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STF
CLÁUDIO FREITAS
Pixabay
Segundo definição doutrinária, os sindicatos são associações civis de direito privado sem
fins lucrativos, constituídos e administrados pelos seus membros (que são vinculados por
laços profissionais e de trabalho em comum), com finalidade de defesa de seus interesses
para alcance de melhores condições de trabalho e de vida1. As entidades sindicais são
constituídas para representar e defender a profissão independente das individualidades
(pessoas) que as compõem, muitas vezes, inclusive, contra algumas delas (exemplo no
caso de moralização profissional que importe em proibição do seu exercício).2
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Estes parâmetros se mantêm até os dias de hoje, ainda que com alterações advindas pela
Constituição da República do Brasil de 1988 (artigo 8º da CRFB/88), já que o ideal
democrático do constituinte pôs em movimento os desejos de liberdade e autonomia
sindical6. Ainda assim, a mesma autora (bem como a doutrina majoritária) tece profundas
críticas às modificações feitas pela CRFB/88, já que preservou a unicidade sindical (um só
sindicato representativo da categoria na base territorial mínima municipal), a necessidade
de reconhecimento da entidade sindical pelo Ministério do Trabalho e a manutenção da
contribuição sindical obrigatória, todos com chancela, inclusive, de decisões do Supremo
Tribunal Federal (STF) após o advento da CRFB/88, além da ausência de ratificação da
Convenção 87 da OIT (que trata da liberdade sindical plena). Tais fatos, por exemplo,
permitiram a proliferação de entidades sindicais (especialmente as não atuantes em prol
de seus representados), sustentadas sobretudo pela contribuição sindical obrigatória7
(sendo que quanto a esse ponto a Reforma Trabalhista provocou profundas alterações,
conforme se verá abaixo).
Tal arrecadação (feita à Caixa Econômica Federal – CEF), no entanto, não se destina
exclusivamente aos sindicatos, sendo diluída entre estes, as federações, confederações,
conforme artigos 589 a 591 da CLT (que constituem a estrutura piramidal sindical brasileira
atualmente, conforme expressamente previsto nos artigos 533 a 535 da CLT) bem como
as centrais sindicais.
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Primeiramente, quanto à sua natureza jurídica, de fato a contribuição sindical sempre foi
tratada doutrinária e jurisprudencialmente como tributo compulsório, conforme já definiu o
Supremo Tribunal Federal (STF), tendo assento nos artigos 8º, IV e 149 da CRFB/8813,
sendo exigível de todos que se amoldem à sua hipótese de incidência, ou seja, aos
enquadrados às respectivas categorias, independentemente de filiação à entidade14. Tal
tributo, segundo o Colendo STF, possui natureza de contribuição parafiscal, elencada no
art. 149 da CRFB/88, referente ao “interesse das categorias profissionais e econômicas”.
Ocorre que o próprio STF já tem jurisprudência pacificada, por meio de diversos acórdãos,
inclusive em Recurso Extraordinário com Repercussão Geral, no sentido de que ainda que
estejam as contribuições parafiscais sujeitas à lei complementar do artigo 146, III,
CRFB/88, isto não quer dizer que deverão ser instituídas através de tal modalidade, já que
não são impostos. Segundo o STF, tais contribuições sujeitam-se, sim, às normas gerais
estabelecidas pela legislação complementar em matéria tributária (CTN), mas não é de se
exigir que elas próprias sejam veiculadas apenas por tal meio15. Daí porque a questão
relacionada à vedação de retirada da compulsoriedade por meio de Lei Ordinária cai por
terra.
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Quanto ao segundo argumento (pelo qual deve a isenção do tributo advir somente por
meio de lei específica), é de bom alvitre destacar que a adoção do processo legislativo
decorrente do art. 150, §6º, da CF tende a coibir o uso desses institutos de desoneração
tributária como moeda de barganha para a obtenção de vantagem pessoal pela autoridade
pública (como remissão a desonerações por meio de Regulamentos/Decretos do
Executivo)16, o que não foi o caso. Além disso, a Lei 13.467/2017 (Reforma Trabalhista) é a
legislação específica sobre o assunto, tendo tratado em sua tramitação do assunto
relacionado à desvinculação da compulsoriedade da contribuição sindical, seguindo-se,
então, entendimento do STF sobre o assunto17.
