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Fotografe

A revista que valoriza a fotografia brasileira

fotografemelhor.com.br
n0 309 | Ano 26

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Fotografia de
ALIMENTOS
Dicas dos especialistas para fazer imagens profissionais
• Pratos • Restaurantes • Drinques • Sobremesas
• Chefs • Cardápios • Embalagens • Propagandas
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editorial

20
Richard Cheles

Ano 26
Edição 309

Foto de capa:
Alexander Landau

J á me arrisquei a produzir foto de comida algumas vezes, principalmente quando ia fazer


alguma matéria para a revista Viaje Mais, aqui da Editora Europa, que trata de turismo
e viagens. Visitar restaurantes faz parte do roteiro de um repórter/fotógrafo do setor,
portanto, mostrar um prato bem elaborado é necessário vez ou outra. Confesso: acho que
nunca consegui um resultado profissional, fiquei no meio-termo, sem passar vergonha, mas
também sem empolgar ninguém. Quando vejo uma boa foto de culinária, fico com água
na boca – acho que nunca atingi esse patamar com as minhas. Assim, nesta edição, a ideia
é que você fique salivando, pois especialistas como Mauro Holanda, Alexander Landau,
Richard Cheles, Emi Parente e Ana Schad não brincam em serviço. Eles também revelam
alguns truques para dar uma maquiada na comida e obter resultados
mais satisfatórios – no caso de Cheles, que trabalha bastante com
publicidade de alimentos, essa maquiada é radical, tipo substituir leite
por cola branca para uma propaganda de cereal. Boa leitura.
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Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
Equipe de redação com água na boca branco@europanet.com.br
Denise Camargo (revisora), Izabel Donaire
(editora de arte), Livia Capeli (colaboradora
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
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A revista Fotografe Melhor é uma publicação da Equipamento................................................................. 14
Editora Europa Ltda. (ISSN 1413-7232).
A Editora Europa não se responsabiliza pelo matéria de capa
conteúdo dos anúncios de terceiros.
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Superlua no farol
Indispensável à navegação, a figura alta e esguia do farol do
Molhe de Itajaí, em Santa Catarina, além de ser importante para
quem enfrenta os mares, é um ponto que chama a atenção de
Ficha técnica
turistas e moradores pela beleza do lugar. O terreno longo e Autor: Alfabile Santana
estreito que adentra o mar e tem o farol na ponta é brindado Cidade: Itajaí (SC)
com o estouro das ondas a todo instante. O fotógrafo Alfabile Câmera: Nikon D810
Santana criou sua própria visão do lugar: para o efeito de Objetiva: 24-120 mm (farol)
superlua ele usou duas imagens sobrepostas no Photoshop, uma 170-500 mm (lua)
do astro, captada às 6h da manhã, e outra da paisagem do farol, Exposição: f/7.1, 1/160s
ao entardecer. Ambas foram realizadas com a câmera no tripé e ISO 1.000 (farol); f/10,
e editadas nos aplicativos Sharpen AI da Topaz, para melhorar a 1/400s e ISO 100 (lua)
nitidez, e Nik Collection da DXO, para corrigir as cores.

4 Fotografe 309
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O céu no Tietê
A imensa, complexa, populosa e poluída cidade de São Paulo
pode ser surpreendente. Foi o que conseguiu o fotógrafo
Theo Bortolin em um fim de tarde de outono, quando o
horizonte oferecia uma paleta de cores avermelhadas devido
à quantidade de poeira suspensa no ar por causa da falta de
chuva. Esse céu incomum refletido nas águas do Rio Tietê Ficha técnica
gerou uma visão poética de uma das vias mais sem glamour Autor: Theo Bortolin
da capital paulista, a Marginal Tietê, em trecho próximo à Cidade: São Paulo (SP)
Ponte da Casa Verde. A imagem foi captada em um teste com Câmera: DJI Mavic Mini
o drone DJI Mavic Mini que Bortolin havia comprado para Objetiva: 20 mm (equivalente)
entrar no segmento de filmagens e fotos aéreas. O resultado Exposição: f/2.8, 1/13s ISO 200
mostra que ele pode ter sucesso na área.

Como participar: envie para fotografe@europanet.com.br no máximo duas fotos em arquivo digital e
informe nome, telefone, ficha da foto (equipamento, dados técnicos...) e faça um breve relato sobre as imagens.

Fotografe 309 5
Grande Angular

Orlando Brito
IMS lança um site só
para fotojornalismo
E m uma grande iniciativa,
que visa valorizar o
fotojornalismo nacional – algo
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da produção de fotógrafos de
diferentes gerações e regiões
do país, com um breve perfil
Fotojornalistas que Fotografe faz desde 2009 de cada um. Há ainda dossiês,
consagrados, como com a série de livros O Melhor ensaios críticos, depoimentos em
Orlando Brito (autor do Fotojornalismo Brasileiro –, vídeo e materiais que ressaltam
da foto acima) e o Instituto Moreira Salles (IMS) a importância da atividade na
Custódio Coimbra colocou no ar o site "Testemunha documentação da realidade
(foto abaixo), são Ocular" (testemunhaocular.ims. brasileira e na construção da
destacados no site com.br). Nele está reunida parte memória nacional. Custódio Coimbra

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Jonne Roriz

O ponto de partida para a criação de Luciano Carneiro, Henri Ballot, Evandro


"Testemunha Ocular" foi a forte presença Teixeira, Custódio Coimbra e Walter Firmo. Já
do fotojornalismo no acervo do IMS, a seção “Em Foco” apresenta o trabalho de 44
que reúne desde coleções autorais até o fotojornalistas, misturando veteranos, nomes
acervo fotográfico dos jornais dos Diários bastante experientes e jovens em ascensão.
Associados do Rio de Janeiro, adquirido Também estão na lista dois grandes mestres
em 2016. A concepção do projeto é do da imprensa brasileira que morreram em
jornalista Flávio Pinheiro, que atuou como
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 2022: Orlando Brito e Erno Schneider.
superintendente-executivo do IMS entre Entre os nomes escolhidos estão Ana
2008 e 2020. O jornalista Mauro Ventura Carolina Fernandes, Adriana Zehbrauskas,
assina a edição do site, cabendo ao fotógrafo Antônio Milena, Celso Oliveira, Daniel
Leo Aversa a edição de imagens durante a Marenco, Egberto Nogueira, Felipe Dana,
criação do projeto. Gabriela Biló, Hélia Scheppa, Hélio Campos
Uma das seis seções do site mostra a Mello, Ivo Gonzalez, João Wainer, Jonne
produção e a trajetória de fotojornalistas Roriz, Jorge Araújo, Juca Varella, Lalo de
cujos acervos estão sob a guarda do IMS – Almeida, Márcia Foletto, Marlene Bergamo,
inicialmente, seis nomes: José Medeiros, Marcelo Carnaval, Raphael Alves, Reginaldo
Manente, Ricardo
Gabriela Biló

Stuckert, Ricardo
Chaves, Rogério Reis,
Rosa Gauditano, Sérgio
Amaral, Sérgio Moraes,
Ueslei Marcelino e
Victor Moriyama.

O site reúne várias


gerações de grandes
fotógrafos, como
Jonne Roriz (autor
da foto acima) e
Gabriela Biló (autora
da foto ao lado)

Fotografe 309 7
Vestidos
pendurados
em cruzes para
homenagear
crianças
indígenas mortas
e enterradas
de forma
Amber Bracken

clandestina por
membros de uma
escola do Canadá
nos anos 1970

Fotógrafa canadense ganha


o WorLd Press Photo 2022
U ma imagem feita pela fotógrafa
canadense Amber Bracken para o jornal
The New York Times foi a vencedora do World
australiano Matthew Abbott foi nomeado o
vencedor da categoria World Press Photo
Story of the Year com a série Saving Forests with
Press Photo of the Year de 2022. A foto mostra Fire, feita para a revista National Geographic. A
vestidos de cor laranja pendurados em cruzes reportagem mostra aborígenes australianos
ao longo de uma estrada para homenagear queimando estrategicamente terras em uma
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crianças que morreram na Kamloops Indian prática conhecida como Cool Burning, na qual
Residential School, instituição criada para os incêndios se movem lentamente, queimam
assimilar crianças indígenas, na Colúmbia apenas a vegetação rasteira e removem o
Britânica, Canadá. O trabalho da repórter acúmulo de elementos combustíveis que
fotográfica realizado em junho de 2021 tratava alimentam chamas maiores.
da descoberta de 215 sepulturas O júri escolheu também o
até então desconhecidas no local Aborígenes da trabalho Distopia Amazônica, do
da antiga escola, fechada em 1978. Austrália promovem brasileiro Lalo de Almeida, da
Os vencedores de 2022 a queima controlada Folha de S.Paulo, como vencedor
foram escolhidos entre 64.823 da vegetação para do Prêmio Projeto de Longa
inscrições feitas por 4.066 evitar grandes Duração, conforme informado
fotógrafos de 130 países. O incêndios na floresta na edição 307 de Fotografe.
Fotos: Matthew Abbott

