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CONTEMPORANEIDADE
Resumo
O presente estudo tem como finalidade fazer uma reflexão teórica sobre a forma como a escola
recebe e se relaciona com a diversidade social no que diz respeito às desigualdades e às
diferenças sociais. Para isso, apoiou-se em autores tais como Boneti (2013) Bourdieu (1998),
Santos (2010, 2013) Dubet (2005, 2006), Valle e Ruschel (2009). Entendendo ser a escola fruto
da construção histórica da modernidade, procurou-se compreender os papéis atribuídos,
historicamente, a ela e como isso vem se configurando na contemporaneidade. Buscou-se
analisar a instituição escolar concebida como espaço disciplinar permeada pelos preceitos
positivistas, e como, nessa perspectiva, vai dar conta de atender à diversidade social.O ponto
de partida para a reflexão que se propõe é o entendimento que a modernidade ainda não se
extinguiu, na medida em que os dois referenciais mais categóricos desse período – o modo de
produção capitalista e a burguesia - também não se extinguiram. Em razão disso, entende-se
que vivemos, ainda, um período de predominância do modelo global da racionalidade científica,
portanto, um modelo totalitário, conforme nos lembra Boaventura de Souza Santos (2010) por
negar o caráter racional a todas as demais formas de conhecimento que não estejam norteados
pelos seus princípios epistemológicos e pelas suas regras metodológicas. Portanto,
considerando que vivemos ainda a modernidade, cujos fundamentos epistemológicos estão
pautados na razão científica, e em preceitos tais como o etnocentrismo e a homogeneização,
como pensar na possibilidade de que a escola venha a acolher as diferenças sociais? Discute-se
como a escola reage às diferenças de sujeitos que fogem do parâmetro de “normalidade”
estabelecido como sendo o padrão referencial para um determinado grupo ou sociedade e cujos
1
Professora, Doutora em Educação pela Pontificia Universidade Católica do Paraná; Mestre em Educação, linha
de pesquisa Gestão e Politicas Públicas de Educação. Atualmente, Diretora do Departamento de Direitos Humanos
e Cidadania da Secretaria da Justiça Trabalho e Direitos Humanos do Paraná. re_bley@ig.com.br
ISSN 2176-1396
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atributos se destacam dos demais em razão da cor, etnia, orientação sexual, deficiência física,
dentre outros.
Introdução
pessoas com deficiência, pessoas LGBT2, que alcança o ensino médio e, mais ainda, o ensino
superior é, ainda muito pequena, em que pesem os discursos e as estratégias utilizadas pelos
governantes e os esforços que vêm sendo envidados pela comunidade escolar em direção à dita
educação inclusiva. Isso denota histórias de vida e trajetórias escolares marcadas por
reprovações, interrupções, abandonos, fugas da escola.
O fato é que toda essa problemática não se reduz e se encerra com o fechar dos portões
e dos muros escolares; ela está relacionada e tem a sua origem no campo social. E isso em nada
alivia a escola; ao contrário, demonstra o grau de complexidade que encerra a questão e o grande
desafio que se coloca para o enfrentamento das desigualdades sociais, para o reconhecimento e
o respeito à diversidade social.
Lembramos Santos (2013) quando diz que vivemos um tempo de normatividade
aparentemente apolítica e globalizada, o qual serve de base para uma sociedade composta por
indivíduos dominados pela ideia de autonomia individual, sendo esta autonomia considerada a
chave do sucesso na sociedade. Nesses termos, a construção desta autonomia e o resultado dela,
seja positivo ou negativo, são de responsabilidade exclusiva do indivíduo.
O caráter normativo desse tempo, diz Santos (2013, p. 9), se dá em razão de que, à
medida que os indivíduos se tornam donos dos seus destinos no que diz respeito à construção
da sua autonomia, a sociedade pode “legitimamente” abandoná-lo caso os seus fracassos sejam
considerados como resultantes de inépcia no exercício desta autonomia. Sendo a autonomia
entendida como um compromisso pessoal do indivíduo consigo próprio, cabendo ao sistema
político e às relações sociais apenas o dever de garanti-la, esta normatividade assume um caráter
apolítico, como destaca o autor. É desta ideologia que emerge o homo socioligicus do
neoliberalismo, ser associal ou mesmo antissocial, que se constitui em uma versão muito mais
ampliada do homo econômico da economia neoclássica (SANTOS, 2013).
