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TRABALHADORES,

SINDICATOS E POLÍTICA
NO BRASIL: DO GOLPE À
REDEMOCRATIZAÇÃO
(1964-1985) MARCO
AURÉLIO SANTANA
■ Contudo, se é simplista identificar a asfixia absoluta do movimento sindical sob o
regime militar, seria assemelhado simplismo considerar que as possibilidades criadas
naquele contexto são absolutamente novas, sem qualquer traço de continuidade com
situações, práticas e orientações pretéritas. Parece mais interessante e frutífero perceber
esse processo nos termos da tensão entre rupturas e continuidades. O que determinado
período, um repertório e um ciclo de ação coletiva deixam aos que os sucedem, como
base de onde partirão, sem que seja apenas uma âncora que os fixa, mas também uma
plataforma de onde podem se lançar em termos de inovações. A ideia de experiência,
presente em Thompson (1978 e 1981), pode ser de grande valia para entendermos como
processos finos podem atravessar períodos, tecer fios de prática, de experiências vividas
e percebidas e de formação de identidades de classe. (Pág. 281-282)
■ O avanço da aliança comunista-trabalhista no interior da parcela mais atuante do
sindicalismo serviu-lhe de cabeça de ponte para uma entrada vigorosa no seio da
estrutura sindical, dando-lhe nova direção e orientação. Para que se tenha uma ideia, na
chegada do ano de 1964, a aliança já hegemonizava quatro das seis confederações
oficiais então existentes: a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Indústria
(CNTI); a Confederação Nacional dos Trabalhadores em Estabelecimentos de Crédito
(Contec); a Confederação Nacional dos Trabalhadores Marítimos, Fluviais e
Aeronáuticos (CNTMFA); e a recém-criada Confederação Nacional dos Trabalhadores
na Agricultura (Contag). (Pág. 283).
■ A virada da década de 1950 para a década de 1960 marcou um período bastante rico
para a experiência democrática. Devido a diversas crises políticas que ocorreram nesses
anos, o sindicalismo nacional posicionou-se ao lado da democracia e da legalidade. Sua
participação intensificou-se com a posse do vice-presidente João Goulart, após a
renúncia de Jânio Quadros. Com viés reformista bem acentuado, propugnando as
Reformas de Base, Goulart fez uso do movimento dos trabalhadores para garantir
muitos de seus intentos. Os trabalhadores, em contrapartida, se utilizaram dos espaços
abertos por Goulart para avançar em suas conquistas. (Pág. 284)
Reforma agrária, na lei ou na marra!

■ Sob essa ampla denominação de "reformas de base" estava reunido um


conjunto de iniciativas: as reformas bancária, fiscal, urbana, administrativa,
agrária e universitária. Sustentava-se ainda a necessidade de estender o direito
de voto aos analfabetos e às patentes subalternas das forças armadas, como
marinheiros e os sargentos, e defendia-se medidas nacionalistas prevendo
uma intervenção mais ampla do Estado na vida econômica e um maior controle
dos investimentos estrangeiros no país, mediante a regulamentação das
remessas de lucros para o exterior (Disponível em:
As reformas de base | CPDOC (fgv.br))
A ditadura e o mundo do trabalho

