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APORTE TEÓRICO
METODOLOGIA
Este estudo está inserido no âmbito das ciências humanas e sociais (GAMSON, 2010),
que é permeado por condições de produção de ordem epistemológica, histórica, política e
sociocultural. Partindo da perspectiva desconstrutivista na construção do conhecimento,
propomos uma análise que transcende as formas dicotômicas de produção científica. Nessa
ótica, a pesquisa, de natureza qualitativa, buscou explorar o mundo subjetivo dos processos de
inteligibilidade gerados pelos discentes de duas escolas em Caruaru-PE, uma com Núcleo de
Estudos de Gênero e Enfrentamento da Violência contra a Mulher (NEGs) e outra sem esse
Núcleo.
O estudo foi conduzido em três fases: 1) mapeamento das escolas com e sem NEGS;
2) realização de observação participante, de setembro a novembro, uma vez por semana, em
ambas as escolas; 3) condução de entrevistas semiestruturadas com 18 estudantes no total, nas
duas instituições. Vale ainda pontuar que na análise, empregamos a Análise de Conteúdo
conforme descrita por Bardin (1997), utilizando o material produzido na pesquisa, incluindo
transcrições das entrevistas e anotações dos diários de campo.
DISCUSSÃO
O estudo teve como meta principal compreender as compreensões dos alunos de duas
escolas do ensino médio na rede pública, uma com Núcleo de Estudos de Gênero (NEGs) e
outra sem, em Caruaru-PE, acerca das temáticas de gênero e diferenças sexuais, visando
promover a natureza democrática e plural da instituição escolar. Reconhecemos que a
discussão sobre os marcadores sociais da diferença na escola pode dissipar concepções que
alimentam preconceitos, discriminação, ações negativas e ideias pejorativas originadas de
diversas fontes, como religião e política (LOURO; NECKEL; GOELLNER, 2020).
No entanto, em ambas as escolas, notamos, em muitas ocasiões, uma falta de
compreensão sobre os diversos marcadores, especialmente no que diz respeito a gênero e
sexualidade, frequentemente considerados como sinônimos e limitados a aspectos biológicos
e modelos binários. Estudantes ainda restringem a sexualidade apenas ao sexo. Em relação ao
racismo, embora ele se manifeste no cotidiano escolar, como observado durante o período de
pesquisa, muitas vezes é tratado como brincadeira, sendo ignorado ou minimizado.
No entanto, destacamos a importância desse debate nas escolas, pois, mesmo que
ocorra pontualmente, por alguns professores em sala de aula ou em eventos específicos como
o "Dia da Consciência Negra" ou o "Dia da Mulher", aponta para efeitos significativos na
reflexão dos estudantes. Essas descobertas não surpreendem, considerando a compreensão de
que os marcadores sociais da diferença são construídos socialmente, influenciados por
elementos históricos e culturais e permeados por relações de poder (FOUCAULT, 2006;
ALMEIDA; 2018; BUTLER, 2003).
A verdade sobre sexo e sexualidade é construída pelo dispositivo de sexualidade, que
abrange práticas, discursos, instituições e normas que moldam e regulam a sexualidade em
uma sociedade específica, regulando-a, produzindo-a e controlando-a como parte central da
identidade e do poder (FOUCAULT, 2006). Butler (2003) destaca como a construção de
gênero é estabelecida por um modelo binário cisheteronormativo, por meio do poder que
regula e disciplina gênero, operando em práticas sociais específicas.
Almeida (2018) ressalta como o racismo estrutura a sociedade, atuando como um
dispositivo que classifica e desqualifica as pessoas com base em traços étnicos e raciais. Ele
lembra como nossa sociedade colonizada ainda idealiza o homem branco europeu e cristão e
como o mito da democracia racial foi um dispositivo para invisibilizar o racismo estruturante
em nossa sociedade.
CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
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