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A INVENÇÃO DO TRABALHISMO

Angela de Castro Gomes

1ª. Edição 1988.


Objetivo central
• Objetivo: entender a relação entre o governo
Vargas, em especial o Ministério do Trabalho, com
a classe trabalhadora.
• Acompanhar a trajetória da incorporação da
classe trabalhadora ao cenário político no Brasil.
• Entender a extensão da participação política aos
setores populares.
• Investigar como a classe trabalhadora havia se
constituído em ator central na luta política
brasileira.
Fontes e metodologia
• Depoimentos CPDOC;
• Memórias
• Jornais: Voz do Povo, Ação Direta, A Plebe,A
Pátria, O Paiz, Diário Carioca
• Anais da Câmara dos Deputados;
• Boletins do Ministério do Trabalho;
• Leituras da história, da ciência política e também
da antropologia – incursão interdisciplinar.
• Busca de atores coletivos e individuais
Trabalhadores da Companhia Nacional de Tecidos de Juta – São Paulo 1931
Fábrica de cimento Portland
Fonte
• Carta enviada por Getúlio Vargas a João Neves,
juntamente com exemplar do jornal “A Classe
Operária” (Porto Alegre, 31/8/1929).
"Em aditamento à carta de ontem, remeto-te junto um
exemplar do órgão dos trabalhadores brasileiros "A
Classe Operária", que aí se publica, a fim de
verificares o modo como é focado, em suas colunas, o
problema da sucessão presidencial da República.
Parece-me indispensável fazer algo para atrair esse
jornal e, por intermédio dele, o proletariado. Examina
o caso, com a tua habitual perspicácia".
Concorrente?
• Para a autora, o Ministério transforma e
concorre com as formas de organização
existentes. Quais eram as outras formas?
• O primeiro ministro do Trabalho foi Lindolfo
Collor.
• Partia-se do pressuposto de que apenas com a
intervenção direta do poder público seria
possível amortecer os conflitos entre capital e
trabalho presentes no mundo moderno.
Lei de Sindicalização
• Lei de Sindicalização: março de 1931, Decreto
n° 19.770.
• A nova lei tinha como objetivo geral fazer com
que as organizações sindicais de empresários e
trabalhadores se tornassem órgãos de
colaboração do Estado. A intenção, portanto,
era colocar em prática um modelo sindical
baseado no ideário do corporativismo.
Corporativimo
• Doutrina e prática política e social fundada na
tentativa de superar os conflitos entre capital
e trabalho, através da intervenção autoritária
do Estado e a constituição de corporações
com base econômica e de ofício, como no
modelo medieval.
• Não mais representação política, mas do
trabalho.
Corporativismo
• A circulação das ideias corporativas teve uma dimensão
mundial e envolveu também intelectuais e forças
políticas estranhas ao fascismo. As ideias do
corporativismo foram acolhidas não somente em
Portugal, na Espanha ou no Brasil, mas também na
França, na Alemanha, nos Estados Unidos e na
Inglaterra. Com o debate sobre o corporativismo
colocava-se em questão o problema do estado moderno,
seu papel e a sua própria natureza.
Corporativismo
• Em seu estudo sobre o corporativismo português, Martinho destaca
também que a constituição da ordem corporativa não foi sempre
apenas uma imposição externa aos trabalhadores, pois havia
correntes políticas no meio sindical favoráveis a uma presença do
Estado como regulador das relações de trabalho. O autor destaca
também que a “dosagem certa” do corporativismo nunca foi bem
definida no caso português, mas a criação da Secretaria das
Corporações e da Previdência Social revelam o desejo do Estado
Novo português de apresentar-se como uma novidade para as
classes trabalhadoras, o que incluía tanto uma defesa intransigente
da ordem como a garantia de direitos sociais até então inexistentes.
