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Barbara Yumi Brandão Sakane


Caroline Matos Chaves da Silva
Hemilly Rayanne Correa da Silva
Julia Maria Schmalz Martins
Maria Carolina Ferreira dos Santos

Formação de professores de Psicologia: Relato de experiência


sobre uma Oficina de Sexualidade e Gênero.
Formation of psychology teachers: experience report about a
Workshop of Sexuality and Gender.

Relato de experiência apresentado à Universidade


Federal da Grande Dourados, como requisito para a
avaliação da disciplina de Estágio Supervisionado de
Formação de Professores II, do curso de Psicologia.

Orientador: Prof. Jaqueline Batista de


Oliveira Costa.

Dourados

2019
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Resumo

Este trabalho visa apresentar o relato de uma experiência de oficina, cujo tema foi
Sexualidade e Gênero. A proposta objetivou possibilitar a reflexão e desconstrução sobre
questões que envolvem o tema da sexualidade na adolescência, tais como: construção
social e papéis de gênero, orientação sexual, violência, políticas públicas, população
LBTQIA+, adolescência/puberdade e saúde do homem e da mulher. Participaram dos
encontros 20 alunos do nono ano do ensino fundamental e do ensino médio de uma escola
estadual da periferia de Dourados – MS. As oficinas aconteceram no período matutino
com duração de 50 minutos, durante os meses de agosto à outubro de 2019, totalizando
nove encontros. Estes foram compostos por rodas de conversa, aulas expositivas com
apresentação de filmes/séries e divisão de grupos para apresentação de cartazes e debates.
Foram aplicados dois questionários, um no início e outro ao final. Concluiu-se que a
formação de professores em psicologia é importante para uma futura atuação profissional,
bem como o tema abordado na oficina se mostrou de grande relevância levando em conta
o contexto escolar no qual foi executada.

Palavras-chaves: educação; sexualidade; gênero; adolescência

Abstract

This article presents the report of a workshop experience, whose theme was Sexuality and
Gender. This proposal aimed to enable reflection and deconstruction about questions
involves topics of adolescence sexuality, such as: social construction and gender roles,
sexual orientation, violence, public policy, LBTQIA + population, adolescence / puberty,
and men's and women's health. Participated in the meetings twenty-two ninth graders of
elementary school and high school to a state school in the outskirts of Dourados – MS.
The workshops happened in the morning, lasting fifty minutes, during the months of
August and October 2019, totaling nine meetings. These consisted of conversation
wheels, lectures with film/series presentations and group division for poster presentations
and debates. Two questionnaires were applied, one at the beginning and one at the end. It
was concluded that the formation of teachers in psychology is important for a future
professional performance, as well the theme approached in the workshop is of great
relevance, taking into account the educational context in which it was executed.

