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A (DES)CRIMINALIZAÇÃO DAS DROGAS E O PAPEL

DO PSICÓLOGO – Entre a esperança anunciada e o


medo real.
LEI 11.343 DE 23 DE AGOSTO DE 2006

Em 2006, foi aprovada a nova Lei de Drogas 11.343 ,


substituindo a Lei de Drogas 6.368,
6.368 de 1976. A nova lei foi, de
maneira geral, apoiada por setores mais progressistas da
sociedade. Sua aprovação representou a esperança de que
o país pudesse caminhar em direção a uma política sobre
drogas mais humana e liberal. Entretanto, o resultado de sua
implementação, como se verá, foi exatamente o contrário.
Comparação entre a lei nº 6.368/76 e a atual lei nº 11.343/06,
em relação a figura do USUÁRIO

LEI VELHA: LEI ATUAL:


Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em
depósito, transportar ou trouxer consigo,
Art. 16. Adquirir, guardar ou para consumo pessoal, drogas sem
trazer consigo, para o uso autorização ou em desacordo com
próprio, substância determinação legal ou regulamentar será
submetido às seguintes penas:
entorpecente ou que determine I - advertência sobre os efeitos das
dependência física ou psíquica, drogas;
sem autorização ou em II - prestação de serviços à comunidade;
desacordo com determinação III - medida educativa de
legal ou regulamentar: comparecimento a programa ou curso
educativo.
Pena - Detenção, de 6 (seis)
§ 1o Às mesmas medidas submete-se
meses a 2 (dois) anos, e quem, para seu consumo pessoal, semeia,
pagamento de (vinte) a 50 cultiva ou colhe plantas destinadas à
(cinqüenta) dias-multa. preparação de pequena quantidade de
substância ou produto capaz de causar
dependência física ou psíquica.
Comparação entre a lei nº 6.368/76 e a atual lei nº 11.343/06,
em relação ao TRÁFICO DE DROGAS

LEI VELHA: LEI ATUAL:


Art. 12. Importar ou exportar, Art. 33. Importar, exportar, remeter,
remeter, preparar, produzir, fabricar, preparar, produzir, fabricar,
adquirir, vender, expor à venda ou adquirir, vender, expor à venda,
oferecer, fornecer ainda que oferecer, ter em depósito,
gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar,
transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a
prescrever, ministrar ou entregar, de
qualquer forma, a consumo consumo ou fornecer drogas, ainda
substância entorpecente ou que que gratuitamente, sem autorização
determine dependência física ou ou em desacordo com determinação
psíquica, sem autorização ou em legal ou regulamentar:
desacordo com determinação legal
ou regulamentar; Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15
Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
(quinze) anos, e pagamento de 50 (quinhentos) a 1.500 (mil e
(cinquenta) a 360 (trezentos e quinhentos) dias-multa.
sessenta) dias-multa.
MUDANÇAS...

Além de a nova lei conter uma parte inicial de anúncios de


princípios bastante avançada, sua grande novidade – pelo
menos era o que se anunciava – foi a de que, pela primeira
vez, retirava-se expressamente a pena de prisão para o
porte de drogas para consumo individual. A conduta continua
sendo criminalizada, é importante que se diga, mas as
sanções aplicadas de acordo com a nova lei devem
ser advertência, prestação de serviços e medidas
educacionais.
MUDANÇAS...

Desse modo, muitos acreditaram que com a aprovação da


lei seria possível começar a diferenciar de forma mais clara
os traficantes que se relacionam diretamente com a violência
ligada às drogas dos usuários, que são, pelo menos em
tese, as vítimas que a proibição das drogas pretende
proteger. Acreditava-se que o número de presos por motivos
ligados à droga fosse, evidentemente, diminuir, produzindo
uma política mais eficiente, focada no enfrentamento ao
tráfico.
MUDANÇAS...

Entretanto, a aplicação da lei criou uma realidade


completamente oposta às suas intenções. Ao invés de
produzir uma diminuição do número de presos, a nova
lei de drogas produziu uma explosão carcerária de
proporções inimagináveis. Enquanto os presos por todos
os outros crimes – excetuando-se o tráfico – cresceram
em 8,5% (o que é até menos do que em períodos
anteriores), nos três anos posteriores à lei de 2006, a
população carcerária de presos relacionados às drogas
cresceu mais de 62%. O tráfico de drogas se
transformou no crime que mais encarcera brasileiros.
ARMADILHAS JURÍDICAS
ARMADILHAS JURÍDICAS
ARMADILHAS JURÍDICAS

Se a lei anterior previa uma pena de seis meses a dois anos para
o usuário e de três a quinze anos para o traficante, é verdade
também que ela admitia a substituição dessas penas por penas
alternativas – pela lei brasileira, qualquer pessoa com bons
antecedentes condenada a até quatro anos de prisão pode ter sua
pena substituída por uma pena alternativa. Assim, toda uma gama
de pessoas que se situava na fronteira pouco clara entre o
usuário e o traficante eventual e não violento, acabava, por fim,
recebendo uma pena distinta da pena de prisão.
ARMADILHAS JURÍDICAS

A nova lei, no entanto, não apenas acabou com a pena de


prisão para o porte de drogas, mas elevou a pena para o
tráfico e vetou, mesmo para o caso de condenados por
tráfico primários e sem ligação com o crime organizado, a
possibilidade de concessão de pena alternativa.
ARMADILHAS JURÍDICAS

Art. 28. § 2o - Para determinar se a droga destinava-se a consumo


pessoal, o juiz atenderá à natureza e à quantidade da substância
apreendida, ao local e às condições em que se desenvolveu a
ação, às circunstâncias sociais e pessoais, bem como à conduta e
aos antecedentes do agente.

