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Com o surgimento das prisões como locais de execução das penas privativas de liberdade, os

sistemas prisionais foram se constituindo de acordo com diferentes concepções e práticas punitivas.
Consideram-se como importantes para os estudos atuais: a) o sistema Pensilvânico, da Filadélfia ou
Belga; b) o sistema de Auburn e; c) o sistema Inglês ou Progressivo.

CONCLUSÃO

Todos estes sistemas visam o disciplinamento dos corpos e mentes dos sujeitos. Sua
proposição vincula-se à concepção do criminoso como um “anormal” ou
“desadaptado” que precisa ser “ressocializado” para se integrar a sociedade,
ignorando os processos de exclusão social e de criminalização que incidem sobre eles
(FOUCAULT, 1987, p.99-104).

O Dever de Assistência às Pessoas Privadas de Liberdade

De acordo com a Lei de Execução Penal (LEP), em seu art. 10, a assistência ao preso e ao internado
é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar o retorno à convivência em sociedade. A
lei estabelece os tipos de assistência que terão, quais sejam: material; à saúde; jurídica; educacional;
social e religiosa.
A assistência material consiste no fornecimento de alimentação, vestuário e instalações higiênicas,
em obediência aos mandamentos internacionais sobre os direitos da pessoa presa, especialmente os
que decorrem das Regras Mínimas para o Tratamento de Prisioneiros, da ONU, de 1955.
A Assistência à saúde prevista na LEP, se consolida com a Constituição de 1988 que, em seu art.
196, assegura “a saúde como direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doenças”. Posteriormente, a instituição do
Sistema Único de Saúde (SUS) para efetivação do preceito constitucional e, mais recentemente,
com a elaboração da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de
Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), asseguram às pessoas privadas de liberdade a
integralidade da atenção à saúde da população privada de liberdade no conjunto de ações de
promoção, proteção, prevenção, assistência, recuperação e vigilância em saúde, executadas nos
diferentes níveis de atenção.
Atualmente, a assistência jurídica, por força do disposto da Lei Complementar Federal nº 80/1994,
deve ser prestada pela Defensoria Pública que atua de forma direta ou suplementar, fiscalizando os
direitos dos presos e prestando os necessários esclarecimentos.
A assistência educacional trata do acesso do preso à instrução escolar e formação profissional,
atendendo à obrigatoriedade do ensino fundamental e médio prevista no art. 208 da Constituição
Federal e ao disposto no art. 205 da Carta Magna que assegura: “a educação, direito de todos e
dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho”.
A assistência social tem por finalidade amparar o preso e o internado e prepará-los para o retorno à
liberdade.
A assistência religiosa, com liberdade de culto, será prestada aos presos e aos internados, sendo
permitido sua participação nos serviços organizados no estabelecimento penal, bem como a posse
de livros de instrução religiosa.

IV - Organização do Sistema Prisional no Brasil: estrutura, filosofia e objetivos

O cumprimento da pena privativa de liberdade no Brasil é regido principalmente pela Lei de


Execução Penal - LEP (Lei nº 7.210), de 1984, pelo Código Penal – CP (Decreto-lei nº 2.848),
de 1940, sob a égide da Constituição Federal e dos tratados internacionais firmados pelo país.
De acordo com a legislação nacional, a execução da pena tem por objetivo fazer cumprir a sentença
criminal e “proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado” (LEP, art.1). Com este propósito, o sistema adotado no Brasil inspira-se no sistema
progressivo de pena, embora possua características peculiares.
O Código Penal brasileiro (Decreto-lei nº 2.848/40), prevê três regimes de cumprimento da pena
privativa de liberdade: fechado, semiaberto e aberto e ainda, a possibilidade de concessão do
livramento condicional. A progressão de regime consiste na passagem do condenado de um regime
mais rigoroso para outro menos severo, “atendendo a uma das finalidades da pena, consagrada pela
Convenção Americana de Direitos Humanos: a ressocialização do condenado (art. 5.º, 6º)
(MARTINELLI, 2012).
Para que possa progredir para um regime menos severo, o condenado deve atender a critério
objetivo de tempo e também a critério subjetivo, referente ao bom comportamento carcerário,
comprovado pelo diretor do estabelecimento prisional. Por outro lado, a lei instituiu, também, a
regressão de um regime para outro mais rigoroso, por exemplo, do aberto para o semiaberto ou
fechado, quando o sentenciado praticar fato definido como crime doloso ou falta grave, ou sofrer
condenação, por crime anterior, que torne incabível o regime em curso (LEP, art.118).
A aplicação deste sistema, apoia-se no princípio constitucional da individualização (CF, art. 5.º,
inciso XLVI) que, determina que execução da pena seja feita considerando o indivíduo com seus
méritos e suas faltas, concedendo-lhe benefícios ou impondo-lhe sanções de modo singular,
vedando o tratamento homogêneo que desconsidere as peculiaridades de cada um (MARTINELLI,
2012).
Para que haja a individualização da execução penal, o CP e a LEP determinam que, no início do
cumprimento da pena, os condenados ao regime fechado sejam classificados “segundo os seus
antecedentes e personalidade, para orientar a individualização da execução penal”. Com esta
finalidade prevê que sejam submetidos a Exame Criminológico, realizado por um(a) psicólogo(a),
um(a) psiquiatra e um(a) assistente social, a fim de nortear a elaboração do plano individualizado de
tratamento, bem como servir de parâmetro para o acompanhamento do preso durante a execução.
Até 2003, a LEP determinava que as condições pessoais do apenado deveriam ser avaliadas por
meio de Exame Criminológico para instruir pedidos de progressão de regime e livramento
condicional. Porém, neste ano, alteração na Lei de Execução Penal (Lei 10.792/03), retirou a
obrigatoriedade dos Exames Criminológicos como instrumento para a concessão de progressão de
regime, mantendo-o apenas para a classificação inicial. Embora esta prática tenha se mantido com
base na Súmula 26 do Supremo Tribunal Federal (STF) e em demandas judiciais que requerem este
exame como suporte à individualização da pena, novas decisões do STF têm determinado que os
juízes “se abstenha[m] de pedir exame criminológico prévio para verificar o mérito na progressão
de regime, sob a mera alusão de que o crime foi praticado por meio de violência ou grave ameaça”.
(Disponível em: http://www.stf.jus.br/portal/cms/verNoticiaDetalhe.asp?idConteudo=289756 )
O Exame Criminológico sempre foi alvo de críticas, tanto dos operadores do direito, que sustentam
que este exame viola os direitos à livre manifestação do pensamento e à formação de sua
personalidade (CARVALHO, 2004, p.144), como pelas equipes técnicas incumbidas de sua
realização.
Em 2008, psicólogos e outros profissionais que atuam no sistema prisional e a
sociedade civil organizada, por meio de uma moção de âmbito nacional, manifestaram
repúdio ao Exame Criminológico. Alegaram que esse dispositivo fere o código de ética
da profissão, (...) visto que se trata de uma prática estigmatizante e classificatória, (...)
proposta com base em referencial positivista, centrado em conceitos de normalidade e
de adequação ou correção da personalidade dos sujeitos encarcerados, sem fundamentos
teórico-técnico da Psicologia (FREITAS et al., 2013, p.13).

Diante da complexidade desta situação que envolve a individualização das penas e a garantia dos
direitos das pessoas privadas de liberdade, o Modelo de Gestão para a Política Prisional, de 2016,
sugere amplo debate e o:
Desenvolvimento de uma metodologia de inclusão e encaminhamento das pessoas
privadas de liberdade, com vistas à implantação de um mecanismo de singularização do
atendimento baseado no desenvolvimento de potencialidades e não mais na distinção e
adestramento da personalidade dos sujeitos” (BRASILa,2016, p.299).

V - Caracterização da População Penitenciária


No Brasil, desde finais do séc. XX, a população carcerária vem crescendo de modo acelerado, o que
a colocou entre as quatro maiores do mundo, atrás apenas dos Estados Unidos, China e Rússia
(BRASIL, 2014). Entre os anos de 1990 e 2016, a população prisional aumentou 8 vezes, passando
de 90 mil pessoas presas para 726 mil (BRASILb, 2016). De acordo com o Levantamento Nacional
de Informações Penitenciárias (INFOPEN), em junho de 2016, 40% das pessoas presas no Brasil
ainda não haviam sido julgadas e condenadas.
Ao se observar o perfil da população prisional brasileira, verifica-se que a prisão tem adquirido
contornos de verdadeira criminalização da pobreza e de segregação de grupos sociais
marginalizados, que não encontram lugar no mercado de trabalho.
GRÁFICO 1
Evolução do número de pessoas privadas de liberdade entre 1990 e 2016.
GRÁFICO 2
Faixa etária das pessoas privadas de liberdade no Brasil.
GRÁFICO 3
Raça, cor ou etnia das pessoas privadas de liberdade e da população total.
Clique para ver os gráficos
Ao se considerar a escolaridade, cerca de 51% das pessoas presas não concluíram o ensino
fundamental, enquanto 4% eram analfabetos e outros 6% apenas alfabetizados (INFOPEN-2016).
Apenas 9% das pessoas presas alcançam o ensino médio. Estes indicadores demonstram que o
encarceramento tem sido aplicado preferencialmente sobre jovens com pouca qualificação, baixa
renda e reduzidas chances de ingressar no mercado de trabalho.
Em relação aos tipos penais nos quais estão enquadradas as pessoas privadas de liberdade, 37%
correspondem a crimes contra o patrimônio e 28% a crimes de tráfico de drogas, enquanto o
homicídio e o latrocínio respondem, respectivamente, por 11% e 3% dos registros.
Observando os diferentes tipos penais tentados/consumados, pelos quais as pessoas privadas de
liberdade foram condenadas ou aguardam julgamento (INFOPEN, 2016), nota-se que 156 foram
crimes contra o meio ambiente, por exemplo, embora capazes de provocar muitos danos sociais, são
insignificantes em relação ao total de crimes. No entanto, os crimes de furto representam 12% do
total. Estes percentuais refletem as prioridades punitivas vigentes no país e também a diferença na
vulnerabilidade penal dos que os praticam.
Sobre a prisão de pessoas por motivos insignificantes, recomenda-se assistir ao documentário
Bagatela, que nos mostra pessoas privadas de liberdade por anos em razão de furto de um shampoo,
por exemplo. Por causa de fatos como este, foi instituída pelo CONSELHO NACIONAL DE
JUSTIÇA (CNJ), Resolução 213, de 15 de dezembro de 2015, que dispõe sobre a apresentação de
toda pessoa presa à autoridade judicial no prazo de 24 horas. De acordo com o CNJ, todos os
estados da federação já implantaram as audiências de custódia. Segundo a mesma fonte, até
junho/2017 foram realizadas 258.485 audiências de custódia. Casos que resultaram em liberdade:
115.497 (44,68%); casos que resultaram em prisão preventiva: 142.988 (55,32%); casos em que
houve alegação de violência no ato da prisão: 12.665 (4,90%); casos em que houve
encaminhamento social/assistencial: 27.669 (10,70%).
Estes dados permitem desconstruir uma possível suposição de que o crescimento da população
carcerária brasileira seja decorrência direta do aumento geral da violência. Com isso, evidenciando
tratar-se de um processo de criminalização de certas práticas associadas a certos grupos sociais, que
produz e reproduz processos de exclusão e discriminação social existentes na sociedade brasileira.
Sendo assim, seu enfrentamento requer mudanças não só nas instituições policiais, judiciais e
penitenciárias, mas também na sociedade brasileira.
VI - Gestão do Sistema Prisional: os tipos de unidades prisionais

O Brasil possui um Sistema Penitenciário Nacional constituído pelos estabelecimentos penais


federais, subordinados ao Departamento Penitenciário Nacional do Ministério da Justiça. Também
há os sistemas penitenciários estaduais, administrados por cada governo estadual, bem como pelo
governo distrital, que gerem, com independência, estes sistemas que apresentam estruturas
organizacionais distintas.
Desde 1988, a competência legislativa sobre o gerenciamento do sistema prisional se encontra
partilhada entre a União e os estados membros, competindo à União definir os parâmetros gerais
para o funcionamento das instituições prisionais e, aos estados, suplementá-los a partir das
demandas locais.
Os tipos de estabelecimentos penais são definidos na LEP, no seu Título IV. O Capítulo I estabelece
algumas disposições gerais: define a quem se destinam estes estabelecimentos; determina a
existência de áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e promover
a prática esportiva, conforme a natureza dos estabelecimentos; e determina instalações específicas
para que a mulher e o maior de sessenta anos, separadamente, sejam recolhidos a estabelecimento
próprio e adequado à sua condição pessoal.
Dispõe que os estabelecimentos penais destinados às mulheres devam ser dotados de berçário, onde
as condenadas possam cuidar de seus filhos, inclusive amamentá-los, no mínimo até 6 (seis) meses
de idade. Determina que nas unidades prisionais destinadas às mulheres, as atividades de segurança
nas dependências internas dos estabelecimentos devam ser realizadas exclusivamente por agentes
do sexo feminino. E ainda, que nas penitenciárias femininas haja seção para gestante e parturiente,
além de creche para abrigar as crianças maiores de 6 (seis) meses e menores de 7 (sete) anos, com a
finalidade de assistir à criança desamparada, cuja responsável estiver presa. Define como requisitos
básicos da seção e da creche: o atendimento por pessoal qualificado, de acordo com as diretrizes
adotadas pela legislação educacional e em unidades autônomas; e que seu horário de funcionamento
garanta a melhor assistência à criança e à sua responsável.
Sobre os estabelecimentos penais, dispõe ainda que eles tenham locais distintos para o preso
provisório e o condenado; para o preso primário e o reincidente; prevendo também que o preso que,
ao tempo do fato, era funcionário da Administração da Justiça Criminal, deva ficar em dependência
separada dos demais.
O preso que tiver sua integridade física, moral ou psicológica ameaçada pela convivência com os
demais presos, também deverá ser alojado em local próprio.
Além de considerar as questões de idade, gênero e situação jurídica das pessoas privadas de
liberdade, estes estabelecimentos penais são estruturados pelo regime de cumprimento de pena. Em
todos, a lei determina que sejam atendidos os critérios de salubridade do ambiente pela
concorrência dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência
humana.
Os estabelecimentos penais são definidos na LEP da seguinte forma:
Object 1

Aos inimputáveis serão aplicadas as medidas de segurança, que são de dois tipos: I - Internação em
hospital de custódia e tratamento psiquiátrico ou, à falta, em outro estabelecimento adequado; II -
Sujeição a tratamento ambulatorial.
Quanto às medidas de segurança, a reforma psiquiátrica (Lei Federal 10.216) trouxe mudanças na
atenção à saúde dos indivíduos com transtorno mental em conflito com a lei, sinalizando que o SUS
e a Rede de Atenção à Saúde Mental devem responsabilizar-se pelo tratamento destes (PORTARIA
MS nº 94/2014). Tais mudanças vem impondo transformações e alterando a realidade do
tratamento das pessoas consideradas inimputáveis.
Como se viu, a Lei de Execução Penal prevê diferentes tipos de estabelecimentos de modo a
promover a progressividade e a individualização das penas. No entanto, quando observamos a
realidade nacional, é fácil verificar a opção por unidades fechadas e de segurança máxima. De
acordo com o INFOPEN (2016), 49% dos estabelecimentos prisionais no Brasil foram concebidos
para o aprisionamento de presos provisórios, 24% para o regime fechado; 8% para o regime
semiaberto; 2% para o aberto; e 13% para diversos tipos de regime; 2% para cumprimento de
medida de segurança e 1% para outros tipos de estabelecimentos penais, como os patronatos.

VII- Estrutura Física das Unidades Prisionais no Brasil

Em seu capitulo destinado aos estabelecimentos penais, a LEP estabelece critérios para a estrutura
física das unidades.
A salubridade do ambiente, aplicado a todos os tipos de estabelecimento, implica na concorrência
dos fatores de aeração, insolação e condicionamento térmico adequado à existência humana.
Determina que os estabelecimentos penais, conforme a sua natureza, deverão contar em suas
dependências com áreas e serviços destinados a dar assistência, educação, trabalho, recreação e
prática esportiva e que neles haja instalações destinadas ao estágio de estudantes universitários e
também à Defensoria Pública.
Especifica que os estabelecimentos destinados aos idosos e à mulher sejam adequados a sua
condição, impondo sua adequação ao gênero e consideração a questões de acessibilidade.
Quanto à localização, determina que os estabelecimentos penais, mesmo construídos em local
afastado do centro urbano, devem estar à distância que não restrinja a visitação, com exceção das
Cadeias Públicas e das Casas do Albergado, que devem situar-se próximas ao centro urbano. No
entanto, permite à União construir estabelecimento penal em local distante da condenação para
recolher os condenados, quando a medida se justifique no interesse da segurança pública ou do
próprio condenado.
Além dos requisitos de salubridade, estabelece critérios para os alojamentos destinados às pessoas
privadas de liberdade:
• Alojamentos individuais - devem conter dormitório, aparelho sanitário e lavatório e que
tenham área mínima de 6,00m2 (seis metros quadrados).
• Alojamentos coletivos - devem estar limitados à capacidade máxima que atenda os
objetivos de individualização da pena.
Quanto à capacidade, dispõe que as unidades devam ter lotação compatível com a sua estrutura e
finalidade e atribui aos Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária, a definição do
limite máximo de capacidade dos estabelecimentos, atendendo a sua natureza e peculiaridades. Em
2011, o CNPCP editou a RESOLUÇÃO Nº 09/2011 que estabelece as Diretrizes Básicas para
Arquitetura Penal no país. Nela define a capacidade dos estabelecimentos Penais, da seguinte
forma: Tabela 1: Capacidade Geral dos Estabelecimentos Penais
Fonte:
Diretrizes básicas para a arquitetura. Brasília: CNPCP, 2011
As Diretrizes Básicas determinam ainda que, em nenhuma hipótese, um módulo de celas poderá
ultrapassar a capacidade de 200 pessoas presas. Prevê celas coletivas com capacidade máxima para
8 pessoas e define as áreas exigidas para estes locais, possibilitando o uso de três camas superpostas
(beliches de três camas).
A realidade das unidades prisionais no país nos coloca diante de um quadro muito diferente deste,
com uma taxa de ocupação na ordem de 197,8%, sendo que 52% da população prisional encontra-se
em estabelecimentos penais com mais de 2 pessoas por vaga e apenas 7% da população (51.235
pessoas) encontra-se em unidades sem superlotação.
Fonte: Relatório de subcomitê da ONU alertou para condições precárias dos presídios brasileiros.
Foto: EBC
Diante deste quadro, cabe refletir sobre o descompasso entre as previsões legais e normativos, os
reduzidos recursos disponíveis para a ampliação das vagas e à realidade prisional, violadora das leis
e dos direitos humanos das pessoas privadas de liberdade. Como aponta o PNPCP-2015, é possível
uma outra resposta para a superlotação que contemple o desencarceramento, ampliando a aplicação
de alternativas penais para o controle de infrações de modo a “abarcar mediação penal, a justiça
restaurativa e as medidas cautelares diversas da prisão e do monitoramento eletrônico”.

MODULO 2
DIREITO A SAÚDE
A história sobre o direito à saúde da pessoa privada de liberdade pode ser contada a partir do olhar
sobre o conjunto de declarações, tratados e outros instrumentos que tratam dos direitos humanos no
âmbito internacional. Isto, pela possibilidade de afirmarmos que antes mesmo da normatização do
direito a saúde a população prisional já estava amparada por regras de tratamento comprometidas
com a proteção e combate a quaisquer atos de cunho degradante e desumano.
O Pacto Internacional dos Direitos Econômicos, Sociais e Culturais, de 1966, tendo sido ratificado
pelo Brasil em 1992, traz em seu artigo 12 “Os Estados-partes no presente Pacto reconhecem o
direito de toda pessoa de desfrutar o mais elevado nível de saúde física e mental” (BRASIL, 1992a,
art. 12. 1), assegurando também assistência médica quando em situação enferma (BRASIL, 1992a).
Em 1969, a Convenção Americana de Direitos Humanos, conhecida como Pacto de San José da
Costa Rica, também ratificada pelo Brasil em 1992, apresenta em seu artigo 5º “Direito à
integridade pessoal” que:
1. Toda pessoa tem direito a que se respeite sua integridade física, psíquica e moral.
2. Ninguém deve ser submetido à tortura, nem a penas ou tratos cruéis, desumanos ou
degradantes. Toda pessoa privada de liberdade deve ser tratada com o respeito devido à
dignidade inerente ao ser humano.
(...)
6. As penas privativas de liberdade devem ter por finalidade essencial a reforma e a
readaptação social dos condenados. (BRASIL, 1992b, Parte I, Capítulo I, Art. 5º).

No Brasil o direito à saúde é previsto por lei. A Constituição Federativa do Brasil (CF) de 1988
prevê no capítulo “Dos Direitos Sociais”, Art.6º o direito a saúde, juntamente com o direito a
educação, o trabalho, a moradia, a alimentação, o lazer, a segurança dentre outros (BRASIL, 1988).
A Seção II, do capítulo “Da Seguridade Social”, discorre exclusivamente “Da saúde” entre os
artigos 196 e 200.
Art. 196. A saúde é direito de todos e dever do Estado, garantido mediante políticas
sociais e econômicas que visem à redução do risco de doença e de outros agravos e ao
acesso universal e igualitário às ações e serviços para sua promoção, proteção e
recuperação. (BRASIL, 1988, Título VIII, Capítulo II, Seção II, Art. 196).

O Sistema Único de Saúde (SUS) foi criado a partir da Constituição de 1988, nesta mesma seção,
sendo regulado posteriormente pela Lei Orgânica da Saúde, nº 8.080/90 (BRASIL, 1990a) e pela
Lei nº 8.142/90 que dispõe sobre a participação da comunidade na gestão do SUS, recursos
financeiros e outras providências (BRASIL, 1990b).
[...] Art. 198. As ações e serviços públicos de saúde integram uma rede regionalizada e
hierarquizada e constituem um sistema único. (BRASIL, 1988, Título VIII, Capítulo II,
Seção II, Art. 198).

O SUS tem dentre seus princípios a universalidade do acesso (acesso para todas as pessoas,
oferecendo todos os serviços públicos de saúde), a integralidade de assistência (tomando o ser
humano como ser integral que demanda atenção e cuidado integrais também, com a necessidade da
articulação na saúde) e a equidade da assistência (igualdade e justiça juntos) sem preconceitos
(BRASIL, 1990a; BRASIL, 1990c). Quanto à sua competência, dispõe-se acerca da direção do SUS
no âmbito nacional, estadual e municipal. No quadro abaixo destacam-se algumas atribuições a
nível nacional (BRASIL, 1990a).).
À DIREÇÃO DO SUS A NÍVEL NACIONAL COMPETE: (BRASIL, 1990a)
I - Formular, avaliar e apoiar políticas de alimentação e nutrição; II - Participar na formulação e na
implementação das políticas envolvendo controle das agressões ao meio ambiente, o saneamento
básico e as condições de trabalho; III - Definir e coordenar os sistemas de redes integradas de
assistência de alta complexidade, de redes de laboratório de saúde pública, de vigilância
epidemiológica e vigilância sanitária; XI - Identificar serviços de referência nacional para o
estabelecimento de padrões técnicos de assistência à saúde; XII - Controlar e fiscalizar
procedimentos, produtos e substâncias de interesse para a saúde; XVIII - Elaborar Planejamento
Estratégico Nacional no âmbito do SUS em cooperação com as outras esferas;
A Constituição tem dentre seus fundamentos, a dignidade da pessoa humana e como um de seus
objetivos a promoção do bem geral sem quaisquer formas de discriminação (BRASIL, 1988),
constando que “Todos são iguais perante a lei” (BRASIL, 1988, Título II, Capítulo I, Art. 5º).
O direito à assistência a saúde para a população penitenciária foi instituído formalmente no Brasil a
partir da Lei de Execução Penal (LEP), nº 7.210 de 11 de julho de 1984, que previu, no Art. 10,
como dever do Estado a assistência à saúde ao preso, e definiu no seu artigo 14, que esta deve
compor de atendimento médico, farmacêutico e odontológico na unidade penal ou em qualquer
outro local, caso a unidade não seja capaz de prover a assistência necessária (BRASIL, 1984).
Conforme transcrito abaixo:
VEJA COMO ESTÁ DISPOSTO EM NOSSA LEGISLAÇÃO:
Lei de Execução Penal (LEP), nº 7.210, de 11 de Julho de 1984:
Art. 10. A assistência ao preso e ao internado é dever do Estado, objetivando prevenir o crime e
orientar o retorno à convivência em sociedade. Parágrafo único. A assistência estende-se ao egresso.
Art. 11. A assistência será: I - material; II - à saúde; III - jurídica; IV - educacional; V - social; VI -
religiosa. (BRASIL, 1984, Título II, Capítulo II, Seção I, Art. 10).
Art. 14. A assistência à saúde do preso e do internado de caráter preventivo e curativo,
compreenderá atendimento médico, farmacêutico e odontológico. § 1º (Vetado). § 2º Quando o
estabelecimento penal não estiver aparelhado para prover a assistência médica necessária, esta será
prestada em outro local, mediante autorização da direção do estabelecimento. § 3o Será assegurado
acompanhamento médico à mulher, principalmente no pré-natal e no pós-parto, extensivo ao recém-
nascido. (Incluído pela Lei nº 11.942, de 2009). (BRASIL, 1984, Título II, Capítulo II, Seção III,
Art.14).
Na Constituição de 88 além da garantia a todas as pessoas do acesso à saúde, consta relativo à
população privada de liberdade (PPL) que “é assegurado aos presos o respeito à integridade física e
moral” (BRASIL, 1988, Título II, Capítulo I, Art. 5º, XLIX). Dessa maneira, podemos dizer que a
assistência em saúde para a população prisional foi novamente afirmada enquanto um direito. No
entanto, associado a esta garantia normativa encontramos também o desafio da construção de uma
política que seja capaz de enfrentar as diversidades de barreiras impostas ao acesso à saúde.
Todavia, somente em 2001, quase uma década e meia após a promulgação da CF/88, através da
publicação da Portaria Interministerial MS/MJ, nº 2.035, de 08 de novembro (BRASIL, 2001),
surgiu no Brasil a primeira iniciativa de definição de diretrizes para organização da assistência em
saúde da população presa no Sistema Penitenciário.
Tomando como justificativa as precárias condições de habitabilidade e salubridade das unidades
penais brasileiras, bem como a preocupação com as elevadas taxas de infecção pelo HIV e outras
doenças infectocontagiosas, a referida portaria tratou da instituição de uma Comissão
Interministerial composta pelos Ministérios da Saúde e da Justiça, sob a coordenação da Secretaria
de Políticas de Saúde do Ministério da Saúde, com objetivo de “definir estratégias e alternativas de
promoção da assistência à saúde no âmbito do Sistema Penitenciário Nacional” (BRASIL, 2001,
Art. 1º).
Como consequência dos trabalhos desta Comissão Interministerial foi publicada, no ano seguinte, a
primeira versão do Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário (PNSSP), através da Portaria
Interministerial MS/MJ nº 628, de 2 de Abril de 2002 (BRASIL, 2002), sendo no ano seguinte
revogada pela Portaria MS/MJ nº 1.777, de 9 de Setembro de 2003 (BRASIL, 2003) da qual
trataremos mais a frente.

II - Atenção Básica (AB)*, Estratégia Saúde na Família (ESF) e Rede de Atenção à Saúde (RAS)

A ATENÇÃO BÁSICA
É o conjunto de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que envolvem promoção,
prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e
vigilância em saúde, desenvolvida por meio de práticas de cuidado integrado e gestão qualificada,
realizada com equipe multiprofissional e dirigida à população em território definido, sobre as quais
as equipes assumem responsabilidade sanitária.”.
(Portaria nº 2.436/2017, Art. 2º).
A AB é a principal porta de entrada e centro de comunicação da Rede de Atenção à Saúde (RAS), a
qual coordena o cuidado e ordena ações e serviços na rede de saúde (BRASIL, 2017, Art.2, § 1º).

Qual o conceito de Rede de Atenção à Saúde?


“A Rede de Atenção à Saúde é definida como arranjos organizativos de ações e serviços de saúde,
de diferentes densidades tecnológicas, que integradas por meio de sistemas de apoio técnico,
logístico e de gestão, buscam garantir a integralidade do cuidado.”.
Você sabe qual o objetivo da RAS? “O objetivo da RAS é promover a integração sistêmica de ações
e serviços de saúde com provisão de atenção contínua, integral, de qualidade, responsável e
humanizada, bem como incrementar o desempenho do Sistema, em termos de acesso, equidade,
eficácia clínica e sanitária; e eficiência econômica.”.
(Portaria GM nº 4.279, de 30 de dezembro de 2010)

A organização do SUS por meio da RAS tem o intuito de proporcionar maior integração e
consolidar os princípios do SUS a serem operacionalizados pela Atenção Básica (BRASIL, 2017).

PRINCÍPIOS DO SUS

As DIRETRIZES DA ATENÇÃO BÁSICA, dispostas na Portaria nº 2.436/2017, compreendem


(BRASIL, 2017):
Delimitações espaciais estratégicas - regiões de saúde - para planejar,
I) Regionalização e
organizar e gestar redes de ações e serviços de saúde; a hierarquização para
Hierarquização
organizar os pontos de atenção da RAS entre si;
Focar em um território específico para atuar com eficácia e eficiência;
II) Territorialização e
população adstrita é aquela presente no território da unidade de saúde, para
Adstrição
manter vínculo e responsabilização entre equipe e população;
III) Cuidado centrado Desenvolvimento de ações de cuidado individualizadas, construído com a
na pessoa pessoa, a partir de suas necessidades e potencialidades;
Atenção Básica deve ser capaz de resolver a maioria dos problemas de
IV) Resolutividade
saúde;
Continuar a relação de cuidado ao longo do tempo, de modo permanente e
V) Longitudinalidade
consistente, acompanhando os resultados das intervenções em saúde e de
do cuidado
outros elementos na vida da pessoa;
Elaborar, acompanhar e organizar o fluxo dos/as usuários/as entre os pontos
VI) Coordenação do
de atenção da RAS; centro de comunicação; relação horizontal, contínua e
cuidado
integrada, para promover gestão compartilhada da atenção integral;
Identificar as necessidades de saúde da população, organizando-as em
VII) Ordenação da
relação aos outros pontos de atenção à saúde, de modo que o planejamento
rede
das ações e programação dos serviços partam das necessidades observadas;
Estimular a participação das pessoas; orientação comunitária com intuito de
VIII) Participação da
ampliar autonomia e capacidade na construção do cuidado à saúde de si e
comunidade
dos/das demais pessoas.
(Portaria nº 2.436/2017)
Nesse material, será utilizado a sigla AB, referindo-se à Atenção Primária em Saúde (APS).

II - Atenção Básica (AB), Estratégia Saúde na Família (ESF) e Rede de Atenção à Saúde (RAS)

POR QUE A RAS DESAFIA AS PECULIARIDADES DO CENÁRIO BRASILEIRO?


Porque compreendendo a diversidade social, econômica e de contextos de saúde da população,
busca integrar a complexa inter-relação entre acesso, qualidade, custo e efetividade.

