática que a subjetividade muito
encarcera, o faz a penas longas e com prova única, em total desrespeito às
orientações constitucionais vigentes que sustentam o Estado Democrático
de Direito.

32BRASIL. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus n. 662186 SP (2021/0123728-5).


Impetrante: Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Impetrado: Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo. Paciente: Antônio Marcos da Silva. Relator: Ministro Sebastião Reis
Júnior, 05 maio 2021. Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&
componente=MON&sequencial=126149344&tipo_documento=documento&num_registro
=202101237285&data=20210505&formato=PDF. Acesso em: 16 set. 2021.
230 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

5 ANÁLISE DA POLÍTICA DE DROGAS DE PORTUGAL

Após a exposição da jurisprudência do Tribunal Paulista, e,


portanto, feita a análise da realidade auferida com os casos concretos
apresentados, intenta-se apontar a política de drogas portuguesa e os
avanços obtidos por essa.
Conforme o art. 2°, n.1, da Lei de 30.11.2000 as condutas de
consumir, adquirir e deter para consumo próprio passam a ser
consideradas ilícitos de mera ordenação social, sendo que essas contra-
ordenações se situam entre o direito administrativo e o direito penal33.
Ademais, a legislação portuguesa permite a posse de quantidade
equivalente ao consumo médio individual para um período de até 10 dias.
E quanto à média de consumo diário estabelece-se 2,5g de maconha e 0,2g
de cocaína34.
Quando encontrado na posse de drogas ilegais, o indivíduo é
direcionado para o controle da Comissão para a Dissuasão de
Toxicodependência (CDT) que processa as contraordenações ligadas
especificamente ao consumo de entorpecentes e é um órgão especializado
de caráter interdisciplinar, composto por três membros, um advogado e
dois médicos, assistentes sociais ou psicólogos35.
Ressalta-se que essa Comissão é ligada ao Ministério da Saúde e
não ao da Justiça, intentando-se afastar o caráter repressivo do Judiciário
da lida diária com os toxicômanos.
O processo poderá ser suspenso, após o primeiro
comparecimento, se ficar comprovado ser o uso ocasional ou regular, mas
não habitual (viciado ou dependente), podendo ser aplicada pena de
admoestação verbal ou outras sanções administrativas, como penas

33 RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:


o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
34 PARANÁ. Relatório II sobre a quantidade de drogas para uso ou tráfico e a

necessidade de regulamentação. Curitiba: Núcleo de Pesquisa em Criminologia e Política


Penitenciária (NUPECRIM), 28 ago. 2012. Disponível em:
https://www.tjmt.jus.br/intranet.arq/cms/grupopaginas/105/988/Relat%C3%B3rio_sobre_
a_quantidade_de_drogas_para_uso_ou_tr%C3%A1fico_-_NUPECRIM-PR.pdf. Acesso
em: 16 set. 2021.
35 RODRIGUES, op. cit., nota 30.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 231

pecuniárias, prestação de serviços a comunidades, vislumbrando-se o


desestímulo ao consumo de drogas36.
Se tratar-se de uso meramente ocasional, suspende-se a pena de
multa e a pessoa é colocada em probation por um período; no caso de
delitos subsequentes aplica-se pena de multa ou outra medida
administrativa coercitiva. No entanto, se comprovada dependência, a lei
exige que haja encaminhamento para o sistema de saúde ou para o serviço
social37.
Ainda, no que tange a pena de multa, esta pode variar entre 25
euros e o salário-mínimo nacional, mas só é aplicada se ausentes sinais de
dependência e evidenciada a desnecessidade de outras intervenções38.
A comissão também tem o poder de adotar outras medidas como
o cancelamento da licença profissional ou posse de armas do indivíduo, por
exemplo, ou determinar que ele se mantenha longe de certos lugares ou
pessoas39.
Ademais, o Estado português ainda se vale de uma série de
medidas de redução de danos, haja vista que conta com centros de
atendimentos aos drogadictos e programas de substituição de seringas, que
fornecem material seguro para o uso de drogas injetáveis e previnem a
contaminação pelo vírus HIV entre os viciados. Bem como, fornecem o
medicamento metadona como tratamento substitutivo à heroína.
De mais a mais, ressalta-se que embora tenha havido a
descriminalização do consumo de drogas, a aquisição ainda se dá pelos
meios ilegais da traficância, e a conduta de comercialização de
entorpecentes segue com penas severas. No entanto, os indicadores de
tráfico de drogas, medido pelos números de condenados por esse delito,
declinaram fortemente desde 200140.