NA PRÁTICA, ISSO SIGNIFICA...


ARMADILHAS JURÍDICAS
ARMADILHAS JURÍDICAS

Essa situação, somada a um critério bastante vago para


diferenciar quem é traficante e quem é usuário, leva ao fato
concreto de que é a polícia quem faz tal distinção, a partir de
critérios nem sempre claros – e quase sempre mais severos
com os mais pobres, uma vez que é muito comum que presos
com quantidades idênticas sejam classificados como usuários
ou traficantes apenas por morarem no asfalto ou em favelas.
ARMADILHAS JURÍDICAS

Dispositivo Legal
METARREGRAS

Baseado em?

Imagens e representações sociais de


quem são, ondem vivem e onde
circulam os traficantes e os
consumidores.
POLÍTICA CRIMINAL BÉLICA
POLÍTICA CRIMINAL BÉLICA
CASOS REAIS
http://www.bancodeinjusticas.org.br/
Indicação de filme: “Eu, Christiane F., 13 anos, drogada e prostituída” (1981)
PARA PENSARMOS
(Carl Hart – Um preço muito alto/2017)
1. O vício acomete apenas entre 10 e 25% (em relação ao álcool, esse
percentual é de 10 a 15%) dos que têm contato até mesmo com as drogas
mais demonizadas na sociedade atual, como o crack, por exemplo (p. 23).

2. O autor nos lembra que “o problema é que, ao estudar coisas como o


vício, focalizamos os comportamentos patológicos e ignoramos o que
acontece nas condições comuns e normais. O uso de drogas, na maioria
dos casos, não leva ao vício” (p. 87).

3.Segundo o autor, ao longo se seus anos de estudos com usuários frequentes


de drogas, ficou cada vez mais claro para ele “que nossos próprios
preconceitos sobre a utilização de drogas e nossas políticas punitivas em
relação aos usuários faziam com que as pessoas que consomem drogas
parecessem menos humanas e menos racionais. O comportamento dos
usuários sempre foi explicado em função das drogas, em primeiro lugar, e
não considerado à luz de outros fatores igualmente importantes do
mundo social, como as leis relativas à toxicodependência” (p. 250).
RESUMINDO...

O critério para julgar se alguém é ou não viciado será, por


definição, um critério PSICOSSOCIAL.
QUAL O PAPEL DO PSICÓLOGO NESTE CENÁRIO?

PROIBICIONISMO ABOLUCIONISMO
PUNITIVISTA LIBERAL
REDUÇÃO DE DANOS
REABILITAÇÃO
PARECER PSICOLÓGICO
Conceito e finalidade do parecer
Parecer é um documento fundamentado e resumido sobre uma questão focal do campo psicológico cujo
resultado pode ser indicativo ou conclusivo.

O parecer tem como finalidade apresentar resposta esclarecedora, no campo do conhecimento


psicológico, através de uma avaliação especializada, de uma "questão-problema", visando a dirimir
dúvidas que estão interferindo na decisão, sendo, portanto, uma resposta a uma consulta, que exige de
quem responde competência no assunto.

Estrutura
O psicólogo parecerista deve fazer a análise do problema apresentado, destacando os aspectos relevantes
e opinar a respeito, considerando os quesitos apontados e com fundamento em referencial teórico-
científico.

Havendo quesitos, o psicólogo deve respondê-los de forma sintética e convincente, não deixando nenhum
quesito sem resposta. Quando não houver dados para a resposta ou quando o psicólogo não puder ser
categórico, deve-se utilizar a expressão "sem elementos de convicção". Se o quesito estiver mal formulado,
pode-se afirmar "prejudicado", "sem elementos" ou "aguarda evolução".
ESTRUTURA
1. Identificação
Consiste em identificar o nome do parecerista e sua titulação, o nome do autor da solicitação e sua titulação.

2. Exposição de Motivos
Destina-se à transcrição do objetivo da consulta e dos quesitos ou à apresentação das dúvidas levantadas pelo
solicitante. Deve-se apresentar a questão em tese, não sendo necessária, portanto, a descrição detalhada dos
procedimentos, como os dados colhidos ou o nome dos envolvidos.

3. Análise
A discussão do PARECER PSICOLÓGICO se constitui na análise minuciosa da questão explanada e argumentada com
base nos fundamentos necessários existentes, seja na ética, na técnica ou no corpo conceitual da ciência psicológica.
Nesta parte, deve respeitar as normas de referências de trabalhos científicos para suas citações e informações.

4. Conclusão
Na parte final, o psicólogo apresentará seu posicionamento, respondendo à questão levantada. Em seguida, informa
o local e data em que foi elaborado e assina o documento.

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