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Heliezer de Souza
INTRODUÇÃO
XII COPENE 2022• ST 36. Perspectivas Interseccionais na Educação: subjetividades dissidentes em raça,
gênero e sexualidades
experiências sociais, históricas e políticas da população negra, e não apenas da população branca
possa ser pautada e valorizadas.
O referido estudo encontra suas bases teóricas nos escritos de Bell Hooks (2017); Denise
Botelho (2016); Eliane Cavalleiro (2010); Eliete Santiago; Delma Silva; Claudilene Gomes (2010);
Nilma Lino Gomes (2017), entre outras/os pesquisadoras/es que cuja as ideias nos possibilitam
analisar e compreender como a universidade ao abrir-se para uma ação política acadêmica plural,
trazendo, validando e também construído práticas diversificadas, que promovam uma análise
crítica da sociedade a partir das questões raciais, poderá contribuir com o rompimento da
manutenção das desigualdade na construção e socialização do conhecimento.
O texto reflete algumas experiencias formativas desenvolvidas nas reuniões do Geperges,
no decorrer do primeiro semestre de 2022, e foram realizadas com membras/os do grupo a partir
do estudo e debate da temática racial sua interface com a educação. A proposta desses estudos
era, a partir do diálogo e da formação permanente, cujas bases estão em Paulo Freire (2019,
2020a, 2020b), construir práticas possíveis para desenvolver uma Educação para as Relações
Étnico-raciais, que pudesse efetivar uma Educação antirracista no cotidiano escolar.
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gênero e sexualidades
Assim, partindo de uma comparação metafórica, situaremos o GEPERGES como uma
“Árvore das Práticas Possíveis”, por ter uma abrangência com os estudos e experiências de
professoras(es) com foco na Educação da Relações Étnico-raciais.
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gênero e sexualidades
possam compreender como a ideologia racista e da branquitude fornece privilégios a um grupo,
enquanto outros são desqualificados pelo critério da cor da pele.
Desse modo, entendemos que conhecer as práticas desenvolvidas por professoras
vinculadas ao Geperges Audre Lorde, permite-nos compreender o comprometimento das/os
membros desse grupo com a educação antirracista. Além disso, buscamos entender como esta
educação antirracista permite sistematizarmos reflexões quanto à contribuição de espaços
decoloniais para o enfrentamento do racismo em sala de aula.
A professora e pesquisadora Claudilene Silva (2013, p. 26, 27), destaca que a intervenção
pedagógica da/o docente tem relação intrínseca com o seu processo de construção identitária,
uma vez que será a partir dessa construção que as/os sujeitos podem desconstruir e reconstruir
práticas curriculares que favorecem a manutenção do racismo no espaço escolar.
Partindo dessa ideia, ao observamos o desenvolvimento das ações desenvolvidas nos
encontros do Geperges, é possível perceber o elemento identitário como um dos pontos de
discussão, debate e ação do grupo. Sabe-se negra/o, branco/o, por exemplo, é para essas/es
sujeitos o caminho inicial para realização de uma leitura aprofundada do mundo, identificado
realidades segregadoras ou de privilégios, buscando possibilidades alcançáveis, como defende
Paulo Freire (2019, 2020a, 2020b), para pensar e desenvolver ações antirracistas.
Nesse sentido, ao pensarem individual e coletivamente, as/os membras/os do Geperges
buscam estratégias teórico-práticas que descolonizem currículos e saberes que possam ser
aplicáveis em seus cotidianos escolares, como destacamos no trecho a seguir:
Minha prática é diária e constante, como mulher preta, professora, mãe... sei
que sou espelho, e desta maneira tento sempre está atenta, desenvolvendo
ações educacionais antirracistas e combatendo o racismo. Promovendo ações
que fortaleçam a minha comunidade e a mim, ao mesmo tempo que
desenvolvo meu conhecimento pessoal e profissional, inclusive vigiando
minhas ações. Confesso que, por vezes, me sinto cansada de ser a mulher
guerreira, forte, batalhadora, mas logo penso na minha ancestralidade e de
todos que vieram antes de mim, e reconheço que diante da sociedade que ainda
vivemos, devo ser também portal para as minhas próximas gerações.
(Professora 1 e Membra do GEPERGES, 2022)
A partir do fragmento acima, foi possível observar que há uma prática constante por
parte da Professora 1, porém há também uma certa exaustão de se manter sempre forte, no
entanto quando ela recorda de sua ancestralidade, ela se propõe a continuar. O que pensamos ser
possível graças às reflexões que o grupo de estudos proporciona, reflexão essa que tem na esfera
do autocuidado e autoafirmação uma constante construção sobre si mesmo e sua prática em cada
encontro no coletivo.
