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Universidade Federal da Bahia (UFBA)

Gabriella Inez
IPSB81 - Trabalho e sociabilidade

A uberização do trabalho no Brasil

A mais de trinta anos o mundo do trabalho vem passando por transformações


que são justificadas por uma crise econômica, atualmente as novas modalidades de
trabalho utilizam do estímulo de uma boa performance e a competitividade, para
tentar esconder a crise do capitalismo. Essas características formam a base do
neoliberalismo que busca naturalizar a flexibilização extrema do trabalho que se
resume a um artifício para diminuir os custos do trabalho para as grandes empresas.
Nessa mudança quem sofre os seus efeitos, os proletários, abandonaram as lutas
de classes e foram colocados para lutar entre si para não identificar os principais
vilões dessas novas modalidades de trabalho: o neoliberalismo. O neoliberalismo é
uma ideologia econômica e política que promove a diminuição do papel do Estado
na economia e enfatiza a liberdade individual, a livre concorrência e a
desregulamentação dos mercados. No contexto do trabalho, o neoliberalismo tem
implicações significativas para a adoção e promoção do trabalho flexível.
A uberização é uma categoria de trabalho atual, na qual o trabalhador presta
os seus serviços à população através da intermediação de aplicativos. O termo
“uberização” refere-se ao aplicativo Uber, mas fala de vários aplicativos de
transporte, entregas e alguns especialistas utilizam esse termo para definir qualquer
trabalho informal. A uberização vem sendo criticada por ser uma forma de trabalho
sem vínculos empregatícios que tem uma maior aceitabilidade em momentos de
crise, na qual as empresas donas dos aplicativos acabam não tendo muitos custos,
porquê não assumem a responsabilidade sobre os trabalhadores, que acabam se
sujeitando a esse tipo de trabalho por necessidade e pela ideia de ser o seu próprio
patrão.
A flexibilização do trabalho pode resultar em maior insegurança e instabilidade
para os trabalhadores. Contratos de trabalho flexíveis, como empregos temporários,
trabalho autônomo ou contratos de curto prazo, muitas vezes não oferecem a
mesma estabilidade e proteção que empregos tradicionais. Isso pode levar a
salários mais baixos, falta de benefícios sociais, dificuldades em obter empréstimos
e planejar a longo prazo, e uma sensação constante de incerteza em relação ao
futuro. Aqueles que não têm recursos financeiros significativos para lidar com a
insegurança são especialmente afetados, aumentando a desigualdade econômica.
Atualmente a uberização no Brasil vem se destacando pelos seus pontos
negativos, pois para muitos ela representa a precarização do trabalho e a
desvalorização do trabalho, que consiste na retirada de direitos dos trabalhadores e
a falta de obrigações que uma empresa deve ter com seus funcionários. Esse tipo
de trabalho acaba sendo aceito por conta das necessidades financeiras desses
trabalhadores, já que segundo o IBGE o número de desempregados no primeiro
semestre de 2022 já representava cerca de 12 milhões de pessoas. Esse cenário
contribui para a disseminação da uberização e trabalhos informais, em 2021 no
Brasil já existiam cerca 1,1 milhão de motoristas de aplicativo, segundo o Instituto de
Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). Esses dados são preocupantes, pois a
uberização se torna o reflexo do desemprego, fazendo com que os trabalhadores se
submetam a condições propostas pelos aplicativos e arquem com todos os custos
financeiros e com os riscos da profissão, por conta da escassez de empregos
formais.
O sucesso dessa forma de trabalho é explicado pela ilusão de trabalhar para
si mesmo e pelos artifícios econômicos, políticos e psicológicos que foram utilizados
para que esse novo modelo se tornasse socialmente aceito e propagado,
conseguimos enxergar essas características ao observar os trabalhos “uberizados”,
os indivíduos que trabalham para essas plataformas são iludidos pelo discurso de
ser o seu próprio chefe e trabalhar quando e onde quiser, isso realmente acontece,
mas ao entrar nessa modalidade de trabalho o indivíduo se ver em escalas de
trabalho extremamente exaustivas, falta de segurança física, psicológica e
financeira, mas mesmo assim essas empresas ainda são enaltecidas.
Na própria plataforma do uber aparece “dirija com a uber. Seja seu próprio
chefe”, mas na realidade o motorista vende a sua força de trabalho assim como um
celetista, mas sem a intervenção estatal para os direitos trabalhistas. As empresas
não oferecem o meio de trabalho, os combustíveis, reparos, seguro para o veículo e
nem segurança, dessa forma todas as taxas de risco são assumidas pelo
trabalhador enquanto os aplicativos lucram com as taxas de cada serviço. A Uber
em específico possui uma taxa que fica em torno de 25% do valor de cada corrida,
em teoria o trabalhador fica com 75%, mas ao lidar com todos os custos essa
porcentagem de lucro para o motorista diminui expressivamente. Essa empresa não
