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Desafios e Alternativas na Abordagem ao Tráfico de

Drogas: Uma Análise Crítica da Lei de Drogas


Autor: Pedro Paulo Rodrigues de Sousa
Resumo: Este diálogo explorou as complexidades das políticas de drogas,
destacando autores críticos do paradigma proibicionista e ressaltando a
influência internacional sobre as políticas nacionais. Abordou-se a necessidade
de estratégias multifacetadas, envolvendo segurança, políticas sociais e
prevenção, além de enfoques na redução de danos e a participação da
juventude em decisões políticas.
Palavras-chave: políticas de drogas, paradigma proibicionista, influência
internacional, estratégias multifacetadas, redução de danos, prevenção,
participação da juventude.
Abstract: This dialogue delved into the complexities of drug policies,
emphasizing authors critical of the prohibitionist paradigm and highlighting the
international influence on national policies. It addressed the need for
multifaceted strategies involving security, social policies, and prevention, as well
as approaches to harm reduction and youth involvement in policy decisions.
Keywords: drug policies, prohibitionist paradigm, international influence,
multifaceted strategies, harm reduction, prevention, youth involvement.
"Se a história nos ensinou alguma coisa, é que nada aprendemos com a
história." - Theodore Roosevelt
Sumário
1. Introdução........................................................................................................................6
2. Danos da criminalização.............................................................................................10
2.2 Questão étnica..........................................................................................................12
2.3 Implicações legais....................................................................................................17
2.4 Redução de danos...................................................................................................22
CONCLUSÃO..........................................................................................................................26
Referências.............................................................................................................................28
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1. Introdução

O tráfico de drogas é uma problemática global que transcende fronteiras,


afetando diversas camadas da sociedade e desafiando as estruturas legais e sociais
em inúmeros países, incluindo o Brasil. A Lei de Drogas de 2006 foi promulgada
como uma tentativa de conter e desmantelar as operações relacionadas ao tráfico,
adotando uma abordagem proibicionista, na qual a criminalização foi estabelecida
como o principal meio de dissuasão. No entanto, ao longo dos anos, a eficácia
dessa legislação e suas implicações têm sido amplamente questionadas.

O propósito desta pesquisa é explorar criticamente o impacto da Lei de Drogas


no Brasil, analisando sua eficácia na contenção do tráfico e os efeitos secundários
derivados de sua aplicação. Diante da abordagem atualmente adotada e do contexto
histórico que a permeia, esta investigação busca compreender se a legislação
vigente é eficaz ou se alternativas mais justas e eficientes devem ser consideradas.

A delimitação desta pesquisa concentra-se em oferecer uma análise detalhada


do funcionamento e dos resultados da Lei de Drogas brasileira, abordando questões
críticas como a efetividade das medidas aplicadas, os efeitos sociais, a justiça no
sistema penal e as consequências para comunidades marginalizadas.

Os objetivos desta investigação são variados. Pretende-se avaliar e questionar a


eficácia da abordagem proibicionista da Lei de Drogas, considerar os efeitos
colaterais decorrentes de suas políticas e propor alternativas que possam direcionar
políticas mais justas e eficazes para enfrentar o tráfico de drogas.

Para alcançar tais objetivos, a pesquisa adota uma metodologia qualitativa,


centrada em uma análise bibliográfica aprofundada. Este método possibilita uma
compreensão abrangente e minuciosa das questões subjacentes ao tráfico de
drogas, permitindo uma exploração aprofundada das diferentes perspectivas e
experiências, tanto nacionais quanto internacionais.

No decorrer deste estudo, as questões que nortearão a investigação incluem a


avaliação da eficácia da Lei de Drogas na contenção do tráfico, os impactos sociais
derivados de sua aplicação e a análise de alternativas embasadas em aprendizados
de políticas adotadas em outras nações.
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O estudo propõe-se a oferecer uma visão crítica e equilibrada sobre as políticas


de drogas no Brasil, visando não somente identificar lacunas e desafios, mas
também apresentar propostas embasadas para políticas mais eficazes e justas no
enfrentamento do tráfico de drogas, alinhadas com objetivos de contenção do
problema e de justiça social.
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2. DESENVOLVIMENTO E DEMONSTRAÇÃO DOS RESULTADOS

Esta pesquisa bibliográfica permitiu uma revisão aprofundada da literatura


existente, abrangendo uma ampla gama de fontes, incluindo livros, artigos
acadêmicos, relatórios governamentais e documentos de organizações
internacionais. Essa abordagem proporcionou uma base sólida para a análise e
discussão dos resultados.

O tráfico de drogas, um fenômeno global, representa um desafio complexo,


desafiando as estruturas legais e sociais em várias nações, incluindo o Brasil. A Lei
de Drogas de 2006 adotou uma abordagem proibicionista, enfatizando a
criminalização como meio central de dissuasão do tráfico. No entanto, as evidências
sugerem que a eficácia dessa legislação é questionável, e os efeitos colaterais de
suas políticas têm sido objeto de críticas e debate.

Os efeitos da abordagem proibicionista têm levantado diversas questões. A


criminalização do tráfico frequentemente resulta em encarceramento em massa,
afetando desproporcionalmente grupos marginalizados e economicamente
vulneráveis. Isso levanta preocupações não apenas sobre a eficácia da estratégia,
mas também sobre a justiça social. As políticas de drogas têm impacto direto nas
vidas de milhares de pessoas, muitas das quais são detidas por pequenas
quantidades de drogas, enquanto os principais atores do tráfico frequentemente
permanecem intocados.

A abordagem adotada pela Lei de Drogas parece estar longe de atingir seus
objetivos. O tráfico de drogas persiste, muitas vezes adaptando-se e encontrando
novas rotas e formas de operar, desafiando as tentativas de contenção. Além disso,
a violência associada ao tráfico muitas vezes se intensifica, gerando um ciclo de
impactos negativos na sociedade.