36 RODRIGUES, Luciana Boiteux de Figueiredo. Controle Penal sobre as drogas ilícitas:


o impacto no proibicionismo no sistema penal e na sociedade. Orientador: Sergio Salomão
Shecaira. 2006. 273 f. Tese (Doutorado em Direito) – Faculdade de Direito, Universidade
de São Paulo, São Paulo, 2006. Disponível em:
https://cetadobserva.ufba.br/sites/cetadobserva.ufba.br/files/355.pdf. Acesso em: 16 set.
2021.
37 Ibid.
38 Ibid.
39 PORTUGAL descriminalizou uso de drogas em 2001; entenda a política. G1, São Paulo,

13 ago. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/08/portugal-


descriminalizou-uso-de-drogas-em-2001-entenda-politica.html. Acesso em: 16 set. 2021.
40 CONGRESSO Nacional do Instituto de Drogas e da Toxicodependência, I.P. Lisboa,

28/29 maio 2009. Disponível em:


232 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

Segundo destacam os dados estatísticos, a mortalidade decaiu de


400 para 290, no período de 1999 a 2006, incluindo, na estatística, a
diminuição de doenças correlatas41. E as infecções por HIV em
dependentes passaram de 907, em 2000, para 267, em 200842.
O uso de drogas pela população portuguesa apresentou declínio
desde 2007, pois, nesse ano, a prevalência de adultos que já tinham usado
drogas pelo menos uma vez era de 12%, já em 2021 a porcentagem caiu
para 9,5%. Ademais, entre os mais jovens a prevalência caiu de 17,4% para
14,5% no mesmo período de análise.
Em razão de todo o exposto, comenta-se que os avanços
auferidos por Portugal são particularmente relevantes para o Brasil, apesar
das diferenças sociais, culturais, demográficas e econômicas entre os
países, pois há a ligação histórica entre os povos. Assim, a análise dessa
realidade diversa pode servir como norte para que o Estado brasileiro,
atendendo às peculiaridades da realidade nacional, adote uma estratégia
alternativa racional e pautada pela Dignidade Humana.

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em análise aos relatos históricos depreende-se que as drogas são


uma problemática social e de saúde universal, que acompanham a
humanidade desde os primórdios, portanto, vislumbrar a extinção dessas
foge à realidade atingível.
No entanto, sob o viés de extermínio às drogas, construiu-se o
Modelo Proibicionista, que deficiente em embasamento médico-científico
e pautado por interesses morais, culturais, políticos, sociais e econômicos,
é altamente repressivo.
No que concerne à política criminal de drogas do Brasil tem-se
que esta, formada pela Lei de Drogas (Lei n° 11.343/2006) e influenciada
pela Lei de Crimes Hediondos (Lei n° 8.092/1990), foi capaz de provocar
impacto nefasto ao sistema penal brasileiro, vez que se relaciona
diretamente com o superencarceramento e com a superlotação das

https://www.dependencias.pt/ficheiros/noticias/1316006620dependencias_abril2009.pdf.
Acesso em: 16 set. 2021.
41 Ibid.
42 PORTUGAL descriminalizou uso de drogas em 2001; entenda a política. G1, São Paulo,

13 ago. 2015. Disponível em: http://g1.globo.com/mundo/noticia/2015/08/portugal-


descriminalizou-uso-de-drogas-em-2001-entenda-politica.html. Acesso em: 16 set. 2021.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 233