■ O regime militar, além de trabalhar nesse ataque direto às entidades, castrando-as de forma
imediata, também vai buscar atacar a longo prazo, atuando sobre a legislação (Almeida, 1975).
O governo passa, através de uma série de medidas, a reforçar o caráter de controle sobre o
movimento sindical, já presente previamente na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT).
Assim, se estabelecem regras estritas para a ocupação do espaço sindical, com candidatos
sujeitos à avaliação pelo Ministério do Trabalho e pela polícia política, e restringe-se o uso e o
acesso aos recursos dos institutos de previdência, agora centralizados no Instituto Nacional da
Previdência Social (INPS), cuja direção não se faria mais parcialmente sob o controle dos
trabalhadores, como nos antigos institutos de pensão, e sim com a indicação direta pelo
governo. No que diz respeito às mobilizações, apesar de uma suposta regulamentação e
garantia do direito de greve, o que se deu de fato foi a proibição do que seriam greves políticas
e de solidariedade, quase que limitando a possibilidade de greves à cobrança de salários
atrasados. (Pág. 286-287)
■ O Estado passa a alterar sua posição, no tocante tanto às questões trabalhistas como às
questões sindicais. Ainda que também se pautando pelo lastro da CLT, passava-se agora
a dar realce aos seus ditames repressivos e de controle. Por não se propor a manter
relações próximas aos sindicatos e relegando esses ao papel de controle sobre os
trabalhadores, o Estado corta o canal de acesso, em termos políticos, que os
sindicatos vinham tendo no período anterior e reforça a lógica assistencial
naquelas entidades. (Pág. 287) Grifos nossos.
A ditadura e o novo desenho da esquerda
brasileira
■ Os comunistas, em sua luta contra os setores mais conservadores, vão denunciar as
pressões e as tentativas de aliciamento que os dirigentes sindicais “mais combativos e
honestos” vinham sofrendo. Segundo eles, no plano da pressão atuavam o Departamento
de Ordem Política e Social (Dops) e o Serviço Nacional de Informações (SNI). A ação
desses órgãos vinha no sentido de coagir com ameaças as atividades sindicais (Frederico,
1987, p. 80). As tentativas de aliciamento eram diversas. As entidades sindicais
internacionais ligadas ao sindicalismo americano instalaram vários departamentos no
Brasil, no período pós-golpe. Uma dessas entidades, a Confederação Internacional de
Operários e Sindicatos Livres (CIOSL), por exemplo, passa a ofertar benesses, tais como
“diárias, passagens e outras vantagens aos dirigentes sindicais que desejarem ir aos
Estados Unidos, ao México e a outros países onde lhes serão ministrados cursos cujas
aulas estão impregnadas do anticomunismo” (Frederico, 1987, p. 81). (Pág. 290)
■ Na visão dos comunistas, essas ações tinham como objetivo esvaziar as entidades
sindicais, enfraquecê-las e transformá-las em simples órgãos de caráter assistencial. De
órgão de unidade e de luta dos trabalhadores por seus direitos e reivindicações, a
ditadura desejaria transformar as entidades sindicais dos trabalhadores em
agências de “paz social”. Tais características, estabelecidas pelo regime militar, serão
importantes na conformação das identidades que o movimento sindical e suas
tendências buscarão constituir no período. Outro elemento importante na constituição
dessa identidade seriam as orientações seguidas pelos grupos de esquerda que, embora
por caminhos diferentes, tentaram estabelecer relações com o movimento dos
trabalhadores. (Pág. 290) Grifos Nossos
■ A divergência de concepções nas lutas desenvolvidas no pós-64 ficou estampada nos
encaminhamentos das movimentações contra o arrocho salarial e contra a ditadura. O
movimento operário e sindical na época travou uma árdua luta contra essa política.
Muitas vezes, esse movimento, que explodiu isoladamente em fábricas ou em setores,
não conseguiu evitar a repressão militar nem alterar em muito o quadro vigente. Em
termos gerais, os encontros intersindicais propunham a mudança total da lei do arrocho,
encaminhando abaixo assinados como forma de luta. (Pág. 292)
Confrontando o arrocho salarial da
ditadura
■ A adesão de outros líderes sindicais à ideia do MIA (Movimento Intersindical
antiarrocho) se deveu às supostas indicativas dadas pelo coronel Jarbas Passarinho –
então ministro do Trabalho do recém-empossado governo Costa e Silva (1967-1969),
que substituíra Castelo Branco na Presidência –, de que se opunha às leis de compressão
salarial. Passarinho propunha, em termos sindicais, o que ele chamava de “renovação
sindical”. Com isso, vários setores mais conservadores também puderam se integrar ao
MIA, supondo que haveria tolerância por parte do Estado (Erickson, 1979). Diante de
