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O SERVIÇO SOCIAL NA EDUCAÇÃO PRISIONAL: OS DESAFIOS


DA ASSISTÊNCIA PRESTADA NA EDUCAÇÃO DE DETENTOS DO
PRESÍDIO CARLOS TINOCO DA FONSECA DE CAMPOS DOS
GOYTACAZES, RJ.

Priscila Alves Soares

RESUMO:
A utilização da educação como medida ressocializadora é de grande importância no Sistema Prisional. E cabe ao
assistente social, dentro desse sistema, buscar garantir e assegurar os direitos que ora são violados, dificultando
assim a ressocialização dos presidiários na sociedade. O presente artigo tem como objetivo analisar e compreender
como ocorre o trabalho do profissional de Serviço Social na educação de detentos do presídio Carlos Tinoco da
Fonseca no município de Campos dos Goytacazes RJ, para alcançar esse objetivo utilizou-se pesquisa de método
descritivo – explorativo, e abordagem qualitativa, realizou-se a pesquisa por meio de uma entrevista enviada por
mensagem via questionário, para uma assistente social que trabalha no presídio Carlos Tinoco da Fonseca no
município de Campos dos Goytacazes, e também em artigos científicos a respeito do tema. Ademais, foram
retirados dados estatísticos do site da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária do Estado do Rio de
Janeiro (Seap/RJ). Os resultados obtidos correspondem que nos últimos três anos, aumentou significativamente o
número de reincidência nos presídios no município. Além disso, que o papel do assistente social é de suma
importância, onde ele faz parte da equipe de assistência que atua no combate às dificuldades enfrentadas pelos
presos, inseridos no Sistema Carcerário brasileiro.
PALAVRAS-CHAVE: Educação Prisional; Assistente Social; Ressocialização; Detentos.

1. INTRODUÇÃO
Este Artigo apresenta o tema “O serviço social na educação prisional: os desafios da
assistência prestada na educação dos detentos do presídio Carlos Tinoco da Fonseca de Campos
dos Goytacazes – RJ”. O interesse de desenvolver essa pesquisa deu-se pela observação de que
a educação prisional existe, porém mesmo assim ainda há muitos casos de reincidência criminal
no presídio Carlos Tinoco da Fonseca. Por isso, a importância de verificar o motivo pelo qual
ocorrem essas reincidências apesar de toda a assistência social dada à educação pelo(a)
profissional de Serviço Social e os demais profissionais que trabalham dentro do presídio Carlos
Tinoco da Fonseca, no município de Campos dos Goytacazes. Visando assim, a essencialidade
de atestar a hipótese de que a educação auxilia na ressocialização dos detentos, contudo, devido
ao crescimento de reincidência criminal no presídio, fica a incerteza de que realmente a
assistência dada pelo(a) assistente social e pelos profissionais responsáveis pela educação
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prisional estão atingindo claramente seus objetivos, e se seriam necessárias outras intervenções,
visto que as existentes não estão sendo suficientes.

Dessa forma, esse artigo tem como objetivo geral analisar se o trabalho do profissional de
Serviço Social contribuí com a assistência prestada na educação dos detentos, para auxiliar na
reintegração dos mesmos na sociedade, e como objetivos específicos, descrever os tipos de
atividades desenvolvidas pelo profissional de Serviço Social com o intuito de auxiliar na
ressocialização do preso; identificar se o trabalho da(o) assistente social e dos demais
profissionais que trabalham no presídio estão atingindo seus objetivos claramente e verificar se
seriam necessárias outras intervenções.

