Você está na página 1de 10

ANÁLISE SOBRE A LEGALIZAÇÃO DAS DROGAS

1. Introdução

A problemática da legalização das drogas necessita, no intuito de compreendê-la de


maneira efetiva, de considerações históricas acerca de seu oposto que é a criminalização, a
qual ainda está em vigor no Brasil. Para isso, o estudo de Brandão (2017) que se caracteriza
por elaborar uma genealogia (metodologia utilizada tanto por Nietzsche, quanto por Foucault
em seus estudos) do proibicionismo e da criminalização das drogas no Brasil é elucidativa
quando se trata desta temática. Nesse sentido, o proibicionismo inicialmente, aliado à
posterior perspectiva de criminalização das drogas, surge segundo Karam (2009) no século
XX. Logo, em termos de conceituação vai considerar o proibicionismo enquanto um
posicionamento ideológico e moralista em que comportamentos e produtos tidos como
negativos, recebem a intervenção do Sistema Penal, sem deixar espaço para as escolhas
individuais (KARAM1, 2009, p. 3 apud BRANDÃO, 2017, p. 94). No entanto, segundo
Escohotado (2004) já no século XIX começou-se a descobrir os princípios ativos de algumas
plantas que eram utilizados para alteração de consciência e para fins medicamentosos, tais
como a morfina (1806), a codeína (1832), a cafeína (1841), a cocaína (1860), entre outras
(ESCOHOTADO2, 2004 apud BRANDÃO, 2017).

Dessa forma, a primeira legislação no Brasil que trata das drogas data de 1890, em
seu artigo 159 que versa sobre a conduta de “expor à venda, ou ministrar, substâncias
venenosas”, sem autorização ou sem as formalidades devidas, a qual seria penalizada com o
pagamento de multa (BRANDÃO, 2017). Assim, mesmo diante desse dado, ainda não é
possível considerar essa uma política proibicionista sistematizada. Entretanto, a ascensão do
proibicionismo se dá através de iniciativas dos Estados Unidos, as quais reverberam em
muitos eventos decisivos para a implementação das políticas de criminalização das drogas.
Entre esses eventos está a Convenção Internacional sobre o Ópio, realizada em Haia no ano
de 1912 pelos membros da Liga das Nações. O texto desse evento constitui em 1919 o
Tratado de Versalhes que legitimava a responsabilidade do Estado em velar o uso de algumas
drogas, marcando assim, segundo Brandão (2017) o início propriamente dito da
sistematização do proibicionismo a nível internacional. Diante disso, ainda no contexto
estadunidense, foi elaborada a Lei Seca no ano de 1920 a qual estabelecia multa e
encarceramento para quem utilizasse as drogas, no entanto, por ter resultado em um aumento
exacerbado de aprisionados e de envenenados, foi revogada em 1933 (BRANDÃO, 2017).

Retornando ao contexto brasileiro, ainda que de maneira preliminar, os


acontecimentos internacionais levam à alteração da então Consolidação de Leis Penais em
1932, a qual passa a prever não somente a multa, mas a privação de liberdade a quem se
utilizasse das substâncias entorpecentes. Em contrapartida, com a influência do movimento
da contracultura na década de 1950 nos Estados Unidos, houve um aumento no uso de
diversas substâncias, entre elas a LSD (Dietilamida de Ácido Lisérgico), inclusive por
psicólogos como Timothy Leary, que preconizava pela expansão da consciência que a

1
KARAM, M. L. (2009) Proibições, riscos, danos e enganos. Rio de Janeiro: Lumen Juris.
2
ESCOHOTADO, Antonio. (2004) História elementar das drogas. Tradução de José Colaço Barreiros. Lisboa:
Antígona.
substância proporciona. Porém, em 1966 a LSD foi considerada ilegal, após a aprovação da
Convenção Única de Entorpecentes de Nova York, e a guerra contra as drogas se estabeleceu
de maneira ainda mais incisiva. Paralelamente às consequências desses eventos nos Estados
Unidos, o Brasil adentrava em 1964 na ditadura militar e, tendo em vista esse contexto,
Brandão (2017) vai listar a influência de dois modelos ideológicos para as ações
proibicionistas especificamente no Brasil: O Movimento de Defesa Social (MDS), que atuava
na ideias legislativas e suas aplicações judiciais, e a Doutrina da Segurança Nacional (DSN)
que determinava as políticas de Segurança Pública sob o viés militar.