Você sabe quais são os elementos que formam a estrutura operacional das RAS?
As RAS possuem cinco elementos que formam sua estrutura operacional (BRASIL, 2010;
MENDES, 2010). São eles:
• Centro de comunicação – a Atenção Básica realiza o primeiro contato dos/das usuários/as
com o sistema. Deve exercer ações no nível individual e coletivo;
• Pontos de atenção secundária e terciária – Unidade de Pronto Atendimento (UPA) e
hospitais;
• Sistemas de apoio – sistemas de apoio diagnóstico e terapêutico, de assistência
farmacêutica e sistema de informação em saúde;
• Sistemas logísticos – soluções em saúde apoiados nas tecnologias de informação, tais como
o sistema de identificação dos usuários, prontuário clínico, centrais de regulação e sistemas
de transportes em saúde;
• Sistema de governança – capacidade de intervir envolvendo diversas pessoas, mecanismos
e procedimentos para gestão compartilhada, por exemplo, realizar negociação, analisar a
realidade e buscar resolver os problemas e compartilhar recursos, monitorar e avaliar a RAS.
E como esses elementos se comunicam entre si?
Através dos sistemas logísticos, permitem o elo entre os pontos de atenção à saúde e os sistemas de
apoio, de modo a tornar mais fácil a comunicação por meio das tecnologias de informação, com
atenção e gerenciamento de toda a rede pelo sistema de governança (SCHMITT; BOLSONI;
CONCEIÇÃO; OLIVEIRA, 2014).
Relacionado a PPL, a lógica da RAS permanece. Faz-se necessário a cooperação entre as
organizações para atender os interesses desse público alvo, mas após articulação política e trâmites
legais, a Equipe de Saúde no Sistema Prisional (ESP) se responsabiliza por articular e prestar
atenção integral a PPL (BRASIL, 2017), podendo contar com um grupo de agentes de saúde
privados de liberdade, e também educadores populares em saúde, dentre outros (SCHMITT;
BOLSONI; CONCEIÇÃO; OLIVEIRA, 2014).

A RAS não atua sozinha...


Abrange parte da assistência social (Sistema Único de Assistência Social – SUAS), da justiça,
segurança pública, conselhos de direitos e entidades da sociedade civil (SCHMITT; BOLSONI;
CONCEIÇÃO; OLIVEIRA, 2014).

O QUE UMA GESTÃO MUNICIPAL DEVERIA REUNIR?


Suporte estrutural, tecnológico e financeiro para atender às demandas de saúde municipal e da
região, possibilitando o atendimento integral à PPL. A ampliação dos serviços de saúde e a
articulação dos três níveis de assistência, se constituem como desafios para os municípios e regiões
para o processo de resolução e/ou intervenção sobre os problemas das PPL, de modo que a falta de
serviços e articulação entre estes, comprometa a resolutividade e a atenção integral, interferindo
desse modo, no processo de organização e estruturação do SUS.
Quanto à estruturação das RAS, é necessário que os níveis de atenção à saúde sejam melhores
articulados a fim de garantir a integralidade da assistência. A proposta das redes regionalizadas
requer maior articulação entre os gestores municipais que integram a região. Assim, a grande
demanda de serviços não ocorre de maneira satisfatória para atender às reais necessidades, os quais
superem os desafios e garantam à PPL uma assistência pautada na integralidade, universalidade e
equidade.
Neste contexto, torna-se fundamental que as EABp estejam organizadas e operando da melhor
forma possível, pois se compreende que você, profissional da saúde, desempenha a importante
função de coordenação dos cuidados.
Em relação à contratação da EABp: As contratações dos profissionais de saúde
ocorrem pela Secretaria de Estado de Saúde (SES); a Agência Estadual de
Adminsitração do Sistema Penitenciário (AGEPEN) disponibiliza profissionais
como psicólogos e assistentes sociais, para composição da equipe de saúde e os
municípios complementam com profissionais da rede de saúde local (BRASIL,
2014c, D, Gestão do trabalho, Item 23, p.21-22).
III - e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB)

E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO?

e-SUS AB
“O e-SUS é uma das estratégias do Ministério da Saúde para desenvolver, reestruturar e garantir a
integração desses sistemas, de modo a permitir um registro da situação de saúde individualizado por
meio do Cartão Nacional de Saúde.”.
(DATASUS, s.d)
Em 2013, instituiu-se o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) em
substituição ao SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica), passando a ter um sistema
unificado que integrasse todos os sistemas de informação para Atenção Básica. O SISAB prevê sua
operacionalização através do e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), uma estratégia do Departamento
de Atenção Básica (DAB/SAS/MS) (BRASIL, 2013b). Este, por sua vez, é composto por dois
sistemas de software de coleta de dados: Coleta de Dados Simplificado (CDS) (Figura 1) e
Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) (Figura 2) (BRASIL, 2013b).

E OS SISTEMAS DE INFORMAÇÃO?

e-SUS AB
“O e-SUS é uma das estratégias do Ministério da Saúde para desenvolver, reestruturar e garantir a
integração desses sistemas, de modo a permitir um registro da situação de saúde individualizado por
meio do Cartão Nacional de Saúde.”.
(DATASUS, s.d)
Em 2013, instituiu-se o Sistema de Informação em Saúde para a Atenção Básica (SISAB) em
substituição ao SIAB (Sistema de Informação da Atenção Básica), passando a ter um sistema
unificado que integrasse todos os sistemas de informação para Atenção Básica. O SISAB prevê sua
operacionalização através do e-SUS Atenção Básica (e-SUS AB), uma estratégia do Departamento
de Atenção Básica (DAB/SAS/MS) (BRASIL, 2013b). Este, por sua vez, é composto por dois
sistemas de software de coleta de dados: Coleta de Dados Simplificado (CDS) (Figura 1) e
Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC) (Figura 2) (BRASIL, 2013b).

Nas normas para operacionalização da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas
Privadas de Liberdade no Ssitema Prisional (PNAISP) (BRASIL, 2014b) consta que “O registro dos
procedimentos das ações de saúde dos serviços será realizado no sistema e-SUS AB, quando estiver
aderido/implantado nos estados, Distrito Federal e municípios” (BRASIL, 2014b, Art. 8º, parágrafo
único). Esses e outros bancos de dados devem ser alimentados sistemática e mensalmente
(BRASIL, 2013b), sob suspensão de repasse de incentivos (BRASIL, 2014b).
Pensado para atender as demandas na AB e possibilitar integração, pode ser utilizado pelas equipes
da AB, como as dos Núcleos Ampliados de Saúde da Família e Atenção Básica (NASF-AB), da
Atenção Domiciliar, do Consultório na Rua, do Programa Saúde na Escola, Academia da Saúde,
pelas Equipes de Atenção Básica Prisional (BRASIL, 2013b; BRASIL, 2014b; BRASIL, 2015a).

O QUE A ESTRATÉGIA E-SUS AB PRECONIZA?


Busca individualizar o registro, integrar a informação, reduzir o retrabalho na coleta de dados,
informatizar as unidades, gestão do cuidado e a coordenação do cuidado (BRASIL, 2018a). Desse
modo, permite-se uma comunicação mais rápida, integrada e organizada, otimizando e facilitando o
trabalho dos/as profissionais.

Como é a utilização do e-SUS AB no sistema prisional?


Existem desafios permanentes e no sistema prisional, o sistema não é utilizado em sua plenitude. Há
ferramentas, como o Prontuário Eletrônico do Cidadão (PEC), que necessitam de maior
acessibilidade eletrônica para sua concretização, uma vez que se depende da aplicação de recursos
financeiros para a instalação de computadores com acesso à internet em todas as Unidades
Prisionais, e nos pontos de atenção secundária representados principalmente pelos hospitais do
município.

IV - O Plano Nacional de Saúde no Sistema Penitenciário – PNSSP

Na Portaria Interministerial MS/MJ nº 1.777 de 2003 considera-se:


- A importância da definição e implementação de ações e serviços, consoantes com os
princípios e diretrizes do Sistema Único de Saúde – SUS –, que viabilizem uma atenção
integral à saúde da população compreendida pelo Sistema Penitenciário Nacional (...);

- A estimativa de que, em decorrência de fatores de risco a que está exposta grande parte
dessa população, ocorra um número significativo de casos de DST/AIDS, tuberculose,
pneumonias, dermatoses, transtornos mentais, hepatites, traumas, diarréias infecciosas,
além de outros problemas prevalentes na população adulta brasileira, tais como
hipertensão arterial e diabetes mellitus; (...) (BRASIL, 2003, p.1)

Também considerando a imprescindibilidade de ações para combate a essas doenças e de caráter


preventivo, a importância de estudos envolvendo toda a população privada de liberdade brasileira
de modo a revelar seu perfil epidemiológico, e as diferenças de assistência à saúde ofertada a essa
população nos diversos estados (BRASIL, 2003) resolve-se no Art. 1º desta Portaria aprovar o
PNSSP de modo a “prover a atenção integral à saúde da população prisional confinada em unidades
masculinas e femininas, bem como nas psiquiátricas” (BRASIL, 2003, p.1), tendo como
prioridades:
I. a reforma e a equipagem das unidades prisionais visando a estruturação de serviços
ambulatoriais que atendam às necessidades de atenção no nível básico, mínimo da
assistência no nível da média complexidade (conforme NOAS/MS em seu Anexo III –
Grupo 7) e componentes das urgências e emergências em saúde, em consonância com as
especificidades do Sistema Penitenciário Nacional;

II. a organização do sistema de informação de saúde da população penitenciária;


III. a implantação de ações de promoção da saúde, em especial no âmbito da
alimentação, atividades físicas, condições salubres de confinamento e acesso a
atividades laborais;

IV. a implementação de medidas de proteção específica, como a vacinação contra


hepatites, influenza, tétano;

V. a implantação de ações para a prevenção de tuberculose, hanseníase, diabetes,


hipertensão, hepatites, DST/AIDS e dos agravos psicossociais decorrentes do
confinamento, bem como a distribuição de preservativos e insumos para a redução de
danos associados ao uso de drogas;

VI. a garantia do acesso da população penitenciária aos demais níveis de atenção à


saúde, através das referências, que deverão estar incluídas na Programação Pactuada
Integrada (PPI) estadual, mediante negociação na Comissão Intergestores Bipartite
(CIB) (BRASIL, 2003, p.1-2).

No PNSSP estabeleceu-se a implantação de equipes de saúde responsáveis pela atenção básica em


saúde, as quais devem ser compostas minimamente por médico, psicólogo, assistente social,
odontólogo, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e auxiliar de consultório dentário, cuja
cobertura deverá ser de até 500 presos/as por equipe (BRASIL, 2003).
Como resultados esperados a partir do PNSSP têm-se:
1.Implantação de ações de assistência à saúde que compõem o elenco mínimo referido
no item 3.1, relativos à saúde bucal, saúde da mulher, DST/HIV/AIDS, saúde mental,
hepatites, tuberculose, hipertensão e diabetes, hanseníase, aquisição e controle de
medicamentos, imunizações e exames laboratoriais. (BRASIL, 2003, p.7).

Pode ser observado que tanto na Comissão Interministerial quanto no Plano Nacional de Saúde no
Sistema Penitenciário, apesar da amplitude do escopo de ações elencadas no âmbito da atenção
primária em saúde, foi dado enfoque especial às doenças infectocontagiosas.
O PNSSP se aproximou da lógica de um subsistema de atenção à saúde para a população
penitenciária, uma vez que propunha um arranjo diferenciado de organização assistencial e de
responsabilidades intergovernamentais, sem no entanto, instituir instâncias diferenciadas e/ou
exclusivas de discussão e deliberação. Dessa forma, utilizando de ferramentas e instâncias de gestão
já existentes no SUS, forçando a formulação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das
Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional – PNAISP, instituído pela Portaria
Interministerial MJ/MS nº 1, de 2 de janeiro de 2014.

V - A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no


Sistema Prisional (PNAISP)

Com objetivo principal de “garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema
prisional ao cuidado integral no SUS” (BRASIL, 2014a, Art. 5º), os objetivos específicos da
PNAISP (BRASIL, 2014a, Art. 6º) são:
• Promoção do acesso à Rede de Atenção à Saúde;
• Garantia da autonomia dos/das profissionais de saúde;
• Qualificação e humanização da atenção à saúde;
• Promoção das relações intersetoriais com políticas de direitos humanos, afirmativas e
sociais;
• Fomento e fortalecimento da participação e do controle social.

A política contempla em seu art. 8º, que as/os trabalhadoras/es em serviços penais, familiares e
outras pessoas envolvidas com a PPL, serão inseridas nas atividades de prevenção e promoção da
saúde (BRASIL, 2014a). Já no art. 20, afirma a possibilidade da PPL trabalhar nos serviços e
programas de saúde e educação implantados nas unidades prisionais, podendo ser concedido à
remição de pena (BRASIL, 2014a).
O Art. 15 ao 17 trata das competências atribuídas à União, Estados, Distrito Federal e aos
Municípios. Abaixo encontram-se algumas das competências da União por intermédio do Ministério
da Saúde (BRASIL, 2014a).
COMPETE À UNIÃO POR INTERMÉDIO DO MINISTÉRIO DA SAÚDE: (BRASIL,
2014a)
- elaborar planejamento estratégico para implementação da PNAISP, em cooperação técnica com
Estados, Distrito Federal e Municípios, considerando as questões prioritárias e as especificidades
regionais, de forma contínua e articulada com o Plano Nacional de Saúde e instrumentos de
planejamento e pactuação do SUS;
- garantir fontes de recursos federais para compor o financiamento de programas e ações na rede de
atenção à saúde nos Estados, Distrito Federal e Municípios, transferindo de forma regular e
automática, os recursos do Fundo Nacional de Saúde;
- definir estratégias para incluir de maneira fidedigna as informações epidemiológicas das
populações prisionais nos sistemas de informação do Ministério da Saúde;
- apoiar a articulação de instituições, em parceria com as Secretarias de Saúde dos Estados, do
Distrito Federal e dos Municípios, para capacitação e educação permanente dos profissionais de
saúde para a gestão, planejamento, execução, monitoramento e avaliação de programas e ações da
PNAISP no SUS;
- apoiar e fomentar a realização de pesquisas consideradas estratégicas no contexto desta Política,
mantendo atualizada uma agenda de prioridades de pesquisa para o SUS;
- promover ações de informação, educação e comunicação em saúde, visando difundir a PNAISP;

COMO É COMPOSTA A EQUIPE DA AB?


A AB tem como estratégia prioritária para sua reorganização e consolidação a Estratégia de Saúde
da Família (ESF). A composição de sua equipe mínima pode ser vista na imagem abaixo (BRASIL,
2017).
Composição da Equipe de Saúde da Família
• Médico, preferencialmente especialista em medicina de família e comunidade;
• Enfermeiro, preferencialmente especialista em saúde da família;
• Auxiliar e/ou técnico de enfermagem;
• Agente Comunitário de Saúde (ACS).

OPTATIVO:
• Agente de Combate às Endemias (ACE);
• Equipe de Saúde Bucal (cirurgião-dentista, preferencialmente especialista em saúde da
família, auxiliar e/ou técnico em saúde bucal).

V - A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no


Sistema Prisional (PNAISP)
A assistência à saúde das PPL pode ser realizada pelas Unidades Básicas de Saúde ou através das
ESP, que são constituídas por Equipes de Atenção Básica Prisional (EABp), conforme a pactuação
(BRASIL, 2014a). A Portaria nº 482, de 1 de abril de 2014, institui normas de operacionalização da
PNAISP, estabelecendo que as unidades prisionais devem ofertar os serviços de saúde em
conformidade com o número de privados/as de liberdade e o funcionamento dos serviços (BRASIL,
2014b; BRASIL, 2014b; FREITAS; ZERMIANE; NIEVOLA; NASSER; DITTERICH, 2016).

COMPOSIÇÃO DAS EABP


EABp I EABp II EABp III
Até 100 presos - 6h/s De 101 até 500 presos 20h/s De 501 até 1200 presos 30h/s
• 1 Médico
• 1 Enfermeiro
• 1 Técnico de
Enfermagem/Auxiliar de
Enfermagem
• 1 Cirurgião-dentista
• 1 Médico
• 1 Técnico de Higiene
• 1 Enfermeiro
Bucal/Auxiliar de Saúde
• 1 Técnico de
Bucal
Enfermagem/Auxiliar de • 1 Assistente Social
Enfermagem
• 1 Médico • 1 Psicólogo
• 1 Cirurgião-dentista
• 1 Enfermeiro • 1 Profissional de Nível
• 1 Técnico de Higiene
• 1 Técnico de Superior (Terapeuta
Bucal/Auxiliar de Saúde
Ocupacional,
Enfermagem/Auxiliar Bucal
Fisioterapeuta,
de Enfermagem • 1 Assistente Social
Nutricionista,
• 1 Cirurgião-dentista • 1 Psicólogo Farmacêutico, Enfermeiro
• 1 Técnico de Higiene • 1 Profissional de Nível ou Psicólogo)
Bucal/Auxiliar de Superior (Terapeuta
Saúde Bucal Ocupacional,
Fisioterapeuta, Saúde Mental:
Nutricionista,
Farmacêutico, • 1 Médico Psiquiatra ou
Enfermeiro ou com experiência em
Psicólogo) saúde mental
• 2 Profissionais de Nível
Superior (Terapeuta
Ocupacional,
Fisioterapeuta, Psicólogo,
Assistente Social,
Enfermeiro,
Farmacêutico)
EABp I EABp II EABp III
Até 100 presos - 6h/s De 101 até 500 presos 20h/s De 501 até 1200 presos 30h/s
Saúde Mental Optativa Saúde Mental Optativa
Fonte: BRASIL, 2015c
Os estados que quiserem aderir a PNAISP devem assinar o Termo de Adesão, elaborar um Plano de
Ação Estadual para Atenção à Saúde da Pessoa Privada de Liberdade e encaminhar a documentação
ao Ministério da Saúde para aprovação (BRASIL, 2014a, 2014b). A adesão dos municípios é
facultativa e para aderir é necessário primeiro ter adesão estadual e possuir PPL em seu
território. Posteriormente, seguir com os procedimentos de assinatura do Termo, elaboração
de um Plano de Ação Municipal e encaminhamento da documentação (BRASIL, 2014a). De
modo a promover a adesão, o incentivo financeiro mensal está estabelecido no documento, mais a
possibilidade de outra complementação aos estados e municípios a ser definida de acordo com a
taxa da população prisional (em relação à população geral no município) e o Índice de Desempenho
do SUS (IDSUS) municipal, podendo variar de 6% a 35% (BRASIL, 2014b).
Segundo o art. 21 da Portaria Interministerial nº 1/2014, os estados tinham até dezembro de 2016
para se adequarem e implementarem a PNAISP, constando também que esta Portaria revoga a
Portaria Interministerial nº 1777 MS/MJ/2003, mas que os estados devem continuar a segui-la
enquanto não efetivarem a implementação da PNAISP (BRASIL, 2014a).

ADESÃO À PNAISP
No que tange a adesão dos entes federativos à PNAISP, tem-se a adesão de todos os estados,
dispostos no quadro a seguir, com suas respectivas portarias a partir da data crescente de adesão. Os
municípios ainda se encontram em processo de adesão.

ESTADOS RESPECTIVA PORTARIA POR DATA CRESCENTE


Acre
Tocantins
Rio Grande do Sul
Portaria nº 1.602, de 31 de julho de 2014.
Rio Grande do Norte
Pará
Distrito Federal
Amazonas Portaria nº 1.601, de 31 de julho de 2014.
Goiás
Maranhão Portaria nº 1.966, de 12 de setembro de 2014.
Mato Grosso do Sul
Santa Catarina Portaria nº 1.971, de 12 de setembro de 2014.
Minas Gerais Portaria nº 2.277, de 17 de outubro de 2014.
Alagoas
Bahia Portaria nº 2.274, de 17 de outubro de 2014.
Pernambuco
Rio de Janeiro
Paraná
Portaria nº 2.275, de 17 de outubro de 2014.
São Paulo
Amapá
Piauí Portaria nº 2.518, de 11 de novembro de 2014.
Ceará Portaria nº 2.484, de 11 de novembro de 2014.
ESTADOS RESPECTIVA PORTARIA POR DATA CRESCENTE
Rondônia Portaria nº 2.448, de 11 de novembro de 2014.
Paraíba Portaria nº 675, de 3 de junho de 2015.
Roraima Portaria nº 867, de 27 de abril de 2016.
Sergipe Portaria nº 1.172, de 16 de junho de 2016.
Mato Grosso Portaria nº 1.835, de 11 de outubro de 2016.
Espírito Santo Portaria nº 277, de 27 de janeiro de 2017.

VI - Atenção Integral à Saúde: Alguns Desafios e Possibilidades


A assistência integral à saúde constitui um desafio, dada todas as esferas e condições de vida a
serem consideradas para pensar e fazer em saúde (SCHMITT; BOLSONI; CONCEIÇÃO;
OLIVEIRA, 2014). Os profissionais de saúde são estimulados a realizarem a gestão do cuidado (ou
gestão dos seus processos de trabalho), de modo a garantirem a integralidade na atenção à saúde.
Todavia, nesse processo, existem obstáculos a serem superados: número inadequado de
profissionais disponíveis, precariedade de serviços especializados, falta de transporte, ausência ou
pouco diálogo necessário entre as instituições de saúde.

E AS POSSIBILIDADES?
Como possibilidade de solução, discorrem sobre solicitar ajudar do/da gestor/a e dialogar com
trabalhadores/as e outros/as gestores/as, de modo a firmar o compromisso do trabalho em rede
(SCHMITT; BOLSONI; CONCEIÇÃO; OLIVEIRA, 2014).
O Conselho Municipal de Saúde também pode ajudar a dirimir disputas. Sendo uma instância
deliberativa, pode tomar, de maneira legítima, as decisões importantes para o redesenho e a
adaptação da rede.

VII - A Política Nacional de Humanização e o Sistema Prisional Brasileiro


Frente a alguns dos desafios presentes na execução dos princípios do SUS, as políticas públicas vem
para somar. Nesse sentido, em 2003, o Ministério da Saúde publica a Política Nacional de
Humanização (PNH), também chamada de HumanizaSUS.
Veja abaixo os princípios:

TRANSVERSALIDADE...
... de modo que a PNH esteja presente em todas as políticas e programas do SUS, com a intenção de
aumentar a interação e comunicação entre as pessoas, fora da relação de poder hierarquizada.

INDISSOCIABILIDADE...
... entre atenção e gestão, isto é, diálogo e inclusão entre trabalhadores/as, usuários/as e gestores/as
em todos os processos.
PROTAGONISMO, CORRESPONSABILIDADE E AUTONOMIA...
... dos sujeitos e coletivos, em que se reconhece e valoriza o papel de cada pessoa, bem como se
divide responsabilidades e incentiva uns aos outros (BRASIL, 2013c).
As diretrizes envolvem:
• O ACOLHIMENTO
reconhecer as necessidades de cada sujeito, através de uma escuta qualificada, por exemplo,
estabelece-se confiança e vínculo;
• A GESTÃO PARTICIPATIVA E COGESTÃO
inserir novas pessoas para analisar e decidir tarefas;
• A CLÍNICA AMPLIADA E COMPARTILHADA
instrumento teórico-prático que considera os sujeitos únicos e compreende a complexidade
do processo saúde/doença;
• VALORIZAÇÃO DO/A TRABALHADOR/A
reconhecer seu trabalho e inseri-los nas tomadas de decisões;
• DEFESA DOS DIREITOS DOS/DAS USUÁRIOS/AS
no qual, além de assegurar a execução de seus direitos, incentivam que as pessoas saibam
quais são seus direitos.
• Fonte: (BRASIL, 2013c).

A PNAISP também se apresenta, no contexto de um sistema carcerário grande e precário, para o


cumprimento da humanização na atenção e qualificação da saúde no sistema prisional, sendo
ressaltada positivamente por Verdi, Matias e Garcia Júnior (2014), a integração dessa política com a
PNH. Ainda segundo as autoras:
O desafio é sair de um modelo de privação de liberdade que se limita a reconhecer
parcialmente o direito à saúde. Temos de criar meios de conectar esses espaços com os
sujeitos e suas histórias, trazer à tona a defesa da vida. (...) A humanização valoriza a
presença e acompanhamento de todos os envolvidos nos processos de tratamento
(VERDI, MATIAS, GARCIA JÚNIOR, 2014, slide 39-40).

As populações vulneráveis, as quais a PPL se encontra, podem ser listadas:


• Populações negras;
• Quilombolas;
• Ciganas;
• Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais (LGBTT+);
• População em situação de rua.

Como medida para o combate à desigualdade, o Ministério da Saúde publicou as Políticas de


Promoção da Equidade em Saúde (BRASIL, 2013e). A equidade, ilustrada na imagem abaixo,
articula justiça e igualdade, na qual levam-se em consideração as necessidades e especificidades de
uma pessoa ou grupo, buscando minimizar o impacto das diferenças (BRASIL, 2015b).

VII - O Processo Humanização no Sistema Prisional Brasileiro


O QUE ACONTECEU NA 46ª REUNIÃO ORDINÁRIA DO CNDC/LGBT – CONSELHO
NACIONAL DE COMBATE À DISCRIMINAÇÃO E PROMOÇÃO DOS DIREITOS DE
LGBTT+?
Em resolução conjunta, estabeleceu-se parâmetros de acolhimento das pessoas LGBTT+ em
privação de liberdade no Brasil, dentre eles, o respeito ao nome social, espaço de vivência
específico às pessoas gays e lésbicas privadas de liberdade, o encaminhamento de transexuais e
travestis às unidades prisionais de acordo com respectiva identidade de gênero, os homens trans
encaminhados às unidades prisionais femininas por razões de risco à segurança, criação de Ala
Inclusiva para transexuais e travestis, direito ao uso de roupas consoante a identidade de gênero,
dentre outras medidas. Ressalta-se que é dever do Estado garantir formação às/aos profissionais, em
especial modo das unidades prisionais, no âmbito dos direitos humanos e respeito às questões
relacionadas à orientação sexual e identidade de gênero (BRASIL, 2018C).
O quadro abaixo é um exemplo que retrata conquistas na busca por direitos, humanização, justiça,
acolhimento e equidade. A figura consta nos manuais de uso dos sistemas e-SUS AB. Diz-se que
nas fichas de cadastro individual e do PEC, foram incluídos, além do campo nome social, o de
identidade de gênero, que uma vez assinalado, o sistema “desabilita as críticas relacionadas ao sexo
feminino ou masculino, permitindo o uso de todas as funcionalidades independente do sexo do
cidadão (BRASIL, 2019, p.23).
NOME SOCIAL
Segundo a Carta dos Direitos dos Usuários de Saúde, datada de 2011, no inciso I do artigo 4º, é
garantida a“identificação pelo nome e sobrenome civil, devendo existir, em todo o documento do
usuário e usuária, um campo para se registrar o nome social, independentemente do registro civil,
sendo assegurado o uso do nome de preferência, não podendo ser identificado por número, nome ou
código da doença, ou outras formas desrespeitosas ou preconceituosas”.
Considerando as determinações da 13ª Conferência Nacional de Saúde (BRASIL, 2008) acerca da
inclusão das orientações sexual e da identidade de gênero na análise da determinação social da
saúde, a Portaria nº 2.836, de 1º de dezembro de 2011, que “instituiu, no âmbito do Sistema Único
de Saúde (SUS), a Política Nacional de Saúde Integral de Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e
Transexuais (Política Nacional de Saúde Integral LGBT)”, busca garantir o uso do nome social de
travestis e transexuais, de acordo com a Carta dos Direitos dos Usuários da Saúde supracitada.
Diante disso, para assegurar ao usuário o acesso universal, igualitário e ordenado às ações e
serviços de saúde do SUS, conforme o Decreto nº 7.508, de 28 de junho de 2011, que regulamenta a
Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, foi criado o campo NOME SOCIAL nas fichas de Coleta
de Dados Simplificada.
PROVA
1- carater ilicito c
2- Para a progressão de um regime mais severo para outro menos rigoroso, a Lei de Execução Penal (LEP), a partir de
2003, passou a requerer que: O apenado tenha cumprido o período mínimo exigido para a progressão e que o diretor do
estabelecimento penal ateste que teve bom comportamento carcerário

3- Com relação aos sistemas penitenciários do país, pode-se afirmar que:


Escolha uma opção:
a.
O Sistema Penitenciário Federal é subordinado ao Departamento Penitenciário Nacional e os estaduais, aos respectivos
governos dos estados e do Distrito |Federal, com independência

4- Quanto às mudanças provocadas pela adoção da concepção de recuperação dos indivíduos no sistema de penas durante
o século XVIII, pode-se afirmar que: O sistema penal deixou de ser apenas punitivo, passando a visar a transformação dos
criminosos.

5- Uma das características do sistema progressivo brasileiro é: A progressão de regime decidida pelo juízo da execução
penal, considerando os critérios de tempo e de comportamento carcerário.

6- O direito à assistência a saúde para a PPL foi instituído formalmente no Brasil a partir de qual documento? Lei de
Execução Penal, No 7.210/1984

7- Conforme estabelecido na Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, compete à direção nacional do Sistema Único de
Saúde (SUS): Participar na formulação e na implementação das políticas envolvendo controle das agressões ao meio
ambiente, o saneamento básico e as condições de trabalho.

8- A respeito do e-SUS Atenção Básica (AB) todas as afirmativas abaixo se aplicam, EXCETO: Não está prevista
periodicidade para alimentar o SISAB, de modo que se leve em consideração a rotina intensa de trabalho.

9- Qual das políticas públicas abaixo tem como diretriz o acolhimento, a gestão participativa e cogestão, a ambiência, a
clínica ampliada e compartilhada, a valorização do/a trabalhador/a e a defesa dos direitos? Política Nacional de
Humanização

10- Segundo consta no PNSSP, a composição mínima da equipe de saúde deve ser: Médico, psicólogo, assistente social,
odontólogo, enfermeiro, auxiliar de enfermagem e auxiliar de consultório dentário.

MODULO 2
Pensar sobre violência e saúde no contexto prisional é exemplar para entendermos a transição entre
questões sociais e problemas de saúde. Violência não é um problema médico típico, e sim um
problema social que acompanha toda a história e as transformações da humanidade. No entanto, a
violência afeta muito a saúde: ela provoca mortes, lesões e traumas físicos e inúmeros agravos
mentais e emocionais; diminui a qualidade de vida das pessoas e das coletividades; mostra a
inadequação da organização tradicional dos serviços de saúde; coloca novos problemas para o
atendimento médico; e evidencia a necessidade de uma atuação muito mais específica,
interdisciplinar, multiprofissional, intersetorial e engajada do setor, visando às necessidades dos
cidadãos.
A Organização Mundial da Saúde (OMS, 2002) define violência como:
 
O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio,
contra outra pessoa, ou contra um grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha
grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico, deficiência de
desenvolvimento ou privação (KRUG et al., 2002 p.5).

O Ministério da Saúde brasileiro, desde 2001, adotou o enfrentamento da violência como uma de
suas diretrizes de atuação, particularmente em relação aos jovens e à população em idade produtiva
(BRASIL, 2001).
Você sabia, que na faixa de 5 a 49 anos, a primeira causa de morte são as violências? Importante
considerarmos que 55% da população prisional é formada por jovens de até 29 anos e que 97% dos
presos do país têm até 45 anos (INFOPEN, 2016).
Entre os homens jovens (de 15 a 29 anos), o percentual da mortalidade por agressão chega a 82%.
As ocorrências das várias expressões de violência têm um efeito universal, impactando jovens,
familiares, comunidade e sociedade, do ponto de vista físico e emocional. Também aumenta a
demanda aos serviços de atenção à saúde, para onde convergem as diferentes formas de agravos e
sequelas.
A Política Nacional de Redução da Morbimortalidade por Acidentes e Violências (BRASIL, 2001),
aprovada por portaria do Ministério da Saúde em maio de 2001, trata o tema em pauta como um
problema social e histórico e o situa nos marcos da promoção da saúde e da qualidade de vida.
Toda categorização sobre violência, tal como a proposta pela OMS, só pode ser compreendida com
base na complexa interação entre fatores individuais, relacionais, sociais, culturais e ambientais. A
OMS utilizou um modelo explicativo, denominado modelo ecológico, que mostra as conexões entre
o indivíduo, seu universo relacional, vivências comunitárias e o ambiente social a que está exposto.