O autor chama a atenção para a forma como essa ideologia contribui negativamente para
o processo de construção da justiça social, visto que os produtos resultantes das políticas nela
fundamentadas se mostram incapazes de gerar a indignação moral e a vontade política
necessária para combater eficazmente as desigualdades e criar uma sociedade mais justa e mais
digna (SANTOS, 2013, p. 10).
Em uma perspectiva muito próxima do que coloca Santos, François Dubet (2006, p. 34),
2
LGBT é a sigla que se refere a pessoas Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais, ou seja, pessoas
com orientação sexual diferente da heterossexual ou com identidade de gênero diferente do sexo biológico.
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Tudo isso, diz Foucault (2014, p.134), com o objetivo de disciplinar corpos, tornando-
os ‘dóceis” por meio da utilização de mecanismos e técnicas de poder, a exemplo da relação
hierárquica que permeia o ambiente escolar.
A configuração arquitetônica denuncia o poder disciplinar e o controle exercido dentro
da escola pelo corpo diretivo, com o seu “olhar panóptico” sobre professores e alunos, em uma
clara manifestação em favor de que a disciplina faça o espaço escolar funcionar tal e qual uma
máquina de ensinar, mas também “de vigiar, de hierarquizar e de recompensar” (FOUCAULT,
2014, p.135).
Com isso, estabelece-se uma relação de poder e, consequentemente, de sujeição dos
indivíduos.
Assim, o poder disciplinar e o controle vão se replicando por meio das hierarquias, dos
uniformes, dos controles de frequência e de horários, dos exames e testes padronizados e
objetivos, com o intuito de estabelecer um “controle normalizante” que possibilita “qualificar,
classificar e punir” (FOUCAULT, 2014, p.175).
determinado ao aluno na dinâmica escolar, pois a escola “estabelece normas que visam
organizar o seu funcionamento”, as quais são “formuladas e implementadas de forma unilateral,
sem levar em conta a palavra do aluno”, tornando-se, portanto, ineficazes. Outro aspecto
apontado pela autora e que se constitui em ponto de conflito na escola diz respeito à falta de
diálogo dos adultos representados pelos professores, diretores e outros membros do corpo
técnico pedagógico com os jovens, o que denota falta de interesse pela cultura, pelas condições
de vida dos jovens o que vai além da sua identidade como aluno.
Esses fatores levam, segundo a autora, a um cenário dentro da escola onde nem sempre
as relações sociais são amistosas e harmônicas e onde os alunos e professores não se unem em
torno de objetivos comuns. “Ao contrário, diz, a convivência na escola pode ser marcada por
agressividade e violências, muitas vezes naturalizadas e banalizadas, comprometendo a
qualidade do ensino-aprendizagem” (ABRAMOVAY, 2005, p.30).
Nessa perspectiva, Martuccelli e Barrere (2001, p. 270) acenam para a importância da
comunicação, destacando que a escola deveria se abrir para novos debates e, em especial, sobre
dois temas que são centrais: o primeiro, sobre a necessidade de reconhecimento da comunicação
entre indivíduos que pertencem a horizontes culturais diversos; e o segundo relacionado aos
conteúdos éticos que atuam nesse desejo de comunicação, especialmente no que diz respeito à
abertura para o Outro.
Entendendo ser a escola um espaço privilegiado de socialização, por constituir-se em
espaço de encontro de adolescentes e jovens, conforme dito anteriormente, Abramovay (2006,
p. 30) chama a atenção, entretanto, para a qualidade dessas relações entre os jovens e destes
com os adultos da escola, uma vez que é isso que irá definir se as relações serão mais amistosas
ou mais suscetíveis à ocorrência de conflitos. “A partir disso, a escola poderá se constituir em
local de encontros e amizades ou poderá tornar-se um ambiente permeado por indiferenças,
tensões, conflitos e violências”.