Keywords: education; sexuality; genre; adolescence


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Introdução
Compreende-se que a sexualidade é um fenômeno processual, marcado por
crenças, avanços e retrocessos, no que se refere à sua construção histórica. Dessa forma,
a sexualidade, caracterizada enquanto fenômeno e práticas, é inerente ao ser humano.
Entretanto, sua forma de constituição se dá por meio de uma construção social e, a partir
disso, modifica-se e adapta-se de acordo com o contexto no qual está inserida
(SPITZNER, 2005).
Todavia, faz-se essencial a discussão sobre as múltiplas dimensões que a
sexualidade humana pode apresentar, a saber: biológica, histórico-social, ética e
psicológica, uma vez que é importante fomentar o debate sobre as diversidades da
sexualidade humana e o respeito ao próprio corpo e ao do outro. Portanto, é de suma
relevância considerar, não somente o aspecto biológico, mas também o social, e as
construções que se desenvolvem a partir disso, formalizando sexualidades.
Considerando que a sexualidade é construída e reconstruída com o passar do
tempo e de diferentes formas, perpassando desde a sua caracterização relacionada
somente ao sexo, principalmente com fins para a procriação, até o paradoxo “liberdade
versus controle de corpos”, destaca-se a importância de realizar um recorte sobre o tema
para que, ao discuti-lo, as ideias sejam formadas com consciência e consistência.
Ao longo da oficina sobre Sexualidade e Gênero diversos temas transversais
foram abordados e trabalhados, com o intuito voltado à prevenção e à proteção da saúde
dos adolescentes. Com isso, parte das temáticas envolvidas englobam, por exemplo, a
disseminação da importância de relações baseadas no respeito e apoio, explicitação de
definições, tais como, orientação sexual e conceitos de identidade de gênero, explanação
sobre as alterações físicas e psicológicas observadas na puberdade, debate sobre as
implicações e consequências dos papéis sociais, dentre muitas outras.
Conforme apontado por Silva (2013), a sexualidade vivenciada na fase da
adolescência é atravessada por questões que ultrapassam a noção fisiológica, portanto,
torna-se imprescindível compreender o contexto social em que o sujeito se encontra
inserido. Entende-se também que, fatores como práticas culturais, valores éticos e
construção da personalidade, influenciam diretamente na forma como o adolescente
percebe e experiencia sua sexualidade.
Por sua vez, Sigmund Freud (1905) descreve em seu livro “Três Ensaios sobre
uma Teoria da Sexualidade”, que é por meio do prazer que a criança sente, e nas várias
partes do corpo que ela organiza sua própria existência. Na adolescência, o prazer passa
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a se dirigir ao outro. Constata-se então, que existe uma sensação de luto pela perda do
corpo infantil e a necessidade de aprender a lidar com uma nova sexualidade, a qual
provoca milhões de sensações inéditas. Nessa fase, os jovens, uma vez que estão no
processo de formação de suas identidades, também começam a confrontar-se com as
ideias de papéis impostos aos homens e mulheres na sociedade. Para Freud, é a nova
significação destes papéis que consolida a sexualidade de cada um.
Foucault (1988) pontua em seu primeiro livro sobre a “História da Sexualidade”
que,
[...] o fato de falar-se do sexo livremente e aceitá-lo em sua realidade é tão
estranho à linguagem direta de toda uma história, hoje milenar e, além disso, é tão
hostil aos mecanismos intrínsecos do poder, que isto não pode senão marcar passo
por muito tempo antes de realizar a contento a sua tarefa.