uma conjuntura tendente à radicalização, em que seria difícil prever controles sobre os
movimentos, como já vinha acontecendo, e sem querer pôr em risco seus postos na
estrutura sindical, os “pelegos” trabalharam para que as ações do MIA não tomassem
vulto. (Pág. 292)
A greve em Contagem, 1968.
■ No dia 16 de abril, em um contexto de muitas demissões, falências de empresas e atrasos no
pagamento dos salários, os operários da siderúrgica Belgo Mineira, situada em Contagem,
Minas Gerais, paralisaram suas atividades e concentraram-se na sede de seu sindicato. A ação
grevista reivindicava um reajuste salarial acima do teto de 17% proposto pelo governo. Pode-se
perceber claramente o trabalho “clandestino” dos grupos de esquerda nesse contexto,
principalmente da Ação Popular (AP), da Corrente Revolucionária e do Comando de
Libertação Nacional (Colina). A chapa identificada com esses setores ganhou as eleições
sindicais em meados de 1967, mas, alguns nomes – entre eles o cabeça de chapa Enio Seabra
(presidente da entidade cassado em 1964) – foram vetados pelo Ministério do Trabalho. Ainda
assim, as organizações citadas continuaram influenciando as atividades do sindicato e
começaram a desenvolver intenso trabalho de agitação nas fábricas. Sempre que puderam,
utilizaram a estrutura do órgão nessa tarefa, de maneira pouco aparente, camuflando
deliberadamente a participação do sindicato nas ações. (Pág. 294)
■ A proposta das comissões se espalhou por várias fábricas, entre elas a Belgo Mineira, onde a greve foi
deflagrada. 9 Nos primeiros dois dias, os operários ocuparam a empresa. Ainda que preparados para
resistir à intervenção militar, diante da possibilidade de que de fato ocorresse, eles se retiraram da
fábrica. Após três dias começaram as adesões, como a dos trabalhadores da Mannesmann, da Belgo
Mineira de João Monlevade e da Sociedade Brasileira de Eletrificação (SBE). Com isso, o movimento
inicial de 1200 operários já contava com mais de 15 mil trabalhadores. O ministro Passarinho, após
pronunciamento contra a “agitação” na greve, se deslocou para a cidade em busca da resolução do
problema, chegando a falar com grevistas na assembleia. Sua proposta garantia um abono salarial de
10% via um decreto de emergência, que, apesar das discordâncias, possibilitava o fim da greve (Ver
Weffort, 1972; Erickson, 1979; Gorender, 1987). Na verdade, após a resistência de alguns setores na
aceitação do abono, e já em um tom de guerra, uma demonstração de força da polícia foi feita na
cidade, proibindo as reuniões sindicais e efetuando prisões, criando um clima pesado de repressão.
Esse tipo de intervenção, conjugado à “proposta de conciliação” do ministro e a pressão da patronal
sobre os trabalhadores, fez refluir o movimento grevista. (Pág. 295)
A GREVE
DE
OSASCO,
1968.
■ Em termos gerais, a direção do sindicato busca se articular com as lutas mais amplas do movimento
operário e sindical brasileiro. É a partir dessa perspectiva que o sindicato de Osasco passa a integrar
o MIA. A participação do sindicato sempre se deu de forma crítica e permeada por embates. A tensão
entre Osasco e o MIA ficou patente em várias situações. A principal delas se deu nas comemorações
do 1º de Maio de 1968 na Praça da Sé, em São Paulo. A posição majoritária do MIA era fazer um
evento com a participação de figuras públicas e autoridades, convidando, entre outros, o governador
de São Paulo, Abreu Sodré. Para o grupo de Osasco, deveriam tomar parte apenas trabalhadores,
para que não se descaracterizasse a solenidade e não se identificasse as lideranças com o governo.
Como a posição de Osasco não foi aceita, uma articulação teve início no sentido de “tomar de
assalto” o evento. E foi o que aconteceu. O ato oficializante, com boa afluência de trabalhadores, foi
“tomado” por grupos de manifestantes que colocaram o governador do estado para fora, sob uma
chuva de paus e pedras, e um incêndio no palanque. Dali, saíram em passeata até a Praça da
República, onde um comício foi realizado. (Pág. 298)
■ No segundo dia, apesar de toda a ocupação policial na cidade, outras fábricas tentaram
parar, o que, diante da repressão, tornara-se bastante difícil. Nessa noite, o sindicato
sofreu a ação da polícia, que desocupou o prédio para que o interventor pudesse assumir
seu papel, o que havia sido impedido pelos operários que ocupavam o sindicato. As
lideranças que ainda não estavam detidas foram caçadas pela polícia. A partir do quarto
dia, o movimento já perdera o controle, e, já sem lideranças, se arrastava. As prisões se
estendem pelas igrejas, pelos bairros etc. Já no sexto dia, as fábricas de Osasco
funcionavam normalmente. (Pág. 299)
Os trabalhadores e os anos de chumbo