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Fotografe 309 9
Concursos & Prêmios Os ganhadores do Prêmio
Mobile Fotografe 2022

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Fotos: Francisco Santos

O ensaio Anastácia foi inspirado no livro Cidades Imaginárias, do italiano Ítalo Calvino

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Francisco Santos, na categoria Ensaio, e Lu Brito,
em Imagem Destacada, ficaram com a primeira
colocação, seguidos por Alexandre Chaym e
Edmilson Sanchez, na segunda posição. Luís Teixeira
Mendes foi o terceiro nas duas categorias

O
Lu Brito
s fotógrafos Francisco Santos
e Lu Brito são os ganhadores
do Prêmio Mobile Fotografe 2022,
concurso voltado exclusivamente a
imagens captadas com smartphone.
Com Anastácia, Santos conquistou o
primeiro lugar na categoria Ensaio. O
trabalho é inspirado no livro Cidades
Imaginárias, do escritor italiano Ítalo
Calvino, e transforma o cenário de
uma refinaria em uma hipotética
cidade chamada de Anastácia. As
fotos em P&B e formato quadrado
estruturam um espaço sufocante,
dominado por máquinas, onde a
presença humana é apenas sugerida.
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Na categoria Imagem
Destacada, a vencedora foi Lu Brito
com Gato Preto, foto captada em
Tucano, na Bahia. A fotógrafa deu
tratamento P&B contrastado e girou a imagem,
estabelecendo uma relação de ambiguidade
entre o gato preto e sua sombra. Pela primeira
colocação, Lu Brito e Francisco Santos vão
receber medalha de ouro.
A segunda colocação na categoria Ensaio foi
conquistada pelo fotógrafo Alexandre Chaym
com Animação Suspensa, desenvolvido a partir
de 2019 e composto de retratos de senhoras
idosas captados no transporte público. As feições
de cansaço e o olhar perdido das passageiras
fotografadas evocam as longas jornadas
percorridas na vida, o acúmulo de deslocamentos
entre a casa e o local de trabalho.
Na categoria Imagem Destacada, Edmilson
Sanchez obteve o segundo lugar com Pintura
ao Sol do Meio-dia, cena de rua visualmente
curiosa, captada em São Paulo (SP), mostrando
Edmilson Sanchez

Acima, Gato Preto, de Lu Brito;


ao lado, Pintura ao Sol do Meio-dia,
de Edmilson Sanchez

Fotografe 309 11
Fotos: Alexandre Chaym

O ensaio Animação Suspensa


é composto de retratos de
senhoras no transporte
coletivo e ficou com o
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segundo lugar no concurso

um trabalhador pintando
a fachada de um imóvel
comercial. A nova cor da
fachada é de um azul quase
idêntico ao azul do céu.
Metade da fachada ainda
conserva a cor verde, e uma
escada, uma árvore e suas
sombras projetadas sobre a
fachada complementam a
composição. Para completar, a calça e o boné fotógrafo entrou pela primeira vez e passou a
do pintor também são azuis. frequentá-lo semanalmente, fotografando de
forma clandestina com o celular e registrando
Duplo terceiro lugar tanto aspectos arquitetônicos como o
Luís Teixeira Mendes obteve a terceira ambiente degradado. O ensaio foi considerado
colocação nas duas categorias do Prêmio terminado quando Mendes foi flagrado por
Mobile Fotografe 2022. Na categoria Ensaio, funcionário do cinema e obrigado a apagar as
ele foi premiado por Fragmentos de um Cine imagens que tinha feito naquele dia.
Pornô, realizado a partir de 2019 no Cine Na categoria Imagem Destacada, Mendes
Theatro Íris, inaugurado em 1909, no Largo da conquistou o terceiro lugar com a foto
Carioca, centro do Rio de Janeiro (RJ). Curioso Desencanto. Captada no auge do período
por retratar a arquitetura do local, um dos pandêmico, mostra uma poltrona abandonada
primeiros cinemas de rua do Brasil (atualmente no calçadão de Copacabana, um dos locais mais
em sala de striptease e filmes pornográficos), o frequentados da orla carioca. A praia está deserta

12 Fotografe 309
e um espesso nevoeiro cobre o céu chegando quase à
linha do horizonte – os segundos e terceiros colocados
receberão medalhas de prata e bronze, respectivamente.
A escolha dos ganhadores foi realizada por uma
Comissão Julgadora, que se reuniu virtualmente no dia
26 de maio, composta de cinco membros: os fotógrafos
Gisele Martins, Kitty Paranaguá e Márcio Vasconcelos,
além de Érico Elias, coordenador do Prêmio Mobile
Fotografe, e Sérgio Branco, editor de Fotografe. Os
jurados definiram os premiados após avaliar os 10
finalistas de cada categoria. A seleção dos finalistas foi
feita por uma Comissão Pré-Seleção, formada por Ana
Carolina Fernandes, Paulo Marcos de Mendonça Lima
e Pedro Vasquez, além de Érico Elias e Sérgio Branco.
Todos os finalistas farão parte do livro Prêmio
Mobile Fotografe 2022 e de uma exposição virtual
que ficará hospedada no site de Fotografe – acesse
www.fotografemelhor.com.br. E, com o término do
concurso para imagens de smartphone, o próximo
evento é o Grande Prêmio Fotografe 2022, cujas
inscrições podem ser feitas até 31 de julho de
2022 – confira no site de Fotografe os detalhes do A imagem Desencanto, de Luís Teixeira
regulamento e a premiação. Mendes, ficou em terceiro lugar

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O ensaio Fragmentos de um Cine Pornô, classificado na terceira posição, foi feito no Rio de Janeiro (RJ)
Fotos: Luís Teixeira Mendes

Fotografe 309 13
R7 e R10,
Equipamento

as novidades da Canon

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EUA). Já a EOS R7 está em um nível de preço


e de recursos um pouco acima da EOS 90D
Os dois lançamentos (US$ 1.499). Avaliando a linha EF-M mirrorless
mirrorless com sensor existente, os dois modelos se aproximam da M5
e da M6 II, que devem ser descontinuadas –
APS-C são mais um forte embora a Canon negue, é quase certo o fim das
sinal de que a era das DSLRs DSLRs com sensor APS-C e da série EF-M.
Ambas são câmeras com capacidade
está chegando ao fim de filmagem 4K/60 e que podem disparar à
velocidade de 15 fotos por segundo (fps) com
obturador mecânico. Em termos de sensibilidade
Da redação
ISO nativa também são iguais: de 100 a 32.000.

P
Compartilham ainda uma interface simples e
ara confirmar que o futuro é da mirrorless poderosa de autofoco (651 pontos de foco), mas
e que a DSLR está fadada a ser extinta, a nos detalhes são diferentes. A mais óbvia delas
Canon anunciou as duas primeiras câmeras com é que a R10 vem com sensor de 24 MP (6.000 x
sensor APS-C (22,2 x 14,8 mm) sem espelho 4.000 pixels), enquanto a EOS R7 oferece um de
da linha RF. A EOS R10 tem preço próximo da 33 MP (6.960 x 4.640 pixels). Eles diferem dos
faixa da linha Rebel de entrada (US$ 979, nos usados na Rebel T8i e na EOS 90D por causa

14 Fotografe 309
As câmeras são
direcionadas a
públicos distintos
e têm preços bem
diferentes
Fotos: Divulgação

De frente, até que a R7 e a R10 são bem


parecidas, mas, além das diferenças
externas, há as internas, bem maiores

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apenas 30). Além disso, a R10 fornece uma


velocidade máxima de 1/4.000s seja com
obturador mecânico ou eletrônico, já a R7 chega
a 1/8.000s com o mecânico e 1/16.000 com o
eletrônico – ela também fecha automaticamente
dos processadores Digic X, que permitem que o obturador quando a câmera é desligada para
a R10 dispare em até 23 fps no modo e-shutter proteger o sensor nas trocas de lente.
e que a R7 chegue a 30 fps, atuando com um
obturador eletrônico. Mas a taxa de disparo de Mais diferenças
15 fps para ambas com o obturador mecânico é Outra diferença fundamental é que a
o número mais relevante. EOS R7 inclui estabilização de imagem no
Uma das vantagens da R7 é o buffer (memória corpo e, ao combiná-la com uma lente IS de
temporária) muito maior do que o da R10, baioneta RF, a câmera se comunicará com
tornando-a uma câmera mais capaz para fotos de a objetiva para aumentar o nível geral da
ação (ela pode gravar cerca de 100 imagens RAW estabilização de cinco eixos – os movimentos
15 fps em 2 segundos, enquanto a R10 arquiva serão estabilizados pela câmera ou pela lente,

