Você está na página 1de 15

Marcelo Soldi 1

7º SEMESTRE
DIREITO COLETIVO DO TRABALHO
Universidade Presbiteriana Mackenzie – 1/2016
Prof: Túlio Augusto Tayano Afonso

INTRODUÇÃO

O Direito Coletivo do Trabalho difere do Direito Individual do Trabalho. No entanto, o segundo só


existe por causa do primeiro.

Há uma diferença também entre o direito coletivo e o direito sindical – o direito não entende que
são sinônimos. Ao passo que o primeiro estuda relações coletivas de trabalho, o segundo, além disso,
também estuda organizações sindicais, que é o objeto de estudo do trabalho.

No Brasil, existem três tipos de organizações sindicais: os sindicatos, federações, confederações.

Até a Constituição de 1988, o sindicato tinha a natureza jurídica de direito público – era
praticamente um órgão estatal. O Estado tinha um maior controle sobre os sindicatos, controlando a sua
atuação, de modo a diminuir a proteção dos trabalhadores. Depois de 1988, o sindicato saiu do Estado e
passou a ter a natureza jurídica de direito privado.

CORPORATIVISMO

Corporativismo era o fortalecimento do Estado, que mantinha uma presença em todas as


discussões. Além disso, visava manter uma harmonia dos órgãos internos (uma ideia de “corpo”).

confederações
(entidades de cúpula
ou de 3º grau)
3 ou mais

federações
(entidades de 2º grau)

sindicatos 5 ou mais
(entidades de 1º grau)

Tripé do corporativismo

• Criação do conceito de categoria, de modo a fatiar os possíveis grandes sindicatos, transformando-


os em menores.
• Criação do conceito de base territorial (área de atuação geográfica do sindicato), delimitando,
assim, a abrangência da atuação dos sindicatos. A base territorial máxima é a nacional, e a mínima
é a municipal.
Marcelo Soldi 2

Nesse contexto, cria-se o conceito de unicidade sindical, proibição legal da criação de mais uma
organização sindical de uma mesma categoria em uma base territorial. O critério é temporal –
mantém o primeiro (o segundo jamais poderá ser criado). O único meio de criar um novo sindicato
é através do desmembramento (de base territorial) ou dissociação (de categoria) do primeiro
sindicato.
• Criação do imposto sindical, também conhecido como contribuição compulsória. É uma
contribuição obrigatória que todos os trabalhadores devem pagar ao seu sindicato, uma vez por
ano, valor correspondente a um dia de seu trabalho.

Pluralidade sindical, amplamente falando, se dá quando trabalhadores e empregadores se


reúnem como querem, onde querem, se querem – as próprias partes decidem se vão se organizar ou não,
podendo, ainda, escolher quem vai representa-los.

Com a Constituição de 1988, o tripé corporativismo continua de pé. Mas o Brasil não possui mais
um modelo sindical corporativista, pois o Estado não controla mais os sindicatos.

CONCEITOS

Negociações coletivas de trabalho são os atos negociais propriamente ditos (reuniões,


assembleias, etc), por intermédio de seus sindicatos. No Brasil, ela pode dar dois frutos, chamados de
instrumentos normativos:

• Convenção coletivo de trabalho: é instrumento normativo, fruto da negociação coletiva de


trabalhos. Nesse caso, nos dois polos da relação, temos dois sindicatos (um do trabalhador e um
do empregador). Ex: sindicato dos bancários negocia com o sindicato dos bancos. Os efeitos dessa
convenção atingirão a todos da categoria da base territorial. O efeito é erga omnes, na visão de
parte da doutrina.

• Acordo coletivo de trabalho: de um lado temos o sindicato dos trabalhadores, e do outro lado
temos uma única empresa, ou grupo de empresas. Os efeitos do acordo se darão apenas entre os
trabalhadores dessa empresa, ou desse grupo de empresas. Ex: sindicato dos bancários negocia
com o Banco Santander.

No caso de dois instrumentos normativos simultâneos, aplica-se a teoria do conglobamento:


coloca-se na balança o acordo e a convenção e verifica-se qual o mais benéfico, utilizando-se, assim, da
integralidade deste.

TRÊS GRANDES NÚCLEOS

• Núcleo da liberdade sindical: é o principal, e é o que dá o tom do Direito Sindical e do Direito


Individual do Trabalho. Quanto maior ou menor for a intensidade da liberdade sindical, o Direito
Individual vai para um lado, ou para o outro.
• Negociação Coletiva
• Greve
Marcelo Soldi 3

Alta liberdade sindical temos sindicatos verdadeiramente representativos. Se tiver grave, a greve
vai ser avassaladora. Se há o potencial de uma greve de verdade, há um maior ânimo para a negociação
coletiva, que passa a ser muito boa.

SINDICATO VS. ASSOCIAÇÃO CIVIL

Sindicato é uma associação civil com registro judicial. No entanto, o sindicato e as associações
cíveis possuem umas diferenças básicas entre elas:

Sindicato Associação civil


Representam todos da categoria, sendo sócios ou não Representam apenas os associados
Negociam em nome dos trabalhadores Uma associação não pode ser de trabalhadores
Requer registro no cartório de registro civil e no Requer registro no cartório
Ministério do Trabalho.
Pode impor contribuição Pode até ter nome de sindicato (o nome é livre)

Modelo sindical brasileiro dentro da CF/88

O Brasil adota um modelo sindical simétrico, o que quer dizer que onde se tem sindicato de
trabalhador, vai se ter ou, pelo menos, vai se ter a possibilidade de existir, um sindicato de empregador.
Não precisa necessariamente ser do mesmo tamanho – um dos lados pode ser maior que o outro. Um
exemplo é o sindicato dos bancários e o outro é o sindicato dos bancos. Alguns acreditam que os
empregadores não precisam de sindicato, pois já possuem mais força que os empregados.

