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DESESTRUTURAÇÃO NO PRESENTE
Remontemos esse passado o mais recente possível que iremos falar aqui, pegando
das grandes greves do final dos anos 70 ao começo dos 80, quando a CUT estava para ser
fundada.
Para isso teriam que pensar numa nova central sindical que fosse totalmente
independente, com uma nova visão para os trabalhadores naquele período de ditadura. Foi
aí que os trabalhadores pensaram num encontro que reunisse todos os sindicatos para ser
formada essa nova organização. Esse encontro seria chamado CONCLAT (Conferência
Nacional das Classes Trabalhadoras) e esse I CONCLAT ocorreu em agosto de 1981, em
Praia Grande (SP). Vamos descrever um pouco como foi esse passado sindical brasileiro
até chegar na fundação da central que deu muita esperança aos trabalhadores brasileiros
na época, que esperavam por mudanças mais efetivas no sindicalismo e no trabalho em
geral e o que houve durante a trajetória da nova central sindical e depois, como o
sindicalismo brasileiro está hoje em dia.
O tema da organização por local de trabalho aparecia no Plano de Lutas e na
Carta de Princípios [...] no sentido de fortalecer a luta e a organização de base
dos trabalhadores nos seus locais de trabalho.1
Essa preocupação tinha a ver com a importância que se dava às Oposições Sindicais,
pois estas foram a única a terem privilégios “para conquistar sindicatos e ampliar o número
de entidades filiadas.”2 Na época, as oposições sindicais ainda tinham um papel muito forte
na construção da Central.
Com relação à concepção sindical houve um debate intenso se a CUT seria uma
central sindical ou simplesmente um sindicato, pois, para a majoritária da entidade que era
a oposição na direção, “a transformação da CUT em uma central de sindicatos esvaziava o
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seu caráter revolucionário e aproximava a central ao modelo social-democrata europeu, além
disso, alertava que isso levaria a um processo de burocratização da central.”3
Já a criação da CUT foi totalmente diferente da Força Sindical, tendo outros critérios
de sua fundação. No seu primeiro “congresso de fundação tinha 5.500 delegados, onde 66%
eram delegados de base, quer dizer, eram ativistas que não eram membros de diretorias dos
sindicatos,”4 diferente da Força Sindical. A temática ideológica tinha um certo espaço na
CUT, bem diferente que na Força Sindical que não tinha espaço algum, principalmente uma
aproximação com os movimentos populares que encontrou um abrigo na nova central.
As duas centrais se apresentavam à época das suas fundações, em que uma defendia
“uma sociedade moderna, com base na competição, prosperidade, produtividade,
democracia e participação”5, assim se apresentava a Força Sindical. Já a CUT se
apresentava totalmente diferente do que propunha a FS, com uma transição socialista
enquanto a FS afirmava um capitalismo moderno ou “transição do capitalismo selvagem para
2
uma sociedade moderna, avançada e competitiva”6. Segundo a Força, isso seria possível
com “distribuição mais justa da renda nacional, democratização das relações sociais,
econômicas e políticas, e a retomada do desenvolvimento com justiça social”.7 Assim com
essa limitada consciência ingênua, já pensava o trabalhador brasileiro naquela época de
efervescência de uma nova fase do sindicalismo e, a partir daí, nascia o novo sindicalismo
brasileiro nas barbas do neoliberalismo. Logo, a FS ficou totalmente integrada ao governo
Collor por suas políticas neoliberais, pois a central logo se sentiu abraçada pelo presidente
por elas serem tão próximas a ele.
A CUT no seu congresso de fundação como veremos bem mais à frente, se baseava
em outros ideais para a classe trabalhadora e sua organização, daí ela se definia como
“classista, democrática, autônoma, unitária de massas e pela base”8, pois, ela seguindo essa
linha ideológica de poder, reivindicando como órgão central dos sindicatos brasileiros, levaria
para a sociedade uma futura transição socialista. Esse era o seu papel como instrumento de
luta da classe trabalhadora nos seus momentos iniciais de sua fundação.
