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TRAFICANTES DE DROGAS
DISCIPLINA: Segurança pública e a polícia
Módulo: A DIFERENÇA ENTRE USUÁRIOS E TRAFICANTES DE DROGAS
INTRODUÇÃO
O módulo que você está prestes a ler procura apresentar as diferenças entre
os conceitos de usuário e traficante de drogas, segundo a nova Lei de Drogas
(Lei 11.343/06), bem como as penas previstas para cada enquadramento.
Ademais, serão introduzidos alguns debates e críticas feitas diante das
modificações trazidas pela nova lei desde sua publicação. Esperamos que esse
estudo contribua para a formação dos alunos, capacitando-os para uma
reflexão mais adequada e precisa sobre o tema.
Bons Estudos!
INTRODUÇÃO
Umas das novidades trazidas pela Lei 11.343/06, a Lei de Drogas, foi a
distinção entre usuário/dependente e traficante, sendo vista como um avanço
na legislação brasileira, embora, ao mesmo tempo, alvo de muitas críticas, pela
subjetividade com que essa distinção acontece.
No presente texto, o assunto será apresentado, trazendo as definições
legais, as penas ou tratamentos previstos juridicamente e as críticas dirigidas à
legislação atual. Espera-se que, a partir dessas informações, o leitor tenha
condições de contemplar o grau de avanço sobre o tema e a complexidade que
envolve o assunto, podendo, então, propor soluções a partir do que já está
sendo analisado pelos agentes jurídicos e pela população brasileira.
Deve-se notar ainda que a nova lei tem em vista somente as condutas
dolosas – saber e querer ter posse da droga. A forma culposa foi deixada de
lado, ignorando as categorias de imprudência, imperícia e negligência na
modalidade. A pessoa, portanto, que portar drogas sem o conhecimento
adequado sobre isso, encontra-se em erro de tipo. Ademais, deve-se verificar
também a intencionalidade do porte de drogas. Caso as drogas portadas por
um indivíduo sejam destinadas a terceiros, e não para uso pessoal, então, ele
não se encaixa no artigo 28, sendo considerado, um traficante – aquele que
ativamente promove o tráfico ilícito de entorpecentes (NASCIMENTO, 2011).
Há, portanto, elementos subjetivos e objetivos na lei supramencionada.
O fator subjetivo diz respeito ao dolo, a intenção da pessoa flagrada com as
drogas. Já o elemento objetivo e normativo, está na expressão “sem
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar”, fato
que deve ser verificado por aquele que avaliará ou julgará a ocorrência, a fim
de constatar se há a presença de tal componente em cada caso particular
(NASCIMENTO, 2011).
Desde o surgimento da nova legislação tem-se presenciado um grande
debate a respeito do fator subjetivo que diferencia um usuário de um traficante.
Argumenta-se que, pela falta de critérios mais sólidos, na prática, é deixado
para que cada juiz, segundo seu próprio ponto de vista, decida quando
determinado caso se encaixa em uma ou em outra categoria (BARBOSA,
2017).
Para jogar luz à questão da dificuldade com a subjetividade dos termos
legais, pode-se destacar o artigo 33 da Lei de Drogas, que enfoca no traficante
de entorpecentes.
Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender,
expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que
gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou
regulamentar (BRASIL, 2015).
Diante disso, Ganem (2016) observa que entre os artigos 28 e 33, ocorre
a repetição das seguintes expressões: “adquirir”, “guardar”, “ter em depósito”,
“transportar” e “trazer consigo” – chegando a conclusão de que “existem
condutas que podem ser caracterizadas como sendo de uso e como sendo de
tráfico”, pode ser caracterizado por simples uso, ou pela prática de tráfico,
sendo necessário uma investigação mais apurada sobre o destino da droga.
