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A reforma trabalhista: Os retrocessos gerados pela Lei 13.

467/20171 e
sua inconstitucionalidade no que tange o tempo a disposição do empregador
(horas in itinere)

Fernando kaio Nunes de Menezes2


Sabrina Tayná Marcelino Fernandes3
Glauber Alves Diniz Soares4

Resumo

O presente trabalho tem como objetivo analisar os impactos gerados pela reforma trabalhista
Lei 13.467/2017. Logo de início, a fim de uma compreensão do assunto, foi abordado o
contexto histórico da CLT desde a sua criação. Também nessa mesma ótica, uma análise
acerca da elaboração da reforma trabalhista, seus objetivos e características, e por fim, um dos
itens alterados que foi o tempo a disposição do empregador, e sua compreensão através dos
tribunais. E analisar os princípios básicos presentes na nossa constituição, que são contrários
ao retrocesso social e a segurança jurídica, confrontando os mesmos com os pressupostos
utilizados na alteração das Leis trabalhistas.
Palavras-chave: Trabalho. Reforma Trabalhista. CLT. Tempos a disposição do
Empregador. Constituição.

Abstract

The present work aims to analyze the impacts generated by the labor reform Law
13.467/2017. Right from the start, in order to understand the subject, the historical context of
the CLT since its creation was addressed. Also in this same perspective, an analysis of the
elaboration of the labor reform, its objectives and characteristics, and finally, one of the
changed items that was the time available to the employer, and its understanding through the
courts. And analyze the basic principles present in our constitution, which are contrary to
social regression and legal certainty, confronting them with the assumptions used in the
amendment of labor laws.
Keywords: Job.Labor Reform.CLT. Times available to the Employer.

1
Artigo apresentado à Universidade Potiguar– UnP, como parte dos requisitos para obtenção do título de
Bacharel em Direito, em 2022.
2
Graduando em Direito pela UNP. E-mail: fernandomenezes23@hotmail.com
3
Graduanda em Direito pela UNP: E-mail: sabrinataynamagu1216@gmail.com
4
Professor orientador. Professor Especialista. E-mail: glauber.soares@unp.br
2

1 Introdução

O presente trabalho tem como objetivo analisar a Reforma Trabalhista, lei


13.467/2017 e os impactos gerados pelas alterações realizadas nas leis trabalhistas. A
promulgação da CLT ocorreu em 1943, durante o período do Estado Novo, com o objetivo de
proteger e garantir direitos a Classe trabalhadora, que até então era desassistida em quase toda
totalidade pelo poder público. Desde o período de sua promulgação ocorreu diversas
alterações, ao longo dos anos, porém, a que gerou mais impacto foram as que ocorreram em
2017.
Mediante o embasamento realizado através das bibliografias pertinentes ao assunto,
foi possível entender todo o contexto histórico e político, tanto do período da criação da CLT,
como o período em que as suas alterações foram realizadas. A progressão dos direitos sociais
diante das alterações realizadas, regrediu com o intuito de beneficiar os empregadores, com a
prerrogativa de proteger a economia e gerar mais empregos. A economia estava em crise no
período da alteração das leis, o objetivo era modernizar as leis até então existentes, pois diante
do cenário de evolução do mercado de trabalho, surgiram novas tecnologias e modos de
produção, criou-se ramos e empregos que não existia em 1943, e viu-se essa necessidade de
atualizar a legislação trabalhista.
Frente a esse contexto se fez necessário entender, os dois momentos políticos em que
o país e o mundo estavam passando, para criarem um cenário propicio tanto para criação
como para alteração das Leis trabalhistas, viu-se que em 1943, as políticas mundiais após a
quebra da bolsa de valores de 1929, foram voltadas para criação de políticas publicas voltadas
para os trabalhadores pois, o Estado precisava dessas agentes para sua restruturação
econômica e política, ou seja, diante desse cenário proposto viu-se a importância política
desses agentes. A revolução industrial também forçou o Brasil a entrar no processo de
industrialização, fazendo com que o modo de produção também fosse alterado e modernizado,
consequentemente gerou uma mudança nas relações de trabalho.
A reforma trabalhista aprovada pelo congresso e sancionada pelo presidente Michel
Temer, trouxe mudanças significativas diante do contexto econômico que o país se
encontrava, como determinados pontos dentre eles o tempo a disposição do empregador,
passou a ser interpretado de uma forma mais favorável para o patronato. A nova legislação foi
publicada no Diário oficial da união em 14 de julho de 2017, e entrou em vigor 120 dias após
a sua publicação.
3

O governo propôs com a atual reforma, a modernização da lei trabalhista com o intuito
de garantir e preservar um direito fundamental que é o emprego. Ao longo do trabalho é
possível observar que embora o intuito tenha sido esse não obteve êxito em seu objetivo, pelo
contrário, aumentou ainda mais as desigualdades.
Dessa maneira, objetivo do presente trabalho é analisar a CLT no contexto histórico de
quando foi criada e o contexto histórico de quando foi alterada, abordando como a alteração
prejudicou a classe trabalhadora, frente as leis adotadas dentre elas “o tempo a disposição do
empregador”, destacando a sua inconstitucionalidade frente a nossa carta magna.