O nosso modelo também é confederativista. É piramidal – na base da pirâmide temos os sindicatos,


intermediariamente temos as federações, e no topo temos as confederações. O sindicato pode ou não se
filiar à sua federação e, consequentemente, a federação pode ou não se filiar à sua confederação.

CF. Art. 8º É livre a associação profissional ou sindical, observado o seguinte:


I - a lei não poderá exigir autorização do Estado para a fundação de sindicato, ressalvado o registro
no órgão competente, vedadas ao Poder Público a interferência e a intervenção na organização
sindical;
II - é vedada a criação de mais de uma organização sindical, em qualquer grau, representativa de
categoria profissional ou econômica, na mesma base territorial, que será definida pelos
trabalhadores ou empregadores interessados, não podendo ser inferior à área de um Município;
III - ao sindicato cabe a defesa dos direitos e interesses coletivos ou individuais da categoria,
inclusive em questões judiciais ou administrativas;
IV - a assembléia geral fixará a contribuição que, em se tratando de categoria profissional, será
descontada em folha, para custeio do sistema confederativo da representação sindical respectiva,
independentemente da contribuição prevista em lei;
V - ninguém será obrigado a filiar-se ou a manter-se filiado a sindicato;
VI - é obrigatória a participação dos sindicatos nas negociações coletivas de trabalho;
VII - o aposentado filiado tem direito a votar e ser votado nas organizações sindicais;
VIII - é vedada a dispensa do empregado sindicalizado a partir do registro da candidatura a cargo
de direção ou representação sindical e, se eleito, ainda que suplente, até um ano após o final do
mandato, salvo se cometer falta grave nos termos da lei.
Parágrafo único. As disposições deste artigo aplicam-se à organização de sindicatos rurais e de
colônias de pescadores, atendidas as condições que a lei estabelecer.
Marcelo Soldi 4

“Associação profissional” é um termo desnecessário na redação do artigo, pois há uma


incongruência sistêmica no artigo, pois o conjunto não é compatível com essa parte do caput. Essa
questão foi levada ao STF, que, na ânsia de salvar o art. 8º, ele determinou que, nesse caso, “associação
profissional” é sinônimo de “associação sindical”.

O inciso I tirou o sindicato do controle do Estado, de modo que Interferência: controle quando
nem mesmo a lei pode dar poder a ele para que ele autorize ou não a da criação do sindicato.
criação de um sindicato. No entanto, o Estado é ainda responsável
pelo registro sindical. À época, muito se discutia sobre qual seria o Intervenção: controle quando o
órgão competente para tanto, até que o STF decidiu que o responsável sindicato já existe.
seria o Ministério do Trabalho. É um inciso democrático.

O inciso II expressamente consagra a unicidade sindical. Ao contrário do inciso anterior, trata-se


de uma norma totalmente corporativista.

O inciso III traz o conceito de sindicato, que se trata de associação civil simples com registro
sindical. Ele possui uma dupla identidade jurídica – associação e sindicato. Uma associação tem
legitimidade para representar apenas os sócios, já o sindicato pode representar todos os trabalhadores
de determinada base territorial.

Já o inciso IV é tanto democrático quanto corporativista. Ele consagra a contribuição


confederativa, a ser descontada da folha, de opção do trabalhador, bem como o imposto sindical, fixado
pela CLT (art. 582 e ss.).

Liberdade sindical coletiva diz respeito a entidade sindical, que se refere a ação sindical e a
organização da entidade, ao passo que a individual diz respeito à pessoa e positiva ou negativa. A positiva
dá a possibilidade do trabalhador se filiar ao sindicato se ele quiser e a qualquer momento, não podendo
o sindicato negar a filiação deste trabalhador. Já a negativa, o trabalhador pode nunca se filiar ao seu
sindicato, ou se for filiado, pode se desfiliar a qualquer momento. Isso vem consagrado pelo inciso V.

O inciso VI é corporativista ao determinar se obrigatória a participação do sindicato nas


negociações coletivas de trabalho. Se o sindicato se recusar a negociar, a legitimidade passa para a
federação. Se a confederação pudesse negociar, seria uma negociação a nível nacional, algo grandioso, o
que seria totalmente contrário aos interesses do corporativismo. Assim, aos sindicatos foi dado o
monopólio das negociações, para se evitar grandes conflitos. Além disso, cada categoria tem uma data-
base diferente.

O inciso VII é também corporativista, pois quem deveria determinar se o aposentado pode votar
ou ser votado deveria ser o estatuto de cada sindicato, e não a lei.

Por fim, o inciso VIII trata da estabilidade do dirigente sindical. Ela é provisória e relativa, não
existindo uma estabilidade eterna ou absoluta. Essa estabilidade visa garantir qualidade na dirigência
sindical, protegendo, assim, a coletividade. No momento em que o dirigente sindical se candidata (ato
formal do registro da candidatura) para a função, a estabilidade começa. Ela pode se encerrar após um
ano do fim do mandato (que geralmente é de 1 a 3 anos, mas isso não é uma limitação). Apesar da
estabilidade, nada impede que se o dirigente cometer alguma conduta (falta grava), ele pode ser
dispensado por justa causa, após comprovação em juízo. Ao final dessa ação judicial, com o transito em
Marcelo Soldi 5

julgado, a estabilidade é afastada e a justa causa é concedida. Durante o tramite do processo, ela pode
afastar o empregado das atividades e cortar o seu salário. Só que se ela for julgada improcedente, ele será
reintegrado imediatamente, recebendo todos os salários e benefícios atrasados (corrigidos), podendo
entrar com uma ação de dano moral em face da empresa pelo não pagamento do salário. Qualquer ato
sindical que atentar contra a coletividade pode ensejar dano moral coletivo. Somente sete dirigentes
sindicais terão estabilidade sindical, que podem ser indicados pelo sindicato, ou, caso contrário, serão os
sete primeiros que aparecem na chapa.

