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UFSC - UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA

CSO - CIÊNCIAS SOCIAIS


SOCIOLOGIA DO TRABALHO
PROFESSORA: THAÍS DE SOUZA LAPA
ALUNA: LARISSA MIRANDA DOMINGOS

RESENHA DO FILME: DOIS DIAS, UMA NOITE (2014)

1.0 Apresentação: O filme se passa na França Contemporânea, após os processos de


trabalhos passarem por transformações em seu quesito de execução e outros, a mecanização e
atualização dos processos de trabalho, o filme retratado nesta resenha e os acontecimentos da
personagem principal em ser demitida de seu emprego por conta de uma votação que será
realizada no final do filme, pelos colegas de trabalho, em favorecer um bônus salarial e com
isto, a demissão da funcionária, temos diversas perspectivas sociológicas a serem analisadas a
partir deste acontecimento.

Palavras-chave: leitura contemporânea, trabalho, sociologia do trabalho, saúde mental.

2.0: Problemática: Primeiramente, a concorrência em espaços de trabalho é uma constante,


devido a necessidade de reposição de funcionários e o próprio sistema de escolha capitalista
sobre quem está empregado e quais os critérios de empregação dos funcionários. As leis
trabalhistas também são uma vertente, devido que não há segurança de que o emprego será
mantido, embora a pessoa ou funcionário se caracterize em técnicas ou esteja habilitado para
o trabalho.

As noções de segurança no trabalho, principalmente para as mulheres, é uma discussão


mínima e não há sindicatos ou grupos de apoio disponíveis que estejam em trabalho para
garantir este posto de trabalho que, no caso, pode ser demasiado importante para quem o está
ocupando. Temos diversas mulheres em condições de trabalho que estão precarizadas, que
não têm formação para seus postos, mas o estão exercendo. Temos também outro quadro, em
que mulheres estão ocupando seus lugares de trabalho através de suas necessidades, cursos
técnicos ou outras especializações que fazem com que o trabalho seja algo mais seguro. Mas
a pergunta é: em que ponto, mulheres que têm outras condições ou sonhos o exercem sem
esgotar suas outras possibilidades?

3.0 Contextualização teórica, histórica e narrativa: No mundo pós-moderno, pós-


pandemia, o trabalho remoto foi a principal tarefa de importância para o mercado financeiro,
diversas mulheres e homens deixaram suas empresas e seus postos para trabalhar e exercer
suas tarefas e atividades de modo remoto, dentro de suas casas. Trazemos também esta
problemática para mulheres, quais foram suas condições de trabalho e os que a possibilitou
exercerem tais postos? A conjuntura do trabalho feminino, trazendo algumas autoras que
estudamos nesta disciplina como Hirata (2008) e Lobo (2011), em suas reflexões sobre o
trabalho feminino e todo o desdobramento histórico e democrático das ocupações das
mulheres de seus postos e de seu sindicalismo feminino.
Reconhecemos através da história, o trabalho feminino como uma variável extremamente
importante para o estudo da sociologia do trabalho feminino, este filme serve como um
exemplo da historicidade do trabalho feminino na França, mas também temos outros
exemplos em diversos lugares como a Latino-América e no Brasil, o sindicato feminino é um
dos assuntos que quero trazer para poder dar uma abertura e claridade à discussão referente a
segurança do trabalho às mulheres que sofrem com a marginalidade e exclusão de seus
empregos devido uma crise econômica ou por conta da economia de mercado ou capitalismo.

A personagem principal do filme, Sandra, é retificada com uma situação complexa e


pertinente da sua rotina no trabalho, ela é notificada, através de colegas, que terá uma votação
entre todos os funcionários, que definirá o rumo de sua permanência no trabalho, os
funcionários devem escolher em receber um bônus salarial, ou, votar pela permanência da
funcionária na empresa. Essa questão, leva Sandra ao começo de um colapso de saúde mental
e psicológica, que veremos durante o filme, com essa decisão, sem muitas possibilidades
além de visitar todos seus colegas de trabalho, a pedido de que não votem para o bônus
salarial, pois este bônus significaria o valor dela para a empresa, seria como se comprassem o
valor ou o lugar dela no trabalho, ou o “fim do valor trabalho” (HIRATA, 2008, p. 255, grifo
nosso).

