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RESUMO
Este artigo investiga a relação entre família e escola na reprodução de desigualdades sociais,
utilizando uma abordagem bourdiesiana. O problema de pesquisa concentra-se na influência
da transmissão intergeracional de capital cultural e habitus na reprodução de hierarquias
sociais na educação. Os objetivos incluem analisar como a interação entre família e escola
contribui para a reprodução de desigualdades e identificar possíveis estratégias para mitigar
esse fenômeno. O arcabouço teórico baseia-se nas ideias de Bourdieu sobre capital cultural,
habitus e campo educacional. A metodologia empregada envolve revisão bibliográfica e
análise crítica de estudos empíricos. Os resultados revelam a importância das relações
familiares e escolares na perpetuação das desigualdades e destacam a necessidade de
intervenções que considerem as dinâmicas de poder e reprodução social.
Palavras-chave Bourdieu. Desigualdades sociais. Educação.
ABSTRACT
This article investigates the relationship between family and school in the reproduction of
social inequalities, using a Bourdieusian approach. The research problem focuses on the
influence of intergenerational transmission of cultural capital and habitus on the reproduction
of social hierarchies in education. Objectives include analyzing how the interaction between
family and school contributes to the reproduction of inequalities and identifying possible
strategies to mitigate this phenomenon. The theoretical framework is based on Bourdieu's
ideas about cultural capital, habitus, and the educational field. The methodology involves
literature review and critical analysis of empirical studies. Results reveal the importance of
family and school relationships in perpetuating inequalities and highlight the need for
interventions that consider power dynamics and social reproduction.
Keywords: Bourdieu, social inequalities, education.
INTRODUÇÃO
1
Licenciatura em Computação, Instituto Federaç do Pará, izabelle@ufpa.br
Este artigo inicia com uma revisão teórica sobre os conceitos fundamentais de Bourdieu,
destacando a importância do capital cultural, habitus e campo educacional na análise das
relações entre família, escola e desigualdades sociais. Em seguida, delineamos os problemas
de pesquisa propostos e os objetivos desta investigação, delineando assim a estrutura deste
estudo.
Esta pesquisa busca não apenas compreender os mecanismos pelos quais as
desigualdades são perpetuadas, mas também identificar possíveis estratégias para mitigar esse
fenômeno. Ao examinar criticamente a interação entre família e escola, busca-se elucidar
como as práticas e valores transmitidos dentro desses contextos influenciam as trajetórias
educacionais dos alunos, especialmente aqueles de origens socioeconômicas desfavorecidas.
Por meio de uma análise aprofundada, espera-se contribuir para uma compreensão
mais abrangente das dinâmicas de reprodução social na educação e fornecer resultados
valiosos para informar políticas e práticas educacionais mais inclusivas e equitativas. Este
estudo visa também argumentar sobre um aspecto crucial do sistema educacional
contemporâneo, destacando a importância de uma abordagem bourdiesiana para compreender
as complexidades das desigualdades educacionais.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
De acordo com Bourdieu (1964), a escola, longe de ser uma instituição libertadora,
atua como um mecanismo conservador que mantém a dominação dos grupos sociais
privilegiados sobre as classes populares. Isso ocorre de várias maneiras, desde a estruturação
do currículo e dos métodos de ensino até a seleção e avaliação dos alunos.
Essa dinâmica resulta em uma reprodução das desigualdades sociais, onde os filhos
das classes dominantes têm maior probabilidade de obter sucesso na escola e,
consequentemente, de alcançar posições de poder e prestígio na sociedade, enquanto os filhos
das classes populares enfrentam obstáculos maiores para avançar socialmente. (BOURDIEU;
PASSERON, 1964 p. 41).
A herança estratégica abrange uma gama ampla de recursos que são passados de pais
para filhos, contribuindo para a perpetuação das desigualdades sociais. Além do capital
econômico, que tradicionalmente tem sido visto como um fator determinante na posição
social de um indivíduo, a herança estratégica inclui também o capital cultural e social. Este
último é especialmente relevante, pois está intimamente ligado à capacidade de uma pessoa
acessar redes de relacionamentos privilegiadas e aproveitar oportunidades educacionais e
profissionais.