Mostrando por fim, como a história constitui aquilo que foi sendo construído
durante um longo período e, de que maneira isso pode se tornar permanente devido às
reproduções e os mecanismos de poder.
Em suma, a discussão sobre temas como sexualidade e gênero, na sociedade atual,
demonstra-se quase infindável. Essa percepção advém de contínuas mudanças retratadas
nas relações interpessoais e intrapessoais. Contudo, tais modificações não expõem um
cenário de desânimo, ao contrário, elas são responsáveis por fomentar os debates e as
trocas referentes aos temas em diversos espaços, evidenciando a importância da
aproximação de questões emergentes na sociedade aos adolescentes e o ambiente escolar.
Em face das colocações a respeito da construção da concepção de sexualidade e
de gênero e o interesse apresentado pela coordenação da escola e pelos estudantes do
colégio, evidencia-se os objetivos do presente artigo ao propor o relato da implementação
da oficina “Sexualidade e Gênero” dentro do contexto escolar.
A Oficina obteve como foco, a perpetuação de discussões e informações capazes
de contribuir com a comunidade, fomentando então um debate quanto aos dilemas e as
possibilidades presentes no contato dos adolescentes com o conteúdo preparado. Infere-
se que, a discussão sobre estes assuntos dentro do ambiente escolar possibilita o
amadurecimento diante das questões suscitadas neste contexto, permitindo o acolhimento
de dúvidas e os encaminhamentos adequados para cada situação.
A proposta inicial enfocou na identificação de possíveis dúvidas sobre as
temáticas, uma breve investigação sobre os conhecimentos prévios e na promoção de um
espaço empático e sem preconceitos, no qual pretendia-se criar abertura para o diálogo
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sobre questões que ainda são consideradas tabu na sociedade pós-moderna. Dessa forma,
através de observações do comportamento e falas trazidas, foi possível a seleção de
assuntos abordados para que a preparação da oficina ocorresse de forma que o conteúdo
tratado atendesse as demandas da turma.
A oficina teve duração de nove semanas, sendo em cada aula abordado um assunto
diferente, entretanto transversal aos já expostos, contando com uma semana anterior a
primeira oficina, separada pela orientadora para apresentação da atividade e exposição
dos objetivos aos alunos. Entretanto, independente do assunto abordado, durante as
atividades era sempre exposta e reforçada a importância do respeito com o outro.
Deste modo, por meio do Estágio II em Formação de Professores, com a forma
de estruturação da proposta por meio de oficinas semanais, obtivemos experiências que
nos possibilitaram ter uma relação muito direta e próxima com os alunos, fator facilitador
na condução do processo, criando um vínculo grupal e contribuindo para que as
discussões ocorressem sem julgamentos.
Nesse sentido, a licenciatura atrelada a formação em Psicologia nos deu aportes
para fazer com que essa experiência, como professoras de Psicologia, fosse construída
por meio de uma escuta guiada e olhar atento à observação de várias questões, indo muitas
vezes para além da teoria. É inegável que essas experiências também foram momentos de
muita reflexão e construção para ambas as partes.
A categoria profissional da Psicologia é muito conhecida, atrelada e estereotipada
às práticas clínicas, com isso, a inserção do licenciado em Psicologia ocorre de forma a
desmistificar a ideia do psicólogo somente para o fazer clínico e também reafirmar a
importância do mesmo em ocupar esses espaços. Por isso a docência nessa área se faz
cada vez mais necessária, para desmistificar tais pré-conceitos e trabalhar novas
possibilidades, dando aparatos para no seu fim contribuir para que a educação ocorra de
forma cada vez mais empática, acolhendo as necessidades e diferenças de cada um.

Método
O presente trabalho trata-se de um relato de experiência, que lançou mão da
técnica descritiva, própria da pesquisa qualitativa, sendo elaborado no contexto da
disciplina de Estágio Supervisionado de Formação de Professores II, ofertada no sexto
período do curso de Graduação de Psicologia da Universidade Federal da Grande
Dourados (UFGD) e realizada com um grupo de alunos do nono ano do ensino
fundamental e do ensino médio, de uma escola estadual da periferia do município de
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Dourados - MS. O objetivo primordial da oficina foi o de possibilitar reflexões e


desconstruções no que tange o assunto da sexualidade na adolescência.
No que diz respeito à seleção dos participantes da oficina, uma lista para inscrição
dos nomes e respectivas séries foi repassada nas salas do nono ano do ensino fundamental
e nas do ensino médio, e os estudantes aderiram livremente. Participaram da oficina 20
alunos, sendo 15 do nono ano e 5 do ensino médio, com idades variando de 14 a 17 anos.
O projeto contou com um dia para apresentação da oficina e exposição dos objetivos aos
alunos.
A oficina ocorreu entre os meses de agosto a outubro de 2019. Utilizou-se de 50
minutos para cada, realizados sempre às terças-feiras, sem reposições e organizados em
formato de rodízio de horário, de modo que não atrapalhasse o andamento das atividades
do professor regente das turma participantes. Assim a distribuição dos horários aconteceu
da seguinte forma: na primeira semana, a oficina foi ministrada no primeiro tempo, das
7:20 às 8:10 horas; na segunda semana, no segundo horário, das 8:10 às 9:00 horas; e
assim por diante.
A fim de construir um momento educativo e interativo, foram utilizados diferentes
métodos como textos, vídeos e outras atividades, para complementar de forma dinâmica
os assuntos apresentados, tal como discussões em grupo e produção de cartazes. As
cadeiras eram agrupadas em círculo, acontecendo no formato de roda de conversa,
visando uma maior interação, assim, após o final de cada atividade realizada havia o
momento da discussão, em que se construía a partir da exposição de dúvidas e pontuações
sobre a atividade e o assunto abordado, dessa forma sempre objetivando a criação de um
momento de interação e troca de saberes.
As oficinas foram divididas em tópicos previamente selecionados pelas
acadêmicas, do modo exposto na tabela abaixo, em que cada número representa uma aula
na sequência de um a nove (total de aulas expostas):
Tabela 1
Planejamento das aulas
1 Exposição do tema e explicação sobre o funcionamento da oficina; apresentação
dos alunos e das estagiárias e; aplicação do questionário (Figura 1).

