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UM ESTUDO SOBRE O INGRESSO DE ESTUDANTES

AUTODECLARADOS NEGROS NO CURSO MÉDIO


INTEGRADO NA MODALIDADE EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS (PROEJA) DO INSTITUTO
FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA
DO RIO GRANDE DO SUL – CÂMPUS CANOAS
Adriano Rodrigues José1
Darlene Angelita de Paula dos Santos2

RESUMO

O presente artigo se propõe em estudar o ingresso de estudantes autodeclarados negros no


Instituto Federal de Educação do Rio Grande do Sul. A pesquisa utilizou o método qualitativo,
tendo como instrumento metodológico um questionário contendo questões dissertativas aos
estudantes do Proeja de duas turmas do Curso Técnico de Manutenção e Suporte em Informática
do IFRS – Câmpus Canoas. O objetivo geral da pesquisa consistiu em elucidar as razões
motivadoras para que estudantes autodeclarados negros escolhessem o curso Proeja, como se
reconhecem enquanto sujeitos negros e como isso impacta neles mesmos e na sua (re)inserção
no ambiente educacional.

Palavras-chave: Educação Enquanto Direito. Autodeclarados Negros. Ingresso.

1 INTRODUÇÃO

“Educação não transforma o mundo. Educação muda pessoas. Pessoas


transformam o mundo”. (PAULO FREIRE)

Num contexto brasileiro onde há uma crescente ampliação do acesso à educação para as
populações historicamente excluídas e desassistidas na oportunidade de poderem realizar seus
estudos, em nível médio e superior em instituições federais de ensino, há também um
crescimento nas discussões acerca dos significados e implicações sociais, políticas, culturais e
econômicas que esse momento histórico propicia na sociedade brasileira.

Tais discussões, especialmente acerca do acesso das populações negras 3 nas instituições
federais de ensino, trouxeram diferentes posições, por muitas vezes antagônicas e que geraram (e

1
Graduado em Geografia. Pós-graduando em História e Cultura Afro-Brasileira. E-mail: adrijose21@hotmail.com
2
Profª Orientadora. Mestre em Educação. E-mail: darleneconego@yahoo.com.br
2

ainda geram) ardentes debates. A opção política de um governo em institucionalizar a garantia do


acesso de negros à educação através de políticas públicas com as ações afirmativas e a chamada
“Lei das Cotas” proporcionou um rico debate e campo prático de pesquisa acerca dos
entendimentos que a sociedade brasileira e agentes das instituições de ensino possuem sobre o
tema. Debate que diz respeito também sobre qual é a função social de uma instituição federal de
ensino dentro do contexto brasileiro.

Para tanto, a presente pesquisa envolveu estudantes autodeclarados negros do Curso


Técnico de Manutenção e Suporte em Informática do Programa Nacional de Integração da
Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos
do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul – Câmpus Canoas.
Foram empregados questionários com questões dissertativas a sete estudantes de duas turmas
pertencentes ao Curso do Proeja.

O texto deste artigo compõe-se de dois capítulos que procuram fornecer ao estudo um
aporte teórico necessário para a compreensão do tema. A seguir há um capítulo sobre os
procedimentos metodológicos da pesquisa, no qual se expõe toda a proposta do estudo. A análise
dos dados é realizada utilizando-se as respostas dadas pelos estudantes, relacionando-as com a
fundamentação teórica. Por fim, são tecidas considerações finais sobre o trabalho.

2 ACESSO À EDUCAÇÃO ENQUANTO DIREITO

Para iniciar este texto, torna-se pertinente trazer uma discussão entorno do entendimento
da educação enquanto direito social. Tal entendimento será exposto de maneira sucinta no espaço
deste artigo, apesar do autor sentir que tal questão pode ser bem mais “explorada” e
compreendida.

Trago o autor Carvalho (2008) fomentando a discussão ao tratar do tema cidadania ao


longo de parte da História do Brasil. Segundo ele:

[...] há os direitos sociais [...]. Os direitos sociais garantem a participação na riqueza


coletiva. Eles incluem o direito à educação, ao trabalho, ao salário justo, à saúde, à
aposentadoria. A garantia de sua vigência depende da existência de uma eficiente
máquina administrativa do Poder Executivo. (CARVALHO, 2008, p. 10, grifo nosso)

Na continuação do texto, o autor afirma que a garantia dos direitos sociais torna-se um
passo importante para as sociedades organizadas reduzirem os níveis de desigualdade
estruturados no capitalismo, fato que podemos relacionar com a expansão do acesso de
populações negras às instituições de ensino federais e a maneira que isso impacta nas vidas dos
sujeitos, de suas famílias, nas suas aspirações por melhores condições de vida, etc.
Para Carvalho “Os direitos sociais permitem às sociedades politicamente organizadas
reduzir os excessos de desigualdade produzidos pelo capitalismo e garantir um mínimo de bem-

3
Optou-se de mencionar o termo “negro” no texto como opção individual do autor do artigo; o termo “negro” será
utilizado para designar conjuntamente quem se autodeclara “preto ou pardo”, segundo definição do Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE); utilizar o termo “negro” é uma opção política e também traz uma maior
carga histórica no seu significado.
3

estar para todos. A ideia central em que se baseiam é a da justiça social.” (CARVALHO, 2008, p.
10)

Nesse sentido, o direito à educação é fruto de muitas lutas travadas e mantidas ao longo
da História do Brasil, lutas protagonizadas por diferentes atores que desejaram níveis melhores de
vida para grupos sociais excluídos ou mal atendidos pela atuação do Estado Brasileiro.