A pesquisa possui um caráter qualitativo e para o levantamento das informações realizou-se


pesquisa em artigos científicos sobre o tema “Serviço Social na Educação Prisional com ênfase
na assistência prestada aos detentos”. Foram realizadas pesquisas sobre a assistência
socioeducativa no presídio Carlos Tinoco da Fonseca, com enfoque na realidade do presídio
Carlos Tinoco da Fonseca localizado na cidade de Campos dos Goytacazes. Para tanto, foram
buscadas informações no site da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária
(SEAP/RJ), por fim, foi realizada uma entrevista enviada por mensagem através de um
questionário para a assistente social que trabalha no referido presídio. Ela atua no atendimento
dos presidiários, eles fazem consultas individuais com ela regularmente, também se encontram
todas as quintas das três horas da tarde (15:00 PM) até as seis horas da tarde (18:00 PM) também
foi feita uma breve entrevista também por questionário, com a diretora geral do Colégio
Estadual Padre Bruno Trombetta do referido presídio.

Pretende-se encontrar na pesquisa, se o trabalho da profissional de Serviço Social e dos demais


profissionais que atuam dentro do presídio Carlos Tinoco da Fonseca, estão atingindo
corretamente seus objetivos, se as atividades recreativas, educacionais estão sendo suficientes,
e se seriam necessárias outras intervenções, visto que as existentes não estão sendo suficientes,
pois a reincidência nos últimos 3 anos tem aumentado nos presídios do município. Além disso,
é de grande importância que o reforço da assistência social na educação prisional seja eficaz na
reabilitação dos detentos, visto que a educação é um direito humano universal muito importante
independentemente da situação que o indivíduo se encontra na sociedade.

2. REVISÃO DA LITERATURA
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A ressocialização do preso hoje no atual sistema prisional brasileiro é algo que, quase
impossível diante de um sistema falido, a efetivação de direitos é fundamental, porque se trata
de dignidade da pessoa humana. Apresentam-se inúmeras dificuldades no cotidiano dos
presidiários que são afetados diretamente pela falta de investimento em todos os setores do
sistema carcerário. A intensificação dessa problemática no Brasil está trazendo novas demandas
para o sistema prisional. Atualmente, nas instituições prisionais, o Serviço Social tenta realizar
um trabalho que respeite e garanta os mínimos sociais, num compromisso com os/as usuários/as
pela cidadania no cárcere. Tarefa desafiadora num contexto onde as prisões brasileiras
apresentam uma histórica violação de direitos humanos, realidade violenta que pode ser
denominada “sobrepena” por extrapolar as questões de cumprimento da pena em si. (TORRES,
2001)

A assistência educacional é uma das demandas do profissional de Serviço Social no sistema


prisional. Estas assistências consistem em obediência aos princípios e regras internacionais
sobre os direitos das pessoas presas, especificamente aos que defluem das normas mínimas da
ONU. (MIRABETE, 2007).

COYLER (2002) acredita que a educação tem que oferecer necessidades básicas, a fim de que
todas as pessoas que se encontram na prisão, independentemente do tempo, possam aprender
habilidades tais como ler, escrever, fazer cálculos básicos que contribuirão para sobreviver no
mundo exterior. Nesse contexto, o assistente social é considerado um grande contribuinte para
a construção da cidadania, comprometido com a efetivação e igualdade dos direitos do cidadão.

No Brasil, o funcionamento do Sistema Prisional está regulamentado pela Lei de Execução


Penal (LEP) n° 7.210 de 11 de julho de 1984, e está destacado na LEP no seu artigo 3°; ao
condenado e ao internado que serão assegurados todos os direitos não atingidos pela sentença
ou pela lei. A LEP foi constituída entre as décadas de 1960-1980 e de redemocratização do
Brasil, e representou na época um avanço em termos de legislação na garantia de direitos da
população carcerária. Neste sentido, destaca Bitencourt (2012, p. 130) [...] A Lei de Execução
Penal (LEP), já em seu art. 1°, destaca como objetivo do cumprimento de pena a reintegração
social do condenado, que é indissociável da execução da sanção penal.