Unidade sindical
• Para tanto, foi necessário romper com a
pluralidade sindical existente até então. Pela
nova legislação, adotava-se o princípio da
unidade sindical, em que apenas um sindicato
por categoria profissional era reconhecido
pelo governo. Tal como em outros órgãos
governamentais, vedava-se a propaganda
política e religiosa no interior das agremiações
sindicais.
Atrelamento sindicato-leis
• A sindicalização não era obrigatória, mas a lei
estabelecia que apenas as agremiações
reconhecidas pelo governo poderiam ser
beneficiadas pela legislação social. Caberia ao
Ministério do Trabalho supervisionar a vida
política e material dos sindicatos.
Reações
• A reação contra essa política de
enquadramento foi imediata por
parte de lideranças católicas,
empresariais e de trabalhadores, por
motivos diferentes.
IGREJA
• A Igreja temia que a ampliação do raio de ação
do Estado pudesse, na prática, inviabilizar o
movimento sindical católico em expansão
naquele início dos anos 30.
• O movimento sindical católico tinha recebido a
proteção do Estado durante a Primeira
República.
Empresários
• Setores do empresariado também se
mostraram descontentes. De um lado, porque
temerosos da força de sindicatos únicos com
respaldo governamental e, de outro, porque
interessados em preservar a autonomia das
suas organizações sindicais, ainda que vissem
com bons olhos o propósito apaziguador da
nova legislação.
Operários
• Finalmente, por parte das correntes operárias,
interessadas em manter o sindicalismo livre da
tutela estatal, a lei foi recebida como uma
séria ameaça à sobrevivência da liberdade
sindical por elas apregoada. A palavra de
ordem passou a ser o máximo de resistência
possível ao sindicalismo oficial.
FONTE
• Federação Operária de São Paulo (FOSP) em 1931:
• “Considerando que a lei de sindicalização visa a
fascistização das organizações operárias (...) A
federação Operária resolve: a) não tomar
conhecimento da lei que regulamenta a vida das
associações operárias; b) promover uma intensa
campanha nos sindicatos por meio de manifestos,
conferências etc, de crítica à lei” (...)
Leis para atrair os trabalhadores
• Apesar das críticas, o governo não desistiu de
implementar o seu projeto. Com o intuito de viabilizar
o novo modelo de sindicalismo, tratou também de
introduzir uma série de novas leis trabalhistas e
previdenciárias: Lei de Férias; o novo Código de
Menores; a regulamentação do trabalho feminino, e o
estabelecimento de convenções coletivas de trabalho.
Esse conjunto de medidas esbarrou, muitas vezes, na
resistência de setores do empresariado, preocupados
com a crescente intervenção do Estado nas relações de
trabalho. Fiscalização e tentativa de convencimento.
Leis sociais e seus efeitos
• No campo da assistência social, o governo
também introduziu importantes mudanças. Ao
lado das Caixas de Aposentadoria e Pensões
(que vinham desde a década de 1920), foram
criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões,
órgãos controlados pelo Estado responsáveis
pela extensão de direitos sociais a categorias
nacionais de trabalhadores. Durante a década de
1930, foram criados Institutos de Aposentadoria e
Pensões de várias categorias como industriários,
comerciários, bancários, funcionários públicos
etc.
Sucesso da estratégia
• A estratégia governamental surtiu efeito, de acordo
com a pesquisa de Gomes. Centenas de sindicatos de
trabalhadores tornaram-se legais nos anos de 1933 e
1934 para poder gozar dos benefícios previstos pela
nova legislação e para poder eleger deputados
classistas à Assembleia Constituinte. A luta sindical,
cada vez mais, passou a orientar-se no sentido de ver
aplicadas as leis burladas pelas empresas. Nesse
sentido, tornou-se muito importante o papel das Juntas
de Conciliação e Julgamento, criadas pelo governo em
1932 para dirimir conflitos trabalhistas. Esses órgãos
foram a base da Justiça do Trabalho, que seria
estabelecida pela Constituição de 1934.