Diante disso, levando em consideração o tratamento coercitivo que se dava a


utilização das drogas, (CARVALHO3, 2010, p. 24 apud BRANDÃO, 2017, p. 108) argumenta
acerca da consolidação do discurso médico-jurídico-sanitarista que associa a dependência ao
delito, e possibilita a construção de estereótipos e estigmas sobre este grupo. Fato que
necessita de uma intervenção eficaz, pois esta marginalização pode gerar sofrimentos de
diversas ordens nos sujeitos. Contudo, passados os anos de auge da Ditadura Militar,
esperava-se um outro posicionamento em relação às políticas sobre as drogas. Entretanto,
quando o Brasil promulga a Constituição de 1988 ocorre a Convenção de Viena no mesmo
ano, a qual aprofunda as tendências repressivas. Assim, mesmo em um contexto de
redemocratização, a política de criminalização das drogas persistiu, e em 1996 foi criado o
Programa de Ação Nacional Antidrogas (PANAD) o qual buscou em seu discurso, reprimir o
tráfico, auxiliar os dependentes e cooperar internacionalmente (BRANDÃO, 2017). Portanto,
somente em 2006 foi promulgada a atual Lei 11.343/06, que institui o Sistema Nacional de
Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD). Faz-se necessário ressaltar contudo, que
recentemente no ano de 2019, um projeto de Lei do Senado brasileiro foi aprovado,
promovendo a alteração e revogação de alguns artigos da Lei original de 2006, e suas
principais mudanças são explicitadas abaixo.

Assim, diante das aprovações de 2019, a nova Lei que rege sobre o Sistema Nacional
de Políticas Públicas sobre Drogas (SISNAD) institui, entre outras legitimações, que a pena
mínima para o tráfico de drogas passa de 5 para 8 anos, e a pena máxima permanece 15 anos
de reclusão. Permite a alienação de bens utilizados no tráfico de drogas, bem como determina
a preferência por internações dos usuários em ambulatórios, podendo ser realizadas de
maneira involuntária por até três meses, quando solicitado pela família ou responsável legal.
Além disso, as comunidades terapêuticas e acolhedoras, cujas internações acontecem somente
de maneira voluntária, foram incorporadas ao SISNAD. Nesse sentido, é exigido que em cada
intervenção seja elaborado juntamente com os familiares um Plano Individual de
Atendimento (PIA). Portanto, no que se refere ao processo de reabilitação, implementou-se
que 3% das vagas em obras licitadas pelo setor público seriam destinadas aos usuários do
Sistema, bem como 30% das doações do Imposto de Renda seriam viabilizadas para
programas dos Conselhos Estaduais de Políticas sobre Drogas. Por fim, a quarta semana do
mês de junho foi estabelecida enquanto a Semana Nacional da Política de Drogas. E assim,
foi delimitado o campo de ação de cada uma das instâncias governamentais, definindo-se
3
CARVALHO, Salo de. (2010) A política criminal de drogas no Brasil (estudo criminológico e dogmático da
Lei 11.343/06). 5. ed. Rio de Janeiro: Lumen Juiris.
como deve ser a atuação dos Conselhos sobre Políticas sobre Drogas em cada ente federado
(AGÊNCIA SENADO, 2019).

Ademais, vale ressaltar a necessidade da discussão sobre as políticas de drogas


alternativas ao modelo criminal. Dessa forma, Dantas (2017) vai estabelecer uma clara
distinção entre descriminalização das drogas e legalização das drogas ilícitas. O autor
argumenta que, em linhas gerais, na ação de descriminalizar o uso das drogas, o flagrante do
uso de pequenas quantidades não receberia intervenção policial, no entanto, o comércio não
seria regularizado e a depender do volume encontrado, o crime do tráfico ainda seria
estabelecido. Em contrapartida, quando se trata da legalização das drogas ilícitas, há a
permissão do uso e do comércio das drogas, exigindo-se autorização para a compra e a venda
dessas substâncias. Nesse sentido, outra política alternativa, além destas, em relação à
utilização das drogas e que é realizada no Brasil é a Redução de Danos, a qual foi
estabelecida no país pela primeira vez no ano de 1989, contexto marcado pela disseminação
do HIV e da AIDS. Dessa forma, em pronunciamento oficial a Associação Internacional de
Redução de Danos (IHRA) conceitua suas ações como “um conjunto de políticas e práticas
cujo objetivo é reduzir os danos relacionados ao uso de drogas psicoativas em pessoas que
não podem ou não querem parar de usar drogas”. Portanto, a prática é norteada por princípios
como a evidência científica e o custo efetivo; a dignidade e a compaixão; os direitos
universais e interdependentes; o questionamento de políticas e práticas que aumentam os
danos; e, por fim, a transparência, a prestação de contas e a participação (IHRA, 2010).

