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1 INTRODUÇÃO
Em 2015 os 193 países membros da Organização das Noções Unidas – ONU firmaram o
compromisso, consubstanciado no documento: “Transformando o Nosso Mundo: Agenda 2030 para
o Desenvolvimento Sustentável”, conhecido também como “Agenda 2030”.
A meta 8.8 contida na ODS nº 8 no âmbito das Nações Unidas objetiva: “proteger os
direitos trabalhistas e promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os
trabalhadores, incluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulheres migrantes, e pessoas
em empregos precários.”
No Brasil a meta 8.8 tem o propósito de: “reduzir o grau de descumprimento da legislação
trabalhista, no que diz respeito ao registro, às condições de trabalho, às normas de saúde e
segurança no trabalho, com ênfase nos trabalhadores em situação de vulnerabilidade.”
O presente estudo visa analisar a meta 8.8 da ODS nº 8 à luz do meio ambiente de trabalho
e da Legislação vigente, bem como estabelecer os prognósticos para atingir o objetivo firmado pelo
Brasil perante a ONU em cumprimento à agenda 2030.
1
Advogado. Mestrando pela Faculdade de Direito Milton Campos. Membro da Oficina de Estudos Avançados „As
interfaces do Processo Civil com o Processo do Trabalho‟ – IPCPT. Pós-graduado em Direito e Processo do Trabalho
pela Faculdade Milton Campos. Pós-graduado em Direito Público pela Faculdade Milton Campos.
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2 MEIO AMBIENTE DE TRABALHO E A EVOLUÇÃO DA LEGISLAÇÃO
TRABALHISTA NO BRASIL
As más condições de trabalho fizeram com que no período de 1917 a 1920 fossem
deflagradas greves dos trabalhadores influenciados pelos ideais dos imigrantes europeus, bem como
ideias para melhorar a qualidade de vida do trabalhador, conforme narrado por Segadas Vianna2
Segundo Vianna3, em 1919, Miguel Calmon, na Bahia, difundia aos ideais do “Direito à
Felicidade” por meio de um ambiente de trabalho digno em que o “operário e sua família tenham
asseguradas por lei condições mínimas de independência”.
A crise financeira decorrente da quebra da bolsa de Nova York em 1929 gerou demissões
em massa e o empobrecimento da população, culminando na tomada do poder por Getúlio Vargas,
que tão logo suspendeu a Constituição de 1891, fechando o Congresso e instaurando um governo
ditatorial.
2
VIANNA, Segadas. Instituições de direito do trabalho, volume I / Arnaldo Süssekind ... [et al.]. – 22. ed. atual. por
Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005. p.56.
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“O problema social começava a se fazer sentir e muitas vozes ilustres defenderam o direito dos trabalhadores a uma
vida melhor. Miguel Calmon, falando aos baianos sobre “O Direito à Felicidade”, dizia em 1919: “Sem que o operário e
sua família tenham asseguradas por lei condições mínimas de independência e bem-estar, continuarão sempre a ser
adstritos à fábrica ou à obra, e a sofrer todas as misérias e degradações.””
2
Em contrapartida às restrições das liberdades individuais, Vargas ordena a elaboração da
CLT, publicada por meio do Decreto-Lei nº 5.452 em 01.05.1943.
A CLT, segundo Luiz Ronan Neves Koury4: “se orientou basicamente pelos princípios da
proteção do trabalhador, primazia da realidade, nulidade de cláusulas destinadas a fraudar as
normas trabalhistas e inalterabilidade lesiva das condições de trabalho.”
Ensina ainda Luiz Ronan Neves Koury5 que a criação da CLT: “[...] é consequência de um
momento político de proliferação da legislação social, resultado de uma política deliberada do
Governo Vargas em ampliar a sua base de apoio social e canalizar os conflitos trabalhistas para a
via institucional.”
Para Pedro Carlos Sampaio Garcia6, a CLT foi inspirada na Carta Del Lavoro, de 1927,
originada na Itália, decorrente do governo fascista de Benito Mussolini.