A análise histórica e internacional é crucial para compreender alternativas


viáveis. Experiências de países que optaram por abordagens mais focadas na saúde
pública e na redução de danos oferecem lições importantes. Modelos baseados na
descriminalização ou legalização de certas drogas, aliados a políticas de prevenção,
9

tratamento e redução de danos, demonstraram impactos positivos na redução do


tráfico ilegal e na minimização dos danos sociais e à saúde pública.

Nesse contexto, torna-se fundamental explorar alternativas à abordagem


proibicionista. A promoção de políticas que priorizem a redução de danos,
tratamento para dependentes químicos e desmantelamento de organizações
criminosas de maneira mais eficaz pode oferecer resultados mais significativos no
combate ao tráfico de drogas. A abordagem de políticas mais baseadas na saúde
pública e na educação, aliada à regulamentação controlada de certas substâncias,
pode representar uma nova perspectiva no enfrentamento desse desafio.

No entanto, é crucial considerar que a implementação de novas políticas


requer não apenas uma mudança na legislação, mas também a construção de
estruturas sólidas de apoio, incluindo programas de prevenção, tratamento e
reinserção social. Isso exigiria um esforço interdisciplinar e uma abordagem holística
que envolva setores da saúde, da segurança pública e da sociedade civil.

À medida que este estudo avança, será fundamental examinar mais de perto
essas alternativas e suas aplicações potenciais no contexto brasileiro, considerando
a viabilidade e os desafios práticos de implementação. A análise crítica e a
compreensão das experiências internacionais desempenharão um papel
fundamental na formulação de recomendações para políticas mais eficazes e justas.

A pesquisa bibliográfica realizada revelou uma série de insights relevantes


relacionados à eficácia da Lei de Drogas no enfrentamento do tráfico de drogas e às
alternativas políticas. A análise dos resultados coletados em cada capítulo da
pesquisa fornece uma visão abrangente das opiniões dos autores e do que os
documentos revisados demonstram.
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2.1 Danos da criminalização

A problemática da proibição das drogas no Brasil remonta a uma história


complexa de políticas e ações em relação ao consumo e tráfico de substâncias
ilícitas. As drogas, ao longo do tempo, tornaram-se um ponto focal de atenção
governamental, inicialmente concentrado na proibição e na criminalização. Essa
abordagem é marcada por uma série de legislações, sendo a mais recente a Lei de
Drogas no Brasil (Lei nº 11.343/2006), que institui penas rígidas para tráfico e posse.

Contudo, o grande desafio reside na disparidade dos impactos das políticas


de proibição, com os efeitos mais severos recaídos sobre as comunidades mais
desfavorecidas, especialmente os moradores de favelas e pessoas de baixa renda.
A guerra às drogas frequentemente se traduz em operações policiais nas áreas mais
empobrecidas, resultando em confrontos armados, violência e morte, (ASSIS,2015).

A disparidade dos impactos das políticas de proibição pode ser evidenciada


por diferenças marcantes na aplicação dessas políticas em diversas comunidades.
Por exemplo, a aplicação rigorosa da lei em áreas urbanas pobres ou em favelas,
em contraste com bairros mais afluentes, demonstra uma disparidade significativa. A
frequência de operações policiais, prisões e sentenças mais severas nessas áreas
desfavorecidas em comparação com regiões de maior poder aquisitivo reflete essa
desigualdade. Além disso, a criminalização do uso de drogas tende a ter um impacto
mais adverso sobre os mais pobres, levando a consequências socioeconômicas e
um maior estigma social nesses grupos, (ASSIS,2015).

Essas comunidades, majoritariamente afetadas pelas políticas de repressão,


enfrentam um ciclo de marginalização, estigma e insegurança, enquanto os
traficantes e grupos criminosos frequentemente encontram nesses locais uma
oportunidade para expandir seu poder. A criminalização do uso e tráfico de drogas
tem perpetuado um ciclo de violência e exclusão, afetando desproporcionalmente os
estratos sociais mais vulneráveis, evidenciando a desigualdade e a injustiça
estrutural resultante da aplicação das políticas de guerra às drogas, (ASSIS,2015).

Ficou evidente que a Lei de Drogas no Brasil é amplamente fundamentada na


proibição e na criminalização do tráfico. Autores como Andrade (2018) e Alemay
(2020) destacam a influência dessa abordagem na política de drogas brasileira. Por
11

outro lado, Couto (2023) argumenta que a formação policial deve incorporar
educação em direitos humanos para promover abordagens mais justas.

No que diz respeito às implicações sociais da Lei de Drogas, autores como


Gomes (2021) e Krapp (2019) destacaram o impacto negativo da política de drogas
no Brasil, particularmente nas comunidades vulneráveis e nas favelas. O estudo de
Rybka et al. (2018) revela as consequências do paradigma proibicionista. Por outro
lado, Serra et al. (2020) destacam o punitivismo e a militarização da segurança
pública como parte da "guerra às drogas".

Em relação à regulamentação das drogas, autores como Machado e Boarini


(2013) e Pires (2019) destacaram os benefícios da legalização da maconha,
incluindo a redução do mercado ilegal. No entanto, Gomes (2021) argumenta que o
problema das drogas deve ser analisado sob o viés da Necropolítica. A visão de
Krapp (2019) também ressalta a insuficiência normativa da legislação atual.

Ou seja, Gomes (2021) propõe uma análise do problema das drogas através
da lente da Necropolítica, um conceito que explora o poder soberano de decidir
quem pode viver e quem deve morrer. Sob essa perspectiva, a aplicação das
políticas de drogas, particularmente em áreas marginalizadas, pode ser interpretada
como uma forma de controle social, onde certos grupos são deliberadamente
expostos a riscos de morte e violência.