Mas por que isto acontece no capitalismo? O que acontece, no filme, pode ser explicado por
conta da exclusão do sindicalismo ou da seguridade do trabalho através da atualização e
retirada de direitos dos trabalhadores que vem sendo aprovada por diversas divisões políticas,
econômicas e sociais. Podemos explicar da seguinte maneira: a funcionária vale x (valor)
para empresa (contando com os custos, remuneração e contrato de trabalho), a empresa paga
através de seu salário (cálculo dos valores), este cálculo é dividida entre diversas outras
variantes e vertentes contabilísticas e matemáticas, a empresa então, contabiliza seu mais-
valor e dos outros funcionários, categorizado como lucro para o patrão, podendo escolher
entre distribuir tal valor ou mantê-lo, o então bônus salarial é o mais-valor dos funcionário e
seria dividido entre todos os funcionários, a exclusão da funcionária não compete,
matematicamente, para sua exclusão e demissão da empresa, a não ser que o patrão esteja
lucrando com a saída da mesma, o que sobrecarregará os outros funcionários em demandas e
tempo.

4.0 Variáveis humanas e sociais: A demissão da funcionária, permitindo o ganho da


empresa, resultaria em uma perda enorme para a funcionária, pois além de perder o seu posto,
salário e contrato entre outras questões humanas e econômicas são postas a prova, trazendo
um prejuízo emocional e psicológico para a personagem, além de financeiro e econômico.
Em nenhum momento vemos um apoio de sindicalistas ou formas de trazer sua seguridade de
trabalho para a personagem. E esta problemática é algo importante a ser discutido e
problematizado, a questão da seguridade no trabalho para as pessoas que já o estão ocupando
e o sindicalismo, que poderia trazer uma forma de discussão entre os funcionários para
questionar a então decisão que já havia sido determinada. Visto que, a liberdade de expressão
e de oposição às escolhas que são feitas é permitida e o protesto é uma chave para podermos
visualizar as questões mais centrais que levaram a estas decisões.

O sindicalismo invisível que não vemos no filme, é uma questão importante para a discussão
da seguridade de trabalho para as mulheres que já estão empregadas e ocupando seus postos,
mas para também às empregadas que estão em outras margens e/ou desempregadas. Grupos
de apoio empresarial e psicológicos são projetos necessários para o desenvolvimento destes e
diversos outros trabalhos que ocupamos diariamente. Funcionando como um diário onde
podemos dizer o que nos aflige em nossas jornadas diárias, nossas reflexões, fraquezas e
outros acontecimentos. O sindicato pode fazer este papel em levantar a bandeira para o
reconhecimento de que nossos trabalhadores possuem vida pessoal e própria e que essas
questões refletem conjuntamente em seus desempenhos, humores e comportamentos. O que
será tratado por Lobo (2010) e a questão de gênero no trabalho, vista como trabalhadoras
descartáveis e menos dignas de remuneração e outros direitos.

No filme, temos alguns funcionários que são a favor do bônus salarial e outros, que fazem
questão em votar a favor da funcionária e de sua permanência no trabalho, a questão não é
reconhecida pelos funcionários que não são a favor da funcionária, pois, a palavra do patrão e
coordenadores da empresa, não é questionada, fazendo com que os trabalhadores se tornem
submissos à essas decisões e por conseguinte, prejudicando a funcionária sem questionar sua
própria decisão e as consequências, pois estão pensando no que irão ganhar. Vemos diversos
trabalhadores em suas questões pessoais, filhos, outros comerciantes, pessoas exercendo seus
hobbies, etc. Sandra então, continua com seu esposo, a ir atrás dos funcionários de seu
trabalho ou empresa, para conseguir os votos necessários para permanência no seu trabalho,
com isso, fazendo os funcionários desistirem do bônus salarial e votarem a seu favor.

