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ENSAIO – EDUCAÇÃO E EXCLUSÃO

João Vitor Farias Martins

A partir da análise do documentário - “Pro Dia Nascer Feliz” – dirigido por João Jardim e
leitura do Artigo de Pablo Gentili - “O direito à educação e as dinâmicas de exclusão na América
Latina” - juntamente, às próprias vivências de uma determinada realidade educacional, teremos como
objetivo correlacionar os assuntos abordados, aprofundando-se no tema “Educação e Exclusão”, de
forma que, este seja reconhecido em sua totalidade por toda a população, vendo a Educação como
direito. Assim, retrataremos neste Ensaio duas realidades diferentes de uma Educação, que é
protagonista e que muda com o tempo, espaço e cultura.
A definição de educação específica de Freire é: educação é o processo constante de criação do
conhecimento e de busca da transformação-reinvenção da realidade pela ação-reflexão humana.
Segundo Freire, há duas espécies gerais de educação: a educação dominadora e a educação
libertadora. A dominadora apenas descreveria a realidade e transferiria conhecimento; a libertadora
seria ato de criação do conhecimento e método de ação-reflexão para a transformação da realidade.
Em ambos os objetos de base (Vídeo e Artigo) para a escrita deste ensaio, não temos um
aprofundamento na concepção de educação, ou o que distingue uma boa educação ou uma educação,
porém, inconscientemente são notórias as diferenças educacionais, que mudam de acordo com a
renda, meio social, gênero, raça e etnia.
O artigo procura trazer em seu corpo, os processos da exclusão social e seus efeitos à
educação e sempre trazendo como direito humano fundamental, uma educação de qualidade, base
para construção de sociedades mais justas e igualitárias, porém, o autor descreve e interpreta três
dinâmicas que interferem na realização desse direito na América Latina e no Caribe: a pobreza e a
desigualdade estruturais; a segmentação e a diferenciação dos sistemas de educação; em uma política
marcada pelo desprezo aos direitos humanos e na redução do valor da escola, em concorrência ao
pelos melhores cargos no mercado de trabalho. Neste sentido, “as desigualdades econômicas
reduziram o avanço dos progressos em direção à educação universal, pois o risco de abandonar a
escola é maior nos estratos sociais mais baixos” (UNICEF, 2006, p. 46). Palavras como exclusão,
pobreza e desigualdade, estão por todo o trabalho, e estás como muitas outras são fatores
preponderantes para impactar o sistema escolar, interferindo e fragilizando as condições para o
exercício do direito à educação, ademais, sobre a população indígena e negra, que em muitos casos
fazem parte de uma comunidade mais fragilizada e desigual.
O documentário traz logo no início que 97% das crianças em idade escolar entram na escola.
Com o passar dos anos, muitos abandonam, 41% não concluem a 8ª. Série. E segundo o MEC, a
metade dos estudantes do ensino fundamental não consegue ler ou escrever corretamente. Esses dados
podem ser explicados ou significados em áreas citadas no artigo, onde Gentili (P.14) menciona:
a) Acesso e progressão educacional diferenciada;
b) Discriminação pedagógica e conquistas escolares desiguais em virtude de critérios de
gênero, desigualdades regionais, raciais e étnicas;
c) Herdabilidade das oportunidades educacionais;
d) Qualidade educacional desigual.
e) Injustiça curricular.
f) Distribuição desigual das oportunidades educacionais: docentes diferentes, escolas
diferentes, recursos pedagógicos diferentes, “concorrências” diferentes, aprendizagens diferentes,
expectativas educacionais diferentes, sucessos e fracassos diferentes.

