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Universidade Federal da Paraíba

Departamento de Fundamentação da Educação


Componente Curricular: Psicologia da Educação I
Docente: Candida de Souza

Educação nas Prisões


Education in Prisons

Círio dos Santos Lacerda


Livianny Widhya Costa Mendes
Lucielle Azevedo de Lima
Maria Clara Vasconcelos Freitas
Maria Luiza Fernandes Silva
Rawanne Azevedo Farias

João Pessoa - PB
2023
Resumo

Esse artigo é fruto de pesquisas e discussões


coletivas em uma perspectiva de visão social inclusiva, intitulada:
Educação nas prisões. A educação nas prisões desempenha um papel
crucial na transformação de vidas e na promoção da justiça social.
Este artigo tem como finalidade promover uma reflexão acerca da
educação no seu contexto teórico e empírico no âmbito prisional e sua
relação com educação, além disso, destaca a importância dos
programas de educação dentro do sistema prisional, abordando os
benefícios tanto para os apenados quanto para o corpo social em toda
sua totalidade. Acredita-se que as questões aqui levantadas, refletem
algumas problemáticas a serem discutidas, tais como: desigualdade
social e privatização de direitos.
Palavras-chave: educação nas prisões, privatização, direitos, sistema
prisional.

Summary

This article is the result of research and


collective discussions from an inclusive social perspective, entitled:
Education in prisons. Education in prisons plays a crucial role in
transforming lives and promoting social justice. This article aims to
promote a reflection on education in its theoretical and empirical
context in the prison environment and its relationship with education,
in addition, it highlights the importance of education programs within
the prison system, addressing the benefits both for prisoners and for
the social body in its entirety. It is believed that the issues raised here
reflect some issues to be discussed, such as: social inequality and
privatization of rights.

Key-words: education in prisons, privatization, rights, prison system.

Introdução

A educação nas prisões é um tema de grande relevância e merece atenção especial na


atualidade. Enquanto a privação da liberdade é uma forma de punição para aqueles que
infringiram a lei, é essencial reconhecer que a prisão também representa uma oportunidade de
reabilitação e reinserção social. Nesse contexto, a educação desempenha um papel
fundamental, pois oferece às pessoas encarceradas a possibilidade de adquirir conhecimentos,
desenvolver habilidades e transformar suas perspectivas de vida. É importante salientar que a
reinserção social não é somente uma forma de ressocialização dos apenados, mas também no
que consta na Constituição Federal de 1988, Art. 205:

Art. 205. A educação, direito de todos e dever do Estado e da família,


será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade,
visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o
exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

As prisões muitas vezes se tornam ambientes desafiadores, onde a falta de acesso à


educação pode perpetuar ciclos de isolamento, inatividade e crime. No entanto, fornecer
educação dentro do sistema prisional oferece uma alternativa poderosa. Ajuda a reduzir a
reincidência, oferece oportunidades de crescimento pessoal e profissional e promove a
igualdade de oportunidades para indivíduos marginalizados. Ao conduzir a educação
prisional, é importante considerar a diversidade de programas e iniciativas educacionais que
podem ser implementadas. Estes vão desde programas formais de alfabetização e educação
básica até programas de ensino superior, treinamento vocacional e desenvolvimento de
habilidades interpessoais. Cada um destes métodos desempenha um papel importante na
reabilitação dos detidos, permitindo-lhes cumprir as suas penas como cidadãos produtivos e
membros ativos da sociedade. Nesta era de busca de soluções efetivas para o sistema de
justiça criminal, é imperativo discutir, promover e apoiar a educação prisional. Essa discussão
destaca não apenas a importância dos direitos humanos básicos, mas também os benefícios
sociais e econômicos que podem ser alcançados com o investimento na educação dos
apenados.

Metodologia

Para a elaboração deste artigo, utilizamos pesquisas feitas em sites do Governo


Brasileiro e Governo da Paraíba, jornais e artigos. Segundo Koche (2011), o objetivo de um
artigo, é conhecer e analisar as variantes sobre determinado tema.

