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O imposto sindical- desde novembro de 1966 co-

Notas e comentários nhecido por contribuição sindical - constitui um dos


principais mecanismos de controle do Estado sobre os
organismos de representação profissional, na medida
em que é ele o meio de sustentação financeira da estru-
tura de tipo corporativo. Este tributo sindical foi regu-
lamentado em 1940, por intermédio do Decreto-lei n?
2.377, que dispunha sobre o pagamento e a arrecada-
A questão do ção das contribuições devidas aos sindicatos pelos in-
tegrantes das categorias econômicas ou profissionais re-
imposto sindical presentadas pelas referidas entidades. Tal imposto foi
disciplinado, desde 1943, na Consolidação das Leis do
Trabalho, pelos arts. 578 a 610. Assim estava assegu-
rado ao Estado o direito de controlar esse recurso finan-
ceiro, tendo o poder de determinar a forma como de-
Sergio Amad Costa veria ser distribuído entre as organizações sindicais e,
Mestre e doutorando em ciência polftica pela USP e professor no também, a maneira, quando e onde teria de ser aplica-
Departamento de Fundamentos Sociais e Jurídicos da do.
Administração da FGV (SP).
Este imposto sindical, a nosso ver, é prejudicial aos
trabalhadores em todos os sentidos. Em primeiro lugar
pelo fato de que, embora seja de direito coletivo, ele é
uma afronta ao direito individual, pelo seu aspecto au-
toritário. Em outras palavras, é facultativo ao indiví-
duo associar-se ao sindicato. Porém, é compulsória a
"contribuição" financeira para a entidade de represen-
tação profissional. Tal obrigatoriedade implica a pró-
pria negação da liberdade sindical. Na medida em que
o Estado obriga o indivíduo a pagar o imposto sindical,
está coibindo legalmente o trabalhador de recusar-se a
colaborar financeiramente com um organismo de que
ele, por vezes, pode não querer participar ou com o qual
não concorda. Se o indivíduo é livre para ser sindicali-
A estrutura sindical brasileira, de tipo corporativo, zado ou não, também deveria ter a liberdade para deci-
representa a antítese do pluralismo e da autonomia sin- dir se quer ou não contribuir financeiramente para a en-
dical. Este modelo de representação profissional faz tidade de representação profissional.
parte do cenário político da Nação desde a década de
30. Foi com o governo Vargas que tudo começou por Outro aspecto que merece destaque é o fato de que
meio de sucessivos textos legais: Decreto-lei n? i9.770, é o poder público que determina onde deve ser aplica-
de março de 1931; Decreto nf 24.694, de julho de 1934; da a arrecadação financeira do sindicato.
e Decreto-lei n? 1.402, de julho de 1939. O Estado, com Assim, grande parte destes recursos destina-se, por
estes dispositivos, passou a ter o direito de controlar to- força de lei, a atividades assistenciais, atribuindo um ca-
da a vida sindical do país. O Ministério do Trabalho ob- ráter preponderantemente assistencialista ao sindicato.
teve o poder absoluto sobre os organismos de represen- A prestação de assistência médica, dentária, jurídica,
tação profissional. Em outras palavras, passou a deter- manutenção de creches, assistência à maternidade, en-
minar como deveria ser criada a entidade, quem ela re- tre outras atividades, que, a nosso ver, são funções do
presentaria, qual a sua base territorial, qual sua finali- Estado, passam comodamente para o âmbito do sindi-
dade, de que forma deveria funcionar, como e quando cato, como dever do organismo de representação pro-
poderia agir, e se poderia ou não continuar a existir. fissional. Vale lembrar, também, que para o trabalha-
Tal estrutura sindical oficial, vertical e subordina- dor beneficiar-se dos serviços assistenciais dos sindica-
da ao Estado, que negava o pluralismo sindical, foi sis- tos, tem de sindicalizar-se, pagando à entidade mensa-
tematizada e concretizada, em 1943, na Consolidação lidades adicionais. Por conseguinte, somente os asso-
das Leis do Trabalho (CLT). E podemos afirmar que, ciados dos sindicatos tiveram proveito desses serviços
desde então, nada mudou, basicamente, neste modelo assistenciais. Desta forma, todos contribuem para os
de representação profissional de tipo corporativo. Du- sindicatos, porém só os filiados têm o direito de usufruir
rante os últimos cinqüenta anos, a realidade social bra- do resultado dessas contribuições.
