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Educação para Indivíduos Privados de Liberdade

Amanda do Carmo Acácio

Anna Laura Marques

Tatiane Bueno

Resumo: Este estudo tem como objetivo discutir e proporcionar reflexões sobre o
acesso e a permanência à educação nas instituições prisionais do estado do Paraná.
Buscando analisar os conceitos, as condições e os processos históricos que
contribuíram e continuam a contribuir para a ressocialização de pessoas privadas de
liberdade e sua reintegração nas prisões brasileiras, em consonância com o contexto
sociopolítico e econômico do Brasil. A metodologia empregada para a elaboração
deste trabalho envolveu observações exploratórias e participativas das aulas
ministradas pela Mestranda Silvia da Universidade Estadual do Paraná, no Campus de
Paranavaí. Durante essas aulas, discutiu-se a relevância da educação no processo de
cumprimento de pena, bem como seu papel na promoção da ressocialização e seus
impactos na sociedade e a importância da educação prisional como uma ferramenta e
uma oportunidade para o desenvolvimento de habilidades e recursos utilizados para
melhoria da condição de vida do PPL.

Para compreender a dinâmica do sistema carcerário brasileiro e o


aumento constante no número de pessoas privadas de liberdade (PPL), é
essencial analisar o impacto do sistema econômico e político do Brasil, que
exerce influência significativa tanto a curto quanto a longo prazo na vida da
população. O sistema capitalista promove a ideia de que o sucesso é
alcançável apenas com a determinação individual, mas também contribui para
a criação de problemas de precarização que afetam tanto a esfera laboral
quanto as relações interpessoais. Essa precarização se manifesta por meio da
instabilidade no mercado de trabalho, caracterizada pelo desemprego
prolongado, pela flexibilização das condições de emprego e pela formação de
um excedente de mão-de-obra, levando a um aumento na taxa de pobreza e,
em última instância, desumanizando as pessoas.

Além disso, o sistema carcerário no Brasil é afetado por essa mesma


lógica. De acordo com dados do SISDEPEN do Paraná em 2023, 49,88% das
pessoas privadas de liberdade se autodeclaram pardos, e 16,81% são negros,
revelando um perfil racialmente desigual entre os indivíduos no sistema
prisional do Paraná. Em relação à educação, 10.560 detentos possuem apenas
o ensino fundamental incompleto, e 4.766 não concluíram o ensino médio,
evidenciando as deficiências estruturais do sistema educacional. Dessa forma,
é possível perceber que o sistema carcerário brasileiro reflete não apenas as
consequências do sistema capitalista em termos de desigualdade e
precarização, mas também as deficiências profundas na educação e na
permaneça dos jovens, em dados o Brasil é o terceiro país que mais possuí
pessoas privadas de liberdade, em liderança o Estados Unidos e China.

A educação de Jovens e Adultos Privados de Liberdade, respaldada


pela Lei 9.394/96 da LDB (Lei de Diretrizes e Bases da Educação), encontra
apoio na Constituição Federal de 1988, mais especificamente no Artigo 205,
que estipula o direito à educação, à cidadania e à qualificação para todos, sem
qualquer forma de distinção, reforçando assim a importância desses princípios,
que frisa sobre que jovens e adultos que não tiveram acesso à educação têm
direito pleno a continuidade.

É fundamental destacar que a educação, ao se configurar como uma


oportunidade de adquirir conhecimento, desempenha um papel crucial no
processo de ressocialização de jovens e adultos privados de liberdade. Seu
propósito envolve tanto a reinserção na educação formal, como a possibilidade
de ingresso no ensino superior. Além disso, a educação atua como um meio
para reduzir as penas impostas e conscientizar sobre a relevância da
educação, e oportunidades no mercado de trabalho, ofertando cursos técnicos.

Sob essa perspectiva, a educação desempenha um papel crucial na


reabilitação de jovens e adultos que não concluíram sua escolaridade. Muitos
desses indivíduos, devido à falta de oportunidades no mercado de trabalho e
experiências traumáticas no âmbito familiar que prejudicam seu processo de
aprendizado e desenvolvimento, acabam recorrendo ao crime ou ao uso de
substâncias ilícitas. Os programas e ações educacionais implementados em
presídios do Paraná e de todo o Brasil assumem um valor inestimável, pois
oferecem a esses jovens a oportunidade de adquirir conhecimento e conquistar
diplomas.

Do ponto de vista histórico, Foucault observa que a sociedade tem uma


inclinação natural para punir aqueles que violam a lei, muitas vezes
considerando-os como inimigos. No entanto, levanta a questão de que essa
mobilização punitiva raramente se traduz em esforços efetivos de
ressocialização, uma vez que as pessoas privadas de liberdade são rotuladas,
classificadas.

A educação destinada a jovens e adultos privados de liberdade não deve


ser vista como um privilégio, mas sim como um processo educacional
obrigatório e essencial para a construção de um país com consciência
educacional. Ela oferece a oportunidade de transformar a realidade desses
indivíduos por meio da educação.

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