Num estudo mais aprofundado do conceito de cidadania ao longo da história brasileira


poderiam notar-se as diferentes nuances, conflitos, disputas, concessões, regressões, atendimento
às reivindicações. Esse entendimento histórico é possível para se compreender melhor o atual
momento de garantias do direito de estudar, momento este fecundo de se travar essa discussão.

Carvalho (2008) tenciona no seu livro a importância da educação popular no processo de


garantia de direitos. Diz ele:

[...] educação popular [...] é definida como direito social mas tem sido historicamente
um pré-requisito para a expansão de outros direitos. Nos países em que a cidadania se
desenvolveu com mais rapidez [...] por uma razão ou outra a educação popular foi
introduzida. Foi ela que permitiu às pessoas tomarem conhecimento de seus direitos
e se organizarem para lutar por eles. A ausência de uma população educada tem sido
sempre um dos principais obstáculos à construção da cidadania civil e
política.”(CARVALHO, 2008, p. 11, grifo nosso)

O papel do processo educativo baseado na tomada de consciência crítica da realidade que


nos cerca e na intenção dos indivíduos envolvidos transformarem-se e transformarem o mundo
em que habitamos. Nesse sentido, o processo de tomada de consciência acerca de como mundo se
constitui envolve-os também num processo sempre contínuo de reconhecerem-se enquanto
sujeitos portadores de direitos, de ideias, de intenções e projetos de realização de vida e de
transformações de contextos locais.

2.1 BREVE HISTÓRICO DA EJA

Estando o estudo propondo-se a discutir o ingresso de estudantes autodeclarados negros


num Programa Nacional de formação regular no Ensino Médio Integrado a uma Formação
Profissional na Modalidade da Educação de Jovens e Adultos (EJA), torna-se necessário também
fazer um brevíssimo histórico de como foi se constituindo a EJA no Brasil.

Para tanto, num estudo realizado por Guerra (2012) acerca das relações étnico-raciais no
Curso de Metalurgia do Proeja do IFES – Câmpus Vitória, no Estado do Espírito Santo, a autora
promove uma abordagem histórica da EJA a qual utilizaremos.

Segundo ela após a extinção da escravatura oficial, houve um momento de surgimento de


primeiros passos no intuito de se formular no país uma educação de jovens e adultos. Afirma que
após o período da Era Vargas, o aumento da industrialização brasileira, aliado à uma explícita
necessidade de redemocratização e a presença de uma mão de obra ociosa tornaram-se um dos
fatores para se inserir a EJA como parte da educação elementar (GUERRA, 2012, p. 52).
4

Citando Ribeiro (2007), a autora comenta que a partir de 1947 a EJA foi implementada,
criando-se escolas supletivas através de esforços de diferentes esferas administrativas, de
profissionais e voluntários (RIBEIRO, 2007 apud GUERRA, 2012, p. 52). Ressalva-se que nesse
período não havia o entendimento na sociedade de enxergar a EJA enquanto direito, onde
podemos aferir como sendo um contraponto ao postulado por Carvalho (2008) anteriormente.

O entendimento do acesso à educação enquanto direito foi ganhando força ao longo da


História da Educação no Brasil através da luta de movimentos sociais e da sociedade civil e de
sujeitos como Paulo Freire, o qual trouxe à realidade brasileira um entendimento inovador de
educação com seus postulados pedagógicos de conscientização, engajamento na transformação de
si e da realidade, críticos a uma educação bancária, que serviram de base (e ainda servem) para
projetos de alfabetização, de educação popular inserida nas realidades das populações de
periferia, projetos políticos pedagógicos de escolas, de cursos universitários etc.

Infere-se a partir disso: seria o Proeja fruto institucionalizado de lutas sociais históricas
por educação enquanto direito? A pergunta poderá ser mais bem respondida e compreendida num
estudo mais específico, não sendo este o objeto deste estudo.

Tendo presente a atitude política por parte do atual governo federal de ampliar e
proporcionar o acesso de populações historicamente excluídas (negros, quilombolas, indígenas,
pessoas com deficiência, etc.) a processos formativos em instituições federais de ensino, talvez
seja esse um passo institucional no sentido de se tornar uma política pública que respalda o papel
das lutas sociais na busca por direitos a educação. Pois “a luta histórica, social e política dos
movimentos sociais, universidade e fóruns de EJA pelo reconhecimento da modalidade enquanto
direito vem ganhando força e se afirmando em nível nacional e estadual” (GUERRA, 2012, p.
52).