O parágrafo único afirma que se aplicarão as medidas acimas aos trabalhadores rurais e de colônias
de pescadores, atendido o disposto em lei específica, que nunca existiu.

DIREITO INTERNACIONAL DO TRABALHO

Dizem respeito às normas internacionais do trabalho, ou seja, as normas trabalhistas que


compõem o âmbito dos direitos humanos. A Organização Internacional do Trabalho – OIT, hoje ligada à
ONU, fomenta as normas internacionais trabalhistas.

A principal convenção da OIT que trata sobre direito sindical é a convenção nº 87/1948, que não
foi ratificada pelo Brasil. Essa convenção trata da pluralidade sindical, especificamente em seu artigo 2º:

OIT. Convenção 87. Art. 2 — Os trabalhadores e os empregadores, sem distinção de qualquer


espécie, terão direito de constituir, sem autorização prévia, organizações de sua escolha, bem
como o direito de se filiar a essas organizações, sob a única condição de se conformar com os
estatutos das mesmas.

CF. Art. 5º. § 3º Os tratados e convenções internacionais sobre direitos humanos que forem
aprovados, em cada Casa do Congresso Nacional, em dois turnos, por três quintos dos votos dos
respectivos membros, serão equivalentes às emendas constitucionais.

O sindicato seria livre e autônomo em relação a qualquer intervenção de controle que o Estado
poderia fazer. Essa convenção não foi ratificada pelo Brasil por motivos de ordem política e técnica, pois,
caso contrário, suas normas seriam inconstitucionais, pois contrariaria a unicidade prevista no artigo 8º,
II, da Constituição. No entanto, uma eventual ratificação dessa convenção revogaria referido inciso da CF,
por conta da Emenda Constitucional nº 45/2004 (art. 5º, § 3º, CF).

OIT. Convenção 87. Art. 4 — As organizações de trabalhadores e de empregadores não estarão


sujeitas à dissolução ou à suspensão por via administrativa.

Nenhum sindicato pode ser suspenso ou dissolvido. No entanto, se algum dos requisitos
necessários deixar de ser cumprido, o Ministério Público notificará a entidade para regularização no prazo
de 30 dias; caso contrato, o registro ficará suspenso.

A Convenção 98 da OIT, de 1949, foi ratificada em 1952. Trata-se de um dos pilares do sindicalismo.
Determina que sindicato de empregados não pode ser controlado por sindicato de empregadores ou por
uma empresa, devendo ser livre e independente a estes, pois isso tiraria a sua razão de existir, pois isso
prejudicaria o trabalhador. Não podem também receber recursos financeiros um do outro. (a chamada
transferência cruzada).
Marcelo Soldi 6

O emprego do trabalhador não pode ter nenhuma influência de sua relação ou não ao sindicato
(não pode, por exemplo, empregar alguém porque ele é filiado ao sindicato), pois isso se trata de um ato
discriminatório.

A OIT considera como negociação coletiva qualquer conversa entre sindicato de empregos e
sindicato de empregadores ou empresa, ao contrário da definição dada pela legislação brasileira. Ela
busca um ambiente onde as partes queiram dialogar, de forma voluntária e periódica.

A Convenção 135 é de 1971 e foi ratificada em 1990. Essa convenção estabelece que é possível
dois tipos de representação de trabalhadores:
• representante sindical: pode ser utilizada como um importante elo de ligação do sindicato com os
trabalhadores, podendo aproximar o sindicato da própria empresa.
• representante eleito (ou representante de trabalhador em local de trabalho): visa organizar a
comunicação entre os trabalhadores e a empresa.

A empresa deve oferecer algum tempo para o trabalhador exercer a representação em local de
trabalho, desde que isso não interfira na produção.

CF. Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes da União, dos
Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos princípios de legalidade,
impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência e, também, ao seguinte:
VI - é garantido ao servidor público civil o direito à livre associação sindical;
VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;

A Convenção 151 da OIT trata de sindicalismo no serviço público. Data de 1978 e foi ratificada em
2013. Entidades de servidores públicos não possuem tanta necessidade de um registro sindical. Para a
convenção, pode negociar qualquer entidade de trabalhadores que tenham, como interesse, defender os
seus interesses, sem precisar ser um sindicato. Não há uma unicidade para os servidores públicos,
podendo eles terem livre associação sindical, mas, na prática, a unicidade sindical é aplicada para todos.

A Convenção 154 da OIT data de 1981 e foi ratificada em 1992. Visa fomentar a negociação
coletiva, de modo que as partes queiram conversar todo o momento.

EVOLUÇÃO HISTÓRICA

As duas primeiras leis sindicais foram aprovadas em 1903 (com o Decreto 973, criado para regular
sindicatos rurais) e em 1907 (com o Decreto 1637, criado para regular sindicatos urbanos). Referida
regulamentação, em tese, foi feita para inviabilizar representação sindical, visando evitar o
anarcossindicalismo1 (vertente anarquista) que era trazido ao Brasil pelos imigrantes. Referidos decretos
propunham sindicatos mistos: dentro de um mesmo sindicato, haviam empregados e empregadores,
sendo que prevalecia sempre o empregador.