Temas tão cruciais tanto para o trabalhador brasileiro como para o governo e os
empresários até os dias de hoje em vários países, principalmente aos países dependentes
e subdesenvolvidos como o Brasil, o principal e o mais disputado politicamente dos países
periféricos, por suas dimensões continentais e riquezas minerais, pelos governos do
empresariado brasileiro e pelos representantes da economia internacional com suas pautas
do capitalismo liberal.
a) Privatizações
“A Lei 8.031 de 1990, promulgada ainda no governo Collor instituiu o Programa
Nacional de Desestatização. A FS participou ativamente dos processos de
privatização de três empresas: Usiminas, CSN e Mafersa”.9
c) Reforma da Previdência
“A FS se aliou ao governo de FHC a favor da Reforma da Previdência. Defendia
publicamente, o fim das aposentadorias especiais no legislativo e judiciário e, mais
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que isso, propunha que o fim das aposentadorias especiais se estendesse a todos os
servidores públicos. Em 1998, FHC retomou a ofensiva no Congresso, alterando as
regras da aposentadoria, transformando tempo de serviço em tempo de contribuição,
impondo o fim da aposentadoria proporcional e o fim das aposentadorias especiais,
salvo para professores do Ensino Fundamental e Médio, e para trabalhadores
expostos a condições de insalubridade. Com relação à Reforma da Administrativa, a
FS defendeu o desmonte dos direitos dos funcionários públicos, em especial, o tema
da estabilidade no emprego”.11 Esse tema ela havia defendido para o trabalhador no
quesito anterior.
e) Abertura Econômica
“O tripé da plataforma política neoliberal [é] composto pelo aprofundamento da
abertura da economia nacional ao capital imperialista, pela privatização de empresas
e de serviços públicos e pela desregulamentação das relações de trabalho…” A
abertura da economia nacional começou no Governo Collor e aprofundou-se no
Governo FHC. Às vésperas do Plano Real, o governo liberou por decreto a importação
de milhares de produtos, levando a abertura gradativa do mercado. Essa política
provocou uma explosão de produtos importados, liberados de tarifa e com o câmbio
favorável à importação. Combinado à abertura comercial, houve acrise de 1995.” 13
Sobre os congressos realizados por ela, iremos ver à frente uma divisão necessária
para a explanação dos períodos que a CUT passou para ser o que ela é hoje em dia. Assim
ela está dividida em quatro períodos:
Esse é o início da revolta dos trabalhadores que se transforma em uma realidade mais
concreta com a criação de uma organização central, que consegue reunir todos os
desesperos e angústias que se tinha naquele momento, reunidas de cinco anos de muitas
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lutas de várias formas por todo o país. A união entre os trabalhadores de várias categorias
fez com que surgisse esse movimento que reunia trabalhadores tanto da iniciativa pública
como privada. Como bem nos diz Vito Giannotti: “A experiência, rapidamente, mostra que
um movimento isolado tem poucas chances de ser vitorioso. Era necessário unificar o
movimento”.15 Se não unissem o movimento naquele momento tão importante de
efervescência que estavam os trabalhadores na época, jamais poderiam ter outra chance
tão boa quanto essa para o surgimento da nova central.
E o ataque ao movimento por parte do governo militar não tardou em acontecer com
intervenções reprimindo greves, intervindo nos sindicatos e enquadrando na Lei de
Segurança Nacional os seus dirigentes. Os militares não poderiam deixar que o movimento
crescesse. E também por parte das organizações reformistas de esquerda da época, como
o PCB, MR-8 e PC do B, quando um dos dirigentes do PCB na época, relata no livro “O ABC
das Greves, quando diz que esta organização fez gestões para acabar com a greve
metalúrgica de 1980.”16
O caminho para se chegar ao congresso de fundação, teve que passar por lutas
organizativas, como o Encontro Nacional das Oposições Sindicais (ENOS) e outros eventos
até chegar em 1981, no mês de agosto, com a 1ª Conferência Nacional das Classes
Trabalhadoras, quando elegem a Comissão Nacional Pró-CUT.
