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“UBERIZAÇÃO” DO TRABALHO E A URGENTE NECESSIDADE DE

RESSIGNIFICAR A SUBORDINAÇÃO1

Francielle Silva de Oliveira Flores2


Valdete Souto Severo3

RESUMO: Este artigo discute a necessidade de compreender o fenômeno de precarização


denominado uberização do trabalho como um discurso que busca esvaziar o conceito de
subordinação, e suas consequências para a proteção social de quem vive do trabalho. Propõe-
se ressignificar o conceito de subordinação, recuperando-o, como forma de enfrentamento desse
discurso de precarização e, por decorrência, de efetividade do discurso constitucional de
proteção à relação de emprego.

PALAVRAS-CHAVE: Indústria 4.0. Precariado digital. Uberização. Efeitos sociais.

SUMÁRIO: 1. Introdução; 2. As relações de trabalho em tempos de indústria 4.0: uberização


e o precariado digital; 3. Efeitos sociais da uberização; 4. Considerações Finais; Referências.

1. INTRODUÇÃO

O capital se vale das plataformas digitais, setor dominante no mercado, para explorar
livremente a força de trabalho, eximindo-se de responsabilidades sociais, trabalhistas e
previdenciárias. As empresas proprietárias dos aplicativos utilizam como subterfúgio discursos
neoliberais para disseminar o mito do empreendedorismo que transfere a quem trabalha os
riscos do negócio. Defendem que se trata de uma nova modalidade laborativa que não guarda
relação com as leis trabalhistas, mesmo em um contexto em que a CLT se mostra suficiente
para regular essa relação.

1 Publicado na Revista LTr, edição de Agosto de 2023.


2
Advogada, graduada em Ciências Jurídicas e Sociais pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)
e pesquisadora integrante do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital: retrocesso social e avanços possíveis,
UFRGS/USP/CNPQ.
3
Doutora em Direito do Trabalho pela USP/SP, pós doutora em ciências políticas na UFRGS/RS, professora de
direito do trabalho na UFRGS, coordenadora do Grupo de Pesquisa Trabalho e Capital: retrocesso social e avanços
possíveis, UFRGS/USP/CNPQ, juíza do trabalho do TRT4, membra do IPEATRA, da ALJT e da AAL.
A ausência de caracterização da natureza jurídica da relação havida entre os
trabalhadores e as empresas proprietárias que operam com plataformas digitais prejudica, até
mesmo, a consciência dessa parte da classe trabalhadora acerca da importância e da urgência
da aplicação da legislação trabalhista. Inclusive, é oportuno destacar que o atual momento que
se enfrenta de crise sanitária, econômica e política agrava o limbo de insegurança jurídica e
deixa essas pessoas em uma posição de subserviência às manobras do capitalismo.
A baixa remuneração, combinada com longas jornadas, a falta de proteção à saúde, a
ausência de direito às férias, décimo terceiro, repouso semanal e mínima proteção contra a
despedida são fatores que demonstram que as consequências de negar amparo a quem trabalha
para as empresas que operam por meio de plataformas digitais são perversas porque resultam,
sobretudo, em precarização, informalidade, desvalorização da força de trabalho e
descentralização da mobilidade coletiva.
Nesse contexto, sobressai a necessidade de ressignificar o conceito de subordinação, a
fim de reconhecer às pessoas que trabalham sob a lógica da “uberização”, os direitos que a
ordem jurídica reconhece como fundamentais para uma vida minimamente digna, em um
contexto capitalista. O debate sobre o tema será suscitado a partir de revisão bibliográfica. Para
tanto, será fundamental entender os processos entre trabalho e capital que levaram a uma
organização do trabalho na era digital, cuja reestruturação produtiva se revela essencialmente
precária e socialmente insegura para quem trabalha.
O objetivo é demonstrar que essa precarização, que recebe o nome de “uberização” do
trabalho, promove efeitos deletérios que extrapolam a esfera jurídica, humana e social de quem
atua entregando ou transportando bens e pessoas. Atinge toda a sociedade. Desse modo,
pretende-se demonstrar que o reconhecimento da condição de empregado(a) e a regulação de
questões que são próprias dessa forma de exploração do trabalho, afiguram-se essenciais para
evitar ainda maior esgarçamento do tecido social e comprometimento das possibilidades de vida
digna em nosso país. E que isso passa por um resgate do conceito de subordinação, bem como
pelo desvelamento da falácia por trás do discurso da autonomia nas relações de trabalho.

2. AS RELAÇÕES DE TRABALHO EM TEMPOS DE INDÚSTRIA 4.0: UBERIZAÇÃO


E O PRECARIADO DIGITAL

Neste capítulo, objetiva-se situar a importância do trabalho para a sociedade capitalista,


bem como compreender o processo de precarização, impulsionado pelo neoliberalismo, como
um dos fatores que conduziu à modalidade de trabalho uberizado. Diante disso, entender como
a indústria 4.0 viabilizou o desenvolvimento de atividade econômica por meio das plataformas
digitais e de que forma isso impactou o mundo do trabalho. Por fim, esclarecer quem é a classe
trabalhadora que emerge dessa processualidade.
A segurança e a proteção social tiveram uma roupagem diversa ao longo da história.
Lazzarin relata que “a insegurança social atravessou a história carregada de todas as penas e de
todas as angústias que constituíram a miséria do mundo4”- afinal, ficavam completamente
desprotegidos aqueles que apenas tinham seu trabalho como forma de subsistir. Ensina a autora
que, como estratégia contra a insegurança e a precariedade, construiu-se a ideia de propriedade
social, que relaciona proteções mínimas - como salário, coberturas e aposentadoria - ao trabalho
cuja relação deixa de ser considerada pelo Estado como de mera troca comercial e passa a ser
regulada como relação de emprego. Trata-se do reconhecimento da importância de um trabalho
regulado e protegido, como forma de garantir, inclusive, a continuidade do sistema, através de
uma lógica pela qual constitui dever do Estado garantir que os indivíduos tenham uma vida
digna, proteções e condições mínimas para viabilizar a manutenção da sua existência.
A proteção social ao trabalho constitui condição de possibilidade de uma sociedade
capitalista minimamente organizada. Interessa, inclusive ao sistema, que a pessoa que trabalha
tenha condições de repor as energias, manter a prole que o substituirá como força de trabalho
no futuro e consumir, fazendo circular a riqueza. A garantia de salário mínimo, jornada máxima,
descansos é, nesse contexto, necessária para que o sistema funcione5.
O Estado, ao normatizar regras trabalhistas, reconhece o desequilíbrio inerente à relação
entre quem trabalha e quem emprega e, em razão dessa assimetria, a necessidade de proteção
social. Sistemas de regulação coletiva garantidos pelo Estado tornam-se fundamentais para a
melhoria das condições de pactuação da força do trabalho na ordem socioeconômica. A partir
dos anos 1970, porém, com a crise do petróleo, a potencialização da globalização e das novas
exigências decorrentes da concorrência internacional, tem início um movimento em busca do
aumento da rentabilidade do capital, por um lado, e, por outro, da redução dos salários e dos
custos com a manutenção das proteções sociais6.