Quando não se consegue concluir com objetividade o destino dos
entorpecentes – se para uso pessoal, ou para terceiros –, faz-se necessário
considerar os critérios relacionados no segundo parágrafo do artigo 28, que diz:
LEI Nº 11.343/06. DROGAS. ART. 33. TRÁFICO. ART. 28. PORTE PARA USO
PRÓPRIO. CÓDIGO PENAL. ART. 184. VIOLAÇÃO DE DIREITOS
AUTORIAIS. ART. 184, § 1º, CP. REPRODUÇÃO DE OBRAS. Ausência de
prova de que os RR fossem os responsáveis pela reprodução dos CDs e DVDs
‘piratas’. ART. 184, § 2º, CP. LOCAÇÃO DE OBRAS. As provas permitem
apenas a condenação do proprietário da ‘locadora’. TRÁFICO DE DROGAS.
Não há prova suficiente para o reconhecimento do tráfico. Pequena a
quantidade de droga apreendidas, 16 petecas de cocaína, pesando
aproximadamente 4,5 gramas. Quantidade compatível com porte para uso
próprio. Ausência de qualquer prova, além da apreensão da droga, para
configurar o tráfico. Desclassificação para o art. 28. Apelo do Ministério Público
Improvido. Unânime. Apelo Defensivo Parcialmente Provido. Por maioria.
(Apelação CRIMINAL 70033284175, TERCEIRA Câmara Criminal, TJ/RS, Rel.
Ivan Leomar Bruxel, Julgado em 10 de fevereiro de 2011) (GANEM, 2016 –
grifos do autor).
Diante disso surge um intenso debate se, para ser tipificado como
tráfico, necessariamente deve-se haver evidências de um comércio. Para
alguns, a simples posse ou guarda dos entorpecentes já pode prefigurar o
tráfico e o traficante (NASCIMENTO, 2011).
Visto que a Lei de Drogas não prevê pena de reclusão ou detenção para
o usuário, alguns intérpretes têm defendido que, por isso, o porte de drogas de
um usuário ou dependente não pode ser considerado crime ou contravenção.
O fundamento para fortalecer esse ponto de vista é o art. 1 o do Decreto
3.914/41 (Lei de Introdução ao Código Penal e à Lei de Contravenções
Penais), que diz:
Art 1º. Considera-se crime a infração penal que a lei comina pena de reclusão
ou de detenção, quer isoladamente, quer alternativa ou cumulativamente com a
pena de multa; contravenção, a infração penal a que a lei comina,
isoladamente, pena de prisão simples ou de multa, ou ambas, alternativa ou
cumulativamente (NASCIMENTO, 2011).
A Lei Antidrogas criou uma nova infração penal, que não se enquadra na
classificação legal de crime, nem de contravenção penal. Criou, simplesmente,
uma infração penal inominada, punida com novas alternativas penais e isto não
contraria a diretiva genérica de classificação das infrações penais, emanada do
referido dispositivo da Lei de Introdução ao Código Penal.
O debate segue, por um lado, com o argumento de que houve uma
descriminalização do porte de drogas ao retirar a pena de detenção. Enquanto,
os contrários a essa visão argumentam que, na verdade, houve uma
despenalização de um crime; e que, portanto, seu status permanece inalterado
– por isso que os artigos que tratam do usuário e dependente de drogas está
numa secção intitulada “Capítulo III – Dos Crimes e das Penas”.
Neste segundo ponto de vista é que o STF tem caminhado. Entendendo
que estamos diante de um crime sui generis, e que houve uma despenalização
de um crime, não uma descriminalização (NASCIMENTO, 2011). Quanto ao art.
1o do DL 3.914/41, Nascimento (2011) explica que:
3) Usuário habitual: faz uso frequente de drogas; demonstra sinais dos efeitos
das substâncias; ainda mantém um bom convívio social (“funcional”), mas corre
sérios riscos de tornar-se um dependente.
Por fim, independente do tipo de usuário que uma pessoa possa ser, a
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas faz questão de trazer o seguinte
alerta:
GOMES, Luiz Flávio. SOUSA, Áurea Maria Ferraz de. Tráfico ou usuário de
droga: depende do caso concreto, 2010. Disponível em:
<https://lfg.jusbrasil.com.br/noticias/2499711/artigos-do-prof-lfg-trafico-ou-
usuario-de-droga-depende-do-caso-concreto>. Acesso em: 29 de ago. 2017.