Você está na página 1de 5

1

Fevereiro de 2023

O RETROCESSO NOS DIREITOS DO


TRABALHISTAS
A nova configuração do trabalho

Universidade Federal de Campina Grande – UFCG


Centro de Ciências e Tecnologia – CCT
Unidade Acadêmica de Engenharia Química – UAEQ
Disciplina: Sociologia Industrial
Aluna: Pietra Santana Matos
E-mail: pietra.matos@eq.ufcg.edu.br
2

Introdução:
Os direitos trabalhistas foram conquistados apenas depois de muita exploração por parte dos
contratantes, ao longo da história os direitos foram conquistados por meio de conflitos, greves
e morte de alguns trabalhadores. As reinvindicações pelos direitos começaram entre 1889 e
1914, com a intensa imigração que começou para o Brasil e assim a classe trabalhadora foi se
formando. Era comum trabalhos de 12 à 18 horas de duração e com intensa exploração da
mão de obra infantil e das classes mais baixas, baixa remuneração e condições ainda análogas
a escravidão. Em 1917 ocorreu uma greve geral dos trabalhadores em prol dos seus direitos,
mas não foram conquistados nem perto deste ano, sendo apenas implantado às 8 horas de
trabalho em 1934 e outros direitos apenas na CLT (Consolidação das Leis do Trabalho) em
1943 foram conquistados. Em 2017 uma reforma trabalhista veio de modo a retroceder todo o
avanço dos direitos trabalhistas conquistados durante 20 anos de muita luta.
O artigo abordará o que veio acontecer aos trabalhadores e como a Reforma trabalhista 2017
afeta a classe de maneira brutal, também relembrará como foi a luta para conquistar estes
direitos.
Descritores: Direitos trabalhistas; Reforma trabalhista de 2017; Desmonte dos direitos;
Flexibilização; Neoliberalismo.

Abstract:
Labor rights were won only after much exploitation by contractors, throughout history rights
were won through conflicts, strikes and the death of some workers. Claims for rights began
between 1889 and 1914, with the intense immigration that began in Brazil and thus the
working class was formed. It was common to work 12 to 18 hours long with intense
exploitation of child labor and lower classes, low pay and conditions still analogous to
slavery. In 1917 there was a general strike of workers in favor of their rights, but they were
not conquered even close to this year, being only implemented at 8 hours of work in 1934 and
other rights only in the CLT (Consolidation of Labor Laws) in 1943 were conquered . In 2017
a labor reform came in order to set back all the progress of labor rights conquered during 20
years of much struggle.
The article will address what happened to workers and how the Labor Reform brutally affects
the class, it will also remember how the struggle to conquer these rights was.
Keywords: Labor rights; Labor reform of 2017; Dismantling of rights; Flexibilization;
Neoliberalism.
3

