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UFSC - Universidade Federal de Santa Catarina

CFH - Ciências Sociais


Sociologia da Educação
Prof. Eduardo Bonaldi

Resenha: Bourdieu, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à


escola e à cultura in Nogueira, Maria Alice & Catani, Afranio (org.) Pierre
Bourdieu - Escritos de Educação 11º edição Petrópolis: Vozes, 2011, pp. 39-65
Aluna: Larissa Miranda Domingos

A partir das discussões sobre reprodução das desigualdades sociais dentro do


sistema escolar e a manutenção da escola conservadora desses mecanismos de
transmissão cultural em favor das classes dominantes, surge uma importante
evidência estatística que demonstra as chances de acesso de alunos de diferentes
classes sociais, aos níveis escolares, de ensino superior e aperfeiçoamento
escolares. Com isso, aprofundaremos a leitura de Bourdieu sobre a Escola
Conservadora e seus mecanismos de reprodução das desigualdades.

Para isso, os apontamentos dos marcadores sociais que permitem a compreensão


de como se dá essa transmissão de conhecimentos a partir da instituição
familiar, do nível de escolaridade dos pais, de suas profissões e da maneira
como é complementada os assuntos que os filhos vêem nas escolas. É
necessário reconhecer as classes sociais e suas formas de transmissão desses
conhecimentos; Bourdieu irá falar sobre herança cultural e como isso está
vinculado com o êxito escolar. (p. 42)

A teoria da transmissão do capital cultural, de Bourdieu, está diretamente


vinculada ao nível cultural familiar e ao nível de aprovação da criança na
escola, o critério de “bom aluno” é associado à posição social e renda familiar,
se torna o marcador social segundo a qual confere com a pesquisa sobre a
aprovação escolar e o nível escolar dos pais, sejam diplomados ou não. Sendo
assim, filhos de pais que possuem um diploma, possuem mais chances de
ingressar no ensino superior, filhos de pequenos agricultores, possuem chances
de ingressar no ensino técnico e melhorar suas aptidões dentro do trabalho
familiar e também, filhos de classes mais abastadas, consequentemente, tendo
alguns insucessos em suas escolhas profissionais ou enfrentando o desemprego.
Contudo, a proposta teórica do autor para que o entendimento da transmissão
de capital cultural, se torna uma manifestação nítida do nível cultural dos pais e
familiares, na qual, influi diretamente na condição que o filho terá nas escolas,
esse apontamento, embora tenha de ser repetido, auxilia no entendimento de
diversas pesquisas que surgiram e poderão surgir na área da Sociologia da
Educação. O sistema escolar, acaba se tornando reprodutor das desigualdades
sociais dessas famílias, perpetuando o contraste não só do capital cultural, mas
social e político das famílias e grupos escolares, o motivo disso, é a
supervalorização da cultura das classes dominantes e consequente do discurso
de inferiorização de culturas populares, taxadas como inferiores ou “sem
cultura”.

O que ajuda a pensar não só nesses instrumentos de transmissão cultural, mas


também da preferência de uma cultura à outra e a inferiorização e
invisibilização de culturas populares, sendo interpretadas como insuficientes
para a capitalização e legitimação a partir do sistema escolar como reprodutor e
também transmissor das diferentes culturas. O apontamento sobre esse domínio
cultural, repete-se na lógica de dominação, onde o dominante exerce poder
sobre o dominado e supervaloriza suas ações e desvaloriza as outras culturas.

A problematização dessa lógica, se transfere para o campo do real, onde o


acesso ao ensino superior, direito à cidade, lazer e cultura, são tidas como coisas
eruditas, museus e cinemas, são quase inabitados por filhos da classe
trabalhadora. O nível cultural de filhos e filhas que possuem pais que
terminaram seus mestrados ou doutorados ou que possuem um rico capital
cultural, consegue transmitir a seus filhos, seus valores e culturas como
músicas, livros, filmes, ampliando não só o repertório cultural do jovem, mas
também trazendo pra instituição escolar, toda a transmissão de quem será
aprovado ou não, a partir dessas chances de acesso à cultura e à educação.

O sistema escolar, para Bourdieu, embora perpetuando as desigualdades sociais


entre as classes, deveria servir para minimizar as diferenças e
consequentemente, valorizar o desvalorizado, aprovar o reprovado. O capital
cultural age de acordo com um “ethos” implícito e interiorizado, com isso,
gerando um “habitus”, que são ações inconscientes que já foram interiorizadas
estruturalmente e socialmente. Por fim, temos três formas de compreender
melhor como funciona a transmissão do capital cultural e sua ideia, a partir dos
conceitos de incorporação, institucionalização e objetivação, na qual, cada uma
delas age de acordo com as ações legitimadas pela ordem social, institucional e
material das condições culturais, implicando nos seus acessos e formação desses
conteúdos.

Para concluir, de fato, a produção material das condições de reprodução social


de culturas, sejam elas interiorizadas ou não pela estrutura social das escolas, os
mecanismos de compreensão e assimilação fatual do conteúdo ensinado nas
escolas, tem sido associado à origem familiar e ao nível de habilidade e de
compreensão da dita “língua materna”, que é repassada em forma de herança
linguística. Esse nível de compreensão e assimilação é transmitida de forma
oculta nas famílias, sendo inconscientemente transmitidas e reproduzidas
socialmente, por exemplos: sotaques, gírias e linguajares específicos e
regionalizados. Posteriormente, desconstruindo a lógica da meritocracia ou do
“inatismo” das aptidões e habilidades sociais e educativas.

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