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Reflexão Crítica
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1. Introdução
Este estudo faz parte do programa acadêmico de Gestão de Sala de Aula, integrado no
Mestrado em Ensino de Português no 3º Ciclo do Ensino Básico e no Ensino Secundário.
Especificamente, concentra-se no módulo ministrado pela professora Daniela Silva. O seu
propósito fundamental é promover uma análise das dinâmicas sociais presentes no ambiente
escolar, recorrendo a contribuições de renomados sociólogos da educação, como Pierre Bourdieu
e Stephen Stoer. Estes autores, reconhecidos pelo seu impacto no campo, fornecem uma base
teórica sólida para a reflexão sobre as complexidades das interações sociais no contexto
educacional.
A temática das desigualdades sociais e o seu impacto no sistema educacional constitui uma
área crucial de investigação na sociologia da educação. Neste contexto, torna-se imperativo
problematizar a presença e a manifestação dessas desigualdades no ambiente da sala de aula,
dando voz às complexidades que permeiam a interseção entre estruturas sociais e práticas
educacionais. Ao eleger este tema como objeto de análise, procuro não apenas compreender as
dinâmicas inerentes às disparidades sociais, mas também questionar de que maneira tais
desigualdades se manifestam no cotidiano escolar.
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2. A relação entre a família e o ensino
A relação dinâmica entre escola e sociedade sempre ocupou um papel central e onipresente
no campo sociológico, uma vez que a escola é considerada um fator estruturante crucial no
desenvolvimento dos indivíduos e, por conseguinte, das próprias sociedades. Segundo Ana Matias
Diogo (2005), a sociologia há muito demonstrou que o investimento dos indivíduos na escola não
é um fenômeno puramente individual, mas deve ser contextualizado na família. É também
amplamente reconhecido o peso determinante da família nas trajetórias escolares (Diogo, 2005,
p. 107).
Assim, para introduzir o tema de forma concisa, é essencial esclarecer o conceito de 'Capital
Cultural', uma ideia desenvolvida por Pierre Bourdieu na década de 70, destinada a analisar as
disparidades no desempenho escolar entre crianças de diferentes classes sociais. Seguindo a
perspetiva abrangente de Silva (1995, p. 25), Bourdieu amplia o alcance do capital cultural ao
considerá-lo como todas as formas pelas quais a cultura influencia as condições de vida do
indivíduo. Este capital pode manifestar-se em três estados distintos: o incorporado, o objetivado e
o institucionalizado.
Torna-se, portanto, evidente a noção de que diversos elementos, como o local de origem, o
apoio familiar, a tonalidade da pele e a comunidade a que pertencemos, estão intrinsecamente
ligados ao nosso estatuto social, desempenhando um papel crucial na disparidade de resultados
acadêmicos, que é o foco central desta reflexão. O privilégio de ser parte da maioria étnica, usufruir
de estabilidade familiar, habitar numa residência com condições adequadas, ter acesso à
educação e possuir todos os recursos necessários para tal é uma realidade não partilhada por
todos.
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O acesso desigual à educação muitas vezes começa cedo, com as disparidades nas
condições socioeconômicas dos pais. Crianças de famílias economicamente desfavorecidas
podem enfrentar obstáculos como a falta de acesso a recursos educacionais, livros, instalações
adequadas e até mesmo uma nutrição apropriada, o que pode afetar o seu desenvolvimento
cognitivo. Isso cria uma lacuna inicial entre estudantes de diferentes origens socioeconômicas, "se
tomarmos a noção do social nos diferentes sentidos do termo, isto é, englobando tanto as
tendências hereditárias que nos levam à vida em comum e à imitação, como as relações exteriores
dos indivíduos entre eles, não se pode negar que, desde o nascimento, o desenvolvimento
intelectual é simultaneamente, obra da sociedade e do indivíduo" (Piaget, 1977, p.242).
Uma vez que “existem, por outro lado, padrões de diferença social e cultural relativamente
às culturas ciganas e/ou de origem africana e à cultura da escola, que penalizam fortemente as
crianças/ jovens com origens étnicas que divergem da norma (isto é, branco, católico, urbano e
português-luso)” (Stoer,2008, p.134), decidi particularizar a minha reflexão nas crianças de etnia
cigana.
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n.º 85/2009, de 27 de agosto, tenha estabelecido o cumprimento da escolaridade até ao 12.º
ano ou até aos 18 anos, bem como a universalidade da educação pré-escolar para as crianças a
partir dos 5 anos de idade. No entanto, dados relativos a 2021, mostram que apenas 29% das
crianças tinham acesso ao pré-escolar; 27,1% não sabem ler nem escrever; 4,8% sabem ler e
escrever mas não completaram grau de ensino, 19,2% frequentaram o 1.º ciclo mas não o
completaram e apenas 22,5% possuem o 1.º ciclo (Magano & Mendes, 2016, p. 11).