Em 1931, dava-se início à era corporativista (também chamada de era intervencionista), com o
Decreto 19.770/31, conhecido como a Lei dos Sindicatos. Com ele, a negociação coletiva podia ser

1
O anarcossindicalismo fundou-se nas ideias do sindicalismo revolucionário contestativo do Estado, da
autoridade e das leis, segundo os princípios do anarquismo voltados para o movimento sindical, trazidos
para o Brasil pelos imigrantes (especialmente italianos), entre 1890 e 1920.
Marcelo Soldi 7

efetivada diretamente por trabalhadores; a negociação coletiva feita pelo sindicato somente tinha efeitos
em relação aos associados; e era necessária autorização do Ministério do Trabalho para que a negociação
coletiva do sindicato possuísse efeito.

No ano seguinte, com o Decreto 21.761/32, o trabalhador poderia recusar que os efeitos da
negociação coletiva o atingisse.

O Decreto 24.694/34 consagra a pluralidade sindical. Para que houvesse o pluralismo, era
necessário colocar na assembleia 1/3 dos trabalhadores da categoria com carteira assinada, ou seja,
limitado a no máximo três trabalhadores. No entanto, a pluralidade nunca ocorreu, pois o decreto não
recepcionou a Constituição, que não era a legislação mais importante na época.

A Constituição de 1937 trouxe para o texto constitucional o corporativismo. Nesse contexto, as


greves são proibidas, por contrariarem interesse da nação. Além disso, os servidores para domésticos não
poderiam se organizar em sindicatos, pois entendia-se que os sindicatos eram incompatíveis com
empregados domésticos, pois este não é uma categoria econômica.

Em 1939, o Decreto 1237 incluiu as negociações coletivas nos moldes corporativistas \e organizou
a Justiça do Trabalho. Em 1943, temos o surgimento da Consolidação das Leis do Trabalho (Decreto Lei nº
5452).

A Constituição Federal de 1946 liberou a greve nos limites da lei – o servidor público continua
proibido de fazer greve, mas eles possuíam o direito de fazer sindicatos. Os trabalhadores domésticos,
por sua vez, podiam fazer sindicatos e fazer greve.

A Constituição de 1967 determinou que todos os trabalhadores (incluindo os servidores públicos)


poderiam fazer sindicatos e greves, sendo que a greve deveria ser feita nos termos da lei. O Brasil é um
dos únicos países que permite greve de servidores públicos.

A reforma de 1969, no que diz respeito ao direito sindical, mudou apenas a redação de artigos,
sem qualquer modificação no conteúdo. Em 1988, com a nova Constituição, retirou-se o sindicato do
controle do Estado, momento em que o modelo corporativista se desfez. Em 1999, tivemos a EC nº 29,
que acabou com a figura do vocalato2 (o objetivo, na realidade, era acabar com a Justiça do Trabalho). Em
2008, com a Lei 11.648/08, que trata das centrais sindicais, estabeleceu-se alguns critérios que, se forem
observados, a central sindical fará jus a 10% do imposto dos trabalhadores.

PRINCÍPIOS ESPECÍFICOS DO DIREITO SINDICAL

A partir do momento em que os trabalhadores se reúnem num sindicato, qualquer conceito de


hipossuficiência e vulnerabilidade desaparece, estabelecendo-se um grau equilíbrio em relação à empresa
ou sindicato dos empregadores. Logo, não haverá a proteção específica do trabalhador individual em
relação ao sindicato.

O princípio da liberdade sindical é o principal e abrange todos os demais. É a liberdade para se


formar sindicatos, organizá-los, e atuar em prol de seus representados, do jeito que quiser. Sindicatos

2
Trata-se de representação classista em todas as instâncias da estrutura judiciária trabalhista.
Marcelo Soldi 8

livres, autônomos e independentes, em relação ao Estado e à sua contraparte. A doutrina, no entanto, o


desmembra em vários outros princípios:

• Princípio da autonomia sindical: sindicatos são livres, autônomos e independentes em relação a


todos, sem precisar pedir autorização a ninguém para a sua formação, desde que observados os
limites do ordenamento jurídico.

• Princípio da interveniência sindical na normatização coletiva: para ter uma norma coletiva, é
necessário a presença de uma organização sindical. No caso do Brasil, as normas coletivas possíveis
seriam o acordo e convenções coletivas, sendo o sindicato a organização sindical necessária.

• Princípio da equivalência dos contratantes coletivos: as partes estão em pé de igualdade.

• Princípio da lealdade e transparência na negociação coletiva: também conhecido como principio


da boa-fé. Ele se desdobra entre as partes que estão negociando.

• Princípio da criatividade jurídica da negociação coletiva: está fundado na autonomia privada


coletiva. É o poder que somente os sindicatos tem de produzir regras (normas) amplas, gerais e
abstratas, semelhantes à legislação estatal.

• Princípio da adequação setorial negociada: determina que a negociação feita pelos sindicatos
deve estar em harmonia com o ordenamento jurídico.

REGISTRO SINDICAL

O registro é ato do Ministério do Trabalho pelo qual uma entidade sindical é incluída no Cadastro
Nacional das Entidades Sindicais (CNES) e, também, o documento ou certidão que a entidade registrada
passa a ter para comprovar essa sua condição. Há divergência na doutrina se a obrigação do registro é
uma interferência indevida do Estado.

Cumpridas as obrigações devidas, a concessão do registro sindical será publicada no Diário Oficial
da União. Ele só será cancelado por ordem judicial, na via administrativa, se constatado vício de legalidade
no processo de concessão. Eventual cancelamento também será publicado.