Fotografe 309 15
Na traseira, a R7 (à esq.) tem um dial de
controle em volta do joystick; em cima,
perdeu um botão e ganhou uma chave

dependendo de qual lente está acoplada e/ou


se o uso é para foto ou vídeo.
O corpo das duas também apresentam
diferenças. De frente, são bastante parecidas,
mas na parte superior e traseira são muito
diferentes. A R10 mantém o design tradicional,
com um disco de ajuste e um dial de controle
na parte superior somado a um joystick de
comando na parte traseira. Na R7, foi extirpado
o dial de controle, substituído por uma chave
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liga-desliga de vídeo. Já o dial de controle
passou para a traseira, circundando o joystick – de 660) do que a unidade LP-E17 de 7,5 Wh na
aparentemente, não ficou mais prático. R10 (cerca de 450). A R10 vem com apenas um
Na EOS R10, o visor é menor e o monitor slot de cartão SD UHS-II ao lado da bateria em
traseiro tem menos resolução do que a R7, mas um compartimento sob a câmera, enquanto a
pelo menos mantém uma tela sensível ao toque R7 conta com slots de cartão que ficam atrás
totalmente articulada. O visor na R10 é de de uma porta na lateral da câmera, com acesso
2,63MP (1.024 x 768 pixels) com ampliação de bem mais fácil.
0,95x. Já o da R7 recebe um conjunto maior à
frente do visor OLED com ampliação de 1,15x. No modo vídeo
As baterias são outra grande diferença entre No modo vídeo, ambas as câmeras também
as duas câmeras: a EOS R7 usa a LP--E6NH de podem capturar imagens UHD 4K/60 (3.840
15,3 Wh, que oferece bem mais disparos (cerca x 2.160 pixels) nativas de seus sensores – isso
significa um corte de 1,56x para a R10 de 24 MP
e de 1,81x para os 32,5MP da R7. A R7 também
permite gravar imagens com compressão
(chroma subsampling) em 60p, 30p ou 24p a
partir de toda a largura do sensor, tornando

Ambas contam
com monitor
traseiro móvel
e sensível ao
toque, mas o da
R10 tem menos
resolução

16 Fotografe 309
Fotos: Divulgação

A EOS R7 tem dois slots para cartão de


memória no padrão SD UHS-II e bem
mais recursos para captação de vídeo

possível usar todas as taxas de quadros sem


ter de se preocupar com superaquecimento,
mas com um nível mais baixo na captação de
detalhes. As duas câmeras podem gravar vídeo
HDR PQ de 10 bits para reprodução de alta
faixa dinâmica com aparência natural em telas e
TVs, mas apenas a R7 também tem a opção de
gravar imagens C-Log 3 de 10 bits para realizar
a gradação de cores. A R7 tem ainda entrada de remotos com e sem fio, a R7 vem com um
fone de ouvido para monitoramento de áudio, sensor infravermelho para permitir seu uso com
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algo que a R10 não oferece. controles remotos IR, como o Canon RC-6.
Em termos de conectividade, a R7 oferece
uma porta USB 3.2 Gen 2 (10 GBit/s), enquanto Novas lentes
o R10 trabalha com uma porta USB 2.0 (480 Junto com as novas câmeras mirrorless
MBit/s) mais antiga – ambas podem ser APS-C, foram anunciados um par de lentes
alimentadas ou para elas: a RF-S 18-45 mm f/4.5-6.3 IS STM e a
carregadas por essas RF-S 18-150 mm f/3.5-6.3 IS STM – oferecem
portas. E, embora distância focal equivalente a 29-72 mm e
ambas possam 29-240 mm no padrão 35 mm, respectivamente.
usar controles A RF-S 18-45 mm f/4.5-6.3 IS STM é
construída com sete elementos em sete
A 18-150 mm f/3.5- grupos. Tem estabilização de imagem (OIS) e é
-6.3 e a 18-45 mm classificada para sete pontos de compensação.
f/4.5-6.3, duas A distância mínima de foco é de 20 cm e a rosca
lentes com zoom de filtro frontal mede 49 mm. Usa a tecnologia
lançadas para elas de motor de passo (STM) para acionar o sistema
de foco automático interno. Pesa 130 g e
tem sugerido de US$ 300.
Já a RF-S 18-150 mm f/.5-6.3 IS
STM é construída com 17 elementos em
13 grupos. Também tem estabilização
de imagem no mesmo nível da outra. A
distância mínima de foco é de 17 cm,
com rosca de filtro frontal de 55 mm e
a mesma tecnologia STM. Pesa 310 g e
tem preço sugerido de US$ 500.

Fotografe 309 17
Fuji lança X-H2S com A nova X-H2S chega ao
mercado americano com
sensor APS-C preço de US$ 2.499

A Fujifilm anunciou a mirrorless


X-H2S, câmera com sensor APS-C
estabilizado com resolução de 26 MP
que permite capturar até 40 imagens
por segundo com obturador eletrônico
e com foco automático total – também
pode gravar vídeo 4K em até 120p em uma
ampla variedade de codecs. A X-H2S
usa seu sensor de leitura rápida e o
novo chip X-Processor 5 para adicionar
autofoco de reconhecimento de temas
(humanos, animais, trens, aviões, motos,
carros e pássaros) e rastreamento AF mais
sofisticado, mesmo com detecção de assunto
desativada. Além de fotografar em até 40 fps,
seu buffer (memória temporária) arquiva até
184 imagens em JPEG ou 175 em RAW nessa
taxa mais rápida e mais de 1.000 JPEGs ou 400
imagens RAW à velocidade de disparo de 15 fps
com o obturador mecânico.
A Fujifilm X-H2S tem estabilização de
imagem classificada em até 7EV e um corpo
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de magnésio à prova de intempéries que inclui
uma saída de fone de ouvido, porta HDMI de
tamanho normal, porta USB 3.2 Gen 2 (10
Gbps) e um display OLED de painel superior.
Há um novo visor OLED de 5,76 MP que pode também a opção de adicionar uma unidade de
funcionar a até 120 fps e um monitor traseiro ventilador de refrigeração externa aparafusada
totalmente articulado de 1,62 MP. que aumenta os tempos de gravação de vídeo da
No lado do vídeo, a X-H2S pode capturar câmera em condições de aquecimento.
DCI ou UHD 4K em até 60p usando toda a Junto com a câmera foi lançada uma lente
largura do sensor para fornecer imagens com de zoom motorizado 18-120 mm f/4 e uma
compressão a partir de 6,2K de largura. Há supertele zoom de 150-600 mm f/5.6-8.0. A
nova câmera estará disponível a partir de julho
de 2022 a um preço sugerido de US$ 2.499
nos Estados Unidos.

A sequência de disparo
da nova Fuji chega a
40 imagens por segundo

18 Fotografe 309
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Fotografe 309 19
Clicar comida de
matéria de capa
forma profissional
envolve uma série de
conhecimentos por
parte do fotógrafo

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Alexander Landau

20 Fotografe 309
Receita para se dar
bem com fotografia de
alimentos
Especialistas dão dicas valiosas para a produção de
imagens profissionais de pratos, restaurantes, chefs,
doces, cardápios, embalagens e propaganda
POr Livia Capeli

V irou moda fazer fotos de um prato ou


bebida com o smartphone e postar nas
redes sociais para ganhar likes de amigos e
apenas fotografar e controlar a luz.
O segmento de alimentos e bebidas
também recebe nomes mais pomposos, como
seguidores. No entanto, entre um clique e fotografia de gastronomia ou de culinária, e
outro descomprometido e uma foto profissional não se resume à feitura de imagens de bem
existe uma distância gigantesca. Ao contrário montados pratos de chefs famosos. Vai desde
do que possa parecer, a fotografia de alimentos fotografar um hambúrguer para o cardápio de
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e bebidas não é tarefa para amadores, bar a uma produção mais sofisticada de imagens
pois exige bastante conhecimento técnico publicitárias para embalagens de produtos
profissional, além dos desafios impostos pelo alimentícios ou para propagandas em jornais,
próprio mercado. Um fotógrafo especializado revistas e sites. Historicamente, credita-se
no assunto precisa ter muita preparação, ao inglês William Henry Fox Talbot a primeira
experiência prática e até se tornar um gourmet, imagem de alimento do mundo, feita em 1845 e
algo que se consegue com o tempo – não basta que mostra duas cestas de fruta – na realidade,

Mauro Holanda
A lente macro é muito
usada em fotografia
de alimentos (aqui,
uma Nikkor 105 mm)