5.0 Autores também tratam a questão: Vemos alguns destes conceitos na construção do
texto, A Sociedade Salarial (CASTEL, 2008) em que são trabalhados as contradições da
sociedade salarial. Sobre a construção identitária do trabalho, das classes operárias e da
transformação do mundo do trabalho, as formas de receber um salário e ter também suas
formas de servidão laboral, as técnicas implementadas que foram transformada ao longo dos
séculos, as formas de realização dos trabalhos refletem as relações trabalhistas, entre o
empregador e os empregados, que na França do século XVI até o século XVIII, existiu-se
toda uma nação que utilizava dessas relações para construir o capitalismo, através de seu
historicismo, condições e ações em que podemos observar, por exemplo, a construção do
sindicalismo de esquerda e diversas outras lutas e revoluções, permeado pelas ideologias
marxistas e também utilizado pelo autor para entender as relações de trabalho e capital.

As diversas revoluções e conquistas do trabalhador assalariado contou com diversos


benefícios, tanto o advento do Estado de bem-estar social no final do século XX como outras
influências, diversas formas de trabalho que contribuíram para o desenvolvimento e
conquistas desses direitos e outros, até das relações de gênero, no trabalho, que começaram a
ser discutidas após esses acontecimentos e que permeiam tal desigualdade, pois apontam para
as diferenças e lutas que ainda estão sendo pautadas na modernidade. Os benefícios são
constantes pois trouxeram a marca dos direitos dos trabalhadores e trabalhadoras, mas
também o reconhecimento dessas conquistas como ponto central para identificar as taxas de
ocupação salarial e quais as influências para a permanência no trabalho e da qualificação ou
não de seus funcionários.

Reconhecemos essas condições através desta linha temporal e histórica do que foi o advento
de direitos trabalhistas e da construção do Estado e da Seguridade Social, outras discussões
são trazidas pelo autor para ressaltarmos nesta resenha crítica, construímos tais objetividades
para ilustrar como se dão essas relações empregatícias e salariais, onde, por um lado, as
classes operárias estão em suas jornadas de trabalho, vendendo o fruto de seu trabalho em
troca de salários mensais, e também, a história das marginalidades e de grupos que se
encontram indefinidos, perdendo seus empregos, em situações econômicas e sociais
precárias, sem muita assistência social.

6.0: Nossa personagem e narrativa final: Os desdobramentos dados através da votação e da


procura de votos da personagem, alguns escolhem desistir do bônus para apoiar a
permanência da trabalhadora, envolvendo conflitos sociais entre os trabalhadores e suas
vivências próprias, alguns sendo não receptivos ou agressivos com a personagem. Após muita
procura, indo ao encontro dos colegas em suas residências domésticas e propondo tal diálogo,
nossa personagem vê sua saúde definhando e seus problemas tomando conta de seu corpo
físico e mental. O que podemos perceber, é que esta votação gerou conflito social entre os
trabalhadores, o empregador, em nenhum momento, sentiu-se responsável pela saúde mental
de seus trabalhadores nesse processo. A personagem, antes de conseguir os últimos votos,
ingere remédios e tem de ser hospitalizada, o que agrava sua saúde mental.

Um dia antes da votação final, Sandra visita um colega de trabalho, este colega diz que
votaria na personagem, mas seu contrato estaria para ser renovado e por isso, tem medo de
não assinarem o papel, por conta da cor de sua pele e outros problemas, por fim, o colega diz
que votará em Sandra, e com isso, Sandra contabiliza uma maioria de votos a seu favor. Na
votação final, houve um empate entre os trabalhadores que escolheram o bônus e os que
votaram por Sandra, com isso, o empregador a chama em sua sala, dizendo que irá manter
seu cargo, com a condição de um dos trabalhadores, de pele negra, não tivesse seu contrato
renovado; ao perceber a charada, Sandra recusa a oferta e finalmente, se despede da empresa
e de tal mecanismo, que sugava sua força de trabalho e consequentemente, sua saúde mental.