4
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal como
possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS Editora, 2020. E-
book.
5
SEVERO, Valdete Souto. Elementos para o uso transgressor do Direito do Trabalho: compreendendo as relações
sociais de trabalho no Brasil e a função do Direito diante das possibilidades de superação da forma capital. 2a
edição. Revista e ampliada. São Paulo: ESA, 2020.
6
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal como
possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS Editora, 2020. E-
book.
Aprofundou-se, a partir de então, a lógica de corrosão e devastação da legislação social
do trabalho, que interferiu na atuação dos sindicatos, gerando desemprego em massa e
precarização das condições de trabalho. Dessa lógica, explica Lazzarin, decorre a ideia de
flexibilização, que propõe uma versatilidade no modo de produção por meio da
individualização das tarefas e que varia de acordo com a disponibilidade de força de trabalho,
o que implica, além de uma descontinuidade na carreira profissional dos indivíduos, uma
dissolução do grupo de trabalho, bem como transfere a quem trabalha a responsabilidade pelos
riscos da atividade. Reforçando esse contexto e a fragilidade social, as pessoas passam a ser
estimuladas a considerarem-se e a agirem como empreendedoras de si mesmas, o que afasta,
consequentemente, o amparo social pelos sistemas de regulação coletiva7.
Esse discurso tem aderência na classe trabalhadora, fazendo de muitos trabalhadores e
trabalhadoras cúmplices do desmanche do sistema de proteção social. Não é incomum ouvir de
motoristas e entregadores a defesa da ideia de empreendedorismo, lançada como um verdadeiro
canto da sereia para deixá-los completamente à margem desse sistema de proteção que, diga-se
de passagem, é já insatisfatório mesmo para quem é por ele contemplado, em razão do
reconhecimento formal do vínculo de emprego.
Há, sem dúvida, uma soma de elementos complexos que atuam para que esse discurso
tenha tamanha receptividade. A cultura estimula, desde a mais tenra infância, a identificação
do empreendedor como indivíduo de sucesso, enquanto reproduz a figura do empregado como
alguém assujeitado. As políticas públicas feitas no Brasil nas últimas décadas vão no mesmo
sentido8. O próprio metabolismo do capital, que sofre um aprofundamento a partir da década
de 1970, é fundado no individualismo. Todos os instrumentos de conformação da subjetividade,
desde a família, passando pela escola, pelo ambiente de trabalho, organizam-se de modo a
reproduzir a falsa ideia de que todos estamos na condição de competidores. Há, portanto, um
investimento social na formação de identidades que tendem a acreditar que mérito ou fracasso
não são contingências de uma sociedade na qual não há lugar para todas as pessoas, mas sim
decorrência do esforço individual9.
A perversidade está no fato de que enquanto se exige do trabalhador e da trabalhadora
uma performance de eficiência e sucesso, cada vez são menores as oportunidades reais de

7
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal como
possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS Editora, 2020. E-
book.
8
Ver, nesse sentido: SEVERO, Valdete Souto; RODRIGUES, Celso. O resgate do direito do trabalho em tempos
de pandemia. Revista LTr. Legislação do Trabalho, v. 84, p. 465-474, 2020.
9
ROLNIK, Suely. Esferas da ressurreição: Notas para uma vida não cafetinada. 2a edição. São Paulo: N1 Edições,
2019.
inserção nos sistemas coletivos de seguridade social. E, consequentemente, maior o número de
pessoas excluídas, lançadas à insegurança social10. O que se verifica, a partir da década de 1970,
é uma ruptura com o compromisso de uma sociedade salarial, em que a propriedade social é
fundamental para manter a segurança. Essas pessoas são conduzidas a um estado de
imprevidência e de dissociação social, que acentua a desigualdade11.
Diante desse contexto, Ricardo Antunes compreende a uberização como um fenômeno
que decorre da combinação de um sistema capitalista baseado no neoliberalismo, com uma
reestruturação produtiva permanente e uma hegemonia do capital financeiro, levando a classe
trabalhadora a condições precárias de trabalho. Segundo o autor, em entrevista concedida ao
Instituto Humanistas Unissinos (2020), “o trabalho uberizado é essa combinação esdrúxula
entre autoincremento tecnológico e recuperação de formas pretéritas de exploração do trabalho
de escravos digitais”12.
O trabalho uberizado, além de ser resultado desse processo de precarização, iniciado
nos anos 1970, desenvolve-se no âmbito da indústria 4.0. Essa é uma expressão que passou a
ser utilizada, em 2011, na Alemanha13. De acordo com Antunes, representa “um novo e
profundo salto tecnológico no mundo produtivo, estruturado a partir das novas Tecnologias da
Informação e Comunicação (TICs) que se desenvolvem celeremente.”14.
No mesmo sentido, Amorim registra que o termo é proveniente de um projeto alemão
cujo objetivo era fomentar a competitividade por meio de “fábricas inteligentes” - que seriam
conectadas por máquinas e sistemas ativos e criariam redes inteligentes no processo
produtivo15. Essas unidades, explica, contariam com a mínima intervenção humana, atuando de

