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RESSOCIALIZAÇÃO
Sandra da Penha Fagundes1
Rosineide Ferreira Fernandes de Souza2
Deusilha Araújo da Conceição3
RESUMO
10 Jul./Dez.2013
pedagógico entre as pessoas que se encontram recolhidas naquela unidade
prisional. Caracterizamos este estudo como uma pesquisa exploratória, de na-
tureza qualitativa que possibilitou a elaboração deste artigo. Utilizamos como
instrumentos coleta de dados e observações sobre como o ensino-aprendizado
pode contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos reeducandos e na sua
reinserção na sociedade.
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E pesquisas têm mostrado que a criminalidade está intimamente ligada à
baixa escolaridade e ambas a questões econômicas e sociais. Desse modo,
o ensino aprendizado deve trabalhar para o aguçamento da percepção da
realidade e consequentemente seu lugar na história. Pois um indivíduo que
nasceu na miséria e por consequência não teve acesso a uma educação
satisfatória ou a de nenhum tipo, não pode agir com discernimento de
seus atos. Entretanto, não possuir escolaridade não significa não ter co-
nhecimento, o que a maioria dos detentos não teve foi acesso ao ensino
sistematizado, mas de alguma forma eles apresentam algum tipo de co-
nhecimento que fora canalizado para ações ilegais. Mas, mesmo quando se
trata do ensino sistematizado, pedagógico, quando incentivado, a maioria
não apresenta problemas. É preciso oferecer aos alunos um ensino reflexivo
e dinâmico que os leve a analisar e participar da realidade. É nesse ponto
que o ensino aprendizado precisa encontrar o caminho, pois é complexo
ensinar um aluno a desenvolver o cognitivo e tornar-se um cidadão crítico,
capaz de se expressar com clareza e determinação, e quando se trata de
alunos privados da liberdade esta complexidade aumenta, porque, além de
estarem marginalizados pela sociedade, eles têm que conviver com um sis-
tema judiciário moroso, celas superlotadas, violência, onde as palavras indi-
vidualidade e cidadania praticamente não existem e, embora todos tenham
o direito à educação e ao trabalho, apenas alguns poucos são autorizados
a ir à escola e a exercer atividades remuneradas.
O ensino-aprendizado deve se preocupar prioritariamente em des-
velar a capacidade crítica e criadora do educando, capaz de alertá-lo para
as possibilidades de escolhas e a importância dessas escolhas para a sua
vida. Isso só é possível através de uma ação conscientizadora capaz de ins-
trumentalizar o reeducando para que ele firme compromisso de mudança
com sua história no mundo. A conscientização trabalha a favor da desmis-
tificação da realidade e é a partir dela que a educação dentro dos sistemas
prisionais pode dar um passo importante para a verdadeira ressocialização,
na medida em que superar a falsa premissa de que “uma vez bandido,
sempre bandido”. Os presídios estão superlotados de pessoas que come-
teram os mais variados crimes, a maioria é reincidente. Isso ocorre devido
a vários fatores, dentre eles a dificuldade que ex-detentos enfrentam para
inserirem-se no mercado de trabalho devido à ficha criminal, pela falta de
escolaridade e de qualificação.
Sabe-se que o conhecimento é intrínseco ao ser humano, que ele co-
meça a aprender no momento em que nasce e que os conhecimentos que
ele mais internaliza são aqueles que ele aprende na convivência com o seu
grupo social. No caso dos reeducandos os professores têm a função de que-
brar estigmas e estereótipos, mostrando-lhes que existe possibilidade de
exercer a cidadania, ser crítico, participar, reivindicar, protestar, sem cair na
marginalidade. Entretanto, todo o trabalho pedagógico estará comprome-
CONSIDERAÇÕES FINAIS
14 Jul./Dez.2013
A tutela do Estado em relação a internos penitenciários tem sido um
aspecto muito questionado pela sociedade pelas condições indignas de
vida a que são submetidos. A responsabilidade constitucional do Estado
com a educação para todos não exclui ninguém, nem internos penitenci-
ários, especialmente estes privados de escolhas. Mas não basta oferecer a
EJA apenas como cumprimento de uma responsabilidade constitucional,
é preciso oferecer condições para que estas pessoas coloquem em prá-
tica o conhecimento. Diante disso, conclui-se que a educação ainda não
conseguiu atingir seu objetivo. A superlotação, as precárias e insalubres
instalações físicas, a falta de treinamento dos funcionários responsáveis
pela reeducação da população carcerária e a própria condição social dos
funcionários e dos que ali habitam são, sem sombra de dúvida, alguns dos
principais fatores que contribuem para a demora na obtenção de resulta-
dos positivos. Enquanto isso a reincidência criminal cresce a cada dia, e na
maioria das vezes, constata-se que o indivíduo ao deixar o cárcere, após
o cumprimento da pena, volta a cometer crimes piores do que o anterior,
como se a prisão o tivesse tornado ainda mais nocivo ao convívio social.
As pessoas quando vão para cadeia já levam com elas um aprendizado
adquirido no convívio com a sociedade e dentro da cadeia adquirem ou-
tro tipo de conhecimento que pode ou não contribuir para uma reflexão.
Cabe ao educador que atua em presídios filtrar esses conhecimentos, mas
percebe-se que lá dentro o comportamento do reeducando é de uma for-
ma, e quando ele consegue a liberdade muda completamente. Isso ocorre
porque só a educação não dá conta da ressocializacão; é necessário um
investimento na área social como o oferecimento de vagas de emprego às
pessoas que cumpriram suas penas ou estão cumprindo penas alternativas.
A sociedade age com preconceito em relação a ex-detentos, ignora-os,
nega-lhes o direito de uma nova chance, às vezes, nem os deixa provar que
estão aptos para desenvolver alguma atividade.
A educação ainda anda a passos lentos no sentido de contribuir para
a ressocializacão daqueles reeducandos, mas o seu papel é fundamental
porque, se não houvesse educação, além de um grande número de exclu-
ídos o país teria um número ainda maior de analfabetos e de pessoas que
sequer conhecem os seus direitos. No entanto, com a colaboração de to-
dos os segmentos da sociedade e principalmente com a humanização das
ações de todos os envolvidos no processo é possível mudar essa realidade.
Entretanto, é preciso que os discursos saiam do papel e se transformem
em projetos e que esses projetos se transformem em investimentos na vida
humana e que estes investimentos trabalhem para a melhoria na qualida-
de de vida daquelas pessoas privadas da liberdade que um dia precisarão
voltar ao convívio social.
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