Guerra (2012, p. 53) concorda em se enxergar a EJA como um direito, não envolvendo
somente um dito tempo certo de escolarização, mas percebendo-se nessa modalidade de educação
mais as desigualdades sociais em função de que os sujeitos adultos e jovens que retornam à
escola possuem uma história de vida com descontinuidades na infância quanto às necessidades
inerentes na vida de uma criança.

Baseando-me em outro trecho do artigo da autora relaciono com as respostas de alguns


estudantes ao questionário desta pesquisa quando mencionam o retorno aos estudos como um fato
importante nas suas vidas para adquirir melhores oportunidades e condições de empregabilidade
no mundo do trabalho (GUERRA, 2012, p. 53). Aliado a isso, a perspectiva de adquirir novos
conhecimentos através da inserção dos estudantes no cotidiano do processo educacional, com
suas vivências proporcionadas na relação diária com os colegas de turma, com os professores e
com os próprios desafios presentes no ato de aprender possui uma sentido ímpar para os sujeitos
que participam desse contexto.

Aliado a esse entendimento e tencionando-se fazer uma aproximação compreensiva


acerca de um universo amplo de perspectivas, a autora Guerra (2012) em seu estudo provoca a
reflexão de que:
5

A oferta do Proeja nas instituições deve considerar a escola como uma instituição
dinâmica e potencialmente capaz de promover o desenvolvimento socioeconômico [...]
Deve-se aspirar, consequentemente, à mudança da perspectiva de vida do aluno,
sendo a escola a agenciadora da ampliação da leitura de mundo, da formação de
cidadãos críticos, através da escolarização de qualidade e da formação profissional.
(GUERRA, 2012, p. 54, grifo nosso)

3 O PROEJA E OS INSTITUTOS FEDERAIS DE EDUCAÇÃO ENQUANTO POLÍTICAS PÚBLICAS

Diante do exposto anteriormente, a presente política de educação profissional técnica de


nível médio na modalidade EJA pretende englobar a formação humana, num sentido amplo, com
a garantia de acesso aos conhecimentos e saberes técnicos e tecnológicos produzidos pela
humanidade ao longo da história, integrada a formação profissional numa perspectiva de
compreensão do mundo, dos sujeitos compreenderem-se nele, atuando na busca de melhores
condições próprias de vida. (BRASIL, 2007, p. 13)

Ampliando-se a compreensão acerca do conceito de formação humana, o Documento


Base do Proeja postula que a mesma considera o mundo do trabalho, mas também necessita
possibilitar um conjunto reflexivo que vá além de uma compreensão mecânica da educação
atrelada às demandas de ordem econômica, e sim seja encarada e levada à prática enquanto
“política pública de educação profissional integrada com a educação básica para jovens e
adultos como direito, em um projeto nacional de desenvolvimento soberano, frente aos desafios
de inclusão social e da globalização econômica.” (BRASIL, 2007, p. 14, grifo nosso)

Tal perspectiva filosófica e política carregam um potencial transformador das diferentes


realidades onde se inserem quando se pensa na inserção territorial dos diversos Câmpus dos
diferentes Institutos Federais de Educação e nos impactos que causam nos municípios, seja na
dinâmica social, econômica, cultural e política como na vida dos moradores, aos quais são
ofertadas possibilidades de estudos a partir dos cursos e ações de extensão proporcionadas nas
dependências das instituições.

Para sustentar-se, essa política pública possui uma base teórica chamada de concepções e
princípios que servem de orientação para os diferentes atores envolvidos na organização,
articulação e implementação buscarem continuamente a concretização desses postulados teóricos.

No que se refere às concepções, o Documento Base do Proeja traz, primeiramente, a


preocupação de que as mudanças proporcionadas pela educação frente a diferentes desafios
sociais consequentes de uma sociedade capitalista, só terão significado se ocorrerem de forma
estrutural e profunda, auxiliando na configuração de uma sociedade diferente da vivenciada por
nós, tendo outras bases éticas – políticas, culturais e sociais. (BRASIL, 2007, p. 31)

Para tanto, intenciona-se através do Proeja enquanto projeto e política de educação


profissional e tecnológica o comprometimento com um processo formativo gerador de um sujeito
autônomo intelectualmente, eticamente, política e humanamente, capaz de vivenciar “um
processo crítico, emancipador e fertilizador de outro mundo possível” e não tão somente adaptar-
se enquanto sujeito trabalhador passivo e subordinado ao processo fomentado pela acumulação
da economia capitalista (BRASIL, 2007, p. 32).
6

Torna-se necessária uma concepção de formação profissional e tecnológica que rompa


com uma dualidade estrutural cultural versus cultura técnica, com uma visão de oferta de
educação de cunho acadêmico a estudantes das classes favorecidas pela estrutura capitalista da
sociedade e uma educação meramente instrumental acrítica voltada para o trabalho dos filhos da
classe trabalhadora, “o que se tem chamado de uma educação pobre para os pobres” (BRASIL,
2007, p. 35).

A formação integral do educando adquiri todo sentido nesse contexto, pois intenciona
integrar socialmente o educando, sendo necessária uma formação que prime pela busca contínua
de cidadãos-profissionais capazes de se compreenderem fazendo parte de uma realidade social,
política, econômica e cultura contraditória a fim de atuarem enquanto agentes transformadores da
sociedade em direção de interesses sociais e coletivos.