GREVE

Num primeiro momento, a greve não guardava uma ordem sistemática com o ordenamento
jurídico. Greve é o direito do empregado de causar prejuízo ao empregador pela mera cessação de seu
trabalho. Trata-se de um instituto que os trabalhadores não podem abrir mão, por ter sido formalizada
em um momento histórico em que os empregados estavam defendendo suas vidas, ameaçadas por causa
do trabalho. A greve é muito enfraquecida pela legislação e pelo judiciário, bem como pela sociedade.
Havia uma grande polemica sobre o fato da greve ser um direito humano fundamental de primeira
geração, que foi confirmado pela CF/88, inserida dentro do capítulo de direitos fundamentais.
Marcelo Soldi 9

Há duas correntes de entendimento sobre a origem da greve. A corrente inglesa entende que a
greve veio do movimento do ludismo. No entanto, boa parte da doutrina entende que sua origem foi na
França – havia a Praça dos Gravetos, onde os desempregados ficavam e os empregadores iam para
oferecer emprego. Num outro momento, essa praça foi utilizada como local para manifestação, até que,
eventualmente, ela se tornou símbolo da paralização do trabalho.

CF. Art. 9º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre a
oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
§ 1º A lei definirá os serviços ou atividades essenciais e disporá sobre o atendimento das
necessidades inadiáveis da comunidade.
§ 2º Os abusos cometidos sujeitam os responsáveis às penas da lei.

A greve é dos trabalhadores, logo ela pode acontecer sem a presença do sindicato. No entanto,
por questões organizacionais, ela acaba, na maioria das vezes, sendo organizada por sindicatos. A greve
pode ser feita em qualquer momento, desde que não afete gravemente ou ofereça perigo à população, e
por qualquer motivo, desde que mantenha relação com o contrato de trabalho.

A CF/88 autorizou que o legislador infraconstitucional regulasse apenas as atividades essenciais da


greve, mas ele acabou regulando tudo com a Lei da Greve (Lei 7.783/89).

Lei 7.783/89. Art. 1º É assegurado o direito de greve, competindo aos trabalhadores decidir sobre
a oportunidade de exercê-lo e sobre os interesses que devam por meio dele defender.
Parágrafo único. O direito de greve será exercido na forma estabelecida nesta Lei.

A greve feita fora nos moldes da Lei 7.783/89 será considerada uma greve ilegal, sob pena de multa
diária ou demissões por justa causa.

Lei 7.783/89. Art. 2º Para os fins desta Lei, considera-se legítimo exercício do direito de greve a
suspensão coletiva, temporária e pacífica, total ou parcial, de prestação pessoal de serviços a
empregador.

A greve é uma suspensão coletiva e temporária. Trata-se de um direito coletivo por excelência, no
entanto a doutrina majoritária entende que pode haver uma greve de um trabalhador, desde que esteja
inserido em uma coletividade3. Corrente minoritária entende que um único trabalhador poderá entrar em
greve quando ele bem entender. Além disso, um único trabalhador pode se recusar a aderir a greve.

A grave pode ser total (envolvendo a totalidade dos trabalhadores) ou parcial (envolvendo uma
parcela dos empregos). Há um segundo entendimento de que greve total diz respeito à suspensão total
do serviço, enquanto que greve parcial é a suspensão parcial.

Não é qualquer trabalhador que faz greve – mas sim, apenas o empregado.

Lei 7.783/89. Art. 3º Frustrada a negociação ou verificada a impossibilidade de recursos via arbitral,
é facultada a cessação coletiva do trabalho.
Parágrafo único. A entidade patronal correspondente ou os empregadores diretamente
interessados serão notificados, com antecedência mínima de 48 (quarenta e oito) horas, da
paralisação.

3
Exemplo: todos os professores universitários estão em greve, exceto os do Mackenzie – se um único
professor do Mackenzie resolver entrar em greve, ele poderá
Marcelo Soldi 10

Só é possível a greve se o empregador for avisado com pelo menos 48 horas de antecedência, caso
contrário a greve será considerada ilegal. Referido dispositivo possui três inconstitucionalidades, pois a
CF/88 não autoriza a regulamentação da greve, não autoriza lei ordinária colocar requisito, bem como
esse prazo dificulta o sucesso da greve.

Lei 7.783/89. Art. 4º Caberá à entidade sindical correspondente convocar, na forma do seu
estatuto, assembléia geral que definirá as reivindicações da categoria e deliberará sobre a
paralisação coletiva da prestação de serviços.
§ 1º O estatuto da entidade sindical deverá prever as formalidades de convocação e o quorum para
a deliberação, tanto da deflagração quanto da cessação da greve.
§ 2º Na falta de entidade sindical, a assembléia geral dos trabalhadores interessados deliberará
para os fins previstos no "caput", constituindo comissão de negociação.

Lei 7.783/89. Art. 5º A entidade sindical ou comissão especialmente eleita representará os


interesses dos trabalhadores nas negociações ou na Justiça do Trabalho.

O quórum da Assembleia para verificar a possibilidade de greve deveria ser o estabelecido pelo
estatuto do sindicato. No entanto, os Tribunais flexibilizaram esse entendimento. Caso a greve seja feita
sem o sindicato, será formada uma comissão para organizar os trabalhadores e eventualmente
representa-los na Justiça do Trabalho.

Lei 7.783/89. Art. 6º São assegurados aos grevistas, dentre outros direitos:
I - o emprego de meios pacíficos tendentes a persuadir ou aliciar os trabalhadores a aderirem à
greve;
II - a arrecadação de fundos e a livre divulgação do movimento.
§ 1º Em nenhuma hipótese, os meios adotados por empregados e empregadores poderão violar
ou constranger os direitos e garantias fundamentais de outrem.
§ 2º É vedado às empresas adotar meios para constranger o empregado ao comparecimento ao
trabalho, bem como capazes de frustrar a divulgação do movimento.
§ 3º As manifestações e atos de persuasão utilizados pelos grevistas não poderão impedir o acesso
ao trabalho nem causar ameaça ou dano à propriedade ou pessoa.