Arnaldo Süssekind7 que integrou a comissão de elaboração da CLT, afirma que o Decreto-
Lei nº 5.452/43 não se tratou de uma cópia da Carta Del Lavoro:
4
KOURY, Luiz Ronan Neves. 70 Anos da CLT – artigo disponível no livro Temas de Direito do Trabalho e de Direito
Processual do Trabalho / Luiz Ronan Neves Koury, Neiva Schuvartz, Luciana Marques Ribeiro coordenadores. – Belo
Horizonte: RTM, 2013. (291 – 296). p. 218. P.294.
5
Ibid., p. 295 e 296.
6
GARCIA, Pedro Carlos Sampaio. O fim do poder normativo. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes; FAVA, Marcos
Neves (Orgs.). Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005. p. 384.
7
SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho, volume I / Arnaldo Süssekind ... [et al.]. – 22. ed. atual. por
Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005. p. 62 e 63.
3
Afirma-se comumente que a Comissão da CLT se inspirou na Carta del Lavoro. Tal
acusação, além de confundir o todo com uma de suas partes, releva, sem dúvida, o
desconhecimento da evolução das leis brasileiras sobre o Direito do Trabalho. Dos onze
títulos que compõem a Consolidação, apenas o V, relativo à organização sindical,
correspondeu ao sistema então vigente na Itália [...]
Tudo indica crer que a inspiração da CLT na Carta Del Lavoro não se sustenta, em razão
da origem cronológica das normas que integraram o Decreto-Lei nº 5.452/438, bem como diante da
análise de mais de 2000 sugestões recebidas pela Comissão de Juristas que elaboraram a CLT,
afastando a suposta natureza fascista do texto normativo, conforme disposto no item 2 da exposição
de motivos.
Após os anos de 1945, com o término da segunda guerra mundial, iniciou-se no mundo
um movimento de fragmentação da representação sindical, e desregulamentação do Direito do
Trabalho, tendo como exemplos, segundo Ricardo Antunes10, a Itália (“especialização flexível” e
“descentralização produtiva”) e o Japão (Toyotismo).
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Exemplos: Decreto 4.682 de 23.01.1923, conhecido também como Lei Elói Chaves, e a Lei 4982/25.
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“A CLT, muito mias do que uma consolidação, tem as características de um código, pela forma sistemática e ordenada
que trata dos mais variados temas. Embora com anacronismos de redação [...]”
10
ANTUNES, Ricardo, Adeus ao trabalho?: ensaio sobre as metamorfoses e a centralidade do mundo do trabalho – 11.
ed. – São Paulo: Cortez; Campinas, SP: Editora da Universidade Estadual de Campinas, 2006. p. 28.
4
compra do salário (art. 14, V). compra. Possibilitando que o ACT ou a
CCT pactuem a redução nominal do
salário (art. 7º, VI).
Jornada de trabalho semanal de 40 horas Jornada de trabalho semanal de 44 horas
(art. 14, XV). (art. 7º, XIII).
Garantia de repouso (descanso) durante os Repouso semanal preferencialmente aos
feriados (art. 14, XVI). domingos, não impedindo o trabalho
durante os feriados (art. 7º, XV).
Horas extras e trabalho durante os feriados Permissão do trabalho em regime de horas
somente em caso de emergência ou força extras e feriados, desde que haja o
maior, devendo ser remunerado em dobro, pagamento de adicional de 50% (art. 7º
ou seja, adicional de hora extra de 100% XVI).
(art. 14, XVII).
Gozo de férias, de 30 dias anuais, Gozo de férias anuais de 30 dias mediante
mediante o recebimento de remuneração o recebimento do salário mais adicional de
em dobro (14, XVIII). 1/3 (art. 7º, XVII).
Vedação à terceirização (art. 14, XXIV). Não há previsão na Constituição
Dever das empresas privadas e órgãos Não há previsão na Constituição
públicos de assistência aos filhos e
dependentes dos empregados, pelo menos
até 6 anos de idade, em creches, pré-
escolas (art. 14, XXVI).