São três anos de disputas políticas com o reformismo, da 1.ª Conferência Nacional
das Classes Trabalhadoras até a fundação da CUT, e da construção da identidade da central
a ser criada. Os princípios fundacionais da Central, são:
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Hoje em dia, como veremos mais à frente, não existe mais nenhum desses princípios
ligados à central. No I Congresso Nacional da CUT em 84, o “ponto de organização sindical
definiu-se: “Os trabalhadores criarão as suas próprias formas de organização desde os locais
de trabalho até a Central Sindical, seu órgão máximo”19
Vai do congresso que a fundou até 88, no seu III Congresso Nacional em Belo
Horizonte. “Neste período, a CUT afirmou um programa extremamente progressivo para a
classe trabalhadora. Este programa referia-se às questões econômicas e de política social,
tais como: não pagamento da dívida externa, estatização do sistema financeiro, estatização
dos serviços de saúde, de educação e de transporte coletivo, reforma agrária sob controle
dos trabalhadores, contra a privatização das estatais, etc.. Mas a CUT também não se
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furtou a lutar por questões políticas mais gerais e contra o governo, quando defendeu
a anistia para os perseguidos políticos, boicote ao colégio eleitoral, que acabaria por
eleger Tancredo Neves, e a luta por uma Constituinte exclusiva e soberana, opondo-
se à atribuição de poderes constituintes ao Congresso Nacional eleito em 1986”.21
No quadro internacional que em 1989 deu-se a Queda do Muro de Berlim e nisso veio
uma ofensiva política, militar e ideológica pelo imperialismo e as burguesias locais, e que o
capitalismo internacional não poderia deixar de aproveitar essa oportunidade para
estabelecer a sua hegemonia. Então, o sistema capitalista mundial declara que o socialismo
morrera ! E no campo militar, as guerras imperialistas continuam a ocorrer, com
recolonização, uma que se destacou bastante foi a invasão dos Estados Unidos ao Iraque.
Dessa forma, a CUT começa a revogar seus ideais de fundação e pautas, que levaram
milhões de trabalhadores a acreditarem numa organização que olhassem por eles, e
tirassem da dependência e subdesenvolvimento com muita desigualdade, em que vive até
hoje o nosso país.
Fonte: DESEP - Departamento de Estudos Socioeconômicos e Políticos da CUT, São Paulo 94, Edição 1994
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Neste III Congresso Nacional da CUT, um primeiro grande ataque ao caráter
democrático do congresso e, indicava uma dobrada que a central levou afetando a sua
concepção sindical daí por diante.
O IV Congresso Nacional, que foi em setembro de 91, foi muito vazio. No anterior,
estiveram presentes 6.247 delegados e neste compareceram somente 1.554. Além da
quantidade, o congresso também perdeu na qualidade. As oposições fizeram altas críticas
à corrente da direção majoritária, que era a Articulação Sindical, que foi acusada de estar
trocando a mobilização pela negociação para levar a Central ao pacto social, querendo impor
a política de “entendimento nacional”.
E toda essa política estava em perfeita sincronia dada a filiação da CUT à CIOSL. De
tão disputado que foi esse IV Congresso Nacional, que votaram na eleição para a nova
direção deste, quando finalizado. A votação foi Jair Meneguelli com 52,16% e Durval de
Carvalho com 47,84%.
Pela primeira vez por este congresso, os delegados ouviram da majoritária da Central,
a Articulação, que era necessário atualizar o projeto dela, “sair da postura defensiva-reativa-
reivindicativa e partir para uma postura propositiva”.26 Em outras palavras bem mais claras,
a CUT deve deixar de dizer NÃO e partir para apertos de mãos e abraços com os
patrões e governos. Por causa desse abalo, três grandes mudanças aconteceram na
Central. Veja abaixo:
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1ª - Ela começou a caminhar em direção ao tal Pacto Social, seja tanto de entendimento
nacional ou na forma das reuniões tripartites (no caso governo Collor, patrões e sindicatos)
vindo com a desculpa de solucionar o ataque capitalista provocado pela recessão de 1990-
1992.