A partir do nosso interesse em conjunto em entender o processo de


ensino-aprendizagem no sistema prisional, foram realizadas diversas pesquisas de projetos
educativos, problemas enfrentados dentro das penitenciárias. Foram utilizadas apenas
referências publicadas no Brasil, todas voltadas para o âmbito do encarceramento. Esse artigo
foi feito com a finalidade de levar o conhecimento no âmbito da educação prisional com
objetivo de entender e compreender os direitos das pessoas privadas de liberdade com ênfase
principal na educação.

Qual a importância de abordar essa temática?

Sabe-se o quão importante é discutir essa pauta, a educação nas prisões desempenha
um papel crucial na atualidade, e sua importância pode ser abordada a partir de várias
perspectivas. Abordar a importância da educação no contexto prisional é fundamental para
promover a reabilitação dos apenados, reduzir a reincidência criminal e construir
comunidades mais seguras. Aqui estão alguns pontos-chave para destacar a relevância de
falar sobre educação nas prisões na atualidade:

1. Redução da reincidência: Ao oferecer programas educacionais dentro das prisões, os


apenados têm a oportunidade de adquirir habilidades acadêmicas, técnicas e
profissionais que podem ajudá-los a se reintegrar à sociedade de forma produtiva
após o cumprimento de suas penas.

2. Oportunidades de emprego: A educação nas prisões também prepara os apenados


para oportunidades de emprego no futuro. Ao adquirir conhecimentos e habilidades
relevantes, os apenados têm mais chances de obter empregos significativos após sua
libertação. Isso é crucial, pois a falta de oportunidades de emprego é frequentemente
citada como um fator que contribui para a reincidência criminal. A educação
proporciona aos indivíduos uma base sólida para desenvolver uma carreira,
aumentando suas perspectivas de sucesso e reintegração na sociedade.

3. Desenvolvimento pessoal: A educação tem um impacto transformador na vida dos


apenados, permitindo-lhes desenvolver-se pessoalmente e adquirir uma nova
perspectiva sobre si mesmos e o mundo. Ela oferece a oportunidade de aprender
novas habilidades, explorar interesses e ampliar horizontes intelectuais. Além disso, a
educação pode melhorar a autoestima, a autoconfiança e a capacidade de resolver
problemas, aspectos fundamentais para a reintegração social e a construção de uma
vida mais satisfatória.
4. Humanização das prisões: A educação dentro do sistema prisional ajuda a humanizar
o ambiente carcerário. Ao reconhecer o potencial dos apenados para a mudança e o
crescimento pessoal, a educação oferece uma abordagem construtiva para a punição e
a reabilitação. Ela envolve os indivíduos em atividades intelectuais e criativas,
oferecendo uma perspectiva de esperança e transformação. Além disso, a educação
promove valores como respeito, tolerância e empatia, criando um clima mais positivo
dentro das prisões.

5. Justiça social e igualdade de oportunidades: Falar sobre educação nas prisões é uma
questão de justiça social e igualdade de oportunidades. Muitos apenados vêm de
contextos socioeconômicos desfavorecidos, com acesso limitado à educação de
qualidade. Ao fornecer programas educacionais dentro das prisões, estamos
nivelando o campo de jogo e oferecendo a essas pessoas uma chance de adquirir
conhecimentos e habilidades que podem melhorar suas vidas. A educação nas prisões
é uma forma de combater a desigualdade estrutural e garantir que todos tenham a
oportunidade de se desenvolverem plenamente, independentemente de seus erros
passados.

Portanto, falar sobre a importância da educação nas prisões é fundamental


para sensibilizar a sociedade e os governos sobre a necessidade de investir em
programas educacionais para pessoas em situação de encarceramento. Isso pode
contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, igualitária e segura para
todos.

Educação e Direitos Humanos nas prisões

A relação entre educação prisional e direitos humanos é um importante tema


contemporâneo que carece de análise aprofundada. O respeito aos direitos humanos é um
princípio fundamental que deve ser aplicado em todas as esferas da vida, inclusive no
sistema prisional. Ao discutir a educação prisional a partir de uma perspectiva de direitos
humanos, é importante reconhecer que todas as pessoas, independentemente de seu estado de
detenção, têm direito à educação. Este direito está consagrado em várias declarações e
tratados internacionais, como a Declaração Universal dos Direitos Humanos e o Pacto
Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais.