Os artigos 10 e 11 da LEP dispõem sobre a assistência destinada ao preso e internado, sendo: A


assistência ao preso e ao internado um dever do Estado, objetivando prevenir o crime e orientar
o retorno à convivência em sociedade estendendo-se a assistência também ao egresso. A lei prevê
as atenções básicas, que devem ser prestados aos presos e internados, e dentre elas encontram-
se: a assistência à saúde, assistência psicológica, assistência educacional, assistência jurídica,
assistência religiosa, assistência social e assistência material. O artigo 17 da lei de execução
penal diz que: a “assistência educacional compreenderá a instrução escolar e a formação
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profissional do preso e do internado”, enfatizando assim a educação é considerada como um dos


meios de promover a integração social e a aquisição de conhecimentos que permitam aos
reclusos assegurar um futuro melhor quando recuperar a liberdade. A assistência social está
disposta nos artigos 22 e 23 da LEP. No artigo 22 se apresenta o objetivo da assistência: A
assistência social tem por finalidade amparar o preso e o interno e prepará-los para o retorno à
liberdade. E ainda, no artigo 23, diz que incumbe ao Serviço de Assistência Social:
I - Conhecer os resultados dos diagnósticos e exames;
II - Relatar, por escrito, ao diretor do estabelecimento, os problemas e as dificuldades enfrentados
pelo assistido;
VI - Providenciar a obtenção de documentos, dos benefícios da previdência social e do seguro
por acidente no trabalho;
VII - orientar e amparar, quando necessário, a família do preso, do internado e da vítima.

Para tanto, a participação dos assistentes sociais nas equipes de trabalho junto com os demais
profissionais da educação que legitimam e executam essa Lei é imprescindível de modo a
concretizar os direitos dos apenados, inclusive o direito à educação. O Serviço Social pode ser
um instrumento que propõe mudanças no interior do sistema penal, conforme aponta Siqueira
(2001), pois, busca atender as necessidades dos sujeitos que cumprem pena privativa de
liberdade e a eles destinar assistência.

Ressocializar é um dos passos mais difícil para o presidiário, pois necessita de muita coragem,
autoestima, e motivação para enfrentar todas as barreiras que encontrará pela frente, pois o
estigma que a sociedade lhe confere é muito difícil para transpor, necessitando do trabalho de
profissionais capacitados, como o assistente social. “Pela reintegração social, a sociedade
(re)inclui aqueles que ela excluiu, através de estratégias nas quais esses excluídos tenham uma
participação ativa, isto é, não como meros ‘objetos de assistência’, mas como sujeitos” (Sá,
2005, p. 11)

Na atuação cotidiana, todas as situações de intervenção geram comprometimento na ação


profissional e geralmente devem ser dividas com outros profissionais que atuam no Sistema
Prisional ou em torno dele, formatando uma rede multidisciplinar para atender as demandas dos
presos. Sempre é possível buscar o diálogo com outros operadores do sistema penal,
profissionais que seguidamente contribuem para a extensão da ação. De acordo com
PIMENTEL (2008), no sistema prisional o serviço social deve atuar no sentido da efetivação
dos direitos de cidadania da população carcerária, já que o trabalho do assistente social tem
como objetivo central a defesa, garantia e ampliação dos direitos de seus usuários.

Os pareceres sociais, em sua grande maioria, não dão conta de elaborar a passagem do indivíduo
pelo cárcere, até mesmo porque são raras as ações educativas dentro do ambiente prisional,
tornando os instrumentos de avaliação peças do processo penal e condenatório, que recaí sobre
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a vida dos presos. Segundo Silva (2007, p. 3), o Serviço Social é uma especialidade profissional
dentro da divisão sócio técnica do trabalho, cujas funções são compreender a realidade
socialmente contextualizada, produzir conhecimento acerca dessa realidade, e, ao mesmo
tempo, intervir para transformá-la.

A presença de profissionais do Serviço Social em presídios sempre esteve ligada à promoção


de medidas que permitissem aos detentos uma reintegração à sociedade. O assistente social,
dentro do Sistema Prisional, é visto como um profissional crítico que vive em busca de justiça.
SUSEPE (2013), enfatiza que o presídio tem por missão promover cidadania e inclusão social
das pessoas privadas de liberdade e tem por objetivo a reeducação, a reintegração social e a
ressocialização do preso.