3ª - Sobre o conceito de proporcionalidade que era afetado direto no ponto, pela democracia
interna. A Articulação queria propor para a diretoria eleição proporcional sem qualificação,
quer dizer, que a maioria ficaria com os cargos mais importantes e sua minoria com os de
segundo escalão. O critério de proporcionalidade que era exigido pelo Bloco de Oposição,
queria que a sua força no congresso fosse garantida pelo acesso das minorias aos cargos
de suma importância. A V Plenária Nacional da CUT foi realizada em 1992. Elas eram a
maior instância para os congressos. Ela mantém o caráter propositivo para a central, abrindo
mais ainda o leque para a democracia burguesa. A votação ao seu alinhamento ao governo
Collor é a prova disso. Havia os que queriam a bandeira pelo “‘Fora Collor, já !! Eleições
Gerais’,”28 mas a Articulação queria impor a saída parlamentar e moralizar o Estado burguês.
Ela propunha: “‘Basta de Corrupção ! CPI pra Valer ! Impeachment já ! Pelo fim do governo
Collor !’”29 E a V Plenária aprova a filiação à CIOSL e nas Câmaras Setoriais é confirmada
sua participação.
Com esse caráter propositivo que a Articulação Sindical estava impondo à CUT, as
Câmaras Setoriais foram o auge desse período. O processo tripartite hoje é dominante,
como já mostrado mais acima. Dos 14 setores que tiveram vida Câmaras Setoriais com
apenas 03 como a Construção Naval; Máquinas e Equipamentos Agrícolas e Automotivo, a
formação seria com 26 câmaras de distintos setores bem produtivos.
O reajuste dos salários e a geração de novos postos de trabalho, pois, esse seria o
acordo da Câmara Setorial para o setor Automotivo. O aumento de salários da Ford e da
Mercedes demitiram no mesmo mês quase 3 mil trabalhadores. Isso ocorreu no Governo de
Itamar Franco tendo como ministro da Fazenda, Ciro Gomes.
Apresentando uma autocrítica nada convencional ao nível das suas bases, a Articulação
Sindical argumenta que a Central ainda não havia superado a estrutura sindical do período
getulista. Essa herança herdada do Estado Novo, impõe essa acomodação e reconhece
que não é fácil essa mudança.
[…] alicerçada sobre os sindicatos oficiais, a CUT enfrenta agora uma tensão
crescente entre a acomodação à estrutura oficial e a consolidação de seu
projeto sindical [...]. A acomodação está presente, em maior ou menor grau,
em todas as concepções sindicais e em todos os ramos de atividade. [...] essa
acomodação, que pode chegar a uma adesão ao modelo corporativista, tem
favorecido a burocratização, a ausência de controle das bases sobre as
direções sindicais e, no limite, o abuso de poder e a violência, sinais de
degeneração da prática sindical. O sectarismo e a falta de um código de ética
cutista vêm transformando muitas eleições sindicais num cenário de disputa
“ideologizada”, mas despolitizada, do aparelho sindical [...]32
11
No congresso de 97 a grande discussão era a estratégia de luta da CUT.
Avaliamos essa experiência política de participação institucional, com especial
destaque para a participação na reforma da previdência e, apesar de a maioria
ter aprovado uma avaliação positiva destas políticas, ao somarmos as
abstenções e os votos contrários, ficou evidenciada a desaprovação do
plenário com relação à CUT do sim’. Esse debate entre a ‘CUT propositiva’ e a
‘CUT de lutas’ acirrou-se e expressou-se através da constituição da chapa do
bloco de esquerda, que se propunha a resgatar a CUT de lutas e de resistência
e avaliava a participação da CUT nas reformas neoliberais como
desastrosa para a classe trabalhadora.33
Até mesmo, setores minoritários que não tinham voz na Articulação Sindical ficaram
contra a nova concepção para a Central feita pela maioria, fazendo com que esse debate
sobre o sindicato orgânico ainda persistisse.
Em agosto de 96, a celeuma do debate nesta VIII Plenária, foi um balanço sobre a
participação da CUT nas negociações da Reforma da Previdência. Sem consultar as
instâncias da Central, o líder sindical Vicentinho assumiu a negociação em nome da CUT,
onde fechou um péssimo acordo, pior do que apresentara o deputado governista Euler
Ribeiro. Fato que marcou esse VI Congresso, foi o debate sobre o sindicato orgânico,
aumento das mensalidades dos sindicatos filiados e a Reforma da Previdência de FHC, dado
o aval do presidente da CUT Vicentinho.