10
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal como
possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS Editora, 2020. E-
book.
11
LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica universal como
possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS Editora, 2020. E-
book.
12
ANTUNES, Ricardo. A expansão do trabalho uberizado nos levará à escravidão digital. Instituto Humanistas.
Unissinos, entrevista online, 2020. Disponível em http://abet-trabalho.org.br/ricardo-antunes-a-expansao-do-
trabalho-uberizado-nos-levara-a-escravidao-digital/. Acesso em: Maio de 2021.
13
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 39; AMORIM, J. Eduardo. A ‘indústria 4.0’ e a sustentabilidade do modelo de financiamento
do Regime Geral da Segurança Social. Cadernos de Dereito Actual, Universidade do Porto, Portugal, n. 5, vol.
extraordinário, p. 243-254, 2017, p. 248.
14
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p.39-40.
15
AMORIM, J. Eduardo. A ‘indústria 4.0’ e a sustentabilidade do modelo de financiamento do Regime Geral da
Segurança Social. Cadernos de Dereito Actual, Universidade do Porto, Portugal, n. 5, vol. extraordinário, p. 243-
254, 2017, p. 248.
forma autônoma através da leitura de informações produzidas pela cadeia de produção e
conforme a demanda.
Além disso, Antunes refere que a indústria 4.0 significa também “a intensificação dos
processos produtivos automatizados, em toda a cadeia geradora de valor, de modo que a
logística empresarial seja controlada digitalmente”16. Amorim17, por sua vez, explica que esse
novo modelo de produção se orienta por cinco princípios, a saber: capacidade de operação em
tempo real (captar e processar dados instantaneamente), virtualização (controle virtual das
fábricas inteligentes), descentralização (fragmentar a produção por módulos), orientação para
serviços (intercomunicação entre os sistemas e equipamentos) e modularidade (possibilidade
de flexibilizar, ou seja, alterar os módulos produtivos conforme a demanda). Em outras
palavras, essa rede digital viabiliza a atividade econômica a partir de uma organização do
trabalho por comandos. Dessa forma, as empresas proprietárias dos aplicativos atuam por
programação, isto é, por algoritmos, pré-ordenados e mutáveis, de metas, regras e resultados18.
Nesse sentido, a Quarta Revolução Industrial é anunciada pela indústria 4.0 e se
caracteriza por um processo de industrialização descentralizado e controlado de forma
autônoma. Resulta na aplicação de inovações tecnológicas, no âmbito da automação, bem como
de controle e tecnologia da informação aos meios de produção 19. Dentro desse contexto,
inserem-se as TICs (Tecnologias de Informação e Comunicação), que desempenham um papel
determinante para essa nova reestruturação. Combinadas com a ampliação do acesso à internet,
a partir dos anos 1990, são fatores que influenciaram na dinâmica econômica e social e
interferem em fenômenos físicos, econômicos, sociais, políticos e culturais20.
Esse complexo sistema é também conhecido como economia de bico ou economia de
compartilhamento. De acordo com Oitaven, Carelli e Casagrande, abrange duas formas de
trabalho: o crowdwork e o trabalho on demand. O primeiro possibilita a contratação de

16
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 40.
17
AMORIM, J. Eduardo. A ‘indústria 4.0’ e a sustentabilidade do modelo de financiamento do Regime Geral da
Segurança Social. Cadernos de Dereito Actual, Universidade do Porto, Portugal, n. 5, vol. extraordinário, p. 243-
254, 2017, p. 248.
18
OITAVEN, Juliana Carreiro Corbal; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CASAGRANDE, Cássio Luís. Empresas
de transporte, plataformas digitais e a relação de emprego: um estudo do trabalho subordinado sob aplicativos.
Brasília: MPT, 2018, p. 30.
19
AMORIM, J. Eduardo. A ‘indústria 4.0’ e a sustentabilidade do modelo de financiamento do Regime Geral da
Segurança Social. Cadernos de Dereito Actual, Universidade do Porto, Portugal, n. 5, vol. extraordinário, p. 243-
254, 2017, p. 248.
20
CANNAS, Fábio. Proletariado digital: novas demandas de proteção social. In: III Seminário Internacional em
Direitos Humanos e Sociedade & IV Jornada de Produção Científica em Fundamentais e Estado, UNISC,
Criciúma. 2019, p.3; TROPIA, Célio Eduardo Zacharias; SILVA, Pedro Paulo; DIAS, Ana Valéria Carneiro.
Indústria 4.0: uma caracterização do sistema de produção. México: Altec, 2017, p. 5-6.
trabalhadores para o desempenho, por meio das plataformas online, tanto de atividades
fragmentadas, micro tarefas (como responder a uma pesquisa), quanto de macro tarefas (a
exemplo da criação de logomarcas ou de sites). No aspecto, a Amazon é referencial na oferta
da “execução de tarefas de inteligência humana”. A respeito do segundo, trabalho on demand,
os autores explicam se tratar de uma forma de execução, viabilizada pelos aplicativos, que
selecionam e gerenciam a força de trabalho, de atividades tradicionais. Nesse caso, referem os
autores, “o prestador de serviço e o consumidor identificam oferta e demanda, o trabalho é
executado em face de uma necessidade apresentada; é feito o pagamento após a finalização do
trabalho”21.
A questão sobre a natureza jurídica do trabalho assim prestado pode ser analisada desde
a perspectiva dos sujeitos dessa troca, mas também pode passar pela análise da noção de mais-
valor para Marx. Segundo esse autor, uma relação social de troca implica a produção de uma
mercadoria, que é trocada por dinheiro que é trocado, novamente, por outra mercadoria22. É no
movimento de produção e circulação que o trabalho, adquirido como uma das mercadorias
necessárias para a confecção de determinado produto, adquire valor de troca e gera “mais-
valor”23. A força de trabalho é a mercadoria e o trabalho é a soma dessa força com o mais-valor
que ela proporciona ao comprador24. Ao separar força de trabalho e trabalho como categorias
distintas, Marx busca evidenciar o fato de que há, nessa troca, o valor pago pelas horas de
trabalho e o valor de uso desse trabalho (mais-valor) apropriado pelo empregador, e que
permitirá a existência e o sucesso do empreendimento.
Tendo Marx como referência, Ricardo Antunes refere que o efeito útil do trabalho de
transportar pessoas ou coisas é o próprio deslocamento (processo de produção), que só pode ser
consumido durante o ato de transportar, ou seja, durante o processo de produção. O valor de
troca desse efeito útil, portanto, é determinado pelos elementos de produção e mais-valor
decorrente do mais-trabalho, da mesma forma como é fixado em outras mercadorias ou setores
industriais. Em suma, é um processo de produção dentro do processo de circulação. Por isso,
para ele: “A principal transformação da empresa flexível e mesmo do toyotismo não foi a

