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sindicalismo em Moçambique

Sindicalismo

O movimento sindical refere-se à organização coletiva de trabalhadores em sindicatos,


com o objetivo de defender e promover seus direitos e interesses laborais. Os sindicatos
são associações formadas por trabalhadores de uma determinada categoria profissional,
como metalúrgicos, professores, enfermeiros, entre outros.

Órgão sindical é a união ou associação privada de pessoas que visa promover e


defender os direitos e interesses socioprofissionais dos trabalhadores diante das
respetivas entidades empregadoras, (Lei Nº 23/2023).

Surgimento do Sindical em Moçambique

Movimento sindical

O movimento sindical em Moçambique remonta do período colonial. Em 1943 e 1944,


constituíram-se o Sindicato Nacional dos Empregados do Comércio e Indústria e o
Sindicato Nacional dos Motoristas e Ferroviários de Moçambique. Todavia, a génese
dos sindicatos desta época era meramente corporativa, que consiste na característica da
constituição dos sindicatos por profissões, tal que, numa empresa poderia haver vários
sindicatos em função do número de profissões. Estes sindicatos atuavam no sentido do
enquadramento dos trabalhadores brancos no sistema” e eram “estreitamente
controlados pela administração colonial”. A história de Moçambique apresenta quatro
fases distintas:

A primeira fase, de 1800 até1975, é o período da colonização Portuguesa;

A segunda fase, de 1975 até o início da década de 80 é a época pós-independência


quando é instituído um regime socialista;

A terceira fase, de 1980 até 1990, se inicia a transição do regime socialista para
o capitalista e por fim o período pós 1994 até os dias atuais. (Pitcher, 2002, citado por
Jakobsen e Carvalho, 2008).

Segundo MORAIS Filho, o ambiente de trabalho verificou mudanças ao longo desta


fase, desde a exploração do homem pelo homem a alterações laborais impulsionadas
pelo papel do Estado, sendo este o agente de desenvolvimento das relações laborais,
desde o estabelecimento dos salários mínimos às condições sociais dos trabalhadores.
Primeiros sindicatos

O Sindicalismo em Moçambique, conforme explica Carlos Mucareia na rubrica news do


Portal do Governo (2010), no tempo colonial havia sindicatos corporativos
que enquadravam um determinado grupo social, eles não tinham muito em conta com o
global dos trabalhadores. Conquistada a independência nacional, exortou-se os
7 representantes dos trabalhadores para se organizarem em moldes coletivos, para
darem a sua contribuição na etapa da independência nacional, disse Mucareia.

No dia 13 de outubro de 1976, o Presidente Samora Moisés Machel reúne-se com os


representantes dos trabalhadores moçambicanos face à sabotagem dos portugueses, em
Lourenço Marques para os incumbir a tarefa de se organizarem, em cada empresa, em
grupos de defesa da economia.

Na mesma reunião, constituiu-se um núcleo coordenador, encabeçado por um


operário muito activo dos CFM, o Sr. Augusto Macamo, hoje considerado
embondeiro do movimento sindical em Moçambique. Foi neste contexto que surgiram
os “Grupos Dinamizadores (GD)” e Milicianos” que eram estruturas políticas
compostas por trabalhadores treinados para defenderem as fábricas da sabotagem dos
patrões portugueses em fuga e divulgar a política da Frelimo. O grupo de coordenação
criou os Conselhos de Produção (CP), que se encarregaram de reorganizar o
sector e, grande parte dos trabalhadores moçambicanos que integram estes CP, foram os
primeiros gestores das empresas estatais da época.

O surgimento do movimento sindical, no país, está relacionado com a situação política,


económica e social emergente em 1974. Primeiramente, surge como Conselho
de Produção e, mais tarde, concretamente em 1983, transforma-se em Organização dos
Trabalhadores Moçambicanos (OTM) que com o desenvolvimento do sistema político
nacional do mono partidarismo para o pluripartidarismo teve de se adequar à situação
transformando-se em Central Sindical, criando sindicatos nacionais com base nos então
denominados Núcleos de Actividades.