Dentro disse, na perspectiva apresentada por Krapp (2019), é colocado em


evidência uma questão crucial que permeia as políticas atuais de drogas: a
inadequação normativa. A compreensão da insuficiência normativa representa um
desafio significativo na busca por soluções eficazes para lidar com a complexidade
do uso e tráfico de drogas. Essa visão ressalta as limitações da legislação em
abordar de maneira efetiva os problemas reais associados ao cenário das drogas.

A incapacidade normativa apontada não se restringe apenas à questão do


tráfico, mas também se estende ao tratamento de usuários e dependentes químicos,
assim como à prevenção dos danos causados pelo uso indevido de substâncias. As
políticas existentes muitas vezes focam predominantemente na repressão e na
criminalização, deixando de lado abordagens mais holísticas e eficazes.
12

A necessidade de reformulação das políticas e estratégias relacionadas ao


uso e tráfico de drogas é ressaltada diante da constatação de que as abordagens
atuais podem ser inadequadas para lidar com as complexidades emergentes desse
cenário. Isso destaca a importância de uma revisão profunda e uma reforma na
legislação, não somente para abordar o tráfico em si, mas para promover políticas
mais abrangentes que considerem a saúde pública, os direitos individuais e a
redução de danos como componentes essenciais na resolução desse problema.

A visão de Krapp sinaliza para a urgência de estratégias mais flexíveis,


dinâmicas e adaptáveis, capazes de lidar com a dinâmica em constante evolução do
cenário das drogas. A reformulação das políticas precisa refletir as mudanças nas
dinâmicas do tráfico e no comportamento dos usuários, trazendo abordagens mais
humanizadas e efetivas para lidar com os desafios atuais e emergentes.

Essa análise reforça a importância de considerar não apenas a repressão,


mas também a prevenção, a educação e o tratamento como componentes
essenciais para lidar de forma mais completa e eficaz com o panorama das drogas,
tanto no que diz respeito ao tráfico quanto ao uso indevido, visando um equilíbrio
entre a segurança pública e a proteção dos direitos individuais.

2.2 Questão étnica

A relação entre racismo e a chamada "guerra às drogas" se manifesta de


maneira danosa, especialmente para os jovens negros e moradores de áreas
periféricas. A violência policial, muitas vezes militarizada, tornou-se um problema
significativo, resultando em casos de mortes, abusos e violações dos direitos
humanos, com frequência direcionados a esses grupos demográficos.

Santos et. al. (2017), falam sobre a relação entre o estigma social e a
representação do jovem negro e favelado como um futuro criminoso ou usuário de
drogas é uma questão de extrema relevância ao abordar as políticas relacionadas
ao tráfico de drogas e seu impacto nas comunidades marginalizadas. Esse estigma
cria um ciclo prejudicial que perpetua a discriminação e a criminalização,
contribuindo para um ambiente propício ao encarceramento em massa desses
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jovens, alimentando, por sua vez, a desigualdade e a marginalização desses grupos


na sociedade.

Os autores também apontam quem, as percepções estereotipadas enraizadas


na sociedade, muitas vezes reforçadas pela mídia e até mesmo por certas práticas
institucionais, resultam em um viés discriminatório que afeta desproporcionalmente
as comunidades negras e marginalizadas. Essa abordagem seletiva da aplicação da
lei amplifica as disparidades raciais e sociais já existentes. A consequência direta é a
super-representação de jovens negros e moradores de favelas nos sistemas de
justiça criminal, sendo frequentemente vítimas de prisões arbitrárias e condenações
desproporcionais.

Santos et al. (2017) destacam a natureza institucionalizada desse viés,


apontando como as políticas de drogas e as práticas policiais frequentemente
reforçam a marginalização e a desigualdade social. A abordagem seletiva da
aplicação da lei não apenas perpetua estereótipos prejudiciais, mas também tem um
impacto direto na vida desses jovens, privando-os de oportunidades, aumentando a
vulnerabilidade social e prejudicando seu acesso à justiça e à equidade.

Estes autores também mencionam sobre a sobrerrepresentação de jovens


negros e de favelas nos sistemas penais, dos quais, refletem não apenas uma falha
no sistema, mas também um ciclo vicioso que perpetua a exclusão social e a
desigualdade estrutural. Essa dinâmica amplifica a vulnerabilidade social desses
grupos, dificultando a construção de um futuro digno e contribuindo para o
aprofundamento das disparidades raciais e sociais já existentes.

Foi visto como necessário, dentro das falas de Santos et al. (2017), sendo
imperativo reconhecer e desafiar esses estigmas arraigados, reformando as políticas
e práticas institucionais para que sejam mais justas, equitativas e sensíveis às
nuances sociais. Isso implica não apenas em rever as abordagens punitivas, mas
em implementar estratégias que promovam a inclusão, a educação, o acesso a
oportunidades e a justiça social, visando desmantelar esse ciclo prejudicial de
estigmatização, discriminação e marginalização.

Sendo assim, a concentração das ações policiais nas áreas mais


desfavorecidas não apenas falha na redução do tráfico, mas também contribui para
uma escalada de violência, com frequentes confrontos armados entre as forças de
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segurança e traficantes. Esse cenário de confrontos frequentes resulta em mortes,


incluindo a de pessoas inocentes, e gera um clima de hostilidade e medo nas
comunidades afetadas. A aplicação da lei, muitas vezes com uso de força letal,
suscita preocupações sobre os direitos humanos e a excessiva violência policial. As
consequências mais adversas são sentidas pelos residentes das áreas
marginalizadas, limitando sua liberdade, mobilidade e a qualidade de vida, além de
expô-los constantemente a situações traumáticas decorrentes da violência nas
favelas (MEIRELES e MINAYO, 2009).