Os sujeitos alunos deste processo não terão garantia de emprego ou melhoria material de
vida, mas abrirão possibilidades de alcançar esses objetivos, além de se enriquecerem
com outras referências culturais, sociais, históricas, laborais, ou seja, terão a
possibilidade de ler o mundo, no sentido freireano, estando no mundo e o
compreendendo de forma diferente da anterior ao processo formativo. (BRASIL, 2007,
p. 36)

Dentre os seis princípios postulados no Documento Base do Proeja (2007, p. 37-38),


optou-se por mencionar dois deles pelo entendimento de que os mesmos possuem uma relação
mais direta com os objetivos deste trabalho. Foram escolhidos: o primeiro e sexto princípios.

O primeiro princípio refere-se ao compromisso e papel das entidades públicas no processo


de inclusão das populações nas ofertas educacionais feitas pelas mesmas, tencionando-se também
refletir como tal processo é dinamizado como um todo, desde o acesso, passando pelas condições
e maneiras proporcionadas para a permanência das populações assistidas e seu consequente
sucesso formativo.

O sexto princípio considera as condições geracionais, de gênero, de relações étnico-raciais


como fundamentes da formação humana e dos modos como se produzem as identidades sociais.

Para finalizar este capítulo, torna-se necessário também brevemente expor as concepções
e diretrizes que norteiam a atuação dos Institutos Federais no território nacional.

Em relação à implementação dos Institutos Federais de Educação, Ciência e Tecnologia


no Brasil, a partir da leitura do documento produzido pelo Ministério da Educação contendo os
conceitos e diretrizes orientadoras trago três entendimentos pertinentes ao estudo, a saber: a
noção dos Institutos Federais fazerem parte de uma política pública comprometida com o todo
social; serem instrumentos para a mudança da qualidade de vida da população; uma formação
profissional e tecnológica contextualizada.

Como política pública, a mesma

[...] assenta-se em outros itens [...] como estar comprometida com o todo social,
enquanto algo que funda a igualdade na diversidade (social, econômica, geográfica,
cultural, etc.) e ainda estar articulada a outras políticas (de trabalho e renda, de
7

desenvolvimento setorial, ambiental, social e mesmo educacional) de modo a provocar


impactos nesse universo (BRASIL, 2008, p. 10)

Os Institutos Federais tornaram-se importantes instrumentos de “mudança da qualidade de


vida de brasileiros quando reconhecem que o desenvolvimento local, regional ou nacional não
pode prescindir do domínio e da produção do conhecimento” (BRASIL, 2008, p. 25).

E ainda,

Na proposta dos Institutos Federais, agregar à formação acadêmica a preparação para o


trabalho (sem deixar de firmar o seu sentido ontológico) e a discussão dos princípios e
tecnologias a ele concernentes dão luz a elementos essenciais para a definição de um
propósito específico para a estrutura curricular da educação profissional e tecnológica:
uma formação profissional e tecnológica contextualizada, banhada de conhecimentos,
princípios e valores que potencializam a ação humana na busca de caminhos mais dignos
de vida. (BRASIL, 2008, p. 28).

Espera-se que essa breve tentativa de fundamentar este trabalho tenha trazido presente a
noção de acesso à educação como direito social; de fazer um breve histórico acerca do EJA no
Brasil; e expor algumas características entorno do Proeja e dos Institutos Federais. Enfim, tenha
auxiliado na discussão sobre o ingresso de estudantes autodeclarados negros, no sentido de
fundamentá-la e “preparar o terreno” para a análise dos questionários respondidos pelos
estudantes.

4 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

4.1 METODOLOGIA

Quanto às questões metodológicas, a presente pesquisa se caracteriza quanto à sua


natureza como aplicada, pois pretende gerar conhecimentos práticos que contribuem na
compreensão, inserção e atuação do pesquisador em seus estudos e na sua inserção profissional.
A abordagem pretende-se ser qualitativa devido a relação dinâmica que caracteriza o trabalho,
sendo que o mesmo quer escutar os sujeitos, procurando saber deles suas visões e opiniões sobre
o tema.

Quanto aos objetivos procura-se que a pesquisa seja explicativa, pois pretende aprofundar
o conhecimento da realidade, numa tentativa do pesquisador possuir um maior entendimento
sobre o tema e que o possa explicá-lo teoricamente.

Os procedimentos técnicos envolvem pesquisa bibliográfica a fim de utilizar material já


publicado sobre aspectos do problema exposto, na intenção de aprofundá-lo e/ou discuti-lo em
relação ao trabalho vivenciado na instituição de ensino. Haverá a coleta de dados com a
distribuição dos estudantes autodeclarados negros nos cursos e modalidades de ensino oferecidos
no Câmpus (procedimento já realizado como exposto acima) e a análise dos mesmos. Como se
tenciona realizar entrevistas semi-estruturadas junto aos estudantes, o pesquisador organizará
previamente esse instrumento e fará o contato com os estudantes a serem envolvidos.
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4.1.1 Tema: Ingresso da população negra nas instituições federais de ensino.