21
OITAVEN, Juliana Carreiro Corbal; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CASAGRANDE, Cássio Luís. Empresas
de transporte, plataformas digitais e a relação de emprego: um estudo do trabalho subordinado sob aplicativos.
Brasília: MPT, 2018, p. 16-17.
22
MARX, Karl. O Capital. Livro I. São Paulo: Boitempo, 2013, p. 178.
23
Idem, pp. 179 e 228.
24
SEVERO, Valdete Souto. Elementos para o uso transgressor do Direito do Trabalho: compreendendo as relações
sociais de trabalho no Brasil e a função do Direito diante das possibilidades de superação da forma capital. 2a
edição. Revista e ampliada. São Paulo: ESA, 2020, p. 133.
conversão da ciência em principal força produtiva”25. Foi, isso sim, “a imbricação progressiva
entre trabalho, ciência, imaterialidade e materialidade, trabalho produtivo e improdutivo” e o
uso de uma estratégia discursiva, pela qual se confunde materialidade e imaterialidade, no
intuito de ocultar o assalariamento e encobrir a relação de emprego, buscando disfarçar uma
típica relação social de trabalho que, nos termos da normatização jurídica brasileira caracteriza
vínculo de emprego.
Na mesma linha, Filgueiras chama a atenção para a insistência em tratar como novidade
velhas fórmulas de exploração do trabalho, apenas porque agora é mediada por novas
tecnologias. Como ele mesmo alerta, “o atual modelo de empresa que se multiplica (como as
“marcas” e as “plataformas”) não deixa de promover a mesma forma de gestão (e exploração)
do trabalho humano, “para se apropriar da riqueza social”26.
Então, no caso do trabalho utilizando plataformas digitais, não ocorre o que Harvey
pontua como uso da tecnologia para substituir o trabalho humano, gerando uma contradição
entre trabalho e capital27. Isso porque, descartando a força de trabalho social, o capital também
eliminaria o salário, ou seja, excluiria o valor de troca necessário para o consumo e, portanto,
para a obtenção de lucro, o que prejudicaria a própria economia capitalista, que depende da
relação entre produção, circulação e consumo. O que a aplicação das novas tecnologias, no que
tange ao serviço de transporte de bens e de pessoas, tem revelado é o contrário: a maior extração
de mais-valor, com uso intensivo do trabalho humano, que segue se revelando condição de
possibilidade para a oferta do serviço oferecido por essas empresas.
Essa reestruturação produtiva precisa, então, ser bem compreendida. Se é verdade que,
como Li explica, o atual sistema econômico pode deixar de fora da produção a maioria das
pessoas, gerando déficit de consumo, a exemplo do que aconteceu após a automação agrícola28,
também é fato que atualmente a força de trabalho se concentra no setor de serviços, cuja
existência depende diretamente da extração de mais-valor do trabalho humano. Daí porque
Cannas irá afirmar que a tecnologia potencializou a abertura do mercado informal, que, na era

25
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 47.
26
FILGUEIRAS, Vitor. É tudo novo, de novo. As narrativas sobre grandes mudanças no mundo do trabalho como
ferramenta do capital. São Paulo: Boitempo, 2021, p. 140.
27
HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Caderno de formação n. 51, “As contradições
estruturais do capitalismo”. Instituto Trincontinental de Pesquisa Social Biotempo. São Paulo, 2020, p. 19.
28
LI, Cheng. “Emprego e bem-estar na era da inteligência artificial”. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n.
34, p. 13-22, 2016. E-book.
digital, encontrou, no setor de prestação de serviços por meio de aplicativos, um campo de
disputa entre as pessoas que não conseguem ocupar postos de trabalho protegidos29.
Assim, especialmente nesse segmento da economia, o capital se baseia na terceirização,
na informalidade, na flexibilidade e no falso discurso da autonomia, para seguir explorando
trabalho, sem entretanto assumir a contrapartida que decorre da proteção social representada
pela legislação trabalhista. Seu sucesso fundamenta-se, inclusive, na concorrência que gera
entre os próprios trabalhadores, que passam a ter dificuldade em se reconhecer como
pertencentes à categoria de classe trabalhadora, para a qual os direitos trabalhistas existem.
Eis o que Antunes chamará de “uberização do trabalho”: trata-se de uma nova
modalidade de trabalho, “que combina mundo digital e sujeição completa ao ideário e à
pragmática das corporações”. O resultado mais grave dessa processualidade, conclui o autor,
“é o advento de uma nova era de ‘escravidão digital’, que se combina com a expansão explosiva
dos intermitentes globais”30. Isso porque nas modalidades de trabalho em que se coloca a
flexibilidade como elemento benéfico, há uma verdadeira intensificação e precarização do
trabalho31, como é o caso do trabalho desenvolvido por meio das plataformas digitais.
O incremento de novas tecnologias aos meios de produção costuma ter impactos sobre
a ordem social e econômica, além de provocar mudanças na estrutura ocupacional e nas relações
de trabalho32. Harvey afirma que cada novo conjunto de arranjos proporciona uma nova
estrutura para a economia33. Isso, porém, como bem afirma Ricardo Antunes, não deve servir
para afastar a proteção social. Antes, é preciso reconhecer um conceito ampliado de classe
trabalhadora hoje, que, “em sua nova morfologia, deve incorporar a totalidade dos trabalhadores
e trabalhadoras, cada vez mais integrados pelas cadeias produtivas e que vendem sua força de
trabalho como mercadoria em troca de salário, sendo pagos por capital-dinheiro”. Ele salienta
que não importa “se as atividades que realizam sejam predominantemente materiais ou

29
CANNAS, Fábio. Proletariado digital: novas demandas de proteção social. In: III Seminário Internacional em
Direitos Humanos e Sociedade & IV Jornada de Produção Científica em Fundamentais e Estado, UNISC,
Criciúma. 2019. Ebook.
30
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 39.
31
OITAVEN, Juliana Carreiro Corbal; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; CASAGRANDE, Cássio Luís. Empresas
de transporte, plataformas digitais e a relação de emprego: um estudo do trabalho subordinado sob aplicativos.
Brasília: MPT, 2018, p. 26.
32
LI, Cheng. “Emprego e bem-estar na era da inteligência artificial”. Carta Social e do Trabalho, Campinas, n.
34, p. 13-22, 2016. E-book.
33
HARVEY, David. 17 contradições e o fim do capitalismo. Caderno de formação n. 51, “As contradições
estruturais do capitalismo”. Instituto Trincontinental de Pesquisa Social Biotempo. São Paulo, 2020, p. 19.
imateriais, mais ou menos regulamentadas”34, é sempre de trabalho assalariado que estamos
tratando.
Então, mesmo admitindo que a reestruturação produtiva implicou uma nova morfologia
do trabalho, da qual emerge o trabalhador uberizado, cuja atividade é caracterizada por um
intenso processo social de precarização, trabalhando sem pré-determinação de local, com
jornada flexível, sem garantia de remuneração mínima e sem possibilidade de representação
sindical35, a conclusão necessária é de que o Estado precisa reconhecer a condição de
empregados a esses trabalhadores, a fim justamente de tirá-los dessa precariedade.
Trata-se de uma categoria marcada por instabilidade e insegurança próprias dos
contratos precários, como o trabalho intermitente, a terceirização, a “pejotização” (criação de
uma pessoa jurídica para desviar da legislação trabalhista), tudo como forma de disfarçar o
assalariamento36. O disfarce pode ser identificado em número: em 2020, já havia mais de três
milhões de pessoas vinculadas a plataformas de aplicativos. De acordo com Lucia Garcia,
economista pela DIEESE, em entrevista concedida ao DMT (Democracia e Mundo do
Trabalho), “o número de desempregados expulsos do setor produtivo pela mudança tecnológica
é muito maior do que os que vão ser aproveitados de maneira temporária, instantânea pelas
plataformas”, o que explica, em parte, a taxa de desemprego, segundo o IBGE, ter chegado a
14,6% no quarto trimestre de 2020.
Trata-se de um cenário catastrófico que revela não só o investimento na desidratação da
noção de vínculo de emprego como forma de impedir o reconhecimento de direitos trabalhistas
e das proteções sociais, como também a desvalorização das organizações coletivas. Sob essa
perspectiva, Ricardo Antunes refere que, na nova reestruturação capitalista:

Deve existir a disponibilidade perpétua para o labor, facilitada pela expansão do


trabalho on-line e dos “aplicativos”, que tornam invisíveis as grandes corporações
globais que comandam o mundo financeiro e dos negócios. De outro, expande-se a
praga da precariedade total, que surrupia ainda mais os direitos vigentes. Se essa
lógica não for radicalmente confrontada e obstada, os novos proletários dos
serviços se encontrarão entre uma realidade triste e outra trágica: oscilarão entre

34
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 33.
35
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 38; LAZZARIN, Sonilde Kugel. A inseguridade social em tempos de pandemia: a renda básica
universal como possível solução ao precariado e à crescente desigualdade social no Brasil. Porto Alegre: HS
Editora, 2020. E-book.; OLIVEIRA, Murilo Carvalho Sampaio; CARELLI, Rodrigo de Lacerda; GRILLO,
Sayonara. Conceito e crítica das plataformas de trabalho. Revista Direito e Praxis, Rio de Janeiro, v. 11, n. 4, 2020,
p. 2609-2635. p 2631.
36
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 25.
o desemprego completo e, na melhor das hipóteses, a disponibilidade para tentar
obter o privilégio da servidão37. (grifo nosso)

Sob o ponto de vista político, o privilégio da servidão pode ser observado no discurso
popular reproduzido acriticamente no sentido de que “é melhor ter trabalho sem direitos, do que
direitos sem trabalho”38. Incorporou-se ao imaginário coletivo a ideia de que ou há trabalho ou
há proteção trabalhista, como se fossem duas forças antagônicas e incompatíveis.
A exemplo desse discurso, o ex-presidente da República, Jair Bolsonaro, havia editado
a Medida Provisória (MP) n. 905/2019, que daria início a um novo modelo de contratação - o
contrato verde e amarelo. O argumento era de que se trata de uma estratégia para a criação de
novos empregos, pois simplificaria a contratação de novos trabalhadores e trabalhadoras, na
medida em que diminuiria impostos e encargos trabalhistas e previdenciários. A medida deixou
de ser apreciada pelo Senado Federal e, felizmente, perdeu sua validade. Com idêntico discurso
de flexibilidade e desburocratização, a Lei n. 13.467/2017 já havia sido aprovada e a realidade
é diversa da prometida. O verdadeiro resultado da contrarreforma foi mais precarização e
desemprego estrutural, como aliás, sabia-se desde o início39. A promessa de novos postos de
trabalho e crescimento econômico, como cantou Chico Buarque, “foi tudo ilusão passageira”.
O privilégio da servidão, como um resultado da dialética histórica entre o trabalho e o
capital, não pode ser a linha de chegada para a classe trabalhadora. Ao contrário, deve ser
motivo de resistência, potencialmente mobilizador da luta do proletariado contemporâneo pelos
direitos trabalhistas - tão arduamente conquistados ao longo da história.

3. POR UMA RESSIGNIFICAÇÃO DO CONCEITO DE SUBORDINAÇÃO

Os efeitos da “uberização” do trabalho extrapolam a esfera individual. É certo que há


evidente desgaste em atividades realizadas sem limite de tempo de trabalho, como é o caso das

37
ANTUNES, Ricardo. O privilégio da servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. 2 ed. São Paulo:
Boitempo, 2020, p. 36.
38
Em dezembro de 2018, Jair Bolsonaro referiu que os trabalhadores deviam escolher entre mais direitos ou
emprego, o que além de ser contrário ao metabolismo do capitalismo, como já demonstramos, é também uma
contradição em termos. Os direitos são justamente decorrência, dentro do discurso estatal, do reconhecimento de
que a troca entre capital e trabalho se dá mediante relação de emprego. A fala reflete, porém, esse senso comum
que é incentivado por uma verdadeira política de esvaziamento do conteúdo da relação de emprego, como forma
de precarizar as condições de vida de quem depende do trabalho para sobreviver.
(https://valor.globo.com/politica/noticia/2018/12/04/bolsonaro-trabalhador-tera-de-escolher-entre-mais-direitos-
ou-emprego.ghtml, acesso em 16/6/2023).
39
SEVERO, Valdete Souto. SOUTO MAIOR, Jorge Luiz. Manual da Reforma Trabalhista. Pontos e contrapontos.
São Paulo: Sensus, 2017.
entregas e transportes, dentro da realidade atual de ausência de reconhecimento formal de que
se está diante de um vínculo de emprego. Também não é difícil pensar o custo efetivo para o
corpo humano, de um trabalho realizado por muitas horas sobre uma motocicleta, uma bicicleta
ou um veículo. Consequências que são físicas, mas também emocionais, especialmente se
tivermos presente o que representa estar em meio ao trânsito urbano, nas grandes cidades
brasileiras.
Neste artigo, queremos, porém, chamar a atenção para as consequências sociais dessa
forma de exploração da força de trabalho. A possibilidade de mobilizar coletivamente,
especialmente por meio da ação sindical, tem sofrido entraves decorrentes da agenda neoliberal
pautada pelas plataformas. Por um lado, as empresas negam a sua condição de empregadoras.
Afirmam que os trabalhadores e as trabalhadoras são autônomas, parceiras e até empresas 40,
mas nunca empregadas. Há aí o seu tanto de perversidade: a estratégia empresarial
propagandeia liberdade, flexibilidade e autonomia. Por outro lado, o canto da sereia nega a
essas pessoas mais do que o reconhecimento de direitos sociais, trabalhistas e previdenciários,
essenciais para a manutenção de uma vida digna. Nega-lhes, em um nível mais profundo e
subjetivo, a possibilidade de pertencimento, a possibilidade de que essas pessoas se
identifiquem como empregadas, parte de uma categoria pertencente à classe trabalhadora.
Portanto, a gestão e o controle das plataformas por meio das novas tecnologias
precarizam os vínculos sociais ao amplificar a noção de superação individual e a condição de
autônomo, o que dificulta a resistência coletiva, especialmente de se organizar em sindicato 41.
Aliás, o sindicalismo nacional, que desempenha um papel importante na representação da classe
trabalhadora, já vem sofrendo uma asfixia na sua esfera de atuação desde a contrarreforma
trabalhista de 2017 e a importância do tema aqui discutido é central.
Após assumir o governo em janeiro de 2023, o Presidente Lula anunciou a pretensão de
regular a atividade de motoristas e entregadores que trabalham utilizando plataformas digitais42.
Por sua vez, os entregadores, organizados em associação de representação nacional,
estrategicamente pressionam o governo43. Durante a pandemia da COVID-19, esses mesmos