A partir de 1987 (altura em que Moçambique passa do regime socialista


para o capitalismo e adopta a economia do mercado) até a década de 90, começaram a
surgir, vários sindicatos ramais. Entre os movimentos sindicais conhecidos da
época encontramos o Sindicato da Metalurgia, o Sindicato dos Trabalhadores da
Indústria de Caju (Sintic), o Sindicato do Aparelho do Estado.
A constituição dos sindicatos desta época passa a respeitar o sistema de aglutinação,
abandonando o corporativismo transitado do período colonial. Na década de 1990, a
OTM transforma-se numa estrutura de topo e, através da Resolução n.º 20/90, de 5 de
Novembro, é reconhecida a sua personalidade jurídica. Seguiram-se momentos de
afirmação do movimento sindical em Moçambique, que não estiveram isentos de
momentos conturbados e de recuo, contudo, apesar dos erros e fracassos que não
deixaram de marcar o percurso, o movimento sindical moçambicano prosseguiu com as
suas lutas e, conforme aponta Fernando Ribeiro, em 1999, a greve geral realizada foi
uma prova de afirmação sindical de um movimento que se suplantando até aos dias de
hoje.

Constituição de associações sindicais e de empregadores

Aquisição da personalidade jurídica

segundo o artigo 154 da lei 23/2023 As associações sindicais ou de empregadores


adquirem personalidade jurídica pelo registo dos seus estatutos no órgão central da
administração do trabalho. (assim também consta no artigo 145 da lei 23/2007

Condições e procedimentos de registo

Para o nº 1 do artigo 155 da lei 23/2023 e artigo 146 da lei 23/2007 , O requerimento do
registo de qualquer associação sindical ou de empregadores é dirigido ao Ministro que
superintende a área do trabalho ou ao órgão a quem ele delegar, instruído com os
seguintes documentos:

a) acta da assembleia constituinte;

b) lista nominal dos presentes na assembleia constituinte;

c) estatutos da associação;

d) certidão negativa da denominação da associação;

e) documento comprovativo da publicação da convocatória da assembleia constituinte.

E no numero 2 do mesmo artigo da mesma lei, Aplica-se, subsidiariamente, com as


necessárias adaptações à constituição, registo e funcionamento da associação sindical ou
de empregadores o regime geral das associações.

Suprimento de irregularidade
Caso o pedido de registo enferme de irregularidade, esta é dada a conhecer aos
interessados para a suprirem dentro do prazo que lhes for indicado. (artigo 156 da lei nº
23/2023 e no artigo 147 da lei 23/2007)

Conteúdo dos estatutos

para o artigo 156 da lei Nº 23/2023 e no artigo 148 da lei 23/2007, Os estatutos das
organizações sindicais ou de empregadores devem conter, nomeadamente, os seguintes
elementos:

a) a denominação, sede, âmbito sectorial e geográfico da organização, os fins que


prossegue e o tempo por que se constitui, caso seja por tempo determinado;

b) a forma de aquisição e perda da qualidade de sócio;

c) os direitos e deveres dos sócios;

d) o direito de eleger e de ser eleito para os seus órgãos sociais e o de participar nas
actividades das associações em que esteja filiado;

e) o regime disciplinar;

f) a composição, forma de eleição e de funcionamento dos

órgãos sociais, bem como a duração dos respectivos mandatos;

g) a criação e funcionamento de delegações ou de outros sistemas de organização


descentralizada;

h) o regime de administração financeira, orçamento e contas;

i) o processo de alteração dos estatutos;

j) a exibição, dissolução e liquidação do seu património.

Denominação, registo, publicação e averbamento

segundo o nº 1 da lei 23/2023, A denominação de cada organização sindical ou de


empregadores deve possibilitar, da melhor maneira, a sua identificação

por forma a não se confundir com a de qualquer outra organização.

No ponto 2 do mesmo artigo, diz que: Verificados os requisitos de constituição da


organização sindical ou de empregadores, o órgão central da administração do trabalho
procede ao seu registo, em livro próprio, no prazo de 30 dias a contar da data do
depósito.

No ponto 3, do mesmo artigo, Após o registo, os estatutos estão sujeitos à publicação no


Boletim da República, sendo os encargos suportados pelos interessados.

E no Nº 4 do mesmo artigo, São posteriormente, averbados no livro ou dossier


específico de registo das associações quaisquer actos relevantes da vida das associações,
tais como a sua alteração, fusão, dissolução e eleição dos órgãos.

