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Drogas e política criminal

A lei 13.343/06, promulgada pelo Presidente da República, à época, Luiz Inácio


Lula da Silva, instituiu o Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas – Sisnad,
no ordenamento brasileiro. A partir de então, o crime de tráfico de drogas - Tipificada
no artigo 33 da lei 13343 - passou a ser o mais comum no sistema penitenciário
brasileiro.

A política da guerra às drogas reforçada pela lei 12.343/06, de fato, produziu


efeitos. Ao passo que reforçou o poder punitivo do estado, deixou de lado qualquer
ideia de política antiproibicionista.

Não demorou muito para perceber os efeitos dessa guerra às drogas. Apesar da
denominação, pelo Supremo Tribunal Federal de “estado de coisas inconstitucional”,
referindo-se ao sistema penitenciário brasileiro, a política criminal de drogas
permanece a mesma. Não há, desde a instituição do sistema nacional de políticas
públicas sobre drogas, qualquer alteração no texto legal que permita lembrar um
futuro melhor.

Ao contrário, o reforço a partir da referida lei, à guerra às drogas, apenas


estabeleceu, legalmente, a estigmatização do usuário e os levando às delegacias de
polícia, de maneira discricionária, como não poderia deixar de ser, diante da ausência
de critérios objetivos para diferenciar o traficante contumaz do usuário de drogas.

O recurso especial 635.659, sob relatoria do ministro Gilmar Mendes, discute


acerca da descriminalização do porte de drogas para consumo pessoal. O caso
paradigma, que foi levado ao plenário sob repercussão geral pelo mesmo relator,
implica em um paciente que foi penalizado por estar transportando 3g de maconha na
cidade do Rio de Janeiro. A discussão no recurso especial gira em torno da declaração
de inconstitucionalidade do artigo 28 da lei 13345/06, colacionado abaixo:

“Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer


consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com
determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas:
I - advertência sobre os efeitos das drogas;
II - prestação de serviços à comunidade;
III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo.”
A criminalização e o início da guerra às drogas é o resultado de diversos
tratados internacionais cujo apoio e início se deu através dos Estados Unidos da
América. Esses tratados internacionais possuiam uma série de interesses econômicos e
de domínio global desse país. O ato de criminalizar certos entorpecentes, portanto, não
se trata de mera defesa da sociedade, mas sim do instrumento político de manutenção
de desigualdades (VALOIS, 2021).

Falar do panpenalismo – nilo batista

- Falar do proibicionismo e o do antiproibicionismo

Em estudo recentemente lançado pelo Instituto de Pesquisa Econômica,


intitulado “CRITÉRIOS OBJETIVOS NO PROCESSAMENTO CRIMINAL POR TRÁFICO DE
DROGAS: NATUREZA E QUANTIDADE DE DROGAS APREENDIDAS NOS PROCESSOS DOS
TRIBUNAIS ESTADUAIS DE JUSTIÇA COMUM” 1, fora alcançado diversas conclusões,
sendo elas, em síntese, (i) a criação de um protocolo a ser seguido pelos agentes
públicos na elaboração de laudos periciais preliminares e definitivos, que incluissem
padrões de pesagem, exigência de indicação da massa líquida das substâncias
periciadas e a obrigação de informar os métodos utilizados para aferir a natureza das
substância e (ii) que os agentes públicos considerem parâmetros objetivos para
determinar as quantidades de drogas compatíveis com o porte para uso pessoal. Esses
parâmetros são baseados em três cenários descritos em uma Nota Técnica do Instituto
Igarapé (2015)2.

1
DIEST/IPEA 2023, CRITÉRIOS OBJETIVOS NO PROCESSAMENTO CRIMINAL POR TRÁFICO DE
DROGAS: NATUREZA E QUANTIDADE DE DROGAS APREENDIDAS NOS PROCESSOS DOS
TRIBUNAIS ESTADUAIS DE JUSTIÇA COMUM
2
https://igarape.org.br/criterios-objetivos-de-distincao-entre-usuarios-e-traficantes-de-drogas-
cenarios-para-o-brasil/ - Acessado em mai/2023.
Em documento disponibilizado pelo Conjur, intitualado “anotações para o voto
oral do ministro luís roberto barroso”3, o Ministro do Supremo Tribunal Federal, Luiz
Roberto Barroso, assegura que

1. Falar sobre a estigmatização


1.1. Direito a privacidade;
1.2. Princípio da lesividade;
1.3. Princípio da proporcionalidade – destruição da vida de um usuário,
colocando-o no cárcere;
1.4. Falar do §2º do art. 284 da lei de drogas, que dá margem à
discricionariedade;
1.5. Direito Penal do Inimigo (talvez);
1.6.

2. Falar sobre o encarceramento, utilizando os dados do INFOPEN desde 2006,


comparando o encarceramento desde então.
2.1. O custo de um preso
2.2. A taxa de reincidência

Conclusão:

1. A fixação de determinada quantidade, a fim de distinguir objetivamente o


usuário e o traficante, sem deixar de lado as demais circunstâncias do
flagrante, promoveria a (i) desestigmatização do usuário, tornando-se,
assim, sujeito de direito, além do (ii) desencarceramento de usuários que
3
https://www.conjur.com.br/dl/leia-anotacoes-ministro-barroso-voto.pdf
4
Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para
consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar será submetido às seguintes penas:
§ 2º Para determinar se a droga destinava-se a consumo pessoal, o juiz atenderá à natureza e à
quantidade da substância apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a ação,
às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e aos antecedentes do agente.
estão presos pelo crime de tráfico de drogas, previsto no art. 33 da Lei
13.343/06, ainda que reconhecida a pouca quantidade de substância
entorpecente encontrada com o agente, quando da condenação.

Foi feito um exercício hipotético aplicando esses parâmetros aos processos


analisados na pesquisa, e concluiu-se que, se adotados critérios de quantidade de
cannabis entre 25g e 100g e de cocaína entre 10g e 15g como presunção de porte para
uso pessoal, aproximadamente entre 30% e 50% das apreensões de cannabis e entre
30% e 40% das apreensões de cocaína poderiam ser reclassificadas como porte para
consumo pessoal. Essa recomendação visa promover uma abordagem mais justa e
proporcional em relação às penalidades relacionadas ao uso pessoal de drogas.

Fichamentos:
1. CRITÉRIOS OBJETIVOS NO PROCESSAMENTO CRIMINAL POR TRÁFICO DE
DROGAS: NATUREZA E QUANTIDADE DE DROGAS APREENDIDAS NOS
PROCESSOS DOS TRIBUNAIS ESTADUAIS DE JUSTIÇA COMUM
Instituto de Pesquisa Econômica AplicadaPágina 64 – quantidade para presumir ser uso
pessoal.
Página 65 – Gráfico 32
Página 66 – Gráfico 33
“Somente a análise dos casos concretos permitiria a reclassificação da conduta como
consumo pessoal a partir das demais condições do artigo 28, parágrafo 2º, da Lei de
Drogas” – pagina 67
Página 68

Link:
https://repositorio.ipea.gov.br/bitstream/11058/12014/1/RP_Criterios_objetivos_Publi
cacao_Preliminar.pdf

2. Nota técnica IGARAPE – Visa fixar critérios para diferenciação entre usuário e
traficante:
Link: https://igarape.org.br/criterios-objetivos-de-distincao-entre-usuarios-e-
traficantes-de-drogas-cenarios-para-o-brasil/

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