2 DA CONSOLIDAÇAO DAS LEIS TRABALHISTAS

O trabalho é de suma importância para o desenvolvimento de toda e qualquer


sociedade. E desempenha um papel de equilíbrio entre os indivíduos que façam parte da
sociedade presente, como também é um meio de subsistência para os indivíduos. Então exige-
se dos entes Estatais um mínimo de garantia e proteção social para esses indivíduos.

2.1 Contexto Histórico da criação da CLT

A criação da CLT se deu durante o governo de Getúlio Vargas entre 1930 e 1945, ela
se encontra na lista de Direitos adquiridos mediante um contexto político e econômico no qual
o pós-guerra e a crise de 1929 influenciaram diretamente na sua criação, isso se deu devido a
mudança na percepção que esses eventos geraram no mundo, no qual após isso a política
mundial voltou-se para criação de políticas voltadas para os trabalhadores e desenvolvimento
do estado. A consolidação consumou-se em 1943, e realizou a unificação de todas as leis e
decretos existentes até então no país, foi criada através do Decreto-lei n° 5.452, de 1° de maio
de 1943, durante a vigência do Estado novo.
As relações trabalhistas no Brasil até 1929 encontravam-se atreladas ao modo de
produção agrário, dominado por oligarquias. Embora a escravidão já tivesse sido abolida em
1888 com a lei Aurea, as condições de trabalho que se tinha até então, eram condições de
miserabilidade, no qual fazia os trabalhadores se submeterem as condições impostas pelos
patrões, condições essas que se assemelhava a escravidão.
Anteriormente a esse período até existiu alguns pontos em constituições anteriores
que traziam a luz algum direito e reconhecimento deste para a classe trabalhadora, porém
nada que trouxe melhorias significativas para os trabalhadores, um exemplo disso são as
4

primeiras legislações sobre acidente de trabalho, dentre eles os Decretos n°3.724,13.493 e


13.498 todos de 1919. A lei da criação da caixa de aposentadorias e pensões (Decreto n°
4.682/1923), da lei de férias (Decreto n° 4.982/1925), do código de menores (Decreto n°
5.083/1926), dentre outras, após isso foi criada uma comissão para planejar e elaborar a CLT,
ou seja, unificação e ampliação dos decretos existentes.
Até esse período o Brasil estava estagnado a uma política econômica voltada
estritamente a oligarquias que predominavam no cenário nacional, conhecida como Café-
com-Leite, pois existia uma alternância de poder entre as províncias, tanto no cenário
econômico como político, que era São Paulo e Minas Gerais. Como o Próprio nome já
menciona, essa política viável pois os dois estados tinham e seu território de maneira vasta
essas matérias primas. O cenário da crise mundial que ocorreu em 1929, fez ocorrer uma
quebra na cadeia econômica até então existente tanto no cenário nacional como global,
forçando o país diante desse cenário, a mudança. Mudança essa que, forçava a alteração no
modo de produção existente, que era predominantemente agrário, criando um novo cenário
para a industrialização do país. De acordo com (Cano 2015, p.446)5i:

“Ela nos exigiu não só uma rápida e efetiva política estatal de defesa da renda
e do emprego, mas também a construção de uma política de industrialização,
única rota para sair da grave crise e ingressar em formas econômicas urbanas
mais modernas e progressistas” (Cano 2015, p.446).

Após a crise de 1929, o cenário político no Brasil se tornou insustentável pois, a


máquina econômica que fazia essa alternância política se concentrarem entre esses estados, se
tornaram inviáveis, diante da crise econômica no qual o mundo vivenciava.
A efetivação e intervenção, mediante as medidas adotadas só começaram a ser
observadas após 1930, devido a necessidade da intervenção do estado para efetivar a
aplicabilidade das políticas efetivas para controlar e contornar a crise de 1929 que assolava o
período e prejudicaram a economia do país. A CLT somente foi promulgada em 1943 como
resultado das inúmeras leis e decretos que existiam de maneira esparsa, até então, e
disciplinava vários pontos, dentre eles: sobre o direito individual do trabalho, direito coletivo,
fiscalização do trabalho, direito processual do trabalho, além de legislações voltadas para
trabalhos específicos6. Para Carvalho:

5
Disponível em: https://www.scielo.br/j/rep/a/FwKt39SvPW36Thr993KRrfF/?format=pdf, acessado em
17/05/2022.
6
CLT: Consolidação das leis do trabalho [recurso eletrônico] / Eliezer de Queiroz Noleto (organizador). – Brasília:Câmara dos
Deputados, Edições Câmara, 2018.
5

“O ano de 1930 foi um divisor de águas na história do país. A partir dessa


data, houve aceleração das mudanças sociais e políticas, a história começou
a andar mais rápido. Uma das primeiras medidas do governo revolucionário
foi criar um Ministério do Trabalho, Indústria e Comércio. A seguir, veio
vastar legislação trabalhista e previdenciária, completada em 1943 com a
Consolidação das Leis do Trabalho” (CARVALHO apud Monteiro, 2018, p.
91)78

Esse período que corresponde de 1934 a 1943, foi conturbado politicamente, porém
trouxe ganhos para a classe trabalhadora, um exemplo disso foi a constituição de 1934,
implementada durante o governo provisório, que trouxe em seu conteúdo a materialidade de
leis que beneficiava os trabalhadores, pois instituiu direitos como:

“salário-mínimo, jornada de oito horas, proteção ao trabalho aos menores de


14 anos, férias anuais remuneradas, indenização ao trabalhador despedido e
assistência médica e sanitária ao trabalhador. Outros pontos importantes
foram a criação da representação profissional na Câmara dos Deputados [...],
a afirmação do princípio da pluralidade e da autonomia sindical [...] e a
criação da Justiça do Trabalho, à qual, entretanto, não se aplicariam as
disposições pertinentes ao Poder Judiciário”. (GALVÃO, 1981, p. 68-69)ii.