O sistema penitenciário necessita de uma educação que se preocupe prioritariamente em


desenvolver a capacidade crítica e criadora do educando capaz de alertá-lo para as
possibilidades de escolhas. Diante desse contexto, o papel do assistente social no processo de
efetivação do cumprimento da pena é muito importante, pois é através deste que o apenado irá
reinserir-se na comunidade, cumprindo a sua condenação. E ao Assistente Social compete,
então, mediar à reflexão dos sujeitos apenados sobre seu papel na sociedade, seus direitos e
deveres, o compromisso consigo mesmo e com a coletividade.

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada nesta pesquisa possui caráter qualitativo. Além do cunho qualitativo,
o artigo assume o formato de pesquisa descritiva exploratória, tendo como bases o levantamento
de informações através de artigos acadêmicos e revistas científicas encontrados no google
acadêmico, além de uma entrevista ao profissional da área de Serviço Social e uma outra
entrevista ao profissional da área da educação.

O contexto da pesquisa se desenvolve em uma instituição de ensino Colégio Estadual Padre


Bruno Trombetta, que se encontra no presídio masculino Carlos Tinoco da Fonseca, localizado
na região Norte Fluminense, Estado do Rio de Janeiro, no município de Campos dos
Goytacazes. Em vista disso o trabalho tem o propósito de analisar e compreender a atuação do
assistente social e da intervenção na contribuição dos desafios da assistência prestada na
educação de detentos. Para maior compreensão no levantamento das informações o artigo
contou com a participação de uma assistente social que trabalha na instituição de ensino Colégio
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Estadual Padre Bruno Trombetta do presídio mencionado, e contou também com uma entrevista
com a diretora geral da referida instituição.

Os instrumentos de pesquisa utilizados na construção deste artigo foram o levantamento de


informações encontradas em artigos no google acadêmico, com coleta de dados em leis,
informações e dados estatísticos do site da Secretaria de Estado de Administração Penitenciária
(SEAP/RJ), artigos científicos e revistas e uma entrevista estruturada ao profissional da área de
Serviço Social compostas por oito perguntas enviadas por questionário, e para a profissional da
área de educação também foi enviado um questionário composto por oito perguntas, tendo
como finalidade uma melhor compreensão da atuação do profissional de Serviço Social no que
se refere à assistência prestada na educação dos detentos, dos desafios encontrados e dos
métodos que são utilizados na intervenção dessa temática.

Os critérios de seleção firmam-se nas contribuições do Serviço Social na área da Educação


como forma de ressocialização dos presos que se concretizam pela conscientização, ingresso e
acesso dos mesmos, bem como na mediação e intervenção na relação escola-emprego-
liberdade. Através deste estudo, pretende-se falar um pouco sobre a influência do Serviço Social
na educação, partindo do pressuposto diante as questões sociais e como o assistente social pode
fazer para contribuir com o crescimento do ser humano.

O procedimento de análise dos dados deu-se início com a realização de leitura sobre as leis que
regulamentam os direitos das pessoas privadas de liberdade, além de um estudo mais
aprofundado sobre um desses direitos que é a educação prisional, especificamente a educação
como forma ressocializadora. O trabalho teve como fundamentação teórica artigos e revistas
científicas, os quais são compostos por autores que relatam esse assunto e contextualizam as
informações que serão abordadas neste trabalho e a relação direta com o Serviço Social.

4. ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS:


Os dados obtidos através da revisão bibliográfica e da entrevista realizada com a assistente
social reforçam que a reincidência criminal se mostra como uma das expressões da questão
social, quando é destacada pelas problemáticas sociais que giram em torno do processo de
liberdade e dignidade do ser humano, ela acaba por ser o resultado da decadência do sistema
penitenciário que não remete somente à falta de políticas públicas, e sim da falta de estrutura e
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organização do complexo penitenciário. As penitenciárias que deveriam ter o objetivo de


ressocializar estão sendo transformadas em faculdades do crime, possuindo um caráter
corruptível em relação aos servidores. Os apenados por vezes têm o comando de alguns
presídios, e requerem direitos e regalias, com o famoso Direito de Proteção Humana, possuindo
o sentimento de que podem tudo, se desinteressando cada vez mais pelo estudo. Dessa forma,
o trabalho revela que, quanto maior forem as atividades recreativas dentro do processo de
aprendizado, maior será o interesse do apenado, porque a escola tem regras, porém, para os
apenados as únicas regras que eles obedecem são as regras do tráfico.