Ao pensarmos no papel desempenhado historicamente pela escola no que diz respeito à
sua função de assegurar a integração social, podemos recorrer aos estudos de Dubet (2006).De
acordo com o autor, a escola republicana nasce com a função de construir uma “identidade
nacional, moderna e democrática” (DUBET, 2006, p. 51), ou seja, a formação de uma nação
por meio da aprendizagem de uma língua comum e de uma narrativa da epopeia francesa por
meio do ensino de geografia e história. A moral, também, lembra Dubet, era entendida como a
difusão de princípios comuns a todos, independentemente da sua diversidade, fosse do ponto
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54). A integração escolar dos alunos fragiliza-se pois passa a ser dominada por uma crescente
tensão entre o próprio mundo escolar e o mundo da juventude, criando-se um distanciamento
entre o jovem e o aluno, tensão que pode ir da coexistência até o conflito, segundo o autor.. Os
colégios enfrentam uma crise de motivações visto que nem todos os alunos foram programados
segundo as regras de uma escolaridade longa. “O tema da violência e da falta de civismo, que
podia parecer marginal, ocupa já uma grande parte da vida dos estabelecimentos”, diz Dubet
(2006, p. 55).
Diante do exposto pode-se depreender e extrair do pensamento de Dubet que se por um
lado a escola alargou a sua função de integração e de influência sobre a vida dos indivíduos,
por outro, tornou-se alvo de expectativas e de críticas, podendo recair sobre ela a
responsabilidade sobre os fracassos educativos e pelo desemprego, assim como pela
manutenção das desigualdades sociais. A escola deve, agora, gerir, ao mesmo tempo, públicos
diferentes com expectativas diversas e muitas vezes contraditórias, o que faz com que a relação
pedagógica se encontre desregulada, lembra Dubet. Nessa perspectiva, a escola pode
transformar-se em uma “máquina de exclusão, visto que a reprovação escolar condena à
relegação social” (DUBET, 2006, p. 55).
Em uma perspectiva muito próxima da de Dubet, Martuccelli e Barrere (2001, p. 258)
afirmam que a função da escola, na modernidade, além de ser a transmissão de conhecimentos
e de seleção social, esteve sempre associada a dois outros processos, quais sejam, o de
possibilitar a integração dos indivíduos à sociedade como forma de garantir a continuidade da
vida social, e o de se nortear por uma figura ideal de indivíduo, ou um “tipo ideal”, à qual todos
acabam aderindo, de uma forma ou de outra. São a igreja e a escola os meios privilegiados para
a transmissão dessas “figuras éticas consensuais do indivíduo”, as quais podem variar de acordo
com as sociedades e o momento histórico, mas em todos os casos, “uma figura ideal de sujeito
exerce uma ascendência sobre o indivíduo”, afirmam os autores (MARTUCCELLI; BARRERE,
2001, p. 258). Entendendo por moral uma herança normativa deontológica, baseada
essencialmente no caráter obrigatório, universal e imposta do exterior da norma, e ética como
“uma herança normativa antes teleológica, organizada em torno do objetivo de uma boa vida”,
os autores asseveram que ambas as dimensões da escola acima referidas estão relacionadas a
problemas de moral e de ética (MARTUCCELLI; BARRERE, 2001, pp. 260-261).
Os mesmos autores partem da concepção, e da constatação, assim como muitos outros
teóricos, que a modernidade foi palco de uma ruptura entre passado e presente e do ingresso no
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2013, p. 274).
Dentre as dinâmicas do mundo social a partir das quais se originam os debates sobre as
desigualdades e diferenças na educação brasileira, Boneti (2013) destaca dois, os quais guardam
estreita relação entre si: (1) a construção histórica do arcabouço institucional da educação, ou
seja, seu conjunto de regras, de normas e de valores, e (2) novos processos sociais ocorridos na
história do Brasil e que vão trazer novos significados para a educação brasileira. Esses debates
coincidem com a constatação de que as políticas educacionais, assim como a prática educativa,
estão fundamentadas nos preceitos do pensamento positivista, tais como a cientificidade como
modelo de “civilidade”, a partir do modelo burguês de distinção de classe; a evolução; o
preceito da homogeneidade, traduzindo a ideia de normalidade.