Fonte: Krug et al., 2002


 
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Vamos pensar no modelo explicativo da OMS e nos quadros sobre quem pratica e as naturezas das
violências. Agora considere o preso como o campo do indivíduo e pense as outras dimensões que
afetam e contribuem para as violências sofridas e praticadas. Não é uma tarefa fácil, pois se trata de
um fenômeno complexo.
As violências fazem parte da vida pregressa dos presos. Nas informações sobre a vida antes da
prisão, Minayo e Constantino (2015), identificaram vários tipos de eventos. Os presos narraram
agressões entre gangues armadas ou de confronto com policiais. Essa concepção que reduz o
conceito de violência ao de crime, é também a mais comum na sociedade.
Violência não é sinônimo de crime, embora a maioria dos crimes sejam expressões de violências.
As mulheres presas se referiram à violência doméstica, conjugal e sexual que sofreram durante à
vida. As mulheres falaram de abuso sexual e estupro na adolescência. Soares e Ilgenfritz (2002),
estudaram a situação das presas em todas as unidades do Estado do Rio de Janeiro e afirmam que
suas trajetórias se confundem com as histórias de violência que enfrentaram: mais de 95% sofreram
maus-tratos na família pelo menos na infância, na adolescência, no casamento ou nas mãos da
polícia; 75% foram vitimadas pelo menos em duas dessas ocasiões; e muitas passaram por ameaças
de morte por parte de policiais ou de pais alcoolistas. Várias tiveram experiências de abuso sexual
na infância, ou mais tarde, por parte de maridos violentos e de outros agressores. Muitas têm pais,
maridos e irmãos assassinados ou estão na cadeia por acompanhar os companheiros em suas
atividades ilegais.
Estudos apontam que muitos presos e presas foram vítimas de abandonos, de maus-tratos dos pais e
irmãos e de muita negligência por parte também dos programas sociais e educativos, em um
momento crucial para sua formação psicossocial. Embora não se possa simplificar, afirmando que
há uma relação direta ou de determinação entre a violência sofrida na infância e na adolescência e a
entrada na criminalidade, podemos considerar como mais um fator de risco.
III - Violências NO e DO Contexto Prisional

Algumas violências acompanham os presos nos espaços extramuros e intramuros, outras são
potencializadas nesses espaços e ainda há aquelas promovidas pelo próprio encarceramento. Os
problemas e conflitos familiares se exacerbam no cárcere, o que deixa um percentual muito elevado
de presos e presas no mais total abandono e isolamento. O aprisionamento traz ainda situações
novas, como a convivência com outros presos, em que estratégias de sociabilidade e de precaução
se tornam necessárias. Novas vivências se impõem pela proximidade de corpos e por hierarquias
internas que exigem comportamentos submissos, dentro e fora das celas.
Dois conceitos nos ajudam a refletir sobre a violência intramuros: violência institucional e
violência interpessoal.
Entre as situações de violência, destacam-se a agressão psicológica e a agressão física. As mulheres
relataram, em maiores proporções que os homens, terem sido alvo de agressão verbal e sexual,
quedas, tentativas de suicídio e de homicídio e perfuração por arma branca; os homens
mencionaram mais que as mulheres terem sofrido e ainda sofrerem agressões físicas.
As proporções de tentativas de morte autoinfligida (suicídio) na população carcerária feminina
(9,4%), são muito mais elevadas que na população geral de mulheres brasileiras (2%), o que indica,
possivelmente, suas dificuldades de adaptação ao ambiente fechado, o maior abandono que sofrem
e a falta que sentem dos filhos e da família.
A OMS (2002) salienta que as mulheres nas prisões apresentam um índice maior de tentativas de
suicídio, mas os homens são indicados como os que mais concretizam o ato. Mulheres que estão na
cadeia, segundo a OMS, tentam se matar cinco vezes mais que a população feminina em geral e
duas vezes mais que os homens presos. Um estudo realizado por Pragosa (2012) em uma prisão em
Portugal, em que também se observaram taxas elevadas de tentativas de suicídio em relação à
população em geral, identificou que boa parte dos presos apresentava questões de saúde mental
(sofrimento psíquico) e fazia uso de medicação psicotrópica. Eram indivíduos introvertidos e
apresentavam sintomas depressivos. Entre os traços de vulnerabilidade, o autor encontrou ainda
ansiedade, hostilidade e impulsividade, problemas de sociabilidade e de desconfiança em relação ao
outro. Folino, Marchiano e Wilde (2003), em Buenos Aires, encontraram uma taxa anual de
suicídios 13 vezes maior que a da população em geral. Essas informações apontam para uma
necessidade premente de ações de prevenção e atenção em saúde mental nas unidades prisionais.
O Infopen é um sistema de informações estatísticas do sistema penitenciário brasileiro e
disponibiliza dados de mortes registradas entre a população prisional ao longo do primeiro semestre
de 2016. As informações obtidas acerca da mortalidade foram compiladas na tabela abaixo, de
acordo com o cálculo da taxa de mortalidade para cada grupo de 10 mil pessoas privadas de
liberdade.
Tabela 1 - Taxas de Mortalidade para cada 10 mil pessoas privadas de liberdade no primeiro
semestre de 2016 por natureza da morte e unidade da Federação

Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016


O que você consegue identificar nessa tabela?
Em muitas unidades da Federação, os óbitos criminais ultrapassam as taxas dos óbitos naturais.
Esse é um bom termômetro para aferirmos as violências no interior das unidades prisionais
Vamos assistir a esses dois documentários. Eles nos ajudarão a pensar sobre essas questões.
Tortura e Encarceramento em Massa no Brasil (2015)
Promovido pela Pastoral Carcerária, o documentário é dividido em duas partes. A primeira delas,
intitulada: A Tortura como Política de Estado, trata das novas roupagens da tortura dentro do
sistema prisional (12 min); já a segunda parte, As Mulheres e o Cárcere, aborda as violências
sofridas por mulheres presas (19 min).
O estudo de Minayo e Constantino (2015) reitera os dados apresentados demonstrando que a
violência, que fazia parte dos relacionamentos criminosos antes de serem detidos, acompanha
homens e mulheres dentro da prisão: mais da metade deles se considerou em risco de lesões e
morte, de agressões físicas, verbais e emocionais. Afirmaram correr riscos no interior do presídio
54,5% dos homens e 62,7% das mulheres.
Os homens, mais que as mulheres, acreditam que correm perigo de serem vitimados por armas de
fogo e explosões. As mulheres têm mais medo da violência psicológica, dos ferimentos por arma
branca e das queimaduras. As mulheres citaram os medos de serem castigadas injustamente,
acusadas por ações que não praticaram, reprimidas ao falar algo que não devam com os agentes, de
serem transferidas e sofrerem castigos físicos no lugar para onde fossem, de ficarem de castigo sem
visitas, de ficarem muito tempo algemadas, de morrerem por falta de tratamento médico ou de
serem golpeadas por agentes masculinos (os quais consideram muito agressivos). Duas menções são
emblemáticas: “medo de ser vencido pelo descaso e pela crueldade”; “medo desse sistema falido”.
Muitos presos e presas apresentam lesões permanentes, 26,3% das quais foram adquiridas no
presídio.
Numa ampla e complexa dinâmica, os profissionais que atuam nos presídios podem ao mesmo
tempo ser alvo de violências, cuidar das vítimas da violência e, até mesmo, podem ser autores de
violências institucionais contra a população que atendem.
Os dados aqui apresentados oferecem um verdadeiro testemunho dos efeitos da violência nas
prisões. Todos os aspectos mencionados são o avesso do que prescrevem o guia Saúde nas prisões,
da OMS (WHO, 2007), a Lei de Execução Penal e a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional.
O difícil relacionamento dos presos com os que estão encarregados de guardá-los e a falta total de
governabilidade e de domínios sobre as atividades mais elementares de sua vida – como a comida
de péssima qualidade, o espaço mínimo para dormir, a falta de água constante, a superlotação, o
calor exacerbado, entre tantos outros aspectos – são motivos suficientes para tornar violento o
ambiente e emocionalmente insuportável o tempo de reclusão.

IV – Ações de Prevenções de Violências

Para identificarmos fatores de prevenção, devemos avaliar os fatores de risco para o surgimento da
violência. Falamos sobre muitos deles ao longo do módulo.
Pensar em prevenção às violências que ocorrem no sistema prisional, vai diretamente ao encontro
da garantia de direitos da população encarcerada. Quando o foco é a prevenção da violência, o
conceito se alia diretamente ao de cidadania. Minayo (2009, p.40) aponta que, "do ponto de vista
social, o contrário da violência não é a não violência, mas sim a cidadania e a valorização da
vida humana em geral e de cada indivíduo." Nesse sentido, prevenção de violências no sistema
prisional necessariamente precisa considerar o intra e extramuros. Vamos pensar sobre os níveis de
prevenção:
A educação e a instauração da cultura de paz aparecem como os meios mais potentes de prevenir
eventos violentos. Nesse sentido, qualificar o tempo que a pessoa passa em privação de liberdade é,
por um lado, cumprir a função de ressocialização da prisão a fim de superar a dimensão meramente
punitiva e, por outro, garantir a possibilidade ao apenado de um futuro melhor. Desse ponto de
vista, a educação prisional é uma importante ferramenta de transformação social na medida em que
o sujeito em reclusão, por meio do estudo e do trabalho profissionalizante, pode alcançar outras
possibilidades que talvez não tenha tido.
O Brasil tem construído experiências no campo da educação prisional que são complexas e bem-
sucedidas, ainda que tímidas, dada a diversidade dos arranjos do Sistema Prisional Brasileiro em
cada Estado. Vale destacar que as iniciativas no campo da educação prisional partem do
reconhecimento da educação como valor humano universal e condição essencial para o exercício da
cidadania.
No campo jurídico destacam-se importantes marcos que colaboram para o êxito das ações
educativas no sistema prisional brasileiro:
A LEI DE EXECUÇÃO PENAL Nº 7.210/1984
Estabelece a educação escolar no sistema prisional apoiada em duas estratégias: a escolarização e a
educação profissional. A lei determina ainda que o sistema de ensino fundamental deve ser
integrado ao sistema escolar da unidade Federativa e assegura a existência de pelo menos uma
biblioteca por unidade prisional para uso das pessoas em privação de liberdade.
A LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO

LDB, LEI Nº 9.394/1996


Dispõe sobre a universalização do ensino fundamental obrigatório e gratuito a todo/toda
brasileiro/brasileira.
Destaca-se também, a indução financeira do Ministério da Educação para viabilizar o ensino nas
prisões por meio do incentivo técnico para implantação dos programas de Educação de Jovens e
Adultos em reclusão.
Esse incentivo é formado por três componentes: (a) elaboração dos Planos Estaduais de Educação
nas unidades prisionais; (b) educação permanente para os diretores, agentes penitenciários e
professores; e (c) implementação de acervo bibliográfico. O recurso é liberado mediante
apresentação por parte das Secretarias de Educação dos Estados do Plano de Ações Articuladas.
Outra experiência exitosa no judiciário brasileiro tem sido as mediações e conciliações, essas
diretamente relacionadas às situações de violência que acontecem nas prisões. A primeira consiste
em uma forma de resolução do problema em que uma terceira pessoa, imparcial, facilita o diálogo
entre as partes envolvidas. Essa pessoa que faz a mediação deve respeitar a autonomia e estimular a
empatia entre as partes envolvidas no conflito. Não necessariamente a mediação chegará a um
acordo. A mediação é usada em processos mais complexos.
Por sua vez, a conciliação conta com a presença de uma terceira pessoa, porém, diferentemente da
mediação, a conciliação está voltada a processos de natureza mais simples (questões trabalhistas,
pensão alimentícia, partilha de bens, acidentes de trânsito, danos morais etc.). Isso possibilita que a
terceira pessoa assuma uma postura mais ativa, o que não significa que advogará em defesa de uma
das partes, mas sim interferirá mais no diálogo com vistas à harmonização entre as partes em
conflito.
Podemos pensar em mediação e conciliação no universo prisional?
Ações importantes começam a surgir no país, contudo, há uma série de desafios de ordem cultural e
política que precisam ser enfrentados para que essas ações sejam ampliadas.
MANUAL DE BOAS PRÁTICAS DO SISTEMA PENITENCIÁRIO NACIONAL
O Manual de Boas Práticas do Sistema Penitenciário Nacional marca o registro de experiências
inovadoras no Sistema Penitenciário Federal, reconhecidas pelo Departamento Penitenciário
Nacional em todas as unidades da Federação. Trata-se de políticas penitenciárias que visam à
reintegração social do preso e da presa, de serviços especializados com os cumpridores de penas e
medidas alternativas e da reabilitação de egresso/as e liberado/as do sistema prisional.
Vale conferir: https://www.conjur.com.br/dl/manual-boas-praticas.pdf
Outras iniciativas são consideradas exitosas, principalmente aquelas que priorizam o número
reduzido de detentos, o favorecimento de vínculos e o investimento em formação/capacitação:
Unidades prisionais pequenas, estímulo do contato dos detentos com suas famílias e com a
comunidade, trabalho, capacitação profissional e assistência jurídica eficiente. Essas são algumas
das características de prisões consideradas modelo que já funcionam pelo país. Elas estão sendo
tratadas pelas autoridades como possíveis soluções para os problemas do sistema prisional
brasileiro.

Para prevenir a violência, temos que assumir a sua complexidade e multicausalidade. Qualquer
mudança no quadro de violência requer ações intersetoriais e de toda a sociedade. Como nos
convoca Minayo (2005, p.25):
 
Por ser histórica e por ter a cara da sociedade que a produz, a violência pode aumentar
ou diminuir pela força da construção social. Suas formas mais cruéis – que ocorrem nos
níveis coletivos, individuais e privados – precisam ser analisadas junto com as
modalidades mais sutis, escondidas e simbólicas, de forma muito profunda e aberta,
para que todos possam colaborar. Afinal, todos são atores e vítimas.

II - Ressocialização: Direito da Pessoa Privada de Liberdade e Obrigação do Estado

Neste módulo, optou-se por utilizar o termo “ressocialização” por ser utilizado na grande maioria
das produções de conhecimento, por profissionais e população em geral. Contudo, há alguns anos o
termo vem sendo debatido, uma vez que a PPL mantém contato com outras pessoas, (internos,
familiares e/ou outros visitantes, profissionais do sistema, advogados/as, meios de comunicação
como TV e rádio, entre outros). O conceito “reintegração social” aparece na literatura como um
substituto (SANT’ANNA, 2014; IPEA, 2015).
COMO ERA O TRATAMENTO A UMA PESSOA CONDENADA ANTES?
Antigamente, com viés cruel e desumano, as penas empregadas variavam da frequente pena de
morte, penas corporais, terror psicológico, penitências abusivas e em locais inadequados ao ser
humano, sendo o crime considerado como um pecado (RODRIGUES, CAVALCANTI, 2017).
A partir do século XVIII, a pena de liberdade passa a compor as punições do Código Penal,
tornando o cumprimento de pena mais humanitário, com a finalidade de recuperar os indivíduos,
surgindo as penas privativas de liberdade (RODRIGUES, CAVALCANTI, 2017).

E AGORA COMO É?
A prisão nos dias de hoje, tem a missão de ressocializar o indivíduo e não pode ser vista apenas
como local de punição, mas sim de recuperação do/a apenado/a. Dispõe a Lei de Execução Penal
(LEP), no art. 1º, que a execução da pena tem por objetivo efetivar disposições de sentença ou
decisão criminal e proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do
internado (BRASIL, 1984). Para isso, se utilizarão das políticas públicas e de direito para fornecer
aos privados de liberdade, meios de efetivação da sua reintegração social e autonomia no cotidiano.
Proclama a Lei de Execução Penal que “[...] ao egresso será prestada assistência que consistirá na
orientação e apoio para reintegrá-lo à vida em liberdade, além da concessão, se necessário de
alojamento e alimentação, em estabelecimento adequado, pelo prazo de dois meses (PRADO, 2005,
p. 590)”.
Dessa forma, as administrações prisionais e demais autoridades competentes devem oferecer:
• Educação;
• Formação profissional;
• Trabalho;
• Formas de assistência (incluindo assistência de natureza reparadora, moral, espiritual, social,
desportiva e de saúde) que devem ser facultados de acordo com as necessidades individuais
de tratamento dos reclusos).

Concernente aos dados sobre reincidência penal, há escassez de pesquisas e dados oficiais. Mídia e
autoridades públicas, como o ex-diretor do Departamento Penitenciário Nacional (DEPEN),
Maurício Kuehne (BRASIL, 2009), afirmam taxa em torno dos 70%, incluindo os/as presos/as
provisórios (IPEA, 2015). Na outra mão, uma pesquisa realizada em 2013, entre o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ), revelam uma taxa de
24,4% de reincidência, a partir de um “n” equivalente a 817 pessoas, abrangendo 5 estados
brasileiros, no intervalo de 5 anos, tendo como critério também àqueles/àquelas julgados/as e
condenados/as (IPEA, 2015).

II - Ressocialização: Direito da Pessoa Privada de Liberdade e Obrigação do Estado

A reincidência é reforçada pela falta de acesso da massa carcerária à educação, trabalho e políticas
de acompanhamento ao egresso que lhe forneça suporte para colocação no mercado de trabalho. A
sociedade mostra não estar de acordo com o processo de ressocialização do/da condenado/da,
impossibilitando seu retorno ao convívio em sociedade (GRECO, 2011).
Uma pesquisa realizada a partir de grupos focais e entrevistas individuais com privados/as de
liberdade de Minas Gerais, quando questionados acerca das razões que o/a fizeram reincidir no
delito, apontou a ausência de condições pós-prisão (FERREIRA, 2011).
Nesses estudos, as entrevistas revelam que:
• A reincidência no crime ocorre devido a ausência de condições dignas no retorno à
sociedade;
• A grande maioria não vislumbrava alternativas senão a prática de atos como o roubo, o
tráfico de drogas ou furto, em virtude das precárias condições de ingresso ao emprego
(inserção no mercado formal de trabalho).

CURIOSIDADE:
No Brasil, menos de 1/5 das pessoas privadas de liberdade trabalham e só uma em cada oito estuda.
Das 737.892 PPL, 139.511 exercem atividades laborais, correspondendo a 18,9% do total da massa
carcerária.
Fonte: VELASCO, Clara; REIS, Thiago; CARVALHO, Bárbara; LEITE, Carolline; PRADO,
Gabriel; RAMALHO, Guilherme. Menos de 1/5 dos presos trabalha no Brasil; 1 em cada 8 estuda.
2019. Clique aqui para acessar).
Um dos maiores problemas do sistema prisional é a superlotação. Condição desumana que provoca
situações de humilhações e tortura, sendo mais um fator para o distanciamento do processo de
ressocialização. Greco (2011) reitera que independente da infração cometida pelo sujeito, o mesmo
deve ser tratado humanamente, caso contrário, seu retorno ao convívio social será pior e fatalmente
reincidirá.
A superlotação inviabiliza a separação das pessoas privadas de liberdade para cumprimento de
sentença, submetendo-as a conviver com pessoas que cometeram diversos níveis de crime, as quais
cooptam sucessivamente os detentos, em troca de favores e apadrinhamento de seus familiares, que
muitas vezes encontram-se desestruturados financeiramente e desamparados, quando da prisão do
chefe de família.

CURIOSIDADE:
“As duas maiores organizações criminosas conhecidas no Brasil, comando Vermelho e Primeiro
Comando da Capital, nasceram provavelmente de um vácuo estatal. Supõe-se que o primeiro tenha
surgido para evitar a tortura de presos. O segundo, para auxiliar às famílias dos encarcerados.
Evidentemente, cooptaram muitos adeptos, que ao deixarem as prisões, retribuem a proteção e os
favores recebidos, associando-se definitivamente a uma carreira criminosa” (FRANCO, 2008, p. 1).
A superlotação se faz presente por questões que podem estar relacionadas com a ausência do Estado
na intensificação e melhoria das políticas públicas:
• Educacionais;
• De incentivo à criação de vagas de emprego;
• De condições de habitabilidade.
Associada a tudo isso, está o descaso com o sistema penitenciário proveniente da cultura velada de
marginalização das pessoas que cometeram crimes, somada à falta de investimentos em
infraestrutura, equipamentos, servidores em quantitativo suficiente para atendimento e promoção
das ações essenciais à ressocialização, agravada também, pela falta de servidores do Poder
Judiciário que agilize o julgamento dos processos.
Os projetos apresentados prevendo a ampliação e construção de unidades penais, caracterizam a não
preocupação com a oferta dos benefícios voltados à ressocialização, na medida em que não se prevê
o dimensionamento do aumento de vagas de celas na proporção de aumento das vagas para estudo e
para o trabalho.
Essa inversão, somada à superlotação crescente das unidades penais, incentivada pelo
endurecimento das penas de privação de liberdade e pela cultura do aprisionamento, reduz as
chances de participação dos privados de liberdade aos benefícios que proporcionam a redução de
pena e a reintegração do indivíduo ao meio social. “A reclusão penitenciária não pode ser um
‘espaço de quase-não direito’, uma obscura ‘relação especial de poder’ em que o Estado se
desvincula do respeito que deve à dignidade da pessoa e aos seus direitos fundamentais”
(RODRIGUES, 2002, p. 52), não devendo o condenado sofrer pelas negligências do Estado.
Nesse contexto do sistema prisional, surge um método alternativo para cumprimento de pena que
possibilita caminhos mais humanos e reais de ressocialização. É designado como APAC
(Associação de Proteção e Assistência aos Condenados), criado em 1972, pelo então advogado
Mário Ottoboni e aplicada pela Fraternidade Brasileira de Assistência aos Condenados (FBAC,
2019). Este sistema, hoje, transforma milhares de encarcerados/as em novos seres humanos,
ganhando reconhecimento tanto nacional como internacional, estando presente em 28 países
atualmente (FBAC, 2016).
IV – Diretrizes do Auxílio Reclusão

COMO FUNCIONA O AUXÍLIO RECLUSÃO?


A partir de 2019, mudanças significativas ocorreram no que tange ao auxílio-reclusão. Tem direito
ao benefício:
• os/as dependentes do/ segurado/a do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) preso em
regime fechado, durante o período de reclusão ou detenção, com período de carência de 24
meses de contribuição;
• mediante comprovação de dependência, exigindo-se prova material de união estável e
dependência econômica (BRASIL, 2019a);
• dependentes de baixa renda do/a segurado/a recolhido/a à prisão, quando não estiver
recebendo remuneração da empresa, nem usufruindo de auxílio-doença, abono de
permanência em serviço, salário-maternidade, pensão por morte ou aposentadoria (BRASIL,
2019a).
Calcula-se a média dos últimos doze meses dado o mês de recolhimento à prisão, de modo a
averiguar se a renda mensal bruta se enquadra como baixa renda, isto é, valor menor ou equivalente
a 360 reais, mais os reajustes previstos. O valor mínimo do benefício é um salário mínimo
(BRASIL, 2019a) e a duração do auxílio depende do tipo de beneficiário e sua idade (BRASIL,
2019b).
Documentos necessários para dar entrada no auxílio-reclusão:
• Procuração ou termo de representação legal, documento de identificação com foto e CPF do
procurador ou representante, se houver;
• Documentos pessoais do/a interessado/a com foto, dependentes e do/a segurado/a recluso;
• Documentos referentes às relações previdenciárias;
• Declaração de cárcere;
• Documentos que comprovem a qualidade de dependente.

V – Educação e Trabalho ou Educação, Trabalho e Renda?

A Constituição Federal Brasileira de 1988 em seu art. 205 e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional 9394/96, no art. 2º, estabelecem a educação como um direito de todo cidadão e um dever
do Estado.
A oferta do ensino fundamental e a formação profissional nas unidades penais são garantidas pela
Lei 7.210, de 1984, denominada de Lei de Execução Penal nos art. 17 a 21 e no art. 41, inciso VII,
que estabelece a assistência educacional como direito garantido à pessoa privada de liberdade e
dever do Estado, que deve ofertar a educação na forma de instrução escolar e formação profissional,
visando à reintegração da população prisional à sociedade.
A educação é valiosa por ser uma eficiente ferramenta para crescimento pessoal, com múltiplas
facetas sociais, econômica e cultural (CLAUDE, 2005, p.1). É tratado como Direito Humano, pois
revela algumas perspectivas:
• Direito social, pois no contexto da comunidade, promove o pleno desenvolvimento da
personalidade humana;
• Direito econômico, favorecendo a autossuficiência econômica por meio do emprego ou do
trabalho autônomo;
• Direito cultural, pois constrói uma cultura universal de direitos humanos.

A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, em seu art. 26 estabelece: “1. Todo ser
humano tem direito à instrução. [...]; 2. A instrução será orientada no sentido do pleno
desenvolvimento da personalidade humana e do fortalecimento do respeito pelos direitos humanos e
pelas liberdades fundamentais”. (ONU, 1948, p.14).
Em suma, os/as autores/as colocam a educação como pré-requisito para o indivíduo atuar
plenamente como ser humano na sociedade moderna.
Dados do Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias (INFOPEN/2016) (BRASIL,
2017a) revelam:
• 12% da população prisional está envolvida em algum tipo de atividade educacional, sejam
de ensino ou complementares;
• 50% estão em formação no nível do ensino fundamental.

Esse dado tem relação com o que preconiza a Lei de Execução Penal, que coloca a oferta do ensino
fundamental como obrigatória no sistema prisional, sendo que a oferta dos demais níveis depende
da demanda da população, da disponibilidade de professores e da infraestrutura
V – Educação e Trabalho ou Educação, Trabalho e Renda?

COMO FUNCIONA A REMIÇÃO DA PENA?

A pessoa privada de liberdade que estuda tem direito à remição pelo estudo. Para cada 12 horas
estudadas, um dia a menos de pena, direito regulamentado na LEP no art. 126, parágrafo 1º, inciso I
(BRASIL, 1984). Caso o privado de liberdade conclua o ensino fundamental ou médio durante o
cumprimento de pena, terá acrescido o desconto de mais 1/3 do total de horas estudadas. O mesmo
ocorre se concluir os estudos por meio de participação no exame nacional ENCCEJA (Exame
Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos).
O cálculo para a progressão pelo trabalho é correspondente, sendo a cada três dias de trabalho a
redução de um dia pena. A pessoa privada de liberdade poderá remir pena pelo trabalho e pelo
estudo, desde que haja intervalo de uma hora entre uma atividade e outra. O regime de trabalho
poderá corresponder a um turno de seis horas corridas ou de oito horas com intervalo de duas horas.
No caso de atividades exercidas em expediente de seis horas, é incentivado ao/a privado/a de
liberdade a investidura nos estudos, bem como a participação em projetos voltados à sua
qualificação.
A Educação e a qualificação profissional fazem interface com outras atividades de cunho educativo,
como incentivo a aprendizagem e valorização do processo de ressocialização, entre elas, projetos de
leitura que se pautam na Recomendação nº 44 do Conselho Nacional de Justiça (BRASIL, 2013) e
na Lei 12.433/11 (BRASIL, 2011) que regulamenta a remição pelo estudo e pela leitura.
Já para ler sobre a Recomendação n. 44 de 26/11/2013 que dispõe sobre atividades educacionais
complementares para fins de remição da pena pelo estudo e estabelece critérios para a admissão
pela leitura, clique aqui.
Para ler sobre a remição pela leitura você encontra neste artigo aqui: .
A oferta da Remição pela Leitura possibilita ao privado de liberdade a leitura de um livro por mês e
a produção de uma resenha ao final de 30 dias. Esta resenha será avaliada pela Comissão instituída
pelo diretor do estabelecimento penal, e presidida por este, e se aprovada, com nota igual ou
superior a 6,0 (seis), será remetida ao judiciário para ser proporcionado quatro dias a menos de
pena. A leitura de doze livros ao ano propicia ao detento a redução de 48 dias de pena.

VALE DESTACAR...
Os estados da Bahia, Espírito Santo e Tocantins, possuem os maiores percentuais de pessoas
envolvidas em atividades educacionais, acima da média nacional. Em relação às atividades
complementares, 2% da população prisional total do país, encontra-se envolvida em atividades de
remição pela leitura ou pelo esporte e demais atividades educacionais complementares. (BRASIL,
2017a).
A educação envolvendo a qualificação profissional é um dos dispositivos primordiais ao processo
de ressocialização.
Como ocorre essa oferta?
Ocorre por meio de diversificadas formas de financiamento, entre elas, com recursos do Governo
Federal, através de recursos do judiciário, parcerias com entidades públicas, privadas e
Organizações Não Governamentais (ONGs).
Há uma parceria de destaque entre o Ministério da Educação (MEC) e o Ministério Extraordinário
da Segurança Pública, o qual utiliza o PRONATEC (Programa Nacional de Acesso ao Ensino
Técnico e Emprego) como estratégia para incentivar a formação e qualificação profissional das
PPL, cujo objetivo é estimular a cidadania e a reinserção social (BRASIL, 2018a). Algumas das
áreas abrangidas são de garçom, manicure e pedicuro, pedreiro, recepcionista, assistente
administrativo e barbeiro (OLIVEIRA, SANTINONI, 2019).
Outra oferta de qualificação profissional que ocorre por meio de recursos do Governo Federal é o
Programa de Capacitação Profissional e Implantação de Oficinas Permanentes (PROCAP),
implantada pelo Departamento Penitenciário Nacional - DEPEN/MJ-SP. Prevendo futuras
colocações dos alunos no mercado de trabalho, os cursos são escolhidos pelas equipes de educação,
direção e segurança, atendendo às tendências do mercado regional e a disponibilidade de espaço
disponível para a estruturação das oficinas. Algumas das oficinas são: corte e costura, padaria e
panificação, construção civil e marcenaria e informática (BRASIL, 2015).

V – Educação e Trabalho ou Educação, Trabalho e Renda?

O Sistema Judiciário possui uma conta judicial mantida com recursos provenientes de arrecadação
de 10% do pagamento da mão de obra carcerária, provida por recursos retidos pelas empresas
conveniadas, denominada FUNPES e, algumas vezes, financia cursos por meio de
encaminhamentos de projetos elaborados pelas unidades penais e pela Divisão de Assistência
Educacional.
Apenas 1 em cada 10 presos no Brasil possui acesso à Educação Formal. Em 11 dos 27 estados
brasileiros esse direito é negado, o que corresponde, a mais de 90% dos presos. 50% das unidades
penais do Brasil possuem salas de aula e menos de 1% dos presos têm acesso ao ensino superior,
sendo que essa modalidade de ensino é inexistente em 19 das 27 unidades da Federação
(POLITIZE, 2017).
POLITIZE. Educação no sistema prisional. 2017.
A educação e o trabalho (dependendo da atividade exercida) quando ofertadas conjuntamente,
contribui efetivamente para o processo de reintegração do indivíduo, pois além de capacitá-lo para o
trabalho, amplia o nível de escolarização aumentando as possibilidades de contratação. Associada
ao trabalho, a educação, além de ajudar na ocupação do tempo ocioso dos/das custodiados/as, os/as
prepara para a reintegração social, melhorando suas chances de colocação no mercado de trabalho,
após sua libertação.