Fotografe 309 21
Fotos: Alexander Landau
uma natureza-morta, gênero que Alexander Landau diz época até chegar ao século 21, na
recorre bastante a alimentos. que todo profissional era das redes sociais, a área foi se
Do ponto de vista profissional, do segmento precisa tornando cada vez mais relevante
o segmento teria se iniciado cuidar com muita
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nos Estados Unidos nos anos atenção da montagem O fotógrafo Mauro Holanda,
1940 quando algumas empresas da comida ao clicá-la um dos nomes mais respeitados
fabricantes de alimentos lançaram da especialidade no Brasil e que
panfletos promocionais gratuitos para promover soma 40 anos de carreira, ensina que um dos
seus produtos, os chamados cookbooklets. Dessa segredos para se dar bem na profissão está em se
envolver bastante com o setor, assumindo certo
conhecimento gourmet, que vai desde entender
a diferença entre uma padaria e uma boulangerie
até saber as variedades de uvas que dominam
uma carta de vinhos. Para ele, a ignorância é
inimiga da boa foto. Sem informação, o fotógrafo
depende mais da sorte do que de perícia.
Também autoridade no assunto, Alexander
Landau diz que ter uma relação profissional
com chefs, cozinheiros e donos de restaurante,
bares, docerias, bufês e empresas no ramo
de alimentação é fundamental para captar
clientes, ser reconhecido e também garantir
uma melhor sinergia na execução do trabalho.
Landau, que começou a fotografar em 1987,
explica que os anos acumulados de experiência
o ensinaram, além de desenvolver um olhar
mais apurado, a ter mais liberdade e segurança
com os chefs para sugerir mudanças na
produção, quando necessário, pensando em
uma montagem mais harmônica do prato.

22
Fotos: Mauro Holanda
“O cozinheiro sente que você
quer agregar, entende que é um
trabalho em equipe. Bons chefs
escolhem o melhor ingrediente,
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fazem a melhor preparação e
capricham na montagem. O fotógrafo
precisa ser ágil no clique para que a
comida não ‘morra’ antes. Quando
o cozinheiro é 'ruim', aí o fotógrafo
pode ter dificuldade, portanto, de
maneira elegante e sem ofender
o orgulho dele, oriente-o para
fazer uma montagem mais afinada, de comida apetitosa. Diferentemente Mauro Holanda
evitando exageros”, ensina o expert, da imagem publicitária, que usa uma durante uma
que tem 18 livros publicados e série de truques para “enganar” os produção dentro
clientes como Kopenhagen, Sadia olhos das pessoas, o trabalho dirigido de um restaurante
e Bob's, entre outros. para restaurantes e editoriais de
Nesse setor, existe uma revistas ou sites especializados não
infinidade de possibilidades e pode ser falso – mas é claro que
peculiaridades dentro de temas existem alguns macetes para deixar
específicos. Além de Holanda e a comida com um aspecto melhor,
Landau, os especialistas Richard como aplicar um pouco de azeite A boa foto é
Cheles, Emi Parente e Ana Schad com um pincel na carne pronta para aquela que dá
também dão dicas de como trabalhar realçar o brilho ou borrifar água água na boca
com fotografia de alimentos. com glicerina para criar aspecto de de quem a vê
frescor em um drinque... Contudo, e transmite a
De dar água na boca é preciso cuidado para não deixar a
Mauro Holanda diz que uma boa cena irreal. Um produtor de culinária,
ideia de comida
foto de alimentos é aquela que dá também conhecido como food stylist, apetitosa"
água na boca e transmite a sensação é o profissional mais preparado para Mauro Holanda

Fotografe 309 23
Bons chefs escolhem os
melhores ingredientes,
fazem a melhor preparação e
capricham na montagem do
prato para que o profissional
possa fotografá-lo"
Alexander Landau

Mesmo o que pode parecer


simples deve ser bem
harmonizado para a foto

simpático e, sobretudo, torça muito para


Alexander Landau

ter uma boa luz”, alerta.


Misturar luz natural com uma pitada
de flash dedicado e um rebatedor é
uma receita que funciona bastante para
Holanda. Por isso, ele prefere usar o
sistema strobist para produzir imagens
fazer esse tipo de ajuste – veja na pág. 36. no ambiente em que a comida é servida. Dessa
Apesar de existirem muitas produções feitas forma, em vez de usar pesados flashes de estúdio,
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em estúdio, Holanda ensina que fotografar onde confia em flashes dedicados e acopla a eles
a comida é feita tem a vantagem de aproveitar o modificadores de luz como hazy ou softbox.
prato preparado na hora, a estrutura da cozinha Em termos de enquadramento, o plano
e a proximidade com o chef e o cozinheiro. Por geral do prato é bastante utilizado em foto
isso, ele prefere improvisar um estúdio dentro de gastronomia, mas um close ou um detalhe
de restaurantes, bares e docerias usando muita registrado com lente macro de um elemento
simplicidade para trabalhar. “Ninguém está contido no prato pode tornar o trabalho
nem aí para você. O barman precisa abrir o bar, ainda mais criativo. Ao enquadrar com mais
o garçom, preparar as mesas e o salão. Você, proximidade, o fotógrafo consegue gerar uma
fotógrafo, é um intruso. Portanto, seja rápido, sensação de volume e enfatiza a textura dos
alimentos – um dos atributos
que mais contribuem para dar
credibilidade às imagens de
gastronomia. Uma lente macro
e o recurso do foco seletivo
podem ampliar os horizontes
de quem pretende ingressar no
segmento, diz Holanda.
Assim como no mundo
fashion, essa área da
Arquivo Mauro Holanda

fotografia também tem

Holanda em ação com seu


sistema strobist, que usa
flashes compactos TTL

24 Fotografe 309
Mauro Holanda
Fotos: Alexander Landau

Ao lado, o chef pizzaiolo carioca Eduardo


Cunha; acima, o chef paulista Jefferson Rueda

bares, docerias e bufês, por exemplo, servem


para que esses estabelecimentos vendam melhor
a imagem do espaço que oferecem, mostrem a
dimensão dos pratos e o conceito do lugar. O foco
seus “movimentos” e tendências que ditam as nessa especialidade não está apenas na comida,
referências que ajudam a elaborar de maneira e sim no contexto, por isso o enquadramento se
mais coerente itens como composição, uso de estende a mesas, cadeiras, luzes e balcões.
cores, forma de apresentar a comida, ângulos de Como o assunto inclui enquadrar muitos
enquadramento e até o tipo de iluminação. Todos elementos, Alexander Landau diz que a
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os anos, meios de difusão especializados no preocupação que o fotógrafo precisa ter
assunto divulgam lista top trends, apresentando durante o preparo da iluminação é com o todo.
tendências de culinária. A Food Stock, agência “Como uso flashes rebatidos para preencher as
que atua exclusivamente no setor de fotografia sombras e valorizar o projeto arquitetônico do
de alimentos, elenca o que está na moda, por ambiente, é fundamental saber como lidar com
isso vale a pena conferir o site dela – as agências a mistura de temperaturas de cor das luzes do
Getty Images e Shutterstock também costumam flash, das lâmpadas (halógenas ou de outro
eleger referências.

Além da comida
Usada em material
de divulgação e editoriais
de revista e de sites,
a fotografia do lugar
onde a comida é feita
ou é servida, bem
como o retrato dos
chefs, também merece
atenção do fotógrafo
do segmento. Trabalhos
feitos para restaurantes,

A equipe dos chefs Fred


Monnier e Christophe
Lidy (de barba) em 2006

Fotografe 309 25
Fotografar o ambiente de restaurantes exige
bastante cuidado com a iluminação local

tipo) e da iluminação natural”, ensina.