■ Ao fim de 1968, o endurecimento do regime estava lançado, e se consolidou com a


decretação, em dezembro, do Ato Institucional nº 5. O “milagre econômico” ia
deslanchando, os grupos de esquerda, com raras exceções, se envolviam cada vez mais
nas ações armadas e o regime replicava com mão de ferro. Para o movimento operário e
sindical, começa mais um momento de espera e ações subterrâneas. A situação se
agravaria com a chegada do general Emílio Médici (1969- 1975) à Presidência. [...] No
cenário sindical, a ditadura utilizou de todos os mecanismos para barrar os avanços,
ainda que tênues, de qualquer posição mais contestadora. As tentativas de
prosseguimento da luta sindical sempre esbarravam nos limites estreitos da ditadura
militar. Até os eventos de cunho oficioso, organizados por lideranças pouco
“combativas”, podiam ser palco das ações e violências policiais. Assim, os militantes
sindicais trabalhavam em um território extremamente minado. (Pág. 300)
Um movimento em alta e uma ditadura
em baixa
■ O movimento operário e sindical brasileiro experimentou, no fim da década de 1970,
um momento marcante para sua história. Submergido após o duro impacto promovido
pelo golpe militar de 1964, que lhe havia deixado pouco ou quase nenhum espaço de
manobra, senão aquele do silencioso trabalho no interior das empresas e de pontuais
tentativas mais visíveis de contestação, o sindicalismo de corte progressista emergia,
cobrando a ampliação dos espaços para a representação dos interesses da classe
trabalhadora. No cenário político mais amplo, a emergência do movimento dos
trabalhadores acabou estremecendo os arranjos políticos da transição para o regime
democrático, que eram pensados sem a sua participação. (Pá. 301)
DISPONÍV
EL EM:
"É para abrir mesmo. E que
m quiser que não abra, eu pr
endo. Arrebento. Não tenha
dúvidas" - João Baptista de
Oliveira Figueiredo, general
e futuro presidente da Repúb
lica, (globo.com)
■ Quando entraram em greve em 1978, abrindo caminho para a paralisação que se seguiu
em outras categorias, os metalúrgicos do ABC paulista rompiam com os limites estreitos
estabelecidos pela Lei Antigreve, com o arrocho salarial e o silêncio geral ao qual havia
sido forçada a classe trabalhadora, pelo menos desde as greves de Contagem e Osasco,
em 1968. 12 Essa iniciativa gerou fissuras em alguns dos pilares de sustentação política
e econômica da ditadura militar. (Pág. 302)
■ Um dos fatores importantes para a deflagração do movimento foi, sem sombra de
dúvida, a denúncia de que o regime militar, em 1973 e 1974, adulterara os índices de
inflação, mascarando o verdadeiro patamar do custo de vida. 13 Isto levou a que os
trabalhadores fossem punidos em 34,1%. O Sindicato dos Metalúrgicos de São
Bernardo do Campo, sob a presidência de Luiz Inácio da Silva, o Lula, começou uma
campanha pela reposição salarial em busca daquilo que lhes havia sido, de forma
espúria, retirado. Ainda que experimentasse o pouco interesse dos patrões e do governo
no sentido da reposição, essa campanha pela reposição fertilizou o terreno para as
mobilizações futuras. (Págs. 302-303)
■ A riqueza desse ressurgimento dos trabalhadores no cenário político nacional pode ser
constatada, entre outras coisas, na criação de um partido político, o Partido dos
Trabalhadores (PT), em 1980; e na criação, pouco tempo depois, de organismos
intersindicais de cúpula. O retorno dos trabalhadores foi marcado, também, pelo
aparecimento do que se convencionou chamar de “novo sindicalismo”, supostamente
caracterizado por práticas que indicariam sua novidade na recente história sindical
brasileira. Dessa forma, os trabalhadores foram escrevendo seu nome, de forma
indelével, na luta pelo retorno do regime democrático em nosso país. (Pág. 305)
■ Deve-se assinalar, contudo, que, apesar de seu sentido enfraquecimento, a ditadura
militar ainda tentou conter a emergência do movimento dos trabalhadores da forma que
pôde. Por exemplo, dentro de pouco tempo o governo do general João Figueiredo
(1979- 1985) promoveria a intervenção em sindicatos (como o dos metalúrgicos do
ABC paulista e dos bancários de Porto Alegre) e a prisão de militantes e direções