O projeto e a ação do Ministério
• Carta de Antonio Ghioffi ao Dr. Ignacio da Costa Ferreira. Md. Delegado de
Ordem Social. São Paulo, 10-06-1931. Federação Operária de São Paulo
(FOSP), Prontuário n. 716, vol. 2, Arquivo do Estado de São Paulo,
Delegacia de Ordem Política e Social (AESP, DOPS).
• A ação dos comunistas nos sindicatos seria:
• “em grande parte por uma tática inteligente desenvolvida pela Delegacia
de Ordem Social que, aproveitando a posição ideológica das correntes
predominantes no seio do proletariado militante, fez com que prevalecesse
o critério apolítico nas organizações que, apesar de discutido com os seus
mentores, teoricamente estão, quer queiram quer não, de acordo com o
apoliticismo da lei de sindicalização do Ministério do Trabalho. Esta tática
produziu os melhores resultados, trazendo conseqüentemente uma
sensível divisão nas diversas facções sindicais existentes. Estabeleceu-se
assim abertamente a guerra de tendências, a guerra de escolas dentro dos
quadros do sindicalismo político e antipolítico (...) o predomínio resultou a
favor do pensamento apolítico”.
Quem elaborou o projeto?
• Núcleo base dessa política:
• 1) Oliveira Vianna, consultor jurídico do Ministério:
ultraconservador
• 2) Jacy Magalhães: militar
• 3) Joaquim Pimenta: socialista
• 4) Agripino Nazareth: sindicalista
• 5) Clodoveu de Oliveira (anarquista democrático)
• 6) Waldir Niemeyer (nazista)
• 7) Mário Ramos: industrial contra os industriais que se
opunham à legislação trabalhista e a Vargas.
• Em comum a ideia da necessidade de leis sociais.
Sintetizando
• Sindicato é reconhecido, mas compreendido
como órgão de colaboração com o Estado.
• Proibição de propaganda política e religiosa no
interior dos sindicatos.
• Só os inscritos em sindicatos oficiais teriam os
benefícios das leis sociais.
• Oposição dos operários, dos empresários e da
Igreja.
• REPRESSÃO, COOPTAÇÃO OU NEGOCIAÇÃO?
Ministros
• Lindolfo Collor – 30-32 Político gaúcho
• Salgado Filho – 32-34 Magistrado e político
gaúcho
• Agamenon Magalhães – 34-37 Pernambucano
• Valdemar Falcão 37-41 Cearense
• Alexandre Marcondes Machado Filho 41-45
Paulista, foi do PRP, advogado, ligado aos
industriais.
Resistência
• De 1931 a 1933 disputa pelo controle dos
sindicatos.
• Parte do movimento sindical continua
resistindo.
• Governo implanta fiscalização, fazendo um
corpo a corpo tanto com os empresários
quanto com os trabalhadores.
Convenceu? (Fonte)
• Em 1933, um socialista italiano muito ativo nos sindicatos em São Paulo
desde os anos 10, Fosco Pardini, lamentou-se da dura repressão e da
ausência de direitos trabalhistas na Primeira República e afirmou:
• “E o que almejavam, o que queriam os operários daquelles tristes tempos?
Simplesmente aquillo que, pacificamente, lhes deu a Revolução
triumphante de 1930, que integrou, enfim, as classes trabalhadoras – base
da grandeza da Nacionalidade e da construcção da Patria – nos direitos
que lhes assegura a Legislação de todos os povos cultos. Já existiam há
alguns anos as leis de férias e acidentes de trabalho, mas eram simulacros.
Os patrões obstaculavam a primeira, e a segunda só favorecia mais os
patrões e as companias de seguro. Hoje, com o Ministério do Trabalho -
uma das mais bellas realisações da Revolução – as azes dessa ave de
rapina, que é o capitalismo e a burguezia, foram paradas
convenientemente. Já se nota mais moralidade e humanidade”.
O que aconteceu com os sindicatos?