A desproporcionalidade na aplicação das leis e a marginalização das


comunidades mais carentes agravam a desigualdade social no enfrentamento às
drogas. A política de proibição recai de maneira desproporcional sobre indivíduos de
baixa renda e minorias étnicas, aprofundando a exclusão social e a vulnerabilidade
desses grupos.

Dessa forma, a análise proposta por Zamora (2012) destaca as profundas


desigualdades raciais e enfatiza o impacto direto do racismo nas políticas de drogas
implementadas no Brasil. A abordagem adotada afeta desproporcionalmente as
comunidades negras, resultando em consequências socioeconômicas e legais que
perpetuam a desigualdade social. Essas políticas têm contribuído para a
marginalização contínua desses grupos e acentuado as disparidades existentes.

O trabalho de Telles et al. (2018) traz à tona a importância crucial de


considerar as perspectivas e experiências das comunidades marginalizadas,
especialmente a juventude periférica, no âmbito do debate sobre as políticas de
drogas. Esses autores enfatizam que o envolvimento ativo e participativo desses
grupos é fundamental para a formulação de políticas mais eficazes e socialmente
justas.

Percebeu-se que, dentro das falas de Zamora, quanto Telles et al, é apontado
que a voz e a experiência da juventude periférica são centrais para a compreensão
dos impactos reais das políticas de drogas em suas vidas e comunidades. As
práticas e estratégias adotadas no combate ao tráfico de drogas muitas vezes
ignoram ou subestimam as complexas dinâmicas sociais e econômicas presentes
nas áreas periféricas, e isso resulta em medidas punitivas que agravam as
desigualdades já existentes.
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Viu-se nas falas de Zamora, quanto Telles et al., que o envolvimento ativo
desses grupos nas discussões sobre as políticas de drogas é crucial para identificar
soluções que sejam socialmente justas e eficazes. Isso implica não apenas em ouvir
as demandas e preocupações dessas comunidades, mas também em capacitar e
dar voz a esses grupos marginalizados no processo de formulação de políticas.

Notou-se com as reflexões de Zamora, quanto Telles et al., que é necessário


considerar as vivências, perspectivas e demandas das comunidades marginalizadas,
é possível desenhar políticas mais inclusivas e sensíveis às necessidades reais
desses grupos. O reconhecimento do papel ativo e fundamental dessas
comunidades na formulação de políticas mais eficazes e justas é crucial para que as
estratégias adotadas não apenas atinjam os objetivos de combate ao tráfico, mas
também promovam a equidade social e a justiça.

O ativismo e a participação ativa dessas comunidades periféricas são


elementos fundamentais para a compreensão das dinâmicas sociais, econômicas e
culturais que permeiam o cenário das drogas ilícitas. Telles et al. (2018) argumentam
que as experiências dessas comunidades, muitas vezes negligenciadas ou
estigmatizadas, oferecem insights valiosos para a formulação de estratégias e
políticas mais sensíveis às necessidades reais das populações afetadas.

O destaque dado ao papel da juventude periférica por esses autores ressalta


a importância de garantir a representatividade e a participação ativa desses grupos
nos processos decisórios que moldam as políticas de drogas. Essa abordagem
reconhece que as soluções para os desafios relacionados ao consumo e ao tráfico
de drogas não podem ser plenamente eficazes se não considerarem as perspectivas
e as realidades enfrentadas por essas comunidades.

Ao trazer à tona a relevância do ativismo e da presença ativa da juventude


periférica, Telles et al. (2018) reforçam a necessidade de uma abordagem inclusiva e
participativa na elaboração de políticas, buscando reduzir estigmas, promover a
justiça social e garantir que as soluções propostas atendam verdadeiramente às
demandas e desafios enfrentados por esses setores da sociedade.

É evidente a necessidade de um ativismo mais forte nas comunidades, pois,


um estudo conduzido por Rybka et al. (2018) delineia um cenário alarmante sobre as
consequências derivadas do paradigma proibicionista vigente nas políticas de
16

drogas. A pesquisa evidencia que a imposição de proibições e a abordagem


predominantemente punitiva têm gerado um quadro de violência e conflitos,
resultando em mortes e ferimentos no contexto da chamada "guerra às drogas".
Essa abordagem restritiva tem contribuído significativamente para a escalada da
violência, desencadeando e agravando conflitos em comunidades afetadas pelo
tráfico de substâncias ilícitas.

Além disso, Serra et al. (2020) salientam aspectos preocupantes intrínsecos


às políticas de drogas adotadas no Brasil. Em sua análise, os autores apontam para
o punitivismo exacerbado e a crescente militarização da segurança pública como
elementos críticos dessas políticas. A postura punitiva intensificada, ao invés de
abordagens mais voltadas à saúde e à redução de danos, tem gerado efeitos
nocivos, agravando a criminalização e resultando em encarceramento em massa,
especialmente de populações marginalizadas e vulneráveis.

Em relação ao punitivismo, a militarização da segurança pública, como


indicado por Serra et al. (2020), apresenta uma relação intrínseca com o
agravamento do cenário de segurança, especialmente em contextos urbanos. Essa
abordagem, muitas vezes adotada como resposta aos problemas do tráfico de
drogas, acaba contribuindo para um ciclo de violência e opressão, em vez de
promover a proteção e a segurança dos cidadãos.