Os empregados podem adotar meios pacíficos de persuadir os demais trabalhadores a aderirem à


greve, bem como podem arrecadar fundos para o movimento. Não podem, no entanto, impedir o acesso
do trabalho àquele que não quiser participar da greve, e nem causar dano à propriedade da empresa. Já
as empresas não podem constranger o empregado a não participar da greve, bem como frustrar a
divulgação do movimento.

Lei 7.783/89. Art. 7º Observadas as condições previstas nesta Lei, a participação em greve
suspende o contrato de trabalho, devendo as relações obrigacionais, durante o período, ser regidas
pelo acordo, convenção, laudo arbitral ou decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. É vedada a rescisão de contrato de trabalho durante a greve, bem como a
contratação de trabalhadores substitutos, exceto na ocorrência das hipóteses previstas nos arts.
9º e 14.

O contrato de trabalho fica suspenso durante a greve. O salário do empregado pode ser cortado;
no entanto, os Tribunais ponderaram que esse corte não pode ultrapassar 30%. A empresa também não
pode contratar empregados substitutos durante a greve, devendo encarar a greve com dignidade.
Marcelo Soldi 11

Lei 7.783/89. Art. 8º A Justiça do Trabalho, por iniciativa de qualquer das partes ou do Ministério
Público do Trabalho, decidirá sobre a procedência, total ou parcial, ou improcedência das
reivindicações, cumprindo ao Tribunal publicar, de imediato, o competente acórdão.

Quem tem legitimidade para interpor dissídio coletivo de greve, de natureza originária do TST,
pode ser qualquer uma das partes ou o Ministério Público do Trabalho.

Lei 7.783/89. Art. 9º Durante a greve, o sindicato ou a comissão de negociação, mediante acordo
com a entidade patronal ou diretamente com o empregador, manterá em atividade equipes de
empregados com o propósito de assegurar os serviços cuja paralisação resultem em prejuízo
irreparável, pela deterioração irreversível de bens, máquinas e equipamentos, bem como a
manutenção daqueles essenciais à retomada das atividades da empresa quando da cessação do
movimento.
Parágrafo único. Não havendo acordo, é assegurado ao empregador, enquanto perdurar a greve,
o direito de contratar diretamente os serviços necessários a que se refere este artigo.

Lei 7.783/89. Art. 10 São considerados serviços ou atividades essenciais:


I - tratamento e abastecimento de água; produção e distribuição de energia elétrica, gás e
combustíveis;
II - assistência médica e hospitalar;
III - distribuição e comercialização de medicamentos e alimentos;
IV - funerários;
V - transporte coletivo;
VI - captação e tratamento de esgoto e lixo;
VII - telecomunicações;
VIII - guarda, uso e controle de substâncias radioativas, equipamentos e materiais nucleares;
IX - processamento de dados ligados a serviços essenciais;
X - controle de tráfego aéreo;
XI compensação bancária.

Lei 7.783/89. Art. 11. Nos serviços ou atividades essenciais, os sindicatos, os empregadores e os
trabalhadores ficam obrigados, de comum acordo, a garantir, durante a greve, a prestação dos
serviços indispensáveis ao atendimento das necessidades inadiáveis da comunidade.
Parágrafo único. São necessidades inadiáveis, da comunidade aquelas que, não atendidas,
coloquem em perigo iminente a sobrevivência, a saúde ou a segurança da população.

Lei 7.783/89. Art. 12. No caso de inobservância do disposto no artigo anterior, o Poder Público
assegurará a prestação dos serviços indispensáveis.

Lei 7.783/89. Art. 13 Na greve, em serviços ou atividades essenciais, ficam as entidades sindicais
ou os trabalhadores, conforme o caso, obrigados a comunicar a decisão aos empregadores e aos
usuários com antecedência mínima de 72 (setenta e duas) horas da paralisação.

Caso o serviço seja indispensável, ou seja, a sua paralisação resulte em prejuízo irreparável, o
sindicato ou a comissão manterá em atividade equipes de empregados. Caso não haja acordo, o
empregador poderá contratar substitutos para impedir que o serviço indispensável seja suspenso.

São tidos como serviços ou atividades essenciais a assistência médica e hospitalar, transporte
coletivo, tratamento de esgoto e lixo, etc. A relação do artigo 10 não é considerado taxativo. Os Tribunais
costumeiramente entendem que deve haver pelo menos 30% do serviço. O sindicato e os trabalhadores
desses tipos de serviços são obrigados a comunicar a decisão de greve aos empregadores e aos usuários
de serviços essenciais com antecedência mínima de 72 horas.
Marcelo Soldi 12

Lei 7.783/89. Art. 14 Constitui abuso do direito de greve a inobservância das normas contidas na
presente Lei, bem como a manutenção da paralisação após a celebração de acordo, convenção ou
decisão da Justiça do Trabalho.
Parágrafo único. Na vigência de acordo, convenção ou sentença normativa não constitui abuso do
exercício do direito de greve a paralisação que:
I - tenha por objetivo exigir o cumprimento de cláusula ou condição;
II - seja motivada pela superveniência de fatos novo ou acontecimento imprevisto que modifique
substancialmente a relação de trabalho.

A inobservância das normas da Lei de Greve, bem como a continuação da greve após acordo,
convenção ou decisão legal, constitui abuso de direito, exceto se a paralização ter por objetivo o
cumprimento de cláusula ou condição, ou se for motivada por fato novo ou acontecimento imprevisto.