4.1.2 Problema de Pesquisa: Quais as razões motivadoras, as escolhas envolvidas e as mudanças


de vida percebidas nas vidas de estudantes autodeclarados negros num curso de PROEJA do
IFRS – Campus Canoas?

4.1.3 Delimitação do tema: O ingresso de estudantes autodeclarados negros no Curso Médio


Integrado na Modalidade Educação de Jovens e Adultos “Técnico em Manutenção e Suporte em
Informática”, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul –
Câmpus Canoas: um estudo inicial.

4.1.4 Objetivos

 Geral:

- Proporcionar um estudo inicial sobre o ingresso de estudantes autodeclarados negros num curso
de PROEJA numa instituição federal de ensino, ora tomado como espaço educacional o IFRS –
Câmpus Canoas.

 Específicos:

a) elucidar as razões motivadoras para que os estudantes escolhessem o curso em questão, como
se reconhecem enquanto sujeitos negros e como isso impacta neles mesmos e na sua (re)inserção
no ambiente educacional;

b) comparar quantitativamente a distribuição dos estudantes autodeclarados negros em outros


cursos do IFRS – Câmpus Canoas, percebendo como atualmente está a distribuição de pretos e
pardos nas demais modalidades de cursos oferecidos pela instituição como forma de perceber
possíveis motivos dessa distribuição;

c) proporcionar aos estudantes um momento de reflexão de si mesmos, das razões de suas


escolhas pelo curso PROEJA, e de como percebem suas inserções no ambiente educativo.

4.1.5 Justificativa

A pesquisa tem relevância por querer fomentar uma discussão sobre o ingresso de
estudantes autodeclarados negros numa instituição federal de ensino, ora tomado como espaço
educacional o IFRS – Câmpus Canoas. Pretende-se a partir da pesquisa elucidar as razões
motivadoras para que os estudantes escolhessem o curso em questão, como se reconhecem
enquanto sujeitos negros e como isso impacta neles mesmos e na sua (re)inserção no ambiente
educacional.

A partir do meu contato como servidor público na instituição com os estudantes desse
curso e através de minha atuação no setor chamado de “Coordenadoria de Assistência ao
Educando”, pelo qual é feito um acompanhamento da vida estudantil dos estudantes, percebo
com notoriedade um impacto que a reinserção de pessoas no ambiente educacional pode fazer nas
suas vidas.
9

Percebo, ao menos aparentemente através de conversas e expressões nos seus rostos,


como está sendo importante o retorno aos estudos e a frequentar um curso numa instituição
federal de ensino, o que pode ser encarado e entendido, num primeiro momento, como um
empoderamento dessas pessoas e um reencontrar-se imerso em novas possibilidades de vida que
possam surgir a partir da educação.

Após conversa informal com o coordenador do Curso PROEJA do IFRS – Câmpus


Canoas, ele sugeriu de que eu também procurasse comparar quantitativamente a distribuição dos
estudantes autodeclarados negros em outros cursos do IFRS – Câmpus Canoas, percebendo como
atualmente está a distribuição de pretos e pardos nas demais modalidades de cursos oferecidos
pela instituição.

Nesse sentido, foi feita uma solicitação ao Setor de Registros Acadêmicos do Câmpus
com a distribuição por curso e modalidade de ensino dos estudantes autodeclarados pretos e
pardos, no qual se pode verificar que proporcionalmente o Curso de PROEJA possui maior
quantidade de estudantes autodeclarados negros. Surge então uma a intenção também de discutir
as possíveis razões para que isso esteja acontecendo.

4.1.6 Grupo pesquisado

Estudantes autodeclarados pretos ou pardos do Curso Técnico de Manutenção e Suporte


em Informática (Modalidade PROEJA). Serão aplicados questionários no máximo a 10 (dez)
estudantes.

4.1.7 Instrumento de Pesquisa

GRUPO UNIASSELVI – Programa de Pós-Graduação EAD

Estudante: Adriano Rodrigues José


Curso: História e Cultura Afro-Brasileira

PROJETO DE PESQUISA

Nome do estudante (opcional):__________________________ Idade: ______ Sexo: ( ) F ( ) M

Título: O ingresso de estudantes autodeclarados negros no Curso Médio Integrado na


Modalidade Educação de Jovens e Adultos “Técnico em Manutenção e Suporte em
Informática”, do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Sul
– Câmpus Canoas: um estudo inicial.

A pesquisa que apresento a vocês procura fomentar uma discussão sobre o ingresso de estudantes
autodeclarados negros numa instituição federal de ensino, especificamente no espaço educacional
do IFRS – Câmpus Canoas. Para tanto, apresento algumas questões para você refletir sobre elas e
assim, respondendo-as com sua opinião, auxiliar-me a também refletir melhor sobre o tema da
pesquisa.
10

1) O que motivou você a retomar sua trajetória de estudos?

___________________________________________________________________________

2) Quais foram as razões motivadoras para que você escolhesse o curso PROEJA? Quais
expectativas você tinha antes do ingresso no curso e quais possui após esse tempo já
decorrido de estudos?