O impacto da militarização é ainda mais acentuado quando se é analizado o


contexto racial. A presença exacerbada das forças militares em áreas periféricas e
de alta concentração populacional negra intensifica as tensões sociais e muitas
vezes resulta em confrontos, abusos de poder e violações dos direitos fundamentais.
Essa dinâmica não apenas alimenta a desconfiança nas instituições de segurança,
mas também perpetua um ciclo de opressão e violência que afeta
desproporcionalmente as comunidades racialmente marginalizadas, (SERRA et al.,
2020).

As operações militares, frequentemente utilizadas como estratégia de


combate ao tráfico, resultam em uma abordagem reativa que não aborda as raízes
estruturais do problema das drogas. Em vez disso, essa estratégia frequentemente
intensifica a criminalização e a estigmatização das comunidades marginalizadas,
especialmente as comunidades negras e periféricas, (SERRA et al., 2020).
17

Essa abordagem, longe de garantir a segurança dos cidadãos, amplia a


vulnerabilidade dessas comunidades, aumentando o medo, a violência e a
marginalização social. A presença ostensiva das forças militares em áreas
historicamente negligenciadas por políticas sociais adequadas gera um ciclo de
hostilidade e desconfiança entre a população e as forças de segurança, o que, por
sua vez, dificulta a construção de laços de confiança e cooperação essenciais para
uma abordagem eficaz e colaborativa na resolução dos problemas de segurança
pública, (SERRA et al., 2020).

Portanto, o impacto negativo das políticas de drogas, aliado à militarização da


segurança pública, não apenas intensifica as desigualdades sociais, mas também
aprofunda as tensões raciais, criando um ambiente propício para a violação dos
direitos humanos e acentuando a marginalização e a vulnerabilidade das
comunidades racialmente discriminadas. Foi visto como necessário repensar as
abordagens e estratégias adotadas, buscando soluções que sejam mais inclusivas,
sensíveis à diversidade e que visem, de fato, a segurança e a proteção de toda a
população, sem distinção racial ou social, (SERRA et al., 2020).

Os estudos já mencionados, apontam para a urgência de repensar as


estratégias adotadas, sugerindo a necessidade de políticas mais centradas na saúde
pública, na redução de danos e na abordagem dos problemas relacionados às
drogas a partir de uma perspectiva mais humanitária e eficaz, em detrimento de
políticas meramente repressivas e militarizadas.

2.3 Implicações legais

A relação entre as implicações legais das políticas de drogas e a estrutura


social do Brasil é de extrema relevância, conforme debatido por Alemay (2020). A
legislação vigente, particularmente a Lei de Drogas, desempenha um papel
significativo na moldagem da estrutura social do país, refletindo as abordagens e
diretrizes adotadas pelo governo na gestão do problema das drogas.

O estudo de Dall’Agnol e Lobo (2018) oferece uma análise crítica sobre a


abordagem brasileira em relação ao tema das drogas, especialmente no contexto da
estratégia conhecida como "guerra às drogas". Esse estudo destaca a ineficácia das
18

políticas baseadas no proibicionismo, ressaltando os impactos sociais negativos


gerados por essa abordagem.

Ao analisar as reflexões de Dall’Agnol e Lobo (2018) e Alemay (2020),


percebeu-se que, as consequências das políticas de drogas, como estabelecidas
pela Lei de Drogas, vão além da mera aplicação legal. Elas permeiam e influenciam
a estrutura social, contribuindo para a perpétua desigualdade, estigmatização e
marginalização, especialmente de comunidades racialmente discriminadas. A ênfase
na repressão e criminalização, aliada à estratégia de guerra às drogas, resultou em
efeitos adversos, exacerbando as disparidades sociais e raciais no país.

Tendo como base os estudos de Dall’Agnol e Lobo (2018) e Alemay (2020),


notou-se que, as implicações legais das políticas de drogas, favorecem a
abordagem punitiva e proibicionista, acabam por intensificar o ciclo de opressão e
estigmatização, afetando desproporcionalmente as comunidades mais vulneráveis.
Essas políticas perpetuam uma estrutura social que marginaliza determinados
grupos, em especial os negros e residentes de áreas periféricas, evidenciando as
lacunas e falhas na legislação e nas estratégias adotadas para lidar com o problema
das drogas.

Portanto, a análise crítica desses estudos ressalta a urgência de repensar as


políticas de drogas, considerando não apenas seus impactos legais, mas também
suas ramificações sociais. Uma mudança de paradigma, longe da abordagem
repressiva e estigmatizante, é essencial para combater a desigualdade estrutural e
construir políticas mais inclusivas e eficazes, capazes de enfrentar os desafios
relacionados ao uso e tráfico de drogas no país.

Sendo assim, percebeu-se que, vez de solucionar os problemas, a aplicação


de métodos baseados essencialmente na repressão tem contribuído para o
agravamento dos problemas sociais relacionados ao consumo e tráfico de drogas.

Ou seja, crítica apresentada por Dall’Agnol e Lobo (2018) suscita uma


reflexão profunda sobre a eficácia das políticas atuais. A ineficácia das medidas
repressivas, que tem gerado aumento da violência, crescimento do número de
pessoas encarceradas e acentuação das disparidades sociais, evidencia a urgência
de repensar o paradigma adotado para lidar com a questão das drogas.
19

Esse estudo ressalta a necessidade de reformulação das políticas públicas,


sugerindo a adoção de abordagens mais humanizadas e com embasamento
científico, voltadas para a redução de danos e promoção da saúde pública. Isso
destaca a importância de se direcionar os esforços para uma mudança de
paradigma, buscando alternativas mais efetivas e menos prejudiciais para lidar com
as questões relacionadas ao uso e tráfico de drogas no país.