sileira sofreu intensas transformações, tivemos nume- É importante, também, frisar que tal arrecadação
rosas alterações nos dispositivos de nossa Carta Mag- financeira contribui para gerar o próprio distanciamen-
na, por meio de sucessivas constituições, mas a legisla- to entre liderança sindical e categoria profissional. Pois,
ção sindical manteve-se praticamente intacta até este se por um lado os líderes sindicais estão apoiados na con-
ano de 1986. O que vem variando de um período para tribuição financeira (compulsória) de todos aqueles que
o outro, isto sim, é a vontade dos governantes de apli- pertencem à categoria profissional, por outro lado o
car, com maior ou menor rigor, os dispositívos legais mesmo não ocorre no que tange à representatividade da
que controlam o mundo sindical. mesma categoria, pois apenas os associados dos sindi-

Rio de Janeiro 26(3):81-84 jul. /set. 1986


Rev. Adm. Emp.
catos é que participam da escolha dos dirigentes das en- varmos posições distintas, no movimento trabalhista,
tidades. Assim, além do pleito sindical não ter o respal- a respeito do tributo sindical. Isto pelo fato de os anos
do da categoria porofissional como um todo - a qual 1960-64terem sido o período no qual as lutas sindicais
o organismo representa - mas apenas o dos militantes, assumiram maior intensidade, em termos de polariza-
cumpre salientar que estes não são muitos, devido ao ção de correntes ideológicas, transparecendo, de forma
próprio desestímulo à sindicalização, produzido pelaes- muito clara, as disputas políticas travadas dentro da
trutura de tipo corporativo. própria estrutura sindical de tipo corporativo. Além do
Portanto, o imposto sindical permite a manuten- mais, o início da década de 60 apresentou a crise de um
ciclo político que se vinha desenvolvendo desde 1946,
ção do sindicalismo controlado pelo Estado - pois ga-
no país, e também o fim deste ciclo, com o seu total ani-
rante financeiramente a estrutura oficial- fortalecendo
quilamento, sendo substituído, no pós-64, por uma no-
e sustentando uma burocracia sindical e reduzindo a in-
va ordem política.
fluência dos sindicatos entre os trabalhadores em geral,
tornando as entidades de representação fracas, em ter- No início dos anos 60, basicamente duas grandes
mos de base, à medida que possibilita a sustentação fi- correntes atuavam dentro do movimento sindical bra-
nanceira do organismo, mesmo deixando fora dos sin- sileiro: a dos nacionalistas e a dos democratas. a corrente
dicatos a grande massa de assalariados. nacionalista era formada pelos militantes do Partido
Esse desestímulo à sindicalização é reforçado pelo Comunista Brasileiro, pela ala esquerda do Partido Tra-
fato de as vantagens trabalhistas, conquistadas pelos balhista Brasileiro e por alguns ativistas independentes.
sindicatos, se estenderem a toda a categoria profissio- Adotamos o termo nacionalista para designar essa cor-
nal, independentemente do trabalhador ser associado rente, pelo fato de as teses nacionalistas serem o deno-
ou não do organismo de representação profissional. Tal minador comum que unia os comunistas do PCB, que
quadro ger auma espécie de acomodação do profissio- por questão de tática política as adotavam, muitos sin-
nal, no sentido de considerar que não precisa participar dicalistas pertencentes à ala esquerda do PTB e outros
da vida sindical, pois já há quem, garantido por lei, ne- independentes.
gocie as questões trabalhistas em seu nome. Por outro A outra corrente se autodenominava democrata.
lado, é importante observar que muitos dirigentes sin- Havia-se formado em torno do Movimento Sindical De-
dicais não têm interesse em realmente estimular a sin- mocrático (MSD), fundado em maio de 1961, em São
dicalização entre os trabalhadores. Isto pela circunstân- Paulo. Esta corrente foi integrada, também, pelos mi-
cia de a manutenção financeira estar plenamente garan- nisterialistas que, aos poucos, estavam perdendo a di-
tida pelo imposto sindical, pago por toda a categoria reção das principais federações e confederações do país.
profissional. Portanto, não precisam correr o risco de Porém, participavam desta corrente outros militantes
aumentar o número de associados e, com isso, fortale- sindicais, muitos deles filiados aos Círculos Operários
cer uma possível oposição dentro do sindicato. (entidades de ttabalhadores católicos), com posições po-
Cumpre lembrar, também, que o imposto sindical líticas desde liberais até direitistas, sendo o elo de liga-
permite a manutenção de uma considerável burocracia, ção desses integrantes do MSD a "luta contra o comu-
muitas vezesineficiente, mas sempre dispendiosa. Leôn- nismo e por um Brasil cristão-democrático" . Entretan-
cio Martins Rodrigues, ao estudar o sindicalismo cor- to, a hegemonia dentro desta corrente cabia aos inte-
porativo no Brasil, observa que estes sindicatos "deram grantes de linha conservadora.
