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DIREITO DO TRABALHO II – material 12

(Lázaro Luiz Mendonça Borges)

12. DIREITO COLETIVO DO TRABALHO / ORGANIZAÇÃO SINDICAL /


NEGOCIAÇÃO COLETIVA E INSTRUMENTOS NORMATIVOS DO
TRABALHO

12.1. Direito Coletivo do Trabalho:

12.1.1. Histórico:

O Direito Coletivo do Trabalho nasce com o reconhecimento do direito de associação dos


trabalhadores, o que veio a ocorrer após a Revolução Industrial (século XVIII).

As crises que importaram no desaparecimento das corporações de ofício acabaram


propiciando o surgimento dos sindicatos.

Pode-se dizer que o berço do sindicalismo se deu na Inglaterra, onde, em 1720, foram
formadas associações de trabalhadores para reivindicar melhores salários e condições de
trabalho, limitação da jornada de trabalho etc.

Leis na França (1791, 1810 – Código de Napoleão) proibiam que cidadãos de um mesmo
estado ou profissão tomassem decisões ou deliberações a respeito de seus pretensos interesses
comuns.

Em 1830, na Inglaterra, houve a criação de associações de trabalhadores para mútua ajuda e


defesa, as chamadas Trade Unions, que são os embriões do sindicato. O sindicato nasce, dessa
forma, como um órgão de luta de classes.

Sistema italiano (de Mussolini) – o sindicato era submetido aos interesses do Estado. Previa,
entre outras características, a UNICIDADE SINDICAL.

Declaração Universal dos Direitos do Homem (1948), determina que todo homem tem direito
a ingressar num sindicato.

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12.1.2. Denominação:

Direito Coletivo do Trabalho é o segmento do Direito do Trabalho encarregado de tratar da


organização sindical, da negociação coletiva, dos contratos coletivos, da representação dos
trabalhadores e da greve. É apenas uma das divisões do Direito do Trabalho, não possuindo
autonomia, pois não tem diferenças específicas em relação aos demais ramos do Direito do
Trabalho, estando inserido, como os demais, em sua maioria, na CLT.

12.1.3. Divisão:

Estuda-se no Direito Coletivo do Trabalho a organização sindical, que compreende sua


natureza jurídica, a proteção à sindicalização, seus órgãos, eleições sindicais e as receitas dos
sindicatos; os acordos e as convenções coletivas de trabalho; a greve; o lockout e outras
formas de solução dos conflitos coletivos.

12.2. Organização sindical:

12.2.1. Sistema sindical brasileiro:

O modelo sindical brasileiro compõe-se de duas estruturas. Primeira, da base da pirâmide de


uma categoria profissional ou econômica, onde estão os sindicatos, até, de baixo para cima, as
confederações, estas intermediadas pelas federações. Segunda, acima da estrutura de uma
categoria e das confederações de categorias ergue-se outra estrutura que é a das Centrais
Sindicais que não são órgãos de uma categoria, mas de representação dos interesses gerais dos
trabalhadores de todas ou de diversas categorias, criadas pelos sindicatos da base que
espontaneamente a elas se filiam e as mantêm com parte dos recursos da contribuição sindical.

Compete aos trabalhadores e empregadores definir as respectivas bases territoriais.

A maior transformação, na história recente, deu-se em 2008 com a legalização das Centrais
Sindicais.

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12.2.2. Categoria:

Os sindicatos brasileiros representam uma categoria em determinada base territorial.

Categoria é o conjunto de pessoas que exercem a sua atividade ou o seu trabalho num desses
setores, e é nesse sentido que se fala em categoria profissional, pra designar os trabalhadores, e
em categoria econômica, para se referir aos empregadores de cada um deles. Exemplo:
bancários são os empregados dos bancos, formando uma categoria profissional, e empresas
bancárias constituem a correspondente categoria econômica. Os sindicatos representarão a
categoria, independente da profissão do trabalhador.