(ii) ademais, diante da variação da via judicial utilizada pelas entidades sindicais, entendo
como não cabível o manejo via Ação Civil Pública (ACP) para o questionamento acima.
Isso porque em que pese a abstrata legitimidade do sindicato para figurar no polo ativo
(artigo 5º, V da Lei 7.347/85), a ACP serve para promover a defesa judicial dos interesses
ou direitos metaindividuais19, gênero do qual são espécies os direitos difusos, coletivos e
individuais homogêneos. E ainda que haja a citada legitimidade extraordinária ampla dos
sindicatos na representação de seus substituídos20, a entidade, quando atua em defesa da
contribuição sindical obrigatória, o faz em nome próprio, pleiteando direito próprio, não
podendo manejar ACP, no entanto, senão para defesa de interesses ou direitos
metaindividuais dos trabalhadores, atendido o requisito legal da pertinência temática entre
os fins sociais da entidade e o mérito da ação proposta21. Ainda sobre isso, observe-se que
o artigo 1º, parágrafo único da Lei 7.347/85 é expresso em impedir o manejo da ACP para
veicular pretensões que envolvam tributos22, como é o caso exatamente relacionado a
contribuições sindicais;
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(iii) em que pese a conclusão acima, é cabível a análise dos pedidos formulados por
entidades sindicais, mas por meio de ação ordinária trabalhista. Caso tenha sido ajuizada
a demanda por meio de ACP, não vemos qualquer impossibilidade, diante da primazia da
solução do mérito (artigos 4º e 6º do NCPC c/c artigo 769 da CLT), na sua recepção como
ação ordinária trabalhista, devendo ocorrer retificação nos autos do processo. E caso não
se tenha procedido à liquidação dos pedidos, conforme exigido pela nova redação do
artigo 840, §1º da CLT, resta permitida a concessão de prazo para emenda à inicial (artigo
321, caput do NCPC c/c artigo 769 da CLT), sempre com vias ao princípio da primazia da
solução do mérito, sob pena de, em não cumprida a determinação, ser extinto o processo
sem resolução do mérito (artigo 321, parágrafo único e 485, I do NCPC c/c artigo 769 da
CLT).
Mais um detalhe importante: diante de situações que vêm sendo noticiadas, entendo que
não cabe à negociação coletiva a restrição de sua aplicação tão somente aos filiados, sob o
pretexto de impossibilidade de cobrança vinculada de contribuições sindicais de todos.
Isso porque em que pese a Reforma Trabalhista ter alterado o tratamento legal quanto ao
tributo sindical, certo é que manteve intacta a redação do artigo 611 da CLT (que confere
efeitos amplos e irrestritos da negociação coletiva a todos enquadrados na categoria,
independente de filiação).
Por fim, expresso entendimento no sentido de que a prévia e expressa autorização para o
desconto da contribuição sindical deve ser individualizada, escrita e indicando a exata
contribuição que será descontada, chegando obrigatoriamente ao departamento pessoal
do empregador antes do fechamento da folha23. Mas, ao nosso sentir, tal necessidade de
autorização expressa individualizada de cada tributo seria somente para os empregados não
filiados, eis que os filiados, no ato de sua vinculação à entidade, podem autorizar, mediante
cláusula expressa, os descontos que podem surgir por meio de negociação coletiva
(contribuições negociais) ou da própria contribuição sindical, eis que se trata de contrato
com objeto lícito, possível, determinado e com partes capazes (artigo 104 do NCC). Caso
não mais deseje ser descontado, basta apresentar oposição nas assembleias e até exercer
o direito à desfiliação, manifestando plenamente a sua liberdade de associação individual
negativa24. Os artigos 578 e 611-B, XXVI da CLT proíbem descontos genéricos dos não
filiados, não podendo vedar aqueles dos filiados que voluntariamente concordarem, de
maneira prévia, no ato de vinculação, às cobranças que suas entidades representativas
elegerem como viáveis.
