Objetivo central • Objetivo: entender a relação entre o governo Vargas, em especial o Ministério do Trabalho, com a classe trabalhadora. • Acompanhar a trajetória da incorporação da classe trabalhadora ao cenário político no Brasil. • Entender a extensão da participação política aos setores populares. • Investigar como a classe trabalhadora havia se constituído em ator central na luta política brasileira. Fontes e metodologia • Depoimentos CPDOC; • Memórias • Jornais: Voz do Povo, Ação Direta, A Plebe,A Pátria, O Paiz, Diário Carioca • Anais da Câmara dos Deputados; • Boletins do Ministério do Trabalho; • Leituras da história, da ciência política e também da antropologia – incursão interdisciplinar. • Busca de atores coletivos e individuais Trabalhadores da Companhia Nacional de Tecidos de Juta – São Paulo 1931 Fábrica de cimento Portland Fonte • Carta enviada por Getúlio Vargas a João Neves, juntamente com exemplar do jornal “A Classe Operária” (Porto Alegre, 31/8/1929). "Em aditamento à carta de ontem, remeto-te junto um exemplar do órgão dos trabalhadores brasileiros "A Classe Operária", que aí se publica, a fim de verificares o modo como é focado, em suas colunas, o problema da sucessão presidencial da República. Parece-me indispensável fazer algo para atrair esse jornal e, por intermédio dele, o proletariado. Examina o caso, com a tua habitual perspicácia". Concorrente? • Para a autora, o Ministério transforma e concorre com as formas de organização existentes. Quais eram as outras formas? • O primeiro ministro do Trabalho foi Lindolfo Collor. • Partia-se do pressuposto de que apenas com a intervenção direta do poder público seria possível amortecer os conflitos entre capital e trabalho presentes no mundo moderno. Lei de Sindicalização • Lei de Sindicalização: março de 1931, Decreto n° 19.770. • A nova lei tinha como objetivo geral fazer com que as organizações sindicais de empresários e trabalhadores se tornassem órgãos de colaboração do Estado. A intenção, portanto, era colocar em prática um modelo sindical baseado no ideário do corporativismo. Corporativimo • Doutrina e prática política e social fundada na tentativa de superar os conflitos entre capital e trabalho, através da intervenção autoritária do Estado e a constituição de corporações com base econômica e de ofício, como no modelo medieval. • Não mais representação política, mas do trabalho. Corporativismo • A circulação das ideias corporativas teve uma dimensão mundial e envolveu também intelectuais e forças políticas estranhas ao fascismo. As ideias do corporativismo foram acolhidas não somente em Portugal, na Espanha ou no Brasil, mas também na França, na Alemanha, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Com o debate sobre o corporativismo colocava-se em questão o problema do estado moderno, seu papel e a sua própria natureza. Corporativismo • Em seu estudo sobre o corporativismo português, Martinho destaca também que a constituição da ordem corporativa não foi sempre apenas uma imposição externa aos trabalhadores, pois havia correntes políticas no meio sindical favoráveis a uma presença do Estado como regulador das relações de trabalho. O autor destaca também que a “dosagem certa” do corporativismo nunca foi bem definida no caso português, mas a criação da Secretaria das Corporações e da Previdência Social revelam o desejo do Estado Novo português de apresentar-se como uma novidade para as classes trabalhadoras, o que incluía tanto uma defesa intransigente da ordem como a garantia de direitos sociais até então inexistentes. Unidade sindical • Para tanto, foi necessário romper com a pluralidade sindical existente até então. Pela nova legislação, adotava-se o princípio da unidade sindical, em que apenas um sindicato por categoria profissional era reconhecido pelo governo. Tal como em outros órgãos governamentais, vedava-se a propaganda política e religiosa no interior das agremiações sindicais. Atrelamento sindicato-leis • A sindicalização não era obrigatória, mas a lei estabelecia que apenas as agremiações reconhecidas pelo governo poderiam ser beneficiadas pela legislação social. Caberia ao Ministério do Trabalho supervisionar a vida