Qualquer processo de homogeneização gera, por si só, exclusão, pois parte de um
modelo referencial, um ideal-tipo, uma percepção binária do mundo e dos fenômenos sociais.
Na escola, assim como na sociedade contemporânea, é dessa forma que se estabelecem as
relações sociais, binariamente, assegurando o acesso de alguns e de outros, nem tanto.
Portanto, entende-se que se torna muito difícil obter-se sucesso em análises que
pretendam ter como foco as diferenças e as desigualdades na escola contemporânea sem que se
leve em conta os aspectos acima referenciados, visto que esses preceitos vão se desdobrar em
parâmetros de normalidade, de evolução ou progressão, de homogeneidade, o que impede que
os indivíduos ou grupos sociais singulares ou diferentes sejam tratados como tal, seja no âmbito
das políticas educacionais, seja na dinâmica do dia a dia.
A título de ilustração, pesquisa recente realizada pela Associação Brasileira de Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis e Transexuais3 (ABGLT, 2016) revela o quanto são preocupantes
as situações de violência no ambiente educacional brasileiro no que diz respeito à discriminação
e outras formas de violência, tais como agressões físicas e verbais, por conta da diversidade
sexual. A referida pesquisa revelou por meio das 1060 (mil e sessenta) respostas obtidas, que
60% (sessenta) dos (as) adolescentes e jovens se sentiram inseguros (as) na escola no último
ano em razão de sua orientação sexual, enquanto 43% (quarenta e três) se sentiram inseguros
por conta de sua identidade ou expressão de gênero. Mais preocupante ainda é a constatação
3 Trata da “Pesquisa Nacional sobre o Ambiente Educacional no Brasil 2016, realizada pela Secretaria de
Educação da ABGLT, com o apoio da Fundación Todo Mejora, do Chile. Foi desenvolvida concomitantemente
em mais cinco países latino-americanos, além do Brasil (Uruguai, Argentina, Chile, Peru, Colômbia) e teve como
objetivo investigar as experiências que adolescentes e jovens LGBT vivenciaram nas instituições educacionais
relacionadas à sua orientação sexual e/ou identidade/expressão de gênero.
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que 73% dos adolescentes e jovens sofreram agressões verbais na escola por conta da orientação
sexual e 68% por conta da identidade/expressão de gênero. Com relação à escola, 36% (trinta
e seis) avaliaram como tendo sido ineficazes as providências adotadas pelos profissionais da
escola para impedir as agressões e apenas 8,3% dos estudantes disseram ter conhecimento sobre
alguma disposição relacionada à orientação sexual no regulamento da escola. Só para se ter
uma ideia da dimensão do problema, a referida pesquisa apontou também uma relação entre os
níveis de agressão sofrida e a frequência de faltas à escola (58,9% comparados com 23,7% entre
os/as que sofreram menos agressão), e a relação entre o nível de agressão por conta da
orientação sexual ou expressão de gênero e a probabilidade de relatar níveis mais elevados de
depressão.
As novas dinâmicas a que Boneti (2013) se refere remetem aos anos trinta do século
XX, ou um pouco antes, período de grandes transformações sociais no Brasil, em especial a
chamada “Revolução Burguesa”, período em que a educação passa a ter outra finalidade em
razão das mudanças na base produtiva do país, que deixa de ser agroexportador e passa a ser
urbano-rural. Nesse novo cenário, a finalidade maior da educação deixa de ser a transmissão da
cultura e passa a ser a preparação para o mundo produtivo, lembra Boneti (2013).
A contradição, diz Boneti (2013), reside no fato de que, se por um lado esses processos
sociais fazem chegar na escola a singularidade e a diferença, por outro, preceitos tais como o
da homogeneidade, da evolução, da individualidade comportamental, da universalidade do
parâmetro do saber e da cientificidade, ainda presentes na institucionalização da educação, com
os quais a escola se depara, impõem sérias dificuldades à prática escolar quanto a lidar com as
diferenças e desigualdades sociais.