___________________________________________________________________________

3) Como você se reconhece enquanto sujeito negro? Ao longo de sua vida já parou para
pensar nisso?

___________________________________________________________________________

4) Fale como as respostas dadas às questões anteriores impactam em você e na sua


(re)inserção no ambiente educacional.

___________________________________________________________________________

5) Convido você a analisar a tabela abaixo que contém dados sobre a quantidade de
estudantes autodeclarados negros (pretos e pardos) matriculados nos cursos do IFRS –
Câmpus Canoas. Os mesmos foram fornecidos pelo Setor de Registros Acadêmicos da
instituição. O que você percebe nesses dados?
Pretos Pardos Total de negros* por curso
Integrado em Administração 3 4 7
Integrado em Informática 2 5 7
PROEJA 14 8 22
Subsequentes em Informática 1 0 1
Superior em Análise de Sistemas 0 1 1
Superior em Automação Industrial 2 7 9
Superior em Logística 10 5 15
TOTAL 62
* Para fins do estudo, pretos e pardos serão considerados "negros".

___________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________
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5 ANÁLISE E DISCUSSÃO DOS DADOS

“O que me motivou a retornar aos estudos, foi a expectativa de um


futuro melhor; por que ser mulher é difícil, imagina ser mulher
negra e sem estudo. Fica mais difícil ainda”. (Estudante mulher,
negra, 44 anos)

O ingressar na “escola”, retornar os estudos adquiri um significado ímpar e subjetivo


sendo impossível captar seu significado na sua totalidade, como no caso da mulher e de seus
outros colegas de curso e turma. Nisso se apresenta um limite no ato de pesquisar: mesmo
formulando-se da melhor maneira possível as perguntas de uma pesquisa, as mesmas não serão
capazes de esclarecer todo o universo envolvido de escolhas e projetos de vida através das
respostas dadas pelos sujeitos. Essa foi uma das constatações obtidas durante o presente processo
do estudo. Talvez, numa outra perspectiva metodológica, fosse possível uma aproximação maior
a esses universos subjetivos.

A problemática do projeto de pesquisa procurou encontrar respostas para as seguintes


questões: quais as razões motivadoras, as escolhas envolvidas e as mudanças de vida percebidas
nas vidas de estudantes autodeclarados negros num curso de PROEJA do IFRS – Campus
Canoas?

Em relação a algumas características dos sujeitos participantes da pesquisa, foram


envolvidos sete estudantes, um homem e seis mulheres, sendo quatro estudantes pertencentes no
ano 2013 ao 1º ano do curso e três ao 2º ano. A faixa etária das mulheres compreende entre 35 a
44 anos de idades, sendo que uma das entrevistadas não mencionou sua idade. O homem
participante possuía na época 67 anos, sendo ele de mais idade dentre os estudantes do Proeja no
IFRS – Câmpus Canoas.

Para analisar as respostas optarei por dividir a problemática de pesquisa no que ora
chamarei de “eixos”: a) razões motivadoras e escolhas envolvidas; b) mudanças de vida
percebidas; c) reconhecimento enquanto sujeito negro.

Entorno das razões motivadoras e escolhidas envolvidas, podem-se perceber categorias


em comum e especificidades nas opiniões dos estudantes.

Há uma presença forte de respostas em relacionar as motivações do retorno aos estudos


entorno da categoria trabalho, tais como: “solicitação no serviço”, “arrumar um emprego
melhor”, ter “melhor condições financeiras”. Relaciona-se isso à visão de Carvalho (2008), o
qual defende o trabalho e salário justo como direitos sociais. Em relação aos Institutos Federais,
está presente a intencionalidade de agregar formação acadêmica e preparação para o trabalho
como parte integrante dessa política pública (BRASIL, 2008).

A relação dos sujeitos com o aprendizado tornou-se evidente quando relacionam suas
trajetórias de retorno aos estudos com possibilidades de se “ter melhor conhecimento”, com a
“vontade de aprender mais”. O acesso à educação aparece como um canal motivador para ter-se
formação e concluir os estudos no ensino médio, reforçando a ideia de educação enquanto direito
social sendo necessária a sua garantia de oferta e meios de ingresso pelo Estado aos sujeitos que
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não tiveram condições e/ou oportunidades nas idades regulares para tal, como transparece na fala
de uma estudante quando diz que “não tive oportunidade quando moça”. O atendimento a esse
direito gera a “expectativa de futuro melhor”, tornando-se meio de “realização pessoal” para os
estudantes. Por outro lado, não fica claro nas suas falas se possuem um entendimento de que a
educação é um direito que está sendo garantido através e não meramente oportunizado. Mesmo
assim, tais falas vão de encontro com a proposta dos Institutos Federais (BRASIL, 2008) de
proporcionar, a sua maneira, mudanças na qualidade de vida dos sujeitos aliado a uma formação
profissional e tecnológica de qualidade, geradora de certa “tranquilidade dos estudos”.