Ainda no que diz respeito às expressões da questão social, verificou-se e cabe ressaltar que
diversos fatores contribuem para a escolha do indivíduo em praticar um crime novamente, a
reincidência criminal aumenta à medida que o egresso do sistema prisional manifeste uma
trajetória criminal mais extensa anteriormente ao cumprimento da pena, à medida que comece
a cometer crimes cada vez mais jovens e à medida que se dedique principalmente aos crimes
contra o patrimônio, em especial os furtos. Portanto, a questão só se intensifica e cabe ao
apenado demonstrar interesse por uma vida melhor, e a educação é a principal forma de
integração de toda a humanidade, principalmente dos presos. Como segundo a assistente social
entrevistada escreveu “a educação é a ferramenta transformadora para ressocialização e
reintegração pós-cárcere”. A entrevista reforça que o motivo da reincidência criminal para
alguns presidiários é devido à falta de perspectivas de um futuro melhor e por isso muitos deles
não demostram interesse pelo estudo, e essa acaba sendo a desculpa utilizada pela maioria.

Demonstra-se também através dos dados coletados e da entrevista e confirma a hipótese de que
a assistente social ao longo da sua formação acadêmica desenvolve uma capacidade teórico-
prática fundamental para estabelecer aproximações com os detentos, em sua entrevista, deixa
claro que busca trabalhar a autoestima deles, mostrando que a educação é essencial para que
novas oportunidades possam surgir, além de apresentar a eles novas possibilidades através de
oficinas e palestras. Contudo, estas intervenções estão sendo pouco suficientes para contribuir
na assistência prestada aos detentos, pois muitos nem se quer frequentam, e aqueles que
comparecem à sala de aula, na primeira visão se interessam com muita ansiedade ao começar a
estudar, mas aí vê que a escola na realidade é uma escola regular com todos os conceitos de
uma escola normal e daí começam a desistir, poucos são os que demostram interesse. Segundo
a assistente social, em grande parte os que acessam a escola mostram interesse pelo ensino, até
mesmo por estarem inseridos participam de atividades que os estimulam. Dessa forma seria
necessário o aprimoramento nas atividades práticas e recreativas para reforçar o interesse dos
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mesmos. Segundo a diretora geral do presídio, poucas são as atividades recreativas que se
encontram no presídio atualmente, atividades como palestras, dinâmica em grupo, jogos e
filmes significativos trazendo a discussão para um debate de pensamentos formativos. Contudo
ainda são pouco suficientes para ajudar na ressocialização dos presos, pois os mesmos têm
direito a uma educação de qualidade, mas o Estado parece se preocupar só com a criação de
vagas para alojar o número cada vez maior de apenados, esquecendo-se que a ressocialização
também é um objetivo a ser alcançado, uma forma de prevenir e reduzir a reincidência criminal
por meio da facilitação do acesso à educação.

Os dados obtidos na entrevista comprovam que o baixo nível de escolaridade afeta a vida dos
presidiários num todo e por vezes contribuem para que os mesmos cometam delitos, e que sejam
reincidentes ao sistema carcerário. De acordo com a Secretaria de Estado de Administração
Penitenciária (SEAP/RJ), o presídio Carlos Tinoco da Fonseca custodia 1.400 presos, e apenas
420 (30%) de 1.400 presos frequentam a escola/presídio. Além disso, o número de reincidências
aumentou significativamente no município de Campos nos últimos três anos, sendo que a
reincidência criminal foi comprovada como a mais recorrente.