INICIATIVAS INOVADORAS
A Defensoria Pública da União criou o Concurso anual de Redação, que está na sua 5ª edição no
2019, a fim de incentivar à leitura e escrita, o qual contempla também a PPL. Premia os/as
vencedores/as do concurso com vários brindes e pela participação, os/as apenados/as recebem
certificado com carga horária de 12h correspondente às atividades de leitura e escrita, com o intuito
de aplicar à remição da pena (BRASIL, 2019c). Os/as estudantes do sistema prisional participam
ainda, anualmente, das Olimpíadas de Matemática como incentivo ao desenvolvimento de
habilidades na área de exatas.

Reportagem sobre o 5º Concurso


anual de Redação:
LIMA, Ariel. 5ª edição do Concurso de Redação promovido pela Defensoria Pública da União.
Portal SEE – Secretaria de Estado da Educação, Cultura e Esportes. 2019a.
Clique aqui para acessar.

E O TRABALHO PRISIONAL?
A oferta de trabalho no sistema prisional ocorre por meio de prestação de serviços em setores
variados, desde a faxina das unidades penais, até a contratação de mão de obra prisional por
empresas conveniadas com o Sistema Prisional.
A Constituição Federal no seu art. 6º reconhece o trabalho como um direito social e a Lei de
Execução Penal em seu art. 41, inciso II, estabelece o trabalho como direito do preso.
Art. 33 da LEP estabelece:
A jornada normal de trabalho não será inferior a 6 (seis) nem superior a 8 (oito) horas,
com descanso aos domingos e feriados. Parágrafo único. Poderá ser atribuído horário
especial de trabalho aos presos designados para serviços de conservação e manutenção
do estabelecimento penal (BRASIL, art. 33. 1964).

O trabalho prisional proporciona a remição de pena previsto no art. 126, parágrafo 1º, inciso II,
onde para cada três dias de trabalho, será descontado um dia a menos de pena (BRASIL, 1984).
As atividades de trabalho dentro do Sistema Prisional podem ser remuneradas ou não. Os serviços
destinados à faxina e manutenção diária da unidade penal, não são remunerados, sendo beneficiados
apenas com a remição de pena pelo trabalho que corresponde a cada três dias de trabalho, um dia a
menos de pena.
Dentro do Estabelecimento Penal existem empresas diversificadas como: fábricas de gelo,
serralherias, marcenarias, descasque e envasamento de mandioca e outras que contratam a mão de
obra prisional, dispendendo apenas o pagamento de um salário mínimo e o seguro de vida. O
privado de liberdade contratado por empresa conveniada com o sistema penitenciário, além de
receber a remuneração, recebe também a redução de pena, conforme especificado em Lei. No meio
externo, essas empresas remuneram a mão de obra com um salário mínimo, alimentação, vale
transporte e seguro de acidentes.
O Projeto Selo Resgata, baseado na concessão do Selo Nacional de Responsabilidade Social pelo
Trabalho no Sistema Prisional – RESGATA, é uma das experiências exitosas de incentivo às
empresas com maior número de contratações de pessoas privadas de liberdade ou egressas do
sistema prisional.
Segundo Kuehne (2013, p. 32), o trabalho, sem dúvida, além de outros tantos fatores, apresenta um
instrumento de relevante importância para o objetivo maior da Lei de Execução Penal, que é
devolver à sociedade, uma pessoa em condições de ser útil. Como anteriormente pontuado,
contribuindo para sua reinserção social e diminuindo a probabilidade de reincidência.

CURIOSIDADE:
No Estado de Mato Grosso do Sul, mais de 5,8 mil privados de liberdade desempenham atividades
laborais, correspondendo a mais de 37% da massa carcerária, índice que supera a média nacional.
São envolvidas 187 empresas públicas e privadas. (AGEPEN, 2017; GOMES, 2019).
Grande parte da massa carcerária não usufrui da oportunidade de trabalho e estudo dentro das
unidades penais, pois o crescimento da criminalidade e do número de apreensões, impede a
contemplação de vagas para a maioria dos presos. A Lei de Execução Penal prevê o benefício da
remição de pena, objetivando diminuir a população carcerária.

VI – Direitos Humanos da PPL

O QUE OS DADOS DIZEM SOBRE A


REINCIDÊNCIA?
De acordo com o Infopen/2016, 15% da PPL estava envolvida com trabalho (BRASIL, 2017a). O
perfil de reincidentes de uma pesquisa realizada no Rio de Janeiro, dentre outros fatores, apontaram
para baixa escolaridade.
Observa-se que os internos/as que se envolvem com atividades laborais e educacionais, apresentam
predisposição à ressocialização. Além disso, àquelas pessoas envolvidas com o estudo durante a
pena, diminuiu a probabilidade de reincidência em 39%, e àquelas envolvidas com trabalho 48%.
Sendo, portanto, chaves na reinserção social (JULIÃO, 2010).
Tem sido comprovada a importância do trabalho e do estudo para o processo de reinserção dos
privados de liberdade, observado que as pessoas que desenvolvem atividades educacionais e de
labor são as que possuem melhor comportamento disciplinar, demonstrando maior aptidão para a
reinserção social. Ou seja, uma boa formação profissional e educacional influencia na conquista de
melhores oportunidades de trabalho e de salário, prevenindo a reincidência criminal.
O trabalho no sistema prisional tem a função produtiva e educativa, e proporcionará ao preso
condições de se capacitar e se moldar às regras que lhe possibilite a adaptação fora do sistema
penitenciário.

DIREITOS HUMANOS DA PPL! O QUE A LEI


DIZ E OS DADOS MOSTRAM?
Quanto aos Direitos Humanos dos privados de liberdade, por exemplo, a Lei de Execução Penal
brasileira dispõe em seu art. 1º e art. 10º, que a sentença ou decisão criminal tem por objetivo,
proporcionar condições para a harmônica integração social do condenado e do interno, e que a
assistência material, à saúde, jurídica, educacional, social e religiosa, é dever do Estado, com vistas
a prevenir o crime e orientar o retorno à convivência do apenado em sociedade.
As estruturas das unidades prisionais encontram-se abarrotadas de pessoas e a falta de vagas
impossibilita a individualização da pena. Pesquisas revelam que o Brasil ocupa o terceiro lugar dos
países com maior população prisional do mundo, após Estados Unidos da América e China (WPB,
2019). Dados do Infopen/2016, reportam a população prisional em torno dos 726.712, com 368.049
vagas, sendo a taxa de ocupação de 197,4% (BRASIL, 2017a).

VI – Direitos Humanos da PPL

Levantamentos realizados nas penitenciárias do Brasil, evidenciaram que o sistema carcerário no


país é espaço de torturas psicológicas e físicas, variando da superlotação das celas, além da
precariedade ou até escassez de insumos básicos como água, luz e material higiênico, até bichos
(baratas, ratos, entre outros) junto aos/às encarcerados/as (BRASIL, 2009).
Como os trabalhadores do sistema prisional podem atuar na perspectiva de colaborar com o
processo de humanização?
• Compreender seu papel de agente ressocializador e facilitador do atendimento às demandas
e direitos dos privados de liberdade;
• Apoiar a divulgação das Políticas de Direito e as Políticas Sociais voltados ao sistema
prisional;
• Colaborar nos processos de oferta educacional, de trabalho, de participação nos projetos
sociais, culturais, de lazer, de prevenção, de tratamento e outros que possibilitem ao privado
de liberdade a transformação;
• Apoiar o acolhimento à família do privado de liberdade, no atendimento de portaria que
deve ser pautado no respeito, não transferindo a sentença do preso ao seu familiar,
compreendendo que a família exerce um papel importante de apoio e amparo emocional,
proporcionando a diminuição das tensões proporcionadas pelo ambiente prisional.
Essa aproximação pode ser incentivada com a mudança dos procedimentos de visita, dirigidos ao
público feminino, que devido a exigência de nudez, seguida de agachamentos para verificação de
introdução de pertences nas partes íntimas, podem constranger e desmotivar a frequência das visitas
ao sistema prisional. Essas mudanças vêm acontecendo, tendo sido reduzidas essas situações com a
maioria das instituições penais utilizando scanners para revista.

EXPERIÊNCIA INOVADORA:
No ano de 2019, o DEPEN/MJ implementou o I Curso para Otimização de Políticas Públicas no
Sistema Prisional [BRASIL. Departamento Penitenciário Nacional. Ministério da Justiça e
Segurança Pública].
Depen realiza I curso para otimização de políticas públicas no sistema prisional. 2019h. Clique
aqui para acessar
VII – Serviço Social e PPL

QUAL A FUNÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL?


O Serviço Social tem por finalidade conhecer a expressão da questão social, nos seus aspectos
socioeconômicos e culturais. Contudo, a importância de sua fundamentação rigorosa, teórica, ética e
técnica, com base no projeto da profissão, depende da sua devida utilização para garantia e
ampliação de direitos dos sujeitos usuários dos meios dos serviços sociais e do sistema de justiça
(CFESS, 2006, p. 43).

SAIBA MAIS...
Em 08 de dezembro de 1951, foi assinada a Lei nº 1651, que regulamentou o exercício da profissão
do Assistente Social nas casas prisionais, definindo as atribuições do Serviço Social no sistema
prisional.
Marques (2012) afirma que o papel do Assistente Social no sistema carcerário é voltado ao papel
ressocializador.
O/a assistente social é chamado a atuar de diversas formas, desde a produção de laudos e pareceres
para assessorar a decisão judicial de progressão de regime; a participação nas comissões de
classificação e triagem nos conselhos de comunidade e nas comissões disciplinares; o
acompanhamento das atividades religiosas, entre outros.
O Assistente Social deve atender à família com encaminhamentos à rede de serviços públicos,
programas sociais, benefícios do INSS, auxílio-reclusão, auxílio-doença e aposentadoria, efetivando
ainda a realização de registro dos filhos dos privados de liberdade e o reconhecimento de
paternidade.
A Lei de Execução Penal trouxe perspectivas no sentido de oferecer ao preso o acesso aos direitos
sociais durante o cumprimento de pena.
Os atendimentos aos custodiados ocorrem por meio de solicitações encaminhadas pelos privados de
liberdade e este auxílio pode se desdobrar em vários encaminhamentos: saúde, jurídico, psicológico,
educacional, religioso e de aquisição de material de higiene, assim como benefícios sociais, de
documentação pessoal e outros.
A atuação do Assistente Social, também condiz em atender ao poder judiciário com a produção de
laudos voltados ao subsídio judiciário na tomada de decisões e sentenças, desviando o profissional
do seu papel de atuação nas questões de cunho social, necessárias ao tratamento penal. A perícia
social é realizada por meio de um estudo social com objetivo de conhecer e interpretar a realidade
social do objeto da ação. Já o laudo social é o documento que contém as informações relevantes
obtidas por meio do estudo social, com a interpretação e análise (FAVERO, 2009).
Conforme Martinelli (2005), a perícia é o estudo social realizado com base nos fundamentos ético-
políticos (poder), teórico-metodológicos (saber), e técnico-operativos (fazer), próprios do Serviço
Social com finalidade relacionada às avaliações e julgamentos.
Devido ao volume de solicitações judiciais desses pareceres e laudos, o profissional reduz a sua
atuação à confecção de laudos, desprezando as questões do cotidiano prisional, sem desvendá-las no
valor humano e nas situações trazidas pelo privado de liberdade e pelo ambiente prisional.
O Assistente Social participa, também, de Comissão de Classificação Técnica (CTC) para o
Trabalho (avaliações para encaminhamento ao trabalho), Comissão de Avaliação Final (laudos
contendo aspectos sobre o desenvolvimento do cumprimento da sentença) e realiza Entrevista de
Inclusão do preso (entrevista que coleta dados sobre toda a história de vida do preso, familiar,
social, profissional, estendendo-se a infração cometida. Desta, surgem diversos encaminhamentos
conforme demanda).
O art. 6º da LEP explicita que as equipes da CTC deveriam acompanhar os presos através de um
programa individualizado (Tratamento Penal), porém a superlotação inviabiliza o acompanhamento
individual dos privados de liberdade.
Os/as Assistentes Sociais que atuam no sistema prisional têm que ter flexibilidade para lidar com os
gestores, equipes de segurança e demais envolvidos nas demandas do sistema, tornando-se um
interlocutor entre as equipes de servidores e privados de liberdade na garantia de direitos e deveres,
mantendo o equilíbrio do ambiente carcerário.

VIII – População Prisional Feminina

E A POPULAÇÃO PRISIONAL FEMININA?


O Brasil tem a quarta maior população carcerária feminina do mundo. Em 2016, com 27.029 vagas
destinadas às mulheres, havia um total de 42.355 mulheres privadas de liberdade. Destas, 1.268 se
encontravam em delegacias, sem acesso aos direitos básicos, devido à taxa de 156,7% de ocupação
(BRASIL, 2018b). Dados do Infopen/2016, mostram que a população feminina encarcerada
aumentou 656% quando comparado 2016 com início dos anos 2000, enquanto no mesmo período, a
população masculina cresceu 293% (BRASIL, 2018b).
Os doze países com maior população prisional feminina do mundo.
Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça e da Segurança Pública. Departamento Penitenciário
Nacional. Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias – Infopen Mulheres, 2a ed.
Brasília: DF, 2018b. Clique aqui para acessar
Dados do Infopen Mulheres/2016 trazem o perfil da população prisional feminina:
• Jovem (faixa entre 18 a 29 anos);
• 62% delas são negras;
• 45% tem ensino fundamental incompleto, seguido por 17% com ensino médio incompleto e
15% para àquelas com fundamental completo e ensino médio completo;
• 62% das mulheres são solteiras, seguido por 23% em união estável e 9% casadas;
• Quanto ao tipo penal, 62% referem-se a algum crime relacionado ao tráfico de drogas, 11%
ao roubo, 9% ao furto (BRASIL, 2018b);
•  74% das PPL têm filhos;
• 536 mulheres presas estavam gestantes e 350 lactantes, apenas 16% das unidades possuem
cela ou dormitório para gestantes e 50% delas encontram-se em unidades com cela
adequada;
• Quanto ao espaço para mãe e bebê até 2 anos, 14% das unidades femininas ou mistas
possuem berçário e/ou centro de referência específico e para creche, que abriga crianças
acima dos dois anos, o percentual se reduz à 3% (BRASIL, 2018b).

VIII – População Prisional Feminina


Fonte: BRASIL. Ministério da Justiça e Segurança Pública. Há 726.712 pessoas presas no Brasil.
2017b. Clique aqui para acessar.

Fonte: Levantamento de Informações Penitenciárias - INFOPEN, Junho/2016. IBGE, 2016.

SAIBA MAIS...
Para conhecer sobre essa realidade assista:
- Documentário Cárcere e Maternidade - Histórias de grávidas do sistema penitenciário em Manaus.
Clique aqui para acessar
- Conexão repórter – Cabrini acompanha rotina de presidiárias. Clique aqui para acessar
A Lei de Execução Penal, (Lei nº 7.210, de 11 de julho de 1984) garante a separação dos
estabelecimentos prisionais femininos e masculinos, sendo essa separação um dever estatal, o que
facilitaria a criação e aplicação de políticas públicas específicas para a mulher.
O vídeo “Inclusão – Maternidade Encarcerada: Presídio Feminino – Bloco 2 - TV Senado”
demonstra uma experiência exitosa, no Estado de Minas Gerais, de implantação de uma unidade
penitenciária exclusiva para presas com filhos e grávidas. Clique aqui para acessar

CURIOSIDADE:
O Marco Legal da Primeira Infância (Lei 13.257/16) deu início, em 2016, a uma política que
favorece o desencarceramento de mães e pais. A Lei abre a possibilidade de o Juiz substituir a
prisão preventiva pela domiciliar em caso de gestantes, mulheres com filhos de até 12 anos e
homens com filho de até 12 anos, caso ele seja o único responsável pelos cuidados da criança.
Clique para acessar.
O fato de a mulher cumprir pena em estabelecimentos penais adaptados, agrava a situação de
atendimento de suas necessidades básicas de higiene e saúde. O abandono da mulher no sistema
prisional ocorre não só nas questões de invisibilidade da sua situação de gênero, como também na
negação de seus direitos enquanto mulher, esposa e mãe.
O direito à visita íntima nas penitenciárias femininas foi oficializado em lei em 1999.
No Brasil, foi consentida pela primeira vez em 1924, no Rio de Janeiro, então Distrito
Federal, àqueles encarcerados que fossem casados civilmente e tivessem bom
comportamento. Em 1929, já não era necessária a exigência do casamento civil e, em
1933, esse tipo de visita foi estendido aos presos provisórios. (...) A despeito disso, a
visita íntima foi regulamentada às mulheres pela primeira vez em 1999
(COLOMBAROLI, 2011).

Enquanto 86% dos presos homens recebem visitas das famílias, apenas 37,9% das presas mulheres
recebem visitas. Quase todos os estabelecimentos não apresentam condições para visitas íntimas
(BRASIL, 2009). Atreladas ao ostracismo, estão algumas necessidades pessoais cujo suprimento
constitui atribuição da família.
(...) ainda que formalmente garantido, o exercício do direito à visita íntima, com
observância à dignidade e privacidade da pessoa presa, encontra limitações
determinadas pela infraestrutura dos estabelecimentos penais. Em relação às unidades
femininas, 41% dos estabelecimentos contam com local específico para realização da
visita íntima e, no caso dos estabelecimentos mistos, apenas 34% das unidades podem
oferecer este espaço às pessoas privadas de liberdade (BRASIL, 2018b, p.26).

Segundo Ana Paula Galdeano, organizadora do estudo “Crianças e adolescentes com familiares
encarcerados”, publicado em 2018 pelo Centro Brasileiro de Análise e Planejamento, de acordo
com entrevista a 36 crianças e adolescentes com familiares encarcerados em quatro unidades da
Federação, nenhum disse que visitava a mãe. Quando o marido quem vai preso, a esposa insiste
nessa visita, mas quando é ela que está atrás das grades, e o marido a abandona, o restante da
família não consegue arcar com esse custo.
Conforme expõe Elen Geraldes em palestra no Plenário da Câmara dos Deputados pelo (SENADO
NOTÍCIAS, 2018, p.1):
A solidão é um tema de reflexão do projeto porque as mulheres são aquelas que mais
visitam, mas não são visitadas. Como as pessoas privadas de liberdade não têm acesso a
papel nem caneta para escrever reclamações e muitas não sabem escrever, são as
famílias que fazem as reclamações. Como as mulheres não recebem visitas, o desafio é
possibilitar espaços de escuta.

VIII – População Prisional Feminina

Em 2010, as Nações Unidas adotaram uma resolução sobre o tratamento de mulheres presas, que
ficou conhecida como Regras de Bangkok, que propõe um olhar atento para as demandas
específicas que compreendem universo feminino na prisão e a priorização de medidas não
privativas de liberdade (LIMA, 2019b).
Leia mais sobre as regras de Bangkok:
Clique aqui para ler
Em fevereiro de 2018, o Supremo Tribunal Federal, por meio de um Habeas Corpus coletivo,
determinou a substituição da prisão preventiva por domiciliar de mulheres presas, em todo o
território nacional, que sejam gestantes ou mães de crianças de até 12 anos ou de pessoas com
deficiência. Não se enquadram nesse Habeas Corpus coletivo, os crimes que tenham sido cometidos
com violência ou ameaça contra os próprios descendentes e em situações excepcionalíssimas,
devidamente justificadas pelo juiz (STF, 2018).

CURIOSIDADE:
SisDepen: Informações penitenciárias consolidarão base de dados nacional
As informações penitenciárias da realidade prisional brasileira, fornecerão mecanismos de coleta de
dados segura e individualizada dos estabelecimentos penitenciários e de tratamento do país. Essa
ferramenta de gestão da informação do Depen, propiciará a partir dos dados coletados, a elaboração
de políticas públicas de saúde, educação, trabalho, cultura, esporte, assistência social e acesso à
justiça. Clique aqui para acessar
IX – Experiências Exitosas em Educação, Trabalho e Renda

Com o intuito de difundir práticas exitosas do Sistema Penitenciário Nacional, o Ministério da


Justiça publicou o Manual de Boas Práticas do Sistema Penitenciário Nacional, o qual contempla
boas experiências em todos os estados, tendo em vista critérios como políticas e programas sociais
de tratamento ao/a recluso/a, geração de emprego e renda, escolarização e profissionalização
(BRASIL, 2010).
Nele consta, por exemplo, a respeito do estado de Alagoas, que conta com a Gerência de Atividades
Artesanais desde 2001, contendo inclusive uma loja em Napal (Núcleo de Artesanato Prisional de
Alagoas) para expor e vender os artigos feitos pelos/as presos/as; com a Fábrica Esperança, onde
ocorrem oficinas profissionalizantes de cultivo de alimentos, panificação, serralheria, mecânica,
tornearia, alfaiataria, serigrafia e artesanato; a Mesa Brasil, uma parceria com o Sesc que oferta
cursos na área de cozinha e recebe alimentos provenientes do plantio da horta; a apicultura, em que
são oferecidos cursos aos/as PPL e àqueles/as capacitados/as quando do egresso, podem se associar
à Cooperativa dos Produtores de Mel de Alagoas.

A primeira cooperativa de mulheres encarceradas do Brasil, COOSTAFE (Cooperativa Social de


Trabalho Arte Feminina Empreendedora) vem há 5 anos trazendo bons frutos. Localizada em
Ananindeua – PA, oferece para mulheres PPL e egressas do sistema, qualificação profissional e
geração de renda através do artesanato. Por meio desta ação, não se encontrou casos de reincidência
(BRAZIL FOUNDATION, 2018; SUSPIPE, 2018).
Essa experiência exitosa serviu de inspiração para outros projetos, como as cooperativas criadas
pela organização Humanitas360. Com sede nos EUA e presente no Brasil com o objetivo de
diminuir a violência e promover a cidadania, a Humanitas360 desenvolve projetos e abre espaço de
diálogo entre organizações sociais, gestores público e profissionais (HUMANITAS360, s.d). Dentre
os projetos tem-se a Coalização pela Mudança do Paradigma sobre Pena e Prisão, cuja rodas de
conversas reúne diferentes profissionais e representantes ligados à PPL e justiça criminal, como
juízes, jornalistas, ex-detentos/as, agentes penitenciários, entre outros. Também conta com o projeto
da Cooperativa Lili e Casa Tereza, atendendo com oficinas e workshops para produção de artigos
têxteis de alta qualidade, privadas e ex-privadas de liberdade da Penitenciária Feminina II de
Tremembé – SP. Como também, a Cooperativa da Penitenciária Masculina II de Tremembé, oferece
trabalho na produção de alimentos orgânicos, abarcando regime semiaberto e fechado.

O estado do Paraná é um dos estados referência, no qual 30% das PPL trabalham e 35% estudam. A
qualificação é ofertada nas áreas de agricultura, panificação, eletricista, mecânica, costura,
metalúrgica, construção civil, restauração de livros, fabricação de calçados, produtos de limpeza,
fraldas, entre outros. Os estudos e leitura de livros também funcionam como remição da pena
(AEN, 2018). Na Unidade de Progressão da Penitenciária Central do Estado, localizada em
Piraquara – PR, 100% das PPL estudam e trabalham, fato que colaborou para ser nomeada, modelo
na América Latina pela Organização dos Estados Americanos (OEA) (BRASIL, 2019d).

Em 2019, no estado do Mato Grosso do Sul, houve realizações de parcerias como a da Agência
Estadual de Administração do Sistema Penitenciário (AGEPEN) – MS, que foram positivas. Em
janeiro, fora noticiado o projeto de transformação de bicicletas abandonadas em cadeiras de rodas
por detentos de Corumbá, as quais serão doadas para quem necessita, mas não tem condições
financeiras (AGEPEN, 2019a). Já em Campo Grande, no mês de abril, aconteceu a entrega da
reforma de mais uma escola realizada por detentos, ação integrante do projeto “Pintando e
Revitalizando a Educação com Liberdade”. Como resultado, culminou na economia de mais de 7
milhões de reais aos cofres públicos (AGEPEN, 2019b). Em maio, a parceria entre Agepen e
Funesp (Fundação Municipal de Esportes de Campo Grande), torna possível a realização do projeto
“Arte com Pneus” para praças da capital. Há dois anos, os/as detentos/as reciclam pneus
transformando-os em parques infantis que já contemplou mais de dez escolas municipais
(AGEPEN, 2019c).
Em escala nacional, podemos citar três ações do ano de 2019, que visam o debate sobre o sistema
penal, com especial foco em resultados positivos quanto à integração social do egresso na
sociedade. A primeira trata-se da criação da Revista Brasileira de Execução Penal (BRASIL,
2019e), a segunda refere-se ao 1º Encontro de Diretores de Unidades Prisionais realizado pelo
Ministério da Justiça e Segurança Pública no mês de abril em Brasília, no qual fora ressaltado o
incentivo a boas práticas (BRASIL, 2019f) e a terceira ao 2º Ciclo de Concessão do Selo de
Responsabilidade Social pelo Trabalho no Sistema Prisional, que este ano certificou 198 empresas
(BRASIL, 2019g).
Sobre o Manual de Boas Práticas do Sistema Penitenciário Nacional: BRASIL. Ministério da
Justiça. Departamento Penitenciário Nacional. Boas Práticas do Sistema Penitenciário Nacional.
[2010?]. Disponível em: Clique aqui para acessar
Humanitas360:
1. MACHADO, Leandro. Presas de SP criam cooperativa e empreender da cadeia “Tenho direito de
tentar mudar”. BBC News Brasil. 2019. Clique aqui para acessar
2. Filme “Tecendo a Liberdade” de 6 minutos, realizado pelo Humanitas360, ganhador do prêmio
Nelson Mandela da ONU 2017. Clique aqui para acessar
Penitenciária Central do Estado, Unidade de Progressão, Piraquara – PR. Clique aqui para acessar
Penitenciária de São Cristóvão do Sul: Clique aqui para acessar

PROVA 2
1- Em 13 de abril de 2017, entrou em vigor a Lei 13.434, que proibiu as mulheres aprisionadas de serem algemadas
durante o trabalho de parto. A Lei se constitui como um marco para a discussão sobre os direitos de gestantes aprisionadas,
por ratificar a Declaração Universal dos Direitos Humanos que assegura que “ninguém será submetido à tortura nem a
tratamento ou castigo, desumano ou degradante”, completava 69 anos de sua promulgação. No Brasil, entretanto, viver
com dignidade no sistema carcerário não é um direito. Segundo dados do Levantamento Nacional de Informações
Penitenciárias – Infopen/Mulheres, o Sistema prisional brasileiro dispõe de 27.029 vagas para mulheres, contudo a
população carcerária feminina em 2017, contava com 42.355, o que equivale a um déficit de 15.326 vaga : A resposta
correta é: Violência Institucional

2- Frederico é um jovem adulto de 18 anos de idade, negro, morador de um bairro popular de uma cidade do interior de
São Paulo. Frederico tem uma irmã de 21 anos e um irmão de 11 anos. Frederico cursa administração de empresa numa
faculdade particular com bolsa. Frederico sempre foi muito tímido e desde a infância seus colegas sempre fizeram
“brincadeiras” com seus óculos. Frederico era conhecido na escola como o garoto dos óculos fundo de garrafa e quatro
olhos. Ao entrar no curso Frederico ganhou um smartphone popular com o qual tira fotos e diz que fica impressionado por
registrar a forma que seus próprios olhos não percebem dado o grau de seu comprometimento visual. Frederico começou a
tirar fotos de objetos, e posteriormente, passou a fotografar seus colegas que ao perceberem sentiram-se incomodados e
diziam entre si que Frederico estava invadindo a privacidade deles. Em momento algum, os colegas indagaram Frederico a
respeito dos motivos pelos quais fez fotos e qual era o seu objetivo. Daí a turma começou a exclui-lo da dinâmica do grupo
de uma sala de aula, quando ele estava em algum espaço de convívio comum as pessoas se afastavam, quando eles iam
fazer trabalho a opinião de Frederico não era levada em consideração e a sua própria aceitação em um grupo era sempre
difícil. 

O caso de Frederico é repleto de violência, uma delas, entretanto chama atenção. Marque a alternativa que melhor descreve
esse tipo de violência.: VIOLENCIA COMUNITARIA;

3-“(...) Do ponto de vista social, o contrário da violência não é a não-violência, mas sim a cidadania e a valorização da
vida humana em geral de cada indivíduo.” MINAYO (2009:40) :
A violência representa um desafio ao poder público, porém a sua redução é indissociável da expansão da cidadania, ou
seja, não há como pensar em redução da violência se não houver programas de valorização da vida humana que crie uma
cultura de direitos à educação, à saúde, ao trabalho, emprego, etc.

4-As afirmações abaixo se referem ao campo da educação nas unidades prisionais. Todas estão corretas, EXCETO:  Ao
inscrever na Carta Magna a educação como um valor humano, isto é, um direito universal, o Brasil assegurou a todos o
direito de ter acesso ao ensino escolar mesmo para aqueles/aquelas que estão em prisão perpétua. 

5- “O uso intencional da força física ou do poder, real ou em ameaça, contra si próprio, contra outra pessoa, ou contra um
grupo ou uma comunidade, que resulte ou tenha grande possibilidade de resultar em lesão, morte, dano psicológico,
deficiência de desenvolvimento ou privação.”. (KRUG et al., 2002, p.5) :

Violência Física; Violência Psicológica; Violência auto infligida; Violência Interpessoal; Violência Coletiva; Negligência e
abandono.
6- Em 2010, as Nações Unidas adotaram uma resolução sobre o tratamento de mulheres presas, que ficou conhecida como
_______________________, que propõe um olhar diferenciado para as demandas específicas das mulheres na prisão e a
priorização de medidas não privativas de liberdade, ou seja, que evitem a entrada de mulheres no sistema carcerário.
(LIMA, 2019). :

Regras de Bangkok

7- A atuação do Assistente Social também condiz em atender ao poder judiciário com a produção de _____________
voltados ao subsidio judiciário na tomada de decisões e sentenças, desviando o profissional do seu papel de atuação nas
questões de cunho social, necessárias ao tratamento penal. A perícia social é realizada por meio de um estudo social com
objetivo de conhecer e interpretar a realidade social do objeto da ação; já o ___________________ é o documento que
contém as informações relevantes obtidas por meio do estudo social, com a interpretação e análise (FAVERO, 2009).

Assinale a alternativa que completa corretamente as lacunas:

Laudos, laudo social

8- O Auxílio Reclusão é um benefício concedido aos dependentes dos apenados, sendo considerado um mecanismo de
reinserção social. Este benefício sofreu mudanças significativas em 2019. Analise as afirmativas e assinale a alternativa
correta: I - Tem direito ao benefício os/as dependentes do/ segurado/a do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) preso
em regime fechado, durante o período de reclusão ou detenção, com período de carência de 24 meses de contribuição,
mediante comprovação de dependência, exigindo-se prova material de união estável e dependência econômica (BRASIL,
2019a). 

II- Aplicar-se-á às/aos dependentes de baixa renda do/a segurado/a recolhido/a à prisão, quando não estiver recebendo
remuneração da empresa, nem usufruindo de auxílio-doença, abono de permanência em serviço, salário-maternidade,
pensão por morte ou aposentadoria (BRASIL, 2019a).

9-A Lei de Execuções Penais - LEP - nº 7.210 de 11 de julho de 1984, trouxe perspectivas no sentido de oferecer ao
apenado/a, acesso aos seus direitos sociais durante o cumprimento de pena. O assistente social norteia sua atuação na
perspectiva da garantia de direitos sociais e a ele cabe, EXCETO: A resposta correta é: Assistência psicológica por
intermédio de programas envolvendo o preso, a instituição e se possível familiares, nos processos de ressocialização e
reintegração social.