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● simultaneidade nas eleições para representantes de base e direções sindicais,
querendo dizer que, as eleições para a Comissão de Fábrica e para a diretoria
do sindicato seriam no mesmo dia, e parte do mesmo processo por chapa,
impedindo a participação de candidatos avulsos;
● adoção unicamente de taxas voluntárias; e
● adoção de organização de base e sua participação nas instâncias de
direção.”35
O último congresso antes das eleições para Presidente, em que Lula iria se candidatar
pela quarta vez e desta vez venceria, é o VII Congresso Nacional que foi realizado em
Serra Negra (SP) em agosto de 2000. Este congresso foi para mostrar pra elite brasileira e
ao imperialismo que a CUT já não tinha mais nenhuma de suas bases fundacionais da
organização que foi outrora nos anos 80. E para provar tamanho acinte, o cônsul dos EUA
é um dos convidados e a Universidade de Cornell.
Este congresso que foi muito marcado por profundo desgaste e diversas mobilizações
dos trabalhadores, foi realizado já no final do governo de FHC. Um dos mais marcantes
protestos contra o governo de FHC foi a Marcha dos 100 mil, em agosto de 99. Além dessa
fantástica mobilização, tivemos outras como a Jornada de Luta por Emprego e Direitos
Sociais, com milhares de pessoas em Brasília, em maio de 98; a paralisação da Ford contra
as 2.800 de demitidos em São Bernardo e o fechamento da sua fábrica na cidade de São
Paulo.
Surgiu uma discussão que dava a aparência de ser de segundo nível, mas ela era
muito importante, pois, isso sinalizou o processo de degeneração e até de desestruturação
da CUT com a temática das verbas provenientes do FAT. A contratação de mão de obra,
requalificação profissional e seguro desemprego tendo como objetivo de intermediação a
proposta de criação da Central de Trabalho e Renda, em Santo André, significando a
concretização do sindicato cidadão e o sepultamento definitivo do seu último princípio
fundacional que é o do sindicato independente do Estado. Fazendo a retrospectiva
necessária para constatar o que se perdeu até este momento, nenhum dos seus princípios
fundacionais que foram votados no seu Congresso para criar a Central, não existem mais.
Nesse começo de um novo milênio a CUT desse passado não existe mais. O próximo
congresso a se realizar será com Lula já presidente em 2003. Isso nós veremos mais à
frente.
13
Novo Milênio: CUT e Força Sindical de mãos dadas e contra os trabalhadores
Durante os anos 90 a história da CUT e Força Sindical foi com muito antagonismo
político e sindical. Dentre muitas conquistas importantes, a CUT conquistou sindicatos da
Força Sindical e, em contrapartida a Força, conquistou importantes sindicatos cutistas, como
os Aeroviários de São Paulo e Metalúrgicos de Volta Redonda.
Na quarta candidatura de Lula para presidente, durante os governos FHC a FS deu o apoio
necessário à CUT que iria ter uma postura mais oposicionista. No final do governo de FHC,
estava sendo preparado o campo para a campanha de Lula. A CUT fez um movimento de
oposição bem distinto, não engrossou o caldo necessário, mas ela foi oposição.
Com a vitória de Lula, a CUT tem o privilégio de ser a escolhida como interlocutora. A
FS fica deslocada sem saber o que fazer por um período. A distância que separava as duas
centrais diminuía cada vez mais e esta se aproximava mais ainda da proposta da FS que
era “Um projeto para o Brasil”, também no mandato de Lula.
No primeiro mandato do governo do PT, eles intensificam cada vez mais as políticas
(neo)liberais de FHC. É aí que o sistema Petucano entra em cena pela primeira vez, dando
a continuidade econômica do governo de FHC para o governo Lula. No caso particular da
Reforma de Previdência de 2003, Lula intensificou mais ainda a reforma de seu antecessor
FHC, e durante todo o seu governo, adotou mais medidas (neo)liberais, como na área
previdenciária que retiravam cada vez mais direitos históricos, afetando mais ainda os
trabalhadores acidentados, ou adoecidos pelo trabalho.