Esse comprometimento e iniciativa devem partir dos educadores, como destaca Stoer (2008,
p. 142), exigindo uma efetiva implementação do princípio de igualdade de oportunidades. Essa
implementação depende da adoção de uma atitude e comportamento inter/multicultural
(antirracista; anti sexista) por parte dos professores.
Stoer (2008, p. 143), emerge uma distinção clara entre dois arquétipos de professores: o
Professor Monocultural e o Professor inter/multicultural. Essa dualidade reflete perspetivas
profundamente divergentes sobre a diversidade cultural e o seu papel no contexto educacional.
Enquanto o Professor Monocultural descortina a diversidade cultural como um entrave, o Professor
inter/multicultural apreende como uma rica fonte que potencializa o processo de ensino e
aprendizagem.
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O Professor Monocultural, ao adotar uma visão limitada, encara a diversidade cultural como
um obstáculo, uma variável que se desvia da suposta norma. Nesse contexto, a busca pela
homogeneidade cultural torna-se uma prioridade, com a valorização exacerbada da cultura
nacional em detrimento de outras expressões culturais. Esta abordagem monocultural implica não
apenas uma resistência às diferenças, mas também uma tendência a desconsiderar os saberes e
culturas que não se alinham com a perspetiva dominante.
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A minha convicção é que os professores se devem esforçar para se tornarem inter
multiculturais, abraçando a diversidade como uma força positiva em vez de uma ameaça.
No entanto, compreendo que essa transformação não ocorre sem desafios. Requer uma
mudança de mentalidade, um compromisso contínuo com a autocrítica e a disposição para
questionar as normas estabelecidas. É um processo que requer esforço coletivo, envolvendo não
apenas os professores, mas também as instituições educacionais, as famílias e a sociedade como
um todo. Tal como a professora Daniela mencionou, às vezes tendemos a ser ou possuir alguma
característica de uma Professor Monocultural.
Em última análise, minha opinião é que a educação deve ser um catalisador para a mudança
social, combatendo as discriminações enraizadas ao criar um ambiente que promova a igualdade,
a compreensão mútua e o respeito. Ao adotar práticas inter/multiculturais, os professores podem
contribuir significativamente para a construção de uma sociedade mais justa e inclusiva, onde as
diferenças são valorizadas e celebradas.
No âmbito do meu estágio, deparo-me com um contexto peculiar em que a minha turma de
intervenção revela uma notável homogeneidade cultural. A ausência de alunos pertencentes a
minorias étnicas e a perceção de que a maioria está inserida numa classe média (apenas 4 alunos
têm escalão) torna difícil a associação ao tema. Ao dialogar com a orientadora cooperante da
instituição onde estou a estagiar, esta assegura desconhecimento de qualquer aluno racializado
na escola e nega, ainda, a existência de segregação de turmas. Obviamente que os professores
desconhecem grande parte das discriminações perpetuadas na escola, no entanto, não consegui
obter nenhuma informação de que isso, de facto, acontecesse. O ambiente atual, caracterizado
pela homogeneidade cultural e pela ausência de diversidade étnica e socioeconômica, pode não
refletir as complexidades e desafios que frequentemente surgem em ambientes escolares mais
diversos, considerando que o meu estágio é realizado numa vila.
Assim, embora as condições do meu estágio atual não abriguem uma turma multicultural,
mantenho o compromisso de oferecer uma experiência educacional enriquecedora,
proporcionando aos alunos a oportunidade de explorar, compreender e apreciar a diversidade
cultural nas suas futuras jornadas, garantindo a não continuação das discriminações perpetuadas
na nossa sociedade contemporânea.
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3. Algumas considerações
Ao abordar especificamente as crianças de etnia cigana em Portugal, fica claro que persistem
desafios significativos no acesso à educação e no combate ao analfabetismo. A análise destas
desigualdades destaca a necessidade urgente de ações preventivas e remediativas, visando
resolver questões socioeconômicas subjacentes.
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4. Referências Bibliográficas
Diários de Notícias (25 de outubro de 2022). Risco de pobreza afeta 96% dos ciganos em
Portugal. Mais de 60% sentiu discriminação. https://www.dn.pt/sociedade/risco-de-pobreza-afeta-
96-dos-ciganos-em-portugal-mais-de-60-sentiu-discriminacao-15284740.html
Diogo, Ana. 2008. Investimento das famílias na escola. Configuração familiar e contexto
escolar local. Oeiras: Celta.
Oliveira, L. & Cruz, R. (2014). Capital cultural e educação: uma análise da obra de Bordieu.
Religião, poder e educação, pp. 1247-1255.
https://repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/41673/1/2014_eve_lksoliveirarccruz.pdf
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