Lei 7.783/89. Art. 17. Fica vedada a paralisação das atividades, por iniciativa do empregador, com
o objetivo de frustrar negociação ou dificultar o atendimento de reivindicações dos respectivos
empregados (lockout).
Parágrafo único. A prática referida no caput assegura aos trabalhadores o direito à percepção dos
salários durante o período de paralisação.

O lockout é a paralisação do empregador para frustrar reivindicação de trabalhador – ou seja, é a


proibição temporária de acesso ao trabalho quando imposto aos empregados pelo empregador,
impedindo-lhes que ingressem no local de trabalho, privando-lhes da possibilidade de ganhar a sua
remuneração. É considerado um ato anti-sindical, cabendo dano moral coletivo. Nesse caso, o
empregador terá de pagar os salários dos empregados durante o período da paralisação.

CF. Art. 37. VII - o direito de greve será exercido nos termos e nos limites definidos em lei específica;

A greve para os servidores públicos é permitida (o Brasil é um dos únicos países que permite),
porém até hoje não há lei regulamentando esse direito.

NEGOCIAÇÃO COLETIVA

Trata-se de reunião entre empregados e empregadores4, com participação dos sindicatos, visando
formar ato normativo, que pode ser acordo ou convenção. A negociação só pode ter esses dois frutos; no
acordo, o alcance é só no que se refere aos trabalhadores participantes da negociação coletiva, enquanto
que o alcance da convenção é de todos os trabalhadores daquela categoria e naquela base territorial.

A legitimidade para celebrar acordo ou convenção coletiva de trabalho será sempre do respectivo
sindicato, que não poderá recusar-se à negociação coletiva quando provocado.

Art. 614 - Os Sindicatos convenentes ou as emprêsas acordantes promoverão, conjunta ou


separadamente, dentro de 8 (oito) dias da assinatura da Convenção ou Acôrdo, o depósito de uma
via do mesmo, para fins de registro e arquivo, no Departamento Nacional do Trabalho, em se
tratando de instrumento de caráter nacional ou interestadual, ou nos órgãos regionais do
Ministério do Trabalho e Previdência Social, nos demais casos.
§ 1º As Convenções e os Acôrdos entrarão em vigor 3 (três) dias após a data da entrega dos mesmos
no órgão referido neste artigo.
§ 2º Cópias autênticas das Convenções e dos Acordos deverão ser afixados de modo visível, pelos
Sindicatos convenentes, nas respectivas sedes e nos estabelecimentos das emprêsas

4
A OIT entende que negociação é qualquer conversa entre empregador e empregado.
Marcelo Soldi 13

compreendidas no seu campo de aplicação, dentro de 5 (cinco) dias da data do depósito previsto
neste artigo.
§ 3º Não será permitido estipular duração de Convenção ou Acôrdo superior a 2 (dois) anos.

No Brasil, o instrumento normativo tem data de validade, vigorando por, no máximo, 1 ano,
podendo se prorrogado por mais um ano, não podendo totalizar 2 anos. Findando o instrumento hoje e
não havendo imediata vigência da próxima, o contrato fica engessado, os direitos adquiridos não
retroagem.

A data base é o termo final do instrumento normativo – é o último dia de vigência do instrumento.
Serve de referência para o início de novas negociações. O período que compreende o início das tratativas
e finda na data base é regularmente chamado de campanha salarial.

A negociação coletiva infrutífera resulta em greves ou em dissídio coletivo, um processo coletivo


que tramita no TRT com todos os recursos e procedimentos inerentes. O acórdão que julga o dissídio é
denominado “sentença normativa”.

O dissídio que tiver sido distribuído antes da data base terá a sua decisão com efeito retroativo
até a data base. Exemplo: data base é 5 de abril e o dissídio foi distribuído em 4 de abril; acórdão que
decide por aumento de 15% do salário, de 20 de maio, retroagirá até a data-base, ou seja, o aumento vale
para abril e maio. No entanto, se não tiver sido distribuído no prazo, não haverá retroação.

Procedimento da negociação coletiva

Momentos antes da data base, quando empregados e empregadores se encontram, eles levam
uma pauta de reivindicação, que é a minuta de como desejam o próximo ato normativo. Em atendimento
ao princípio da lealdade, faz-se um cronograma das próximas reuniões para garantir o agendamento de
uma data fatal, antes da data base, que possibilite medidas em prol da categoria, como a greve.

Caso haja discordância na primeira reunião, ela é suspensa, e os trabalhadores se reúnem com seu
sindicato para discutir o acordo e assim sucessivamente, até que ambas as partes entrem em acordo,
assinem e fechem a negociação coletiva, que entrará em vigor no dia subsequente à data base.

Antes da Constituição de 1988, para o instrumento normativo possuir efeitos, ele deveria ser
depositado5 e homologado pelo Ministério do Trabalho (poder discricionário). No entanto, atualmente
isso não é mais necessário e não existe mais a figura da homologação.

Cada categoria possui uma data base diferente – isso é proposital, para evitar uma greve
generalizada.

5
Apesar de não ser mais necessário depositar (arquivar), o professor entende que é importante que isso
seja feito por dois motivos: a) quando auditores fiscais do trabalho forem à empresa, eles leva mem
consideração a convenção caso ela esteja depositada; caso contrário, levarão em conta apenas a lei seca;
b) apesar de ser entendimento majoritário do TST, o juiz de primeiro grau pode entender que a convenção
não possui validade sem o depósito, e, nesse caso, dificilmente o recurso chegará ao TST, por ser baseado
apenas em um entendimento.
Marcelo Soldi 14

PODER NORMATIVO DA JUSTIÇA DO TRABALHO

Sentença é o ato pelo qual o juiz põe termo ao processo, decidindo ou não o mérito da causa. Se
proferidas em dissídios individuais, as sentenças trabalhistas são denominadas de sentenças individuais,
restringindo-se o seu âmbito de validez às partes litigantes.