2 Contextualização sobre a construção da sexualidade modificada ao longo dos anos


e; consideração das possibilidades e proibições referentes à vivência sexual e a
caracterização do gênero nos diferentes períodos históricos.

3 Explanação sobre a divisão binária de gênero e; construção social dos papéis


definidos a cada um.
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4 Explicação sobre os tipos de violências (psicológica, física, sexual, patrimonial)


abordando suas principais características, com informações sobre como identificá-las e onde
solicitar ajuda, com posterior confecção de cartazes.

5 Apresentação dos cartazes produzidos pelos alunos; explicitação do que significa e


o que envolve a ideologia patriarcal, subsequentes do surgimento e relevância das lutas
feministas – desde o século passado – e; o evidenciamento das formas de empoderamento,
levantando aspectos como autoconhecimento e respeito para consigo e para com outros.

6 Explicação de cada letra da sigla LGBTQIA+ com explanação da


representatividade dela na sociedade e; apresentação de algumas bandeiras do movimento,
seguidas de uma abordagem histórica a respeito das lutas e conquistas desta comunidade,
elaborando ideias sobre empoderamento individual e a importância do apoio social.

7 Discussão sobre a construção social do que significa ser adolescente e; sobre as


mudanças que essa fase acarreta, física, sexual, psíquica e emocionalmente na vida de um
indivíduo.

8 Apresentação de perguntas para a realização de uma dinâmica de “mito versus


verdade” a respeito da saúde do homem e da mulher, métodos contraceptivos e doenças
sexualmente transmissíveis.

9 Finalização da oficina com esclarecimento de possíveis dúvidas que ainda não


tinham sido respondidas e aplicação do questionário modificado (Figura 2).