1. Experiências de países onde há legalização do uso de drogas

Portugal

Portugal é um exemplo do que pode ser feito quando as políticas de drogas priorizam
a saúde no lugar da criminalização. Uma das medidas que fizeram parte dessa Estratégia
Nacional foi a descriminalização do consumo de todas as substâncias psicoativas através da
aprovação da Lei n.º 30/2000, de 29 de novembro que define o regime jurídico aplicável ao
consumo de entorpecentes e substâncias psicotrópicas, bem como a proteção sanitária e social
das pessoas que consomem tais substâncias sem prescrição médica e, posteriormente, no
Decreto-Lei n.º 130-A/2001, de 23 de abril houve a permissão de deixar de se considerar
crime o consumo, a aquisição e a posse para consumo próprio das drogas (PORTUGAL,
2001).

De acordo com o The European Monitoring Centre for Drugs and Drug Addiction
(EMCDDA, 2015) a posse de drogas para uso pessoal é, em vez disso, tratada como uma
infração administrativa, o que significa que não é mais punível com prisão e não resulta em
registro criminal e estigma associado.

O recorte histórico sobre o início do uso de drogas em Portugal direciona o olhar para
o processo e fomento do pensamento em relação à descriminalização no país
A sociedade portuguesa era conservadora até o final da década de 60 e início da
década de 1970, pouco aberta às sociedades modernas ocidentais, governada por
uma ditadura militar e com grande influência da Igreja Católica. Por estes motivos,
o fenômeno do uso de drogas iniciou-se mais tarde e com menor impacto do que em
outros países europeus (MENDES et al., 2019, p. 3396).

É importante ressaltar que a descriminalização do porte pessoal é apenas uma parte


das reformas mais amplas da política de drogas centradas na saúde, que envolve um foco
maior na redução de danos e no fornecimento de tratamento. Ao aceitar a realidade do
consumo de drogas em vez de esperar eternamente que desapareça em resultado de legislação
repressiva, a reforma portuguesa permite que as drogas sejam tratadas como uma questão de
saúde, em vez de uma questão criminal. Os benefícios dessas reformas, portanto, surgem
tanto da descriminalização, em si quanto do estabelecimento de uma resposta mais ampla
com base na saúde para os problemas das drogas

Relatórios elaborados tendo em conta a ampla base de dados acumulados desde a


implementação dessa nova política portuguesa permitem constatar como resultado:
i) Pequenos aumentos no uso de drogas ilícitas entre adultos; ii) Redução do uso de
drogas ilícitas entre usuários problemáticos de drogas e adolescentes, pelo menos
desde 2003; iii) Redução das condenações judiciais por crimes de drogas; iv)
Aumento da aceitação do tratamento medicamentoso; v) Redução de mortes
relacionadas a opiáceos e doenças infecciosas (BORTOLOZZI JUNIOR, 2018, p.
221-222).

A reflexão permeada através do exemplo de Portugal torna aberto o debate a respeito


da proibição e criminalização em outros países. É notável que essa discussão representa um
impacto cada vez maior na vida cotidiana. Refinar o entendimento a respeito das origens e
resultados dessa proibição pode ser um caminho legítimo para contribuição e formulação de
políticas no futuro, em direção à racionalidade efetiva dessas práticas.

Uruguai

Um exemplo mais próximo geograficamente do Brasil é o Uruguai, país sul


americano que propôs inicialmente uma política de drogas no ano de 1998 através da Lei nº
17.016 com a qual houve uma abertura para os usuários em relação ao consumo pessoal, não
sendo mais tipificado no código penal do país e ainda, um acréscimo nas penas em relação ao
tráfico. O artigo 31º da lei apresenta que “Ficou isento de pena quem tivesse em seu poder
uma quantia razoável destinada exclusivamente ao consumo pessoal, de acordo com a
convicção moral formada pelo juiz a esse respeito” (URUGUAY, 1998).