sindicais, alguns inclusive processados pela Lei de Segurança Nacional (LSN). (Pág.
305)
Eles não usam Black-tie (Leon Hirszman,
1981)
■ Outro elemento de peso na separação dos blocos, que nem sempre é indicado em sua devida
relevância, diz respeito à divergência acerca da política mais geral em termos do combate à ditadura e
quanto aos processos de encaminhamento da transição para a democracia. O bloco “combativo”, em
grande parte via PT, defendia um combate direto ao regime a partir do centro sindical e da organização
e demandas dos trabalhadores. Já a Unidade Sindical, se tomarmos como exemplo as posições do PCB,
que de alguma maneira espelhavam outras propostas, visava evitar enfrentamentos diretos com o
regime, conquistar o apoio de amplos setores da sociedade, trabalhando firmemente para enfraquecer o
regime militar, e garantir a continuidade do processo de transição, ainda que isso pudesse significar
uma certa redução do ímpeto dos movimentos reivindicativos dos trabalhadores. Assim, o bloco
combativo considerava a estratégia da Unidade Sindical como negocista, conciliadora e reformista. A
Unidade Sindical, por sua vez, avaliava a estratégia do outro setor como esquerdista e
desestabilizadora. Em termos gerais, seria dividido entre tais vertentes que o movimento sindical
brasileiro entraria na década de 1980, um período extremamente rico de sua história político
organizacional. (Pág. 307)
Os anos 1980: transição democrática,
reorganização e mobilização
■ Em seu conjunto, o sindicalismo brasileiro viverá, ao longo dos anos que se iniciam, o
que pode ser considerado um de seus momentos de ouro. 25 Qualquer balanço de sua
trajetória naqueles anos deve apontar para duas de suas características: a rápida
consolidação do movimento que ressurgia no plano organizacional, e a pujança
mobilizatória aferida por ele. Vejamos algumas indicações a respeito de ambos os
aspectos. (Pág. 308)
■ Deve-se dizer, entretanto, que isso não reduziu o ímpeto mobilizatório dos trabalhadores
em seu conjunto. Em grande medida, embora não exclusivamente, coube à CUT (e aos
sindicatos a ela filiados) ser canal e estímulo para as inúmeras mobilizações e greves
que marcaram aqueles anos, inclusive algumas greves gerais de caráter nacional. Nos
marcos de suas reivindicações podemos incluir desde a quase onipresente questão
salarial, passando pela resistência às práticas de relações de trabalho autoritárias, indo
até a luta contra os sucessivos pacotes econômicos governamentais, os quais, em busca
de correções nos rumos da economia – então marcada pelas altas taxas de inflação –,
acertavam duros golpes nas condições de vida dos trabalhadores. (Pág. 311)
■ Nesses termos, o movimento sindical brasileiro aos poucos se consolidou como
elemento importante não só na luta pelos direitos dos trabalhadores, mas também em
sua inserção nas definições do processo de transição democrática então em curso, em
uma trajetória que não se fez sem dilemas e percalços (Vianna, 1983 e 1986 e Almeida,
1988). Seria em plena ascensão, tanto em termos de consolidação organizativa como de
sua inserção no cenário político nacional, que o sindicalismo brasileiro chegaria aos
anos 1990 supostamente pronto a responder aos possíveis desafios que lhe fossem
colocados. (Pág. 318)
Considerações finais

■ O capitalismo se redefine no país, produzindo mudanças substantivas na produção e no


mundo do trabalho, o que traria óbvias alterações na composição das classes
trabalhadoras e nos seus destinos, visando atingir as demandas de mão de obra do novo
momento da economia mundial. A chamada “modernização conservadora” – que, como
projeto, rivalizava com a proposta das Reformas de Base –, era agora a norteadora dos
caminhos. Define-se por uma dieta liberal, excludente, que, mesmo no que seria o
“milagre econômico”, produziu forte concentração de renda e grande desigualdade
social, aumentando a inquietação, a mobilização e o confronto político e social. Ainda
que sob um preço duríssimo pago, a sociedade brasileira saiu bem diferente desse túnel
do que era quando entrou. (Pág. 319)

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