• Grande aumento no número de sindicatos
• Luta difícil com os empresários, especialmente os
têxteis e com o sindicatos liderados por
comunistas.
• Conflitos violentos entre velhos e novos
militantes.
• Tornou-se difícil resistir: os trabalhadores queriam
a oficialização para obter a leis e votar nos
deputados classistas. Anarquistas permanecem
fora e resistindo. Outros tentam resistir dentro.
Enquadramento total?
• O que vcs acham?
Heterogeneidade
• Os sindicatos oficiais passam a abrigar
tendências políticas diferentes.
FONTE
• Em 1936, Alceu Amoroso Lima, principal representante do
catolicismo social no Brasil, ao defender seu projeto de
organização dos trabalhadores dentro dos princípios
católicos considerava a organização sindical montada pelo
regime varguista tão prejudicial aos interesses católicos
quanto o sindicalismo revolucionário e o comunismo e
acreditava, conforme denunciava no jornal A Ordem, que
eram os “sindicatos oficiais e oficiosos, secretamente
manejados pelos sindicalistas revolucionários, que desde
1930 operam na sombra, dentro ou fora do Ministério do
Trabalho”
• Alceu Amoroso Lima, “Em face do comunismo”, A Ordem,
março/1936.
Bancada Classista
• Bancada classista: 40 entre empregadores,
funcionários públicos e empregados entre 254
deputados.
Minoria Proletária
• 4 trabalhadores foram eleitos deputados
constituintes: Vasco Toledo
(presidente do Sindicato dos Auxiliares do
Comércio de João Pessoa), Waldemar
Reickdal, Acir Medeiros (presidente do
Sindicato dos Trabalhadores rurais de
Porciúncula, Itaperuna, RJ) e João Vitaca,
(socialista, União dos Trabalhadores Gráficos
de Pelotas RS. Esse grupo ficou conhecido
como Minoria Proletária
João Miguel Vitaca
• VITACA, JOÃO MIGUEL
• *const 1934.
• João Miguel Vitaca nasceu em Canguçu (RS) no dia 29 de setembro de 1900, filho de José Maria Vitaca e de Flora Eugênia
Vitaca.
• Fez os estudos primários em sua cidade natal e depois começou a trabalhar como gráfico. Trabalhou nas livrarias Globo,
Universal e Comercial e, nos jornais Gaúcho, Semana e Canguçuense, em sua cidade; Opinião Pública, Libertador e Correio
Mercantil, em Pelotas (RS), e O Tempo, de Rio Grande (RS). Fundou as organizações de classe União dos Trabalhadores
Gráficos, União Tipográfica Gutenberg e Frente Sindicalista de Pelotas, no Rio Grande do Sul.
• Membro do sindicato União dos Trabalhadores Gráficos de Pelotas, foi escolhido por essa organização delegado eleitor à
Convenção dos Sindicatos Brasileiros de Empregados, reunida no Rio de Janeiro em julho de 1933, pela qual foi eleito
deputado classista à Assembleia Nacional Constituinte. Assumindo sua cadeira em novembro do mesmo ano, propôs várias
emendas ao anteprojeto de Constituição, que versavam sobre a autonomia, a liberdade, a organização e a estrutura dos
sindicatos. Foi contrário à emenda de Ranulfo Lima, aprovada pela Assembleia, que estabelecia o pluralismo sindical. Propôs
ainda emendas garantindo o ensino gratuito; o direito de voto a analfabetos, soldados e marinheiros; imunidades nos
exercícios funcionais para o professorado e diretores de órgãos sindicais e emendas vinculadas a férias, jornada de oito
horas, direito de greve e salário mínimo. Defensor da liberdade de cátedra, foi ainda autor da emenda que estabelecia a
representação de classes na proporção de 1/3 da Assembleia Constituinte. Com a promulgação da nova Carta (16/7/1934),
teve seu mandato estendido até maio de 1935, quando encerrou sua carreira política.