De acordo com Hypolito (2018) a falta de orientações diretas onde há a distinção entre
o consumo e o tráfico deixaram o usuário a mercê de um território de indefinição, visto que
as leis penais têm tendência de recair sobre uma parcela específica da população.

Passado um tempo após a adoção dessa política, o Uruguai se tornou o primeiro país a
legalizar, em 2013, a produção e a comercialização de produtos derivados da Cannabis. Esse
passo significou não apenas um distanciamento em relação à estratégia nacional de política
de drogas vigente há muitos anos, mas também um distanciamento frente às diretrizes para a
política de combate às drogas, definida em tratados internacionais

Dentre as inovações políticas mais notáveis dos últimos anos na América Latina
está certamente a legalização da Cannabis no Uruguai em dezembro de 2013, que
fez com que o país se tornasse pioneiro na política de drogas e também viesse a ser
um caso experimental importante para a comunidade internacional. A experiência
levaria o Uruguai a ser o primeiro país no mundo a incluir todas as etapas do
mercado da Cannabis, desde a produção até a distribuição, em seu quadro legal. O
governo de centro-esquerda de José Mujica justificou esse passo com o argumento
de que, sob o risco de perder a guerra contra as drogas, seria necessário levar
adiante novas abordagens na política de drogas (KESTLER, 2021, p. 276).

O modelo uruguaio de regulação e controle do mercado da Cannabis corresponde à


Lei nº 19.172 (URUGUAY, 2014), que foi promulgada no dia 20 de dezembro de 2013 e
publicada no dia 07 de janeiro de 2014, com o nome de Regulación y Control del Cannabis.
No dia 5 de maio de 2014 entrou em vigor o Decreto de Regulamentação da lei nacional,
trazendo complementos normativos importantes para a política de controle sobre a
cannabis, alguns itens são relevantes dessa legalização.

Sobre a política de controle uruguaia a respeito da cannabis, Lemos e Rosa (2015, p.


85) acentuam que: “1) instaura regras claras sobre porte, plantação e fornecimento; 2) veda
qualquer tipo de propaganda sobre o tema; 3) mantém a criminalização do tráfico e produção,
quando fora dos limites permitidos; 4) cria um registro nacional de usuários”. Ainda,

A despeito de ser obviamente uma via de legalização, que propicia a


circulação de cannabis dentro de limites lícitos, cabe ressaltar o fato de que o
modelo uruguaio não rompeu completamente com o paradigma da
criminalização. Conforme se pode verificar na leitura do art. 7º da nova lei (altera o
art. 31 da lei anterior), ainda há previsão de pena de 20 meses a 10 anos de prisão
para quem atuar (importar, exportar, introduzir em trânsito, distribuir, transportar,
ter em seu poder não para seu consumo, for depositário, estocar, possuir, oferecer à
venda ou negociar de qualquer modo) fora dos limites da lei. Isto representa,
portanto, que houve legalização sem descriminalização total, de forma que o país
ainda prevê jurisdição criminal sobre aqueles que extrapolem as formas
autorizadas de produção/fornecimento da Cannabis (LEMOS; ROSA, 2015,
p. 86).

Mas não se pode fechar os ouvidos para críticos da rigidez do sistema. Vozes já se
levantam para apontar que, por ser muito restritiva, a proposta do país tem baixa capacidade
para reduzir o mercado ilícito tal como desejado, já que a demanda pode ser maior do que
o discriminado na lei (PARDO, 2014, p.734). Pode-se concluir que a implantação da
política de drogas no Uruguai provocou mudanças, mas apenas em relação à Cannabis. O
paradigma proibicionista em relação às outras drogas não foi alterado. Uma mudança nesse
paradigma dependerá do êxito da política uruguaia em relação às outras drogas e essa
concretização ainda não é possível.
2. Argumentos Favoráveis e Contrários à Legalização

A discussão acerca da legalização ou criminalização das drogas é repleta de


posicionamentos distintos e, principalmente, saturada de valores políticos e morais, visto que
as substâncias ilícitas, na grande maioria dos países, ainda são ilegais e, normalmente,
associadas à criminalidade, havendo recusa, por parte da sociedade, até pelo seu uso
medicinal.