Órgãos sociais e identificação dos titulares

para o nº do artigo 159 da lei 23/2023 diz que, Sem prejuízo de outros previstos nos
respectivos estatutos, as associações sindicais ou de empregadores devem ter os órgãos
sociais previstos no regime geral das associações, designadamente, a assembleia geral, a
direcção e o órgão fiscal. no ponto 2 do mesmo diz que O presidente da mesa da
assembleia constituinte deve enviar ao órgão central da administração do trabalho a
identificação dos titulares dos órgãos sociais juntamente com a respectiva acta. e no
ponto 3 consta que, Enquanto as associações não procederem à entrega do documento
referido no número 2 do presente artigo, os actos praticados por esses órgãos sociais são
ineficazes. ( artigo 151 da lei Nº 23/2007).

Assembleia constituinte

Segundo o nº1 do artigo 160 da lei 23/2023 A assembleia constituinte de qualquer


organização sindical ou de empregadores deve ser convocada com a mais ampla
publicidade, através de qualquer meio de comunicação social e através do jornal de
maior circulação, devendo possibilitar a todos os interessados a livre expressão das suas
opiniões. No ponto 2 do mesmo artido diz que, A assembleia constituinte elabora a lista
nominal dos empregadores ou dos trabalhadores participantes, devendo as deliberações
tomadas serem registadas em acta própria. Ja no Nº 3, O disposto no presente artigo
aplica-se igualmente à alteração, fusão e dissolução de organizações sindicais ou de
empregadores. (artigo 152 da lei 23/2007).

Sujeitos de relações colectivas de trabalho

Estruturas representativas dos trabalhadores


Para o Nº 1 do artigo 161 da lei nº 23/2023 e no artigo 153 da lei nº 23/2007, As
organizações sindicais podem estruturar-se em delegado sindical, comité sindical ou de
empresa, sindicato e confederação geral. No seu Nº 2. refere que para a defesa e
prossecução colectivas dos seus direitos e interesses, podem os trabalhadores constituir:

a) delegado sindical – órgão representativo dos trabalhadores nas pequenas empresas;

b) comité sindical ou de empresa – órgão de base, representativo do sindicato no


estabelecimento ou empresa;

c) sindicato – associação de trabalhadores para a promoção e defesa dos seus direitos,


interesses sociais e profissionais;

d) confederação geral – associação nacional de sindicatos.

No nº 3 do mesmo artigo, diz que, Nas empresas ou serviços em que não há órgão
sindical, o exercício dos direitos sindicais compete ao órgão sindical imediatamente
superior ou à comissão de trabalhadores eleita em assembleia geral expressamente
convocada para o efeito por um mínimo de vinte por cento do total dos trabalhadores.

Atribuições do sindicato

No artigo 162 da lei Nº 23/2023 e do artigo 154 da lei 23/2007, Na prossecução dos
objectivos definidos no artigo 148 da presente da Lei, são atribuições do sindicato,
nomeadamente, previstas nas alineas:

a) promover e defender os diretios e interesses dos trabalhadores que exerçam a mesma


profissão ou que se integrem no mesmo ramo de actividade ou actividade afim;

b) representar os trabalhadores na negociação e celebração de instrumentos de


regulamentação colectiva de trabalho;

c) prestar serviços de apoio económico, jurídico, judiciário, social e cultural aos seus
associados;

d) celebrar acordos de cooperação com organizações congéneres nacionais e


internacionais.
Competências do comité sindical e sua constituição

No nº 1 do artigo 163 da lei 23/2023 e no artigo 155 da lei nº 23/2023, Na prossecução


dos objectivos definidos no artigo 149 da nova lei e artigo 139 da lei vigente, compete
ao comité sindical, designadamente:

a) representar os trabalhadores da empresa ou estabelecimento perante o empregador na


negociação e celebração de acordos de empresa, na discussão e solução dos problemas
sócio-profissionais do seu local de trabalho;

b) representar o sindicato junto do empregador e dos trabalhadores da empresa ou


estabelecimento.

No nº2 do mesmo artigo diz que, membros do comité sindical são eleitos em reunião
dos trabalhadores membros do respectivo sindicato, expressamente convocada para o
efeito, de entre os trabalhadores da empresa ou estabelecimento. Já nº3 refere que,
número de membros do comité sindical e a duração do seu mandato são determinados
pelos estatutos do respectivo sindicato. No nº4, os delegados sindicais têm as mesmas
competências dos comités sindicais. E no nº5 diz que, o sindicato deve comunicar ao
empregador a identificação dos membros do comité sindical eleito no prazo máximo de
15 dias, após a sua constituição.