Exemplo disso, é que, as leis de proibição reforçam e ampliam a


desigualdade ao concentrar a repressão e as ações punitivas nas áreas já
empobrecidas, perpetuando um ciclo de exclusão e injustiça social. A criminalização
do uso e tráfico de drogas, sobretudo em regiões marginalizadas, resulta não
apenas em uma abordagem ineficaz para reduzir o problema, mas também em um
ciclo de violência e exclusão que impacta desproporcionalmente os estratos mais
vulneráveis da sociedade, (RODRIGUES,2006).

A discussão da Lei de Drogas no contexto da guerra às drogas no Brasil


aponta para a necessidade de uma revisão das políticas, buscando uma abordagem
mais equitativa e justa para lidar com essa questão complexa, considerando os
impactos sociais e humanitários das estratégias empregadas, (RODRIGUES,2006).

Para se ter tais revisões políticas, é necessária uma abordagem das políticas
de drogas sendo intimamente ligada a tratados e acordos internacionais, como
discutido por Alemay (2020) e Silvia (2013). Estes tratados desempenham um papel
significativo na maneira como as políticas nacionais são concebidas. Embora esses
acordos possam restringir a autonomia das nações na formulação de suas políticas
de drogas, é importante destacar que ainda há margem para interpretação e
implementação flexível desses acordos. Isso permite a adaptação das políticas para
atender às necessidades particulares de cada país.

Será necessário estabelecer que o embasamento de pesquisas e estudos é crucial


para nortear as decisões dos formuladores de políticas, gestores e profissionais da
saúde. Esse suporte informacional se apresenta como um alicerce fundamental para
o desenho e a implementação de políticas mais eficientes e adaptáveis aos desafios
reais enfrentados na esfera das drogas.

No âmbito das políticas de drogas, a pesquisa conduzida por Andrade (2018)


evidencia de maneira direta o impacto da Lei de Drogas no sistema carcerário
20

brasileiro, especialmente entre indivíduos envolvidos com o tráfico de substâncias


ilícitas. Essa constatação realça as limitações da abordagem predominante,
alicerçada na proibição e na abordagem criminal do tráfico de drogas, o que
claramente sinaliza a urgência de repensar as estratégias regulatórias e de
aplicação das leis pertinentes ao universo das drogas.

Nesse contexto, a análise realizada por Gomes (2021) sobre as políticas de


drogas, sob a ótica da necropolítica, destaca como essas diretrizes têm contribuído
para a violência e a mortalidade em comunidades mais vulneráveis. Isso destaca a
interligação entre a política criminal, as estruturas de poder e as consequências
socioeconômicas, enfatizando a necessidade de um redirecionamento nas práticas
regulamentares e de execução das políticas voltadas para as drogas.

A necropolítica, termo cunhado por Achille Mbembe, é um conceito que


descreve o poder soberano do Estado em decidir sobre a vida e a morte dos
cidadãos. No contexto da proibição das drogas no Brasil, a necropolítica pode ser
observada nas políticas de segurança pública e de repressão ao tráfico de drogas,
que frequentemente resultam em altos índices de violência e morte, especialmente
nas áreas marginalizadas.

A desigual aplicação dessas medidas, direcionando-se com maior severidade


a comunidades periféricas, majoritariamente habitadas por pessoas de etnia negra e
com menor poder aquisitivo, sugere uma lógica de controle que sacrifica essas
populações, perpetuando um cenário de violência e morte em vez de promover
proteção e segurança. Essa abordagem reforça de forma substancial as
disparidades sociais e raciais, destacando como a proibição das drogas, vinculada a
estratégias baseadas na repressão e no encarceramento em massa, contribui para a
perpetuação de um ciclo de violência e marginalização, reforçando a lógica da
necropolítica no contexto nacional.

No mesmo viés, autores como Rybka et al. (2018) evidenciam as


consequências do paradigma proibicionista, que culminam em mortes e ferimentos
na denominada "guerra às drogas". Em paralelo, Serra et al. (2020) apontam o
punitivismo e a crescente militarização da segurança pública como elementos
inquietantes nas políticas de drogas no Brasil, ressaltando a urgência de reavaliar
tais estratégias e suas implicações sociais.
21

Neste panorama, os autores Ribeiro, Soares e Krenzinger (2022) destacam a


importância de uma avaliação criteriosa das medidas políticas à medida que são
implementadas. Isso implica não apenas na coleta e análise de dados pertinentes,
mas também na avaliação contínua dos impactos sociais e de saúde decorrentes,
visando reformular e direcionar políticas punitivas rumo a estratégias mais eficazes e
equitativas.

Em 2021, dados globais indicam um aumento significativo no uso de drogas,


revelando um aumento na quantidade de pessoas que usaram drogas injetáveis em
13,2 milhões, um aumento de 18% em relação ao ano anterior. Esses dados se
estendem para um universo maior, englobando mais de 296 milhões de pessoas que
fizeram uso de drogas em 2021, mostrando um aumento de 23% em comparação à
década anterior. Consequentemente, o número de pessoas que sofrem de distúrbios
relacionados ao uso de drogas cresceu para 39,5 milhões, representando um
aumento de 45% ao longo de 10 anos (UNODC, 2023).

Essa abordagem punitivista tem se prolongado ao longo do tempo, como


ilustrado por Soares (2006) em "Elite da Tropa" e L. B. Dall'Agnol e P. T. Lobo (2018)
em seu artigo "Guerra às drogas: uma análise crítica sobre a retórica proibicionista,
a ineficácia e o desastre social." Ambos os trabalhos oferecem uma visão
abrangente e crítica sobre os impactos negativos das políticas de drogas,
evidenciando a necessidade de revisão e reforma dessas estratégias.