Na hora de fotografar o chef ou cozinheiro,
Fotos: Alexander Landau

Mauro Holanda recomenda atenção com a


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vestimenta do profissional, que muitas vezes
está amassada ou suja por conta do ofício. É bom
também fugir do óbvio cenário da cozinha, que,
ao contrário do imaginário popular, é um local
caótico e bagunçado. “Todo salão de restaurante
tem um canto bacana que mostra bem o conceito
do ambiente, portanto, aproveite primeiro para comprometedor, grelhada demais, o aspecto
escolher o fundo, depois pensar na luz. Esqueça tostado não é bom. O ideal é o meio-termo. A
a ideia ultrapassada de retratos do chef sentado dica dos especialistas está em pedir para que
em uma mesa segurando uma garrafa de vinho. vários pedaços sejam preparados para serem
Dá a sensação que está bebendo com os amigos testados na hora de fotografar.
e não ganhando a vida”, ressalta. Landau explica que a carne precisa ser
bem cortada e ter a textura correta; já o peixe
Truques e segredos necessita ter aspecto fresco, com aparência
Além de várias outras habilidades,
o fotógrafo do segmento precisa
saber dominar a técnica de registrar
os diversos tipos de alimentos
existentes. A carne vermelha, por
exemplo, precisa estar no ponto
certo de fotogenia. Se estiver mais
crua, pode ficar com um tom azulado

O chef Claude Troisgros,


um dos mais renomados e
midiáticos do Brasil

26 Fotografe 309
Carne vermelha
precisa ser
fotografada no
ponto certo em
combinação
com uma luz
que gere brilho
e destaque para
sua textura

ainda “viva”, combinada com uma iluminação na espátula e o queijo derretido; mas o efeito
mais suave. Folhas devem ser sempre novas e só pode ser conseguido com o acréscimo de
com poucas manchas. Massas precisam estar uma dose extra do ingrediente na preparação.
no ponto de cozimento exato, pedindo uma luz Conta ainda, e muito, a agilidade do fotógrafo
que destaque a textura, o brilho do molho ou o para fotografar a pizza ainda quente, já que, se
volume do recheio – obtida com uma iluminação o queijo esfriar, o resultado é um ingrediente
mais dura na contraluz, usando até uma colmeia fosco, sem graça.
para dar mais contraste. Desafio mesmo é fotografar uma lasanha,
Para uma imagem de pizza, a sugestão é usar
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS alimento nada fotogênico. A saída é colocar
uma iluminação mais rasante, de ângulo mais um pedaço dela em um prato para mostrar um
baixo. O enquadramento deve merecer atenção pouco do recheio. Uma variação clássica é a
do profissional para destacar a borda do disco mesma saída da pizza: um naco sendo retirado
– a maneira mais clássica de fotografar uma com uma espátula, com o queijo derretendo. Já
pizza está em mostrar um pedaço levantado a iluminação deve ser pensada para enfatizar
brilho e contraste. Um pouco de contraluz,
deixando a luz mais dura para criar textura, a faz
parecer deliciosa.
Fotos: Mauro Holanda

Duas opções para fotografar


lasanha, um alimento nada
fotogênico mas muito apreciado

Fotografe 309 27
Fotos: Ana Schad
Doces e fotogênicos A especialista Ana sombras e ressaltam texturas
Deliciosos e muito fotogênicos, Schad ensina que em e cores. Mas tudo deve ser
sobremesas, bolos e doces estão fotos de confeitaria trabalhado conforme o objetivo
ganhando cada vez mais espaço as texturas, as cores e do projeto de forma a realçar a
na fotografia de alimentos. as formas devem ser
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS sobremesa. Ela lembra que doces
Segundo a fotógrafa Ana Schad, bem reproduzidas remetem à afetividade, seja com
especialista em confeitaria, cores, a família, seja com os amigos.
formas e texturas são sempre algo a explorar. A Portanto, a ideia deve ser usar a fotografia para
dica é mostrar como algumas dessas delícias são trazer esse sentimento de alguma forma e criar
por dentro – caso de bolos, bombons e outros uma conexão com o cliente.
produtos. Fotos que mostrem algum movimento, O termo é estranho, food porn, mas na
como caldas sendo jogadas ou granulados caindo, confeitaria é algo que faz muita diferença e atrai
também chamam a atenção. “Charles Spence, muito os consumidores, diz a especialista. O
psicólogo e pesquisador da Universidade de termo significa comida pornográfica, em tradução
Oxford, fala que as imagens de comida tendem a livre, porém não tem nenhuma conotação
ser mais atrativas quando negativa, e sim apelativa
o cérebro do espectador para remeter a uma
consegue facilmente comida sexy – ou seja,
simular o ato de comer, uma estética sedutora
ou seja, em ângulos aos olhos, atraente na
parecidos e utilizando apresentação. A dica
elementos como talheres então é harmonizar as
e outros itens que nos sobremesas com os
lembrem as refeições”, cenários adequados ao
explica ela. estilo de cada doce.
Ana Schad afirma Os caseiros pedem
que não existe uma algo mais rústico,
iluminação específica remetendo a casas
para doces: a contraluz antigas ou fazendas –
pode evidenciar brilhos; um antiquário pode ter
luzes laterais eliminam peças apropriadas para a

28
A primeira foto de alimento

A primeira imagem de alimento foi feita


em 1845 pelo escritor e cientista
inglês William Henry Fox Talbot, criador do
calótipo, processo fotográfico descoberto
por ele em 1836 e registrado na Royal

William H. Fox Talbot


Society, em Londres, em 1841. A foto
mostra dois cestos com um abacaxi e alguns
pêssegos. A câmera rudimentar de Talbot
usava papel de cloreto de prata e a exposição
foi de cerca de 40 minutos. A imagem
negativa era fixada em sal e submetida a
um contato com outro papel sensível – mais diversificado de adereços – embora
diferentemente dos daguerreótipos do se note que as imagens ainda continuavam
francês Louis Daguerre, criados em 1839 e mostrando muito exagero nas cores, pontua
feitos sobre uma placa de cobre que passava Thobias Almeida. Já a década de 1990
por um banho de prata, gerando imagens trouxe uma nova direção, como registros
únicas, sem uso de negativo. mais naturais e documentais de comida,
Mas foi apenas na década de 1940, com rompendo com a estética carregada,
o uso de fotografias coloridas nos Estados apresentando uma iluminação mais
Unidos, que as imagens de comida com suave: os chefs e os bastidores da cozinha
um caráter mais publicitário começeram começavam a ganhar destaque.
a ser divulgadas em livros de culinária Almeida diz que nos anos 2000 as redes
e panfletos gratuitos financiados pelas sociais ganharam força, houve crescimento do
indústrias dos alimentos processados – os desejo da exposição individual e a fotografia
chamados cookbooklets, que traziam receitas de comida virou algo popular por conta dos
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acompanhadas de imagens feitas pelos smartphones. “Os fotógrafos profissionais
fotógrafos publicitários da época. “Percebe- cada vez mais procuram se aperfeiçoar em
-se nesse momento imagens com saturação busca de estilos, para se diferenciar dos
de cores exacerbadas, iluminação dura, amadores. O Instagram adota o modelo de
cenas cheias e carregadas, sem foco nos Stories, em que as imagens se perdem em 24
detalhes. Entretanto, foi esse modelo que horas, algo impensável para um fotógrafo. Por
ajudou a popularizar e a mudar a relação fim, assistimos ao surgimento do TikTok, que
de consumo de imagens de comida junto traz uma nova cultura visual: a do vídeo e da
à sociedade”, comenta Thobias Almeida, visão vertical, modelo que acaba se impondo,
jornalista e fotógrafo especializado em assim como o formato 16:9. Essas e outras
gastronomia e um curioso sobre a história da transformações desafiam o entendimento
fotografia de alimentos. de qual será o futuro da fotografia como um
Nos anos 1980, época em que se todo”, reflete Thobias Almeida.
assistiu a uma
aceleração do
desenvolvimento
de tecnologias,
novos conceitos
ganharam força, como
a experimentação
de ângulos e o uso

No alto, a foto de
Fotos: Arquivo

Talbot; ao lado,
alguns cookbooklets e
foto dos anos 1980

Fotografe 309 29
Em fotos de confeitaria se usa o
termo food porn, uma comida
pornográfica no sentido de
ser sedutora para os olhos do
observador da imagem"
Ana Schad

é importante ter alguém focado nisso.


Mas se destacam os profissionais
que conseguem fazer composições
e cenários, já que na fotografia
gastronômica isso faz a diferença por
fazer o consumidor se aproximar mais
daquela imagem”, explica a expert.
Imagens de
confeitaria com O que importa é o visual
movimento Para imagens publicitárias, seja para
chamam muito embalagens ou propaganda, a comida
Ana Schad

a atenção precisa estar sempre mais atraente,


impecável e com aspecto apetitoso. Com
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS 18 anos de carreira, Richard Cheles é
produção desse tema. Doces contemporâneos, especialista no segmento e diz que, dependendo
como o mil-folhas, podem ser registrados com do tipo de alimento, é necessário o uso de
a própria louça proposta pelo confeiteiro, que várias técnicas e truques, o que significa que o
geralmente o prepara, e pratos grandes para alimento não necessariamente precisa estar
servir. Já o fundo deve ter tons pastel para não cozido adequadamente para consumo ou o
roubar a atenção do assunto principal – o que não ingrediente corresponda ou não à realidade do
é uma regra, caso o trabalho exija uma produção produto – como usar cola branca para imitar
mais temática. “Não são todos os fotógrafos que leite em uma foto de cereal ou espuma de
dominam a produção de cenários e há
o food stylist especializado no assunto.
Em produções grandes, principalmente,
Fotos: Richard Cheles