Diante desse rol de Direitos adquiridos a Classe trabalhadora pode vislumbrar um


pouco do que é uma participação nas políticas públicas voltadas para melhoria da situação que
até então se encontravam. É sabido que a constituição de 1934, durou pouco tempo devido ao
momento histórico em que foi criada, porém é verificável que houve aspirações por um
sistema jurídico que deu luz aos direitos sociais, sobretudo ao do trabalho (SILVA, 20009, p.
286).

2.2 Os Direitos Sociais

177 p. – (Série legislação; n. 278 E-book)

7
CARVALHO, Carlos Eduardo; PINHEIRO, Maurício Mota Saboya. FGTS: avaliação das propostas de reforma
e extinção. Texto para discussão, Rio de Janeiro, n. 671, set. 1999. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/TDs/td_ Acesso em: 05/05/2022.
8
Monteiro, João Antolino,1964- o discurso da economia solidária no contexto capitalista: desafios e
contradições,2016.https://repositorio.animaeducacao.com.br/bitstream/ANIMA/3465/1/Disserta%C3%A7%C3%
A3o%20%20Ci%C3%AAncias%20da%20linguagem%20Jo%C3%A3o%20Antolino%20Monteiro.Acessado em
06/05/2022.
6

Os Direitos sociais é um dos frutos gerados pela Revolução industrial, uma vez que,
com o advento da revolução, a massa trabalhadora foi sendo substituída gradualmente pelas
máquinas, e devido a isso ia gerando um desemprego em massa dos trabalhadores que
ocupavam esses postos de trabalho. Foi necessário a intervenção estatal para que essa massa,
que já não vivia em condições dignas, tivesse pelo menos condições de se alimentar e integrar
novamente o sistema, nesse interim o estado proporcionou um assistencialismo a essas
pessoas, que estava em condições desfavoráveis. A conquista Social de Direitos progrediu
durante o século XX, embora, inicialmente tenha sido desfavorável para o trabalhador a
Revolução industrial favorece em certos aspectos essas conquistas.
São Direitos fundamentais na formação de um Estado social de Direito, visando a
melhoria de condições dos cidadãos hipossuficientes que compõem o Estado, buscando a
igualdade social sendo fundamentados na nossa Carta magna9.

[...] “Os direitos sociais disciplinam situações subjetivas pessoais ou grupais


de caráter concreto, sendo que os direitos econômicos constituirão
pressupostos da existência dos direitos de sociais, pois sem uma política
econômica orientada para a intervenção e participação estatal na economia
não se comporão as premissas necessárias ao surgimento de um regime
democrático de conteúdo tutelar dos fracos e dos mais numerosos”iii.
(SILVA apud Bertramello, p. 183.)10iv

Constando como aparato fundamental, a CLT proporcionou as classes menos


favorecidas proteção social resguardadas pela nossa constituição federal que contribuiu e
melhorou de uma maneira significativa em relação aos direitos até então existentes no que diz
respeito a “questão social”.
No nosso ordenamento jurídico permeiam princípios que são essenciais e direciona a
sociedade ter uma democracia livre e com direitos iguais. De acordo com (COMPARATO
apud Dermarchi e Maieski,2010, p.77) “os direitos sociais se realizam pela execução de
políticas públicas, destinadas a garantir amparo e proteção social aos mais fracos e mais
pobres; ou seja, aqueles que não dispõem de recursos próprios para viver dignamente”11.

9 https://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170601131622.pdf, acessado em 20/04/2022.


10
http://uniesp.edu.br/sites/_biblioteca/revistas/20170601131622.pdf acessado em 06/05/2022.
11 Demarchi,Maieski. Indicadores sociais como instrumento de efetivação de direitos sociais, anais XIV
simpósio nacional de direito constitucional, pg.6.
7

São consagrados como princípios que norteiam do Estado Democrático de Direito,


conforme preceitua a Constituição federal no artigo 1°, no seu inciso III e IV “a Dignidade da
pessoa humana, os valores sociais do trabalho e da livre iniciativa”12.
Dessa maneira André Ramos Tavares, conceitua os Direitos sociais como Direitos:

“que exigem do Poder Público uma atuação positiva, uma forma atuante de
Estado na implementação da igualdade social dos hipossuficientes. São, por
esse exato motivo, conhecidos também como direitos a prestação, ou direitos
prestacionais” (Tavares apud Bertramello, 2012, p.837)13v.