política e material dos sindicatos. Reações • A reação contra essa política de enquadramento foi imediata por parte de lideranças católicas, empresariais e de trabalhadores, por motivos diferentes. IGREJA • A Igreja temia que a ampliação do raio de ação do Estado pudesse, na prática, inviabilizar o movimento sindical católico em expansão naquele início dos anos 30. • O movimento sindical católico tinha recebido a proteção do Estado durante a Primeira República. Empresários • Setores do empresariado também se mostraram descontentes. De um lado, porque temerosos da força de sindicatos únicos com respaldo governamental e, de outro, porque interessados em preservar a autonomia das suas organizações sindicais, ainda que vissem com bons olhos o propósito apaziguador da nova legislação. Operários • Finalmente, por parte das correntes operárias, interessadas em manter o sindicalismo livre da tutela estatal, a lei foi recebida como uma séria ameaça à sobrevivência da liberdade sindical por elas apregoada. A palavra de ordem passou a ser o máximo de resistência possível ao sindicalismo oficial. FONTE • Federação Operária de São Paulo (FOSP) em 1931: • “Considerando que a lei de sindicalização visa a fascistização das organizações operárias (...) A federação Operária resolve: a) não tomar conhecimento da lei que regulamenta a vida das associações operárias; b) promover uma intensa campanha nos sindicatos por meio de manifestos, conferências etc, de crítica à lei” (...) Leis para atrair os trabalhadores • Apesar das críticas, o governo não desistiu de implementar o seu projeto. Com o intuito de viabilizar o novo modelo de sindicalismo, tratou também de introduzir uma série de novas leis trabalhistas e previdenciárias: Lei de Férias; o novo Código de Menores; a regulamentação do trabalho feminino, e o estabelecimento de convenções coletivas de trabalho. Esse conjunto de medidas esbarrou, muitas vezes, na resistência de setores do empresariado, preocupados com a crescente intervenção do Estado nas relações de trabalho. Fiscalização e tentativa de convencimento. Leis sociais e seus efeitos • No campo da assistência social, o governo também introduziu importantes mudanças. Ao lado das Caixas de Aposentadoria e Pensões (que vinham desde a década de 1920), foram criados os Institutos de Aposentadoria e Pensões, órgãos controlados pelo Estado responsáveis pela extensão de direitos sociais a categorias nacionais de trabalhadores. Durante a década de 1930, foram criados Institutos de Aposentadoria e Pensões de várias categorias como industriários, comerciários, bancários, funcionários públicos etc. Sucesso da estratégia • A estratégia governamental surtiu efeito, de acordo com a pesquisa de Gomes. Centenas de sindicatos de trabalhadores tornaram-se legais nos anos de 1933 e 1934 para poder gozar dos benefícios previstos pela nova legislação e para poder eleger deputados classistas à Assembleia Constituinte. A luta sindical, cada vez mais, passou a orientar-se no sentido de ver aplicadas as leis burladas pelas empresas. Nesse sentido, tornou-se muito importante o papel das Juntas de Conciliação e Julgamento, criadas pelo governo em 1932 para dirimir conflitos trabalhistas. Esses órgãos foram a base da Justiça do Trabalho, que seria estabelecida pela Constituição de 1934. O projeto e a ação do Ministério • Carta de Antonio Ghioffi ao Dr. Ignacio da Costa Ferreira. Md. Delegado de Ordem Social. São Paulo, 10-06-1931. Federação Operária de São Paulo (FOSP), Prontuário n. 716, vol. 2, Arquivo do Estado de São Paulo, Delegacia de Ordem Política e Social (AESP, DOPS). • A ação dos comunistas nos sindicatos seria: • “em grande parte por uma tática inteligente desenvolvida pela Delegacia de Ordem Social que, aproveitando a posição ideológica das correntes predominantes no seio do proletariado militante, fez com que prevalecesse o critério apolítico nas organizações que, apesar de discutido com os seus mentores, teoricamente estão, quer queiram quer não, de acordo com o apoliticismo da lei de sindicalização do Ministério do Trabalho. Esta tática produziu os melhores resultados, trazendo conseqüentemente uma sensível divisão nas diversas