• FONTES: ASSEMB. NAC. CONST. 1934. Anais; CÂM. DEP. Deputados; GODINHO, V. Constituintes.
Única mulher delegada eleitora
• Almerinda Farias Gama, única mulher
delegada-eleitora, representante do Sindicato
dos Datilógrafos, durante a eleição de
representantes classistas para a Assembleia
Nacional Constituinte de 1934. Rio de Janeiro
(RJ). (CPDOC/ AFG foto 004/1)
Constituição de 34
• Vitória autonomia e pluralidade
• Vitória dos empresários e da Igreja, derrota
dos trabalhadores e do governo.
• Nova correlação de forças, enfraquecimento
dos tenentes.
A partir de 1935
• É só em 1935, com a Lei de Segurança, que a
intervenção contra os sindicatos e os
sindicalistas se torna mais incisiva e violenta.
• Discurso de acusação aos comunistas,
“controlados por Moscou”.
• Novo quadro nas relações
Estado-Trabalhadores.
• Entra com mais força a proposta da Igreja,
com o apoio do Ministério. Teve sucesso?
A invenção do projeto trabalhista
• A autora relativiza o peso dos elementos
materiais na construção do pacto
Estado-classe trabalhadora.
• Efetivação das leis só entre 32 e 37, quando o
Estado pressiona mais os empresários.
• As leis porém não garantiam que não
houvesse reações.
• Para a autora, no pós 40, ganhos materiais e
simbólicos de reciprocidade.
Naturalização do poder
• Pai-família-reciprocidade-doação-gratidão.
1941
• Valdemar Falcão (37-41) e Capanema, ministro
Educação e Saúde (34-45) eram os defensores
da Igreja dentro do governo.
• Em 1941, a escolha de Alexandre Marcondes
Filho para o M.T. significou uma aproximação
com os empresários.
• Entre 1943-45 relação governo e interesses
empresariais se ampliam.
1942
• Alinhamento do Brasil com os EUA. Ainda
confronto entre membros do governo pró-eixo
e pró-aliados.
• Tanto a democracia liberal quando o
comunismo tiveram que ser tratados em
outros termos a partir daqui. Por que?
• Para ela, a mudança do discurso, é só um
rearranjo de preparação para os novos
tempos, mas não uma derrota.
Trabalhadores de novo
• Trabalhadores reaparecem como atores
políticos, um novo discurso político é
endereçado a eles pelo governo.
• Estado Novo: grande esforço de propaganda.
DIP, a Revista Cultura Política, debate sobre a
relação Estado-questão social: discurso
constrói o real.
• Há um projeto central, mas tb ecletismo e
variações significativas.
História
• Importância da história no esforço de legitimação
do regime: reescrita da história do Brasil.
• 1930 apresentado como um novo começo da
história do Brasil.
• 1930-1937 como duas etapas de um mesmo
processo. 30 como uma verdadeira revolução
comparável a 1822 e 1889, só que muito melhor,
construtiva. Um projeto realmente nacional.
• Primeira República, a velha em oposição ao novo,
como decomposição do país.
Discurso de Valorização
• Da natureza, da cultura e do povo brasileiro e
reconhecimento de suas necessidades e
potencialidades.
• Tradição e inovação.
• Questão social seria resolvida ou amenizada
pelo Estado, que daria aos trabalhadores uma
situação mais humana.
• Defesa da ideia de democracia social em
substituição à democracia política.
Estado Novo, novo Estado
• Estado sujeito, não expectador
• Estado forte e ao mesmo tempo democrático
• No país, uma comunidade espiritual, um
consenso moral da nacionalidade, superando
o individualismo e o partidismo.
• A identificação entre Estado e Nação eliminava
a necessidade de corpos intermediários entre
povo e governante.
Rádio
• Hora do Brasil 1942, sucesso.
• Roosevelt tb se utilizou amplamente do rádio.
• Aproximação entre o poder público e o povo.