O que podemos analisar a partir das noções da Sociologia do Trabalho, é que a relação do
empregador em criar uma disputa entre os trabalhadores contra uma outra trabalhadora, de
oferecer um bônus salarial em troca do lugar de uma funcionária, desmascara o lucro que tal
funcionária rende a empresa, seu mais-valor e força de trabalho, serviu para contribuir para
essa “venda” da funcionária e “redistribuição” para outros trabalhadores. Contudo, o que
vemos, na realidade, é que o bônus salarial não significa o valor da funcionária para a
empresa, apenas uma parte dela, e que, mesmo se continuasse na empresa, haveria bônus
salarial se o empregador dividisse seu lucro com os funcionários, ou invés de demitir a
funcionária em prol de um aumento.
Sobre o processo de produção do mais-valor, vemos que em Marx (1985) o trabalhador
trabalha para o empregador, que possui sua força de trabalho. O trabalho, após diversas
consequências e resultados de lutas sociais, é utilizado para a transformação do mundo
capitalista em um mundo do consumo e da sobrevivência, a posse do empregador pela força
de trabalho do trabalhador, verifica, a produção do mais-valor, sendo posse do empregador,
podendo extrair o seu lucro. Este lucro, poderia ser distribuído para o trabalhador, mas na
maioria dos casos, fica com o empregador, o que vemos, neste filme, é uma alternativa a esta
realidade do mundo do trabalho, através da transformação do mundo capitalista e da
produção da mais-valia.

Com isso, percebemos os acontecimentos através da realização destes processos de votação e


de luta para permanência em seu trabalho, em ocupar o seu cargo, na qual, sua sobrevivência
e de sua família, encontra-se em perigo. O que vemos e analisamos com a personagem do
filme, é o desespero em perder seu emprego, onde muitas vezes, não é o ideal e na qual,
desgasta-se constantemente, fisicamente e mentalmente, para continuar produzindo e
encaixando-se na produtividade, o que concluímos, com o adoecimento da personagem,
mentalmente e fisicamente, onde não há algum auxílio, nem direitos que possam reverter as
decisões ou restituir os danos físicos e mentais que foram causados ao trabalhador.

7.0 Conclusões: Finalizamos esta resenha com algumas reflexões sobre o mundo do trabalho
e os processos capitalistas, que exclui alguns trabalhadores, não provendo-lhes o devido
tratamento e não oferecendo auxílio para possível reparação de danos, o adoecimento
psíquico dos trabalhadores é uma realidade onde a criação de disputas e competições do
mundo capitalista, geram danos ao lutar por permanência e ocupação de seu posto de
trabalho, que lhe é conferido como direito. A exclusão e exploração dos trabalhadores, em
condições de competição, é o exemplo da marginalidade e precarização das forças de
trabalho, onde todos são descartáveis e substituíveis, na visão capitalista.

De certa forma, percebemos ao longo dos processos históricos, tentativas de revolução e a


união de trabalhadores que sofrem com esses abusos e privilégios dos capitalistas e
empregadores, as empresas passam a ser processadas judicialmente, caso seja causado algum
dano psicológico ou moral ao trabalhador, ou em outros casos, existindo grupos de apoio em
que o trabalhador possa superar o dano causado. O que acontece, normalmente, são muitas
pessoas que estão nessa média de trabalhadores que deslocam-se entre um trabalho e outro,
não possuindo condições de permanência ou planos a curto e longo prazo de planejamento de
sua vida familiar e pessoal, financeira e social.

8.0 Referências Bibliográficas:

MARX, Karl. V. Processo de trabalho e processo de produzir mais valia. In: O Capital. São
Paulo: Difel, 1985. p. 200-223.

CASTEL, Robert. “A sociedade salarial”. As metamorfoses da questão social. Uma crônica


do salário. Petrópolis: Vozes, 2008, p. 415-494.

LOBO, Elisabeth S. O trabalho como linguagem: o gênero do trabalho. In: A classe operária
tem dois sexos: trabalho, dominação e resistência. São Paulo: Perseu Abramo, 2011. p.195-
205.

HIRATA, Helena; ZARIFIAN, Philippe. Trabalho (o conceito de). In Dicionário Crítico do


Feminismo. São Paulo, 2008. p.251-256.

FILME: Dois dias, uma noite, Jean-Pierre e Luc Dardenne (2014).

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