No Brasil, o debate favorável ou contrário à legalização é “profundamente


ideológico” e, com isso, “[...] não ficamos mais esclarecidos a respeito da melhor política a
ser seguida.”, por isso, existem argumentos diferentes em relação à tal prática. Analisando-se,
inicialmente, as opiniões favoráveis tem-se que: a proibição não é capaz de conseguir deter o
comércio das drogas ilegais, tendo em vista que o tráfico só aumenta no país, principalmente
nas áreas marginalizadas, por isso diz-se haver um fracasso na guerra às drogas - alimentada
pelo discurso proibicionista -, pois é impossível conter a venda. Além disso, é utópico pensar
que seria capaz persuadir as pessoas a não cometerem determinados atos com base na
aplicação de castigos (RODRIGUES, 2005). Dessa forma, a venda das drogas ilícitas, no
Brasil, por exemplo, é considerada crime, de acordo com a Lei 11.343/2006 (BRASIL, 2006),
no seu artigo 33º que proíbe qualquer tipo de venda, compra, produção, armazenamento,
entrega ou fornecimento, mesmo que gratuito, de drogas sem autorização ou em
desconformidade com a legislação pertinente. Logo, segundo dados do Ministério da Justiça e
Segurança Pública os crimes relacionados ao tráfico de drogas são a maior incidência que
leva pessoas às prisões, com 28% da população carcerária total (MJSP, 2016). Ainda assim, a
prática persiste evidenciando que a punição não corrobora como o esperado.

Por fim, o uso das drogas ilícitas com fins medicinais – humanos ou veterinários - ,
também é usado como argumento para legalizar, em especial a Cannabis Sativa, conhecida
como a maconha, pois já existem evidências sobre a sua eficácia em alguns tratamentos de
doenças degenerativas e cerebrais. Nessa perspectiva, constam as possíveis soluções:

A primeira e mais radical das propostas em voga é a liberação total da venda e do


consumo de drogas. Ao argumento que a guerra contra as drogas é um fracasso,
devido ao aumento do consumo e da traficância, além da ineficácia do sistema
ressocializador (...) A segunda proposta é a de legalização e regulação da venda de
todas as drogas, como forma de combater as máfias destinadas ao tráfico e garantir
a qualidade do material oferecido para evitar overdoses.(...). Outra hipótese seria a
legalização apenas do consumo individual de todas as drogas, que seriam tratadas
como o álcool ou o tabaco (...).Outra solução seria a descriminalização do uso, com
a manutenção da proibição somente na esfera administrativa. Deixaria de ser crime,
mas continuaria sendo proibido (CARVALHO4, 2010 apud ALVARENGA;
GOMES, 2019).

Há também os que têm opiniões contrárias à legalização, não existem estudos


profundos que se desdobrem neste assunto, já que a maioria das pesquisas demonstra valores
4
CARVALHO, José Theodoro Corrêa de. Descriminalização das Drogas: Será o que
a sociedade quer?. In: Ministério Público do Distrito Federal e Territórios, Distrito
Federal, 27/04/2010 [Internet]. Disponível em:
http://www.mpdft.gov.br/portal/index2.php?option=com_content&do_pdf=1&id=2524.
negativos para dependentes e não revelam os benefícios que venham a existir a respeito do
uso casual. Existem também aqueles que afirmam que ocorreria uma demanda muito grande
de dependentes pós legalização e, em contraponto, uma falta de ambientes públicos de
recuperação, ou seja, as famílias de classes menos favorecidas iriam sofrer com a liberação.
Também estão contrários à legalização estão os que pensam que defender a
normatização/regulamentação das drogas é fazer apologia ao seu uso, dado que aumentaria o
consumo, inclusive para os que não são usuários, incluindo desde adolescentes à adultos
(LARANJEIRA, 2010).

Por fim, para além do simples “contra e a favor” têm os não usuários favoráveis a
legalizar o ilícito, e usuários que condenam o próprio comportamento. De acordo com a
teoria construtivista do desenvolvimento moral de (KOHLBERG5, 1981 apud VENTURI,
2017), a partir das pesquisas seminais de (PIAGET6, 1977 apud VENTURI, 2017) esses
posicionamentos decorrem de perspectivas sócio morais distintas, como por exemplo, o fato
de haver não usuários antiproibicionistas, pode encaixá-los no estágio pós-convencional do
desenvolvimento moral, visto que julgam criticamente a lei com base em um ponto de vista
moral autônomo. Já os usuários que condenam a legalização se colocam na expressão da
perspectiva convencional, típicos comportamentos de quem tende a tomar o legal sempre
como o correto, ou o pré-convencional, no qual admitem agir contra a regra, mas acreditam
na punição dos que a transgridem (VENTURI, 2017).