se importa com o trabalhador, eles garantem que a segurança é a maior prioridade,
mas ao mesmo tempo reforçam que os motoristas não são empregados da Uber e a
Uber não é responsável pelo que acontece na viagem.
A uberização do trabalho também se mantém através da fragmentação e
desorganização da classe trabalhadora: Antunes em seu texto argumenta que a
crise da sociedade do trabalho também se manifesta na fragmentação da classe
trabalhadora. A existência de diferentes formas de trabalho precário, a falta de
organização sindical e o incentivo à competitividade, enfraquecem a capacidade de
ação coletiva dos trabalhadores, dificultando a defesa de seus direitos e interesses,
pois ao invés de lutarem a favor dos seus direitos e dos outros trabalhadores dessa
classe, eles estão lutando entre eles mesmos.
Além disso, esses trabalhadores são condicionados a aceitar uma
determinada porcentagem de serviços para que não sejam banidos das plataformas,
por ser um aplicativo também ocorre muita falta de comunicação, causando
bloqueios desnecessários e prejuízo para aquele indivíduo que precisa trabalhar
para pagar as contas. Esses trabalhadores vivem suscetíveis ao medo, medo de
serem bloqueados, medo do meio de trabalho quebrar, medo de assaltos e de
acidentes, fazendo com que além do cansaço físico ocorra o cansaço mental
gerando diversas doenças psicológicas e físicas, na qual eles terão que arcar com
os custos de saúde e dos dias parados.
Dessa forma, a caracterização desta nova atividade é o gerenciamento sobre
seu próprio tempo e intensidade, ou seja, uma subordinação obscurecida, sendo um
vetor da flexibilização e uma relação de assalariamento disfarçada pelo cumprimento
de metas pessoais, ao passo que há uma multidão de “prestadores de serviço” e de
consumidores que farão constantemente avaliações entre si. A produtividade é
mapeada pela empresa por critérios não claramente definidos, pois é terceirizado
até mesmo o acompanhamento e avaliação dos trabalhadores que é realizada pelo
consumidor
O trabalho uberizado é um modelo de trabalho neoliberal, que está
estreitamente ligado a crise da sociedade do trabalho. Essa modalidade de trabalho
traz mais prejuízos aos trabalhadores do que benefícios, já as empresas acabam
tendo mais benefícios, ficando com grande parte dos lucros. Com o crescimento das
políticas neoliberais e o livre mercado esses meios de trabalhos alternativos se
tornarão uma realidade frequente na vida das pessoas, que infelizmente terão que
se sujeitar a essa nova forma de trabalho.
A decisão das pessoas de se submeterem a trabalhos uberizados ou flexíveis
pode ser influenciada por diversos fatores. A flexibilidade de horários e a autonomia
na definição da carga de trabalho são atrativos para aqueles que precisam conciliar
suas atividades profissionais com outras responsabilidades, como estudos, cuidado
familiar ou outras fontes de renda. Além disso, para indivíduos que enfrentam
dificuldades em encontrar empregos formais, seja devido à falta de qualificações
específicas, discriminação ou barreiras estruturais, a economia compartilhada
oferece uma oportunidade de renda acessível e imediata. Embora esses trabalhos
sejam frequentemente caracterizados pela precariedade e pela falta de benefícios
trabalhistas, muitas pessoas os enxergam como uma alternativa viável em um
contexto de mercado de trabalho restrito, assumindo o risco da insegurança em
troca de alguma autonomia e flexibilidade.
Em suma, como exposto ao longo do texto, a uberização é uma forma de
exploração, na qual as grandes empresas se aproveitam de momentos de crise para
lucrar. É uma nova forma do capitalismo se fortalecer, com a redução dos custos da
força de trabalho, precarização e intensificação do trabalho de forma exploratória, na
qual essas empresas se baseiam na crise socioeconômica e desigualdade social. O
trabalho uberizado não deve ser extinto, mas melhor regulamentado, oferecendo
direitos trabalhistas, um valor deve ser destinado para reparos e possíveis taxas.
Esse estilo de trabalho é benéfico para quem precisa de um trabalho flexível e não
tem muitas preocupações financeiras, mas esse não é o perfil dos adeptos a essa
profissão.

REFERÊNCIAS
DARDOT, P.; LAVAL, C.; GUÉGUEN, H.; SAUVÊTRE, P. A Escolha da Guerra
Civil: uma outra história do neoliberalismo. SP: Elefante, 2021

ANTUNES, R. Adeus ao Trabalho? Ensaio sobre as Metamorfoses e a


Centralidade do Mundo do Trabalho, SP: Cortez, 1995.

DRUCK, Graça; FRANCO, Tânia. Trabalho e precarização social. Caderno CRH,


2011.

FRANCO, David Silva; FERRAZ, Deise Luiza Da Silva. Uberização do trabalho e


acumulação capitalista. Cadernos Ebape. BR, v. 17, p. 844-856, 2019.

VICTORIA, Clovis. Cresce a uberização de trabalhadores no Brasil. 26 de dezembro


de 2019.Disponível
em:<https://www.sindbancarios.org.br/index.php/cresce-a-uberizacao-de-trabalhador
es-no-brasil/> Acesso em: 14 de julho de 2023.

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