A primeira é empregada num sentido amplo, não como patrimônio econômico, mas
como patrimônio cultural, pois, além dos bens econômicos, herda-se um sobrenome,
um nível cultural, uma rede de relações, assim como bens simbólicos, não se
medindo esforços para preservar e mesmo ampliar o patrimônio herdado. (VALLE,
2003, p.3)
Esses recursos culturais não são adquiridos apenas por meio de herança biológica, mas
também são moldados pelas estruturas sociais e institucionais que privilegiam certos grupos
em detrimento de outros. Por exemplo, famílias de classes sociais mais altas têm mais
recursos disponíveis para investir na educação de seus filhos, proporcionando-lhes acesso a
escolas de maior qualidade, tutoria privada e oportunidades extracurriculares enriquecedoras.
A citação de Araújo (2006) traz à tona uma questão central na análise de Bourdieu
sobre o sistema educacional: a suposta igualdade formal que, na prática, favorece os alunos
que já possuem vantagens culturais devido à sua bagagem familiar privilegiada. De acordo
com Bourdieu, a escola, muitas vezes, perpetua e amplia as desigualdades sociais, em vez de
atuar como um mecanismo de equalização de oportunidades.
A igualdade formal no ensino, baseada na ideia de que todos os alunos têm as mesmas
oportunidades de aprender, é frequentemente contestada por Bourdieu. Ele argumenta que
essa igualdade formal favorece aqueles que já estão em vantagem devido ao seu capital
cultural, que é herdado da família e da cultura de origem. Assim, o que é compreendido e
assimilado pelo aluno na escola depende em grande parte de sua capacidade cultural prévia.
O domínio dos alunos sobre o conteúdo escolar varia de acordo com a proximidade
entre a cultura apresentada pela escola como legítima e a cultura familiar de origem dos
alunos. Quanto maior a distância entre essas duas culturas, maior o desafio para os alunos em
assimilar os conteúdos e ter sucesso acadêmico.
De acordo com Bourdieu, essa igualdade formal que pauta o ensino, privilegia
quem, por sua bagagem familiar, já é privilegiado, uma vez que o que é
compreendido e assimilado pelo aluno depende da sua capacidade cultural. Para este
autor, o domínio dos alunos varia de acordo com a maior ou menor distância
existente entre o arbitrário cultural apresentado pela escola como cultura legítima e a
cultura familiar de origem dos alunos. (ARAÚJO, 2006, p.63)
Essa disparidade cultural cria uma barreira significativa para os alunos de origens
desfavorecidas, que muitas vezes são excluídos ou marginalizados pelo sistema educacional.
As práticas de avaliação, seleção e promoção dentro da escola tendem a favorecer aqueles que
possuem uma afinidade cultural mais próxima com a cultura dominante, perpetuando assim as
desigualdades sociais existentes.
Valle (2003) destaca a instrumentalização dos sistemas de ensino por políticas que,
longe de promoverem a democratização real da educação, acabam por reforçar as
desigualdades sociais. Ao abordar a profissionalização obrigatória no ensino de segundo grau,
o autor evidencia uma preocupação com a falta de consideração do princípio da "igualdade de
oportunidades" na formulação e implementação dessas políticas.
METODOLOGIA
Além disso, a análise das informações relacionados ao ambiente escolar mostra que as
práticas educacionais muitas vezes favorecem os alunos provenientes de famílias mais
privilegiadas, perpetuando assim as desigualdades sociais. A seleção e avaliação dos alunos,
por exemplo, tendem a valorizar habilidades e conhecimentos que estão mais alinhados com o
capital cultural dominante, enquanto marginalizam outras formas de saber.
As contribuições desta pesquisa para o campo incluem uma análise aprofundada das
relações entre família, escola e reprodução de desigualdades sociais, bem como sugestões
para intervenções e políticas educacionais mais eficazes. Ao reconhecer o papel central desses
dois agentes na formação dos indivíduos e na reprodução das hierarquias sociais, podemos
trabalhar em direção a uma educação mais justa e inclusiva para todos.
CONCLUSÕES
BOURDIEU, P.; PASSERON, J. C. Les Hèritiers. Paris: Les Éditions de Minuit, 1964.
CARVALHO, Maria Eulina Pessoa de. Modos de educação, gênero e relações escola-famíl
GIL, Antonio Carlos. Métodos e técnicas de pesquisa social. 6. ed. - São Paulo: Atlas,
2008.ia. Cadernos de Pesquisa, v. 34, nº 121, p. 41-58, jan./abr. 2004.
LAKATOS, Eva Maria. Fundamentos de metodologia científica. 5. ed. – São Paulo: Atlas
2003.