[…] As taxas de juros cobradas pelos bancos não têm nada de modesto,
superando de forma avassaladora, por exemplo, o índice de correção dos
salários desses trabalhadores. Pagam aos empregados, a títulos de juros,
índices iguais ou superiores ao percentual do reajuste salarial concedido
anualmente. (...) Sem nenhuma dúvida, o melhor negócio foi feito pelos bancos,
14
que passaram a ter uma clientela até então fora do seu alcance comercial
direto, com garantia de recebimento de tais empréstimos mediante taxas de
juros exorbitantes em face da realidade salarial dos novos devedores e das
correções salariais reduzidas ano a ano.36
No seu artigo 618 da Constituição Federal, vigente desde 1943, o governo FHC enviou
ao Congresso Nacional o Projeto de Lei 5.483/01, para alterar a CLT. O cerceamento total
das liberdades individuais e coletivas, foi a discussão que tomou conta da Câmara dos
Deputados, seguindo o mesmo e velho modelo da ditadura militar. O insuspeito juiz Grijalbo,
relata na sua maneira como foi a votação na Câmara:
No entender do citado, faltou uma personagem em toda essa descrição. Faltou dizer
que a Força Sindical apoiou sem eiras e nem beiras, o governo de FHC.
Sempre de mãos dadas, CUT e Força Sindical não conseguiram mais uma vez,
aprovar esse opressor projeto de flexibilizar os direitos da classe trabalhadora. A novidade
veio mais à frente, por incrível que possa parecer, pelo Sindicato dos Metalúrgicos do ABC,
o mesmo Projeto de Lei que será apresentado ao governo. Para divulgar mais ainda esse
Projeto de Lei, será bastante propagandeado um livro com opiniões de profissionais das
áreas de economia, direito e dirigentes sindicais. O objetivo é ir formando opinião e
defensores, cada vez mais ao projeto:
CUT e FS tentam de tudo para capitular a luta dos trabalhadores no local de trabalho
e esvaziar estes organismos nos últimos anos, objetivando de transformá-los nos
instrumentos que atuem para “o entendimento direto com o empregador, tentando negar-lhe
16
qualquer caráter de organização para a luta dos trabalhadores em defesa dos seus direitos
e interesses.”42
Com estas palavras, um dos maiores intelectuais da economia política brasileira que
esteve exilado pela ditadura em duas cidades latinas México duas vezes e depois Chile, Ruy
Mauro Marini nos mostra o caminho da luta de massas para o trabalhador brasileiro que vem
sendo feita desde os anos 60 até hoje, na segunda década do século XXI. Através da
dialética marxista, um dos fundadores da Teoria Marxista da Dependência, muito conhecida
como TMD, Ruy Mauro nos mostra pela dialética marxista que a classe trabalhadora tem um
longo caminho a percorrer.
A nossa luta no sindicato e em outros locais da classe trabalhadora deve ser cada vez
mais incessante e não parar por esse ou aquele obstáculo. (...) “Não há dúvida que, nas
atuais condições, a militância sindical apresenta o perigo de desgaste e desvios, dentro do
quadro da ordem existente. Saberemos superar esses perigos se não tomarmos essa “faixa
legal”, que o sindicalismo apresenta, como um fim em si. Às vezes é preferível provocar
intervenções a aceitar uma política sindical dentro dos moldes oficiais prescritos. Mas, tais
provas de força têm de ser preparadas pela organização das bases, pela educação das
massas e pela formação de legítimas lideranças operárias.”45
17
centrais sindicais – especialmente a CUT – revelam de maneira clara a
prostração completa do sindicalismo diante da crise econômica tal como atesta
o quadro das greves durante todo o ano de 2020. No entanto, não apenas as
greves, mas, ainda mais importante, a incapacidade de convocar contingentes
importantes de trabalhadores para as manifestações recentes revelam o
quanto o sindicalismo brasileiro regrediu politicamente nas últimas décadas e
o quanto o efeito da crise e da própria condução da política econômica por
Paulo Guedes derrubaram a capacidade de ação dos trabalhadores.46
Esse foi o trajeto sindical brasileiro nos últimos 40 anos da atual esquerda brasileira
liderada pelo petismo. E isso não foi somente para o sindicalismo que decaiu
progressivamente década a década, mas também na linha partidária, principalmente nos
setores de esquerda que tinham como pautas a linha socialista e o imperialismo como um
dos principais nortes de suas lutas revolucionárias. A linha estudantil que também se desviou
das suas reivindicações mais radicais, principalmente depois do maio de 1968, quando
abandonou pautas mais à esquerda e contra uma universidade cada vez mais cativa ao
imperialismo, para se perpetuar cada vez mais a nossa dependência e o
subdesenvolvimento brasileiro, minguando intelectualmente a nossa ciência e tecnologia.
