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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE MEDICINA E CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA
ESTÁGIO BÁSICO: PSICOPATOLOGIA

MARCELLA VALMORBIDA DA SILVA

MARIA IZABEL BRESCOVITT

NATALYN KAUANE RODRIGUES DE JESUS

CURITIBA

2024
Resumo capítulo I (eixo I) - Dimensão ética-polícia da atuação da(o)
psicóloga(o) na Política de álcool e outras drogas

A utilização das drogas para diversas funções, sempre fez parte da


sociedade. No entanto, a partir do século XX iniciou uma preocupação maior do
estado em relação ao uso dessas substâncias, relacionando-as com um perigo e
ameaça social. Nesse contexto, pessoas que realizavam o uso de drogas passaram
a ser criminalizadas. Assim, em 1912 ocorreu a “primeira conferência internacional
do ópio”, onde a utilização e venda do ópio passou a ser proibida. Esse tipo de
política levou o nome de proibicionista pela característica de proibir o consumo,
comércio e produção de algumas substâncias psicoativas.
O século XX foi marcado por uma intensa criação de estratégias de controle
e proibição das drogas. Além dos fatores culturais, as questões políticas e
econômicas fazem parte das razões de proibição das drogas. Ainda, cada país
demonstra aspectos específicos que motivaram esse proibicionismo. No Brasil a
proibição da maconha esteve relacionada com a criminalização de hábitos
praticados na cultura dos povos negros que foram escravizados. Esse passado
ainda é refletido atualmente, tendo em vista a seletividade penal que encarcera em
maior número pessoas negras.
Dando continuidade para esse proibicionismo, em 1998 a ONU estabeleceu a
previsão de um mundo livre das drogas em dez anos. Entretanto, em 2008
observou-se que nesse período ocorreu a expansão do comércio e uso das drogas,
fazendo com que novos debates sobre outras alternativas, além do proibicionismo,
fossem levantados. Esse método de proibição reforça aspectos do sistema
manicomial, abordando a abstinência como única maneira de lidar com o consumo
de drogas. Assim começa-se o debate sobre a redução de danos, que é a busca
pelo enfrentamento das drogas a partir do entendimento dos aspectos sociais, de
saúde e econômicos do uso de drogas, sem que ocorra necessariamente a
proibição.
Apesar das medidas asilares terem prevalecido para a atenção aos usuários
de álcool e outras drogas, iniciaram-se medidas de cunho religioso e de apoio
conjunto entre os próprios usuários. Ainda, centros de tratamento e pesquisa sobre
álcool e outras drogas foram se espalhando pelo Brasil e se tornando referência
para as práticas clínicas e de cuidado desses públicos. Dentre esses centros,
alguns foram pioneiros no contato com os usuários nas cenas de uso de drogas,
como é o caso do consultório da rua.
O movimento da reforma psiquiátrica, acabou tardando a levantar às
particularidades do uso de álcool e outras drogas, o que ocasionou a entrada de
outros campos para o cumprimento dessa demanda, com às comunidades
terapêuticas, que relacionam às práticas com aspectos religiosos. O aspecto da
abstinência ainda é presente em atuações de saúde mental atuais, tanto em grupos
como alcoólicos anônimos, como nas comunidades terapêuticas, distanciando-se
das referências do campo do conhecimento produzido pela psicologia.
Em 2003 o Ministério da Saúde adota como política de atenção aos usuários
de álcool e outras drogas o conceito de redução de danos nas políticas de saúde.
Assim, ações de sucesso iniciaram no CAPS-AD, consultórios na rua, entre outros
dispositivos, reforçando a autonomia e os direitos dos usuários atendidos.
A educação de redução de danos no Brasil é algo muito recente que se deu
início a 30 anos, principalmente após a epidemia da aids programas sociais ao
combate evidenciaram a importância de redução de danos, colocando o indivíduo
como protagonista e com autonomia. Assim sendo criados grupos como Grupo de
Apoio à Prevenção à Aids (GAPA), desse modo, esses grupos precursores em
informar a população sobre redução de danos, principalmente sobre os riscos de
drogas injetáveis. Nesse sentido, o resultado foi que as pessoas que eram
consideradas população de risco por já terem consciência das reduções de danos
propagaram para e se preocuparam em fazer práticas que inibisse o contágio pelas
seringas compartilhadas. Em 1997 foi criada a Associação Brasileira de Redutores
de Danos (ABORDA) na qual discutia e propunha políticas públicas nas quais
visavam a redução de danos e a problemática das drogas.