10- Habilidade/Objetivo: Compreender a constituição das famílias e possibilidades de união.

Paulo Cabral (2019) afirma que não se pode idealizar a família perfeita, assim, o servidor do sistema prisional deve:
A resposta correta é: Encarar a família real do interno e trabalhar a partir desse dado, sem pretender enquadrá-la,
transformá-la ou invadi-la, com respeito à sua integridade, buscando interagir com o propósito de favorecer o almejado
processo de ressocialização.

Modulo 3

I Ingresso no sistema Prisional

O objetivo desta unidade é conhecer as pessoas privadas de liberdade (PPL) que ingressam no sistema prisional, cujas
características possam refletir no seu processo saúde e doença.

O número de pessoas privadas de liberdade varia significativamente entre as diferentes unidades da


Federação. O Brasil possui a terceira maior população privada de liberdade do mundo com 726.712
presos distribuídos em cerca de 1.400 unidades prisionais, com uma taxa de ocupação de 197,4%, o
que indica a falta de 358.663 mil vagas nas prisões brasileiras , vem apresentando um crescimento
considerável na taxa de encarceramento, ficando atrás apenas dos Estados Unidos e da China, o
qual já ultrapassou a Rússia
Dados levantados pelo Departamento Penitenciário Nacional, do Ministério da Justiça e Segurança
Pública, publicada em 2017, destaca que 89% da PPL estão em unidade superlotadas. 78% dos
estabelecimentos penais com mais pessoas privadas de Liberdade que o número de vagas

Brasil - Junho de 2016


726.712
Sistema Prisional 689.510
População Prisional
Secretarias de Segurança/ Carceragens de Delegacias 36.765
Sistema Penitenciário Federal 437
Vagas 368.049
Déficit de vagas 358.663
Taxa de ocupação 197,4%
Taxa de aprisionamento 352,6
Fonte: Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias - Infopen, Junho/2016. Secretaria
Nacional de Segurança Pública, Junho/2016; Fórum Brasileiro de Segurança Pública,
Dezembro/2015; IBGE, 2016.
Ao analisar as características dessas PPL, tem-se a composição de uma população jovem, pouca
escolaridade, oriunda de comunidades carentes e com alta incidência de infecção pelo HIV,
Tuberculose e ainda aqueles reincidentes, que já passaram outras vezes no sistema prisional
(encarceramento prévio).
Acerca da idade, pode-se afirmar que 55% da população prisional é formada por jovens,
considerados até 29 anos, segundo classificação do Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852/2013).
Ainda que a concentração de jovens persista em todos os estados, destacam-se os casos do Acre,
Amazonas, Pará, Espírito Santo, Pernambuco e Sergipe, em que mais de 6 em cada 10 PPL são
jovens, com baixa escolaridade.
De modo geral, pode-se afirmar que os crimes de tráfico correspondem a 28% das incidências
penais pelas quais as PPL foram condenadas ou aguardam julgamento.
II - Rastreamento e Diagnóstico de Saúde
O objetivo desta aula é discutir o cuidado integral à saúde, na perspectiva de compreender o
conceito de rastreamento e da prevenção e promoção da saúde.
O processo do cuidado integral à saúde é missão básica do Sistema Único de Saúde (SUS), neste
contexto ele envolve a promoção da saúde, a redução de risco ou manutenção de baixo risco, a
detecção precoce e o rastreamento de doenças, assim como o tratamento e a reabilitação (BRASIL,
2010).
Um marco importante para saúde no Sistema Prisional, foi a publicação no ano de 2014, da Política
Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional –
PNAISP - cujo objetivo de garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional
ao cuidado integral do Sistema Único de Saúde. Este item será abordado na aula 4 - DIREITO A
SAÚDE POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO, deste módulo.
Para facilitar a leitura, esta aula foi organizada em três seções: na primeira são abordadas questões
referentes ao tema rastreamento em sentido amplo: prevenção, rastreamento e a epidemiologia das
doenças no cenário prisional. Na segunda parte, são descritas as recomendações diretamente
voltadas para o rastreamento e detecção precoce; na terceira, é apresentado um resumo das
recomendações.

EPIDEMIOLOGIA: PREVENÇÃO, RASTREAMENTO E AS DOENÇAS NO CENÁRIO


PRISIONAL
Do ponto de vista histórico, a identificação de fatores de risco como parte da prevenção deu início a
uma nova era na saúde pública. O conceito de doença vem sendo modificado ao longo do tempo e
os fatores de risco estão sendo agora considerados equivalentes a “doenças”, a diferença entre
prevenção e cura está se tornando cada vez mais indistinta (STARFIELD, 2008).
Neste conjunto, o foco na prevenção se torna uma peça fundamental para a construção de um
modelo que visa a busca de medidas eficazes para diminuição de riscos. Diferentemente da
promoção da saúde, a prevenção de enfermidades tem como objetivo a redução do risco de se
adquirir uma doença específica por reduzir a probabilidade de que uma doença ou desordem venha
a afetar um indivíduo (CZERESNIA, 2003).
Para isso, vamos compreender os diferentes níveis de prevenção?

• PREVENÇÃO PRIMÁRIA
É a ação tomada para remover causas e fatores de risco de um problema de saúde individual
ou populacional antes do desenvolvimento de uma condição clínica. Inclui promoção da
saúde e proteção específica (ex.: imunização, orientação de atividade física para diminuir
chance de desenvolvimento de obesidade).

• PREVENÇÃO SECUNDÁRIA
A ação realizada para detectar um problema de saúde em estágio inicial, muitas vezes em
estágio subclínico, no indivíduo ou na população, facilitando o diagnóstico definitivo, o
tratamento e reduzindo ou prevenindo sua disseminação e os efeitos de longo prazo (ex.:
rastreamento, diagnóstico precoce).

• PREVENÇÃO TERCIÁRIA
É a ação implementada para reduzir em um indivíduo ou população os prejuízos funcionais
consequentes de um problema agudo ou crônico, incluindo reabilitação (ex.: prevenir
complicações do diabetes, reabilitar paciente pós-infarto – IAM ou acidente vascular
cerebral).

• PREVENÇÃO QUATERNÁRIA
De acordo com o dicionário da WONCA (World Organization of Family Doctors) é a
detecção de indivíduos em risco de intervenções, diagnósticas e/ou terapêuticas, excessivas
para protegê-los de novas intervenções médicas inapropriadas e sugerir-lhes alternativas
eticamente aceitáveis.
Em um conceito ampliado, junto ao Caderno 29 do Ministério da Saúde (BRASIL, 2010), a
prevenção de doenças compreende três categorias: manutenção de baixo risco, redução de risco e
detecção precoce.
•  a) Manutenção de baixo risco tem por objetivo assegurar que as pessoas de baixo risco
para problemas de saúde permaneçam com essa condição e encontrem meios de evitar
doenças.
•  b) Redução de risco foca nas características que implicam risco de moderado a alto, entre
os indivíduos ou segmentos da população, e busca maneiras de controlar ou diminuir a
prevalência da doença.
•  c) Detecção precoce visa estimular a conscientização dos sinais precoces de problemas de
saúde – tanto entre usuários leigos como em profissionais – e rastrear pessoas sob risco de
modo a detectar um problema de saúde em sua fase inicial, se essa identificação precoce traz
mais benefícios que prejuízos aos indivíduos. Ela baseia-se na premissa de que algumas
doenças têm maiores chances de cura, sobrevida e/ou qualidade de vida do indivíduo quando
diagnosticadas o mais cedo possível.
Das estratégias para a detecção precoce de doenças, o diagnóstico precoce e o rastreamento são
importantes, e neste sentido podemos observe o quadro para melhor compreensão destas duas
estratégias:

II - Rastreamento e Diagnóstico de Saúde


É importante destacar ainda, que o termo rastreamento, derivado do inglês Screening. Neste
sentido, deve-se haver uma clara distinção entre rastreamento e diagnóstico de doenças.
Dada uma situação em que o indivíduo exibe sinais e sintomas de uma determinada doença e um
teste diagnóstico é realizado, este não representa um rastreamento (BRASIL, 2010).
A equipe de saúde deve estar sempre vigilante em identificar a apresentação clínica na população
sob seus cuidados e deve ofertar sempre os exames para as pessoas sob seus cuidados, ou seja,
realizar os exames necessários de acordo com a clínica apresentada pelo paciente. Isso não
configura rastreamento, mas sim cuidado e diagnóstico apropriado (ENGELGAU, 2000).
?

VOCÊ SABIA...

O Ministério da Saúde, por meio do caderno 29 da Atenção Básica de Saúde, define alguns critérios
para um programa de rastreamento.
Desta forma, para a implantação de programas de rastreamento, o problema clínico a ser rastreado
deve atender a alguns critérios, a seguir:
• A doença deve representar um importante problema de saúde pública que seja relevante para
a população, levando em consideração os conceitos de magnitude, transcendência e
vulnerabilidade;
• A história natural da doença ou do problema clínico deve ser bem conhecida;
• Deve existir estágio pré-clínico (assintomático) bem definido, durante o qual a doença possa
ser diagnosticada;
• O benefício da detecção e do tratamento precoce com o rastreamento deve ser maior do que
se a condição fosse tratada no momento habitual de diagnóstico;
• Os exames que detectam a condição clínica no estágio assintomático devem estar
disponíveis, aceitáveis e confiáveis.

ACHOU INTERESSANTE O TEXTO?


Leia mais: Acesse a referência e descubra como esse texto pode ajudar você compreender a
Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema
Prisional. BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção
Básica. Rastreamento / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de
Atenção Básica. – Brasília: Ministério da Saúde, 2010.
Em um sentido mais amplo, precisamos conhecer no cenário prisional a epidemiologia das doenças.
Estudos internacionais e nacionais discutem que a população privada de liberdade é considerada
como tendo um elevado risco para aquisição de infecções relacionadas às condições de
confinamento. Entre as doenças mais comentadas na população prisional estão as Infecções
Sexualmente Transmissíveis, as hepatites virais e a tuberculose, apresentando elevadas taxas,
maiores do que as encontradas. Além da PPL, os profissionais do sistema prisional passam horas em
situação de confinamento e também estão susceptíveis a entrar em contato com essas doenças.
É importante salientar que, em um cenário como os das prisões, os fatores individuais estimulados
pelos hábitos de vida que antecedem a sua prisão podem os deixar mais vulneráveis ao
adoecimento, entre eles destacamos: tabagismo, a drogadição, estado nutricional com alteração,
baixa escolaridade e dentre outros.
Preparamos para você, uma seleção de textos que fazem uma síntese das condições de saúde de
homem e mulheres privados (as) de liberdade de diferentes regiões do país, que estão em literatura
científica.

Variáveis Artigo Ano Autores Link


Doenças Prevalentes 1. Conhecimento, atitudes e práticas
sobre tuberculose em prisões e no 2013 Junior – Ferreira et al
serviço público de saúde
2. Estudo transversal de testagem de
HIV e prevalência em 12 presídios 2015 Sgarbi et al.
brasileiros (tradução)
3. O perfil das detentas HIV positivo de
2012 Camargo et al
uma penitenciária do Paraná, Brasil
4. Prevalência de tuberculose nas
prisões: fatores de risco e epidemiologia 2015 Valença et al
molecular (tradução)
5. Impacto da triagem em massa na 2016 Paiao e Lemos et al.
incidência de tuberculose em uma coorte
prospectiva de prisioneiros brasileiros
Variáveis Artigo Ano Autores Link
(tradução)
6. Tuberculose ativa e latente nas 2015 Carbone et al
instituições correcionais brasileiras:
estudo transversal (tradução)
7. Doenças Sexualmente Transmissíveis:
2015 Fernandes et al
Sentimentos das presidiarias
8. Prevalência da co-infecção pelo vírus
da imunodeficiência humana / vírus da Kuehlkamp e
2013
hepatite C no Brasil e fatores Schuelter-Trevisol
associados: uma revisão (tradução)
9. Epidemiologia das hepatites virais B e
C em mulheres presas do Complexo
Penitenciário Regional Metropolitano do 2013 Barros et al
Estado de Goiás, Brasil Central
(tradução)
10. Hepatite C em presos e não-presos
em Colatina, Espírito Santo, Brasil 2013 Falquetto et al
(tradução)
11. Prevalência e fatores de risco
associados à infecção pelo HIV, hepatite
2014 Maerrawi e Carvalho
e sífilis em um presídio estadual de São
Paulo (tradução)
12. Soroprevalência e fatores associados
ao Vírus da Imunodeficiência Humana
2015 Albuquerque et al
(HIV) e sífilis em presidiários do Estado
de Pernambuco, Brasil
13. Prevalência de sífilis em mulheres
Araújo, Araújo-filho e
do sistema prisional de uma capital do 2015
Feitosa
nordeste brasileiro
14. Soroprevalência do HIV na
Vale, Carvalho e
população privada de liberdade no 2016
Pereira
Amapá
15. Prevalência e Incidência de Infecção
pelo HCV entre Prisioneiros no Brasil 2017 Puga et al
Central (tradução)
16. Desenvolvimento e avaliação de
scores de triagem de tuberculose em 2006 Fournet et al.
prisões Brasileiras
17. Triagem de raio-X na entrada e
triagem sistemática para controle da
2013 Sánchez et al.
tuberculose em uma prisão altamente
endêmica, Rio de Janeiro (tradução)
Condições Sexual e 18. Condicionantes sociodemográficos e
de Reprodução sexuais do conhecimento, atitude e
2012 Nicolau e Pinheiro
prática de presidiárias quanto o uso de
preservativos
19. Conhecimento, atitude e prática do 2012 Nicolau et al.
uso de preservativos por presidiárias:
Variáveis Artigo Ano Autores Link
prevenção das DST/HIV no cenário
prisional
20. Maternidade atrás das grades: em 2015 Ventura et al.
busca da cidadania e da saúde. Um
estudo sobre a Legislação brasileira
21. Caminhos psicossociais para a
disfunção sexual entre mulheres internas 2015 Baltieri
(tradução)

PARA REFLETIR...
• População mais vulnerável ao surgimento de determinadas doenças, em decorrência da situação de
conglomeração;

• Evidência de elevadas taxas de infecções sexualmente transmissíveis, apresentadas maiores


quando comparadas com a população em geral, devido a diversos fatores discutidos nos estudos.

• Existência elevadas taxas de doença ativa e latente de tuberculose encontradas nas prisões
brasileiras.

• Extravazamento dessas doenças para comunidade e adoecimento dos profissionais do sistema


prisional;
Esses apontamentos, foram levantados para que possamos refletir nas ações de acolhimento da PPL
em um cenário de enfrentamento às doenças;
Podemos optar pela porta de entrada? Por ações permanentes de rastreamento em massa? Uso de
testes diagnósticos rápidos?
A seguir vamos discutir as recomendações existentes voltadas para o rastreamento e detecção
precoce das doenças.

RECOMENDAÇÕES DIRETAMENTE VOLTADAS PARA O RASTREAMENTO, CONTROLE


E DETECÇÃO PRECOCE EM PRISÕES.

Infecções Sexualmente Transmissíveis: HIV/aids, sífilis e Hepatites


As Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST) são doenças causadas por vírus, bactérias ou outros
microrganismos e transmitidas, principalmente, por meio do contato sexual (oral, vaginal, anal) com
uma pessoa que esteja infectada sem que haja qualquer prevenção. A transmissão pode acontecer,
ainda, da mãe para a criança durante a gestação.
Diferente de outros rastreamentos, como mamografia para câncer de mama e toque retal para câncer
de próstata, o das IST não identifica apenas uma pessoa. Esse sempre estará ligado a uma rede de
transmissão; quando não identificada e tratada, perpetua o agravo na comunidade, e expõe o
indivíduo à reinfecção, caso a adesão ao uso de preservativos não seja estabelecida.
Entre os fatores de risco para IST, estão dois principais fatores que podem estar presentes na PPL,
como práticas sexuais sem uso de preservativos e idade jovem (CANTOR, 2016; JALKH, 2014).
Neste sentido, a oferta de testes diagnósticos para a PPL é fundamental, a fim de realizar
diagnóstico precoce (prevenção secundária), com o objetivo reduzir a morbimortalidade do agravo
rastreado.

Doenças respiratórias: Influenza e Tuberculose

Influenza
A influenza é uma infecção respiratória aguda, causada pelos vírus A, B e C. O vírus A está
associado a epidemias e pandemias. É um vírus de comportamento sazonal e tem aumento no
número de casos entre as estações climáticas mais frias, podendo haver anos com menor ou maior
circulação do vírus.
A vacinação é uma das principais medidas preventivas para influenza. Contudo, é recomendado
para evitar a gripe ou a sua transmissão fazer uso de medidas preventivas de etiqueta respiratória,
como: higienizar as mãos com água e sabão ou com álcool gel, principalmente depois de tossir
ou espirrar; depois de usar o banheiro, antes de comer, antes e depois de tocar os olhos, a boca
e o nariz; evitar tocar os olhos, nariz ou boca após contato com superfícies potencialmente
contaminadas (corrimãos, bancos, maçanetas etc.). Manter hábitos saudáveis, como
alimentação balanceada, ingestão de líquidos e atividade física. Pessoas com síndrome gripal
devem evitar contato direto com outras pessoas, abstendo-se de suas atividades de trabalho, estudo,
sociais ou aglomerações e ambientes coletivos.
Neste cenário, a propagação do vírus da influenza pode ocorrer de forma rápida e de difícil controle.
Neste sentido, o Ministério da Saúde, por meio de suas Notas Técnicas, inclui a População Privada
de Liberdade como Grupo de Risco para realização da Imunoprofilaxia anual contra a Influeza. Esta
medida pode contribuir para redução de agravos e o extravasamento da doença para comunidade
geral.

Tuberculose
A literatura científica, bem como os manuais de recomendações das Organizações Mundial de
Saúde (WHO, 2000) e do Ministério da Saúde (BRASIL, 2011b) realizam abordagem para o
controle da TB nestes cenários. Entre as recomendações estão: intervenções ambientais na
arquitetura das prisões e o rastreamento da PPL, incluindo exames mais sensíveis como
Radiografia de Tórax e Teste Rápido Molecular.
Em 2003, o Brasil desenvolveu uma experiência pioneira de screening de massa utilizando unidade
móvel de Raio-X no Rio de Janeiro, que se refere à criação dos Centros de Diagnóstico Intramuros
para TB pelo Projeto Fundo Global TB Brasil em parceria com o PNTC/MS.
Dada a perspectiva de melhorar as condições ambientais de encarceramento, em 2012 o
Departamento Penitenciário Nacional publicou um manual que propôs soluções arquitetônicas para
a melhoria das condições de iluminação e ventilação, de forma que, respeitando os imperativos de
segurança, sejam incorporadas na construção de novas prisões e na reforma das atuais (DEPEN,
2012).
A estratégia recomendada internacionalmente (WHO, 2017) e adotada no Brasil consiste em
detecção passiva (demanda espontânea) e/ou por busca ativa. A busca ativa do Sintomático
Respiratório (SR) deve ser realizada permanentemente, de forma sistemática, entre os
ingressos ou indivíduos já encarcerados (rastreamento em massa) e tem sido uma estratégia
recomendada internacionalmente (BRASIL, 2011b).
Já a detecção passiva deve ser direcionada para aqueles casos que não acessam os serviços de saúde
de forma espontânea. Para tanto, deve-se sensibilizar a PPL e demais integrantes do sistema
prisional quanto a importância de identificação precoce dos sinais e sintomas da TB; promover
educação continuada sobre a temática; promover melhoria de acesso ao serviço de saúde e submeter
o suspeito aos exames de triagem (BRASIL, 2019).
Considerando como método de referência o rastreamento radiológico e o Teste Rápido para
Tuberculose, estudos nas prisões tem mostrado melhores resultados no diagnóstico da Tuberculose.
Esses resultados foram apresentados em estudos realizados no Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul,
Mato Grosso do Sul e São Paulo (FOURNET et al., 2006; SANCHEZ et al., 2013; PELISSARI et
al., 2018; CARBONE et al., 2018).
Confirmando estudo anteriormente realizado no Rio de Janeiro (LEGRAND et. al., 2008) e que
contribuiu para elaboração das normas nacionais para o controle da TB nas prisões (BRASIL,
2011). Um estudo recente, que modelou matematicamente cinco estratégias para o controle da TB,
com redução da incidência dentro e fora das prisões, destaca o rastreamento na saída da prisão teria
maior impacto na redução da doença dentro e fora das prisões. Contudo, se houver uma força tarefa
e implementar as cinco medidas o impacto na redução da TB em dez anos seria uma redução de
79,2% (IC95%: 70,2%, 95,6%) nas prisões e em 40,0% (IC95%: 36,1%, 44,3%) na comunidade
geral (MABUD et al., 2019).

A) As ações do Programa de Tuberculose na Prisão devem ser realizadas em consonância com as


recomendações do Programa Nacional de Controle da Tuberculose do Ministério da Saúde, com
destaque para:
I. Realizar o rastreamento de tuberculose por radiografia de tórax e/ou presença de tosse por duas
semanas ou mais, em todos os ingressantes do sistema prisional;
II. Realizar, pelo menos uma vez ao ano, a busca de sintomáticos respiratórios, na população já
encarcerada;
III. Realizar o tratamento diretamente observado por um profissional de saúde, com o objetivo de
melhorar a adesão ao tratamento;
IV. Em caso de transferência, o prontuário médico deve acompanhar o prontuário penal. É de
responsabilidade da equipe de saúde prisional de origem a comunicação para a equipe de saúde
prisional de destino sobre o paciente em tratamento de tuberculose.
V. Em caso de liberdade, é responsabilidade da equipe de saúde prisional a comunicação com a
vigilância epidemiológica do município sobre o paciente em tratamento;
VI. É responsabilidade da equipe de saúde acolher as pessoas com tuberculose, esclarecer todas as
dúvidas relacionadas ao tratamento e informar sobre a importância da manutenção do tratamento
em caso de liberdade;
VII. Todos os casos de tuberculose identificados no sistema prisional devem ser notificados no
Sistema de Informação de Agravos de Notificação pela Ficha de Notificação/Investigação,
identificando sempre como “sim” a variável população privada de liberdade;
VIII. As pessoas vivendo com HIV devem realizar Prova Tuberculínica (PT) e o tratamento da
infecção latente da tuberculose (ILTB), quando indicado;
IX. Investigar a tuberculose nas pessoas vivendo com HIV por meio dos quatro sintomas
prioritários (tosse, febre, emagrecimento e sudorese) em todas as consultas no sistema de saúde;
X. Nos casos de identificação de um paciente com coinfecção Tuberculose-HIV (TBHIV) proceder
com as recomendações do Protocolo Clínico de Diretrizes Terapêuticas (PCDT) de adultos para
instituição oportuna de antirretrovirais
XI. Todos os pacientes com tuberculose devem ser aconselhados a realizar o teste diagnóstico para
o HIV;
XII. O isolamento é recomendado nas seguintes situações: quando o diagnóstico é realizado na
porta de entrada, nos casos de resistência aos medicamentos e falências de tratamento;
XIII. Ocorrendo um caso de TB, é necessário examinar todos os contatos para identificar outros
casos de TB ativa, especialmente em contatos infectados pelo HIV. Principalmente em grandes
unidades, todas as PPL de uma mesma cela ou galeria devem ser consideradas como contato, o que,
na prática, pode implicar a realização de busca ativa sistemática em toda a unidade prisional.
XIV. Indica-se realizar os testes bacteriológicos para diagnóstico de TB em todos os contatos que
apresentarem tosse, independentemente da duração. Sempre que possível, a radiografia de tórax
deve ser realizada. Em caso de contatos extramuros, orientar os familiares sobre a necessidade de
investigar a TB, esclarecer sobre os sintomas e realizar a educação permanente de prevenção da
doença. Enviar comunicação dos contatos à vigilância dos municípios a fim de realizar a
investigação.
XV. Contatos infectados pelo HIV, desde que descartada TB ativa, devem realizar tratamento para a
infecção latente, independente do resultado da Prova Tuberculínica (PT)
XVI. Realizar ações de comunicação e educação em saúde para a comunidade carcerária (presos e
seus familiares, profissionais de saúde e segurança);
XVII. A adequação da ventilação e iluminação deve ser contemplada na reforma e construção de
novas unidades prisionais, conforme Manual de Diretrizes Básicas para a Construção, Ampliação e
Reforma dos estabelecimentos Penais do Conselho Nacional de Politica Criminal e Penitenciária
(CNPCP)
XVIII. Realizar avaliação na admissão e anual de profissionais de saúde do sistema prisional com o
intuito de instituir o diagnóstico precoce da tuberculose e prevenção da doença, quando indicado;
XIX. Realizar o acompanhamento mensal dos casos de tuberculose sendo necessário a coleta de
escarro e consulta médica mensal, bem como, o exame radiológico e ou outros, conforme Manual
de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil.
XX. No caso de tuberculose multirresistente (TB MR), o paciente deverá também tomar os
fármacos sob o tratamento diretamente observado e realizar o acompanhamento médico, os exames
laboratoriais e radiológicos de acordo com as normas de tratamento MDR do país. Seu
acompanhamento pode ser realizado em referência terciária.
B) Todas as intervenções para prevenção da transmissão do HIV, da sífilis e da hepatite B de mãe
para filho, incluindo o planejamento familiar e a terapia antirretroviral, devem estar facilmente à
todas mulheres privadas de liberdade, em consonância com as diretrizes do SUS.
C) Agentes penitenciários e trabalhadores de estabelecimentos prisionais devem receber
informação, educação e formação sobre o HIV, hepatites virais e tuberculose, para que possam
exercer suas funções de uma forma saudável e segura.
D) Todas as pessoas privadas de liberdade, os funcionários da saúde e os outros trabalhadores
devem ter fácil acesso aos programas de aconselhamento e à testagem voluntária para a sífilis, HIV
e hepatites virais a qualquer momento e durante todo o seu período de detenção.

III - Sistemas de Informação do Sistema Prisional


Nesta aula será apresentado os principais sistemas de informação do sistema prisional do país, e a
importância da integração desses sistemas.
As informações penitenciárias mostram a realidade prisional brasileira, fornecendo mecanismos de
coleta de dados segura e individualizada dos estabelecimentos penitenciários e de tratamento do
país. Essa ferramenta faz parte da política de gestão da informação do Departamento Penitenciário
(Depen) que, a partir dos dados coletados, pode elaborar políticas públicas de saúde, educação,
trabalho, cultura, esporte, assistência social e acesso à justiça (INFOPEN, 2017).
Esses sistemas de informações são alimentados por servidores com informações das pessoas
privadas de liberdade assim que ela entra na instituição penal. Os dados são coletados, o sujeito é
ouvido e acolhido pelo servidor. A partir desse momento ele deve ser encaminhado aos setores de
saúde e assistência social. Todo esse momento representa a admissão, a porta de entrada na unidade
prisional.
Não há um sistema de informações unificado que todos os estados do país usem para alimentar os
dados das pessoas privadas de liberdade. Cada estado usa o seu próprio sistema, e as informações
não são as mesmas em cada sistemas. Para piorar o quadro, não há integração entre os diferentes
sistemas do estado e com as instituições penais federais.
A partir desta dificuldade foi criado o Infopen, que é um sistema de informações estatísticas do
sistema penitenciário brasileiro. O sistema, atualizado pelos gestores dos estabelecimentos desde
2004, sintetiza informações sobre os estabelecimentos penais e a população prisional. Em 2014
foram realizadas diversas alterações na metodologia e no instrumento de coleta de informações com
vistas a aprimorar o diagnóstico do sistema prisional e, assim, possibilitar a elaboração de políticas
públicas cada vez mais adequadas à realidade prisional (INFOPEN, 2017).
O Infopen contém diversos dados quantitativos e qualitativos em relação à PPL, que possibilitam
saber dados pessoais, jurídicos, por onde passaram, em qual regime estão custodiados, atendimentos
prestados na área da saúde e educação, atendimentos médicos, sociais, benefícios que receberam e
muito mais (INFOPEN, 2017).
Já o Sistema de Informações do Departamento Penitenciário Nacional (Sisdepen) foi criado para
atender a Lei n° 12.714/2012 que dispõe sobre o sistema de acompanhamento da execução das
penas, da prisão cautelar e da medida de segurança aplicadas aos custodiados do sistema penal
brasileiro. É o sistema que possibilita a integração dos órgãos de administração penitenciária no
Brasil, na medida que possibilita a criação de um banco de dados centralizado com as informações
que deverão atender a todas as necessidades dos diferentes atores da execução penal. O Sisdepen
ainda está em fase de implantação. A troca de informações entre os estados é fundamental para
facilitar o acesso a soluções de problemas que são comuns a todos, além da oportunidade de agregar
novas ferramentas de gestão.

IV - Direito à Saúde - Política Nacional de Humanização


O objetivo desta aula é refletir a implementação da Política Nacional de Atenção Integral à Saúde
das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional. Além disso, vem apresentar os conceitos e
princípios que norteiam a proposta do acolhimento e explica o sentido de humanização proposto
pela Política Nacional de Humanização no cenário dos ambientes penais.
A Constituição Brasileira de 1988 apresenta um conjunto de direitos sociais, que devem ser
instituídos pelo Estado, visando garantir a democratização da sociedade e a melhoria das condições
de vida da população brasileira. Entre os direitos garantidos por lei, encontra-se o direito à saúde
para todos os cidadãos. No art. 1º da Constituição Brasileira, rege que cabe à República Federativa
do Brasil (formada pela união indissolúvel dos Estados e municípios e do distrito Federal) a
manutenção do direito de cidadania e a dignidade da pessoa humana, além dos direitos humanos
universais, entre eles, o direito à saúde (BRASIL, 1988).
Ainda no art. 5º, há a assertiva de que todos são iguais perante a lei, sem distinções, inclusive as
pessoas privadas de liberdade, ao qual é assegurado o respeito à integridade física e moral. Então,
segundo a própria ordem jurídica brasileira, as pessoas privadas de liberdade continuam a manter
um status mínimo de cidadania. Por isso, o acesso à saúde deve ser garantido (BRASIL, 1988).
Os direitos e deveres dos detentos para com o Estado e a sociedade – estabelecendo normas
fundamentais a serem aplicadas durante o período de prisão e as responsabilidades do Estado –
estão descritos na Lei de Execução Penal (LEP), aprovada na década de 1980. A LEP é considerada
atualmente como uma lei bastante avançada, por estabelecer normas e direitos sociais,
principalmente quanto à ressocialização da pessoa privada de liberdade (BRASIL, 1984).
Embora tenham seus direitos políticos suspensos, hajam perdido parcialmente a liberdade e estejam
sob custódia do Estado, não lhes foram retirados direitos civis (casamento, propriedade, registro de
nascimento, entre outros) nem os direitos sociais previstos pela LEP. Assim, têm garantido o acesso
aos direitos assistenciais, como assistência material, de saúde, jurídica, educacional, social, religiosa
e de trabalho (BRASIL, 1984).
Nas décadas de 1980 e 1990 ocorreram significativas mudanças no campo da saúde pública no
Brasil, a partir da consolidação da reforma sanitária. Após a Constituição Brasileira de 1988, foram
estruturadas as Leis 8.080 de 1990 (BRASIL, 1990a) e 8.142 de 1990 (BRASIL, 1990b), que foram
os marcos legislativos para a criação do Sistema Único de Saúde (SUS), tornando de forma mais
clara:

A SAÚDE É UM DIREITO DE TODOS E DEVER DO ESTADO:


O SUS se baseia nos seguintes princípios (BRASIL, 1990):
Universalidade do acesso aos serviços de saúde;
Integralidade da atenção;
Equidade;
Hierarquização dos serviços em um contexto descentralizado e municipalizado com a participação
da sociedade.
Considerando a concepção da saúde como direito universal, a população prisional está incluída na
assistência à saúde instituída a partir do SUS. Contudo, o sistema prisional brasileiro apresenta
diversos problemas como o déficit de vagas nas penitenciárias já apresentadas em outras aulas e,
principalmente, a falta de uma assistência médico-jurídica adequada e suficiente. A superpopulação
facilita a ocorrência de inúmeros problemas de saúde. Porém, o fato de as pessoas estarem privadas
de liberdade não pode ser acompanhado de redução dos direitos à saúde.
Para enfrentar essa realidade, foram desenvolvidas ao longo dos anos políticas públicas de saúde
para atender às necessidades do sistema prisional brasileiro, que preveem a implantação de equipes
de saúde específicas para essas instituições. Dessa maneira, busca-se garantir o direito
constitucional de acesso universal a ações e serviços saúde, para efetivar os direitos sociais
previstos por lei às pessoas privadas de liberdade, conforme veremos no tópico a seguir.
Um marco legislativo para a efetivação dessa garantia é o Plano Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário (PNSSP), instituído pela Portaria Interministerial n.º 1.777 de 9 de setembro de 2003,
e que garante ações integrais de saúde às populações masculina, feminina e psiquiátrica, para
garantir o direito à saúde aos privados de liberdade (BRASIL, 2004).
O PNSSP buscava garantir a saúde das pessoas privadas de liberdade de modo integral, tomando
por base diretrizes estratégicas como:
• Prestar assistência integral resolutiva, contínua e de boa qualidade às necessidades de saúde;
• Reduzir os agravos mais frequentes;
• Definir e programar ações e serviços consonantes com princípios e diretrizes do SUS;
• Implementar a intersetorialidade;
• Democratizar o conhecimento do processo saúde/doença.

