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Infelizmente algumas politicas públicas tem efeito contrário ao desejado no que diz

respeito a efetiva aplicação dos direitos humanos para as mulheres, isso é devido a própria
descaracterização da mulher como uma pessoa completa em si mesma. Muitos dos estereótipos
criados para as mulheres continuam presentes na sociedade brasileira e no mundo, a mulher
infelizmente ainda é sinônimo de objeto, e ainda que essa observação esteja explicita não damos
a devida importância a ela, apesar dos avanços legislativos, a sociedade brasileira e mundial anda
a passos lentos para a efetivação dos direitos garantidos as mulheres nas leis e tratados
internacionais firmados em sua defesa.

A exemplo de leis que culminam na exposição das mulheres podemos citar a reforma
do código penal espanhol que despenalizou a promoção da prostituição de adultos, não definiu
o crime de prostituição, não aumentou as penas quanto aos delitos relativos a prostituição com
ânimo de lucro, e não levou em consideração os crimes de prostituição cometidos por
organizações criminosas; o governo espanhol também tomou medidas com relação a imigração
no país, enrijecendo as regras para entrada no país, o que acarretou no aumento de imigrantes
irregulares, em sua grande maioria mulheres, que ficaram expostas a aliciadores e tendem a se
prostituir a mando de organizações criminosas.

No Brasil também podemos perceber o mesmo efeito com algumas leis, podemos citar
por exemplo a lei nº 11.343, de agosto de 2006 que instituiu o Sistema Nacional de Políticas
Públicas sobre Drogas, a lei tentou retirar o usuário do sistema de justiça e o transferir para o de
saúde, porém o que foi percebido até o presente momento com a vigência da lei é um aumento
de prisões de usuários por tráfico de drogas.

Antes de adentrar nos efeitos da lei 11.343 e alguns dos seus aspectos, devemos atentar
que não podemos observar a sociedade brasileira sem levar em consideração a herança que a
escravidão deixou, inclusive nas relações de trabalho que foram estruturadas para que houvesse
um completo domínio e forte exploração para com os mais vulneráveis da sociedade, limitando
as oportunidades e os empurrando para a marginalidade, desses vulneráveis destacam-se as
mulheres negras.

Dentro da lei 11.343 encontramos alguns dispositivos que fomentam o encarceramento


em massa e deixam vários sujeitos contando com própria sorte diante da ponderação da
quantidade de droga que carrega consigo. A lei antidrogas despenalizou o uso de drogas, porém
toda a conduta que difere o usuário do traficante depende da interpretação de quem intervém
na prática (a polícia) ou quem julga o suspeito de cometimento do ilícito. Vejamos:

Comparativo da criminalização do uso: tráfico de drogas – Lei de Drogas (Lei no 11.343, de


2006)

Lei no 6.368/1976 Lei no 11.343/2006


Uso Uso
Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer
entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo
autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes
penas:
Pena – Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte)
a 50 (cinqüenta) dias-multa (Brasil, 1976). I – advertência sobre os efeitos das drogas;
II – prestação de serviços à comunidade;
III – medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo
(Brasil, 2006a).
Tráfico Tráfico
Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir,
vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo,
em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda
ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação
que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em legal ou regulamentar:
desacordo com determinação legal ou regulamentar;
Pena – Reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500
Pena – Reclusão, de 3 (três) a 15 (quinze) anos, e pagamento de 50 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa (Brasil, 2006a).
(cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa (Brasil, 1976).

Fonte: Presidência da República/Casa Civil/Subchefia para Assuntos Jurídicos

Observando os textos grifados no art.28 e art.33 notamos que são idênticos, mesmo um
tratando de usuários e o outro de traficantes, uma pessoa portando droga poderia ser
enquadrado em qualquer um dos dois artigos. Como resultado temos altas taxas de pessoa
incorrendo no crime de trafico de drogas, como podemos constatar pelos dados a seguir nos
gráficos a seguir:
Os dados tornam-se ainda mais reveladores quando detalhamos ainda mais os dados:
Podemos notar através da análise dos gráficos, que dentre as mulheres encarceradas
existem mais mulheres negras e com baixa escolaridade, tais características perpetuam o
desrespeito aos direitos humanos e suas aplicações a grande parte das mulheres da sociedade
brasileira.

Bibliografia

Convenção de Belém do Pará – Decreto nº 1.973, de agosto de 1996.

O tráfico de pessoas e a universalização dos direitos humanos de proteção à mulher,


Noronha Cardozo, Teodomiro.

https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11343.htm

O novo nem sempre vem: Lei de drogas e encarceramento no Brasil; Silveira Campos,
Marcelo.(https://www.ipea.gov.br/atlasviolencia/arquivos/artigos/8219-
181206bapi18cap3.pdf)

https://diplomatique.org.br/o-encarceramento-em-massa-de-mulheres-no-brasil/

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