Comemorações
• Dia do Trabalho
• Aniversário do Estado Novo
• Aniversário do presidente
• Datas-chave para a comunicação entre Vargas
e os trabalhadores
Imagem de Vargas
• Pai
• Clarividente
• “Malandro”
Projeto mobilizador
• Valorização do trabalhador e do trabalho
manual.
• Nesses anos, a propaganda era acompanhada
pela suspensão dos direitos trabalhistas, por
pressão dos industriais, justificadas pelo
“estado de Guerra”.
• Dar e retribuir: contrato
Conclusões
• O grau de eficácia de um projeto político é uma
questão muito complexa.
• A classe operária não é um sujeito unívoco e
harmônico.
• O sucesso do discurso trabalhista e da organização de
interesses corporativistas baseou-se na ressignificação
de todo um elenco de demandas e de toda uma
tradição cultural e política centrado no valor do
trabalho e da dignidade do trabalhador. Processo
presidido por duas lógicas: material e simbólica. Lógica
de reciprocidade.
• Dádiva, generosidade
Conclusões
• Adesão, e não meramente submissão ou
manipulação.
• No pós-45, o PC mas tb o PTB e os sindicatos
canalizaram as demandas de participação
política mais ampla.
• Incorporação real, embora controlada, dos
trabalhadores na vida política nacional.
Objetivos
• Entender a questão da extensão da participação
políticas aos setores populares.
• Entender como a classe trabalhadora havia se
constituído como ator central na cena política
nacional.
• Evidenciar a pluralidade da classe trabalhadora.
• Mostrar a cidadania dos trabalhadores com um
processo longo e inconcluso de lutas entre
propostas diversas.
Contribuições
• Afastou o populismo como chave explicativa.
• Incursão interdisciplinar.
• Pesquisa de atores coletivos e individuais.
• Periodização proposta: demarcou linhas de
continuidade e descontinuidade entre o pré e
o pós 30.
Texto (20 anos depois)
• Angela de Castro GOMES. Estado Novo:
ambiguidades e heranças do autoritarismo
no Brasil.
“Abandonar explicações simplistas e
maniqueístas”.
• Um conjunto de políticas, muitas vezes
ambíguas e contraditórias, num contexto
nacional e internacional extremamente tenso.
Nova cronologia
• Novo e velho
Fatos cruciais
• Para ela:
• - Revolução de 32, a Constituição de 34, A ANL, a
AIB.
• Rico debate político desde os anos 20.
• Fortalecimento de matrizes antiliberais
• Keynes: capitalismo, mas com intervenção do
Estado era novidade. Europa e EUA
• Diminuição dos governos constitucionais: UK,
EUA, Canadá e Uruguai.
Antiliberais
• A maior parte dos antiliberais vinha da direita,
mas era uma direita diferente da direita
conservadora conhecida até então. Aproxima-se
do instrumental revolucionário da esquerda.
• Brasil insere-se no conjunto das experiências do
entreguerras. Em comum o fortalecimento do
Estado e seu poder de intervenção.
• Estatismo não necessariamente implicava em
autoritarismo.
1987
• Lembrar 1937 nesse contexto tinha um peso,
após 20 anos de ditadura. Engajamento contra
o regime militar e a favor da democracia.
• Geertz: até os anos 80, os estudos da história
do Brasil paravam em 30.
• Debate sobre o caráter fascista do regime.
Para ele o Estado Novo foi uma ditadura, com
traços fascistas, mas com avanços sociais, na
economia e na construção do Estado.
1987
• Ambiguidades como complicador das análises.
• Como falar de um caráter “progressista” da
Era Vargas?
• Combinação de autoritarismo com
modernização era um desafio político.
Convivência de avanços e recuos,
ambivalência. Reconhecer, sem com isso
justificar o autoritarismo.
Fascismo
• Problematização do uso da categoria
“fascista”.
• Até a experiência portuguesa não caberia
nesse rótulo.