De acordo com Boneti (2013), na construção da noção de desigualdade existe uma
mescla de imaginário e de realidade, diferentes conceitos articulados, como é o caso da
condição social com a diferença, em que um não existe sem o outro. A diferença, diz, aparece
sempre como uma espécie de parâmetro de determinação da condição, explicitando “aquela
condição social, aquele comportamento e o modo de produção da vida que foge do padrão
convencional etnocêntrico”( BONETI, 2013, p.275)
Assim, a noção de diferença é vista, sempre, de forma positiva, enquanto que a
desigualdade, ao contrário, assume sempre uma conotação negativa. “A construção social da
noção de desigualdade faz dos iguais os desiguais”, diz, tendo em conta que a igualdade não se
refere, necessariamente, à maioria, mas a partir do conceito-padrão construído pelas classes
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dominantes. Nessa perspectiva, segue o autor, o igual “assume uma posição de comando, para
não dizer de dominador ou no mínimo de superioridade perante o diferente por se apresentar
possuidor do parâmetro a ser seguido” (BONETI, 2013, p.275).
Segue o autor:
Em outras palavras, a desigualdade, além de ter origem nas relações da vida real,
estabelece parâmetros de delimitação da condição social envolvendo relações de
dominação, que faz florescer ainda mais a desigualdade. Esses parâmetros partem de
critérios valorativos que envolvem habilidades, bens reais, culturais e simbólicos
normalmente em poder de segmentos sociais dominantes (BONETI, 2013, p.275).
nacionalização dos brasileiros, formar as elites condutoras, habilitar as novas gerações para
responder às exigências de um mercado de trabalho em expansão” (VALLE; RUSCHEL, 2009,
p.187).
As autoras chamam a atenção para o que decorreu desta mudança de finalidade da
educação, destacando que, inspirada nos ideais meritocráticos, à escola foi delegado o poder de
preparar o conjunto de uma faixa etária e assegurar uma repartição mais democrática das
posições profissionais e hierárquicas na sociedade.
Valle e Ruschel destacam de maneira muito assertiva que a partir das análises dos
dispositivos legais para a educação brasileira por ela realizada fica evidenciado de forma muito
clara que os sistemas de ensino brasileiros sempre foram “seletivos, diferenciadores e
regulados”, e que embora iguais em direito, as crianças e adolescentes da primeira metade do
século XX eram tratados de forma desigual, “sendo selecionados ou excluídos antes mesmo de
ingressarem na escola: a condição privilegiada de nascimento ou o fato de serem originários de
“universos sociais diferenciados” e distintos, consistia no único requisito para a escola dos
melhores” (VALLE; RUSCHEL 2009, p. 199), conforme já apontava Bourdieu.
Assim, a ideia de uma meritocracia escolar ganha legitimidade à medida que a inserção
na vida profissional supõe uma formação preliminar, conforme colocam Valle e Ruschel (2009,
p.198), na medida em que “à sua maneira, a escola participa ativamente dos grandes ideais dos
tempos modernos: a passagem de uma sociedade de posições transmitidas a uma sociedade de
posições adquiridas”.
Considerações finais
Se a escola vive uma crise moral, conforme afirmam Martuccelli e Barrere (2001), não
podemos deixar de reafirmar que esta crise está relacionada a uma outra, traduzida na forma de
organização racional e das relações sociais estabelecidas a partir da organização da sociedade
burguesa, ou seja, a crise da sociedade de classes que se traveste, altera o seu modus operandi,
mas continua em sua essência, desigual e excludente.
A escola vive, assim, dizem os autores, movimentos contraditórios que a atravessam.
Docentes vivendo seu trabalho cotidiano também como a “expressão de uma crise profunda”,
por não sentirem mais continuidade em tarefas pedagógicas do dia-a-dia e sua inserção “num
verdadeiro projeto educativo consensual e forte” (MARTUCCELLI; BARRERE, 2001, p.265).
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Referências
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______________. Quando a “sociedade” nos abandona. In: BALSA, Casimiro Marques; BONETI,
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MARTUCCELLI, Danilo; BARRERE, Anne. A escola entre a agonia moral e a renovação ética.
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__________________________. Pela mão de Alice: o social e o político na pós- modernidade.
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