5
KOHLBERG, Lawrence. (1981), Essays on moral development. Vol. 1: The philosophy of moral
development. São Francisco, Harper & Row.
6
PIAGET, Jean. ([1932] 1977), O julgamento moral na criança. São Paulo, Mestre Jou.
Referências

AGÊNCIA SENADO. Senado aprova projeto que altera política nacional sobre drogas.
Brasília, 15 maio. 2019. Disponível em:
https://www12.senado.leg.br/noticias/materias/2019/05/15/senado-aprova-projeto-que-altera-
politica-nacional-sobre-drogas. Acesso em: 13 set. de 2021.

ALVARENGA, C. L. C.; GOMES, N. C. C. A descriminalização ou legalização das drogas?


Uma breve análise com base nos princípios filosóficos do utilitarismo e o princípio da
intervenção mínima. Jornal Eletrônico Faculdades Integradas Vianna Júnior, [S. l.], v. 5,
n. 1, p. 22, 2019. Disponível em: https://jefvj.emnuvens.com.br/jefvj/article/view/499.
Acesso em: 24 set. 2021.

ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE REDUÇÃO DE DANOS. O que é Redução de


Danos? Londres, 2010.

BORTOLOZZI JUNIOR, F. “RESISTIR PARA RE-EXISTIR”: CRIMINOLOGIA (D)E


RESISTÊNCIA DIANTE DO GOVERNAMENTO NECROPOLÍTICO DAS DROGAS.
2018. Tese (Doutorado em Direito) - Setor de Ciências Jurídicas, Universidade Federal do
Paraná, Curitiba, 2018.

BRANDÃO, G. S. A criminalização das drogas no Brasil: uma genealogia do proibicionismo.


Revista de Direito, [S. l.], v. 9, n. 02, p. 87-117, 2018. Disponível em:
https://periodicos.ufv.br/revistadir/article/view/1719. Acesso em: 13 set. de 2021.

BRASIL. Congresso Nacional. Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2006. Institui o Sistema


Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas - Sisnad. Brasília, DF, 2006. Disponível em:
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm. Acesso em: 24 set.
2021.

COSTA, G. C. D. et al. Legalizar ou não legalizar o comércio de drogas no Brasil? Eis a


questão! Disponível em:
http://www.intercom.org.br/PAPERS/REGIONAIS/SUDESTE2012/expocom/EX33-1230-1.p
df. Acesso em: 24 set. 2021.

DANTAS, R. V. Criminalização das drogas no Brasil: evolução legislativa, resultados e


políticas alternativas. 2017. Trabalho de Conclusão de Curso (Bacharelado em Direito) -
Faculdade de Direito, Universidade de Brasília, Brasília, 2017.

HYPOLITO, L. A regulação do mercado da maconha como alternativa à proibição: um


estudo do caso uruguaio. 2018. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Ciências
Sociais) - Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Escola de Humanidades,
Porto Alegre, 2018.

KESTLER, T. A legalização da cannabis no Uruguai – uma mudança paradigmática na


política de drogas?. Revista Debates, Porto Alegre, v. 15, n. 1, p. 275-298, jan./abr. 2021.
DOI: https://doi.org/10.22456/1982-5269.111342. Disponível em:
https://seer.ufrgs.br/debates/article/view/111342. Acesso em: 18 set. 2021.
LARANJEIRA, R. Legalização de drogas e a saúde pública. Revista Ciência & Saúde
Coletiva, Rio de Janeiro, v. 15, n. 3, p. 621-631, 2010. Disponível em:
https://www.scielosp.org/pdf/csc/2010.v15n3/621-631/pt. Acesso em: 24 set. 2021.

LEMOS, C.; ROSA, P. O. No caminho da rendição: cannabis, legalização e


antiproibicionismo. Argumentum, [S. l.], v. 7, n. 1, p. 69–92, 2015. DOI:
10.18315/argumentum.v7i1.9045. Disponível em:
https://periodicos.ufes.br/argumentum/article/view/9045. Acesso em: 24 set. 2021.