As maiores greves trabalhistas que aconteceram no Brasil se deram por ter-se uns aumentos
salariais, melhores condições de trabalho, melhores condições de vida, leis previdenciárias e
direitos trabalhistas e sindicais. De 1890 -1919 a Europa estava rodeada de revoltas e com
as imigrações ao Brasil, a vontade daquele povo também chegou, unindo-se com a
insatisfação do povo brasileiro por condições melhores, assim trouxe a conscientização de
classe que instigou a revoltas como a do porto de Santos e do Rio de Janeiro em 1905, em
1907 nas ferrovias e a de 1917 onde o proletariado instaurou paralização geral dos
trabalhadores.
Em 1925 conquistou-se 15 dias de férias remuneradas, a década de 30 foi instituído um
número máximo de horas extras e que deveria ser remunerado, em 1934 a constituição de
Vargas também previu alguns direitos, mas a maioria foi conquistada apenas em 1943,
quando foi sancionada a CLT. A Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), regulamenta as
relações trabalhistas, tanto do trabalho urbano quanto do rural, de relações individuais ou
coletivas. Ela prevê: carteira de trabalho, falta justificada, salário mínimo, descanso semanal,
direito à greve, hora extra remunerada, licença a maternidade, férias remuneradas de 30 dias,
FGTS e aposentadoria, 13° salário, proibição do trabalho infantil e diversos outros direitos
que são aplicados aos dias de hoje. Sua importância na forma como se propõe a coibir
relações de trabalho abusivas que antes eram comuns: não há leis que imponham jornada,
condições de trabalho ou benefícios. Ou seja, é uma subjugação dos trabalhadores ao
garantir condições mínimas de trabalho
Foi em 2017 o ano que o governo (na época do ex-presidente Temer) aprovou o desmonte dos
direitos trabalhistas conquistados durante um século por meio da reforma trabalhista, contudo
o início das mudanças dos direitos deu-se antes. A contrarreforma - como cita o estudo de
base deste artigo- buscou ajustar-se ao capitalismo contemporâneo e legalizar práticas que já
existiam no mercado de trabalho, fazendo com que o trabalhador se submetesse a regulação
do mercado, ampliando a liberdade do empregador e minando o trabalhador. Que passou a
tratar o proletário e a sua força de trabalho como um produto vendível e não buscar adequar-
se a ela, trouxe uma flexibilização que valoriza o capital e não a força de trabalho
escanteando-a por completo. O que foi implementado na reforma já estava previsto em um
documento de 2015 do PMDB chamado “Uma ponte para o futuro”, tendo assim a tentativa
do partido pôr suas decisões no governo vigente (ex-presidente Dilma).
A análise das medidas da relação entre capital e trabalho tem como base duas regulações: a
regulação pública e a regulação privada. A regulação pública é o processo que define as
regras com base na ação dos trabalhadores por meio de negociação coletiva ou
regulamentação estatal, isso se traduz em restrições sobre como o capital usa o trabalho. A
análise deve ser baseada não na função econômica, mas na natureza histórica de
salvaguardar a dignidade dos trabalhadores em relação à sua força de trabalho. A relação
entre o capital e o trabalho é desbalanceada, isto torna necessária a presença de um sindicato
para defender o elo frágil da relação, sendo o trabalhador. A regulação privada é a definição
de regras por meio do escopo do mercado ou do poder dos empregadores. Estas medidas são,
assim, analisadas ao seu contributo para a e ampliar da proteção social e redistribuição da
riqueza gerada, ou para a ampliação dos graus de liberdade das empresas na determinação das
condições de contratação, utilização e remuneração do trabalho.
4

Quando o Brasil optou por se inserir no processo de globalização financeira, o neoliberalismo


ganhou expressão nos governos Collor e, especialmente, FHC a agenda de flexibilização das
relações de trabalho. Os argumentos eram: Que é necessário flexibilizar para enfrentar o
desemprego e informalidade e que era necessário ajustar o regulamento do trabalho as novas
tecnologias. Apesar da conquista e avanço o assalariamento, ainda existia a diferença salarial
entre gêneros que possuíam o mesmo cargo (que perdura até hoje) e o mercado de trabalho
continuou com alta informalidade no Brasil, alta rotatividade em vagas (demissões e
contratações), flexibilização e desrespeito a legislação do trabalho com condições precárias e
principalmente foi liberado a terceirização. Ainda no governo de FHC sindicatos não
poderiam mais influenciar nas definições de relação do trabalho, deixando a definição de
regras para os trabalhadores mais qualificados privilegiando apenas alguns, também os
poderes estatais foram reduzidos, aumentando assim o controle das empresas no mercado e
consequentemente nos trabalhadores.
O neoliberalismo na época implementou uma nova forma de raciocínio no trabalho que é
deixando o trabalhador inseguro e vulnerável para a maior sujeição do indivíduo, na lógica da
concorrência permanente, também foi implementado horários diferentes para chegar ao
trabalho, privilegiando apenas os “chefes”. Isto faz com que o trabalhador crie um
pensamento que se perdura até os tempos de hoje de que há de se diminuir para encaixar-se e
adaptar-se a uma empresa e sua lógica.
De 2003 a 2013 (governo PT) ainda aconteceram evoluções na luta trabalhista, como a
implementação de uma lei chamada “Lei do reconhecimento das Centrais Sindicais” que
traziam as seguintes bases: Reconhecer entidades privadas que sejam compostas por
organizações sindicais, coordenar a representação dos trabalhadores filiados ao sindicato e a
participação dos sindicatos em diálogos sociais com a presença tripartite com interesse geral
dos trabalhadores. Também houve a conquista da valorização do salário mínimo que aumenta
conforme a inflação e a regulamentação do trabalho doméstico. Houve maior presença de
órgãos públicos que desestimulou a fraude e freio a flexibilização, por isso foram atacadas ao
tramitarem. Porém foram implementadas 21 novas medidas a favor dos empresários como: a
reforma da previdência no setor público de 2003, as restrições do seguro desemprego e do
abono salarial, a lei das falências
Entre 2013 e 2014 houve um exponencial crescimento de autônomos e terceirização e com
eles a “pejotização” que trazia a contratação disfarçada onde empresas contratavam
funcionários com PJ ou MEI para que não seja necessário o pagamento das obrigações legais
de um trabalhador. E a implementação de trabalho por metas e participação de lucro.
A época de 2015 a 2017 foi marcada pela crise política de um impeachment que deixou os
direitos trabalhistas de lado e a flexibilização eclodiu. Onde o trabalho é mais importante que
o bem-estar social e pessoal do trabalhador que se adapte aos horários e formas de trabalho
(como turnos de madrugada em industrias que funcionam 24 horas, empresas de horário
flexível e home office).
De 2017 até os dias atuais políticos valorizam mais o apoio do mercado que o apoio do povo,
apoiando o desmonte dos direitos como um chamariz de empresas do exterior que procuram
5