De acordo com o plano, são garantidas ações de saúde da Atenção Básica em unidades prisionais,
estendendo o acesso da população prisional aos demais níveis de complexidade do sistema de saúde
por meio da sua inclusão nas referências e no âmbito da programação da assistência à saúde.
Constitui-se, assim, um verdadeiro desafio à garantia da assistência orientada pelos princípios e
diretrizes fundamentais da saúde pública nacional a todos os brasileiros que se encontram privados
de liberdade (BRASIL, 2004).
O PNSSP foi instituído considerando justamente as condições desfavoráveis de higiene e
salubridade da maioria das unidades prisionais no país, bem como as elevadas taxas de prevalência
de doenças crônicas não transmissíveis (DCNT), infecção por HIV/aids, tuberculose, hepatites e
outras doenças sexualmente transmissíveis e infectocontagiosas no sistema penitenciário nacional.
Buscando garantir o acesso das pessoas privadas de liberdade no sistema prisional ao cuidado
integral no SUS, foi instituída, em 2 de janeiro de 2014, a Política Nacional de Atenção Integral à
Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP). Entre os princípios da
PNAISP, vale destacar a equidade, em virtude de reconhecer as diferenças e singularidades dos
sujeitos a que a política se destina, e a integralidade da atenção à saúde da população privada de
liberdade no conjunto de ações de promoção, proteção, prevenção, assistência, recuperação e
vigilância em saúde executadas nos diferentes níveis de atenção (BRASIL, 2014).
IV - Direito à Saúde - Política Nacional de Humanização
De acordo com a PNAISP, a atenção básica será ofertada por meio das equipes de Atenção Básica
das Unidades Básicas de Saúde definidas no território ou por meio das Equipes de Saúde no
Sistema Prisional (ESP). A atenção à saúde das pessoas privadas de liberdade deve buscar controlar
ou reduzir os agravos mais frequentes que acometem essa população, respeitando a diversidade
étnico-racial, a das limitações e necessidades físicas e mentais especiais, a das condições
socioeconômicas, a das práticas e concepções culturais e religiosas, a de gênero, a de orientação
sexual e a de identidade de gênero (BRASIL, 2014).
Precisamos refletir a respeito de que as pessoas privadas de liberdade, independentemente da
natureza de sua transgressão, mantêm o direito de gozar dos mais elevados padrões de assistência à
saúde. Afinal, apesar de estarem privadas de liberdade, preservam os demais direitos humanos
inerentes à sua cidadania.
Há duas importantes razões que devem pautar a atenção à saúde dentro do sistema prisional.
•  A primeira é que a saúde das pessoas privadas de liberdade tem grande impacto na saúde
pública, porque algumas doenças e agravos são bem mais prevalentes nessa população em
comparação com a população geral, e refletirão na comunidade se não forem tratadas.
•  A segunda razão se refere à possibilidade de reduzir as iniquidades em saúde, considerando
que as pessoas privadas de liberdade geralmente tiveram menos condições socioeconômicas
(OMS, 2014).
Para transpor esse desafio é necessário conhecer, além das políticas públicas referentes à atenção à
população privada de liberdade, quem é essa população no Brasil, como ocorre o processo de
trabalho no sistema prisional. Também é preciso conhecer as possibilidades de atenção
considerando as diretrizes do SUS, as vulnerabilidades a que mulheres e homens privados de
liberdade estão expostos, e como essas questões influenciam no acesso à saúde.
As dificuldades de acesso à saúde não marcam apenas as rotinas prisionais. São enfrentadas
também pelas pessoas privadas de liberdade quando estas se dirigem aos locais de atendimento fora
das prisões.
O processo enfrentado por essas pessoas, quando chegam escoltadas e algemadas a unidades de
saúde e hospitais da rede de saúde, muitas vezes reforça os estigmas sociais sobre a pessoa privada
de liberdade, que até desiste do atendimento para não ter de se submeter a essas situações.
Embora haja dificuldades para alcançar a atenção integral à saúde da população privada de
liberdade, profissionais de saúde que considerem e conheçam as peculiaridades envolvidas nessa
atenção contribuem para o desenvolvimento de uma sociedade mais saudável ao possibilitar
mudanças de comportamento e melhor qualidade de vida às pessoas que estão privadas de liberdade
(OMS, 2014).

POLÍTICA NACIONAL DE HUMANIZAÇÃO


A Política Nacional de Humanização do Sistema Único de Saúde (PNH) foi criada em 2003 pelo
Ministério da Saúde. A PNH é, portanto, uma política do SUS. Também chamada de HumanizaSUS,
a PNH, emerge da convergência de três objetivos centrais (BRASIL, 2007):
enfrentar desafios enunciados pela sociedade brasileira quanto à qualidade e à dignidade no
1
cuidado em saúde;
2 redesenhar e articular iniciativas de humanização do SUS;
enfrentar problemas no campo da organização e da gestão do trabalho em saúde que têm
3
produzido reflexos desfavoráveis tanto na produção de saúde como na vida dos trabalhadores.
A Política Nacional de Humanização busca por em prática os princípios do SUS no cotidiano dos
serviços de saúde, produzindo mudanças nos modos de gerir e cuidar. A PNH estimula a
comunicação entre gestores, trabalhadores e usuários para construir processos coletivos de
enfrentamento de relações de poder, trabalho e afeto que muitas vezes produzem atitudes e práticas
desumanizadoras que inibem a autonomia e a corresponsabilidade dos profissionais de saúde em
seu trabalho e dos usuários no cuidado de si (BRASIL, 2007).
A partir da análise dos problemas e dificuldades em cada serviço de saúde e tomando por referência
experiências bem-sucedidas de humanização, a PNH tem sido experimentada em todo o país. Existe
um SUS que dá certo, e dele partem as orientações da Política Nacional de Humanização,
traduzidas em seu método, princípios, diretrizes e dispositivos.
Humanizar se traduz, então, como inclusão das diferenças nos processos de gestão e de cuidado.
Tais mudanças são construídas não por uma pessoa ou grupo isolado, mas de forma coletiva e
compartilhada. Incluir para estimular a produção de novos modos de cuidar e novas formas de
organizar o trabalho.

HUMANIZAR É CONSTRUIR RELAÇÕES


QUE AFIRMEM OS VALORES QUE
ORIENTAM NOSSA POLÍTICA PÚBLICA
DE SAÚDE.
As rodas de conversa, o incentivo às redes e movimentos sociais e a gestão dos conflitos gerados
pela inclusão das diferenças são ferramentas experimentadas nos serviços de saúde a partir das
orientações da PNH.
Incluir os trabalhadores na gestão é fundamental para que eles, no dia a dia, reinventem seus
processos de trabalho e sejam agentes ativos das mudanças no serviço de saúde. Incluir usuários e
suas redes sociofamiliares nos processos de cuidado é um poderoso recurso para a ampliação da
corresponsabilização no cuidado de si.
No sistema prisional, os desafios se multiplicam, entre eles, destacamos o acolhimento, que é
entendido como uma diretriz para a humanização em saúde, com a intenção de transformar práticas
e sujeitos. Em sua maioria, as pessoas privadas de liberdade estão em situação de saúde precárias,
assim, observa-se a importância de colocar as noções do PNAISP atreladas a PNH, no âmbito do
SUS.
O acolhimento é o contato que o indivíduo tem com a equipe de saúde, vista como uma diretriz
ético-política da humanização na saúde. É um processo constitutivo das práticas de saúde que
implica (BRASIL, 2007).
• A responsabilização pelo usuário, desde a sua chegada até a sua saída ao serviço de saúde;
• A escuta qualificada que possibilite analisar a demanda, ouvindo a queixa dos usuários,
considerando suas preocupações e angústias;
• A garantia de atenção integral, resolutiva e responsável.

Como fazer o acolhimento das pessoas privadas de liberdade ao entrar nas instituições penais?
No momento em que o sujeito entra na instituição penal, ele deixa pra trás sua rede de apoio e
disposições sociais. O sujeito é “admitido” na instituição, que é o procedimento de contato do
sujeito com os códigos institucionais. De modo geral, há uma ruptura com o modo de vida civil. O
acolhimento deve ser iniciado no momento em que o privado de liberdade chega na instituição
penal.
O acolhimento são os momentos iniciais, em que o privado de liberdade está sendo incorporado ao
espaço institucional. Estar com profissionais que possam oferecer uma escuta qualificada pode ser
um momento para iniciar uma transformação.
A admissão e o acolhimento deve ser feito na “porta de entrada”, no momento em que o sujeito
entra na unidade prisional. A Equipe de Saúde do Sistema Prisional que acolhe o sujeito entra em
contato com a história de vida e com as redes de relações, permeadas por afetividades, hábitos,
fragilidades sociais, violência, relações confluituosas, e claro, inúmeros problemas de saúde, que
são adquiridas ou desenvolvidas na sociedade ou dentro de instituições penais.
É fundamental que a construção da rede de saúde possa estar atenta nos processos de gestão, mas
principalmente nos processos de atenção das pessoas privadas de liberdade.

V - Experiências Exitosas Nacionais e Internacionais


Apesar dos desafios que as unidades prisionais enfrentam, advindos da estrutura física inadequada,
superlotação, inúmeros problemas de saúde, ausência ou atenção à saúde precária; Não obstante,
temos exemplos de experiências exitosas no âmbito da saúde que nos fazer refletir, que mesmo
neste cenário há possibilidades de ser agente de mudança. Que com o apoio das políticas públicas
de saúde e com a criação de políticas específicas as pessoas privadas de liberdade é possível
melhorar a saúde dessa população.
A seguir veremos alguns exemplos de experiências exitosas que mudaram a saúde de unidades
penais:
Avaliação do desempenho e do custo de um método simplificado de rastreamento da tuberculose em
prisão de alta endemicidade do Rio de Janeiro
O controle da tuberculose nas prisões de países de alta e média endemicidade permanece um
desafio. O pronto diagnóstico em resposta a demanda espontânea e o tratamento supervisionado é a
base do controle mas, em prisões hiperendêmicas, esta estratégia precisa ser associada à busca ativa
sistemática (rastreamento) de casos entre ingressantes e na população já encarcerada. Está
estabelecido que o rastreamento baseado na existência de tosse > 2 semanas, método mais simples e
de baixo custo, apresenta desempenho muito inferior quando comparado ao rastreamento
radiológico. Este porém apresenta como limitação para sua ampla implementação, complexidade
logística e alto custo. Com o objetivo de contribuir para a definição de estratégia que possibilite a
implementação, em larga escala, do rastreamento de casos de TB nas prisões, foi proposta a
avaliação do desempenho e do custo de uma estratégia simplificada baseada na capacidade do
indivíduo produzir escarro, independentemente de relatar tosse e/ou outros sintomas, e posterior
aplicação de Xpert, teste diagnóstico de alto desempenho (estratégia A), utilizando o rastreamento
radiológico como referência (Estratégia B). Todos os detentos serão estimulados a coletar uma
amostra de escarro e serão submetidos a radiografia de tórax. As prevalências obtidas por cada uma
das estratégias serão comparadas e os valores preditivos positivo e negativo da Estratégia A serão
calculados tendo como referência a Estratégia B. Será ainda estimado o custo unitário por caso de
TB detectado por cada estratégia na perspectiva do SUS.
No Presídio Central de Porto Alegre
O PCPA existe desde 1959 e foi construído para albergar 700 presos, mas já chegou a receber 5.300
homens. Considerado o maior do Brasil e, em 2008, em virtude da superlotação e do (péssimo)
estado de conservação, foi considerado um dos piores do país. Após foram instituídas ações de
saúde para diagnosticar pessoas com tuberculose, HIV e hepatite (em média, 2 mil presos por mês)
e a distribuição diária de preservativos aos privados de liberdade (VIGGIANO; GOMES, 2012).
Após houve a criação do projeto “Porta de Entrada”, no qual se realizou a triagem a partir de
informações fornecidas pelos presos e de um exame de raios-X e oferece a realização de exames
para detecção de HIV de Tuberculose. Atualmente o projeto atende aos ingressantes (na porta de
entrada).
Segue link para visualizar melhor esse projeto PCPA:
http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=4&cod_conteudo=1854
http://www.susepe.rs.gov.br/conteudo.php?cod_menu=4&cod_conteudo=2152
http://www.susepe.rs.gov.br/upload/1315597369_SAUDE.pdf
Ações de controle de Tuberculose em unidades penais
Para ampliar o diagnóstico da tuberculose, desde 2006 existe a recomendação do Conselho
Nacional de Política Criminal e Penitenciária para que toda pessoa que ingressar no sistema
prisional realize exames admissionais de tuberculose. Assim, desde 2011, a população privada de
liberdade está listada como prioritária no Programa Nacional de Controle da Tuberculose, que
elabora recomendações específicas para o controle da doença intramuros (BRASIL, 2011).
Por meio do projeto Fundo Global Tuberculose - Brasil (2007-2011) e projetos executados no Brasil
e acompanhados pelo Programa Nacional de Controle da Tuberculose, foram construídos centros de
diagnóstico intramuros, que hoje estão presentes em unidades do Rio Grande do Sul, Amazonas,
Maranhão, Pernambuco e Ceará. Outros estados, como por exemplo o Rio de Janeiro, possuem
laboratórios equipados com recursos próprios. Por meio da expansão da Rede de Teste Rápido
Molecular para tuberculose, alguns desses laboratórios foram priorizados para receberem máquinas
específicas para o atendimento da população carcerária.
Em 2014, o Brasil foi selecionado para executar o projeto TB Reach, ligado ao Stop TB Partneship
– da Organização Mundial de Saúde, com foco no sistema prisional. Em parceria com o Escritório
das Nações Unidades Sobre Drogas e Crime (UNODC-ONU), o Ministério da Saúde apoiou a
execução do projeto que realizou busca ativa de casos suspeitos de tuberculose, utilizando o Teste
Rápido Molecular (TRM-TB) em Porto Alegre e Charqueadas, no Rio Grande do Sul, e no
município do Rio de Janeiro (Complexo Bangu). Os resultados obtidos têm sido utilizados para
embasar as recomendações para o controle da tuberculose na população privada de liberdade e a
campanha educativa sobre tuberculose foi o ponto de partida para a realização deste novo projeto.
Além disso, em 2018 foi lançado o projeto “Apoio ao desenvolvimento de ações em saúde para a
comunidade carcerária com foco na tuberculose”, uma parceria entre o Departamento Penitenciário
Nacional (DEPEN) e a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), com o apoio do Ministério da Saúde.
As ações do projeto vão durar dois anos. A estratégia é o foco na educação em saúde, com
campanha produzida para toda a comunidade carcerária do país, além da realização de oficinas
regionais e organização da rede de atenção à saúde em 75 unidades prisionais consideradas porta de
entrada para o sistema prisional, com representação nas 27 unidades federadas do país. O objetivo
final é ampliar o diagnóstico e tratamento precoce de todos os casos, melhorando as estratégias de
controle da tuberculose no sistema prisional.
Segue link para visualizar melhor o projeto “Apoio ao desenvolvimento de ações em saúde para a
comunidade carcerária com foco na tuberculose”:
http://www.sap.sp.gov.br/noticias/not1276.html
https://www.seap.go.gov.br/noticias/dgap-participa-de-campanha-para-combate-a-
tuberculose-no-sistema-prisional-do-brasil.html
Projeto de Triagem em Massa

PARA O CONTROLE DE TUBERCULOSE EM


PRESÍDIOS DO MATO GROSSO DO SUL
Um projeto contra a tuberculose está sendo realizado em 3 presídios em Campo Grande e Dourados,
na região sul do estado de Mato Grosso do Sul. O objetivo é reduzir a incidência da tuberculose nas
pessoas privadas de liberdade e avaliar estratégias de triagem que possa ser mais eficaz no
diagnóstico e tratamento da doença. O projeto tenta provar que as unidades móveis de saúde são
efetivas para o controle, ou mesmo, erradicação da doença.
Toda a população dos 3 presídios passa por uma avaliação de sintomas de TB e o rastreamento para
TB pulmonar foi por meio de 3 técnicas: radiografia de tórax, coleta de escarro para teste rápido
molecular (Xpert MTB/RIF) e cultura de escarro. De novembro de 2017 até fevereiro de 2019
foram triadas 7.500 pessoas privadas de liberdade e diagnosticados 360 casos de Tuberculose.
Segue link para visualizar melhor esse projeto nos presídios de Mato Grosso do Sul:
http://www.agepen.ms.gov.br/projeto-contra-a-tuberculose-que-sera-realizado-nos-presidios-
de-ms-servira-de-referencia-nacional/

UNIDADE II
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Esse vídeo possui legenda. Ative-a clicando no primeiro ícone no canto inferior direito do vídeo.
Para compreendermos mais sobre o sistema prisional brasileiro, é importante conhecer suas
principais informações, sendo uma delas, que o Brasil tinha a terceira maior população privada de
liberdade do mundo em 2016, com 726.712 presos distribuídos em aproximadamente 1.400
unidades prisionais, com uma taxa de ocupação de 197,4%, o que indica a falta de 358.663 mil
vagas nas prisões brasileiras (BRASIL, 2017a; BORGES, 2018).
Figura 1 - Infográfico da Capacidade do Sistema Prisional e Déficit de Vagas por UF

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Esse vídeo possui legenda. Ative-a clicando no primeiro ícone no canto inferior direito do vídeo.
Para compreendermos mais sobre o sistema prisional brasileiro, é importante conhecer suas
principais informações, sendo uma delas, que o Brasil tinha a terceira maior população privada de
liberdade do mundo em 2016, com 726.712 presos distribuídos em aproximadamente 1.400
unidades prisionais, com uma taxa de ocupação de 197,4%, o que indica a falta de 358.663 mil
vagas nas prisões brasileiras (BRASIL, 2017a; BORGES, 2018).
Figura 1 - Infográfico da Capacidade do Sistema Prisional e Déficit de Vagas por UF

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Sabemos que o histórico de vida dos presos antes do encarceramento, muitas vezes é marcado por
situações de pobreza, desigualdades, falta de acesso à educação e aos serviços de saúde (UNODC,
2012; AILY, 2013) e, principalmente, as más condições na estrutura do confinamento, e com celas
superlotadas em ambientes com baixas condições higiênico-sanitárias. Assim, a falta de acesso às
ações e serviços de saúde, pode ser motivo para o aumento de doenças na população prisional
(RIBEIRO et al., 2013; PRELLWITZ et al., 2013).

I - O Contexto do Sistema Prisional e a Saúde

Outras questões ainda podem piorar a situação de saúde dos detentos, como alimentação não
saudáveis, não realização de atividades físicas, baixo número de profissionais de saúde e materiais
para assistência no ambiente prisional. A união de todos estes elementos resulta em uma dupla
penalização ao sujeito encarcerado, que além da perda de sua liberdade, possuem uma diminuição
no direito à saúde e, por sua vez, uma piora no estado de saúde (MENEZES; MENEZES, 2014).
Para entender melhor a realidade das celas de convívio das unidades prisionais brasileiras, veja o
vídeo abaixo “Encarceramento em massa não é justiça”. Nele, você pode ter a visão do interior de
toda cela, mantendo pressionado o botão direito do mouse sobre o vídeo e arrastando para os lados.
O QUE É DIREITO À SAÚDE DAS POPULAÇÕES PRIVADAS DE LIBERDADE?
Essa resposta é mostrada em documentos internacionais sobre direitos humanos e pode ser vista no
quadro abaixo através de experiências bem-sucedidas realizadas no Brasil.

SAÚDE MENTAL É FOCO DE


ATIVIDADES NAS UNIDADES
PRISIONAIS DA REGIÃO NOROESTE
Campanha Janeiro Branco mobilizou servidores e reeducandos com palestras e cartazes
abordando o tema.

CUIDADO E CONTROLE DO HIV/AIDS


NO SISTEMA PRISIONAL
Secretaria da Administração Penitenciária mantém equipes técnicas capacitadas para
diagnóstico e tratamento do HIV/Aids para pessoas privadas de liberdade.

PRESOS RECEBEM 288 ÓCULOS EM


SEMANA OFTALMOLÓGICA DA
PENITENCIÁRIA DE POTIM
Projeto foi ampliado à rede de ensino pública de Potim e atendeu mais de 1.900 crianças da
cidade.

PRESÍDIOS DE PONTA PORÃ


PROMOVEM AÇÕES DE SAÚDE E
CONSCIENTIZAÇÃO
Foram realizadas diversas ações voltadas à conscientização, prevenção e direitos humanos.

VOCÊ SABIA QUE...


1. O documento Regras Mínimas das Nações Unidas para Tratamento de Presos de 1955 (revisado
em 2015 e intitulado Regras de Mandela) destaca a necessidade de compromisso governamental na
garantia de acesso à educação, ao trabalho e à saúde durante o encarceramento, além de oferecer a
recuperação do indivíduo para voltar a viver em sociedade após saírem da prisão. Este documento
também mostra a importância do oferecimento de alimentação com qualidade nutricional e a
importância da higiene, ventilação e espaço adequado nas celas (BRASIL, 2016).
2. O direito à saúde da População Privada de Liberdade no Brasil é contemplado no artigo 14 da Lei
de Execução Penal nº 7.210 de 1984. Esta lei diz que as unidades prisionais devem providenciar
atividades para prevenção e assistência à saúde por meio de atendimento médico, farmacêutico e
odontológico, podendo também realizar encaminhamentos a outros serviços de saúde quando o
estabelecimento penal não tiver capacidade para prestar a assistência necessária. Para as mulheres
privadas de liberdade, a Lei de Execução Penal nº 11.942 de 28 de maio de 2009, garante o
acompanhamento médico no pré-natal e no pós-parto (BRASIL, 1984).
3. O Brasil tem dificuldade no cumprimento das leis e recomendações sobre a oferta do cuidado aos
detentos, uma vez que são observadas carência na execução de ações, em especial, àquelas
relacionadas à promoção da saúde e à prevenção de doenças no contexto prisional. Isto é
identificado pelas situações estruturais do ambiente carcerário, que contribuem para a ocorrência e
continuidade de doenças (BARBOSA et al., 2014; MARTINS et al., 2014; MENEZES; MENEZES,
2014; FELISBERTO et al., 2016; SANTOS et al., 2017; VALIM et al., 2018). Algumas notícias
mostram o que acontece como consequência da situação vivenciada nas unidades prisionais. Veja
no quadro abaixo.

"MASSACRE SILENCIOSO": DOENÇAS TRATÁVEIS MATAM MAIS QUE


VIOLÊNCIA NAS PRISÕES BRASILEIRAS - Nas prisões brasileiras, a morte chega mais
rápido através de uma tosse que por meio de um estilete.

NÚMERO DE PRESOS MORTOS POR DOENÇA EM PRESÍDIOS DO RJ CRESCE


10 VEZES EM QUASE DUAS DÉCADAS - Levantamento da Defensoria Pública do
estado aponta que, de 26 mortes em 1998, as unidades prisionais passaram para 266 casos em
2017.

AUMENTA NÚMERO DE PRESOS MORTOS NAS CADEIAS DE SÃO PAULO


- Quantidade de óbitos em relação ao total de detentos sobe há dois anos; governo não tem
informações anteriores a 2014.

III - Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Populações Privadas de Liberdade no
Sistema Prisional (PNAISP)

O QUE É A POLÍTICA NACIONAL DE ATENÇÃO INTEGRAL À SAÚDE DAS PESSOAS


PRIVADAS DE LIBERDADE (PNAISP)?
A Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade (PNAISP), no
campo do Sistema Único de Saúde (SUS), foi criada em 2014. Aborda a oferta de um cuidado
integral, resolutivo e contínuo às pessoas sob custódia do Estado, inseridas no sistema prisional ou
em cumprimento de medida de segurança, com foco no controle e redução das doenças mais
comuns no ambiente prisional, por meio de equipes próprias de Atenção Primária à Saúde ou por
equipes dos serviços de saúde dos municípios onde as unidades prisionais estão inseridas (BRASIL,
2014; MENDES, 2015; TURCI; LIMA-COSTA; MACINKO, 2015).
?
FIQUE SABENDO...
A PNAISP foi criada a partir da Portaria nº 482, de 1o de abril de 2014 e define que as equipes de
saúde prisionais devem ter vários profissionais, as chamadas equipes multiprofissionais. Estas
equipes são classificadas em três tipos, de acordo com o número de indivíduos encarcerados
(Quadro 1):
Quadro 1 - Composição das Equipes de Saúde Prisionais conforme o número de presos
custodiados.

Número de Tipo de Equipes com saúde mental


Equipe Multiprofissional
detentos Equipe Acrescida de no mínimo
- Um médico;
- Um enfermeiro;
- Um psiquiatra ou médico com
- Um cirurgião dentista;
I experiência em saúde mental;
- Um técnico/auxiliar de
ou - Dois profissionais selecionados
enfermagem;
até 100 I com dentre: assistente social;
- Um técnico de higiene
saúde enfermeiro; farmacêutico;
bucal/auxiliar de saúde bucal.
mental fisioterapeuta; psicólogo; ou
terapeuta ocupacional.
Atuam 6 horas semanais

- Um médico;
- Um enfermeiro;
- Um cirurgião dentista;
- Um técnico/auxiliar de
enfermagem;
- Um técnico de higiene
- Um psiquiatra ou médico com
bucal/auxiliar de saúde bucal;
II experiência em saúde mental;
- Um assistente social;
ou - Dois profissionais selecionados
- Um psicólogo.
101 a 500 II com dentre: assistente social;
saúde enfermeiro; farmacêutico;
Mais um profissional selecionado
mental fisioterapeuta; psicólogo; ou
dentre:
terapeuta ocupacional.
assistente social; enfermeiro;
farmacêutico; fisioterapeuta;
nutricionista; psicólogo; ou
terapeuta ocupacional.

Atuam 20 horas semanais

Mesma composição da Equipe II


com Saúde Mental
501 a 1200 III
Atuam 30 horas semanais
Número de Tipo de Equipes com saúde mental
Equipe Multiprofissional
detentos Equipe Acrescida de no mínimo
Fonte: BRASIL, 2014a.
• A portaria também apresenta a quantidade de equipes de saúde prisionais para unidades com
população carcerária acima de 1.200 detentos, sendo que estas possuem mais de uma equipe
para o atendimento à saúde das pessoas privadas de liberdade (Quadro 2).
• Apesar das ações de saúde serem oferecidas por equipes multiprofissionais, os trabalhadores
dos serviços penais, familiares e demais pessoas que se relacionam com pessoas privadas de
liberdade, serão envolvidas nas ações de promoção da saúde e de prevenção de doenças na
área da PNAISP (BRASIL, 2014a).
Quadro 2 - Quantidade de equipes habilitadas por tipo de equipe e número de detentos

Quantidade de equipes a serem habilitadas


Número de detentos
TIPO I TIPO II TIPO III
1 - 100 1 0 0

101 - 500 0 1 0

501 - 1200 0 0 1

1201 - 1300 1 0 1

1301 - 1700 0 1 1

1701 - 2400 0 0 2

2401 - 2500 1 0 2

2501 - 2900 0 1 2

2901 - 3600 0 0 3

3601 - 3700 1 0 3

Fonte: BRASIL, 2014a.

IV - Política Nacional de Atenção às Mulheres em Situação de Privação de Liberdade e Egressas do


Sistema Prisional
Destaque para os esforços entre os vários setores voltados à saúde das mulheres encarceradas no
país. No ano de 2014, foi publicada uma Política Nacional Específica de Atenção às Mulheres
em situação de privação de liberdade e egressas do sistema prisional, que apresenta o
desenvolvimento da atenção à saúde da mulher e de seus filhos inseridos em conjunto no sistema
prisional (BRASIL, 2014b).

Essa política aborda temas como exames ginecológicos de rotina para o controle do câncer de colo
de útero e mama, diagnóstico de Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST), imunizações,
planejamento familiar e atenção à saúde mental (CASTRO; SOARES, 2012; DELZIOVO et al.,
2014).
?

SAIBA MAIS...
Instituto Terra, Trabalho e Cidadania (ITTC):
http://ittc.org.br/tag/maes-encarceradas/
Possui diversas postagens sobre a maternidade na prisão.
O ITTC lançou, em maio deste ano, o hotsite Mulheres Sem Prisão
(http://mulheresemprisao.org.br/), que busca trazer maior visibilidade ao encarceramento feminino e
sensibilizar o sistema de justiça para a aplicação de alternativas à prisão.
Em 2015, o Conselho Nacional de Justiça implementou a audiência de custódia, procedimento em
que a pessoa presa é apresentada a um juiz ou uma juíza em até 24 horas. As audiências foram fruto
de uma luta do ITTC e outras organizações da sociedade civil e são o momento em que o judiciário
pode ouvir essas mulheres e aplicar as recomendações das Regras de Bangkok ou o Marco Legal da
Primeira Infância, que permite substituir a prisão preventiva por domiciliar para mães de crianças
com até 12 anos.
Documentário C(Elas)
Gênero: Documentário
Diretor: Gabriela Santos Alves
Duração: 18 min Ano: 2017 Formato: indisponível
País: Brasil Local de Produção: ES
Cor: Colorido
Sinopse: Os meses finais da gravidez e os primeiros após o nascimento de um bebê são experiências
únicas na vida de uma mulher. E quando esse cotidiano é vivido dentro de uma penitenciária?
 
