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DIREITO DO TRABALHO
CLÁUDIO FREITAS
Crédito: Pixabay
+JOTA: Entenda o cenário institucional com o JOTA Poder. Seguimos de perto tribunais superiores,
agências reguladoras, Congresso, Poder Executivo e legislativos estaduais e municipais para
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Para alguns6 o referido princípio se desdobraria em outros três, quais sejam, norma mais
favorável, condição mais benéfica e in dubio pro misero, ao passo que para outros7 se teria
um princípio maior do qual, em verdade, todos os demais emanariam.
Dessa forma, o princípio da proteção ao trabalhador vem sofrendo de uma grave crise,
permitindo-se uma desproteção em nome do emprego. De forma até mais ferrenha, vale
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É exatamente a partir disso que o autor acima conclui pela “captura” da subjetividade do
trabalhador. Isso porque o processo de precarização do trabalho no capitalismo global
atinge tanto a objetividade quanto a subjetividade da classe trabalhadora. O eixo central
dos dispositivos organizacionais é a captura da subjetividade do trabalho pela lógica do
capital, por meio da constituição de novo nexo psicofísico capaz de moldar e direcionar
ação e pensamento dos operários e empregados em conformidade com a racionalização
da produção. Os dispositivos organizacionais do novo modelo de gestão mais do que as
exigências da organização industrial do fordismo, sustentam-se no “envolvimento” do
trabalhador com tarefas de produção em equipe ou jogos de palpites para aprimorar
procedimentos de produção.
Mas é importante destacar que a própria jurisprudência atual vem relativizando o princípio
da proteção ao trabalhador, no sentido de suposta “liberdade sindical” a equiparar os
contratantes.
Tal posicionamento vem sendo observado, mesmo antes da Reforma Trabalhista (Lei
13.467/2017), tanto pelo Tribunal Superior do Trabalho (TST15), quanto pelo Supremo
Tribunal Federal (STF16), ainda que de forma não tão ferrenha quanto a nova legislação.
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de direitos por meio de negociação coletiva, sob pena de deturpação total da proteção
inerente ao Direito do Trabalho.
Entretanto esse não foi o entendimento advindo pela Reforma Trabalhista (Lei
13.467/2017), que relativizou excessivamente o princípio da proteção em inúmeros de
seus dispositivos, fazendo surgir uma nova ótica do Direito do Trabalho brasileiro.
+JOTA: Procedimentos extintivos dos contratos de emprego. Análise do novo art. 477, da CLT
(i) retira a limitação da jornada ao teletrabalhador (artigo 62, III), em aparente afronta à
proteção conferida pelo artigo 7º, XIII da CRFB/88;
(ii) retira a natureza salarial do trabalho executado em intervalo intrajornada (artigo 71,
§4º), criando uma nova e perigosa forma de exploração do trabalho, que é a possibilidade
de exigência de labor no intervalo para descanso, mas mediante pagamento de
indenização, ou seja, sem qualquer natureza salarial ou remuneratória e reflexos em
contribuições previdenciárias;
(iii) parametriza os valores de indenização por danos morais (artigo 223-G, §1º), em que
pese ser entendimento pacífico do STF e STJ tal impossibilidade em razão da dignidade da
pessoa humana17;
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Mas nem os mais restritos e severos sistemas resistem ao neoliberalismo que, através do
sistema toyotista de produção, torna cada vez mais globais os espaços, fazendo com que
as novas máquinas de comunicação em rede que intensifiquem mundialmente o papel da
informação dentro das organizações, constituindo um novo espaço virtual de informação
e comunicação (o ciberespaço), inaugurando uma “Quarta Revolução Tecnológica”22. E é a
partir daí que surgem novas formas de exercício do trabalho antes não pensadas, bem
como novos modelos de trabalhadores e até mesmo da subordinação jurídica
classicamente estampada na lei.
Por esses e outros motivos que se indaga se na atual sociedade haveria lugar para o
princípio da proteção em sua forma clássica, no que a Reforma Trabalhista respondeu,
claramente, no sentido negativo. O Estado deixa de ser o reitor da vida humana no
trabalho, cedendo espaço para a negociação entre as partes como forma de solução dos
conflitos23, permitindo a releitura do princípio da proteção.
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Eis então, o grande mote da Reforma Trabalhista, não se sabendo se utilizado pelo
legislador por conhecimento, ou, simplesmente, adaptando-se ao movimento neoliberal
reformista moderno que gerou Reformas Trabalhistas em mais de 100 (cem) países.
Vale destacar que quanto a essa última informação o resultado de profunda pesquisa da
OIT acerca dos impactos reformistas não foram animadores, sendo apontado o aumento
do desemprego ao longo do tempo em detrimento da propalada salvaguarda dos postos
de trabalho25.
Naturalmente o desejo íntimo é que os trabalhadores brasileiros não sofram dos mesmos
sintomas, em que pese ter sido relativizado o princípio da proteção, inaugurando-se uma
nova era ao Direito do Trabalho, que necessitará de novos pensamentos críticos e
reformulação.
*Os artigos publicados nesta coluna são de autoria dos professores do Curso Ênfase.
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Referências bibliográficas
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1 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 9ª ed. São Paulo: Método, 2014, p.52.
2 BARROS, Alice Monteiro de. Curso de Direito do Trabalho. 1ª ed. São Paulo: LTr, 2005, p.
88.
5 “Il fine, quindi, del del diritto del lavoro è quello di attenuare gli affetti più deleteri della
subordinazione, specie quelli che toccano la libertà, la dignità e la sicureza umana del
prestatore di lavoro”. In GIUDICE, F. del; MARIANI, F.; IZZO, F. Diritto del Lavoro. XVII
Edizione. Napoli: Edizioni Giuridiche Simone, 1999, p.10.
6 RODRIGUEZ, Américo Plá. Princípios de Direito do Trabalho. São Paulo: LTr, 1978, p. 41.
7 DELGADO, Mauricio Godinho. Curso de Direito do Trabalho. 14ª ed. São Paulo: LTr, 2015,
p.202.
10 CASTRO, Carla Apollinário de. Das fábricas aos cárceres: mundo do trabalho em
12 ROMITA, Arion Sayão. O princípio da proteção em xeque e outros ensaios. São Paulo:
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16 Vide RE 590415, Relator(a): Min. ROBERTO BARROSO, Tribunal Pleno, julgado em
17 APDF 130, pela qual declarou o STF a não recepção dos artigos 51 e 52 da Lei
18 SILVA, Homero Batista Mateus da. Comentários à Reforma Trabalhista. Análise da Lei
fundamentos para uma teoria geral. São Paulo: LTr, 2005, p.163.
Contemporâneo. In http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/dos-princípios-do-direito-do-
https://www.jota.info/opiniao-e-analise/colunas/pensando-direito/reforma-trabalhista-direito-individual-24052018 9/10
29/03/2023, 10:57 Reforma trabalhista e a relativização da proteção no Direito Individual - JOTA
<http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—dgreports/—
inst/documents/publication/wcms_414588.pdf>. Acesso em 04/01/2018.
CLÁUDIO FREITAS – Juiz do Trabalho do TRT da 1ª Região. Ex-advogado concursado da Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS). Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em
Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade Veiga de Almeida (UVA). Mestre em Sociologia e
Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
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