Para alguns estudantes, a partir de suas falas, percebe-se que as mudanças percebidas nas
suas vidas transparecem quando afirmam que o ingresso num curso de uma instituição de ensino
foi uma oportunidade agarrada “com as duas mãos”, trazendo um sentimento que faz “me sentir
realizada no IF”, apaixonada “por estudar no IFRS”. O retorno aos estudos para o estudante de 67
anos “foi muito bom”, pois “não esperava que meus colegas fossem aceitar como pessoa com
idade avançada”. Outra fala de uma estudante trouxe uma perspectiva de mudança percebida na
vida dela quando diz que sua presença no ambiente educacional a “faz ter uma importância maior
no convívio social”. Aliado a essa fala, outra estudante menciona sua volta a estudar como “um
impacto muito grande, um passo muito importante na vida”. Tais falas parecem que concretizam
as afirmações propositivas contidas no Documento Base do Proeja (BRASIL, 2007), nas
concepções e diretrizes dos Institutos Federais (BRASIL, 2008) e nas ideias defendidas por
Guerra (2012, p. 54) quando afirma que a oferta do Proeja nas instituições deve “aspirar [...] à
mudança da perspectiva de vida do aluno”.

Por último, no eixo reconhecimento enquanto sujeito negro, exponho ora as falas inteiras
com as opiniões dos sujeitos num entendimento de que fazer isso é importante nesta escrita e ora
serão descritas partes das opiniões a fim de tentar exemplificar a relação delas com a perspectiva
deste trabalho.

Reconhecer-se negro implica possuir um “sentimento de pertencimento a um grupo racial


ou étnico, decorrente de construção social, cultural e política [...] tem a ver com a história de vida
(socialização/educação) e a consciência adquirida diante das prescrições sociais raciais ou
étnicas” (OLIVEIRA, 2004, p. 57). Tal argumentação pode ser percebida quando se toma a
seguinte fala de uma estudante:

“Eu me reconheço como negra sim e sempre penso que, apesar de todo o
preconceito enfrentado, ainda assim, tenho muito orgulho de minha
etnia”. (Estudante mulher, negra, 44 anos)

O reconhecer-se enquanto ‘negra’ num país carregado de um racismo disfarçado,


encoberto por uma pretensa democracia racial abstrata, carrega todo um significado ímpar
quando se relaciona o acesso à educação como garantia de direito de negros e negras se verem
capazes de participantes de um processo educativo comprometido com a formação profissional e
tecnológica de qualidade, a qual lhes poderá dar melhores perspectivas e mudanças de vida.

O sentimento de enxergar-se com igualdade perante outras pessoas sem distinção em


relação à cor, de reconhecer-se como “sujeito sem preconceitos da minha cor”, tudo isso faz parte
de um universo de significados que compõem a vida desses estudantes. Porém, seria necessário
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um trabalho e estudo mais aprofundado, utilizando outros procedimentos metodológicos capazes


de aproximar o pesquisador de uma compreensão mais próxima dessas subjetividades.

Por outro lado, numa fala do estudante de mais idade se pode perceber também a carga
opressora e preconceituosa acerca da presença de negros na sociedade brasileira. Diz ele,
preservando-se sua forma de escrever:

“Não penso mas observo muito, eu tenho cargo de chefia e noto quando
‘tou’ e um branco junto ‘nuca’ ninguém chego para mim e perguntou que
é o chefe sempre chega para o branco e pergunta e o ser que é o chefe, eu
sempre me orgulho de ser negro foi meu pai que sempre ensinou respeito
todos mas ande sempre de cabeça erguida”. (Estudante homem, negro,
67 anos de idade)

Tal cotidiano presente na vida desse estudante, e também de muitos outros brasileiros
negros, diz muito de racismo “encoberto”, sutil, que por vezes é encarado como sem importância,
mas que na verdade revela muito mais do que parece: revela uma sociedade que enxerga-se como
‘natural’ ter tais visões de superioridade/inferioridade, de capaz/incapaz, de digno de estar e fazer
parte de uma universidade ou instituto federal somente pelo fato do acesso à educação ser um
direito. Além disso, envolve-se todo um arcabouço de reações que a população negra sente
quando se depara com situações conflitantes como esta, de sofrer com o preconceito.

Na fala desse mesmo estudante, pode-se trazer presente outra questão relacionada com o
reconhecer-se negro na sociedade brasileira. Essa questão do questionário trazia um quadro
comparativo contendo dados sobre a quantidade de estudantes autodeclarados negros (pretos e
pardos) matriculados nos cursos do IFRS – Câmpus Canoas. Proporcionalmente, o número
coletados sinalizam que a presença de negros autodeclarados é maior no curso do Proeja,
totalizando cerca de vinte e dois estudantes matriculados no ano de 2013. A resposta do referido
estudante foi a seguinte:

“No meu meio de pensar falta escola técnica pública, o 2º grau colegial e
o negro tem que trabalhar para sustentar nos estudo com o 2º grau o
salário é muito pouco e um curso técnico só pago”. (Estudante homem,
negro, 67 anos de idade)

A opinião desse senhor traz questionamentos em relação a pouca oferta de escolas


públicas que garantam o acesso aos negros, fato que aliviaria a procura por qualificação em
cursos privados.