Espera-se também, políticas de incentivo ao aleitamento materno nas unidades prisionais nos seis
primeiros meses de nascimento da criança, com o objetivo de manter estável a saúde mental e o
bem-estar das mulheres presas e seus filhos. Em relação a isso, uma reportagem mostrou que no
Brasil existiam 622 mulheres grávidas ou lactantes nos presídios em janeiro de 2018 (CNJ,
2018) e outra mostrou a aquisição de espaços humanizados no presídio para mães e filhos
(AGEPEN, 2015).
Destaca-se o direito às ações voltadas ao planejamento familiar, sendo o serviço de saúde
prisional responsável pelo oferecimento de métodos contraceptivos (previnem a gravidez –
diafragma, dispositivo intrauterino, preservativos masculino e feminino, anticoncepcionais orais e
injetáveis; previnem IST – preservativos masculinos e femininos) fornecidos pelo SUS caso haja
procura pela mulher. Vale ressaltar que algumas das mulheres são incluídas no sistema prisional
após relação sexual desprotegida e podem receber visita íntima de seus parceiros durante o período
de privação de liberdade (BRASIL 2003, 2013a; CANNON et al., 2018).

V - Promoção à Saúde no Sistema Prisional

O conceito de promoção à saúde e seus princípios foram estabelecidos na Conferência Internacional


de Promoção à Saúde realizada em Ottawa no Canadá em 1986 e é entendida como o processo de
tornar indivíduos e comunidades capazes de controlar e atuar de forma ativa na melhoria da
qualidade de vida e nas condições que influenciam seu bem-estar físico, mental e social
(CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE PROMOÇÃO DA SAÚDE, 1986).
?

PARA SABER MAIS SOBRE A CARTA DE


OTAWA
Acesse o link:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/carta_ottawa.pdf
No Brasil, é importante destacar a Portaria nº 687, de 30 de março de 2006, a qual aprova a Política
de Promoção à Saúde, nos moldes do Sistema Único de Saúde, para toda a população brasileira
(BRASIL, 2006). Entre as ações citadas nessa política estão: divulgação e realização da Política
Nacional de Promoção à Saúde; alimentação saudável; prática corporal/atividade física; prevenção e
controle do tabagismo; redução de doenças e morte relacionadas ao uso abusivo de álcool e outras
drogas e por acidentes de trânsito; prevenção da violência e estímulo à cultura de paz e promoção
do desenvolvimento sustentável (BRASIL, 2010). Para saber mais informações sobre a Política
Nacional de Promoção à Saúde, clique aqui.
A promoção à saúde tem o objetivo de melhorar a saúde da população, atuando no comportamento
individual e questões do próprio ambiente que podem interferir na saúde das pessoas (PAREDES-
CARBONELL, 2016).
De forma didática, a Figura 2 ilustra os pontos que interferem a saúde dos indivíduos (aqui
chamados de Determinantes Sociais em Saúde ou DSS), cuja identificação e entendimento destes,
podem ser aplicados às pessoas privadas de liberdade para entender a influência do ambiente
prisional na situação de saúde do sentenciado. No centro da figura 2, tem fatores que envolvem a
formação dos indivíduos, como idade, sexo e hereditariedade. Posteriormente, vem os hábitos de
vida dos sujeitos, os quais são definidos como determinantes individuais e, por último, as camadas
mais afastadas do indivíduo que abrangem os macros determinantes em saúde, compostos por
condições socioeconômicas, culturais e ambientais gerais que tem influência em suas condições de
vida e de trabalho (WHITEHEAD; DAHLGREN, 2006).
Figura 2 - Modelo dos determinantes sociais em saúde proposto por Dahlgren e Whitehead, 1991.

Fonte: DAHLGREN; WHITEHEAD, 1991


As estratégias de promoção à saúde devem ser elaboradas a partir da identificação desses aspectos
que influenciam de modo positivo a saúde da população. Para isso, exigirá que a equipe de saúde
atue em conjunto com outras para aumentar as transformações necessárias. Um exemplo dessa
articulação pode ser entre profissionais da educação e do serviço social. Assim, algumas ações são
capazes de melhorar o padrão de saúde dos indivíduos: políticas de geração de emprego e renda;
saneamento básico; acesso à educação; controle da qualidade da água e do ar, entre outros
(BRASIL, 2006).
O desenvolvimento de tais ações no ambiente prisional ainda está longe do que se espera, uma vez
que necessita de adaptações para enfrentar barreiras institucionais para transformar as prisões em
ambientes mais saudáveis e humanizados (SOUTH et al., 2014).
Outros desafios para o cumprimento de ações de promoção à saúde nas prisões é a confirmação do
direito à educação e trabalho, essenciais para dar continuidade às questões voltadas à cidadania e
dignidade humana dos detentos (RIBEIRO; OLIVEIRA, 2015). Exemplos de ações relacionadas a
promoção da saúde no contexto prisional são destaque das reportagens abaixo.

PRÁTICA DE YOGA MUDA COMPORTAMENTO DE DETENTOS EM JUNDIAÍ


- ‘Relacionamento entre presos e agentes mudou significativamente’, diz diretor.
PENITENCIÁRIAS DISTRIBUEM CERCA DE 30 MIL PRESERVATIVOS - Ação
beneficia servidores da sede da Coordenadoria Central e das unidades prisionais para
prevenção no período do carnaval.

PRESOS PRESTAM SERVIÇO DE LIMPEZA E PODA DE ÁRVORES NA


DELEGACIA DE SERRA AZUL - Trabalho foi realizado por três reeducandos do regime
semiaberto da Penitenciária de Ribeirão Preto.

REEDUCANDAS INICIAM TRABALHO DE LIMPEZA URBARNA EM JATEÍ/ MS


- A iniciativa busca a reinserção social, colaborando também com a população, para garantia
de locais mais limpos e cuidados.

A promoção à saúde dos detentos e o acompanhamento das doenças mais comuns no ambiente
prisional são de responsabilidade das equipes de saúde inseridas nas unidades prisionais, uma vez
que estas devem oferecer ações e serviços de Atenção Primária à Saúde (BRASIL, 2014b). Como
exemplos de doenças mais encontradas nos presídios, temos o combate à tuberculose (TB), ao
HIV/Aids e aos transtornos mentais e emocionais.
Para realização de ações de promoção e prevenção à saúde no contexto prisional, precisamos
lembrar que a prisão possui um cenário preferencial e capaz de realizar atividades que estimulem
uma maior independência dos detentos, uma vez que dispõem de equipes com vários profissionais
de saúde (WHO, 2014) e sua população é delimitada.

VI - Ações de Promoção à Saúde e Prevenção das Doenças voltadas à População Privada de


Liberdade
Figura 3 - Ações de promoção à saúde e prevenção das doenças voltadas à população privada de
liberdade.

hipertensão arterial
diabetes mellitus
tuberculose, HIV
infecções sexualmente
transmissíveis
câncer no colo
ATIVIDADES
do útero
DIAGNÓSTICO FÍSICAS
PRECOCE

ALIMENTA
SAUDÁV

ATENDIMENTO
PSICOLÓGICO
Ações de Promoção
à Saúde e Prevenção
das Doenças voltadas à RE
População Privada
de Liberdade

VACINAÇÃO

EDUCA
SAÚ

ESTRATÉGIA DE
REDUÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE
DANOS PRESERVATIVOS
ÍNTIMOS

Entre as principais ações de promoção à saúde e prevenção de doenças que podem ser oferecidas à
população privada de liberdade, a prática de atividades físicas é uma delas, pois pode contribuir na
redução do peso corporal, na melhora da capacidade cardiovascular e respiratória e na prevenção do
aumento da pressão arterial sistêmica, também chamada de pressão alta, e da diabetes mellitus
(BRASIL, 2009; VERA-REMARTÍNEZ, 2016; GOMEZ; BRAVO, 2018). Evitar essas doenças por
meio da prática de atividades físicas diminui os custos com tratamento médico e hospitalizações,
gerando ganhos sociais (CARVALHO et al., 1996). Tal prática ainda beneficia a saúde mental,
fazendo com que haja diminuição da ansiedade, melhora do humor, aumento do autocontrole e
diminuição da agressividade (BRASIL, 2009; VERA-REMARTÍNEZ, 2016; GOMEZ; BRAVO,
2018).
Para a organização e supervisão das práticas de exercícios físicos no âmbito prisional, as equipes de
saúde podem contar com os fisioterapeutas ou terapeutas ocupacionais, uma vez que o educador
físico, profissional mais indicado para tal função, não é citado na PNAISP (BRASIL, 2014b).
Também existe a parceria com universidades, podendo ser uma alternativa para levar profissionais
capacitados ao desenvolvimento destas ações às unidades prisionais. Neste sentido, o estado do
Espírito Santo apresenta uma experiência exitosa de parceria entre o sistema prisional e as
universidades, visando a ampliação do atendimento à saúde e psicológico aos detentos.
A distribuição de uma dieta balanceada e individualizada nas prisões e o estímulo do consumo de
água junto às atividades físicas pode ser útil na prevenção de doenças no âmbito prisional
(BRASIL, 2013b; VERA-REMARTÍNEZ, 2016). De forma geral, a dieta deve ser composta por
todos os grupos alimentares (carboidratos, proteínas, lipídios, vitaminas, fibras e minerais) e
deve ter um controle rigoroso em relação à quantidade de sal, açúcar e gordura para benefícios à
saúde e redução do risco de desenvolvimento de doenças como hipertensão arterial e diabetes
mellitus (BRASIL, 2014b). Outra ação importante é a educação em saúde aos detentos, estendendo-
se aos familiares, pois durante as visitas, alimentos são levados pelos mesmos. Leia a experiência
abaixo.
Estudo realizado em Porto Alegre, que descreveu como ocorre a alimentação das apenadas na
Penitenciária Feminina Madre Pelleti, observou-se que a presença de uma nutricionista, a realização
de treinamento em relação a cuidados com o alimento, higienização, além de uma dieta balanceada,
trouxe qualidade na comida servida e boa aceitação das presas. As detentas são treinadas e
trabalham na cozinha, recebendo um salário ou redução da pena. Além disso, existe ainda o cuidado
em relação à comida das crianças que vivem com suas mães no local. Nesse caso, se não recebam
leite materno, é oferecido leite em pó ao recém-nascido, entre outros alimentos, conforme a faixa
etária (RUDNICKO; PASSOS, 2012).
Ações de Prevenção e Promoção de saúde

O que fazer? Como fazer? Onde?


Estimular a prática esportiva e a sua
Quadra e banho de
Atividades Físicas importância como redutor de obesidade (Ex.:
sol.
Futebol e outras atividades recreativas).

Dieta Balanceada Serviço de alimentação e nutrição Ambiente adequado


supervisionado por nutricionista; e limpo.

Verificar o número de refeições fornecidas por


pessoa, quantidade e horário;

Observar as questões referentes à qualidade e


aceitação;
O que fazer? Como fazer? Onde?
Verificar se há o respeito às dietas especiais
para aqueles que dela necessitem (Ex.: de
diabéticos e hipertensos).

Realizar explanações à respeito dos meios de


transmissão, sinais e sintomas das ISTs;
Quadra para banho
Ações enfatizando o uso dos Entregar preservativos masculinos e panfletos
de sol, celas e
preservativos e prevenção explicativos;
unidade básica de
de ISTs
saúde.
Realizar busca ativa dos casos suspeitos e
encaminhar para consulta.

Realizar explanações sobre sinais, sintomas,


Quadra para banho
forma de transmissão e contágio, além do
Ações relacionadas à de sol, celas e
diagnóstico, tratamento e a importância da
Tuberculose unidade básica de
tomada diária da medicação conforme
saúde.
prescrito.

Estratégias de intervenção voltadas à prevenção, diminuição e tratamento de uso de drogas,


também devem ser incorporadas em todas as prisões. Por exemplo, o programa antitabagismo é
um dos tópicos abordados na Política de Promoção da Saúde, ou seja, é essencial incentivar ações
para o controle do tabagismo no cárcere, com a oferta de instrumento capazes de repor a nicotina,
como gomas de mascar, pastilhas e adesivos (BRASIL, 2016), uma vez que o número de tabagistas
nas unidades prisionais é três vezes maior que na população geral e que esse comportamento se
constitui como uma causa de morte (VERA-REMARTÍNEZ, 2016). Nesse âmbito, trazemos a
experiência de uma penitenciária de Rondônia, a qual implantou o Programa de Controle do
Tabaco.

VI - Ações de Promoção à Saúde e Prevenção das Doenças voltadas à População Privada de


Liberdade

No Canadá, por exemplo, há várias estratégias de redução de danos para usuários de drogas
injetáveis que podem ser realizadas nos presídios. São elas: acesso ao tratamento por medicações,
comunicação com os programas de troca de seringas e orientação da injeção segura e a
profilaxia pré-exposição (PrEP), que se resume no uso preventivo de medicamentos antirretrovirais,
antes da exposição sexual para reduzir a probabilidade de infecção pelo HIV e proporcionar uma
vida sexual mais saudável (BRINKLEY-RUBINSTEIN et al., 2018; BRASIL, 2019a).
Uma atividade que também pode ser incluída nas ações de promoção à saúde nas unidades
prisionais é a saúde bucal, pois há um alto número de casos de cáries e doenças relacionadas com a
saúde bucal nas pessoas privadas de liberdade (CINAR et al., 2017). Com isso, ações de educação
em saúde que incentivem a higienização bucal podem ser positivas, especialmente porque as
equipes de saúde contam com dentista e técnico de saúde bucal.

DETENTOS RECEBEM PALESTRA SOBRE SAÚDE BUCAL EM SÃO RAIMUNDO


NONATO - entre 2015 e 2017, a Secretaria de Justiça abriu 13 novos consultórios
odontológicos.
PRESOS RECEBEM ORIENTAÇÕES SOBRE SAÚDE BUCAL - detentos do sistema
prisional do Amazonas estão recebendo orientação médica sobre saúde bucal.
PRESÍDIO FEMININO DE LAJEADO TEM PROJETO DE PREVENÇÃO EM
SAÚDE BUCAL - O Projeto contempla palestras conforme os temas escolhidos pela
cirurgiã-dentista da unidade prisional.
Além da prevenção da hipertensão arterial e diabetes mellitus (condições não transmissíveis)
mencionadas acima, é importante que a equipe de saúde prisional fique atenta à prevenção das
infecções comuns encontradas neste contexto: a tuberculose (TB) e as infecções sexualmente
transmissíveis (IST), como o HIV, sífilis, candidíase e as hepatites virais B e C (STRAZZA et al.,
2007; COELHO et al., 2009; STIEF et al., 2010; ROSA et al., 2012; MAGRI, et al., 2015;
DOMINGUES, 2017; SILVA et al., 2017; SOUSA, et al., 2017;VILLARROEL-TORRICO et al.,
2018).
JOGO - Selecione a forma de transmissão de cada doença.
Object 5

Para isso, a educação em saúde é importante para a prevenção das IST nas prisões, devendo abordar
temas voltados às práticas sexuais seguras, formas de transmissão e prevenção das doenças
infecciosas, importância do não compartilhamento de materiais que perfuram e cortam a pele como
alicates, giletes, além de agulhas e seringas para uso de drogas (UNODC, 2012).
Considerando que a ocorrência de IST está associada à falta do uso do preservativo nas relações
sexuais (STRAZZA et al., 2007; COELHO et al., 2009; STIEF et al., 2010; SILVA et al., 2017;
SOUZA; CABRAL; SALGUEIRO, 2018) e isso pode ocorrer durante as visitas íntimas e em outros
momentos, a oferta e distribuição de preservativos sempre que possível nas prisões é uma ação
importante. Dessa forma, auxilia na mudança do comportamento e contribui com a adoção de
práticas sexuais mais seguras dentro das unidades prisionais e na comunidade, quando os detentos
cumprem regime semiaberto e aberto.
Outras ações de prevenção à infecção ao HIV apoiam-se na prevenção combinada (Figura 4),
envolvendo outras estratégias para o enfrentamento da epidemia de HIV, além do uso somente de
preservativos. Entre as estratégias para a prevenção da transmissão do HIV, destacam-se o uso da
profilaxia pós-exposição (PEP) desde 1999 e a profilaxia pré-exposição (PrEP), que já era oferecida
nos Estados Unidos desde 2012 e no Brasil, passou a ser oferecida no SUS em 2017 (BRASIL,
2017b).
?

VOCÊ SABIA...
• PEP e PrEP consistem na tomada de medicamentos antirretrovirais para diminuir o risco de
infecção pelo HIV.
• A PEP é usada após relação sexual sem o uso de preservativos ou após acidentes com materiais
perfuro cortantes (UNODC, 2012, BRASIL, 2017b).
• A PrEP é usada para reduzir o risco de infecção pelo vírus antes das relações sexuais.
• Tais estratégias podem ser disponibilizadas às populações privadas de liberdade (BRASIL, 2018a).
Para saber mais sobre a PEP e PrEP, acesse os links abaixo:
http://www.aids.gov.br/pt-br/publico-geral/prevencao-combinada/pep-profilaxia-pos-
exposicao-ao-hiv
https://unaids.org.br/prevencao-combinada/
A prevenção combinada (Figura 4) ainda conta com outras estratégias: prevenção da transmissão do
HIV de mãe para filho durante a gestação; disponibilidade de vacina contra Hepatite B e do
Papiloma vírus humano (HPV) – esta última é aplicada a indivíduos vivendo com HIV ou com
histórico de transplante e idade até 26 anos; testagem regular, diagnóstico e tratamento precoce de
IST e HIV; distribuição de preservativos e gel lubrificante (BRASIL, 2018b).
Figura 4 - Elementos que compõem a estratégia de Prevenção Combinada

Fonte: BRASIL, 2019b.

Para uma resposta positiva no controle do HIV, a prevenção combinada não se resume apenas ao
oferecimento de materiais e medicamentos antirretrovirais, mas também aborda a importância do
aconselhamento e testagem diagnóstica, bem como do vínculo entre população privada de liberdade
e equipes de saúde prisionais (BRASIL, 2017b). Além disso, o papel dos profissionais de saúde
prisional no diagnóstico e tratamento precoce da infecção é importante, pois a combinação dessas
ações reduz o número de vírus do HIV circulantes em um indivíduo infectado e criam meios para a
prevenção e controle da doença no âmbito prisional. Porém, os profissionais de saúde envolvidos
nessas ações devem respeitar a decisão da pessoa em realizar ou não o teste, além de manter o sigilo
quanto ao resultado (MAGGARD et al., 2014; VALERA; KATES-BENMAN, 2016).
Outra IST que merece atenção é a Hepatite C, pois apresenta alto número de sentenciados com a
doença. Uma pesquisa com 25 países da Europa sobre o programa de redução de danos, triagem e
tratamento do vírus da hepatite C (HCV), mostrou que os prisioneiros são identificados como
população de alto risco para o rastreamento do HCV, ou seja, as populações privadas de liberdade
devem ser investigadas para buscar possíveis sentenciados que podem ter HCV. No entanto, 21
países relatam que o teste, triagem e tratamento para HCV são fornecidos, mas apenas nove tiveram
disponibilidade ao tratamento, de modo que a extensão da cobertura desses programas de
tratamento varia muito; 21 países relatam que não há política específica de rastreamento, dois países
(8%) possuem programas de agulhas e seringas disponíveis nas prisões, onze (44%) relatam o uso
da terapia de substituição de opiáceos (BIELEN et al., 2018).
Estudo na Austrália, entre 2005 a 2013, avaliou os comportamentos de risco das pessoas com
histórico de uso de drogas injetáveis e observou que após a entrada na prisão, o uso de drogas
injetáveis diminuiu, mas o compartilhamento de seringas aumentou e os indivíduos mais jovens
apresentaram maior comportamento de risco. Os dados encontrados mostram a necessidade de criar
estratégias de prevenção ao vírus da Hepetite C, incluindo o acesso às seringas e ampliação da
terapia de Hepatite C, principalmente para sujeitos com risco aumentado de transmissão do vírus na
prisão (CUNNINGHAM et al., 2018).
Outra doença infecciosa, não considerada sexualmente transmissível, que precisa de atenção nas
prisões brasileiras é a TB, pois o número de casos é 28 vezes maior em relação à população geral
(SÁNCHEZ; LAROUZÉ, 2016; NAVARRO et al., 2016; VALENÇA et al., 2016; MACEDO;
MACIEL; STRUCHINER, 2017). Sabemos que as populações privadas de liberdade, antes do
encarceramento, apresentam situações de vida e moradia que contribuem para o desenvolvimento
da TB. No estudo realizado por Sánchez et al. (2012), a transmissão da TB era essencialmente
intrainstitucional/intramuros, mesmo que as pessoas presas fossem, em sua maioria, oriundas de
comunidades desfavorecidas. Reforçando que ao ser incluídos nas unidades prisionais, a
superlotação das celas e as condições precárias das prisões, alimentação inadeqiada e uso de drogas
mantém ambientes favoráveis para elevadas taxas (VALENÇA et al., 2016; MACEDO; MACIEL;
STRUCHINER, 2017).
Desta forma, é essencial a adoção de estratégias para o controle da TB no ambiente prisional em
busca de indivíduos com sintomas da doença e oferecimento de testes para os diagnósticos em
sujeitos com tosse há mais de duas semanas; e acompanhamento do tratamento das pessoas privadas
de liberdade com TB (BRASIL, 2019).
Acesse os arquivos abaixo para saber mais!

Folder: Campanha sobre o tratamento de Tuberculose.

Resolução nº 3 de 7 de Junho de 2018

Para finalizar a temática sobre doenças infectocontagiosas, a atuação das equipes de saúde
prisionais é uma das medidas mais importantes para o controle das doenças citadas e outras na
comunidade prisional, uma vez que a população privada de liberdade está em contato frequente com
familiares e profissionais que atuam no sistema prisional (NAVARRO et al., 2016).
No que diz respeito à promoção da saúde mental, a realização de ações, como promover a prática de
atividades físicas, atividades de trabalho, oficinas de arte e outras práticas de lazer, podem
contribuir na melhoria da saúde mental dessa população. É importante reforçar a necessidade de
reconhecimento de problemas de intervenção imediata (psicose aguda, suicídio ativo, abstinência de
álcool ou outras substâncias); avaliação das necessidades de saúde mental do indivíduo;
manutenção de consultas psiquiátrica e desenvolvimento de um plano terapêutico individual;
encaminhamento e articulação entre o sistema prisional e serviços de saúde mental e, por fim,
planejamento para a reintegração do sujeito à comunidade e a continuidade do tratamento após a
soltura (FORRESTER et al., 2018).

Práticas como essa também ajudam na promoção e educação em saúde, pois facilitam a
troca de informações sobre doenças mais comuns nesses locais e fatores de riscos que
podem ser evitados, como o compartilhamento de produtos de higiene pessoal,
compartilhamento de seringas e sexo desprotegido.

AGENTE PENITENCIÁRIO DE SAÚDE


Recrutado entre pessoas presas.
FUNÇÃO 1 FUNÇÃO 2 FUNÇÃO 3
Realizar ações de promoção de Conduzir as pessoas privadas de
Levar informações relativas
saúde e prevenção às doenças de liberdade dentro ou fora do
às consultas fora da prisão à
maior prevalência no âmbito contexto prisional para o
equipe de saúde prisional.
prisional. atendimento de saúde.
Sensibilizar e incluir o profissional penitenciário é uma prioridade na atividade de organização e
realização das ações e serviços de saúde no ambiente prisional, devido ao potencial de
transformação no ponto de vista do processo saúde doença e nas práticas de cuidado (DIUANA et
al, 2008).

Um estudo realizado na região de Ribeirão Preto avaliou a oferta de ações e serviços para o cuidado
às pessoas privadas de liberdade vivendo com HIV e identificou pontos positivos no diagnóstico da
infecção no ambiente prisional. Além disso, a maioria dos participantes realizavam tratamento
médico e estava em uso de medicamentos antirretrovirais com redução significativa do vírus a um
nível muito baixo no organismo (CATOIA, 2019). Esta redução é consequência do acesso efetivo ao
tratamento, melhorando a qualidade de vida da pessoa infectada, além de ser um elemento para a
diminuição da transmissão da doença (GRANGEIRO et al., 2011). Desta forma, identifica-se no
Sistema Prisional, um espaço capaz para execução do papel da equipe de saúde prisional, na oferta
de ações cujos objetivos são o diagnóstico e o cuidado compartilhado entre as pessoas que vivem
com HIV. Nesse sentido, é necessário refletir em “Como atuar como promotor de saúde?” ou ainda
“Como promover a saúde?” nestes espaços possíveis no ambiente prisional. A oferta de
preservativos, vacinas, exames para detectar a TB na presença de tosse, expressando os esforços
empreendidos ao diagnóstico para tratamento e controle da doença nas unidades prisionais
(CATOIA, 2019), são medidas que possibilitam a promoção de saúde e atuação como promotor.
CONCLUSÃO
Para finalizar, é importante destacar que apesar das equipes terem membros que podem realizar
ações específicas de promoção da saúde, tais atividades devem ser assumidas por todos. Em uma
atitude de responsabilização, incluir também detentos que fazem parte das equipes de saúde (os
promotores de saúde – de acordo com o art. 9º do Plano Nacional de Saúde no Sistema
Penitenciário) e o próprio indivíduo alvo das ações, o qual deve se tornar motivado a desenvolver e
manter uma rotina proativa de autocuidado e de transformação dos próprios comportamentos e dos
demais para a melhoria das condições de saúde do contexto prisional.
Além disso, com a oportunidade de equipes de saúde composta por diversos profissionais, algumas
atividades desenvolvidas podem contar com o apoio do agente carcerário após o treinamento e
capacitação, uma vez que esses profissionais muitas vezes estão em contato direto com os detentos.
Prova saude no sistema prisional

Habilidade/Objetivo: Conhecer as informações sobre diversos aspectos que envolvem a saúde mental nos presídios.

Em relação aos transtornos mentais, suicídio e uso de drogas em contexto prisional, leia as assertivas abaixo e assinale a
alternativa correta: 
I - Há consenso na literatura do que seja a definição padrão sobre o que é um transtorno mental.
II - Diversos estudos têm mostrado que permanecer em cela solitária e apresentar algum transtorno mental está associado
a comportamentos suicidas na população privada de liberdade. 
III - Alguns estudos apontam que muitas vezes os presos conseguem produzir álcool dentro das prisões.
IV - O uso prejudicial e a dependência de drogas nas prisões não está associado a desfechos negativos de saúde.
V - Segundo a Organização Mundial da Saúde, a ausência de assistência à saúde mental nas prisões não aumenta o risco
das Pessoas Vivendo em Privação de Liberdade de cometerem suicídio.
Escolha uma opção:
a.
Apenas a assertiva IV está correta
b.
Apenas as assertivas I e V, estão corretas
c.
Apenas as assertivas II e III estão corretas
CORRETA - Diversos estudos têm identificado que permanecer em cela solitária tem sido associado a ideação
suicida/suicídio entre pessoas privadas de liberdade que apresentam algum tipo de transtorno mental. Alguns estudos
também descrevem que os presos conseguem produzir álcool ilícito no interior das penitenciárias tanto no Brasil como em
alguns estados americanos. 
 
Referências: Fazel S, Cartwright J, Norman-Nott A, Hawton K. Suicide in prisoners: a systematic review of risk factors. J
Clin Psychiatry. 2008; 69(11):1721-31.
 
Yasmin S, Adams L, Briggs G, Weiss J, Bisgard K, Anderson S, Tsang C, Henke E, Vasiq M, Komatsu K. Outbreak of
Botulism After Consumption of Illicit Prison-Brewed Alcohol in a Maximum Security Prison-Arizona, 2012. J Correct
Health Care. 2015; 21(4):327-34.