facções sindicais existentes. Estabeleceu-se assim abertamente a guerra de tendências, a guerra de escolas dentro dos quadros do sindicalismo político e antipolítico (...) o predomínio resultou a favor do pensamento apolítico”. Quem elaborou o projeto? • Núcleo base dessa política: • 1) Oliveira Vianna, consultor jurídico do Ministério: ultraconservador • 2) Jacy Magalhães: militar • 3) Joaquim Pimenta: socialista • 4) Agripino Nazareth: sindicalista • 5) Clodoveu de Oliveira (anarquista democrático) • 6) Waldir Niemeyer (nazista) • 7) Mário Ramos: industrial contra os industriais que se opunham à legislação trabalhista e a Vargas. • Em comum a ideia da necessidade de leis sociais. Sintetizando • Sindicato é reconhecido, mas compreendido como órgão de colaboração com o Estado. • Proibição de propaganda política e religiosa no interior dos sindicatos. • Só os inscritos em sindicatos oficiais teriam os benefícios das leis sociais. • Oposição dos operários, dos empresários e da Igreja. • REPRESSÃO, COOPTAÇÃO OU NEGOCIAÇÃO? Ministros • Lindolfo Collor – 30-32 Político gaúcho • Salgado Filho – 32-34 Magistrado e político gaúcho • Agamenon Magalhães – 34-37 Pernambucano • Valdemar Falcão 37-41 Cearense • Alexandre Marcondes Machado Filho 41-45 Paulista, foi do PRP, advogado, ligado aos industriais. Resistência • De 1931 a 1933 disputa pelo controle dos sindicatos. • Parte do movimento sindical continua resistindo. • Governo implanta fiscalização, fazendo um corpo a corpo tanto com os empresários quanto com os trabalhadores. Convenceu? (Fonte) • Em 1933, um socialista italiano muito ativo nos sindicatos em São Paulo desde os anos 10, Fosco Pardini, lamentou-se da dura repressão e da ausência de direitos trabalhistas na Primeira República e afirmou: • “E o que almejavam, o que queriam os operários daquelles tristes tempos? Simplesmente aquillo que, pacificamente, lhes deu a Revolução triumphante de 1930, que integrou, enfim, as classes trabalhadoras – base da grandeza da Nacionalidade e da construcção da Patria – nos direitos que lhes assegura a Legislação de todos os povos cultos. Já existiam há alguns anos as leis de férias e acidentes de trabalho, mas eram simulacros. Os patrões obstaculavam a primeira, e a segunda só favorecia mais os patrões e as companias de seguro. Hoje, com o Ministério do Trabalho - uma das mais bellas realisações da Revolução – as azes dessa ave de rapina, que é o capitalismo e a burguezia, foram paradas convenientemente. Já se nota mais moralidade e humanidade”. O que aconteceu com os sindicatos? • Grande aumento no número de sindicatos • Luta difícil com os empresários, especialmente os têxteis e com o sindicatos liderados por comunistas. • Conflitos violentos entre velhos e novos militantes. • Tornou-se difícil resistir: os trabalhadores queriam a oficialização para obter a leis e votar nos deputados classistas. Anarquistas permanecem fora e resistindo. Outros tentam resistir dentro. Enquadramento total? • O que vcs acham? Heterogeneidade • Os sindicatos oficiais passam a abrigar tendências políticas diferentes. FONTE • Em 1936, Alceu Amoroso Lima, principal representante do catolicismo social no Brasil, ao defender seu projeto de organização dos trabalhadores dentro dos princípios católicos considerava a organização sindical montada pelo regime varguista tão prejudicial aos interesses católicos quanto o sindicalismo revolucionário e o comunismo e acreditava, conforme denunciava no jornal A Ordem, que eram os “sindicatos oficiais e oficiosos, secretamente manejados pelos sindicalistas revolucionários, que desde 1930 operam na sombra, dentro ou fora do Ministério do Trabalho” • Alceu Amoroso Lima, “Em face do comunismo”, A Ordem, março/1936. Bancada Classista • Bancada classista: 40 entre empregadores, funcionários públicos e empregados entre 254 deputados. Minoria Proletária • 4 trabalhadores foram eleitos deputados constituintes: Vasco Toledo (presidente do Sindicato dos Auxiliares do Comércio de João Pessoa), Waldemar Reickdal, Acir Medeiros (presidente do Sindicato dos Trabalhadores rurais de Porciúncula, Itaperuna, RJ) e João Vitaca, (socialista, União dos Trabalhadores Gráficos de Pelotas