Considerou-se de grande relevância a aplicação do primeiro questionário (Figura


1), formulado pelas próprias acadêmicas, uma vez que entendeu-se a necessidade de
identificar o público com o qual estávamos conversando. Para tanto, registraram-se: a
quantidade de alunos do sexo feminino e do sexo masculino, seguidos de suas respectivas
idades; quantos deles já haviam se envolvido em uma relação sexual; o que
compreendiam pelos termos “sexualidade” e “gênero”; se já tinham discutido sobre o
tema com alguém e se sim, com quem e; quais as possíveis dúvidas sobre o assunto, com
o intuito de auxiliar na construção e avaliação do planejamento previamente estruturado
pelas estagiárias.
Para fins de dinamização dos conteúdos trabalhados, algumas aulas foram
programadas como segue a exemplificação abaixo:
Primeira aula: aplicação de questionário (Figura 1) e dinâmica de apresentação
entre os alunos.
Segunda aula: explicação dos diferentes modos de se compreender a sexualidade
durante as diversas épocas da civilização.
Terceira aula: divisão dos alunos em grupos de três ou mais pessoas para discussão
do assunto e apresentação das suas opiniões sobre as definições dos papéis de gênero com
base no que havia sido exposto pelas acadêmicas.
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Quarta aula: divisão dos alunos em quatro grupos, ficando cada um responsável
pela confecção de um cartaz que abordasse um dos seguintes tópicos, estabelecidos
através de sorteio: a) tipos de violência de gênero; b) como identificá-las; c) a quem
recorrer; d) mitos e verdades acerca do assunto. Finalizou-se a atividade com a posterior
apresentação e exposição dos cartazes em sala, de modo a compartilhar as produções.
Quinta aula: apresentação dos alunos sobre as produções da aula anterior que
abordasse o nível de dificuldade em confeccionar o cartaz, porque a utilização de
determinadas imagens, entre outros.
Sexta aula: utilização de slides expondo as bandeiras do movimento LGBTQIA+.
Sétima aula: transmissão de cenas de quatro filmes: “As Vantagens de Ser
Invisível”, “Com amor, Simon”, “Uma Sexta-feira muito Louca” e “Meninas Malvadas”
e, de um episódio da série “Todo mundo Odeia o Chris”. A escolha de cada obra
cinematográfica se deu pelo fato de que todas tratam de assuntos pertinentes ao período
de desenvolvimento em questão como por exemplo: relacionamentos de amizades,
relações homo afetivas, vivência com responsáveis e recortes raciais.
Oitava aula: exposição de slides com 25 perguntas selecionadas pelas estagiárias
sobre as temáticas.
Nona aula: disponibilização de uma caixa e de post-its para que os alunos, e
também as estagiárias, pudessem escrever suas dúvidas ou afirmações de modo anônimo
e, por conseguinte, após embaralhamento, os próprios alunos respondessem suas
concepções sobre o que liam. Aplicação do questionário modificado (Figura 2).
O questionário (Figura 1) foi reaplicado com algumas modificações (Figura 2), no
qual, a priori, questionamos as expectativas dos alunos diante a proposta e,
posteriormente, os feedbacks dos mesmos, objetivando-se assim, identificar se os
conceitos chaves da oficina, “sexualidade” e “gênero”, haviam sido compreendidos pelos
alunos; se após as aulas, eles haviam tocado no assunto com mais alguém que não as
estagiárias; se todas as dúvidas foram esclarecidas e se não, quais eram e; classificação
da oficina em um valor, variando de um a cinco com suas respectivas significações e a
justificativa para tal escolha.
Em todas as aulas, as cadeiras foram dispostas em círculo ou semicírculo para que
todos pudessem estar mais próximos uns dos outros, e de forma que a relação se tornasse
transversalizada ao invés de vertical.
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Todos os materiais e planejamento de aulas, desde as impressões dos questionários


até os instrumentos para a confecção dos cartazes, foram de total responsabilidade
financeira das estagiárias.

Considerações Finais
Inicialmente, quando se discutiu sobre a importância da temática e, sobre qual a
melhor maneira de abordá-la dentro de uma sala de aula, levou-se em consideração a
forma como o assunto é visto e abordado socialmente, muitas vezes posto como um tabu
relacionado à uma determinada concepção de educação familiar e moral no contexto
ocidental-brasileiro.

Para além da associação existente entre adolescência e adoção de comportamentos


de risco, o fato da estrutura curricular não possibilitar discussões sobre o tema, a falta de
engajamento dos profissionais envolvidos na educação para lidar com tais conteúdos,
somada à preocupação frente a estes comportamentos viabilizou que, a demanda por
discorrer sobre sexualidade e gênero nos alcançasse. Pode-se então afirmar que, além do
compromisso de promover reflexões, o trabalho desenvolvido com os alunos apresentou
um caráter preventivo de elaboração crítica;

Ademais, havia um grau de receio compreensível por parte das acadêmicas, uma
vez que, abordar questões sobre sexualidade e gênero com pré-adolescentes, dentro de
uma escola, uma vez demando pela mesma e parte do desejo dos alunos, traz em si uma
responsabilidade bastante demarcada sobre tudo o que seria produzido e os resultados que
emergiriam a partir disso.