Varella D. Prisioneiras. 1º ed. – São Paulo: Companhia das Letras; 2017.


d.
Apenas a assertiva I está correta
e.
Apenas a assertiva V está correta
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: Apenas as assertivas II e III estão corretas
e
Questão 2
e
Incorreto
d
Atingiu 0,00 de 1,00
b
Marcar questão
a
Habilidade/Objetivo: Identificar os procedimentos jurídicos direcionados as pessoas com transtorno mental que
T
cestiverem conflito com a lei.
ek
Sobre as pessoas com transtorno mental em conflito com a lei, está previsto no Código Penal Brasileiro:
x
Escolha uma opção:
t
a.
o
O cumprimento da medida de segurança poderá ser encerrado após ser cumprido o tempo determinado pelo juiz e depois
de uma avaliação da equipe de saúde mental.
d
b.
a
O tempo do cumprimento da medida de segurança não pode passar de três anos.
c.
q
Pessoas com transtorno mental em conflito com a lei são consideradas inimputáveis.
ud.
ePessoas com transtorno mental em conflito com a lei não estão isentas de aplicação de pena pelo juiz.
sINCORRETA. Uma vez identificado um transtorno mental em um indivíduo que cometeu crime, estes estarão isentos de
taplicação de pena pelo juiz, que aplicará, em substituição, uma medida de segurança.
Referência: Conselho
ã Nacional de Justiça (CNJ). Resolução nº 113, de 20 de abril de 2010. Dispõe sobre o procedimento
relativo à execução de pena privativa de liberdade e de medida de segurança, e dá outras providências.
o
e.
Na medida de segurança, o juiz deve encaminhar a pessoa com transtorno mental em conflito com a lei para internação em
Hospital de Custódia ou alas de Tratamento Psiquiátrico (HCTP).
Sua resposta está incorreta.
F
A resposta correta é: Pessoas com transtorno mental em conflito com a lei são consideradas inimputáveis.
e
Questão 3
e
Correto
d
Atingiu 1,00 de 1,00
b
T Marcar questão
a
Habilidade/Objetivo: Conhecer os atos normativos referente à saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema
ec
Prisional.
xk
O ato normativo que instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no
t
Sistema Prisional (PNAISP), foi:
o
Escolha uma opção:
a.
d
A Portaria nº 94, de 14 de janeiro de 2014.
a
b.
A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.
q
CORRETA - A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014 institui a Política Nacional de Atenção Integral à
uSaúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).  
eReferência:  BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 1, DE 2 DE JANEIRO DE 2014.
s
t
ã
o
Disponível em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/pri0001_02_01_2014.html. Acesso em 08 julho de
2019.
c.
A Resolução nº 113, de 20 de abril de 2010.
d.
A Portaria interministerial nº 1.679, de 12 de agosto de 2013.
e.
A Portaria Interministerial nº 1.777/MS/MJ, de 9 de setembro de 2003.  
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.
e
Questão 4
e
Correto
d
Atingiu 1,00 de 1,00
b
Marcar questão
a
Habilidade/Objetivo: Identificar as principais situações e quadros clínicos que estão relacionados com o suicídio nas
T
cprisões. 
ek
Sobre a ocorrência de suicídio nas prisões, marque a alternativa correta:
x
Escolha uma opção:
t
a.
o
Perguntar sobre a tentativa de suicídio e/ou autoagressão, em geral,  não estimula tais práticas.
CORRETA - Perguntar sobre autoagressão, em geral, reduz a ansiedade associada aos pensamentos ou atos (potenciais ou
d
pregressos) de autoagressão e ajuda a pessoa a se sentir compreendida e amparada. Entretanto, é essencial que o
a
profissional que fizer a pergunta tente estabelecer um bom relacionamento (de empatia e apoio) com a pessoa, antes de
perguntar sobre autoagressão e peça à pessoa para explicar as razões subjacentes à autoagressão (potencial ou efetiva).
qReferência: Organização Mundial de Saúde (OMS). National suicide prevention strategies: progress, examples and
uindicators. Geneva: 2018. Disponível em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/279765/9789241515016-
eeng.pdf?ua=1. Acesso em 08 jul. 2019.
sb.
tA População Privada de Liberdade não é considerada um grupo populacional prioritário para receber intervenções em
ãsaúde mental, com o objetivo de reduzir o comportamento/os atos suicidas.
oc.
Não há protocolos que orientem a prevenção e o manejo dos casos de ideação e tentativa de suicídio.
d.
A presença de transtornos mentais e sofrimento psíquico decorrente do uso de drogas não são fatores importantes a se
investigar durante a avalição do paciente quanto ao risco de suicídio.
e.
Sinais e sintomas tais como desesperança e desespero, pensamentos atuais, planos ou histórico de tentativa de
suicídio/autoagressão não são importantes na avaliação quanto ao ao risco de suicídio.
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: Perguntar sobre a tentativa de suicídio e/ou autoagressão, em geral,  não estimula tais práticas.
e
Questão 5
e
Incorreto
d
Atingiu 0,00 de 1,00
b
Marcar questão
a
c
k
Com base nos dados mostrados na Tabela abaixo e considerando as características sociodemográficas das mulheres
T
privadas de liberdade, podemos afirmar que essas mulheres, comparadas às mulheres do SUS em liberdade:
e
x
t
o

d
a

q
u
e
s
t
ã
o

Escolha uma opção:


a.
São majoritariamente pretas e pardas, separadas/viúvas e têm companheiro; 
b.
Estão com mais de 30 anos, são pretas e têm, em maior frequência, escolaridade de ensino médio completo ou mais.
c.
Têm maior frequência de ensino fundamental completo, de pertencer às classes A e B e serem solteiras do que as mulheres
do SUS em liberdade;
d.
São chefes de família, pertencem às classes D e E, com ensino fundamental incompleto;
INCORRETA. As mulheres privadas de liberdade com maior frequência tem nível de instrução fundamental incompleto
(52,9%) e são advindas das classes D e E (29,6%) do que as mulheres que utilizaram o SUS e estavam em liberdade
(29,6% e 27,6% respectivamente).
Referência: Leal et al. Nascer na prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil. Ciênc. saúde coletiva v.21 n.7 Rio de
F
Janeiro. Jul. 2016
ee.
eSão com maior frequência jovem, com ensino fundamental completo e casada do que as mulheres do SUS em liberdade;
dSua resposta está incorreta.
b
a
c
k
A resposta correta é:
São majoritariamente pretas e pardas, separadas/viúvas e têm companheiro; 
Questão 6
Incorreto
Atingiu 0,00 de 1,00
Marcar questão
Objetivo/Habilidade: Contextualizar as características e particularidades do aprisionamento feminino e materno.
T
Considerando o conjunto da população prisional feminina no Brasil, podemos afirmar que:
e
Escolha uma opção:
x
a.
t
O crescimento da taxa de aprisionamento no país é baixo.
o
b.
O crescimento da taxa de aprisionamento no país é nulo.
d
c.
a
O crescimento da taxa de aprisionamento no país é extremamente alto.
d.
q
O crescimento da taxa de aprisionamento no país é mediano.
ue.
eO crescimento da taxa de aprisionamento no país é alto.
sINCORRETA.  O crescimento da taxa de aprisionamento feminino foi enorme quando comparado com outros países, ou
tseja, de 656%, menor apenas do que nos Estados Unidos da América e Tailândia.
ã 
oReferência: Levantamento Nacional de informações penitenciárias - INFOPEN Mulheres – 2 edição. Brasilia: Ministério
da Justiça e Segurança Pública. Departamento Penitenciário Nacional, 2017
 
Sua resposta está incorreta.
F
A resposta correta é: O crescimento da taxa de aprisionamento no país é extremamente alto.
e
Questão 7
e
Correto
d
Atingiu 1,00 de 1,00
b
Marcar questão
a
Considerando que o universo de mulheres privadas de liberdade é de 42.355 e o número de gravidas e mães dentro do
T
csistema carcerário é de 447, podemos afirmar que:
ek
Escolha uma opção:
x
a.
t
Representaria 10%, mas não é um problema que deva ser priorizado pelo poder público.
o
b.
Representaria 20%, portanto é um problema que deve ter a atenção dos gestores na formulação de políticas públicas.
d
c.
a
Representaria 1%, portanto é um problema insignificante para as políticas públicas.
d.
qRepresentaria 10%, mas é um problema semelhante ao da população masculina privada de liberdade.
ue.
eRepresentaria 1%, porém exige atenção especial porque envolve os direitos reprodutivos fundamentais da mulher, do
srecém-nascido e da família.
t
ã
o
CORRETA - É um problema fundamental de política pública porque envolve a dissolução de laços familiares entre mães e
filhos, desestruturando famílias.
Referência: Leal et al. Nascer na prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil. Ciênc. saúde coletiva v.21 n.7 Rio de
Janeiro. Jul. 2016
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: Representaria 1%, porém exige atenção especial porque envolve os direitos reprodutivos
e
fundamentais da mulher, do recém-nascido e da família.
e
Questão 8
d
Incorreto
b
Atingiu 0,00 de 1,00
a
Marcar questão
cObjetivo/Habilidade: Conhecer os fatores implicados na transmissão da tuberculose nas prisões.
T
kA tuberculose (TB) é uma doença transmitida por via aérea, de pessoa a pessoa. Assinale a alternativa em que todos os
e
fatores contribuem para a alta frequência de TB nas prisões:
x

oEscolha uma opção:
a.
Encarceramento em celas mal ventiladas; Superlotação; Esgotamento sanitário inadequado.
d
b.
a
Superlotação; Dificuldade de acesso ao serviço de saúde.
c.
q
Confinamento em celas sem iluminação solar; Exposição a mofo; Umidade.
u
INCORRETA. Nesta alternativa, dois fatores elencados estão incorretos: exposição à mofo e umidade. Para transmissão
e
da tuberculose, há necessidade que o doente tussa, espirre ou fale.
s
Referência: BRASIL, Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para o Controle da Tuberculose no Brasil. Brasília,
tDF, 2019. 
ãhttp://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/28/manual-recomendacoes.pdf 
 o
d.
Contato frequente com doentes; Uso partilhado de copos e talheres.
e.
Superlotação; Acesso restrito à água; Retardo no diagnóstico.
Sua resposta está incorreta.
F
T
e
A resposta correta é: Superlotação; Dificuldade de acesso ao serviço de saúde.
eeQuestão 9
xdCorreto
tbAtingiu 1,00 de 1,00
oa Marcar questão
Objetivo/Habilidade: Compreender os objetivos do tratamento antirretroviral e suas implicações na PPL.
cJovem, sexo masculino, comparece a enfermaria da Unidade Prisional após diagnóstico recente de HIV+. Relata estar
dk
aassintomático e possui duas parceiras sexuais no momento. Ainda não foi realizada a dosagem de carga viral (CV) e nem
de CD4+. Em relação ao HIV/AIDS e ao tratamento dessa doença, é correto afirmar que:
Escolha uma opção:
q
a.
u
Um dos objetivos da TARV é erradicar a infecção pelo HIV e não apenas diminuir a morbidade e mortalidade do paciente
e
portador.   
s
t
ã
o
b.
Indivíduos assintomáticos (sem sintomas) com contagens elevadas de CD4+, independente do uso de TARV, estão
relacionados com eventos neoplásicos, como o sarcoma de Kaposi.
c.
Não existe profilaxia sexual para HIV e assim suas parceiras já podem ser consideradas portadoras do HIV.
d.
A terapia antirretroviral (TARV) deve ser iniciada precocemente, independente do estágio clínico e/ou imunológico, na
perspectiva da redução da transmissibilidade do HIV.
CORRETA. Recomendação de início precoce da TARV considera, além dos claros benefícios relacionados à redução da
morbimortalidade em PVHA, a diminuição da transmissão da infecção. Caso a pessoa com HIV seguir com a TARV
corretamente e com CV-HIV suprimida terá mínimas chances de transmitir o HIV pela via sexual. O uso do preservativo
permanece sendo recomendado como forma de cuidado adicional para evitar reinfecção pelo HIV e para prevenção de
outras IST e hepatites.
Referência: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância, Prevenção e
Controle das Infecções Sexualmente Transmissíveis, do HIV/AIDS e das Hepatites Virais. Protocolo clínico e diretrizes
terapêuticas para manejo da infecção pelo HIV em adultos. Brasília: Ministério da Saúde, 2018. Disponível em:
<http://www.aids.gov.br/pt-br/pub/2013/protocolo-clinico-e-diretrizes-terapeuticas-para-manejo-da-infeccao-pelo-hiv-em-
adultos>).
e.
Com a modernização das TARV, a má adesão não é mais uma causa importante de falência terapêutica.
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: A terapia antirretroviral (TARV) deve ser iniciada precocemente, independente do estágio clínico
e
e/ou imunológico, na perspectiva da redução da transmissibilidade do HIV.
e
Questão 10
d
Correto
bAtingiu 1,00 de 1,00
a
Marcar questão
cObjetivo/Habilidade: Correlacionar o tipo de hepatite viral com os seus mecanismos de transmissão. 
T
kEm uma palestra ministrada sobre hepatites virais, o médico discursa que: “A hepatite é uma doença infecciosa, de
e
transmissão parenteral, predominantemente, por via sexual. No momento do parto pode ocorrer a transmissão vertical (da
x
mãe para o bebê). Esta hepatite possui uma evolução desfavorável, com possibilidades de cronificação e desenvolvimento
t
de doença hepática avançada”. Ao término do pronunciamento, recomenda a vacinação contra essa hepatite para todas as
o
pessoas, independente da idade e/ou condições de vulnerabilidade. Com base no que foi descrito acima, qual tipo de
hepatite a que o profissional se refere?
d
Escolha uma opção:
a
a.
Hepatite D
qb.
uHepatite E
ec.
sHepatite B
tCORRETA. A vacina contra hepatite B é disponibilizada pelo Programa Nacional de Imunização (PNI) para faixas etárias
ãespecíficas e para situações de maior vulnerabilidade: menores de um ano de idade, a partir do nascimento,
opreferencialmente nas primeiras 12 horas após o parto e crianças e adolescentes entre um e 19 anos de idade. Para as
demais faixas etárias a vacina contra hepatite B está disponível nos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais
(CRIE) conforme Manual do CRIE, 4ª ed., MS, 2014. A transmissão do HBV faz-se por via parenteral (compartilhamento
de agulhas e seringas, tatuagens, piercings, procedimentos odontológicos ou cirúrgicos, etc.) e, sobretudo, pela via sexual
desprotegida podendo ser transmitida por solução de continuidade (pele e mucosa). A transmissão vertical também é causa
frequente de disseminação do HBV 
Referência: BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância
Epidemiológica. Hepatites Virais: o Brasil está atento. 3ª. Ed. Brasília: Ministério da Saúde; 2008. Disponível em:
<http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/hepatites_virais_brasil_atento_3ed.pdf>
BRASIL. Ministério da Saúde. Secretaria de Vigilância em Saúde. Departamento de Vigilância das Doenças
Transmissíveis. Manual dos Centros de Referência para Imunobiológicos Especiais. 4a ed. Brasília: Ministério da Saúde,
2014. Disponível em: http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2014/dezembro/09/manual-cries-9dez14-web.pdf
d.
Hepatite A
e.
Hepatite C
Sua resposta está correta.
F
A resposta correta é: Hepatite B
e
e
dHabilidade/Objetivo: Identificar as principais situações e quadros clínicos que estão relacionados
bcom o suicídio nas prisões. 
a
cSobre a ocorrência de suicídio nas prisões, marque a alternativa correta:
kEscolha uma opção:

a.
A População Privada de Liberdade não é considerada um grupo populacional prioritário para
receber intervenções em saúde mental, com o objetivo de reduzir o comportamento/os atos
suicidas.

b.
Sinais e sintomas tais como desesperança e desespero, pensamentos atuais, planos ou histórico de
tentativa de suicídio/autoagressão não são importantes na avaliação quanto ao ao risco de suicídio.

c.
Não há protocolos que orientem a prevenção e o manejo dos casos de ideação e tentativa de
suicídio.

d.
Perguntar sobre a tentativa de suicídio e/ou autoagressão, em geral,  não estimula tais práticas.
CORRETA - Perguntar sobre autoagressão, em geral, reduz a ansiedade associada aos pensamentos
ou atos (potenciais ou pregressos) de autoagressão e ajuda a pessoa a se sentir compreendida e
amparada. Entretanto, é essencial que o profissional que fizer a pergunta tente estabelecer um bom
relacionamento (de empatia e apoio) com a pessoa, antes de perguntar sobre autoagressão e peça à
pessoa para explicar as razões subjacentes à autoagressão (potencial ou efetiva).
Referência: Organização Mundial de Saúde (OMS). National suicide prevention strategies:
progress, examples and indicators. Geneva: 2018. Disponível
em: https://apps.who.int/iris/bitstream/handle/10665/279765/9789241515016-eng.pdf?ua=1.
Acesso em 08 jul. 2019.

e.
A presença de transtornos mentais e sofrimento psíquico decorrente do uso de drogas não são
fatores importantes a se investigar durante a avalição do paciente quanto ao risco de suicídio.
FSua resposta está correta.
eA resposta correta é: Perguntar sobre a tentativa de suicídio e/ou autoagressão, em geral,  não
eestimula tais práticas.
dQuestão 2
bIncorreto
a
Atingiu 0,00 de 1,00
c
Marcar questão
k
THabilidade/Objetivo: Conhecer os sistemas de classificação utilizados para o diagnóstico de
etranstornos mentais, no Sistema Único de Saúde.
xO sistema de classificação utilizado para diagnóstico de transtornos mentais no Sistema Único de
tSaúde (SUS), é:
oEscolha uma opção:

da.
aClassificação Internacional das Doenças (CID)

qb.
uSelf-Reporting Questionnaire-20 itens (SRQ-20)
e
sc.
Manual
t Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (Diagnostic and Statistical Manual of
ãMental Disorders – DSM)
oINCORRETA. O DSM é um sistema de diagnóstico de transtornos mentais, porém é de uso
restrito, liberado para o seu eventual usuário, e mediante o pagamento de taxas.
Referência:  Fazel S, Seewald K. Severe mental illness in 33,588 prisoners worldwide: systematic
review and meta-regression analysis. Br J Psychiatry. 2012; 200(5):364-73.
 

d.
Composite International Diagnostic Interview (CIDI)

F
e.
eÍndice de Bem-estar (WHO-5)
eSua resposta está incorreta.
d
A resposta correta é: Classificação Internacional das Doenças (CID)
b
a
c
k
Questão 3
Incorreto
Atingiu 0,00 de 1,00
Marcar questão
THabilidade/Objetivo: Identificar os marcos normativos e de funcionamento dos Hospitais de
eCustódia e Tratamento Psiquiátrico.
xLeia as assertivas abaixo relacionadas aos Hospitais de Custódia e Tratamento Psiquiátrico e
tassinale a alternativa correta: 
oI - A existência e permanência dos hospitais de custódia e tratamento psiquiátrico (também

conhecido como manicômios judiciários), não evidencia limites postos à Reforma Psiquiátrica
d
abrasileira. 
II - Dois Estados brasileiros conseguiram implementar programas de desinstitucionalização das
qpessoas com transtornos mentais em cumprimento de medida de segurança, nos HCTP.
uIII - A Portaria nº 94, de 14 de janeiro de 2014, institui a implantação de equipes de atenção básica
enos HCTP. 
s
IV -  Contribuir para a realização da desinternação progressiva de pessoas que cumprem medida de
t
ãsegurança em instituições penais ou hospitalares não é uma atribuição da Equipe de Avaliação e
oAcompanhamento das Medidas Terapêuticas (EAPs). 
V - As EAPs são constituídas por um médico psiquiatra e um profissional com graduação em
enfermagem com especialização em saúde mental.
Escolha uma opção:

a.
Apenas as assertivas III e IV estão corretas.

b.
Apenas as assertivas III e V estão corretas.
INCORRETA. Em relação à assertiva III, a Portaria nº 94, de 14 de janeiro de 2014, prevê a
implantação de um serviço de avaliação e acompanhamento das medidas terapêuticas/de segurança
aplicáveis à pessoa com transtorno mental em conflito com a Lei, através da implantação de uma
Equipe de Avaliação e Acompanhamento das Medidas Terapêuticas Aplicáveis à Pessoa com
Transtorno Mental em Conflito com a Lei (EAPs).
Quanto à assertiva V, as EAPs, devem ser constituídas por uma equipe interdisciplinar, composta
minimamente por:  1 (um) Enfermeiro; 1 (um) Médico Psiquiatra ou Médico com experiência em
Saúde Mental; 1 (um) Psicólogo; 1 (um) Assistente Social; e 1 (um) profissional com formação em
ciências humanas, sociais ou da saúde, preferencialmente Educação, Terapia Ocupacional ou
Sociologia. 
 
Referência: Brasil. Ministério da Saúde. PORTARIA Nº 94, DE 14 DE JANEIRO DE 2014. Institui
o serviço de avaliação e acompanhamento de medidas terapêuticas aplicáveis à pessoa com
transtorno mental em conflito com a Lei, no âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).
 

c.
Apenas a assertiva I está correta.

d.
Apenas a assertiva II está correta.

e.
Apenas as assertivas I e IV estão corretas.
FSua resposta está incorreta.
eA resposta correta é: Apenas a assertiva II está correta.
eQuestão 4
dCorreto
bAtingiu 1,00 de 1,00
a
Marcar questão
c
THabilidade/Objetivo: Conhecer os atos normativos referente à saúde das Pessoas Privadas de
k
eLiberdade no Sistema Prisional.
xO ato normativo que instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas
tde Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP), foi:
oEscolha uma opção:

da.
aA Resolução nº 113, de 20 de abril de 2010.

qb.
uA Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.
eCORRETA - A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014 institui a Política Nacional de
sAtenção Integral à Saúde das Pessoas Privadas de Liberdade no Sistema Prisional (PNAISP) no
t
âmbito do Sistema Único de Saúde (SUS).  
ã
Referência: 
o BRASIL. Ministério da Saúde. PORTARIA INTERMINISTERIAL Nº 1, DE 2 DE
JANEIRO DE 2014. Disponível
em:http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2014/pri0001_02_01_2014.html. Acesso em 08
julho de 2019.

c.
A Portaria nº 94, de 14 de janeiro de 2014.

d.
A Portaria Interministerial nº 1.777/MS/MJ, de 9 de setembro de 2003.  

e.
A Portaria interministerial nº 1.679, de 12 de agosto de 2013.
FSua resposta está correta.
eA resposta correta é: A Portaria Interministerial nº 1, de 2 de janeiro de 2014.
eQuestão 5
dCorreto
bAtingiu 1,00 de 1,00
a
Marcar questão
c
TObjetivo/Habilidade: Comparar o estado de saúde dos filhos das mães privadas de liberdade com
k
ea dos filhos de mães em liberdade atendidas pelo SUS.
xComparando as condições de saúde dos bebês nascidos de mães privadas de liberdade com os
tnascidos de mães em liberdade do SUS, como mostrado na Tabela abaixo, podemos constatar que: 
o

d
a

q
u
e
s
t
ã
o

Escolha uma opção:

a.
 A proporção de bebês expostos a Sífilis Congênita é igual tanto nos filhos das mulheres privadas
de liberdade, quanto nos filhos das mães em liberdade do SUS;

b.
A proporção de bebês expostos ao HIV e Sífilis Congênita é maior nos filhos das mulheres privadas
de liberdade em comparação com os filhos das mães livres do SUS;
CORRETA - Nos recém-nascidos das mulheres privadas de liberdade foi maior a frequência de
Sífilis Congênita (4,6%) e a exposição ao HIV (2,6%) do que nas mulheres em liberdade do SUS
(0,4 e 0,1% respectivamente). 
 Referência: Domingues RMSM, Viellas EF, Dias MAB, Torres JA, Theme-Filha MM, Gama SGN,
Leal MC. Adequacy of prenatal care according to maternal characteristics in Brazil. Rev Panam
Salud Pública 2015; v.37, n.3:140-147.
c.
A proporção de bebês nascidos com menos de 37 semanas de gestação é maior nos filhos das
mulheres privadas de liberdade, porém a incidência de Sífilis Congênita foi maior nos filhos das
mães em liberdade do SUS.

d.
A proporção de bebês com baixo peso ao nascer é maior nos filhos das mulheres privadas de
liberdade, porém a utilização de UTI Neonatal foi maior nos filhos das mães em liberdade do SUS;

e.
 A proporção de bebês expostos ao HIV é maior nos filhos das mulheres privadas de liberdade,
porém o número de internações é maior nos filhos das mães em liberdade do SUS;
FSua resposta está correta.
eA resposta correta é: A proporção de bebês expostos ao HIV e Sífilis Congênita é maior nos filhos
edas mulheres privadas de liberdade em comparação com os filhos das mães livres do SUS;
dQuestão 6
bIncorreto
a
Atingiu 0,00 de 1,00
c
k Marcar questão
Em
T relação ao atendimento dispensado à mulher privada de liberdade nos serviços de saúde, como
emostrado na tabela abaixo, constata-se que:
x
t
o

d
a

q
u
e
s
t
ã
oEscolha uma opção:

a.
A percepção da mulher privada de liberdade foi de que teve um bom atendimento, em comparação
com a percepção das demais mulheres atendidas no SUS;
INCORRETA. Nas mulheres privadas de liberdade a percepção foi de um atendimento pior. Em
relação às mulheres do SUS, foi menor a proporção de mulheres que classificou o atendimento
como excelente (15,1%) e maior a proporção que classificou como ruim e péssimo (13%). –
Referência: Leal et al. Nascer na prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil. Ciênc. saúde
coletiva vol.21 no.7 Rio de Janeiro. Jul. 2016

b.
O atendimento de saúde foi considerado regular em menor frequência pelas mulheres privadas de
liberdade em relação às do SUS que estavam em liberdade.

c.
A proporção de mulheres que consideraram o atendimento de saúde como excelente foi menor nas
mulheres privadas de liberdade do que nas demais mulheres atendidas no SUS.

d.
O atendimento de saúde foi classificado como ruim e péssimo por mulheres privadas de liberdade
em menor frequência do que por aquelas em liberdade atendidas pelo SUS;

e.
O atendimento de saúde foi classificado pelas mulheres privadas de liberdade como excelente em
maior frequência do que por aquelas em liberdade atendidas pelo SUS;
FSua resposta está incorreta.
eA resposta correta é: A proporção de mulheres que consideraram o atendimento de saúde como
eexcelente foi menor nas mulheres privadas de liberdade do que nas demais mulheres atendidas no
dSUS.
b
Questão 7
a
Correto
c
kAtingiu 1,00 de 1,00
Marcar questão
Considerando
T que o universo de mulheres privadas de liberdade é de 42.355 e o número de
egravidas e mães dentro do sistema carcerário é de 447, podemos afirmar que:
xEscolha uma opção:
t
oa.
Representaria 20%, portanto é um problema que deve ter a atenção dos gestores na formulação de
dpolíticas públicas.
a
b.
Representaria
q 10%, mas é um problema semelhante ao da população masculina privada de
uliberdade.
e
sc.
Representaria
t 1%, portanto é um problema insignificante para as políticas públicas.
ã
d.
o
Representaria 1%, porém exige atenção especial porque envolve os direitos reprodutivos
fundamentais da mulher, do recém-nascido e da família.
CORRETA - É um problema fundamental de política pública porque envolve a dissolução de laços
familiares entre mães e filhos, desestruturando famílias.
Referência: Leal et al. Nascer na prisão: gestação e parto atrás das grades no Brasil. Ciênc. saúde
coletiva v.21 n.7 Rio de Janeiro. Jul. 2016

e.
Representaria 10%, mas não é um problema que deva ser priorizado pelo poder público.
FSua resposta está correta.
eA resposta correta é: Representaria 1%, porém exige atenção especial porque envolve os direitos
ereprodutivos fundamentais da mulher, do recém-nascido e da família.
dQuestão 8
bIncorreto
a
Atingiu 0,00 de 1,00
c
Marcar questão
k
TObjetivo/Habilidade: Entender as variáveis envolvidas no acesso ao diagnóstico no contexto
ecarcerário. 
xEm relação ao acesso ao diagnóstico da tuberculose no contexto carcerário, é correto afirmar:
tEscolha uma opção:
o
a.
dSão determinantes para o diagnóstico da tuberculose a percepção dos sintomas pelas pessoas presas
ae a existência de serviço de saúde na unidade prisional.
INCORRETA. Nesta alternativa dois fatores igualmente importantes foram omitidos:  o papel dos
q
agentes penitenciários e da organização interna dos presos que modulam o acesso ao serviço de
u
esaúde segundo critérios próprios que, na maioria das vezes são alheios à saúde.
Referência: 
s Diuana V, Lhuilier D, Sánchez AR, Amado G, Araújo L, Duarte AM, Garcia M,
Milanez
t E, Poubel L, Romano E, Larouzé B. Saúde em prisões: representações e práticas dos
agentes
ã de segurança penitenciária no Rio de Janeiro. Cad Saúde Pública. 2008; 24:1887-96).
 
o
b.
As pessoas presas têm grande preocupação com sua saúde, e quando se sentem doentes, procuram
rapidamente o serviço de saúde.

c.
Em um ambiente hierarquizado como o carcerário, o acesso ao serviço de saúde é controlado pelo
agente penitenciário.

d.
O medo das pessoas presas de serem vítimas de preconceito e de estigmatização contribui para que
busquem o diagnóstico e tratamento da tuberculose.

e.
A restrição da autonomia das pessoas presas e a limitação de sua participação nas decisões que
envolvem o tratamento e a prevenção geram ações de saúde essencialmente prescritivas e mal
adaptadas ao contexto carcerário.
FSua resposta está incorreta.
eA resposta correta é: A restrição da autonomia das pessoas presas e a limitação de sua participação
enas decisões que envolvem o tratamento e a prevenção geram ações de saúde essencialmente
dprescritivas e mal adaptadas ao contexto carcerário.
b
Questão 9
a
Incorreto
c
kAtingiu 0,00 de 1,00
Marcar questão
TObjetivo/Habilidade: Conhecer as indicações do isolamento respiratório de paciente com
etuberculose no contexto prisional
xA prática indiscriminada de isolamento dos casos de tuberculose nas prisões contribui de maneira
tsignificativa para a manutenção da transmissão, na medida que inibe a busca espontânea pelo
odiagnóstico. Portanto esta prática deve ser reservada aos casos em que sua indicação tem

justificativa técnica e é estritamente necessária. Leia as assertivas abaixo e assinale a alternativa


d
aque descreva situação (ões) em que o isolamento NÂO esteja indicado: 
I) Paciente encarcerado há 5 meses em cela coletiva, apresentando febrícula e tosse produtiva há 2
qmeses. TRM médio. Sensível à rifampicina.     
uII) Paciente ingressante na unidade prisional, não refere queixas respiratórias. Ao exame de
eescarro, apresenta TRM positivo baixo e sensível à rifampicina. Nega TB no passado.   
s
III) Paciente queixando-se de tosse produtiva há 4 meses. Tratamento com RHZE por 3 meses no
t
ãano anterior. TRM positivo, com resistência a rifampicina. 
oIV) Paciente ingressante no sistema penitenciário já em uso de esquema RHZE iniciado há 2 dias.
Tosse discreta. Sem tratamento anterior para tuberculose.
V) Paciente em tratamento para tuberculose em uso medicação sob supervisão diária por
profissional de saúde, mantém tosse produtiva e baciloscopia (++) no 4º mês de tratamento.
Escolha uma opção:

a.
Apenas as assertivas II, III e IV estão corretas.
INCORRETA. A assertiva II está incorreta. Há necessidade de isolamento porque se trata de um
paciente cuja tuberculose foi identificada durante exame admissional. O exame de escarro positivo
impõe, neste caso, o isolamento do paciente visando prevenir a transmissão a outros detentos,
mesmo que o TRM não mostre resistência à rifampicina. Observe que, neste caso, ele ainda não
esteve em contato prolongado com outros detentos. O isolamento preconizado é de 15 dias após
início do tratamento regular, período que, estima-se, não haja mais risco de transmissão.
A assertiva III está incorreta. Há necessidade de isolamento porque o paciente apresenta MTB
resistente à Rifampicina. Todos os casos de resistência devem ser isolados e tratados no serviço de
saúde de referência. O isolamento se impõe até que seja obtido o perfil de resistência às outras
drogas e ocorra a negativação persistente da baciloscopia do escarro e da cultura para BK.
A assertiva IV está incorreta. Como o tratamento foi iniciado há poucos dias, há necessidade de
isolamento do paciente até que ele complete o período mínimo de 15 dias de tratamento regular.
Este procedimento visa proteger da exposição outros detentos com os quais o paciente ainda não
interagiu.
Referência: BRASIL. Ministério da Saúde. Manual de Recomendações para o Controle da
Tuberculose no Brasil. Brasília, DF, 2019. 
http://portalarquivos2.saude.gov.br/images/pdf/2019/marco/28/manual-recomendacoes.pdf. 
 

b.
Apenas as assertivas III e V estão corretas

c.
Apenas a assertiva IV está correta.

d.
Apenas as assertivas I e IV estão corretas.

e.
Apenas a assertiva I está correta.
FSua resposta está incorreta.
eA resposta correta é: Apenas a assertiva I está correta.
eQuestão 10
dCorreto
bAtingiu 1,00 de 1,00
T
a
Marcar questão
ec
Objetivo/Habilidade: Reconhecer que a população privada de liberdade tem maior
xk
tvulnerabilidade a dermatoses como a escabiose (sarna).
Escabiose
o ou sarna é uma dermatose comum produzida por um ácaro. Seu tratamento pode ser
local e sistêmico (oral). Indica-se obrigatoriamente o tratamento oral àqueles/as em situação de
dprivação de liberdade devido às condições do próprio encarceramento. Em relação à escabiose no
a
sistema prisional as assertivas a seguir estão corretas, EXCETO:
Escolha uma opção:
q
ua.
e
s
t
ã
o
O sistema prisional é um ambiente insalubre, com pouca iluminação solar, carência de materiais
para higiene pessoal e das celas, o que colabora para a disseminação da escabiose.

b.
Todos que entraram em contato direto com o custodiado infectado devem ser tratados, mesmo que
não apresentem sintomas.

c.
A transmissão raramente ocorre através das roupas, colchões e roupas de cama dentro do sistema
prisional.
CORRETA. A transmissão da escabiose ocorre principalmente através de roupas, colchões e roupas
de cama da pessoa portadora da doença. O contágio e disseminação da doença ocorrem em maiores
proporções no sistema prisional devido a alguns fatores relacionados ao próprio encarceramento:
elevada taxa de ocupação dos presídios brasileiros, acarretando um aglomerado de pessoas em
celas mal ventiladas e com pouca iluminação solar, carência de roupa de cama e banho e materiais
para higiene pessoal, escassez de produtos apropriados para limpeza das celas, não disponibilizar
uniformes aos custodiados e presença de pessoas imunossuprimidas. 
Referências: SOCIEDADE BRASILEIRA DE DERMATOLOGIA. Escabiose (ou Sarna).
Disponível em: < https://www.sbd.org.br/dermatologia/pele/doencas-e-problemas/escabiose-ou-
sarna/5/>.
MORAES, A. L. Z. Tuberculose e Cárcere. In. RIGON, B. S; SILVEIRA, F. L.; MARQUES, J.
(Org.). Cárcere em Imagem e Texto. 1ed. Porto Alegre: Livraria do Advogado, 2015.

d.
O diagnóstico é sugerido pelas lesões na pele, caracterizadas por túneis e pequenas vesículas. O
prurido (coceira) noturna é característica na escabiose.

e.
É transmitida por contato pessoal sem preferência por sexo, idade, raça ou condição social.
FSua resposta está correta.
eA resposta correta é: A transmissão raramente ocorre através das roupas, colchões e roupas de
ecama dentro do sistema prisional.
d
b
a
c
k

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