Sendo as estratégias da redução de danos que o indivíduo tem autonomia,
saiba seus direitos, também que seja proporcionado um ambiente no qual não haja
julgamentos morais e que não seja uma abordagem punitiva e criminalizadora.
Também é importante ressaltar que a redução de danos não tem como princípio
fazer com que o indivíduo pare de utilizar a substância como planejamento de
trabalho sucedido, parar de utilizar a substância é apenas um dos passos do
processo. Assim, a abstinência da substância vem através de um processo do
indivíduo a partir de sua autonomia decidir por isso, sendo um caminho que
necessitará de acompanhamento, sendo algo muito complexo e envolvendo várias
áreas, para que a pessoa receba o amparo necessário nesse momento. Dessa
forma, o indivíduo deve ter questões essenciais como a liberdade de escolha, ter
responsabilidade individual também familiar e da sociedade, o estado também deve
proporcionar um ambiente que proporcione autocuidado, rede de apoio, tudo que
garanta os direitos básicos humanos.
Assim, a redução de danos deve ser disseminada através dos bairros,
unidades nas quais os usuários estão sendo de fácil acesso. O papel do psicólogo
então é proporcionar uma intervenção junto aos usuários, sempre tendo uma
postura imparcial, sem pré-julgamentos, tendo papel de estar ali como uma ponte
onde é retirado esse receio do acolhimento. Uma outra questão da problemática é o
fator de gênero, havendo ainda um crescimento no encarceramento de mulheres
que são usuárias de drogas, também sendo apontadas como envolvidas com o
tráfico de drogas, sendo principalmente esse grupo pessoas em estado de
vulnerabilidade e sendo mulheres periferias.
Nesse sentido, a atuação da psicologia enfrenta desafios éticos diante dos
encaminhamentos judiciais para tratamentos de saúde, especialmente com a
crescente judicialização do tratamento devido à nova lei de drogas. Embora o
tratamento compulsório não se restrinja diretamente à liberdade, pode ser
considerado restritivo de direitos, levantando questionamentos sobre a ética
profissional. As políticas públicas de saúde e assistência social refletem o
protagonismo de grupos organizados, garantindo o caráter público dessas políticas,
como o Sistema Único de Saúde (SUS) e o Sistema Único de Assistência Social
(SUAS), que são essenciais para proteger os direitos sociais dos cidadãos.
No entanto, nos últimos anos, esses sistemas de proteção social têm sido
alvo de cortes e subfinanciamentos, exacerbados pela Emenda Constitucional (EC),
que congela despesas por vinte anos, ameaçando os direitos sociais constitucionais
de milhões de pessoas. Sendo assim, as políticas atuais sobre álcool e drogas
estão em constante debate na sociedade e no governo, com amplos setores
engajados na construção de políticas eficazes. Posto isto, a evolução das políticas
de saúde e cuidado com álcool e drogas inclui a criação de dispositivos de cuidado
comunitário, como o CAPS-AD e os Consultórios na Rua na Atenção Básica, além
do estabelecimento de programas como o Plano Integrado de Enfrentamento ao
Crack e outras Drogas, no entanto, a inclusão de vagas em Comunidades
Terapêuticas pelo SUS e SUAS gerou controvérsias e questionamentos jurídicos e
sociais. Nesse sentido, a atuação dos psicólogos nessas Comunidades
Terapêuticas enfrentou e ainda enfrenta desafios éticos, uma vez que essas
instituições frequentemente operam sem regulamentação adequada e reproduzem
práticas disciplinares semelhantes às instituições prisionais. Diante disso, se torna
ainda mais crucial o questionamento sobre a medicalização excessiva e a lógica da
abstinência, reconhecendo a diversidade de relações com as drogas.
Em suma, é fundamental articular a prática clínica com determinantes sociais,
socioculturais e políticos, mantendo o foco na cidadania e nos direitos humanos,
visto que as políticas de saúde devem integrar o paradigma da Redução de Danos
com tecnologias de cuidado que promovam a ampliação da vida. Em face dos
ataques recentes às experiências de cuidado psicossocial, é essencial defender os
direitos e a vida dos indivíduos, cuidando para manter o espaço para políticas
democráticas sobre essa ainda grande problemática do álcool e outras substâncias.
Referência

Conselho Federal de Psicologia; Conselhos Regionais de Psicologia. Referências


técnicas para atuação de psicólogas(os) em políticas públicas de álcool e
outras drogas. 2 Ed. Revisada; Local Brasília; 2019.

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