Richard Cheles usando um soprador


de ar quente para derreter o queijo

30 Fotografe 309
Truques para fotos de bebida

O especialista Mauro Holanda diz


que iluminar copos, taças e garrafas
pode parecer uma tarefa trabalhosa,
mas a solução é fácil de resolver: basta
usar a contraluz, que ajudará a enfatizar
a transparência e o líquido. O uso de luz
contínua é ideal para esse tipo de assunto,
pois gera um clima mais sóbrio para certos
destilados, como o uísque. Já trabalhos que
envolvem líquidos em movimento, como
vinhos sendo despejados em taças e espuma

Mauro Holanda
de chope escorrendo pelo copo, devem ser
fotografados com flash de estúdio, pois é
necessário congelar a cena.
Para imagens de bebida, espumantes
e drinques que precisam transmitir a ideia do qual é feita a bebida. Atualmente, em
de frescor, uma dica importante é sempre respeito ao consumidor, a tendência é falsear
preparar a taça ou o copo vazio colocando- o mínimo possível”, afirma o especialista.
-os no freezer momentos antes de fotografar. No caso de bebidas quentes, quase nunca
No caso de cervejas, o ideal é despejar a fumaça é verdadeira, e sim produzida pelo
o conteúdo da garrafa no copo sem que vapor. “A fumaça de vapor pode criar retícula
a bebida esteja refrigerada. Gotas que na imagem”, explica. Assim, o mais apropriado
remetem a frescor podem ser criadas com é fazer a fumaça com materiais mais
uma mistura de água e glicerina, que geram consistentes, como uma baforada de cigarro
o efeito refrescante quando borrifadas na ou um pedaço de incenso aceso colocado
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS
garrafa ou mesmo no copo. Para um colarinho cuidadosamente na beira da xícara. É um tipo
uniforme, deve-se despejar a cerveja aos de fumaça densa de ascensão vertical, sem
poucos, nunca de uma só vez. Já as borbulhas mostrar muita irregularidade na trajetória.
do champanhe podem ser produzidas Outro cuidado é com o fundo, que deve
adicionando uma pequena quantidade de evidenciar a bebida. Segundo o especialista,
sal de frutas em pó à bebida – é preciso ser o ideal é usar fundo escuro e iluminar
rápido e clicar logo após a dissolução. a cena por trás. A contraluz, além de
Existem bebidas que evidenciar a fumaça em
têm cores mais amenas bebidas quentes, ajuda a
e outras, mais espessas, ressaltar a cremosidade
não apresentam cores de algumas e o brilho de
uniformes – e isso outras. Outra dica: xícaras
atrapalha o fotógrafo. de chá devem ser clicadas
Nesse caso, Holanda cheias até a boca; já o
ensina que é possível café expresso precisa ser
acrescentar ou diminuir fotografado rapidamente
as cores para valorizar as para não perder a espuma
nuances. “Se a tonalidade característica que é
está muito forte, é formada quando ele é
possível adicionar água. tirado da máquina.
Se está fraca, o ideal é
pingar algumas gotas No alto, bebidas quentes
de tinta à base de água, com fumaça de incenso;
como o ecoline. Outra ao lado, água misturada
possibilidade é usar o com glicerina para ter
próprio xarope-base as gotículas de frescor
Alexander Landau

Fotografe 309 31
Fotos: Richard Cheles

barbear para sorvete soft na casquinha.


O que importa na publicidade é entregar Na publicidade de alimentos, o que
o visual que o cliente imagina, mesmo que a
Entre em nosso Canal no importa
Telegram: é entregar o visual que o
t.me/BRASILREVISTAS
produção não seja comível. Nesse ponto, o cliente imagina. O que quer dizer
trabalho de um profissional de food stylist é
que serão usados truques para isso"
essencial, pois, além de saber como preparar
os produtos, ele traz agilidade e qualidade Richard Cheles
superior à produção. Cheles explica que esse
tipo de foto exige um trabalho com a iluminação
mais elaborado, assim como o tratamento das O especialista alerta ainda que o profissional
imagens – diferentemente da fotografia para desse segmento precisa ter um olhar
restaurantes, na qual a exigência é maior em diferenciado e entender que na publicidade o
relação a versatilidade e agilidade da produção. nível de exigência é muito maior. “As empresas
investem muito dinheiro nisso e vão
querer o melhor. Portanto, estudar é
importante para quem deseja atuar na
área. Não há cursos específicos, mas a
prática é muito importante. Uma dica é
selecionar imagens que o fotógrafo ache
realmente boas e tentar replicá-las como
estudo para entender a luz, o tratamento
e a produção. Com isso, é possível
desenvolver o olhar e a técnica”, ensina.
Cheles lembra também que imagens
publicitárias precisam oferecer alta

Cheles acredita que o trabalho


de um food stylist é essencial para
fotos publicitárias de comida

32 Fotografe 309
Richard Cheles
Ao lado, imagem produzida
para o site de um bar da
zona norte de São Paulo (SP)

flashes de estúdio para iluminação e


um sistema radiotransmissor confiável.
“O fotógrafo da área de publicidade
de alimentos precisa saber trabalhar
com a técnica de focus stacking, ou seja,
o empilhamento de foco, que consiste
no processo de fundir várias imagens
de uma mesma cena na pós-produção,
mas com pontos focais diferentes para
ter nitidez geral na imagem, de borda a
borda”, explica Richard Cheles.

Mercado de trabalho
qualidade de reprodução, portanto, uma câmera Com 22 anos de carreira, a fotógrafa Emi
com ótima resolução é fundamental, assim como Parente realiza atualmente um trabalho voltado
lente macro, que torna tudo mais prático e com para cardápios de restaurantes. Ela conta que
mais qualidade. Ele usa a mirrorless Sony a7R IV o menu teve uma ressignificação para o modelo
de 62 MP e uma lente macro de 90 mm. Também digital, tornando-se algo mais dinâmico e
recorre a duas lentes com zoom, a 24-105 ou prático, principalmente durante a pandemia de
24-70 mm, ambas de boa qualidade óptica para covid-19, quando a única comunicação possível
o segmento – mas ressalta que a macro é a mais dos restaurantes foi por meio de aplicativos de
indicada. Outra dica é contar com ao menos três delivery e redes sociais.
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Fotos: Emi Parente

Duas imagens produzidas por Emi Parente no restaurante Chef's Table Bangkok, na Tailândia

Fotografe 309 33
10 dicas para tornar suas
imagens mais apetitosas

1 Harmonize a composição - Procure criar


um contraste de cores entre o fundo
e a comida fotografada: evite que os dois
sejam da mesma cor ou de tons semelhantes.
Mantenha o fundo simples e organizado; se
não estiver seguro de suas decisões, aposte
no fundo branco liso (ou em tons claros).

2 Use tripé - Ele proporciona estabilidade


e praticidade na hora de fotografar
alimentos, principalmente se a foto for feita
dentro de restaurantes fechados em que a
iluminação pode não ser suficiente.

Fotos: Shutterstock
Ajuste o white balance - Aprenda a
dominar os recursos da sua câmera e
O contraste de cor com
faça o ajuste de white balance (equilíbrio
o fundo destaca a comida
de branco) personalizado para que haja
no primeiro plano
fidelidade nas cores dos alimentos. Lembre-
-se: uma carne deve sempre ser fotografada
em tons quentes, pois um tom azulado sob
algumas luzes fluorescentes pode torná-la
menos apetitosa na foto.
6 Use adereços com sabedoria -
Incremente a cena com adereços,
mas sempre procurando harmonizar as

4 Chegue mais perto - Aproximar-se do


assunto destacará texturas e detalhes
mais finos, tornando o alimento mais
combinações. Por isso, é importante estudar
muito sobre o assunto. Uma massa feita com
molho branco cremoso ou à base de queijo
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interessante e intrigante. Portanto, usar uma vai bem com uma garrafa de vinho branco,
lente macro para “entrar” no prato, mantendo por exemplo.
pouca profundidade de campo, trará um
impacto visual muito maior do que uma cena
cheia, com o foco em toda a comida.
7 Abuse da luz natural - Procure montar
seu set perto de uma janela com bastante
luz natural. Se necessário, acrescente uma

5 Explore ângulos diversos - Não tenha


medo de explorar todos os pontos de vista:
esquerda, direita, superior, inferior. Mexa-se à
iluminação artificial auxiliar apenas para dar
uma suavizada nas sombras. Use difusores
ou tente rebater a luz auxiliar no teto ou na
vontade a ponto de mover até mesmo o prato parede para criar uniformidade.
para criar diferentes composições.
8 Não se esqueça dos detalhes - Usar
adereços (talheres, pratos ou tigelas)
bonitos, novos e sem marcas de uso pode
fazer toda a diferença transformando a boa
foto em algo surpreendente.