40
Pessoa jurídica (microempresa ou microempreendedor individual) criada para disfarçar a relação de
assalariamento dando uma roupagem de relação interempresas.
41
ANTUNES, Ricardo (org.). Uberização, trabalho digital e indústria 4.0. / Arnaldo Mazzei Nogueira … [et al.];
[tradução Murillo van der Laan, Marco Gonsales]. Um novo adeus à classe trabalhadora?. p. 159-178 - 1. ed. São
Paulo: Boitempo, 2020. p. 174
42
https://www.dmtemdebate.com.br/governo-lula-diz-que-regulamentara-o-trabalho-de-entregadores-de-apps/,
acesso em 05/2/2023.
43
https://www.extraclasse.org.br/movimento/2023/01/entregadores-de-aplicativos-organizam-primeira-
paralisacao-da-nova-era-lula/, acesso em 05/2/2023.
trabalhadores já haviam dado uma bela lição de consciência de classe, mobilizando-se por
melhores condições de trabalho. A paralisação conhecida como “Breque dos Apps” foi a
primeira ocorrida em âmbito nacional. Mobilizada e organizada pela própria categoria, por meio
de interações nas redes sociais, tinha como objetivo paralisar os aplicativos e chamar atenção
para as reivindicações da categoria. Nas manifestações, ecoadas por parte da mídia e por
movimentos de esquerda, os trabalhadores e as trabalhadoras reivindicaram condições mais
dignas de trabalho, especialmente quanto à remuneração, além de transparência das empresas
quanto aos critérios de avaliação, suspensão e desligamento44.
A mobilização da categoria nasceu a partir de um movimento popular, muito
impulsionado pelo surgimento do coletivo “Entregadores Antifascistas” e seu líder, conhecido
como Paulo Galo. Apesar da descrença na atuação sindical na defesa e na representação de seus
interesses, os entregadores e as entregadoras se articularam fortemente por meio das mídias
sociais, que se tornaram o principal canal de comunicação e integração da categoria para
discutirem suas pautas. Ainda, ressoaram suas vozes por todo o Brasil e elevaram para o topo
das redes sociais a hashtag #ApoieoBrequedosApps, convocando, nesse gesto, as pessoas
consumidoras dos serviços para aderirem ao movimento45.
O discurso de empreendedorismo e autogerenciamento no trabalho, marcado por uma
racionalidade neoliberal e que ainda atravessa a narrativa dessas pessoas - pois boa parte se
identifica como autônoma -, não tem impedido a produção de novos arranjos de mobilização
social diversos do sindicalismo e com grande alcance de suas pautas nas redes sociais 46. Isso
pode fazer concluir em sentido contrário ao título deste capítulo. Afinal, essas pessoas deram
prova de que é possível criar laços, antes mesmo de serem reconhecidas como parte da classe
trabalhadora no discurso jurídico. Essa é a condição de existência da luta de classes. Exatamente
por isso, a maior parte dos direitos trabalhistas só foi regulada após o tensionamento organizado
de trabalhadoras e trabalhadores. Ainda assim, o ponto que pretendemos aqui discutir segue
valendo. Trata-se da dificuldade criada pelo discurso da falsa autonomia de trabalhadores
contratados por empresas que operam através de plataformas digitais, e de suas consequências.

44
DESGRANGES, Nina; RIBEIRO, Wickson. NARRATIVAS EM REDE: O BREQUE DOS APPS E AS
NOVAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES EM PLATAFORMAS DIGITAIS. Revista
Movimentação, Dourados, MS, V.8, nº.14, jan./jun. 2021 - ISSN 2358-9205. Pp 189 - 208.
45
DESGRANGES, Nina; RIBEIRO, Wickson. NARRATIVAS EM REDE: O BREQUE DOS APPS E AS
NOVAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES EM PLATAFORMAS DIGITAIS.
Revista Movimentação, Dourados, MS, V.8, nº.14, jan./jun. 2021 - ISSN 2358-9205. Pp 189 - 208.
46
DESGRANGES, Nina; RIBEIRO, Wickson. NARRATIVAS EM REDE: O BREQUE DOS APPS E AS
NOVAS FORMAS DE MANIFESTAÇÃO DE TRABALHADORES EM PLATAFORMAS DIGITAIS.
Revista Movimentação, Dourados, MS, V.8, nº.14, jan./jun. 2021 - ISSN 2358-9205. Pp 189 - 208.
O próprio movimento de organização coletiva realizado por esses trabalhadores durante
a pandemia torna certa a fissura na racionalidade do falso empreendedorismo, referida no
capítulo anterior deste artigo. Ainda assim, não há consenso entre as pessoas que trabalham por
meio das plataformas digitais, acerca de sua condição de empregadas ou de trabalhadoras
autônomas. Na discussão sobre a demanda pela formalização da atividade, Abílio sustenta que
a busca pela condição de autônomo está presente na narrativa dos mais diversos perfis
socioeconômicos de trabalhadores e que as interpretações sobre o discurso da categoria tendem
a assumir uma “suposta falsa consciência ou autoengano do trabalhador”, supostamente
cooptado pelo mito do empreendedorismo. Admite que as plataformas digitais se apropriam
dessa busca por autonomia, para obter, no entanto, a informalidade e a precarização das
condições de trabalho. Por fim, a autora afirma que há dois elementos presentes no discurso de
rejeição ao emprego formal tecido pelos trabalhadores: “1) a fuga dos modos de controle,
gerenciamento e exploração vivenciados no emprego formal; 2) o gerenciamento do próprio
tempo, ainda que de forma subordinada”47.
Efetivamente, é importante enfrentar a discussão sob essas perspectivas. A análise
qualitativa do conjunto das respostas acerca do motivo pelo qual parte dos trabalhadores e das
trabalhadoras não desejam ter vínculo de emprego reconhecido com as plataformas revela que
a centralidade dos argumentos está em associar o trabalho celetista a um regime inflexível de
jornada e a uma equivocada noção de subordinação, tal como ocorria nas fábricas: centrada em
uma figura patronal “forte”, constantemente emitindo ordens diretas e punindo.
Essa é uma realidade, porém, que já não existe na maioria das relações de emprego. E
que em momento algum determinou, juridicamente, a configuração ou o afastamento da
condição de empregado. Sem dúvida, reflete um discurso amplamente disseminado, que inverte
a lógica da campanha trabalhista da época de Getúlio Vargas. Enquanto em meados do século
passado, exaltava-se a figura do empregado padrão, que fazia carreira em uma única empresa e
tinha a sensação de pertencimento ao local de trabalho (“vestia a camiseta”), hoje o discurso
exalta a figura do “self-made man"48.
A realidade é muito diferente, porém, da falsa autonomia apregoada por esse discurso.
Acidentes de trânsito, jornadas extensas, despesas insuportáveis para a manutenção do veículo,