• De tão amplo e impreciso o conceito acabava
abarcando muitas realidades diferentes,
ignorando suas especificidades.
• Totalitarismo, fascismo ou Estado autoritário?
Era Vargas fascista?
• Para ela, não havia uma unidade e controle
absoluto do poder do Estado.
• Além disso, os próprios ideólogos do Estado
Novo negavam essa definição.
• Azevedo Amaral e Oliveira Vianna afirmaram
que sua proposta não era nem fascista nem
liberal.
• Não significa minimizar a violência.
Historiografia
• Até a década de 70 explicações mais estruturais,
marxistas, com ênfase no econômico e no social,
menos no político, no indivíduo e nos eventos.
• Mudanças decisivas na historiografia influenciarão
os estudos sobre o Estado Novo.
• Mudanças teóricas e metodológicas na
historiografia no plano internacional. HP e HC
• Crítica das ambições totalizadoras e explicações
materialistas
FHC e o neoliberalismo (1995-2003)
• Contra a herança de Vargas: nacionalismo,
protecionismo, intervencionismo.
• A questão do autoritarismo e da repressão
passou a dividir espaço na historiografia com o
tema do tamanho e do papel do Estado na
economia e na sociedade.
• Esgotamento do projeto desenvolvimentista,
para ela, já estava claro nos anos 90.
Trabalhos sobre o Estado Novo
• 59 dissertações e teses no período 1995 e
2004.
• Temas:
• colonização, imigração, Marcha para o Oeste;
política de regulamentação do mercado de
trabalho; modernização urbana;
• Políticas educacionais e culturais; campanhas
de nacionalização;
• Repressão e propaganda.
Historiografia: diálogos
• Não solução completa, mas um termo, um
diálogo.
• Afastou-se da visão de unidade e estabilidade.
• Acompanha o debate sobre fascismo e
totalitarismo e autoritarismo.
• Empiria – investigação mais pormenorizada.
• Trabalhos das CS. Estado autoritário e tradição
no pensamento social brasileiro junta-se ao
antiliberalismo do entreguerras.
O Estado Novo para ela
• Não haveria um monopólio absoluto do
Estado, continuando a existir tensões e
oposições, até mesmo no interior do grupo
dirigente.
• Não houve uma mobilização de tipo fascista.
• É necessário uma interpretação mais fina da
dinâmica interna da política estadonovista.
• Combinação políticas sociais e propaganda.
• Pacto político entre Estado e Sociedade.
• A liderança de Vargas não é dada desde o
início.
• O Estado novo muda em 42. Guerra.
Alinhamento com os EUA.
• Fica claro para as lideranças estadonovistas
que aquele tipo de governo não teria mais
lugar no pós-guerra. Problema para as elites,
como passar do autoritarismo para a
liberal-democracia para permanecer no poder.
Pacto X Populismo
• Nesse contexto que vai se articular o pacto.
• Questiona manipulação, cooptação,
populismo.
• Questiona Estado sujeito e trabalhadores
objeto passivo.
• Trabalhadores ativos
• Sindicalismo corporativo.
• Vargas marketing político
• Mobilização, controle e repressão
• DIP
• Discurso se apropriava das demandas dos
trabalhadores, combinava interesses de
dominantes e dominados, ainda que com
desequilíbrio de poder.
• Expansão da legislação trabalhista e
previdenciária, carteira de trabalho,
estabilidade, salário mínimo, justiça do
trabalho.
• Abre-se um espaço à participação dos
trabalhadores, ainda que com muitos limites.
• Herança sólida e complexa do Estado Novo.
Algumas conclusões
• Figura misteriosa, enigma
• Nacionalismo, pragmatismo.
• Negociação: reciprocidade desigual
• Talento para conciliar
• Ambiguidades e contradições do projeto de
Vargas.
• Podemos falar de um projeto ao longo de sua vida
política? O Vargas de 30, de 45, de 54 era o
mesmo?

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