A Constituição federal de 1988 traz em seu conteúdo de direitos adquiridos, os direitos


dos trabalhadores, conquista essa que se deu da década de 30 e perduram até os dias atuais. Os
artigos 6° e 7° da Constituição Federal, evidenciam esses direitos. Dentre eles estão presentes:
Emprego protegido, FGTS, salário-mínimo, piso salarial, irredutibilidade do salário, decimo
terceiro, férias e etc.14. Esses direitos presentes na constituição são considerados fundamentais
para a proteção e garantia de proteção aos trabalhadores, dessa maneira foram colocados na
nossa carta magna para garantia do seu cumprimento, que tem como parâmetro um estado de
bem-estar social, visando uma busca pela igualdade social. Para (Silva, 2015, p.183):

[...] “Os direitos sociais disciplinam situações subjetivas pessoais ou grupais


de caráter concreto, sendo que os direitos econômicos constituirão
pressupostos da existência dos direitos de sociais, pois sem uma política
econômica orientada para a intervenção e participação estatal na economia
não se comporão as premissas necessárias ao surgimento de um regime
democrático de conteúdo tutelar dos fracos e dos mais numerosos”. (SILVA,
p. 183.)vi

Dessa maneira nossa carta magna traz em sua essência desde a elaboração a proteção
e garantia desses direitos sociais, pelo quais a classe trabalhadora batalhou ao longo dos anos
para sua elaboração, direitos esses conquistados através de muito labor.

12 Demarchi,Maieski. Indicadores sociais como instrumento de efetivação de direitos sociais, anais XIV
simpósio nacional de direito constitucional, pg.7.Disponível em https://abdconst.com.br/anais6/74.%201485-
1506%20%20INDICADORES%20SOCIAIS%20COMO%20INSTRUMENTO%20DE%20EFETIVA%C3%87
%C3%83O%20DE%20DIREITOS%20FUNDAMENTAIS.pdf acessado em 16/05/2022.
13
https://rafaelbertramello.jusbrasil.com.br/artigos/121943093/os-direitos-sociais-conceito-finalidade-e-teorias.
Acessado em 07/05/2022.
14
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
8

A igualde de garantia dos direitos sociais presentes na nossa constituição abre


entendimento diante da essencialidade de sua constituição. Pois se tornou importante para a
construção do Estado, ou seja, diante dessa percepção a importância dos trabalhadores e as
garantias de seus direitos. Dessa maneira, a CF abrange todos os trabalhadores independente
da área de atuação segundo pontua Nascimento:

[...] A constituição é aplicável ao empregado e aos demais trabalhadores nela


expressamente indicados, e nos termos que o fez; ao rural, ao avulso, ao
doméstico e ao servidor público. Não mencionando outros trabalhadores,
como o eventual, o autônomo e o temporário, os direitos destes ficam
dependentes de alteração da lei ordinária, à qual se restringem.
(NASCIMENTO, 1989, p. 34.)15

Diante disso o Estado a se compromete a promover uma vida digna ao cidadão, como
garantia de direitos e dignidade. Só permitindo sua alteração mediante votação e aprovação
por parte da câmara dos deputados, que detêm a autoridade de legislar. Diante do processo de
redemocratização do país foi resolvido incluir esses direitos na Carta Magna, fruto de uma
evolução dos direitos conquistados desde 1943, com a inclusão e consolidação das leis
trabalhistas. Dessa maneira, a carta Magna de 1988 é o que regula e estabelece normas do
direito do trabalho no Brasil.

3. A Reforma trabalhista - Lei 13.467/2017

A reforma trabalhista ocorreu em 2017, durante o governo de Michel Temer, com o


pressuposto de atualizar a legislação trabalhista que de acordo com alguns entes
governamentais, estava arcaica, devido a atualização no modo de relação entre a classe
trabalhadora e os empresários. Novas formas de trabalho teriam surgido e devido a isso, a
legislação trabalhista precisava ser atualizada.

3.1 Alterações realizadas na Reforma trabalhista

A reforma trabalhista de 2017, alterou em seu bojo mais de 100 artigos presentes na
CLT, modificados em sua integralidade, a mudança vale tanto para contratos novos como
antigos e alterou princípios basilares da CLT, tais como: modalidade de contratação, férias,

15https://www.direitonet.com.br/artigos/exibir/2824/Consideracoes-sobre-os-direitos-sociais-no-

ordenamento-juridico acesso em 17/05/2022.


9

jornada de trabalho, plano de carreira, acordo coletivo, higiene e troca de uniforme, banco de
horas etc.
Um desmonte nos direitos adquiridos desde 1943. Embora a promulgação da CLT,
tenha sido durante o período ditatorial de Getúlio Vargas, sabe-se que antes disso existia
legislação no tocante ao direito dos trabalhadores, muito embora, esparsa e vaga. Somente no
período Vargas ela foi reunida e sistematizada e promulgada em 1° de maio de 1943.
Para diversos pensadores dentre eles (Delgado apud gorete ,2017, p.39)16 “O sentido
da Reforma Trabalhista Brasileira de 2017, está ligado ao antigo objetivo do Direito na
História como Instrumento de exclusão, segregação e sedimentação da desigualdade entre as
pessoas humanas e grupos sociais17.”. O projeto a princípio tinha como objetivo de acordo
com Rogerio Marinho:
“aprimorar as relações do trabalho no Brasil, por meio da valorização da
negociação coletiva entre trabalhadores e empregadores, atualizar os
mecanismos de combate à informalidade da mão-de-obra no país,
regulamentar o art. 11 da Constituição Federal, que assegura a eleição de
representante dos trabalhadores na empresa, para promover-lhes o
entendimento direto com os empregadores, e atualizar a Lei n.º 6.019, de
1974, que trata do trabalho temporário”. (MARINHO, 2017, p. 02).