emprego a advogados, médicos, dentistas, contadores
etc. É verdade que a expansão da burocracia sindical, No que diz respeito ao imposto sindical, a corrente
a constituição de uma coorte de técnicos, advogados, dos democratas passou a ter uma posição contrária à sua
estatísticos, sociólogos, economistas etc, assessoran- manutenção. Os democratas realizaram o 11Encontro
do os grandes sindicatos, é fenômeno geral que acom- Interestadual, em agosto de 1962, no Rio de Janeiro.
panha, em toda a parte, o fortalecimento e a institucio- Nessa reunião sustentaram a tese da extinção gradati-
nalização do sindicalismo. Mas no caso brasileiro, a bu- va desse imposto. Esta posição foi assumida em termos
rocratização e a institucionalização não estiveram cor- oficiais do encontro, embora as tendências variassem
relacionadas à consolidação dos sindicatos entre as ca- entre a abolição imediata e a abolição gradativa do tri-
madas trabalhadoras, mas à ação tutelar no Estado. Na buto. Entretanto, de qualquer forma, eram contrários
medida em que todos os serviços oferecidos pelos sin- à permanência do imposto.
dicatos ~ e correlatamente os empregos que oferecem Para alguns setores, no MSD, o fim do imposto sin-
- não podem ser mantidos sem a contribuição sindi- dical era colocado como questão de princípio - havia
cal, é óbvio que um amplo, variado mas nem sempre ex- tendências distintas entre os democratas -, porém, pa-
plícito, conjunto de interesses passa a estar associado ra os ministerialistas, maioria em temros de liderança
à continuidade do sistema." 1 no MSD, o fim do imposto sindical era reivindicado, tu-
do indica, para enfraquecer os nacionalistas. Isto pelo
o fato é que o imposto sindical sempre foi motivo fato de os ministerialistas sempre terem defendido, du-
de polêmica entre os próprios sindicalistas. Atualmen- rante as décadas de 40 e 50, o imposto sindical. Porém,
te, discute-se se tal "contribuição" deve ser extinta de no início dos anos 60, mudaram de posição na medida
uma só vez, ou gradativamente, ou se deve permanecer. em que foram sendo marginalizados dos sindicatos, fe-
Entretanto, esta discussão não é novidade na história derações e confederações, que vinham dirigindo desde
do país. Ou seja, ela já ocupou muito espaço no meio o período da ditadura varguista. A perda da direção dos
sindical, também em épocas passadas. Os anos pré-64 , principais organismos sindicais, a nosso ver, foi o mo-
a nosso ver, são um momento importante para obser- tivo que levou os ministerialistas - que viveram prati-
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camente à custa do imposto sindical, instalados nos anos posto sindical permitia a sobrevivência de sindicatos fra-
40 e 50 na burocracia sindical- a apoiar a tese da ex- cos e, ao mesmo tempo, garantia a permanência de uma
tinção gradativa do tributo, defendida pelos sindicalis- estrutura de representação profissional de tipo corpo-
tas da corrente dos democratas. rativo, que era a principal geradora destes sindicatos fra-
Dentro deste quadro, nota-se que a posição de ex- cos.