Espero, assim, contribuir de alguma forma para o entendimento de tema tão importante ao
sistema trabalhista brasileiro.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 6ªEd. São Paulo: Método, 2012.
BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical. São Paulo: LTr, 2007.
CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 9ª ed. São Paulo: Método, 2014,
pp.1.288/1.289.
LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 14ª ed. De
acordo com o novo CPC. São Paulo: Saraiva, 2016.
MORAES FILHO, Evaristo de. O problema do sindicato Único no Brasil: seus fundamentos
sociológicos. 2ª ed. São Paulo: Alfa-Ômega, 1978.
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1 CASSAR, Vólia Bomfim. Direito do Trabalho. 9ª ed. São Paulo: Método, 2014,
pp.1.288/1.289.
3 BRITO FILHO, José Cláudio Monteiro de. Direito Sindical. São Paulo: LTr, 2007, p.54.
o que há de novo no sistema jurídico sindical brasileiro. In: Gabriela Neves Delgado;
Ricardo José Macêdo de Britto Pereira. (Org.). Trabalho, Constituição e Cidadania: A
dimensão coletiva dos direitos sociais trabalhistas. 1ªed.São Paulo: LTR, 2014, v. 01, p.02.
6 Ibidem, p.08.
7 Ibidem, pp.16/23.
10 CAVALCANTE, Marcos de Oliveira. O Fim do Imposto Sindical Compulsório como Fator
11 NETO, Antonio Carlos. A reforma da estrutura sindical brasileira: pressupostos mais
do que necessários. In HORN, Carlos Henrique; SILVA, Sayonara Grillo Coutinho Leonardo
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da (orgs.). Ensaios sobre Sindicatos e Reforma Sindical no Brasil. São Paulo: LTr, 2009,
p.132.
12 BARISON, Thiago. A Estrutura Sindical de Estado e o Controle Judiciário após a
13 SILVA, Homero Batista Mateus. Comentários à Reforma Trabalhista. Análise da lei
14 STF. ADPF 126, Rel. Min. CELSO DE MELLO, DJe-018. DIVULG 31/01/2008 PUBLIC
01/02/2008.
15 Vide o seguinte: 1) RE 396266, Relator(a): Min. CARLOS VELLOSO, Tribunal Pleno,
16 ADI 3462, Relator(a): Min. CÁRMEN LÚCIA, Tribunal Pleno, julgado em 15/09/2010,
17 ADI 4033, Relator(a): Min. JOAQUIM BARBOSA, Tribunal Pleno, julgado em 15/09/2010,
18 ALEXANDRE, Ricardo. Direito Tributário Esquematizado. 6ªEd. São Paulo: Método,
2012, p.108.
19 LEITE, Carlos Henrique Bezerra. Curso de direito processual do trabalho. 14ª ed. De
20 STF. RE 883.642 RG, rel. min. Ricardo Lewandowski, Julg. 18-6-2015. DJE de 26-6-
2015.
21 STJ. AgRg no AREsp 677600 / SP, Rel. Ministro OG Fernandes, T2, publicado em
01/07/15.
22 STF. RE 606722 AgR-segundo, Relator(a): Min. LUIZ FUX, Primeira Turma, julgado em
CLÁUDIO FREITAS – Juiz do Trabalho do TRT da 1ª Região. Ex-advogado concursado da Petróleo Brasileiro S.A.
(PETROBRAS). Graduado em Direito pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). Pós-graduado em
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Direito do Trabalho e Processo do Trabalho pela Universidade Veiga de Almeida (UVA). Mestre em Sociologia e
Direito pela Universidade Federal Fluminense (UFF).
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