Existem três premissas que fazem parte do Art. 26° da Declaração Universal dos
Direitos Humanos, que trata sobre o direito e acessibilidade da educação à todos, podemos
ressaltar as seguintes duas premissas: "Toda a pessoa tem direito à educação. A educação
deve ser gratuita, pelo menos a correspondente ao ensino fundamental. O ensino elementar é
obrigatório. O ensino técnico e profissional dever ser generalizado; o acesso aos estudos
superiores deve estar aberto a todos em plena igualdade, em função do seu mérito”, a
segunda premissa constata que: "a educação deve visar à plena expansão da personalidade
humana e ao reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais e deve favorecer
a compreensão, a tolerância e a amizade entre todas as nações e todos os grupos raciais ou
religiosos, bem como o desenvolvimento das atividades das Nações Unidas para a
manutenção da paz". Isso traz à tona o fato de que a educação é um direito humano e que
deve se estender sobre todas as classes sociais e a todos os indivíduos independentemente da
sua situação social ou legal.

No entanto, o Estado precisa determinar ações que estejam de acordo com o exercício
pleno dos direitos humanos, entre eles o da educação já que os direitos de liberdade surgem
em contraposição ao poder exacerbado do Estado, e tem, assim, como característica o
objetivo de limitar este poder, o que explicita a influência do Estado na concretização dos
direitos educacionais nas prisões. As prisões em sua grande maioria não oferecem e não
garantem os direitos dos cidadãos que estão apenados, e muitos países como por exemplo os
Estados Unidos que tem a maior população carcerária do mundo têm um longo caminho para
percorrer e garantir que os direitos humanos sejam garantidos. A educação nas prisões pode
ajudar a promover valores e garantir que os direitos humanos sejam respeitados em todas as
etapas do processo de justiça criminal.

Acesso à Educação nas prisões

A Lei Nº 7.210/1984, conhecida como Lei de Execuções Penais estabelece que é


necessário efetivar as disposições de sentença ou decisão criminal e proporcionar condições
para a harmônica integração social do condenado e do internado. Portanto, educação escolar
deve ser oferecida no sistema prisional, isso inclui ensino regular e formação profissional
para os apenados. A lei também exige que cada unidade prisional tenha uma biblioteca com
livros educativos, recreativos e instrutivos para todos os apenados. A educação dentro das
prisões ajuda a reduzir rebeliões, promovendo atividades que incentivam a interação e a
reflexão, oferecendo melhores perspectivas para o futuro. Desse modo, é de grande
importância sabermos como se dá o acesso à educação nas prisões no Brasil.

No entanto, o acesso à educação nas prisões ainda enfrenta desafios. Nem todas as
unidades prisionais possuem estrutura adequada para oferecer educação de qualidade. Menos
de 13% da população carcerária tem acesso à educação. Dos mais de 700 mil apenados em
todo o país, 8% são analfabetos, 70% não chegaram a concluir o ensino fundamental e 92%
não concluíram o ensino médio. Não chega a 1% os que ingressam ou têm um diploma do
ensino superior. Apesar do perfil marcado pela baixa escolaridade, diretamente associada à
exclusão social, nem 13% deles têm acesso a atividades educativas nas prisões.

Quando se coloca em pauta o assunto do sistema carcerário, de imediato se tem


perspectivas negativas a respeito, em contrapartida, quando aprofundamos a relação de
educação no sistema prisional, podemos observar o papel importante no crescimento e
desenvolvimento do apenado. O desempenho do professor nas prisões desempenha um papel
crucial, de forma motivadora e encorajadora aos apenados que estão buscando uma chance de
reintegração social, porém o ambiente carcerário é bem precário e eles acabam passando por
desafios, algum deles sendo:

1 - Falta de recursos e infraestrutura inadequada, limitando as oportunidades de aprendizado e


dificultando a realização das aulas.
2 - Segurança, os protocolos estabelecidos no ambiente fazem eles enfrentarem obstáculos
em materiais educacionais, acesso à tecnologia ou interação com os alunos fora da sala. A
eficácia das atividades educacionais e a aprendizagem chegam a ser poucas.
3 - Necessidades diferentes de ensino, muitos apenados não tiveram acesso à educação fora
do cárcere, fazendo com que apresentem uma dificuldade maior do que outros, o professor
precisa se adaptar a cada limite dos alunos para entender o que cada aluno precisa.