tinção gradativa do imposto sindical era assumida por
uma boa parcela dos democratas, por questão de táti- Atualmente, esta estrutura sindical de tipo corpo-
ca, para tentar dominar novamente os sindicatos, as fe- rativo, garantida sua sobrevivência por meio do imposto
derações e as confederações. Não se tratava, principal- sindical, continua gerando conseqüências nefastas, a
mente da parte dos ministerialistas, de tecer críticas ao nosso ver, em termos, de liberdade e representação, para
tributo sindical para, com isso, pôr fim ao sistema de a própria organização das entidades sindicais. Um pri-
representação profissional de tipo corporativo. O ob- meiro ponto é a permanência do baixo índice de sindi-
jetivo era a luta contra os nacionalistas e não contra a calização. Só para se ter uma idéia, podemos citar que,
estrutura corporativa. É preciso lembrar que, após os segundo a FIBGE, a população economicamente ativa
acontecimentos de março-abril de 1964, uma boa par- (PEA) é de 45 milhões; entretanto, o número de sócios
cela dos sindicalistas democratas assumiu a direção dos em sindicatos está por volta de apenas 10 milhões, sen-
sindicatos, das federações e das confederações, os quais do a metade deste total pertencente ao setor rural. Em
sofreram intervenções. Ou seja, na medida em que reas- outras palavras, somente cerca de 22010dos trabalhado-
sumiram o comando os organismos sindicais, passaram res, em todo o país, são associados em sindicatos. É im-
novamente a aceitar o controle do Estado na estrutura portante ressaltar que estes são dados oficiais, poden-
sindical, deixando de reivindicar a extinção imediata ou do ser observados por outros critérios, o que diminui-
gradativa do imposto sindical. ria ainda mais a margem do número de sindicalizados
no país; isto é, os dados referentes aos associados não
Quanto à corrente sindical dos nacionalistas, já no demonstram, exatamente, o quadro social efetivo dos
11Congresso Sindical Nacional, realizado em agosto de sindicatos. Isto pelo de que os dados oficiais apresen-
1960, havia se manifestado contrária ao fim do impos- tados se referem sempre ao número de associados ins-
to sindical. Porém, é o IV Encontro Sindical Nacional, critos no sindicato, embora todos os trabalhadores ins-
realizado em agosto de 1962, a reunião mais importan- critos se mantenham em dia com suas obrigações asso-
te dessa corrente majoritária nos anos 1960-64. Pois ciativas e, ao pé da letra, apenas nominalmente possam
bem, tanto no manifesto lançado à nação, quanto no ser considerados sócios. Assim, temos sindicatos for-
programa de ação imediata, não havia proposta de abo- tes em termos de cúpula, porém continuam fracos no
lir o imposto sindical. Na verdade, o que percebemos, que tange às bases. Isto se deve muito, também, ao de-
analisando a atuação desta corrente nos primeiros anos sestímulo gerado pela estrutura de tipo corporativo, sus-
da década de 60, mesmo nas reivindicações feitas du- tentada pelo imposto sindical.
rante as greves, é que os sindicalistas pertencentes a tal
grupo não questionaram, em nenhum momento, de for- Outro ponto que podemos assinalar, como conse-
ma incisiva, o imposto sindical. Nas poucas vezes em qüência desta estrutura de tipo corporativo, diz respei-
que se manifestaram, de forma crítica, a respeito do as- to a víc.os autoritários que ela gera na própria forma de
sunto, reclamaram da interferência governamental no ação dos sindicalistas. Ou seja, quando se consegue, ho-
controle do emprego do tributo. Porém, o caráter au- je, de forma ainda que oficiosa, romper com uma das
toritário do imposto sindical, fazendo com que o tra- amarras corporativistas, como no caso da criação das
balhador contribuísse financeiramente, de forma com- centrais sindicais, a falta de experiência democrática du-
pulsória para uma entidade da qual ele poderia ser ou rante todos esses anos de história do sindicalismo reve-
não sócio, em nenhum momento foi salientado pelos na- la seus resultados cupulares. Isto é, as divisões ideoló-
cionalistas. gicas são conseqüências naturais no movimento traba-
O que se pode constatar é que os sindicalistas na- lhista. Portanto, em nosso entender, o racha é inevitá-
cionalistas defendiam a tese da necessidade da perma- vel, principalmente em debates mais democráticos, em
nência do imposto sindical, pois seria esta a maneira de que as divergências podem ser colocadas sem censura.
impedir que muitos sindicatos fossem fechados por não Daí, percebe-se, também, a necessidade do pluralismo
terem como sustentar-se financeiramente. Tal tese era sindical, pois o princípio da unicidade sindical - em-
defendida, mesmo que isso implicasse a manutenção do bora muitos sindicalistas o defendam em nome de uma
controle do Estado sobre o emprego do montante arre- unidade que nunca existiu - só é compatível com so-
cadado pelo tributo. ciedades de partido único, bolchevistas ou fascistas. En-
tretanto, o que marca, atualmente, o sindicalismo bra-
Assim, os nacionalistas se comportaram de forma sileiro, em virtude de sua própria história, na qual sem-
passiva diante do principal meio de sustentação finan- pre houve restrições ao exercício da liberdade sindical,
ceira do sindicalismo de tipo corporativo, na medida em é o excesso de influências político-partidárias no seio do
que não se colocaram de forma contundente, realmen- movimento. Os organismos de representação profissio-
te reivindicativa, contra o imposto sindical. Na verda- nal tutelados pelo Estado propiciam, de uma forma ou
de, embora alegassem a necessidade de preservação de de outra, uma espécie de subordinação do sindicalismo
muitos sindicatos que, por serem fracos, não teriam co- aos partidos políticos, à medida que não permitem um
mo sobreviver sem o tributo sindical, os nacionalistas, debate mais amplo entre os sindicalistas e não estimu-
apoiando a sua permanência, contribuíram para a ma- lam o aumento do número de sindicalizados, amplian-
nutenção de uma espécie de círculo vicioso, pois o im- do as bases sindicais.