Outra estudante traz uma opinião ímpar, a qual não havia até então pensado que poderia
surgir nas respostas:

“Que as pessoas do Proeja não tem restrição de se autodeclarar


negros”. (Estudante mulher, negra, 35 anos)

A partir dessa visão se pode vislumbrar outra questão para se pesquisar: será que
estudantes dos outros cursos têm algum receio de se autodeclararem negros? Tal pergunta,
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infelizmente, não poderá ser discutida da forma que merece. Ela acaba trazendo outros possíveis
questionamentos: aqueles sujeitos negros já formados no ensino médio possuem condições
contextuais que possibilitem os estudos num curso superior? Reconhecem-se capazes de
frequentar uma instituição pública de educação? Jovens negros possuem condições estruturais e
reconhecem-se enquanto pessoas capazes de ingressar num curso técnico integrado ao ensino
médio? Há incentivo e/ou aproximação da instituição em relação a esse público?

Outra estudante traz uma faceta um tanto mais esperançosa relacionada a essa questão.
Nota-se o que ela escreve:

“Essa quantidade não se pode afirmar que é por falta de interece. [...] o IFRS
não é ‘conhecido’ por enquanto muito pouco pessoas procuram os cursos. Mas
[...] tenho certeza que querer é poder e não é a cor da pele que faz o tamanho
da nossa vontade. E com certeza a procura vai aumentar muito”. (Estudante
mulher, negra, 39 anos)

Uma estudante acrescenta que percebe que

“[...] a maioria está matriculado no PROEJA, o que fortalece minha opinião de


que o negro nem sempre teve boas oportunidades. Num pais onde a etnia negra
prevalece, ainda eles aparecem muito pouco (como minoria)”. (Estudante
mulher, negra, 44 anos)

A expectativa de continuar os estudos num curso superior a partir do ingresso num curso
de qualidade como o Proeja, numa perspectiva de empoderamento envolvendo expectativas, está
presente na última fala que apresento:

“Iniciamos com o ensino público e de qualidade no Proeja; e podemos alcançar


um superior em Logística”. (Estudante mulher, negra, 35 anos)

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao finalizar este artigo, encaro isso com um misto de sentimentos que envolvem o ato de
refletir e o ato de trazer na escrita o resultado dessa reflexão.

O presente trabalho, na sua temática, somente ganhou força devido à minha inserção e
acompanhamento como servidor público federal no IFRS – Câmpus Canoas. O contado por
muitas vezes diário facilitou o estudo. Disso se pode aferir que o engajamento do pesquisador se
faz necessário nesse sentido e, no meu entendimento, produz frutos bons quando se consegue dar
certa voz aos estudantes. Por outro lado, percebo que os procedimentos metodológicos da
pesquisa poderiam ter sidos encaminhados procurando envolver mais o contato do pesquisador
com os sujeitos envolvidos na pesquisa, por exemplo, através de rodas de conversa sobre
questões da pesquisa a fim de proporcionar um conjunto reflexivo no qual os estudantes
pudessem expor suas opiniões, ouvir as dos outros colegas e discutirem os diferentes olhares
envolvidos de enxergar a temática. Porém isso não foi possível neste estudo.
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Outra consideração se refere ao fato de que o presente estudo precisa e deve ser
aprofundado e ampliado utilizando-se de outros referenciais teóricos, procedimentos
metodológicos diferenciados. O campo de pesquisa entendido como o “terreno” onde as
instituições federais de educação concretizam sua atuação poderia também ser outro.

Por fim, pôde ser observado e de certa maneira internalizado no pesquisador como foi e
ainda é importante para os estudantes envolvidos nesta pesquisa fazerem parte de um processo
formativo e educativo num Instituto Federal de Educação. Acredita-se que estudar o ingresso a
partir de um recorte étnico-racial num instituição federal de ensino traz muitas possibilidades de
evidenciar as motivações envolvidas, trazer à tona especificidades importantes desse público e
que podem servir de subsídio no necessário reinventar-se das propostas curriculares e
institucionais que regem a vida acadêmica das instituições.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Plano de Desenvolvimento da Educação. Instituto Federal de Educação, Ciência e


Tecnologia – Concepção e Diretrizes. Brasília: Ministério da Educação, 2008.

BRASIL. PROEJA – Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a


Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos. Brasília, Ministério da
Educação, 2007.

CARVALHO, José Murilo de. Cidadania no Brasil: o longo caminho. 10ª ed. Rio de Janeiro:
Civilização Brasileira, 2008.

GUERRA, Mariana Passos Ramalhete. O PROEJA do IFES Campus Vitória – ES e a


educação para as relações étnico-raciais: uma abordagem para além da profissionalização.
In: B. Téc. Senac: a R. Educ. Prof, Rio de Janeiro, v. 38, nº 3, set./dez. 2012. Disponível em:
<http://www.senac.br/media/26344/5.pdf>. Acesso em: 03 de dezembro de 2013.

OLIVEIRA, Fátima. Ser negro no Brasil: alcances e limites. Estudos Avançados [online]. 2004,
vol.18, n.50, pp. 57-60. ISSN 0103-4014.

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