SUM-374 NORMA COLETIVA. CATEGORIA DIFERENCIADA.


ABRANGÊNCIA (conversão da Orientação Jurisprudencial nº 55 da
SBDI-1) - Res. 129/2005, DJ 20, 22 e 25.04.2005
Empregado integrante de categoria profissional diferenciada não tem o direito
de haver de seu empregador vantagens previstas em instrumento coletivo no
qual a empresa não foi representada por órgão de classe de sua categoria. (ex-OJ
nº 55 da SBDI-1 - inserida em 25.11.1996)

12.2.3. Entidades sindicais de grau superior:

- Federações: são entidades sindicais de grau superior organizadas nos Estados-membros.


Poderão ser constituídas desde que congreguem número não inferior a cinco sindicatos.
Excepcionalmente, a federação poderá ter representatividade interestadual ou nacional.
Existem federações nacionais, mas a regra geral é a federação estadual.

Art. 534 (CLT) - É facultado aos Sindicatos, quando em número não inferior a
5 (cinco), desde que representem a maioria absoluta de um grupo de atividades
ou profissões idênticas, similares ou conexas, organizarem-se em federação.
(Redação dada pela Lei nº 3.265, de 22.9.1957)

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- Confederações: são entidades sindicais de grau superior de âmbito nacional. São
constituídas de no mínimo três federações, tendo sede em Brasília (uma das mais conhecidas é
a Confederação Nacional da Indústria).

Art. 535 (CLT) - As Confederações organizar-se-ão com o mínimo de 3 (três)


federações e terão sede na Capital da República.

- Centrais sindicais: considera-se central sindical a entidade associativa de direito privado


composta por organizações sindicais de trabalhadores (parágrafo único do artigo 1º da Lei nº
11.648/2008). Essa lei também alterou a divisão dos recursos arrecadados com o imposto
sindical.
LEI Nº 11.648, DE DE 31 MARÇO DE 2008.
Dispõe sobre o reconhecimento formal das
centrais sindicais para os fins que especifica, altera
Mensagem de veto a Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,
aprovada pelo Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio
de 1943, e dá outras providências.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA Faço saber que o Congresso Nacional decreta e eu
sanciono a seguinte Lei:
Art. 1o A central sindical, entidade de representação geral dos trabalhadores, constituída em âmbito
nacional, terá as seguintes atribuições e prerrogativas:
I - coordenar a representação dos trabalhadores por meio das organizações sindicais a ela filiadas; e
II - participar de negociações em fóruns, colegiados de órgãos públicos e demais espaços de diálogo
social que possuam composição tripartite, nos quais estejam em discussão assuntos de interesse geral
dos trabalhadores.
Parágrafo único. Considera-se central sindical, para os efeitos do disposto nesta Lei, a entidade
associativa de direito privado composta por organizações sindicais de trabalhadores.
Art. 2o Para o exercício das atribuições e prerrogativas a que se refere o inciso II do caput do art. 1o
desta Lei, a central sindical deverá cumprir os seguintes requisitos:
I - filiação de, no mínimo, 100 (cem) sindicatos distribuídos nas 5 (cinco) regiões do País;
II - filiação em pelo menos 3 (três) regiões do País de, no mínimo, 20 (vinte) sindicatos em cada uma;
III - filiação de sindicatos em, no mínimo, 5 (cinco) setores de atividade econômica; e
IV - filiação de sindicatos que representem, no mínimo, 7% (sete por cento) do total de empregados
sindicalizados em âmbito nacional.
Parágrafo único. O índice previsto no inciso IV do caput deste artigo será de 5% (cinco por cento) do
total de empregados sindicalizados em âmbito nacional no período de 24 (vinte e quatro) meses a
contar da publicação desta Lei.
Art. 3o A indicação pela central sindical de representantes nos fóruns tripartites, conselhos e
colegiados de órgãos públicos a que se refere o inciso II do caput do art. 1o desta Lei será em número
proporcional ao índice de representatividade previsto no inciso IV do caput do art. 2o desta Lei, salvo
acordo entre centrais sindicais.
§ 1o O critério de proporcionalidade, bem como a possibilidade de acordo entre as centrais, previsto
no caput deste artigo não poderá prejudicar a participação de outras centrais sindicais que atenderem
aos requisitos estabelecidos no art. 2o desta Lei.
§ 2o A aplicação do disposto no caput deste artigo deverá preservar a paridade de representação de
trabalhadores e empregadores em qualquer organismo mediante o qual sejam levadas a cabo as
consultas.