As críticas ao paradigma proibicionista nas políticas de drogas, descritas por


autores como Rybka, Nascimento e Guzzo (2018), se concentram nas graves
consequências dessa abordagem, incluindo os mortos e feridos no âmbito da
"guerra às drogas". Tais análises reforçam a necessidade premente de uma
mudança paradigmática, direcionada à minimização do sofrimento humano. Propõe-
se, então, uma reformulação das políticas de drogas, almejando uma abordagem
centrada no bem-estar da população, desvinculada do punitivismo e focada na
promoção da saúde do usuário.

Para se ter essa visão mais humanizada, primeiramente, é necessário desviar


o foco do sistema penal para políticas mais voltadas para a saúde pública e redução
de danos é fundamental. Isso pode envolver a descriminalização do uso e posse de
drogas, direcionando os recursos para programas de tratamento e prevenção. Além
22

disso, investimentos maciços na educação, fornecendo informações claras e


baseadas em evidências sobre os riscos associados ao uso de substâncias, podem
ser altamente benéficos. A corrupção e as atividades das milícias podem ser
combatidas por meio de uma aplicação mais rigorosa da lei contra os indivíduos
envolvidos nesses grupos criminosos, reforçando a integridade e a eficácia das
instituições policiais e do sistema de justiça.

A abordagem de fortalecimento das políticas sociais nas comunidades


atingidas é crucial para mitigar o envolvimento com o tráfico e as milícias,
promovendo oportunidades educacionais, de emprego e desenvolvimento
comunitário. Tal estratégia visa enfrentar a vulnerabilidade social que
frequentemente serve como um ímã para o ingresso no universo das drogas ilícitas.

Autores como Alemmany (2020) evidenciam a interconexão entre punição e a


estrutura social brasileira, demonstrando como as políticas de drogas podem ser
permeadas por dinâmicas de poder e estrutura social. Esses elementos
frequentemente resultam em práticas punitivas, ilustrando a influência dos contextos
sociais e de poder nas políticas adotadas.

A regulamentação da maconha é objeto de debate, e autores como Machado


e Boarini (2013) e Pires (2019) discutem essa possibilidade à luz da experiência de
outros países. Essa estratégia oferece a perspectiva de redução do mercado ilegal e
a geração de receitas fiscais. Contudo, tais autores também consideram os riscos
associados a um possível aumento no consumo, enfatizando a necessidade de
ponderar os benefícios e desafios dessa abordagem.

2.4 Redução de danos

A política de redução de danos em relação às drogas ilícitas envolve


estratégias focadas na minimização dos riscos e danos associados ao uso de
substâncias, sem necessariamente exigir a abstinência total. No Brasil, os mais
afetados pelo problema das drogas, em termos de idade, sexo, cor da pele e classe
social, são geralmente jovens, principalmente do sexo masculino, pertencentes a
comunidades marginalizadas, frequentemente de cor não branca e com menor
acesso a recursos socioeconômicos, (PIMENTA, 2015).
23

Globalmente, as melhores formas de políticas de redução de danos são


baseadas em programas de troca de seringas, oferta de tratamentos de substituição
de opiáceos, salas de consumo supervisionado, distribuição de naloxona para
prevenir overdoses, programas de educação e prevenção, além de abordagens
voltadas para a saúde pública que visam a minimizar danos à saúde e a reduzir os
riscos sociais associados ao uso de drogas ilícitas. Essas estratégias têm como
objetivo não só diminuir os impactos negativos do consumo, mas também promover
a segurança e o bem-estar dos usuários, abordando as questões de saúde e sociais
inerentes ao uso de drogas, (PIMENTA, 2015).

Além disso, o uso de naloxona para prevenir overdoses tem sido eficaz em
muitos países, como nos Estados Unidos, onde programas de distribuição de
naloxona têm ajudado a reduzir as mortes por overdose. Programas de tratamento
de substituição de opiáceos, como a terapia de manutenção com metadona ou
buprenorfina, demonstraram ser eficazes na redução de danos associados ao uso
de drogas opióides em locais como o Canadá e alguns países europeus,
proporcionando alternativas seguras e eficazes para os usuários de drogas. Essas
estratégias não apenas reduzem danos individuais, mas também têm impactos
positivos na saúde pública e na diminuição de práticas de risco associadas ao
consumo de drogas ilícitas, (PIMENTA, 2015).

As discussões em torno da redução de danos, conforme destacadas por


Dall'Agnol e Lobo (2018) e Pimenta (2015), enfatizam a importância de minimizar os
danos associados ao consumo de drogas. Esta abordagem concentra-se na
implementação de medidas como a distribuição de seringas limpas e programas de
tratamento para dependentes. No entanto, Rybka et al. (2018) questionam o
paradigma proibicionista, o que instiga uma reflexão sobre a eficácia dessa
estratégia.

A perspectiva dos estudos acadêmicos ressalta a participação ativa da


juventude residente nas áreas periféricas nas discussões sobre políticas de drogas,
conforme destacado por Telles et al. (2018). Essas análises sugerem que dar voz e
envolver os jovens no processo decisório pode levar a abordagens mais eficazes,
pois eles têm um conhecimento mais aprofundado das dinâmicas locais.
Implementar essa premissa requer a criação de espaços que permitam aos jovens
24

expressarem suas preocupações, necessidades e ideias, integrando suas


perspectivas na formulação das políticas em questão.

Nutt (2019) ressalta a importância de programas de prevenção embasados


em evidências científicas, enfatizando que esses programas são elaborados com
base em pesquisas que comprovam sua eficácia na redução do uso problemático de
substâncias entorpecentes.

Os estudos de Alemay (2020) e Silvia (2013) contribuem significativamente


para a compreensão das políticas de drogas a partir de uma perspectiva mais
abrangente no âmbito das relações internacionais. Esses autores destacam a
influência dos acordos e tratados internacionais na formulação de políticas nacionais
sobre drogas.