11
SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho, volume I / Arnaldo Süssekind ... [et al.]. – 22. ed. atual. por
Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005. p. 63.
5
Atribuiu-se os problemas econômicos aos direitos e garantias conferidos aos empregados,
o que pode ser constado no parecer da Comissão Especial destinada a analise do PL nº 6.787/16:
12
Art. 444, parágrafo único da CLT.
13
“São constitucionais os acordos e as convenções coletivas que, ao considerarem a adequação setorial negociada,
pactuem limitações ou afastamentos de direitos trabalhistas, independentemente da explicitação especificada de
vantagens compensatórias, desde que respeitados os direitos absolutamente indisponíveis.”
14
: https://smartlabbr.org/sst/localidade/0?dimensao=frequenciaAcidentes
6
Observa-se ainda que nos anos de 2020 e 2021 houve uma queda nos acidentes do trabalho
em decorrência da pandemia do COVID-19, que gerou uma desaceleração dos meios de produção
em decorrência do fechamento de determinadas atividades para o controle da disseminação do
vírus. Porém, em 2022, com a retomada da economia, os números de acidente do trabalho logo se
aproximaram ao patamar registrado em 2018.
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O controle de convencionalidade é o meio pelo vem aplicando normas internacionais ao
solucionar lides, como é o caso das Convenções da OIT. A propósito, o STF15 já reconheceu o
caráter supralegal dos tratados internacionais em que o Brasil é signatário, mesmo sem serem
submetidos ao procedimento do art. 5º, §3º da CR/88, quando passam a ostentar o status de norma
Constitucional.
4 CONCLUSÃO
O Direito do Trabalho vem sendo construído ou até mesmo descontruído na medida dos
anseios da sociedade e das instabilidades econômicas.
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ADI 5.240, rel. min. Luiz Fux, Plenário, j. 20-8-2015, DJE 18 de 1º-2-2016.
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O fortalecimento das instituições independentes, como o MPT, possibilitará uma
fiscalização mais eficaz, sem a influência decorrente da alternância de poder inerente ao sistema
democrático, estabilizando assim as garantias laborais e uma longevidade da capacidade produtiva
dos empregados.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CORREIA, Marcus Orione Gonçalves. Curso de Direito do Trabalho, vol. 1: teoria geral do direito
do trabalho – São Paulo: LTr, 2007.
DROPPA, Alisson; FLORES, Alfredo de J.; feloniuk, Wagner (Orgs.). História, Direito e Trabalho:
tópicos e aproximações metodológicas. Porto Alegre, RS: Editora Fi, 2022.
GARCIA, Pedro Carlos Sampaio. O fim do poder normativo. In: COUTINHO, Grijalbo Fernandes;
FAVA, Marcos Neves (Orgs.). Justiça do trabalho: competência ampliada. São Paulo: LTr, 2005.
MAIOR, Jorge Luiz Souto. História do Direito do Trabalho no Brasil: Curso de Direito do
Trabalho, volume I: parte II – São Paulo: LTr, 2017.
KOURY, Luiz Ronan Neves. 70 Anos da CLT – artigo disponível no livro Temas de Direito do
Trabalho e de Direito Processual do Trabalho / Luiz Ronan Neves Koury, Neiva Schuvartz, Luciana
Marques Ribeiro coordenadores. – Belo Horizonte: RTM, 2013. (291 – 296).
PIRES, Rosemary de Oliveira: A Reforma Trabalhista (Lei 13.467/2017) na visão dos Magistrados
do Trabalho, Procuradores do Trabalho e Advogados Trabalhistas, Belo Horizonte: RTM, 2018.
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SÜSSEKIND, Arnaldo. Instituições de direito do trabalho, volume I / Arnaldo Süssekind ... [et al.].
– 22. ed. atual. por Arnaldo Süssekind e João de Lima Teixeira Filho. São Paulo: LTr, 2005.
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