Atribuições da confederação

De acordo com a lei 23/2023 no artigo 164, diz que na prossecução dos objectivos definidos no
artigo 150 da presente Lei. Assim podemos encontrar nas alíneas abaixo oque são atribuições
da confederação:

a) promover e defender os interesses dos trabalhadores junto do Governo e das


confederações de empregadores;

b) propor directamente ao Governo, após consulta às associações sindicais, filiadas ou não,


alterações à legislação laboral vigente;

c) representar as associações sindicais em qualquer negociação com as confederações de


empregadores;

d) estabelecer relações de cooperação com organizações internacionais congéneres;

e) prestar serviços de apoio às organizações filiadas.


EXERCÍCIO DA ACTIVIDADE SINDICAL

Reuniões

Segundo o artigo 165 da lei 23/2023 e no artigo 159 da lei 23/2007 no seu nº1, os delegados
sindicais, os comités sindicais e os sindicatos podem realizar reuniões sobre assuntos sindicais,
nos locais de trabalho, em princípio, fora do horário normal de trabalho dos seus membros. E
no seu nº2 diz que, os titulares dos órgãos sindicais devem beneficiar de um crédito de horas a
fixar obrigatoriamente em instrumento de regulamentação colectiva de trabalho. No nº3
sustente que, podem ter lugar nos locais de trabalho reuniões da assembleia de trabalhadores,
fora do horário normal, mediante convocação do sindicato, ou de, pelo menos, um terço dos
trabalhadores da empresa ou estabelecimento. Já o nº4 diz que, Sem prejuízo do disposto nos
números anteriores, quer os delegados sindicais, quer os comités sindicais, quer ainda os
sindicatos ou as assembleias de trabalhadores, podem reunir-se nos locais de trabalho e
dentro das horas normais de trabalho, mediante acordo prévio com o empregador. E no nº5
diz que, as reuniões, previstas nos números anteriores, são comunicadas ao empregador e aos
trabalhadores com a antecedência mínima de 24 horas.

Direito de afixação e informação sindical

Segundo o artigo 166 da lei 23/2023 e no artigo 160 da lei 23/2007, no seu nº1 diz que, os
sindicatos podem afixar nos locais de trabalho, em lugar apropriado e acessível a todos os
trabalhadores, textos, convocatórias, comunicações ou informações respeitantes à vida
sindical, bem como diligenciar pela sua distribuição. Já no seu nº2 diz que, todas as matérias
não contempladas na presente Lei, designadamente, a atribuição de um fundo de tempo e de
instalações para o exercício da actividade sindical, são objecto de negociação entre o órgão
sindical e o empregador.

Protecção dos titulares dos órgãos sociais

De acordo com o artigo 167 da lei 23/2023 e no artigo 161 da lei 23/2007 no seu nº1 diz que,
os membros dos órgãos sociais das associações sindicais, dos comités sindicais e os
delegados sindicais não podem ser transferidos do local de trabalho, sem consulta prévia
àquelas associações e nem podem ser prejudicados, de qualquer forma, por causa do
exercício das suas funções sindicais. Já no seu nº 2 diz que, é proibido ao empregador
rescindir sem justa causa o contrato de trabalho dos membros dos órgãos sociais das
associações sindicais e dos comités sindicais, por razões atribuíveis ao exercício das
suas funções sindicais.

Liberdade de associação dos empregadores

Constituição e autonomia

De acordo com o artigo 168 da lei 23/2023 e no artigo 162 da lei 23/2007 no seu nº1 diz que,
as organizações ou associações de empregadores são independentes e autónomas e podem
constituir-se em federação e confederação, seja no âmbito regional ou por ramo de actividade.
Já no seu nº2 diz que, para efeitos do número 1 da presente Lei, entende-se por:

a) federação – a organização de associações de empregadores do mesmo ramo de actividade;

b) confederação – a associação de federações.

Medidas excepcionais

Segundo o artigo 169 da lei 23/2023 e no artigo 163 da lei 23/2007, os empresários que não
empreguem trabalhadores ou as suas associações podem filiar-se em organizações de
empregadores, não podendo intervir nas decisões respeitantes às relações de trabalho.

referencias

RIBEIRO, Fernando Bessa; Do Esgotamento revolucionário à Liberalização: o


movimento sindical face às privatizações em Moçambique.

MORAIS FILHO, E. Efetividade dos Direitos humanos Trabalhistas, Editora LTR, São
Paulo, 2007.;

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