9 Use truques se for necessário - Se você


não pretende comer a comida, pode
usar alguns recursos interessantes para
melhorá-la na foto usando alguns truques
dos food stylists. Óleo vegetal ou azeite
pincelado, por exemplo, pode ressuscitar o
brilho de uma carne.

10 Valorize o interior - Dependendo


do alimento, o que está dentro pode
render uma bela foto (como bolos, por
exemplo). Corte, esfarele e pique para criar
Lentes macro são ideais para chegar perto texturas em camadas contrastantes.

34 Fotografe 309
Os cardápios hoje são mais digitais do
que impressos e isso tornou o trabalho
mais dinâmico e prático no segmento"
Emi Parente

Apesar de alguns pequenos e médios


restaurantes tentarem fotografar seus próprios
pratos com o smartphone, ela diz que ainda há
muitas oportunidades no mercado para quem
está começando na área. “Acredito que a forma
de se inserir nesse segmento, como em qualquer
outro, é fechar parcerias no modelo em que
todos saiam ganhando. Esse é o mais promissor

Fotos: Emi Parente


sempre. E, claro, ter boas conexões e networking na
área que deseja ser inserido. É possível começar
montando um portfólio mesmo com pratos feitos
em casa ou com produtos comprados prontos”,
explica ela, indicando que, quando o fotógrafo se
sentir seguro, pode procurar estabelecimentos A especialista passa adiante uma dica de
que considerem a necessidade de uma material ouro que aprendeu: o fotógrafo deve esperar
mais profissional. Aprender com os melhores, pelo menos um dia antes de começar a editar
treinar o olhar, aprimorar as técnicas por suas imagens. É preciso entender, avalia ela, que
meio de workshops, seguir as redes sociais um dia de respiro faz “amadurecer” as fotos e
de chefs, restaurantes e profissionais da área desapegar das emoções. “Essa atitude vai trazer
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gastronômica são outras boas estratégias para mais leveza na hora de editar”, acredita.
buscar um espaço no segmento.
A especialista lembra que nem sempre a foto
é somente sobre a comida, mas também de tudo
ao redor dela, ou seja, o prato em que ela fica,
o balcão ou a mesa, os vários acessórios ou as
ferramentas que podem ser usados para prepará-
-la ou comê-la. “É preciso prestar atenção aos
planos de fundo e ao estilo dos adereços. Todos
esses elementos são importantes e contribuem
para a riqueza da imagem”, explica ela.
Emi Parente também ressalta que a
incorporação de um elemento humano na
fotografia de alimentos deve ser considerada
quando possível, pois isso pode trazer mais calor,
maior proximidade. Outra dica é simplificar
sempre, evitando a perfeição quase plastificada:
“Hoje em dia, até mesmo restaurantes de chefs
renomados oferecem menu executivo e acessível.
O toque muito perfeccionista na foto às vezes
pode mais distanciar do que vender. Mas é claro,
sempre argumentando isso com o cliente, que é
quem decide”, explica.

No alto e ao lado, duas fotos feitas no


ateliê do chef Joël Robuchon, na França

Fotografe 309 35
Fotografia de alimentos O food stylist, ou
produtor culinário,
é o responsável por
tornar a comida mais
atraente para os olhos

Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS

A era do food styling


Veja por que o trabalho de um produtor culinário é
essencial tanto em fotos de pratos para restaurantes
quanto em produções com alimentos para publicidade
36 Fotografe 309
Fotos: Alexander Landau

A harmonização visual dos ingredientes, com atenção aos detalhes, é o objetivo do food styling

POr Livia Capeli

Entre em Q
uando se trata de fotografar alimentos,
nosso Canal no Telegram:
seja para a produção de gastronomia,
harmonização do visual, desde a compra de
t.me/BRASILREVISTAS
matéria-prima até a confecção/finalização
editorial ou publicidade, o fotógrafo não é o do prato – e, quando possível, até estudar o
único responsável pelo bom andamento do comportamento do alimento, pensando em
trabalho. Por trás de uma atraente e perfeita oferecer o melhor resultado para a foto.
imagem, existe o trabalho de um food stylist
(estilista de comida, em tradução livre), ou Truques e jeitinhos
produtor culinário, para quem prefere um Food stylist, consultor gastronômico e autor
termo em português – uma área dominada por do livro Food Styling – o guia definitivo para
mulheres. Esse profissional é responsável por produções de comer com os olhos, Juliano Albano
acertar todos os detalhes do alimento ou da explica que é muito comum algumas pessoas
bebida que será fotografada para torná-la mais pensarem que a produção de todos os alimentos
atraente aos olhos de quem vê. sempre demanda o uso de produtos químicos
Com 30 anos de profissão, a food stylist ou truques muito mirabolantes – segundo ele,
Norma Lima é um dos nomes mais respeitados no em alguns casos é verdade, principalmente
mercado brasileiro do segmento. Com trabalhos na área de publicidade, mas é possível usar
produzidos para Coca-Cola, Sadia e Perdigão, ela apenas produtos comestíveis nas produções.
conta que a função consiste em usar as técnicas “Existem vários vídeos na internet que ajudam
corretas para ressaltar o brilho, a textura e a a disseminar lendas sobre o food styling que eu
cor do alimento, permitindo que o fotógrafo mesmo tive de testar para comprovar que não
se concentre no cuidado com a iluminação, os funcionam. Usar óleo de motor para uma cena
enquadramentos e os ângulos. de mel caindo sobre panquecas é uma delas.
Outra veterana no assunto, Beth Freidenson, Existem ingredientes que podem substituir
que tem no portfólio produções para revistas o mel, como a glucose de milho (Karol), e que
como Gula, Prazeres da Mesa e Claudia, diz funcionam muito melhor, são mais baratos e não
que o profissional dessa área precisa ter vão vazar no material de trabalho do fotógrafo”,
muito conhecimento prático e bom senso na comenta Juliano Albano.

Fotografe 309 37
Para a propaganda
do cereal, o leite foi
substituído por cola
branca e um produtor
culinário cuidou da
preparação de todos
os detalhes (abaixo)

não é totalmente
Entre em nosso Canal no Telegram: assado: é banhado em água
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fervente para esticar a pele, na qual é passado
um produto limpa-vidros para melhorar a
aderência de uma mistura de molho de soja
(shoyu) e mel que é pincelada em seguida para
maquiá-la. Aí então vai ao forno por pouco
tempo para não perder a água e murchar:
“Outra coisa que fazemos é substituir leite por
cola branca quando precisamos fazer foto de
iogurte dentro de uma tigela com frutas ou
Fotos: Richard Cheles

granola por cima. A cola branca não deixa nada


afundar. Hoje em dia usamos truques o menos
possível e nada que estrague muito a comida,
pois existem muitos recursos que podem ser
aplicados e melhorados no Photoshop, caso da
fumaça”, diz Livia Ortolani.
Os sócios Lívia Ortolani e Paschoal Midea Albano lembra que uma grande diferença
já estiveram à frente de produções para nas produções para restaurantes é justamente
empresas como McDonalds, Burger King, a característica de foto “mais real” e o fato de
Marba e Kibon. Eles afirmam que atualmente poder contar com a equipe de cozinha, que, com
a fotografia de alimentos está mais realista e base em um planejamento, prepara tudo que
orgânica, porém já atuaram em uma época em será necessário para produzir a foto, fazendo
que tudo era mais fake, com o uso de mockups com que se consiga registrar mais pratos
(peças feitas com plástico ou resina que imitam dentro do período de uma diária. Nesse caso, o
alimentos). Entretanto, sempre existe um trabalho do food stylst consiste em usar técnicas
truque que faz toda a diferença. de posicionamento correto de cada insumo,
O peru de Natal, por exemplo, na verdade melhorar o empratamento e fazer o acabamento

38 Fotografe 309
Espuma de
barbear é
um truque
para fotos
de sorvete
cremoso de
casquinha,
já que é mais
firme e não
derrete tão
facilmente

tarê industrializado e caramelo, usados para


transmitir a ideia de tostado ou caramelado.
Para posicionar e dar estrutura, sempre é bom
contar com alfinetes, isopor e palito de dente.
Beth Freidenson diz que cada tipo de lâmina
de faca tem funções diferentes: as de serra,
por exemplo, servem para cortar pães, sem
amassar a parte interna. Tesouras pequenas são
para reparos minuciosos e pinças de diversos
modelos são fundamentais para posicionar os
ingredientes de maneira detalhada. “O bom
– podendo usar até algum truque de pintura senso é o melhor truque, até em cortar em
ou brilho para sugerir frescor ou suculência, gomos um simples limão. A intimidade com o
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quando necessário. alimento traz essa percepção na observação
de sua forma e na delicadeza em manuseá-lo”,
Ferramentas de trabalho esclarece Beth.
Norma Lima explica que um profissional food Os especialistas ressaltam que o olhar do
stylist atende desde um pequeno empreendedor food stylist deve ser a ponte do olhar da vida
que precisa vender seus produtos até grandes real para o olhar da câmera do fotógrafo, já que
marcas de alimentos, sendo convocados por sempre há uma diferença, mesmo que sutil.
estúdios de fotografia, agências de publicidade, Às vezes, até no ponto do cozimento, que é
produtoras de vídeo e até diretamente pelo diferente para o consumo e para a foto.
cliente final. E, para cada produção, é
necessário um material, destacando
principalmente os equipamentos
de cozinha, pois na maioria das
vezes a equipe de food styling
precisa preparar os alimentos.
Contar com facas bem afiadas,
tábuas de corte, maçarico para
fazer tostados, soprador térmico
para derreter queijos, pincéis
para pincelar, tesouras, tintas de
acabamento – como molho shoyu,