penitenciárias, sendo responsável por 30% dos presos totais e no recorte


feminino por 60%, além de mantê-los encarcerados por longo período, o
que faz com que existam muitos ingressantes nas penitenciárias e poucos
egressos.
Ademais, se relaciona com o conceito de seletividade penal, uma
vez que a Lei de Drogas é marcada pelo subjetivismo no enquadramento
das condutas de uso próprio e tráfico ilícito de entorpecentes, e unindo-se
a isso, a política de drogas ainda fomenta a estigmatização no meio social
através das inúmeras condenações criminais.
E em análise à Jurisprudência recente do Tribunal de Justiça do
Estado de São Paulo, notam-se indivíduos que portavam quantidades
ínfimas de drogas condenados às altas penas da conduta de tráfico com
prova única dos testemunhos dos policiais responsáveis pela abordagem.
Ainda, em estudo à Política de drogas portuguesa, depreende-se
que um Modelo pautado pela Dignidade Humana, que rompe com o
Proibicionismo, ainda que parcialmente, afasta o caráter repressivo do
Judiciário, oferece tratamento especializado e põe em prática medidas de
redução de danos, alcança avanços sociais e de saúde notáveis.
Por fim, aponta-se sobretudo, que o Modelo adotado é violento e
contraproducente, tanto em termos sociais quanto no que tange ao sistema
penal. Ademais, a guerra declarada às drogas é na realidade social, guerra
velada às parcelas vulnerabilizadas da social, assim, em respeito ao Estado
Democrático de Direito urge o fortalecimento do Direito Penal enquanto
ciência sólida e em tudo afastada dos instrumentos de guerra.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Infopen. Há 726.712 pessoas presas no Brasil. Brasília, DF: 08 dez. 2017. Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil. Acesso em: 16 set. 2021.

BRASIL. Lei n. 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema Nacional de Políticas Públicas
sobre Drogas - Sisnad; prescreve medidas para prevenção do uso indevido, atenção e reinserção
social de usuários e dependentes de drogas; estabelece normas para repressão à produção não
autorizada e ao tráfico ilícito de drogas; define crimes e dá outras providências. Brasília, DF:
Presidência da República, 2006. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-
2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 16 set. 2021.

BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Relatório temático sobre mulheres privadas
de liberdade – junho de 2017. Brasília, 2019. Disponível em: https://www.gov.br/depen/pt-
br/sisdepen/mais-informacoes/relatorios-infopen/relatorios-sinteticos/infopenmulheres-
junho2017.pdf. Acesso em: 16 set. 2021
234 ISSN 2675-0104 – v.6, n.1, dez. 2021

BRASIL. Polícia Civil do Paraná (Departamento Estadual de Narcóticos). Drogas. [S.l.], [s.d.].
Disponível em: https://www.policiacivil.pr.gov.br/DENARC#. Acesso em: 16 set. 2021.

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Disponível em:
https://processo.stj.jus.br/processo/dj/documento/mediado/?tipo_documento=documento&component
e=MON&sequencial=126149344&tipo_documento=documento&num_registro=202101237285&data
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CANAL CIÊNCIAS CRIMINAIS. Seletividade penal e o princípio da insignificância. Jusbrasil,


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CONGRESSO Nacional do Instituto de Drogas e da Toxicodependência, I.P. Lisboa, 28/29 maio


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Id. Superior Tribunal de Justiça. Habeas corpus n. 662186 SP (2021/0123728-5). Impetrante:


Defensoria Pública do Estado de São Paulo. Impetrado: Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo.
Paciente: Antônio Marcos da Silva. Relator: Ministro Sebastião Reis Júnior, 05 maio 2021.
Disponível em:
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Id. Supremo Tribunal Federal (Plenário). Repercussão geral no Recurso Extraordinário n.


1.038.925/SP. Recurso extraordinário. Constitucional. Processo Penal. Tráfico de drogas. Vedação
legal de liberdade provisória. Interpretação dos incisos XLIII e LXVI do art. 5º da CF. Reafirmação
de jurisprudência. Proposta de fixação da seguinte tese: É inconstitucional a expressão e liberdade
provisória, constante do caput do artigo 44 da Lei 11.343/2006. Negado provimento ao recurso
extraordinário interposto pelo Ministério Público Federal. Recorrente: Ministério Público Federal.
Recorrido: José Ricardo Rodrigues Rocha. Relator: Ministro Gilmar Mendes, 18 ago. 2017.
Revista de Iniciação Científica e Extensão da Faculdade de Direito de Franca 235

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MARTINS, Helena. Lei de drogas tem impulsionado encarceramento no Brasil: aumenta o número
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https://agenciabrasil.ebc.com.br/geral/noticia/2018-06/lei-de-drogas-tem-impulsionado-
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regulamentação. Curitiba: Núcleo de Pesquisa em Criminologia e Política Penitenciária
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