Como estagiárias em licenciatura, foi preciso nos desvencilharmos de toda ideia


de intervenção psicológica, cientes de que nosso único trabalho seria dar aula.
Deveríamos nos ater a abordar os assuntos mais relevantes sobre o tema, buscando
suscitar reflexões e desconstruções, mas sempre conscientes de que a exteriorização de
qualquer problema deveria ser devidamente encaminhado e não teríamos autoridade para
lidar com qualquer tipo de relato que se assemelhasse a tudo que seria discutido – a
exemplo, nas aulas dadas sobre violência. Nosso esforço voltou-se totalmente à criação
de uma espaço empático, respeitoso e acolhedor, no qual todos pudessem sentir-se livres
e confortáveis em compartilhar suas vivências, sabendo que teriam uma escuta
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disponível, mesmo que a resolução de suas experiências marcadas por conflitos não fosse
tão acessível em um primeiro momento.

Encontrar formas de trabalhar sob tal adversidade constituiu-se em uma tarefa


complexa, mas em seu fim, recompensadora. Através dos relatos, como por exemplo, os
manifestos nas aulas sobre violência como já citado, foi possível confirmar a importância
de tratar esses assuntos, uma vez que nada se mostrou distante da realidade dos alunos.
Eles, mesmo que não tivessem tido experiências diretas, ao menos conheciam vizinhos
ou amigos que já tinham passado por situações como as que descrevíamos como exemplo,
o que, de certa forma, os ajudou na elaboração de empatia pelos casos e, nos mostrou
como a demanda apresentada, de fato, tinha grande valor e sentido no contexto em que
fomos inseridas.

Sabemos que a desinformação sobre aspectos da sexualidade pode resultar na


cristalização de preconceitos; em gravidezes precoces; infecções sexualmente
transmissíveis; relacionamentos abusivos, entre muitos outros desdobramentos. A partir
disso, é indiscutível o quanto os debates, dentro do ambiente escolar, voltados à tal fase
do desenvolvimento, tornam-se imprescindíveis.

Tanto as dúvidas por parte dos alunos, quanto as discussões e partilhas realizados
pelos mesmos, possibilitaram o entendimento do tema para além de ideias fixas e
preconceituosas que são interpostas pela sociedade. A concretização de um espaço de
escuta, pautado no respeito, permitiu a exteriorização de experiências subjetivas dos
sujeitos ali implicados, de forma a validar e potencializar o diálogo proposto. Viu-se
então, a formação deum cenário marcado por interesses significativos e empoderamento,
ao se permitir falar sobre aquilo que, se não em todas, na maioria das vezes, é reprimido
pela sociedade.

A fim de construir um espaço de diálogo sem julgamentos, contando com


significação recíproca, tanto para os alunos quanto para formação pessoal enquanto
futuras profissionais das estagiárias, a oficina permitiu a vivência de uma experiência
mais concreta e expressiva através do estabelecimento de novas relações.

A partir da experiência aqui relatada, espera-se que outros profissionais possam


discutir e se aprofundar, partindo da concepção de que esse é um recorte que pode vir a
nortear práticas e experiências de uma abordagem sobre o tema de forma mais saudável
e descolada de preconceitos.
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Referências

Foucault, M. (1988). História da Sexualidade: A vontade de saber. Ed. 13º. Rio de


Janeiro: Edições Graal.

Silva, A. (2013). Diversidade Sexual e de Gênero: A construção do Sujeito Social.


Universidade Federal do Pará (UFPA). Disponível em
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2175-
25912013000100003>

Spitzner, R. H. L (2005). Sexualidade e adolescência: reflexões acerca da educação


sexual na escola. Dissertação para obtenção do título de Mestre. Maringá.

Freud, S. (1996). Três ensaios sobre a Teoria da Sexualidade. Edição Standard Brasileira
das Obras Completas de Sigmund Freud, vol. VII. Rio de Janeiro: Imago.
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Lista de Figuras

Figura 1. Questionário

Figura 2. Questionário modificado

Figura 1

Figura 2

Lista de Tabelas

Tabela 1 – Planejamento das aulas.................................................................................6

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