Cabe a uma nova classe trabalhadora refazer uma nova esquerda que nunca teve
oportunidade de se mostrar como deveria, a esquerda revolucionária brasileira nacionalista
da classe trabalhadora, passando de classe em si, para classe para si, que foi idealizada
pelo ISEB, a Polop e os fundadores da Teoria Marxista da Dependência (TMD), mas que a
esquerda majoritária da época nunca foi a fundo com a radicalidade necessária para toda a
classe à esquerda de trabalhadores brasileiros.
Desde o ano de 2018 as direções das duas maiores centrais brasileiras CUT e Força
Sindical, vêm conversando para uma articulação nacional junto com a classe trabalhadora,
que é a formação de uma fundação dos trabalhadores, a Industriall-Brasil, que pretende
discutir os rumos do trabalhador da indústria no Brasil. Até há alguns anos as duas centrais
eram vistas como rivais, pois que, uma apoia as causas particulares dos trabalhadores mais
à esquerda, no momento da sua fundação como vimos durante todo o texto, mas a guinada
da CUT à direita foi afastando ela das pautas de sua fundação, junto aos trabalhadores e se
entregando cada vez mais as pautas liberais. E a outra, que é a FS que apoia as propostas
da patronal sendo ligada à direita. Nesse ano de 2022 essa junção se formou com a
Industriall-Brasil.
___________________________
Bibliografia:
1 - Santos, Adriana Gomes; Neto, Antônio Fernandes. Organização de Base: História,
formas,experiências e atualidade. CUT: uma importante vitória, mas que sufocou a
organização de base, pág. 92. Editora Kenosis, São Paulo, ed. 2013.
2 - Idem, p. 92
3 - Idem, p. 93
5 - Idem, p. 97
6 - Idem, p. 97
19
7 - Idem, p. 97
8 - Idem, p. 98
9 - Idem, p. 98
10 - Idem, p. 99
11 - Idem, p. 100
12 - Idem, p. 100
20
20 - Santos, Adriana Gomes; Neto, Antônio Fernandes. Organização de Base: História,
formas,experiências e atualidade. CUT: Uma importante vitória, mas que sufocou a
organização de base, (94 Ibdem, p. 9.) pág. 92. Editora Kenosis, São Paulo, ed. 2013.
21
28 - Santos, Adriana Gomes; Neto, Antônio Fernandes. Organização de Base: História,
formas,experiências e atualidade. Centrais Sindicais e Comissões de Fábrica no
Governo de colaboração de classes; CUT: gestação, criação e processos de
transformação. c) 3º Período: do Congresso de 1988 até a chegada de Lula ao governo,
pág. 104. Editora Kenosis, São Paulo, ed. 2013.
31 - Idem p. 12.
41 - Idem
45 - Martins, Ernesto. Polop - Uma trajetória de lutas. Nosso trabalho nos sindicatos.
(Andar com os próprios pés; Ativo Nacional do POC - Partido Operário Comunista,
em junho de 1968. pág 223. Belo Horizonte. Editora SEGRAC, 1994.) pág. 224. Centro
de Estudos Victor Meyer. ed. Salvador, 2010.
23
47 - Idem, pág. 04
48 - Martins, Ernesto. Polop - Uma trajetória de lutas. Nosso trabalho nos sindicatos.
(Andar com os próprios pés; Ativo Nacional do POC - Partido Operário Comunista,
em junho de 1968. pág 224. Belo Horizonte. Editora SEGRAC, 1994.) pág. 224. Centro
de Estudos Victor Meyer. ed. Salvador, 2010.
24