Dessa forma podemos analisar que temos diversos fatores que variam e tornam a educação
desigual, injusta, insuficiente, mais polarizada, segmentada, diferenciada. Gentili ainda diz que,
“todos têm o mesmo direito à educação, mas nem todos exercem da mesma forma seu direito à escola,
motivo pelo qual os resultados do processo de escolarização são tão desiguais como são desiguais as
condições de vida de grupos, classes, estratos ou castas que compõem a sociedade ou, em termos mais
precisos, o mercado.”. Toda a sociedade brasileira, governo, gestores, professores e alunos, precisam
reavaliar as condições de ensino aprendizagem, suas relações sociais e objetivos dentro de uma
sociedade, que seja mais justa e igualitária, dando suporte a regiões e comunidades desfavorecidas.
Falando sobre tais comunidades, o documentário nos apresenta a realidade de Manari, um município
do estado de Pernambuco e que nos anos 2000, foi considerado o mais pobre do país e que permanece
apresentando um baixo índice de Desenvolvimento Humano.
Analisamos a realidade de escolas e colégios, de diversos estados pelo Brasil, onde
observando os contextos de estrutura, salas, carteiras, janelas e portas, piso, paredes, livros, banheiros,
telhado, itens de limpeza, higiene, merenda escolar. São todos em péssimos estados, dessa forma
prejudicam o desenvolvimento dos alunos em sala de aula e dificultam o trabalho dos professores.
Muitas famílias acreditam no potencial de seus filhos e que imaginam um bom futuro para eles
através dos estudos, mas, há casos que os pais interferem e não deixam a criança assistir aula, para
ajudar em casa ou terem que trabalhar. Também presenciamos casos que os próprios professores,
desestimulam o desenvolvimento dos alunos, duvidando de suas capacidades e querendo limitá-los a
sua realidade, implicando que não possuem um futuro, fora dessa mesma realidade. Ao analisar os
grupos sociais, culturais, raça/cor, renda e desenvolvimento social, vemos que muitos são de pardos,
negros ou indígenas, e isso se expande a nível continental, como afirma Gentili (P.10), “A maior
probabilidade de estar excluídos da escola ou de ter acesso a uma escolaridade profundamente
degradada em suas condições de desenvolvimento pedagógico é ter nascidos negro, negra ou
indígena, em qualquer país da América Latina ou do Caribe”.
Para driblar suas condições, alunos que vivem nessa Realidade tendem a buscar outras opções
extracurriculares, como a música e a literatura, isso quando lhes oferecido. Eles tomam isso como
hobby e até como um status social, dessa forma, conseguem manter o vínculo com as instituições e se
ocupam durante o período fora das escolas. Indubitavelmente ao sair do ambiente escolar muitos terão
que abandonar tais atividades, devido até mesmo antes da vida adulta, terem que trabalhar, ajudando
no sustento da família.
Continuamente Gentili (P.11) afirma que, “A desigualdade no campo educacional faz com
que, na medida em que as oportunidades dos mais pobres aumentam (embora isso aconteça em
condições também de extrema pobreza), também tendam a aumentar as condições e as oportunidades
de educação dos mais ricos. Os pobres hoje passam mais anos no sistema escolar. Os ricos também, e,
ao fazê-lo em melhores condições e também com um progressivo aumento de suas oportunidades e
alternativas educacionais, a desigualdade educacional, longe de diminuir, aumenta ou mantém-se
constante”. Ao analisarmos essa afirmação, concordamos com o que ele diz logo a seguir, sobre
desigualdade social e desigualdade educacional estão ligadas e seguidas pelo racismo estrutural.
Logo, Gentili (P.11) resume que, “O tratamento desigual em relação às oportunidades
educacionais, junto a todas as oportunidades sociais, torna-se muito mais severo naqueles grupos da
população que, como os indígenas e os afro-latinos, sofrem de maneira mais intensa a discriminação e
a exclusão.”
Ao fim, somos expostos uma realidade educacional diferente, onde comparada as anteriores,
pode ser vista como um paraíso. Toda a estrutura escolar, desde a entrada até as saídas, é de boa
qualidade, apresenta segurança aos alunos e funcionários que ali atuam, juntamente ao funcionamento
das normas e regras, o próprio ensino e educação, além claro das relações entre alunos e professores.
Se analisarmos, as condições de renda e a cor da pele dos alunos, nos deparamos com cores claras,
roupas de qualidade, relógios, brincos, celulares, garrafas de água, bons livros etc. Arremetendo que
são pessoas com boa qualidade de vida, e que fazem parte de uma classe social diferente das
anteriores, ou seja, esses alunos têm uma realidade, uma visão de mundo e um capital cultural
(Bourdieu) diferentes.
Independe da realidade, o autor afirma que, (P.18) - “O direito à educação, como direito
humano fundamental, ou pertence a todos ou não pertence a ninguém. E, se não pertence a ninguém, o
princípio democrático sobre o qual se deve sustentar todo projeto de sociedade igualitária e
emancipada de poderes arbitrários e totalitários se enfraquece ou desaparece.” Assim, observamos que
a educação parte do princípio de uma sociedade melhor, ou seja, quando mudamos a educação, em
determinado momento, a sociedade sofre essas mudanças e posteriormente isso reflete na sociedade.
Educação e Sociedade estão ligadas por um só fio, o da ordem social, conscientizando, instruindo e
diminuindo as desigualdades, preconceitos e a própria violência, tão presentes na realidade da maioria
dos brasileiros e latinos, de classe baixa, baixa renda, preto, indígena, etc.

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