RS. Esse grupo ficou conhecido como Minoria Proletária João Miguel Vitaca • VITACA, JOÃO MIGUEL • *const 1934. • João Miguel Vitaca nasceu em Canguçu (RS) no dia 29 de setembro de 1900, filho de José Maria Vitaca e de Flora Eugênia Vitaca. • Fez os estudos primários em sua cidade natal e depois começou a trabalhar como gráfico. Trabalhou nas livrarias Globo, Universal e Comercial e, nos jornais Gaúcho, Semana e Canguçuense, em sua cidade; Opinião Pública, Libertador e Correio Mercantil, em Pelotas (RS), e O Tempo, de Rio Grande (RS). Fundou as organizações de classe União dos Trabalhadores Gráficos, União Tipográfica Gutenberg e Frente Sindicalista de Pelotas, no Rio Grande do Sul. • Membro do sindicato União dos Trabalhadores Gráficos de Pelotas, foi escolhido por essa organização delegado eleitor à Convenção dos Sindicatos Brasileiros de Empregados, reunida no Rio de Janeiro em julho de 1933, pela qual foi eleito deputado classista à Assembleia Nacional Constituinte. Assumindo sua cadeira em novembro do mesmo ano, propôs várias emendas ao anteprojeto de Constituição, que versavam sobre a autonomia, a liberdade, a organização e a estrutura dos sindicatos. Foi contrário à emenda de Ranulfo Lima, aprovada pela Assembleia, que estabelecia o pluralismo sindical. Propôs ainda emendas garantindo o ensino gratuito; o direito de voto a analfabetos, soldados e marinheiros; imunidades nos exercícios funcionais para o professorado e diretores de órgãos sindicais e emendas vinculadas a férias, jornada de oito horas, direito de greve e salário mínimo. Defensor da liberdade de cátedra, foi ainda autor da emenda que estabelecia a representação de classes na proporção de 1/3 da Assembleia Constituinte. Com a promulgação da nova Carta (16/7/1934), teve seu mandato estendido até maio de 1935, quando encerrou sua carreira política. • FONTES: ASSEMB. NAC. CONST. 1934. Anais; CÂM. DEP. Deputados; GODINHO, V. Constituintes. Única mulher delegada eleitora • Almerinda Farias Gama, única mulher delegada-eleitora, representante do Sindicato dos Datilógrafos, durante a eleição de representantes classistas para a Assembleia Nacional Constituinte de 1934. Rio de Janeiro (RJ). (CPDOC/ AFG foto 004/1) Constituição de 34 • Vitória autonomia e pluralidade • Vitória dos empresários e da Igreja, derrota dos trabalhadores e do governo. • Nova correlação de forças, enfraquecimento dos tenentes. A partir de 1935 • É só em 1935, com a Lei de Segurança, que a intervenção contra os sindicatos e os sindicalistas se torna mais incisiva e violenta. • Discurso de acusação aos comunistas, “controlados por Moscou”. • Novo quadro nas relações Estado-Trabalhadores. • Entra com mais força a proposta da Igreja, com o apoio do Ministério. Teve sucesso? A invenção do projeto trabalhista • A autora relativiza o peso dos elementos materiais na construção do pacto Estado-classe trabalhadora. • Efetivação das leis só entre 32 e 37, quando o Estado pressiona mais os empresários. • As leis porém não garantiam que não houvesse reações. • Para a autora, no pós 40, ganhos materiais e simbólicos de reciprocidade. Naturalização do poder • Pai-família-reciprocidade-doação-gratidão. 1941 • Valdemar Falcão (37-41) e Capanema, ministro Educação e Saúde (34-45) eram os defensores da Igreja dentro do governo. • Em 1941, a escolha de Alexandre Marcondes Filho para o M.T. significou uma aproximação com os empresários. • Entre 1943-45 relação governo e interesses empresariais se ampliam. 1942 • Alinhamento do Brasil com os EUA. Ainda confronto entre membros do governo pró-eixo e pró-aliados. • Tanto a democracia liberal quando o comunismo tiveram que ser tratados em outros termos a partir daqui. Por que? • Para ela, a mudança do discurso, é só um rearranjo de preparação para os novos tempos, mas não uma derrota. Trabalhadores de novo • Trabalhadores reaparecem como atores políticos, um novo discurso político é endereçado a eles pelo governo. • Estado Novo: grande esforço de propaganda. DIP, a Revista Cultura Política, debate sobre a relação Estado-questão social: discurso constrói o real. • Há um projeto central, mas tb ecletismo e variações significativas. História • Importância da história no esforço de legitimação do regime: reescrita da história do Brasil. • 1930 apresentado como um novo começo da história do Brasil. • 1930-1937 como duas etapas de um mesmo processo. 