Dessa maneira, o que se extrai da declaração do relator da proposta de lei que entrou
em vigor em 2017, o objetivo era somente alterar a lei n°6.01918, porém, foi mais ampla da
que se esperava do projeto original, foram apresentadas mais de 100 emendas para
modificação da Lei anterior.
E importante salientar que o pressuposto de atualizar a CLT, não condiz com a
realidade, pois ela já tinha passado por mais de “quinhentas alterações” desde a sua criação
(Arantes,2017, p.43). Existindo várias leis complementares que supria a CLT, inexistindo
comprovadamente sua caducidade.
O Brasil no período da elaboração e aprovação da Reforma passava por uma
instabilidade política e econômica, e devido a isso a classe empresarial viu nesse momento
uma ótima oportunidade para colocar em pauta esse projeto. O que se verificou foi uma
verdadeira mobilização através de lobby dos empresários. De acordo com a reportagem
publicada pelo El pais:

16
Disponível em: http://www.uece.br/eventos/seminariocetros/anais/trabalhos_completos/425-12758-15072018-
160133.pdf, acessado em 15/05/2022.
17 https://vlex.com.br/vid/sentido-da-reforma-trabalhista-701526433, acessado em 22/05/2022.
18
Dispõe sobre o trabalho temporário nas empresas, e terceirização.
10

“entre os principais interessados nessa reforma trabalhista estavam entidades


que representam bancos, indústrias e o setor de transportes. O jornal online
examinou as 850 emendas apresentadas por 82 deputados durante a
discussão do projeto na comissão especial. Dessas propostas, 292 (34,3%)
foram integralmente redigidas em computadores de representantes da
Confederação Nacional do Transporte (CNT), da Confederação Nacional das
Instituições Financeiras (CNF), da Confederação Nacional da Indústria
(CNI) e da Associação Nacional do Transporte de Cargas e Logística
(NTC&Logística). O relator, Rogério Marinho (PSDB-RN), segundo a
reportagem acatou 52,4% das emendas”.19

Verifica-se uma total ausência de representes da Classe trabalhadora. A reforma, feita


a toque de caixa, no qual os principais interessados não tiveram nenhuma participação na
elaboração do projeto, já que seu inteiro teor não atende as pautas dos trabalhadores, e sim,
dos empresários, é verificável essa afirmação ao analisar os dados da reportagem em voga
uma vez que, os representes na sua maioria são entidades de classe, ou seja, empresários, que
justamente buscava essas alterações e nenhuma representando a classe trabalhadora.
As alterações geraram retrocessos e violações, um exemplo de violação é a
dificuldade, que ao mesmo tempo se tornou um desafio ao trabalhador, buscar os seus
direitos, pois com a nova legislação o trabalhador fica obrigado a arcar com as custas
processuais caso sua empreitada não sucesso, violando expressamente o que contém no artigo
5°, inciso XXXV20, da constituição federal, pois o acesso à justiça é um direito fundamental.
Com a alteração, caso o trabalhador busque a justiça para alguma demanda trabalhista e essa
não tenha êxito, o mesmo arcara com o ônus do processo e suas custas processuais.
Dessa maneira, a Lei 13.467/2017 não resguarda a parte hipossuficiente do processo,
que é o trabalhador. De acordo com (Arantes apud Barreto,2017, p.45)21 “amplia de várias
maneiras as facilidades de defesa para o empregador e dificulta a produção de provas para o
trabalhador, demonstrando visível desequilíbrio em prol do capital e materializando o
deslocamento da proteção legal para a empresa”. Diante do exposto é possível:

… afirmar que a reforma trabalhista não é compatível com a agenda de


trabalho decente de que trata o protocolo assinado pelo Brasil com a
Organização Internacional do Trabalho, no ano de 2006. A reforma
trabalhista, assim como concebida e aprovada por influência do setor

19
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/04/26/politica/1493239710_815493.html, acessado em 15/05/2022.
20
A lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.
21
A reforma trabalhista e a subcidadania brasileira:/ Raul Barreto Filho: Teresa Olinda Caminha Bezerra,
orientadora, Niterói, 2018. 43 disponível em: https://1library.org/article/a-precariza%C3%A7%C3%A3o-do-
trabalho-reforma-trabalhista-lei.q2k982rq, acessado em 14/05/2022.
11

econômico e das forças do grande capital nacional, virá provocar a


precarização dos contratos e das condições de trabalho, aumentando
descontroladamente a jornada de trabalho, reduzindo intervalo intrajornada,
fracionando as férias e desrespeitando inclusive os patamares mínimos de
proteção à saúde e segurança do trabalhador (ARANTES apud Barreto,
2017, p. 44).