Como visto, a educação é um direito social assegurado pela Constituição Federal e


consagrado na legislação internacional. No entanto, quando se trata da população
encarcerada, tal direito parece não ter o mesmo grau de reconhecimento. No Brasil, em
muitas instituições penais, a oferta de serviços educacionais é inexistente, insuficiente ou
extremamente precária, o que se soma a regimes disciplinares e legais que não incentivam ou
mesmo inviabilizam o engajamento de pessoas presas em processos educacionais. A
educação do indivíduo privado de liberdade é um direito. Não tem mais o que se discutir
sobre isso. No entanto, é tratada como um privilégio, por meio de projetos, e não como parte
de uma política pública de educação. Para enfrentar esses desafios, é crucial que os
professores prisionais recebam apoio adequado para aumentar a conscientização sobre a
importância da educação prisional entre as autoridades prisionais e a sociedade em geral.

Projetos de ensino no sistema carcerário

Os projetos de educação dentro das prisões são de extrema importância por diversos
motivos. Eles desempenham um papel fundamental na transformação das vidas dos
apenados, oferecendo-lhes oportunidades de aprendizagem e desenvolvimento pessoal.
Trouxemos como exemplo o Plano Nacional de Educação da Pessoa Privada de Liberdade e
Egresso do Sistema Prisional do Estado da Paraíba (PEEP, 2021-2024). O projeto foi
proposto em conjunto pelo Ministério da Justiça e pelo Ministério da Educação. O PEEP tem
por objetivo garantir e fazer valer a educação como direito constitucional e afirmação da
cidadania, aplicável às pessoas privadas de liberdade e aos envolvidos direta ou
indiretamente na educação prisional, proposta para atender às crescentes necessidades do
sistema prisional. Além disso, pretende se apresentar como documento de referência para
consultas públicas que visam promover a participação de todos os setores que compõem esta
política educacional intersetorial, pessoas privadas de liberdade, familiares e ex-apenados,
bem como organizações da sociedade civil.

Os objetivos do PEEP totalizam 18, destacamos 6:

1- Elaborar plano de formação da EJA no contexto prisional, visando a capacitação a


formação dos profissionais que atuam na educação em prisões, com abordagem de
conteúdo voltado à diversidade étnica racial, credo e gênero (população negra, de
matriz africana e LGBTQIAP+);
2- Diminuir o analfabetismo entre a população privada de liberdade na Paraíba;
3- Ampliar a oferta dos exames nacionais (ENCCEJA e ENEM);
4- Promover estratégias de elevação dos índices educacionais de pessoas privadas de
liberdade e egressas do sistema prisional do Estado, considerando as mulheres e população
LGBTQIA+;
5- Proporcionar participação ativa de pessoas privadas de liberdade como monitoras ou
orientadoras de atividades educacionais;
6- Garantir educação superior, na modalidade EAD com diferentes métodos, para o sistema
prisional com todas as condições de estrutura e suporte técnico e pedagógico para estes.

Desde o momento da criação até o presente, a influência positiva em desenvolver e


executar o plano acima mencionado para facilitar a expansão do alcance e qualidade das
atividades educacionais em 41 das 69 instituições penais do estado. Outro aspecto positivo é
o fortalecimento do vínculo entre educação e formação profissional, além do fortalecimento
da institucionalização da educação como direito humano fundamental de todas as pessoas
privadas de liberdade. No entanto, também foi apontada a importância de continuar
atualizando o PEEP para avançar progressivamente na política e alcançar a integração social
e a disponibilidade e qualidade da educação prisional.

Sabemos que a educação é prioridade e a base da vida, o direito à educação defende


uma vida humana mais digna, em que a busca do conhecimento seja entendida como
essencial ao exercício dos direitos de cada um, e a consciência do dever de respeitar os
direitos dos outros. No contexto da educação prisional, a educação como meio de promover a
inserção social das exportações no retorno à sociedade. Nesses casos, a responsabilidade pela
“integração” cabe não apenas à pessoa privada de liberdade, mas também à polícia criminal, à
família do apenado e à sociedade que acolhe o ex-recluso. A educação não é um processo
mecânico, mas um processo relacional envolvendo múltiplos atores. Partindo dessa ideia,
visando a realidade educacional em nosso país os presídios oferecem educação em sentido
amplo e desenvolvem atividades adequadas à população da unidade prisional, o que não é
uma tarefa fácil por diversos motivos - falta de infraestrutura adequada, número mínimo de
policiais penais, falta de formação de educadores para os que trabalham nos espaços
prisionais, há falta de investimento em recursos básicos, como acervos bibliográficos e, em
última análise, falta de interesse dos próprios apenados.

