Resenha: Bourdieu, Pierre. A escola conservadora: as desigualdades frente à
escola e à cultura in Nogueira, Maria Alice & Catani, Afranio (org.) Pierre Bourdieu - Escritos de Educação 11º edição Petrópolis: Vozes, 2011, pp. 39-65 Aluna: Larissa Miranda Domingos
A partir das discussões sobre reprodução das desigualdades sociais dentro do
sistema escolar e a manutenção da escola conservadora desses mecanismos de transmissão cultural em favor das classes dominantes, surge uma importante evidência estatística que demonstra as chances de acesso de alunos de diferentes classes sociais, aos níveis escolares, de ensino superior e aperfeiçoamento escolares. Com isso, aprofundaremos a leitura de Bourdieu sobre a Escola Conservadora e seus mecanismos de reprodução das desigualdades.
Para isso, os apontamentos dos marcadores sociais que permitem a compreensão
de como se dá essa transmissão de conhecimentos a partir da instituição familiar, do nível de escolaridade dos pais, de suas profissões e da maneira como é complementada os assuntos que os filhos vêem nas escolas. É necessário reconhecer as classes sociais e suas formas de transmissão desses conhecimentos; Bourdieu irá falar sobre herança cultural e como isso está vinculado com o êxito escolar. (p. 42)
A teoria da transmissão do capital cultural, de Bourdieu, está diretamente
vinculada ao nível cultural familiar e ao nível de aprovação da criança na escola, o critério de “bom aluno” é associado à posição social e renda familiar, se torna o marcador social segundo a qual confere com a pesquisa sobre a aprovação escolar e o nível escolar dos pais, sejam diplomados ou não. Sendo assim, filhos de pais que possuem um diploma, possuem mais chances de ingressar no ensino superior, filhos de pequenos agricultores, possuem chances de ingressar no ensino técnico e melhorar suas aptidões dentro do trabalho familiar e também, filhos de classes mais abastadas, consequentemente, tendo alguns insucessos em suas escolhas profissionais ou enfrentando o desemprego. Contudo, a proposta teórica do autor para que o entendimento da transmissão de capital cultural, se torna uma manifestação nítida do nível cultural dos pais e familiares, na qual, influi diretamente na condição que o filho terá nas escolas, esse apontamento, embora tenha de ser repetido, auxilia no entendimento de diversas pesquisas que surgiram e poderão surgir na área da Sociologia da Educação. O sistema escolar, acaba se tornando reprodutor das desigualdades sociais dessas famílias, perpetuando o contraste não só do capital cultural, mas social e político das famílias e grupos escolares, o motivo disso, é a supervalorização da cultura das classes dominantes e consequente do discurso de inferiorização de culturas populares, taxadas como inferiores ou “sem cultura”.
O que ajuda a pensar não só nesses instrumentos de transmissão cultural, mas
também da preferência de uma cultura à outra e a inferiorização e invisibilização de culturas populares, sendo interpretadas como insuficientes para a capitalização e legitimação a partir do sistema escolar como reprodutor e também transmissor das diferentes culturas. O apontamento sobre esse domínio cultural, repete-se na lógica de dominação, onde o dominante exerce poder sobre o dominado e supervaloriza suas ações e desvaloriza as outras culturas.
A problematização dessa lógica, se transfere para o campo do real, onde o
acesso ao ensino superior, direito à cidade, lazer e cultura, são tidas como coisas eruditas, museus e cinemas, são quase inabitados por filhos da classe trabalhadora. O nível cultural de filhos e filhas que possuem pais que terminaram seus mestrados ou doutorados ou que possuem um rico capital cultural, consegue transmitir a seus filhos, seus valores e culturas como músicas, livros, filmes, ampliando não só o repertório cultural do jovem, mas também trazendo pra instituição escolar, toda a transmissão de quem será aprovado ou não, a partir dessas chances de acesso à cultura e à educação.
O sistema escolar, para Bourdieu, embora perpetuando as desigualdades sociais
entre as classes, deveria servir para minimizar as diferenças e consequentemente, valorizar o desvalorizado, aprovar o reprovado. O capital cultural age de acordo com um “ethos” implícito e interiorizado, com isso, gerando um “habitus”, que são ações inconscientes que já foram interiorizadas estruturalmente e socialmente. Por fim, temos três formas de compreender melhor como funciona a transmissão do capital cultural e sua ideia, a partir dos conceitos de incorporação, institucionalização e objetivação, na qual, cada uma delas age de acordo com as ações legitimadas pela ordem social, institucional e material das condições culturais, implicando nos seus acessos e formação desses conteúdos.
Para concluir, de fato, a produção material das condições de reprodução social
de culturas, sejam elas interiorizadas ou não pela estrutura social das escolas, os mecanismos de compreensão e assimilação fatual do conteúdo ensinado nas escolas, tem sido associado à origem familiar e ao nível de habilidade e de compreensão da dita “língua materna”, que é repassada em forma de herança linguística. Esse nível de compreensão e assimilação é transmitida de forma oculta nas famílias, sendo inconscientemente transmitidas e reproduzidas socialmente, por exemplos: sotaques, gírias e linguajares específicos e regionalizados. Posteriormente, desconstruindo a lógica da meritocracia ou do “inatismo” das aptidões e habilidades sociais e educativas.