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Art. 4o A aferição dos requisitos de representatividade de que trata o art. 2o desta Lei será realizada
pelo Ministério do Trabalho e Emprego.
§ 1o O Ministro de Estado do Trabalho e Emprego, mediante consulta às centrais sindicais, poderá
baixar instruções para disciplinar os procedimentos necessários à aferição dos requisitos de
representatividade, bem como para alterá-los com base na análise dos índices de sindicalização dos
sindicatos filiados às centrais sindicais.
§ 2o Ato do Ministro de Estado do Trabalho e Emprego divulgará, anualmente, relação das centrais
sindicais que atendem aos requisitos de que trata o art. 2o desta Lei, indicando seus índices de
representatividade.
Art. 5o Os arts. 589, 590, 591 e 593 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo
Decreto-Lei no 5.452, de 1o de maio de 1943, passam a vigorar com a seguinte redação:
“Art. 589. .......................................................................................................................
I - para os empregadores:
a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;
b) 15% (quinze por cento) para a federação;
c) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e
d) 20% (vinte por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário’;
II - para os trabalhadores:
a) 5% (cinco por cento) para a confederação correspondente;
b) 10% (dez por cento) para a central sindical;
c) 15% (quinze por cento) para a federação;
d) 60% (sessenta por cento) para o sindicato respectivo; e
e) 10% (dez por cento) para a ‘Conta Especial Emprego e Salário’;
III - (revogado);
IV - (revogado).
§ 1o O sindicato de trabalhadores indicará ao Ministério do Trabalho e Emprego a central sindical a
que estiver filiado como beneficiária da respectiva contribuição sindical, para fins de destinação dos
créditos previstos neste artigo.
§ 2o A central sindical a que se refere a alínea b do inciso II do caput deste artigo deverá atender aos
requisitos de representatividade previstos na legislação específica sobre a matéria.” (NR)
“Art. 590. Inexistindo confederação, o percentual previsto no art. 589 desta Consolidação caberá à
federação representativa do grupo.
§ 1o (Revogado).
§ 2o (Revogado).
§ 3o Não havendo sindicato, nem entidade sindical de grau superior ou central sindical, a contribuição
sindical será creditada, integralmente, à ‘Conta Especial Emprego e Salário’.
§ 4o Não havendo indicação de central sindical, na forma do § 1o do art. 589 desta Consolidação, os
percentuais que lhe caberiam serão destinados à ‘Conta Especial Emprego e Salário’.” (NR)
“Art. 591. Inexistindo sindicato, os percentuais previstos na alínea c do inciso I e na alínea d do inciso
II do caput do art. 589 desta Consolidação serão creditados à federação correspondente à mesma
categoria econômica ou profissional.
Parágrafo único. Na hipótese do caput deste artigo, os percentuais previstos nas alíneas a e b do inciso
I e nas alíneas a e c do inciso II do caput do art. 589 desta Consolidação caberão à confederação.”
(NR)
“Art. 593. As percentagens atribuídas às entidades sindicais de grau superior e às centrais sindicais
serão aplicadas de conformidade com o que dispuserem os respectivos conselhos de representantes ou
estatutos.
Parágrafo único. Os recursos destinados às centrais sindicais deverão ser utilizados no custeio das
atividades de representação geral dos trabalhadores decorrentes de suas atribuições legais.” (NR)
Art. 6o (VETADO)
Art. 7o Os arts. 578 a 610 da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, aprovada pelo Decreto-Lei
no 5.452, de 1o de maio de 1943, vigorarão até que a lei venha a disciplinar a contribuição negocial,
vinculada ao exercício efetivo da negociação coletiva e à aprovação em assembleia geral da categoria.
Art. 8o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 31 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Tarso Genro
Carlos Lupi
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12.2.4. Criação e desmembramento de entidade sindical:

O sistema legal brasileiro exige registro dos sindicatos (artigo 8º da Constituição


Federal/1988). O Ministério do Trabalho traz os procedimentos para a criação e registro de
uma entidade sindical, seja profissional ou patronal.

12.3. Negociação coletiva e instrumentos normativos de trabalho:

12.3.1. Convenção Coletiva de Trabalho – CCT:

A Constituição Federal (artigo 7º, XXVI) reconhece as convenções coletivas, considera


obrigatória a participação dos sindicatos nelas (artigo 8º, VI), e a CLT as define e indica os
seus efeitos (artigo 611).

A CLT (no artigo 611) define convenção coletiva de trabalho como o “acordo de caráter
normativo pelo qual dois ou mais sindicatos representativos de categorias econômicas e
profissionais estipulam condições de trabalho aplicáveis, no âmbito das respectivas
representações, às relações individuais de trabalho”.

Surge como resultado de um ajuste bilateral e só se perfaz caso os dois contratantes


combinem suas vontades. Os sujeitos legitimados para negociar são os sindicatos; do lado dos
trabalhadores, o sindicato profissional, e, do lado dos empregadores, o sindicato patronal.

A convenção coletiva é instrumento normativo em nível de categoria. Alcançam os seus


efeitos todas as empresas representadas pelo sindicato patronal. A legitimidade do sindicato
exclui e prefere a das federações. Estas só podem negociar nas categorias não organizadas em
sindicato. O mesmo ocorre com as confederações sindicais quanto às federações e sindicatos.

12.3.2. Acordo Coletivo de Trabalho – ACT:

Os acordos coletivos de trabalho são ajustes entre o sindicato dos trabalhadores e uma ou
mais empresas. Não se aplicam a toda a categoria, mas só à(s) empresa(s) estipulante(s),
conforme previsão no § 1º do artigo 611 da CLT:
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Art. 611 – (...)
§ 1º É facultado aos Sindicatos representativos de categorias profissionais
celebrar Acordos Coletivos com uma ou mais empresas da correspondente
categoria econômica, que estipulem condições de trabalho, aplicáveis no âmbito
da empresa ou das acordantes respectivas relações de trabalho. (Redação dada
pelo Decreto-lei nº 229, de 28.2.1967)

A diferença em relação à convenção coletiva deve ser feita pelos sujeitos, pelo nível da
negociação e pelo âmbito de aplicação das cláusulas instituídas. Os entendimentos são feitos
diretamente com um empregador ou com dois ou mais empregadores. A convenção é
destinada a matéria mais geral; acordo, a matéria mais específica.

12.3.3. Sentença Normativa:

Nos dissídios coletivos, o que se discute é a criação de novas normas ou condições de trabalho
para a categoria, ou a interpretação de certa norma jurídica.

O § 2º do artigo 114 da Constituição dá competência à Justiça do Trabalho, por meio dos


Tribunais Regionais do Trabalho ou do TST, para decidir os dissídios coletivos.

O poder normativo da Justiça do Trabalho consiste justamente na possibilidade de criar essas


novas condições de trabalho.

As decisões dos tribunais trabalhistas em dissídios coletivos são chamadas de sentenças


normativas, em que são fixadas as novas normas e condições de trabalho que serão aplicáveis
aos contratos individuais de trabalho dos membros da categoria, utilizando-se de cláusulas
para tanto. As sentenças normativas poderão ser estendidas aos demais empregados da
empresa que forem da mesma profissão. Poderá também haver extensão a todos os
empregados da mesma categoria profissional.

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