Assim como a questão identitária é ponto basilar, quando pensamos essa “Árvore das
práticas possíveis” para o enfrentamento ao racismo e a construção de uma educação antirracista,
organizadas a partir do GEPERGES Audre Lorde, entender a presença Feminina Negra no
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grupo também possibilitará a reflexão e o diálogo ao pensamos o papel do grupo no
desenvolvimento de ações antirracistas. Nesse contexto, observemos a fragmento a seguir:
Estou num processo no qual minha prática pedagógica busca trazer a presença
negra feminina para e suas contribuições para a construção do saber. Por
exemplo, na escola em que trabalho toda a primeira unidade foi realizada a
partir do projeto "O universo". Busquei referências negras, como Katherine
Johnson, astronauta negra. Na segunda etapa, buscamos coletivamente
encontrar outras mulheres negras cujo trabalho nos fez entender e desenvolver
o projeto. Sempre parto da referência de mulheres negras, para trabalhar
qualquer conteúdo. (Professora 2 e Membra do GEPERGES, 2022.)
1 O pseudônimo da autora aparece em letras minúsculas para definir sua posição ideológica. Segundo a autora, a
maior importância não se encontra no que ela é, mas sim, nas ideias e conhecimentos que são transmitidos por seus
escritos, conforme pode ser observado em matéria intitulada “A pedagogia negra e feminista de bell hooks”,
disponível em: https:// www.geledes.org.br/a-pedagogia-negra-e-feminista-de-bell-hooks.
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lhes possibilita se sentir pertencentes ao espaço escolar, ajudando-os em sua autoestima, a partir
de um autoconhecimento individual ou cultural.
Fazem-se necessário mobilizar a comunidade escolar a respeito da conscientização e
polêmica do tema, fazendo com que a convivência com a diversificação racial, cultural e religiosa
seja contestadora, sem mais processos de exclusão. Nos processos sociais de reivindicação de
políticas de ação e luta contra o racismo, foram mobilizados inúmeros recursos de agência pela
população negra, nos contextos organizativos, ao demarcar a raça como categorias de luta política
foram mobilizadas táticas de enfrentamento ao racismo.
Nessa vertente, ao nos debruçamos nas falas de professoras/es e sua participação em
grupo de pesquisa, compreendemos o quanto estes espaços representam lugares que favorecem a
formação humana das/os sujeitas/os, que através da reflexão e do diálogo, criam estratégias
colaborativas para efetivação da prática docente antirracista em sala de aula.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Diante de uma sociedade cada vez mais dinâmica e plural, a universidade tem por dever ir
de encontro as ideologias racistas que ainda estruturam o Brasil, promovendo ações viáveis que
possam efetivamente construir e socializar saberes e conhecimentos que não mais difundam a
desigualdade racial.
Assim, identificar e compreender como a universidade vem realizando esse trabalho é
pensar na concretude da descolonização do currículo, das práticas pedagógicas e dos saberes.
Nesse contexto, trazer exemplos positivos que efetivam ações antirracistas permite-nos
compreender o movimento lento, mas possível que favorece uma mudança social.
Nesse estudo, nos propusemos observar e refletir sobre como o Grupo de Estudos e
Pesquisas em Educação, Raça, Gênero E Sexualidades Audre Lorde – Geperges Audre Lorde
vem contribuindo nesse movimento de reorganização e descolonização da academia, ao passo
que também se propõe a dialogar e possibilitar de descolonização da escola a partir da
intervenção pedagógica das/os professoras/es membros do grupo que atuam na educação básica.
Por intermédio do compartilhamento de sabes, do respeito ao outro, da integração e
constante reconstrução, a prática educativa carrega em si a possibilidade de ser transformadora,
com a matriz dessa formação, ancorada na compreensão do sujeito. Isto se torna possível por
meio da construção identitária fomentada pelo grupo; das discussões teóricas suscitadas através
dos estudos dirigidos de autoras/es que produzem epistemologias que ainda não estão difundidas
na academia, mas que são relevantes para se pensar em outros caminhos para enfrentar o
racismo; no conhecimento de pessoas que lutam e constroem práticas de enfrentamento contra
diferentes formas de opressão e formam, coletivamente e de forma intercultural, práticas
pedagógicas de possibilidades, tal como uma árvore ancestral.
REFERÊNCIAS
BOTELHO, Denise. Educar para a Igualdade Racial nas Escolas. In: BOTELHO, Denise (org).
Educar para a Igualdade Racial nas Escolas. Recife: MXM Gráfica & Editora, 2016.
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gênero e sexualidades
CAVALLEIRO, Eliane. Prefácio. In: SANTIAGO, Eliete; SILVA, Delma; SILVA, Claudilene
(Orgs.). Educação, escolarização e identidade negra: 10 anos de pesquisa sobre relações
raciais no PPGE/UFPE. Recife: Ed. Universitária da UFPE, 2010.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. 24ª ed. São
Paulo: Paz e Terra, 2019.
________. Educação como prática da liberdade. 46º ed. Paz e Terra Rio de Janeiro, 2020a.
________. Pedagogia do oprimido. 73ª ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2020b.
GOMES, Nilma Lino. O movimento negro educador: saberes construídos nas lutas por
emancipação. Petrópolis: Vozes, 2017.
HOOKS, Bell. Ensinando a transgredir: a educação como prática da liberdade. São Paulo:
editora WMF Martins Fonseca, 2017.
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