As decisões proferidas em dissídios coletivos econômicos são chamadas de sentenças coletivas,


porque são aplicadas genericamente a uma coletividade de pessoas. São consideradas normas jurídicas,
uma vez que sempre há na sua prolação um ato criativo do juiz.

Assim sendo, a Justiça do Trabalho, ao criar direitos na sentença normativa, atua como se
legislador fosse.

ESTRUTURA INTERNA DAS INSTITUIÇÕES SINDICAIS

Ela se divide em três grupos:

• Órgãos – as organizações sindicais terão no mínimo três órgãos: assembleia geral, diretoria e o
conselho fiscal. Trata-se de uma estrutura mínima, existindo espaço para o estatuto da entidade
criar quantos órgãos desejar, devendo especificar a sua finalidade.

§ Assembleia geral6: é a instância máxima da entidade e a fonte de decisões da mesma. Suas


decisões são finais; uma vez definido pela Assembleia Geral, esgotou-se o assunto
submetido a ela. Suas funções básicas estão no sentido de tratar os rumos da entidade,
definir politicas de atuação, aprovar as contas da entidade, etc. Sua composição varia do
assunto em que for tratar; se for associativo, compõe a assembleia geral todos os sócios
da entidade; se for um assunto sindical, como a greve, compõe todos os trabalhadores da
categoria da base territorial.

§ Diretoria: é o órgão gestor e administrativo da entidade, cabendo-lhe a representação e a


defesa dos interesses da entidade perante o Poder Público e as empresas. Ela fica vinculada
às diretrizes da Assembleia Geral em termos gerais. Ela é composta, pelo menos, por
presidente e vice-presidente, secretário e seu vice, e o tesoureiro e seu vice. O mandato
da diretoria depende do estatuto, podendo variar de 2 a 5 anos (caso o mandato seja mais
extenso, o Ministério do Trabalho pode questionar, apesar de não ser ilegal). Não precisa
pedir autorização da Assembleia Geral sobre todos os assuntos, exceto alguns, como
alienação de imóveis da entidade e demais atos que possam trazer prejuízos ao sindicato.
Uma vez por ano, a Diretoria deve convocar uma Assembleia Geral de prestação de contas,
na qual participam apenas os associados.

§ Conselho fiscal: ele fiscaliza se a Diretoria está seguindo as diretrizes da Assembleia Geral
e faz uma verificação de suas contas. Funciona como uma auditoria em tempo integral: os
conselheiros se reúnem periodicamente (de acordo com o estatuto) e eles terão acesso a
todos os documentos da entidade, e, após análise de tudo, elaborarão um parecer, que

6
Pode ser chamado de Conselho Deliberativo.
Marcelo Soldi 15

será defendido na Assembleia Geral de prestação de contas convocada pela Diretoria. Ele
é composto por, no mínimo, três conselheiros e seus suplentes.

• Funções:
§ cooperação com os poderes públicos: não se trata de um controle estatal, portanto não é
uma função incompatível com o artigo 8º, I, da Constituição Federal. O Poder Público
convida os sindicatos para debater sobre novas legislações trabalhistas.
§ representação: os sindicatos representam administrativa e judicialmente todos os
trabalhadores da categoria da base territorial, de forma individual ou coletiva, o que leva
à atuação do sindicato como parte nos processos judiciais em dissídios coletivos destinados
a resolver os conflitos jurídicos ou de interesses, e nos dissídios individuais de pessoas que
fazem parte da categoria;
§ econômica: os sindicatos tem o poder de impor contribuições, como o imposto sindical;
§ regulamentar: é o poder do sindicato de fazer regulamentos amplos, gerais e abstratos que
se aplicarão à todos os trabalhadores da categoria de uma base territorial;
§ política: realiza mobilizações políticas dos trabalhadores;
Ø política eleitoral: os sindicatos, na prática, acabam se vinculando a um partido
político, apesar de isso não ser explícito na maioria das vezes;
§ assistencial: quase que exclusiva do sindicalismo brasileiro, o sindicato assiste os
trabalhadores em algumas questões, como colônias de férias, planos de saúde subsidiários,
farmácias, etc. Para isso, foi criada a contribuição assistencial.

• Direitos dos associados:


§ direito de não sofrer discriminação: ninguém pode ser discriminado por se aproximar ou
não de seu sindicato.
§ direito de exercer influência nas deliberações dos órgãos sindicais: todos poderão expor
suas opiniões.
§ direito de controlar a gestão financeira: participar da Assembleia Geral e verificar e
questionar as contas.
§ direito de recorrer contra decisões lesivas de seus interesses: o sócio terá direito a um duplo
grau de jurisdição, podendo a decisão que lesionou seus interesses ser revista. Se a decisão
for originária da Diretoria, o recurso irá para a Assembleia Geral. Se originário da
Assembleia Geral, o recurso será para a Assembleia Geral subsequente.
§ direito ao uso dos serviços sociais (a que se destina): qualquer associado poderá fazer o uso
das instalações do sindicato, desde que para a finalidade a que se destina, sendo vedado
qualquer abuso.
§ direito de participar das eleições: todos os sócios terão o direito de votar e serem votados
nas eleições. Entretanto, o estatuto poderá colocar algumas barreiras, que são válidas e
aceitas pela doutrina e jurisprudência, como critérios de filiação mínima de 90 dias para
votar e 180 dias para ser votado (a quantidade de dias pode variar).

Observação: Nenhuma das atividades exercidas dentro do sindicato é remunerada

Você também pode gostar