30 como uma verdadeira revolução comparável a 1822 e 1889, só que muito melhor, construtiva. Um projeto realmente nacional. • Primeira República, a velha em oposição ao novo, como decomposição do país. Discurso de Valorização • Da natureza, da cultura e do povo brasileiro e reconhecimento de suas necessidades e potencialidades. • Tradição e inovação. • Questão social seria resolvida ou amenizada pelo Estado, que daria aos trabalhadores uma situação mais humana. • Defesa da ideia de democracia social em substituição à democracia política. Estado Novo, novo Estado • Estado sujeito, não expectador • Estado forte e ao mesmo tempo democrático • No país, uma comunidade espiritual, um consenso moral da nacionalidade, superando o individualismo e o partidismo. • A identificação entre Estado e Nação eliminava a necessidade de corpos intermediários entre povo e governante. Rádio • Hora do Brasil 1942, sucesso. • Roosevelt tb se utilizou amplamente do rádio. • Aproximação entre o poder público e o povo. Comemorações • Dia do Trabalho • Aniversário do Estado Novo • Aniversário do presidente • Datas-chave para a comunicação entre Vargas e os trabalhadores Imagem de Vargas • Pai • Clarividente • “Malandro” Projeto mobilizador • Valorização do trabalhador e do trabalho manual. • Nesses anos, a propaganda era acompanhada pela suspensão dos direitos trabalhistas, por pressão dos industriais, justificadas pelo “estado de Guerra”. • Dar e retribuir: contrato Conclusões • O grau de eficácia de um projeto político é uma questão muito complexa. • A classe operária não é um sujeito unívoco e harmônico. • O sucesso do discurso trabalhista e da organização de interesses corporativistas baseou-se na ressignificação de todo um elenco de demandas e de toda uma tradição cultural e política centrado no valor do trabalho e da dignidade do trabalhador. Processo presidido por duas lógicas: material e simbólica. Lógica de reciprocidade. • Dádiva, generosidade Conclusões • Adesão, e não meramente submissão ou manipulação. • No pós-45, o PC mas tb o PTB e os sindicatos canalizaram as demandas de participação política mais ampla. • Incorporação real, embora controlada, dos trabalhadores na vida política nacional. Objetivos • Entender a questão da extensão da participação políticas aos setores populares. • Entender como a classe trabalhadora havia se constituído como ator central na cena política nacional. • Evidenciar a pluralidade da classe trabalhadora. • Mostrar a cidadania dos trabalhadores com um processo longo e inconcluso de lutas entre propostas diversas. Contribuições • Afastou o populismo como chave explicativa. • Incursão interdisciplinar. • Pesquisa de atores coletivos e individuais. • Periodização proposta: demarcou linhas de continuidade e descontinuidade entre o pré e o pós 30. Texto (20 anos depois) • Angela de Castro GOMES. Estado Novo: ambiguidades e heranças do autoritarismo no Brasil. “Abandonar explicações simplistas e maniqueístas”. • Um conjunto de políticas, muitas vezes ambíguas e contraditórias, num contexto nacional e internacional extremamente tenso. Nova cronologia • Novo e velho Fatos cruciais • Para ela: • - Revolução de 32, a Constituição de 34, A ANL, a AIB. • Rico debate político desde os anos 20. • Fortalecimento de matrizes antiliberais • Keynes: capitalismo, mas com intervenção do Estado era novidade. Europa e EUA • Diminuição dos governos constitucionais: UK, EUA, Canadá e Uruguai. Antiliberais • A maior parte dos antiliberais vinha da direita, mas era uma direita diferente da direita conservadora conhecida até então. Aproxima-se do instrumental revolucionário da esquerda. • Brasil insere-se no conjunto das experiências do entreguerras. Em comum o fortalecimento do Estado e seu poder de intervenção. • Estatismo não necessariamente implicava em autoritarismo. 