Com base nisso, sabe-se que construir e efetivar escolas nessa perspectiva é um
desafio que requer, antes de tudo, entender a educação como um direito e o território da
escola como o lugar onde esta se realiza, numa relação de diálogo e cooperação, para além
dos limites de seus muros. Com isso, os alunos possuem diferentes saberes e experiências,
que devem ser incorporados ao processo de ensino-aprendizagem: na prisão, isso também é
verdade. É por isso que os saberes que compõem a educação anterior à prisão não devem e
não podem ser anulados para integrar a pessoa, como se todo o seu passado constituísse um
erro significativo que deva ser apagado para criar um novo, integrado ser. Assim, o programa
educacional para prisões deve focar o aluno como sujeito histórico, político, social e
relacional, e não simplesmente como um prisioneiro.

Outras faces do sistema carcerário

Além dos problemas citados, também é necessário falar sobre a política de educação
infantil. O Brasil tem a quinta maior população carcerária feminina do mundo. De acordo
com relatório do Infopen (Levantamento Nacional de Informações Penitenciárias) divulgado
em novembro deste ano (2023) pelo Ministério da Justiça, o número de mulheres presas
aumentou de 5.601 em 2000 para 37.380 mulheres em 2014, uma diferença alarmante de
567%. De cada 100 mil brasileiras, 36,4 estão presas e compará que o aumento das taxas de
encarceramento de mulheres tem sido superior ao dos homens, estima-se que 74% das
detentas têm filhos. É constatado que a mulher privada de liberdade pode dar à luz na prisão,
a Lei Nº 14.326 assegura à detenta o direito de ter a criança em sua companhia até
determinada idade e isso faz com que o estado tenha que dar as condições necessárias para
essa convivência, por isso é necessário a presença de uma creche ou pré-escola que possa
auxiliar as mães nesse processo de criação e educação dos seus filhos.

A prisão de mulheres que são mães tem grandes efeitos sobre as crianças como em
seu desenvolvimento escolar e que a escola age com o papel de apoiar a criança e a
instituição escolar entra como meio de apoio a essa criança, pois a educação é uma ponte
importante usada como meio de socialização do indivíduo, essa educação tem sido bastante
estudada sob vários aspectos: como a influência da convivência no processo de construção
de valores e ideologias e o desenvolvimento através a interação social. A escola traz enormes
contribuições para o desenvolvimento incluindo a transmissão de valores e papéis culturais,
representando concretamente uma ruptura com o ambiente familiar, o que se mostra de
extrema importância quando se fala de âmbito prisional. Mais ampla e menos afetiva que a
família, a escola, na sociedade atual, participa ativamente do processo de socialização
secundária pela qual passa o indivíduo. Portanto, mediante os levantamentos citados é de
suma importância que além de haver um sistema que forneça educação para as presidiárias,
que também haja um sistema que acolha essas crianças e os forneçam educação.

Ademais as questões impostas, a superlotação na prisão é um problema que vem


sendo enfrentado há muitos anos e mais um dos desafios dos professores nas salas de aula do
sistema carcerário, pois com isso, gera uma falta de espaço para movimentação e higiene
adequada, violações dos direitos humanos, dificuldade de separar apenados que são
considerados de risco e os que não são, aumentando os riscos de conflitos e violência, e
dificultando o processo de ensino-aprendizagem, tornando mais difícil para os apenados se
colocarem na sociedade após cumprir suas penas. Isso contribui para altas taxas de
reincidência criminal.

Um dos principais fatores para essa superlotação é a demora no andamento dos


processos judiciais, também conhecidos como prisões provisórias que podem levar à
detenção prolongada de pessoas que ainda não foram condenadas, violando o princípio da
presunção de inocência. De acordo com o Departamento Penitenciário Nacional (Depen) em
2021, das 1.381 unidades prisionais, 997 têm mais de 100% da capacidade ocupada e outras
276 estão com ocupação superior a 200%. Sobram vagas em apenas 363 prisões. Apesar de
ser um assunto complexo, é necessário buscar soluções para garantir que o sistema de justiça
criminal seja mais eficiente, justo e capaz de proporcionar uma introdução das pessoas que
estão passando por isso na sociedade.