A assistente social completou sua entrevista dizendo que os detentos com baixos padrões de
escolaridade enfrentam ainda mais dificuldades para acessar o marcado de trabalho, para tanto
a educação é um instrumento de transformação, que pode proporcionar ao indivíduo capacidade
de mudar e transformar a realidade em que ele está inserido, porém na realidade do referido
presídio esse processo é cada vez mais desafiador, alguns presidiários perdem a vontade em
aprender, se fazendo presente apenas para cumprir as horas, e os profissionais, se veem
obrigados a dar aula apenas com a cara e a coragem, precisando se adaptar às dificuldades
encontradas no dia a dia para que possam superá-las e dar continuidade na formação dessas
pessoas. A diretora geral da escola/presídio destacou que a única forma de aprendizado mesmo
é a escola, “trabalhamos com a educação EJA na qual facilita mais o aprendizado e aumente o
número de alunos interessados a estudar”, a escola é formada por 4 salas de aula que cabe 13
alunos por sala, sendo dividida em dois turnos manhã e tarde. Tal visão também confirma a
obrigação de articulação da educação com todas as políticas públicas voltadas para as questões
prisionais a fim de permitir um formato sistemático e potencializador da educação, porque o
Estado do Rio de Janeiro não consegue de forma eficaz, qualificar acesso a esse direito básico
dos encarcerados.
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Frente a isso, fica claro que o trabalho do assistente social na contribuição da educação prisional
é de extrema importância, pois ajuda na forma de reintegração social do indivíduo, para além
das dimensões pedagógicas, auxiliando o presidiário a vivenciar melhor a sua pena, mas
também será necessário um reforço no que diz respeito às formas de intervenção, e para que
isso aconteça será necessário total apoio do Estado investindo e aprimorando atividades que
prendam a atenção dos internos, para que entendam melhor o escopo da ressocialização a partir
da interferência escolar, mostrando também a relevância no sentido de prepará-los para a
retomada à vida em sociedade, transformando pensamentos e atitudes.

Finalizamos a entrevista e as reflexões analisadas perguntando à entrevistada se ela gostaria de


acrescentar alguma consideração, e a mesma respondeu que “atuar como assistente social
independente do campo que esteja inserido é enfrentar de frente, na ponta, todas as expressões
da questão social, é criar rede constantemente para ofertar ao seu usuário caminhos para de fato
efetivar seus direitos, pois mais do que apresentar o que é ou não direito é necessário apresentar
o caminho para que ele de fato seja efetivado.” Acrescentando que enquanto profissionais ou
futuros profissionais, dentro desse contexto precisamos de mentes e corações abertos, sem
preconceitos, sem pré-julgamentos para que os indivíduos em privação de liberdade tenham a
possibilidade de voltar ao convívio social com mais chances de estarem ressocializados de
verdade e poderem ingressar mais uma vez, ou até pela primeira vez no mercado de trabalho, e
assim diminuir essa problemática presente nos dias atuais.

5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no que foi apresentado ao longo deste trabalho, verificou-se como ocorre o trabalho
do assistente social frente aos desafios da assistência prestada na educação de detentos do
presídio Carlos Tinoco da Fonseca, confirmando que o trabalho do Assistente Social dentro dos
presídios é muito importante para a ressocialização dos presidiários, contudo, é necessário o
aprimoramento no modo de intervir de forma mais efetiva, orientando e estabelecendo uma
relação de confiança e credibilidade, pois, neste momento inicia-se uma nova etapa na vida do
sentenciado, etapa esta de reeducação, ressocialização e de resgate de princípios básicos da
cidadania.

Concluiu-se também que as demandas de trabalho requerem um profissional crítico, mas


também um profissional que seja capaz de ter uma visão para além das moralizações,
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dificuldades e desapreços. Além da necessidade de políticas públicas no fortalecimento da


assistência na educação prisional, pois percebe-se que há muito a se modificar quanto à
educação dentro da cadeia. No entanto, esse trabalho não esgota o debate, espera-se que possa
contribuir com o assunto, bem como a necessidade de reflexão e ampliação de tal tema que se
mostra urgente devido a consolidação da educação prisional como forma ressocializadora.

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