47
MACHADO, Sidnei; ZANONI, Alexandre Pilan (organizadores); vários autores. O trabalho controlado por
plataformas digitais no Brasil: dimensões, perfis e direitos. UFPR - Clínica Direito do Trabalho: Curitiba, 2022.
P. 151.
48
É interessante a leitura do artigo “Renovações do self-made man: meritocracia e empreendedorismo nos
filmes “À procura da felicidade”e “A rede social”, de Mayka Castellano e Bruna Bakker, sobre o tema,
disponível em https://periodicos.uff.br/ciberlegenda/article/view/36973/21548, acesso em 16/6/2023.
sem o qual não podem trabalhar, e a angústia de saber que sem trabalho não terão dinheiro. E,
sem dinheiro, não poderão comprar sequer alimentos. Se um trabalhador informal se acidenta,
algo comum entre a/os motoristas, pois há prazo para entregas realizadas em centros urbanos
de tráfego intenso, deixa de trabalhar e por consequência de receber. Isso não é apenas um
problema de ordem financeira, porque sem trabalhar e receber, não há como dar conta dos
gastos cotidianos indispensáveis à sobrevivência. É, portanto, fator de estresse, de agonia.
Saber-se doente, sem condições de trabalho e sem qualquer amparo, causa angústia e por
consequência adoecimento emocional.
É importante considerar, ainda, que motoristas e entregadores que não têm vínculo de
emprego reconhecido recebem apenas o percentual das entregas que realizam. Empregados
recebem, além disso, férias, gratificação natalina, FGTS. Há obrigação de recolhimento
previdenciário pelo empregador e, portanto, acesso ao sistema de previdência social. O
percentual de imposto de renda descontado pelo empregador – que não é significativamente
maior do que aquele que o próprio trabalhador já desconta como “parceiro” – quando colocado
na ponta do lápis e relacionado com os valores que precisam ser pagos pelo trabalho assalariado,
revelam que também aqui há vantagem concreta em ser empregado, que não é levada em
consideração na disseminação do discurso da (falsa) autonomia.
É possível identificar, portanto, que a questão, desde a perspectiva do discurso jurídico,
passa pela conceituação da subordinação e do modo como esse conceito vem sendo tratado pela
doutrina e pela jurisprudência. As pessoas que trabalham nada mais fazem do que reproduzir o
discurso que advém do próprio Direito e da Justiça do Trabalho, qual seja, de que para ter
vínculo de emprego é necessário cumprir jornada fixa e ser punido. Uma subordinação
direcionada à pessoa e não à sua atividade, tal como ocorre no trabalho por plataformas digitais.
Necessário, portanto, um movimento de refinamento do conceito de subordinação pela doutrina,
porque isso reflete na forma como será analisado o vínculo de emprego nas decisões judiciais.
O artigo 7o da Constituição, quando estabelece a proteção social necessária na troca
entre capital e trabalho, não se refere a empregados, mas sim a trabalhadores. Sublinha,
portanto, a necessidade de estender a todas as pessoas que vivem do trabalho os direitos básicos,
dentre os quais está o direito ao reconhecimento da existência de uma relação de emprego
(inciso I). A CLT, que é símbolo de proteção social, mas também, de modo distorcido pelo
senso comum, de sujeição a horário, ordens, penalidades, é o texto em que tais direitos estão
explicitados. A ideia de que “ser CLT” pode implicar prejuízo concreto ao cotidiano das pessoas
que trabalham para essas empresas parte de um senso comum que se dissocia da regulação
jurídica de proteção social.
A CLT não utiliza o termo subordinação nem define o que seja um vínculo de emprego.
Em lugar disso, identifica quem são as pessoas que participam dessa relação social. E começa
pelo empregador. O artigo 2o diz que empregador é “a empresa, individual ou coletiva, que,
assumindo os riscos da atividade econômica, admite, assalaria e dirige a prestação pessoal de
serviço”. A expressão utilizada é “dirige a prestação de serviço”, não a vida de quem trabalha.
A condição jurídica de empregado, portanto, não depende de estar diante de uma situação em
que se exige cumprimento de horário sempre igual, obediência a ordens diretas ou aplicação de
penalidades. Nada disso tem previsão legal. A direção da atividade decorre do fato objetivo de
que os meios de produção estão nas mãos da empresa. Direcionar a atividade é incluir o trabalho
em uma lógica empresarial que será necessariamente definida por quem emprega, afinal quem
produz (serviço ou mercadoria) precisa organizar e dizer como funcionará essa produção49.
O sistema capitalista se fundamenta na produção e na circulação de mercadorias e
serviços. Para isso, o trabalho humano é necessário para a empresa. Então, ele é necessário para
quem vive do trabalho (e só tem a força de trabalho para oferecer nessa troca), mas também
para quem emprega. Não há como uma empresa de entrega de alimentos funcionar sem
entregadores, por exemplo.
O artigo 3o da CLT, por sua vez, refere que empregado é “toda pessoa física que prestar
serviços de natureza não eventual a empregador, sob a dependência deste e mediante salário”.
Dependência é o termo escolhido. Não subordinação. Essa dependência é, em regra, econômica,
pois as pessoas trabalham para ter o dinheiro com o qual se alimentam, compram roupa, pagam
aluguel ou remédio. Então, viver em uma sociedade de trabalho obrigatório significa que
trabalhar em troca de salário não é uma escolha, mas sim uma necessidade. A dependência é
também jurídica, social e política, porque decorre do fato de que o trabalho será realizado dentro
de uma lógica em que os meios de produção, o direcionamento da atividade, o pagamento da
remuneração e a demanda de trabalho serão estabelecidos por quem está contratando.
É usual conceituar a dependência (ou a subordinação) como o oposto da autonomia.
Mas isso ocorre porque, de fato, não há autonomia em uma sociedade, na qual sem trabalhar
não conseguimos acesso sequer ao alimento. Se vincular-se a um trabalho para receber salário
é a condição fundante para viver em sociedade (ter onde morar, o que comer, o que vestir), não
há autonomia. Se vender a força de trabalho para uma empresa significa aceitar e seguir o