MENDES, R. O. et al. Revisão da literatura sobre implicações para assistência de usuários de


drogas da descriminalização em Portugal e Brasil. Revista Ciência & Saúde Coletiva, Rio
de Janeiro, v. 24, n. 9, p. 3395-3405, dez. 2019. DOI:
https://doi.org/10.1590/1413-81232018249.27472017. Disponível em:
https://pesquisa.bvsalud.org/portal/resource/pt/biblio-1019667. Acesso em: 19 set. 2021.

MINISTÉRIO DA JUSTIÇA E SEGURANÇA PÚBLICA (MJSP). 2016. Há 726.712


pessoas presas no Brasil. Brasília, jun. 2016. Disponível em:
https://www.justica.gov.br/news/ha-726-712-pessoas-presas-no-brasil. Acesso em: 23 set.
2021.

PARDO, B. Cannabis policy reforms in the Americas: a comparative analysis of Colorado,


Washington, and Uruguay. The International Journal of Drug Policy, Washington, DC, v.
25, n.4, p.727–735, jul. 2014. DOI: 10.1016/j.drugpo.2014.05.010. Disponível em:
https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/24970383/. Acesso em: 24 set. 2021.

PORTUGAL. Decreto-Lei n.o 130-A/2001, de 23 de abril de 2001. Define o regime jurídico


aplicável ao consumo de estupefacientes e substâncias psicotrópicas, bem como a proteção
sanitária e social das pessoas que consomem tais substâncias sem prescrição médica.
DIÁRIO DA REPÚBLICA, Lisboa, v. 2, n. 95, p. 2334. 23 abr. 2001. Disponível em:
http://www.sicad.pt/BK/Institucional/Legislacao/Lists/SICAD_LEGISLACAO/Attachments/
672/dl_130_A_2001.pdf. Acesso em: 18 set. 2021.

RODRIGUES, T. Narcotráfico: um esboço histórico. In: CARNEIRO, H.; VENÂNCIO, R. P.


Álcool e drogas na história do Brasil. São Paulo: Alameda, 2005, p. 291-310.

SACRAMENTO, L; GOMES, L; MORAES, C. Do uso de drogas ilícitas com fins


medicinais e o direito à saúde. Disponível em:
http://rdu.unicesumar.edu.br/bitstream/123456789/2872/1/leandro_de_souza_sacramento_1.p
df. Acesso em: 25 set. 2021.

THE EUROPEAN MONITORING CENTRE FOR DRUGS AND DRUG ADDICTION


(EMCDDA). Threshold quantities for drug offences. Lisbon, 21 aug. 2015. Available
from:
https://www.emcdda.europa.eu/publications/topic-overviews/threshold-quantities-for-drug-of
fences/html_en#panel15-table1. Access on: 18 sept 2021.

URUGUAY. Parlamento del Uruguay. Ley n° 17.016, de 28 de outubro de 1998.


Estupefacientes. Montevideo, 1998. Disponível em:
https://parlamento.gub.uy/documentosyleyes/leyes?Ly_Nro=17016&Ly_fechaDePromulgaci
on%5Bmin%5D%5Bdate%5D=&Ly_fechaDePromulgacion%5Bmax%5D%5Bdate%5D=&
Ltemas=&tipoBusqueda=T&Searchtext. Acesso em: 24 set. 2021.

URUGUAY. Parlamento del Uruguay. Ley nº 19.172, de 7 de janeiro de 2014. Marihuana y


sus Derivados. Control y regulación del estado de la importación, producción, adquisicion,
almacenamiento, comercializacion y distribucion. Montevideo, 2014. Disponível em:
https://parlamento.gub.uy/documentosyleyes/leyes?Ly_Nro=19172&Ly_fechaDePromulgaci
on%5Bmin%5D%5Bdate%5D=&Ly_fechaDePromulgacion%5Bmax%5D%5Bdate%5D=&
Ltemas=&tipoBusqueda=T&Searchtext=. Acesso em: 25 set. 2021.

VENTURI, G. Consumo de drogas, opinião pública e moralidade: motivações e argumentos


baseados em uso. Tempo Social, [S. l.], v. 29, n. 2, p. 159-185, 2017. DOI:
https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2017.126682. Disponível em:
https://www.revistas.usp.br/ts/article/view/126682. Acesso em: 24 set. 2021.

Você também pode gostar