Assim mediante o exposto é verificável, que as alterações não encontram arcabouço


legal e jurídico para proteger e resguardar o trabalhador, violando vários princípios presentes
na nossa constituição, principalmente no tocante “ao tempo a disposição do empregador” um
dos itens também alterados na reforma trabalhista de 2017.
O processo político e econômico da elaboração e alteração das leis trabalhistas se
diferem e assemelham-se em diversos aspectos. O primeiro aspecto seria o político-
ideológico, uma vez que no período da época o Brasil também passava por um momento de
instabilidade política, devido a fatores externos que influenciaram de algumas formas a
mudança no modo de pensar e agir do Estado e de seus agentes, verificando que a classe
trabalhadora era um importante instrumento político que auxiliaria no desenvolvimento
econômico do Estado.
No período da reforma, o Brasil também passava por crises políticas e econômicas
devido a fatores externos como internos, porém nessa oportunidade a classe empresarial viu
que era um momento propício para pressionar os legisladores por mudanças na CLT,
utilizando argumentos que não se sustenta, mais encontrando no ambiente político um
momento propício para tais mudanças, pois o desemprego estava em alta, de acordo com o
Instituto brasileiro de geografia estatística-IBGE a taxa de desemprego no 3° trimestre de
2017,chegava aos 17 milhões de desempregados, e a reforma trabalhista viria para
desburocratizar o sistema até então presente, com a promessa de gerar logo no seu primeiro
ano 2 milhões de empregos diretos e 6 milhões nos 5 anos subsequentes de sua publicação.
Mas não ocorreu nada do prometido22, somente a retirada do garantismo legal presente na
CLT.
Porém, a precarização nas relações trabalhistas foi aumentada de sobremaneira, pois
a classe empresarial encontrou aparato jurídico e legal nos seus intentos, de desburocratizar o
sistema, tirando a proteção legal presente na CLT. O STF, guardião da nossa constituição,
através do seu Ministro Celso de Mello se posiciona no seguinte sentido:

22
https://economia.uol.com.br/empregos-e-carreiras/noticias/redacao/2021/10/07/reforma-trabalhista-michel-
temer-empregos-4-anos.htm,acessado em 12/05/2022.
12

O princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos


fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já
alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. - A
cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações 9
positivas do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito
à segurança pública, v.g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos
fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de
concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser
ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. (Doutrina). Em
consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos
prestacionais, assume o dever não só de torná-los efetivos, mas, também, se
obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los,
abstendo-se de frustrar – mediante supressão total ou parcial – os direitos
sociais já concretizados. (ARE 639.337 AGR SP – MIN. REL. CELSO DE
MELLO).

Sendo assim, diante da perspectiva social dos direitos dos trabalhadores que a
Reforma trabalhista alterou, encontram-se também princípios constitucionais que não
condizem com tais alterações, como princípio da proteção, princípio da proibição do
retrocesso social, e princípio da segurança jurídica, itens esses que ficam claros na fala do
ministro Celso de Mello.

4. Tempo a disposição do trabalhador (horas in itenere)

O tempo a disposição do empregador ou horas in itenere é “o tempo gasto no trajeto


da sua casa até seu local de trabalho e para o seu retorno, em condução fornecida pelo
empregador, em se tratando de local de difícil acesso ou não, servido por transporte público”,
situada na antiga redação do 2° do artigo 58 da CLT, foi um dos itens alterados na reforma
trabalhista (lei federal 13.467/2017).

4.1 Modificação do entendimento em relação as horas in intenere e sua


inconstitucionalidade.

A reforma trabalhista trouxe modificação expressa no tempo a disposição do


empregador, trazendo e colocando em voga o entendimento, acerca desse item. Pois de acordo
com o inciso 2° do artigo 58 da CLT, alterado pela Reforma:

O tempo despendido pelo empregado desde a sua residência até a efetiva


ocupação do posto de trabalho e para o seu retorno, caminhando ou por
13

qualquer meio de transporte, inclusive o fornecido pelo empregador, não


será computado na jornada de trabalho, por não ser tempo à disposição do
empregador.

Diante desse conceito, desprendido pelo legislador deve-se compreender de acordo


com (Urtiga.pg.48,2018) que “a jornada de trabalho não se reduz apenas, pela quantidade
tanto de força como de tempo laboral desprendido pelo trabalhador, ela deve ser analisada sob
diversos pontos de vista, dentre eles: tempo trabalhado, tempo a disposição do empregador, e
o tempo de deslocamento gasto até ocupar o seu posto de trabalho”.
Justamente por esse motivo a CLT, disciplinou em seu artigo 4° o tempo efetivo de
serviço de trabalho “considera-se como de serviço efetivo o período em que o empregado
esteja à disposição do empregador, aguardando ou executando ordens, salvo disposição
especial expressamente consignada”. O motivo jurídico em voga na discussão concentra-se
justamente no ponto em que, o empregado estando na condução a caminho do trabalho está ou
não a disposição do empregador. Uma vez que ele tem que cumprir regras de conduta
mediante punições que possam ocorrer por tais descumprimentos. E considera-se esse tempo
dependendo da especificidade desprendida parra tal entendimento.
Quando analisamos caso a caso, verificamos uma verdadeira desvantagem do
trabalhador porque ele está disponível desde o momento do caminho para o trabalho
independente do meio de condução utilizado., observamos a situação hipotética em que o
trabalhador reside em um local de difícil acesso e não tem disponibilidade de transporte
público regular, que trabalhe embarcado 14 por 14, porém antes de embarcar tenha que passar
por treinamento que se exige para tal especificidade de trabalho e seja obrigatório, passe dois
dias nesse treinamento, o tempo que passa antes de efetivamente exerce suas funções, ele fica
a disposição do empregador pois tem que obedecer e cumprir as regras impostas. O TST, já
julgou procedente casos desse tema, em que o entendimento foi favorável para o trabalhador:

Por maioria, I - dar provimento ao agravo de instrumento interposto pelo


Reclamante, em relação ao tema "PETROLEIROS. LEI 5.811/72.
PARTICIPAÇÃO NOS DIÁLOGOS DIÁRIOS DE SEGURANÇA,
NAS REUNIÕES DE SEGURANÇA E NOS TREINAMENTOS DE
INCÊNDIO. TEMPO A DISPOSIÇÃO. TRANSCENDÊNCIA
JURÍDICA RECONHECIDA", para, convertendo-o em recurso de revista,
determinar a reautuação do processo e a publicação da certidão de
julgamento para ciência e intimação das partes e dos interessados de que o
julgamento do recurso de revista se dará na sessão ordinária subsequente ao
término do prazo de cinco dias úteis contados da data da publicação da
respectiva certidão de julgamento (RITST, arts. 256 e 257 c/c art. 122); e II -
por maioria, conhecer do recurso de revista, por violação do art. 4º da CLT e,
no mérito, dar-lhe provimento para condenar as Reclamadas ao pagamento
de horas extras decorrentes da participação do empregado em diálogos
14

diários de segurança, nas reuniões de segurança e nos treinamentos de


incêndio, naquilo que exceder à jornada ordinária contratual, acrescidas de
reflexos nas parcelas postuladas vinculadas ao salário, com adicional
previsto em lei ou norma coletiva, conforme apurado em liquidação de
sentença, observada a prescrição quinquenal declarada na sentença (fl. 556).
Vencido o Exmo. Ministro Breno Medeiros. Invertido o ônus de
sucumbência. Valor provisório da condenação fixado em R$ 20.000,00, do
qual resultam custas processuais no importe de R$ 400,00, pelas
Reclamadas. (TST - ARR: 2325520105060006, Relator: Evandro
Pereira Valadão Lopes, Data de Julgamento: 11/05/2022, 7ª
Turma, Data de Publicação: 20/05/2022).

Quando o tribunal encontra omissão da lei em casos que é necessário aplicar, as


alterações da reforma, e casos específicos que a lei 13.467/2017 não abrange em seu
conteúdo.
Com a reforma, houve essa retirada das horas in itinere enquanto jornada de trabalho,
havendo a supressão do parágrafo 2°, do artigo 58 da CLT, desse modo interferiu diretamente
a sumula 9023, do TST, que tratava justamente da especificidade do tema, fica clara na parte
“em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de difícil acesso, ou não
servido por transporte público regular, é computável na jornada de trabalho”.
Embora, tenha tido o aval do congresso para a sua alteração, a inconstitucionalidade
da lei, choca-se com alguns princípios constitucionais, tido na nossa carta magna como
irrenunciáveis dentre eles o principio da proibição do retrocesso social, no qual temos como
jurisprudência nacional, a mencionada por Gilmar Mendes:

“A PROIBIÇÃO DO RETROCESSO SOCIAL COMO OBSTÁCULO


CONSTITUCIONAL À FRUSTRAÇÃO E AO INADIMPLEMENTO,
PELO PODER PÚBLICO, DE DIREITOS PRESTACIONAIS. – O
princípio da proibição do retrocesso impede, em tema de direitos
fundamentais de caráter social, que sejam desconstituídas as conquistas já
alcançadas pelo cidadão ou pela formação social em que ele vive. – A
cláusula que veda o retrocesso em matéria de direitos a prestações positivas
do Estado (como o direito à educação, o direito à saúde ou o direito à
segurança pública, v. g.) traduz, no processo de efetivação desses direitos
fundamentais individuais ou coletivos, obstáculo a que os níveis de
concretização de tais prerrogativas, uma vez atingidos, venham a ser
ulteriormente reduzidos ou suprimidos pelo Estado. Doutrina. Em
consequência desse princípio, o Estado, após haver reconhecido os direitos
prestacionais, assume o dever não só de torna-los efetivos, mas, também, se

23 Súmula nº 90, TST:


I - O tempo despendido pelo empregado, em condução fornecida pelo empregador, até o local de trabalho de
difícil acesso, ou não servido por transporte público regular, e para o seu retorno é computável na jornada de
trabalho.
15

obriga, sob pena de transgressão ao texto constitucional, a preservá-los,


abstendo-se de frustrar – mediante supressão total ou parcial – os direitos
sociais já concretizados” (2018, p. 1032)24.

Muita embora, a jurisprudência mencionada não trate dos direitos trabalhistas, pode
facilmente ser aplicado ao mesmo, pois trata de direitos que foram extintos e modificados, e
relacionam-se perfeitamente ao tema em voga, que é a modificação das horas in itinere, sendo
um grave retrocesso social, para (Urtiga apud Bulos,2014, p.538) “é inconstitucional qualquer
ato legislativo que anule, revogue ou aniquile liberdades públicas assentadas no seio da
sociedade.” Portanto, o autor segue a ótica de Mendes, de que a supressão de direitos
fundamentais ou sociais, após criados, seria um verdadeiro retrocesso”2526.
E o princípio da segurança jurídica, que ao tema a jurista Theresinha Inês Neles pires
27
, diz:
“O princípio da segurança, em uma acepção genérica, vem expressamente
previsto no artigo 5°, caput, da Constituição Federal, como uma garantia
fundamental associada ao princípio da igualdade. Ainda no capítulo relativo
aos direitos individuais e coletivos, a Carta Constitucional acolhe, dessa vez
indiretamente, o princípio da segurança, ao firmar, no inciso XXXVI do
artigo 5°, o respeito ao “direito adquirido”, ao “ato jurídico perfeito” e à
“coisa julgada”1. Já no capítulo da Constituição dedicado aos direitos
sociais, a segurança aparece na qualidade de um direito público prestacional,
ao lado de direitos básicos, tais como os direitos à saúde, à educação, ao
trabalho e à previdência social (artigos 6o, caput, e 7°, inciso XXII)”.28