49 Aliás, a redação desse dispositivo, dada pela Lei 13.467/2017, permite sustentar, de forma tranquila, a
impossibilidade de terceirização lícita ou, no mínimo, a responsabilidade direta e solidária de todas as pessoas
(físicas ou jurídicas) que exploram de forma comum, a força de trabalho. Basta ler os parágrafos segundo e
terceiro desse dispositivo, mas essa já é uma discussão para outro artigo.
direcionamento da atividade (o estabelecimento da plataforma em que a demanda de trabalho
aparecerá, a forma de avaliação, de remuneração, a quantidade de trabalho, etc), não há
autonomia. Se quem oferece o trabalho não tem o capital, não tem os meios de produção, não
há autonomia. Fácil perceber, então, que trabalho efetivamente autônomo em um modelo de
sociedade como o nosso é algo raro, ou mesmo inexistente.
A questão é distorcida, porém, diante de tanta regulação precarizante, que retira grupos
de trabalhadora/es da condição de empregada/os, dizendo-lhes autônoma/os, quando em
realidade não são. Todas elas, desde a lei sobre cooperativas de prestação de serviços, passando
pelos auxiliares de carga e descarga, manicures, diaristas, constituem estratégias de segregação
que dificultam a luta por melhores condições de existência para quem vive do trabalho e,
consequentemente, para todas as pessoas. Como refere Ricardo Antunes, dividir a classe
trabalhadora é desde sempre uma das principais armas de quem detém o capital50.
A autonomia que hoje existe para quem vende trabalho e não tem reconhecidos os
direitos trabalhistas é nenhuma. Escolher o horário em que “se ativa”, trabalhar com veículo
próprio ou receber por produção não significam a possibilidade de gerir um empreendimento,
determinar o valor do trabalho, definir quanto investir ou para quem prestar (ou não prestar)
algum serviço e, especialmente, lucrar com isso. A dependência, que é o critério legal para a
caracterização de um vínculo de emprego, é exatamente a ausência de capital (e, portanto, dos
meios de produção), aliada à necessidade de trabalhar para ter acesso a bens materiais.
A autonomia que se resume à escolha do horário de trabalho e à possibilidade de receber
por entrega, aumentando a remuneração com o aumento da quantidade de trabalho, não é
ausência de dependência. Basta ver que essa já é a realidade de muitas trabalhadoras e
trabalhadores, em várias áreas que realizam teletrabalho, como ocorre com frequência na área
da tecnologia da informação. As pessoas trabalham de madrugada ou de manhã, ou no final do
dia. Muitas vezes recebem por produção. E nada disso desconfigura o vínculo de emprego. A
jornada, que tanto a Constituição quanto a CLT estabelecem, é o limite máximo, que visa a
garantir vida fora do trabalho. A remuneração, seja fixa ou por tarefa, é a contrapartida do
trabalho assalariado (subordinado). Não é o mínimo, nem há em lugar algum na CLT a
exigência de horário ou salário fixos, como condições para que exista um vínculo de emprego.

50
Esse argumento é retomado e perpassa toda a discussão de sua obra, especialmente nos livros: ANTUNES,
Ricardo. Os Sentidos do Trabalho. Ensaio sobre a afirmação e a negação do trabalho. São Paulo: Boitempo,
2009, e ANTUNES, Ricardo. O Privilégio da Servidão: o novo proletariado de serviços na era digital. São Paulo:
Boitempo, 2018.
Trabalhar no máximo 8 horas por dia é um parâmetro internacional que tem por objetivo
viabilizar descanso, convívio familiar, estudo e até mesmo consumo.
Então, o reconhecimento de vínculo para entregadore/as e motoristas não significa
impor redução de salário ou fixação de jornada. Significa o direito a descansar e até mesmo o
direito de adoecer. Do mesmo modo, o piso de uma categoria é só isso mesmo: um piso, um
mínimo que garanta a sobrevivência e o consumo. Não é o máximo de salário. Ao contrário, é
a garantia de que mesmo fazendo menos horas de trabalho na semana, o valor mínimo será
recebido. Garantia de que, ainda que precise não trabalhar em determinado dia, quando se está
acometido de alguma doença, COVID-19, por exemplo, a remuneração dos dias será paga.
As empresas que operam por meio de plataformas digitais se apropriam de uma busca
por autonomia, presente no ideário de quem trabalha, como referiu Abílio. No entanto, essa
concepção de (falso) autogerenciamento revela um modelo de produção que gera
individualização dos laços sociais e rompe com o compromisso de uma sociedade salarial, em
um contexto de enfraquecimento dos sindicatos. E aprofunda o processo, que vem ocorrendo
desde a década de 1970, de esvaziamento dos direitos trabalhistas. É possível então afirmar que
mitigar as proteções relacionadas ao trabalho é abrir as portas para a insegurança social e
produzir ainda mais desigualdades. Nesse contexto, recuperar o conceito legal de dependência
é um caminho importante para que a doutrina e a jurisprudência trabalhistas não sejam agentes
de um verdadeiro boicote à ordem jurídico-constitucional, permitindo que uma gama imensa de
pessoas siga trabalhando de forma precarizada.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

A logística, a entrega de alimentos, o transporte de pessoas, constituem condição para o


funcionamento da sociedade contemporânea. Se motoristas e entregadora/es se organizarem e
reivindicarem direitos, se pararem em um movimento de greve, o efeito não será apenas a perda
de lucro das empregadoras. Toda a sociedade sentirá o efeito da falta desse serviço. Do mesmo
modo, a produção de adoecimento, lesão e morte de trabalhadoras e trabalhadores, situação
diretamente relacionada à precarização das condições de trabalho, é – como sustentamos no
artigo – um boicote à ordem constitucional vigente. Algo que afeta todo o tecido social.
É fundamental, portanto, discutir as questões relativas à atividade realizada por meio de
plataformas, porque a uberização do trabalho, que elas simbolicamente representam, atinge toda
a classe trabalhadora. A própria criação desse neologismo, dessa palavra para explicitar uma
exploração do trabalho fora dos parâmetros constitucionais, é indicativa da centralidade desse
trabalho e, portanto, da importância social de reconhecer proteção a essas trabalhadoras e
trabalhadores. O parâmetro de proteção que se estabelecer para essa categoria profissional e a
forma como a subordinação será (e já está sendo) analisada para quem hoje já vive fazendo
entregas ou transportando pessoas atingirá toda a sociedade.
O transporte de pessoas e de coisas não foi criado pelas empresas que passaram a operar
utilizando plataformas digitais. Basta ver a história de luta e de trabalho dos motoboys. A vida
dessas pessoas não melhorou depois que o trabalho começou a ser explorado através de grandes
empresas. Eis o que significa a uberização do trabalho: piora nas condições de vida, sob o
disfarce da autonomia. Sob a distorção, na verdade, do que significa ter autonomia. Nessa forma
de exploração de trabalho o que se confere, concretamente, é a falsa autonomia de não poder
adoecer, não poder aposentar, não ter férias e assumir todo o custo do próprio trabalho,
permitindo que as empresas lucrem, sem qualquer contrapartida.
Então, ainda que seja importante regular alguns direitos que são próprios dessas
atividades, o ponto central de discussão nesse caso, do qual a academia não pode se furtar, é o
reconhecimento da condição de empregado/a, desde uma ressignificação que é, em realidade,
um resgate do conceito de dependência.

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