1987 • Lembrar 1937 nesse contexto tinha um peso, após 20 anos de ditadura. Engajamento contra o regime militar e a favor da democracia. • Geertz: até os anos 80, os estudos da história do Brasil paravam em 30. • Debate sobre o caráter fascista do regime. Para ele o Estado Novo foi uma ditadura, com traços fascistas, mas com avanços sociais, na economia e na construção do Estado. 1987 • Ambiguidades como complicador das análises. • Como falar de um caráter “progressista” da Era Vargas? • Combinação de autoritarismo com modernização era um desafio político. Convivência de avanços e recuos, ambivalência. Reconhecer, sem com isso justificar o autoritarismo. Fascismo • Problematização do uso da categoria “fascista”. • Até a experiência portuguesa não caberia nesse rótulo. • De tão amplo e impreciso o conceito acabava abarcando muitas realidades diferentes, ignorando suas especificidades. • Totalitarismo, fascismo ou Estado autoritário? Era Vargas fascista? • Para ela, não havia uma unidade e controle absoluto do poder do Estado. • Além disso, os próprios ideólogos do Estado Novo negavam essa definição. • Azevedo Amaral e Oliveira Vianna afirmaram que sua proposta não era nem fascista nem liberal. • Não significa minimizar a violência. Historiografia • Até a década de 70 explicações mais estruturais, marxistas, com ênfase no econômico e no social, menos no político, no indivíduo e nos eventos. • Mudanças decisivas na historiografia influenciarão os estudos sobre o Estado Novo. • Mudanças teóricas e metodológicas na historiografia no plano internacional. HP e HC • Crítica das ambições totalizadoras e explicações materialistas FHC e o neoliberalismo (1995-2003) • Contra a herança de Vargas: nacionalismo, protecionismo, intervencionismo. • A questão do autoritarismo e da repressão passou a dividir espaço na historiografia com o tema do tamanho e do papel do Estado na economia e na sociedade. • Esgotamento do projeto desenvolvimentista, para ela, já estava claro nos anos 90. Trabalhos sobre o Estado Novo • 59 dissertações e teses no período 1995 e 2004. • Temas: • colonização, imigração, Marcha para o Oeste; política de regulamentação do mercado de trabalho; modernização urbana; • Políticas educacionais e culturais; campanhas de nacionalização; • Repressão e propaganda. Historiografia: diálogos • Não solução completa, mas um termo, um diálogo. • Afastou-se da visão de unidade e estabilidade. • Acompanha o debate sobre fascismo e totalitarismo e autoritarismo. • Empiria – investigação mais pormenorizada. • Trabalhos das CS. Estado autoritário e tradição no pensamento social brasileiro junta-se ao antiliberalismo do entreguerras. O Estado Novo para ela • Não haveria um monopólio absoluto do Estado, continuando a existir tensões e oposições, até mesmo no interior do grupo dirigente. • Não houve uma mobilização de tipo fascista. • É necessário uma interpretação mais fina da dinâmica interna da política estadonovista. • Combinação políticas sociais e propaganda. • Pacto político entre Estado e Sociedade. • A liderança de Vargas não é dada desde o início. • O Estado novo muda em 42. Guerra. Alinhamento com os EUA. • Fica claro para as lideranças estadonovistas que aquele tipo de governo não teria mais lugar no pós-guerra. Problema para as elites, como passar do autoritarismo para a liberal-democracia para permanecer no poder. Pacto X Populismo • Nesse contexto que vai se articular o pacto. • Questiona manipulação, cooptação, populismo. • Questiona Estado sujeito e trabalhadores objeto passivo. • Trabalhadores ativos • Sindicalismo corporativo. • Vargas marketing político • Mobilização, controle e repressão • DIP • Discurso se apropriava das demandas dos trabalhadores, combinava interesses de dominantes e dominados, ainda que com desequilíbrio de poder. • Expansão da legislação trabalhista e previdenciária, carteira de trabalho, estabilidade, salário mínimo, justiça do trabalho. • Abre-se um espaço à participação dos trabalhadores, ainda que com muitos limites. • Herança sólida e complexa do Estado Novo. Algumas conclusões • Figura misteriosa, enigma • Nacionalismo, pragmatismo. • Negociação: reciprocidade desigual • Talento para conciliar • Ambiguidades e contradições do projeto de Vargas. • Podemos falar de um projeto ao longo de sua vida política? O Vargas de 30, de 45, de 54 era o mesmo?