Dessa maneira a segurança jurídica deve ser considerada como principio basilar nas
relações jurídicas em um Estado democrático de direito, trazendo segurança e paridade de
armas aqueles que o buscam. Porém quando relacionamos com a Lei n° 13.467/17,
verificamos que esta principio não é e não foi cumprido uma vez que traz incerteza, devido a
modificação e ausência do direito em relação as horas in itinere, causando insegurança aos
que usufruíam desse direito.

24
https://redir.stf.jus.br/paginadorpub/paginador.jsp?docTP=AC&docID=627428, acessado em 17/05/2022.
25 https://repositorio.ufpb.br/jspui/bitstream/123456789/13486/1/JPUP30112018.pdf, acessado em
22/05/2022.
26
BULOS, Uadi Lammêgo. Curso de direito constitucional - 8. ed. rev. e atual. de acordo com a Emenda
Constitucional n. 76/2013 -São Paulo: Saraiva, 2014, p. 538.
27
SEGER, Giovana Abreu da Sila; SEGER, Marcelo. Princípio da segurança jurídica. Revista Eletrônica
Direito e Política, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Ciência Jurídica da UNIVALI, Itajaí, v.8, n.3,
3º quadrimestre de 2022. Disponível em: <www.univali.br/direitoepolitica> - ISSN 1980-7791.
28 https://www12.senado.leg.br/ril/edicoes/51/201/ril_v51_n201_p129.pdf, acessado em 17/05/2022.
16

Mediante a explanação sobre esses dois princípios que constam na nossa carta magna,
é verificável de como foi prejudicial e inconstitucional essa supressão de direitos, uma vez
que, não traz proteção aos trabalhadores, e retira e viola direitos já adquiridos, indo de
encontra as jurisprudências adotas pelo STF, que é justamente contrária ao retrocesso social.
Diante do exposto, verificamos uma violação total ao direito dos trabalhadores com
supressão dos princípios norteadores dos direitos constitucionais e trabalhista, com a remoção
dos direitos adquiridos, é verificável, a inconstitucionalidade da Lei n° 13.467/2017- Reforma
trabalhista, principalmente a retirada das horas in itinere, que teve como objetivo principal
dessa pesquisa.

Considerações Finais

O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou uma análise de forma geral dos


direitos trabalhistas desde a sua implementação em 1943 até a reforma trabalhista de 2017,
que trouxe modificações profundas nos dispositivos legais presentes na CLT, e mudanças
polemicas em relação a direitos adquiridos.
Neste trabalho buscou tratar de um dos vários pontos críticos da reforma trabalhista,
que foi o § 2º, do artigo 58, da Consolidação das Leis do Trabalho. Que é relacionado as horas
in itinere, que suprimiu de alguns trabalhadores o direito de receber por essas horas que ficam
a disponibilidade do empregador.
No 1° capitulo, trouxemos uma perspectiva histórica dos direitos dos trabalhadores,
onde não existia qualquer direito até quando passou e viu-se a necessidade de regulamentar o
direitos a algumas profissões do período, muito embora, esparsa e vaga, até a revolução de 30,
em que o mundo estava passava por contextos históricos e ideológicos que influenciaram
diretamente o Brasil, em que o mundo após os acontecimentos, dentre eles a primeira guerra
mundial e a revolução industrial, no qual viu-se a importância dos trabalhadores para a
formação econômica de um Estado Forte, isso influenciou toda a visão mundial para os
trabalhadores e sua importância.
Já no 2° capitulo, concluo a analise dos dados e o que influenciou a mudança dessa
perspectiva na retirada ou como chamam, atualização da CL, devido a esta arcaica frente a
mudança das formas de trabalho presentes atualmente, aqui verificamos que os argumentos
utilizados pelos empregadores, não se sustenta frente aos dados disponibilizados, em que o
objetivo era realmente a retirada de direitos conquistados, uma vez que não era necessário
uma reforma dessa magnitude pois a mesma CLT, já havia passado por mais de quinhentas
17

alterações ao longo do tempo. E uma das partes interessadas não participou desses debates em
torno dessas alterações realizadas nos Direitos dos trabalhadores, verificou-se que a classe
empresarial por meio de lobbys e influencia política, alterou sem nenhuma contra partida para
os trabalhadores, a lei que justamente resguardava o direito deles.
No 3° capitulo, chegamos a conclusão da inconstitucionalidade do entendimento em
relação as horas in itinere, pois viola princípios legais estabelecidos na nossa carta magna.
Princípios esses essenciais para a construção de um Estado democrático de direitos, uma vez
que vislumbra e olha para os hipossuficientes e a parte mais fraca das relações jurídicas
ideológicas. E de constatamos de como essa modificação foi prejudicial para os trabalhadores.

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