Abordando essas duas pautas que ficam bastante esquecidas quando se fala do
sistema carcerário, torna-se mais evidente a importância da educação e reintegração dos
mesmos. No entanto, é fundamental que os governos, as autoridades prisionais e a sociedade
como um todo reconheçam a importância da educação nas prisões e trabalhem em conjunto
para garantir o acesso a programas educacionais eficazes e significativos. Investimentos
adequados, treinamento de professores e parcerias com instituições educacionais externas
são fundamentais para o sucesso desses projetos.

Considerações finais

Em conclusão, ressaltamos a centralidade do pensamento de Foucault sobre poder e


disciplina. Para Foucault: "As prisões não foram concebidas por razões humanitárias, ou
seja, como superação dos métodos bárbaros de punição (guilhotina, etc), mas como mais
uma forma de dominação e organização da sociedade. Nesse aspecto, a prisão não difere
tanto das outras formas de disciplina social, como a escola e o trabalho." Foucault criticou a
ideia de que as prisões têm como principal objetivo a reabilitação dos indivíduos ou a
proteção da sociedade, por exemplo. Ele sustentou que as prisões eram agia na forma de
punição e controle, e que visavam apenas exercer poder sobre os apenados restringindo sua
liberdade e aplicando aos mesmo uma disciplina rigorosa. Podemos classificar as prisões
como um sistema mais amplo de controle social. A visão de Foucault deixa claro a
denegação dos direitos dos indivíduos em situação carcerária. Assim como a liberdade, a
educação também é um direito negado.

Na esfera educacional e sua relação com o sistema carcerário, podemos salientar o


pensamento de Paulo Freire a respeito da educação nas prisões, Freire argumentava sobre a
importância da educação como ferramenta de transformação social, além disso, Freire
defendia a ideia de uma pedagogia transformadora e libertadora. Freire via que a educação
não deveria limitar-se apenas ao repasse de conhecimento técnicos, e que também tivesse sua
centralidade na conscientização e humanização dos presídios. O pensamento de Freire se
associa ao pensamento foucaultiano, que defendia e criticava a rigidez dos sistema
carcerário. Freire argumentava que as prisões não deveriam agir apenas como meio de
punição, e a implementação da educação tornaria um sistema bruto em um espaço também
de crescimento pessoal.

A educação é uma ferramenta poderosa para quebrar o ciclo do crime e facilitar a


reintegração dos indivíduos na sociedade. Ao oferecer programas educacionais nas prisões,
não apenas fornecemos conhecimento e habilidades, mas também desenvolvemos
auto-estima, esperança e uma visão de um futuro melhor. A educação na prisão cria um
ambiente propício ao crescimento pessoal, encorajando os apenados a reconsiderar suas
escolhas e vislumbrar novas oportunidades. No entanto, para que a educação prisional seja
efetiva, uma série de desafios devem ser enfrentados. A falta de recursos, a superlotação
carcerária e a resistência de alguns segmentos da sociedade são obstáculos a serem
superados. O investimento contínuo em infraestrutura, treinamento profissional e
desenvolvimento de programas educacionais adaptados às necessidades dos apenados é
fundamental.
Em suma, a educação prisional é uma estratégia fundamental para promover a justiça
social e reduzir as taxas de retorno à criminalidade. Oferece uma oportunidade de
transformação, permitindo que indivíduos apenados reconstruam suas vidas, ganhem novas
perspectivas e se tornem agentes de mudança positiva em suas comunidades. Portanto,
governos, instituições de ensino e a sociedade em geral devem se unir para apoiar o
fortalecimento e a expansão da educação prisional para garantir que todos tenham acesso ao
conhecimento e às ferramentas necessárias para construir um futuro melhor. Além disso, há
necessidade de aumentar a conscientização e participação social sobre a importância da
educação prisional. Isso pode ser feito por meio de campanhas de conscientização, parcerias
entre instituições de ensino e o sistema prisional e programas de voluntariado que envolvem
profissionais e visitantes que contribuem para a educação dos apenados.
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https://www.redebrasilatual.com.br/educacao/menos-de-13-da-populacao-carceraria-tem-ac
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