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Assim, quanto mais rígida e controlada é a estru- dos próprios organismos cupulares, teses distintas a res-
tura sindical, mais cupular se torna a organização dos peito do imposto sindical.
trabalhadores. Ou seja, a falta de democracia no sindi- Em outras palavras, a CUT abriga sindicalistas li-
calismo brasileiro produz, inevitavelmente, um grande gados ao Partido dos Trabalhadores (PT), ao Partido
distanciamento entre cúpula e bases sindicais, afastan- Democrático Trabalhista (PDT), à Convergência Socia-
do, ainda mais, a massa de trabalhadores do mundo sin- lista, ao Partido Revolucionário Comunista (PRC), ao
dical. A criação das centrais sindicais - Central Única P.artido Comunista Brasileiro Revolucionário (PCBR),
dos Trabalhadores (CUT) e Central Geral dos Traba- ao Movimento de Emancipação do Proletariado
lhadores (CGT) - foi um marco importante para o mo- (MEP), à Liberdade e Luta, a setores radicais da Igre-
vimento trabalhista brasileiro, em termos de conquis- ja, e independentes. Dentro deste quadro de correntes
tas de liberdade sindical, porém, limitado a um contexto com táticas de ação política distintas, a polêmica inter-
de sindicalismo fraco e dependente dos conchavos na, na CUT, aparece em uma divisão de opinião: alguns
político-partidíàrios. O que se percebe, na formação favoráveis à extinção imediata do imposto sindical, sen-
dessas centrais, é que o critério adotado não obedece do que outros ativistas consideram necessária a aboli-
tanto à representatividade sindical, mas sim à represen- ção gradativa do tributo.
tatividade partidária, embora isto não seja publicamen- Na CGT, as correntes políticas também não ficam
te declarado. de fora. Nela encontram-se sindicalistas vinculados ao
Desta forma, a representatividade destas centrais Partido do Movimento Democrático Brasileiro
sindicais, embora não possa ser descartada, deve ser vis- (PMDB), ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), ao
ta dentro de um sindicalismo de estrutura de tipo cor- Partido Comunista do Brasil (PC do B), ao Movimen-
porativo, na ótica de um movimento de cúpula, forte- to Revolucionário 8 de Outubro (MR-8) e independen-
mente dependente dos partidos políticos, reflexo do au- tes. As teses sindicais, neste contexto político, também
toritarismo que ainda atinge o mundo do trabalho, on- não são homogêneas. No que tange ao imposto sindi-
de é mantida uma legislação sindical (formada na épo- cal, predominam as seguintes posições, em termos de
ca da ditadura varguista), impossibilitando práticas li- discurso: a dos que são favoráveis à manutenção do tri-
vres e democráticas que realmente facultem e estimu- buto, alegando que muitos sindicatos não conseguiriam
lem a participação da maioria da população economi- sobreviver sem tal arrecadação; e a dos que concordam
camente ativa do país. com a extinção gradativa do imposto, pois, desta for-
ma, haveria condições para criar alternativas aos sin-
No que tange especificamente ao imposto sindical, dicatos que não têm recursos financeiros próprios.
a questão, hoje, ainda permanece complicada para os Pois bem, o fato é que a polêmica em torno do im-
sindicalistas. Tomando como referência as duas centrais posto sindical permanece no país. Há sindicalistas fa-
sindicais -:- CUT e CGT - verifica-se que concordam voráveis à manutenção da "contribuição" sindical e há
numa reivindicação: o fim do controle estatal dos sin- os que são contrários à sua permanência, embora alguns
dicatos. No que concerne, porém, à contribuição sin- defendam sua extinção gradativa. Novas lutas, novos
dical, percebe-se, a grosso modo, que a Central Única homens. Velhas leis, velhas histórias.
dos Trabalhadores é favorável à extinção do tributo, en-
quanto que a Central Geral dos Trabalhadores é favo-
rável à manutenção do imposto sindical. Entretanto, na
verdade, o discurso está muito distante da prática tra-
balhista. Isto é, há uma sériede interessespolíticos e con- 1 Rodrigues, Leôncio Martins. O sindicalismo corporativo no Bra-
cepções sindicais no bojo de cada uma dessas centrais sil. Jornal da Tarde, 29, nov. 1980. p. 2, Caderno de programas e lei-
de trabalhadores, provocando, naturalmente, dentro turas.

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