Alinhado a essa compreensão, a pesquisa de Figueiredo Toledo et al. (2017)


sobre o intrincado cenário das milícias no Rio de Janeiro ressalta a interconexão
complexa entre a violência e o tráfico de drogas. Essa análise sublinha a
necessidade de adotar abordagens multifacetadas para prevenir o uso problemático
de drogas, levando em consideração fatores socioeconômicos, políticos e de
segurança.

Nesse contexto, medidas que envolvem estratégias de segurança pública,


implementação de políticas sociais e programas de prevenção direcionados às áreas
afetadas se mostram fundamentais na mitigação desse desafio complexo. A
aplicação prática dessas medidas reside na implementação de programas nas
instituições educacionais e nas comunidades. Estes programas incluem atividades
de sensibilização, treinamento de habilidades para a vida, suporte psicossocial e
intervenções específicas voltadas para grupos com maior suscetibilidade ao uso
problemático de drogas.

Em exemplo para ilustrar a importância de uma política de redução de danos,


existe o "Relatório Mundial sobre Drogas 2022" do UNODC é uma referência
importante que destaca diversas tendências e preocupações relevantes para as
políticas de drogas. Ao abordar a pós-legalização da cannabis, o relatório oferece
uma análise das implicações e impactos observados em regiões onde houve
mudanças na regulamentação dessa substância. Além disso, a atenção aos
25

impactos ambientais das drogas ilícitas reflete uma compreensão mais ampla das
consequências ecológicas associadas ao cultivo e produção de substâncias ilegais.

Segundo o relatório, aproximadamente 284 milhões de indivíduos, na faixa


etária de 15 a 64 anos, fizeram uso de substâncias entorpecentes em 2020,
representando um aumento de 26% em comparação com uma década anterior. O
consumo de drogas entre os jovens tem aumentado, evidenciando níveis superiores
de uso em muitos países em relação às gerações anteriores. Na África e na América
Latina, a maioria das pessoas em tratamento devido a distúrbios relacionados ao
uso de drogas está na faixa etária inferior a 35 anos.

Globalmente, o relatório calcula que, em 2020, aproximadamente 11,2


milhões de indivíduos estavam fazendo uso de drogas por via injetável. Destes,
estima-se que metade esteja convivendo com o vírus da hepatite C, 1,4 milhões
estejam infectados pelo HIV, e 1,2 milhões convivam com ambas as infecções.

No relatório, o recorte é focado na discussão sobre o uso de drogas por


mulheres e jovens destaca a necessidade de compreender as disparidades de
gênero e as particularidades do consumo entre diferentes faixas etárias, aspectos
fundamentais na formulação de estratégias de prevenção e tratamento. O relatório,
ao abordar essas questões, oferece uma visão abrangente e atualizada do
panorama das drogas ilícitas, fornecendo insights valiosos para a formulação de
políticas e intervenções mais informadas e direcionadas.
26

CONCLUSÃO

Ao longo de nossa discussão, abordamos uma ampla gama de tópicos


relacionados às políticas de drogas, seus impactos e as possíveis abordagens para
enfrentar os desafios existentes. Desde o exame das políticas punitivas e suas
consequências sociais até a discussão sobre a influência dos tratados internacionais
e a importância de uma abordagem mais voltada para a saúde pública, diversos
aspectos foram explorados.

A compreensão da interconexão entre a violência, o tráfico de drogas e as


políticas socioeconômicas e de segurança mostrou-se essencial para delinear
estratégias eficazes de prevenção e intervenção. A crítica ao paradigma
proibicionista, enfatizando a importância da redução de danos e a participação ativa
da juventude nas áreas afetadas, aponta para a necessidade de reformulações
estruturais e políticas na abordagem do problema das drogas.

A discussão sobre a necessidade de adotar uma perspectiva mais ampla,


considerando fatores internacionais, locais e sociais, enfatiza a complexidade do
tema e a importância de políticas mais abrangentes, que incorporem abordagens
multidisciplinares e colaborativas.

É importante ressaltar que o desenvolvimento de políticas eficazes e


abrangentes em relação às drogas requer a consideração não apenas das práticas
atuais, mas também de uma visão que abarque o panorama histórico, sociocultural e
os contextos internacionais. A interseção entre a segurança pública, a saúde, a
economia e a justiça social é fundamental para abordar o problema das drogas de
maneira mais eficaz.

A discussão sobre a prevenção do uso problemático de drogas, a redução de


danos, a implementação de políticas mais inclusivas e a participação ativa de
27

comunidades e jovens em decisões-chave são elementos essenciais para criar


abordagens mais efetivas e humanas.

Além disso, a necessidade de analisar criticamente as políticas em


andamento, considerar estratégias alternativas, como a regulamentação da
maconha, e aprender com experiências de outros países podem contribuir para a
formulação de políticas mais informadas, flexíveis e voltadas para o bem-estar geral
da sociedade.

Portanto, a busca por soluções mais abrangentes e inclusivas requer uma


abordagem proativa, colaborativa e progressiva, a fim de lidar não apenas com os
problemas imediatos, mas também para estabelecer alicerces sólidos para a
construção de um cenário mais saudável e justo no contexto das políticas de drogas.

Em suma, as políticas de drogas são um desafio multifacetado que requer


uma resposta multifacetada. A abordagem não deve se limitar à repressão, mas sim
considerar a saúde pública, a prevenção, a educação e a participação ativa das
comunidades para encontrar soluções mais abrangentes e eficazes. A
interdisciplinaridade e o compromisso com abordagens centradas no bem-estar

Esta conclusão encerra a análise deste artigo e ressalta a importância de


repensar as políticas de drogas no Brasil para torná-las mais eficazes e justas,
contribuindo para um futuro mais saudável e seguro.
28

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