locais com a mão de obra mais barata, trazendo precariedade ao trabalhador, fortalecendo o
capitalismo contemporâneo. O que diminui os custos de uma empresa em relação a força de
trabalho é a diminuição dos direitos trabalhistas.
Com a reforma trabalhista de 2017 que deturpou os direitos conseguidos com tanta luta dos
trabalhadores com liberação de coisas como: contratos temporários e contratos intermitentes
que fazem o trabalhador trabalhar tanto quanto um contrato padrão por poucas horas a menos
e quase nenhum direito (270 dias por ano e 32 horas semanais, podendo inclusive ter hora
extra). Com relação a demissões não se é mais necessário negociar com sindicatos fazendo
com a maioria das vezes o contratado saia prejudicado e até sem direitos. Uma mãe
trabalhadora perde o direito das pausas para amamentação podendo ser negociável com o
empregador, um empregado pode ter suas férias parceladas em três vezes, também se perdeu
o direito do tempo de deslocamento ao emprego em locais de difícil acesso e sem transporte
público ser considerado na sua jornada, abriu-se a possibilidade de negociar o tempo de
intervalo para menos de 1 hora e trabalhadores levam trabalho para casa e não são pagos por
hora extra. A questão da remuneração desigual estabelecida na reforma contribui para a
desigualdade da distribuição do capital e do trabalho, trazendo uma competição contínua entre
os proletariados, podendo haver diminuição da remuneração por bônus como: vale transporte,
vale alimentação, plano de saúde e outros.
Essa e tantas outras coisas fazem com que o trabalho seja apenas para sobrevivência, seja
pesado e sem qualidade de vida. O trabalho excessivo desequilibra o mental do trabalhador,
sua qualidade de vida e seu social, tirando o interesse em outras coisas da vida que faz isto ser
um caso de saúde pública, podendo acarretar em problemas familiares, depressão, ansiedade,
síndrome de Burnout. Até 2022 - durante a pandemia que causou impactos na saúde mental
das pessoas em larga escala - a síndrome de Burnout não era de responsabilidade das
empresas.
Estas medidas tomadas na reforma valorizam a classe alta desvalorizando as classes baixas,
trazendo nas diferenças de remuneração também a falta de solidariedade entre os
trabalhadores causando um problema de maior pressão sobre eles forçando-os a aceitarem
uma precariedade. A reforma de 2017 é o maior retrocesso na luta dos direitos trabalhistas.

Referências
Krein, J. D. (2018). O desmonte dos direitos, as novas configurações do trabalho e o
esvaziamento da ação coletiva: consequências da reforma trabalhista. Tempo Social, 30(1),
77-104. https://doi.org/10.11606/0103-2070.ts.2018.138082
LIMA, Carla. CLT: Entenda mais sobre as leis trabalhistas. In: LIMA, Carla. CLT: Entenda mais
sobre as leis trabalhistas. Politize: Carla, 16 mar. 2017. Disponível em:
https://www.politize.com.br/direitos-trabalhistas-historia/. Acesso em: 4 fev. 2023.
TUROLLA, Rodolfo. DIREITOS HUMANOS: HISTÓRIA. In: TUROLLA, Rodolfo. Direitos
trabalhistas: um resumo da história. [S. l.], 3 mar. 2017. Disponível em:
https://www.politize.com.br/direitos-trabalhistas-historia/. Acesso em: 4 fev. 2023.

Você também pode gostar