Harmonização visual de
petiscos para fotos
de divulgação do cardápio
de um bar paulistano

Fotografe 309 39
Aula com Brasilio Criatividade com mini LED
C om os marketplaces cada vez mais em
alta, adquirir todo tipo de gadgets e
novidades em acessórios para fotografia
ativar a criatividade dos fotógrafos, como
o paraense Brasilio Wille – em uma rápida
busca no Google, ele já encontra uma porção
ficou muito mais fácil para os usuários de alternativas com preços atraentes.
brasileiros. Bastão de Led RGB, flashes, Na onda dos dispositivos Made in
novidades em projetores com efeitos de China, o especialista aproveitou para
luz, painel de LED e luz portátil são apenas montar um esquema de luz criativo com
algumas das tecnologias chinesas para um pequeno LED da marca Ulanzi, modelo

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Quatro dos vários tons de luz que o mini-LED pode emitir: no total, são 359 cores RGB
Fotos: Brasilio Wille

40
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VL49 RGB (200 mAh), que Acima,
custou a bagatela de R$ 76 no produções
site AliExpress e tem, segundo feitas por
ele, Índice de Reprodução de Brasilio Wille
Cores (IRC) de 95 – o IRC é com o mini-
uma medida quantitativa da -LED chinês
capacidade de uma fonte de
luz de reproduzir as cores e
os objetos em relação à luz
natural; um IRC entre 80 e 100
é a medida ideal para fotografia.
Apesar do tamanho de
apenas 7 x 6 cm não impor muito
respeito, o mini-LED oferece 359 tipos de cores
RGB diferentes e temperatura de cor ajustável entre
2500K a 9000K, alternando a luz de fria para quente
sem complicação. “Esse equipamento tem um
engate que permite acoplar mais LEDs do mesmo
modelo, como se fosse um Lego, potencializando
ainda mais a iluminação. A bateria dura uma média O acessório
de duas horas em carga total. Outro modelo de iluminação
diferente, o mini-LED de luz branca, pode ainda mede apenas
ser aproveitado para fazer luz de preenchimento 7 x 6 cm e
associada à luz natural”, explica Brasilio Wille. custa R$ 76

Fotografe 309 41
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Com pisca-pisca
Para exemplificar como é usar o acessório
de iluminação chinês, Brasilio Wille montou uma
produção com dois mini-LEDs VL49 RGB em
um set no qual usou uma lona como fundo e dois
tripés simples. Um suporte articulado para flash
compacto TTL foi improvisado pelo especialista Ficha técnica
para prender os iluminadores, de forma a Câmera: Canon EOS Mark III
posicioná-los à direita e à esquerda, apontados Objetiva: Canon 70-30 mm f/4-5.6
para a modelo. Nesse primeiro teste, Brasilio Exposição: f/4.5, 1/100s e ISO 16.000
Wille usou uma cortina de pisca-pisca natalino
como fundo da cena com a finalidade de deixar
a composição mais atraente. Durante a captura
da imagem, o fotógrafo deixou o mini-LED da
esquerda programado para disparar de maneira
contínua trocando de cor, o que proporcionou
imagens com tons diferentes a cada clique.

42 Fotografe 309
Para colorir o fundo
EntreNaem nosso
segunda Canal
produção nopara
realizada Telegram:
testar t.me/BRASILREVISTAS
o pequeno equipamento chinês, Brasilio Wille
optou por deixar a programação dos mini-LEDs
estática. Retirou as luzes pisca-pisca de fundo e
deixou apenas a lona. O iluminador posicionado
do lado direito da cena ficou programado na cor
azul, enquanto o da esquerda foi apontado para
o fundo do set, iluminando-o com a cor magenta
para formar um efeito degradê. O especialista
alerta para o fato de que o ajuste do equilíbrio de
branco (white balance) deve ser regulado para luz
do dia nessa situação, o que faz com que o efeito
da cor seja correspondente ao tom emitido pelos
pequenos iluminadores de LED.

Ficha técnica
Fotos: Brasilio Wille

Câmera: Canon EOS Mark III


Objetiva: Canon 85 mm f/1.8
Exposição: f/2.8, 1/200s e ISO 16.000

Quem é Brasilio Wille Aprenda mais nos Conheça mais o trabalho


Amanda Müller

Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
de técnicas simples e práticas em cursos e do YouTube (41) 99943-0607 43
workshops presenciais ou online. Fotografe
www.youtube.com/user/Brasiliow 309
(informações sobre cursos)
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Cultura As imagens surgem
após pinceladas no
papel em branco
sobre o qual é posta
uma matriz

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São Miguel
Arcanjo
registrado na
entrada do
antigo prédio
do DOPs do
Rio de Janeiro
virou uma
"iluminura"

A mão que balança


as iluminuras
O consagrado diretor de cinema e televisão Walter
Carvalho une fotografia e pintura para criar obras
únicas com a técnica primordial da platinotipia
46 Fotografe 309
Fotos: Walter Carvalho

Mistura líquida de paládio, platina e óxido de ferro


Entre em
Pornosso Canal
Sérgio no Telegram:
Branco é a t.me/BRASILREVISTAS
base do processo centenário da platinotipia

À s voltas com as gravações da


novela "Pantanal", da Rede Globo,
na qual é um dos diretores, e estudando
projetos de cinema para o futuro, o
consagrado Walter Carvalho, 75 anos,
não abre mão de praticar a fotografia
diariamente. Essa paixão o levou ao
envolvimento com técnicas primordiais
do fazer fotográfico, caso da platinotipia,
criada no final do século 19, e deu origem
à série Iluminuras, um conjunto de obras
únicas que surgem de uma mistura
líquida de platina, paládio e óxido de ferro
sobre o papel, que, na sequência, será
coberto por uma matriz, dando origem,
algum tempo depois, a uma imagem que
o autor não sabe bem no que vai dar, pois
nasce do gesto da mão a balançar o pincel
embebido com a “poção mágica”.
Um conjunto de 17 imagens de
Iluminuras ficou exposto na Mul.ti.plo
Espaço Artes, no Leblon, zona sul da
capital fluminense, até o final de junho
de 2022, e poderá ser apresentado em

Fotografe 309 47
Primeiro eu
passo a platina
com o pincel no
papel e depois
coloco a matriz,
que pode ser
um fotolito,
sobre essa parte
pintada para
gerar a imagem"
Walter Carvalho

outras galerias. Patenteada em 1873 pelo do sol nas horas vagas em coisas pequenas.
inglês William Willis, a platinotipia entrou na “Tenho guardado todos os primeiros testes
vida de Walter Carvalho por uma questão que foram feitos, eles têm um valor danado
prática: o processo não necessita do escurinho para mim. Fui ficando cada vez mais fascinado.
do laboratório, já que o trabalho pode ser Como eu gosto de desenhar, o fato de ter a
feito à luz do dia (o Sol, aliás, é uma das etapas ação da minha mão é algo incrível”, afirma.
fundamentais). Até então, ele operava com a Tempos depois, quando começou a achar
tradicional gelatina de prata em casa, à noite. que estava dominando o processo, percebeu
“Minha mulher ia dormir na sala e eu ficava que nem sempre dava para contar com o Sol
no quarto, que tinha menos entrada de luz, quente da cidade do Rio de Janeiro. “Às vezes
e passava a noite emulsionando papéis com fica nublado, com muita névoa, e eu preciso de
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gelatina de prata. Colocava no próprio saco Sol intenso, de 10 a 15 minutos de exposição.
preto das caixas de papel e depois ia para o Assim, passei a usar caixas de luz ultravioleta
laboratório. Como o meu estava desativado, do Estúdio Baren, do João Sanchez e do
usava o dos amigos Beto Felício e Tiago Joaquim Marçal. Alugava o espaço lá no Rio
Barros”, lembra o fotógrafo. Comprido, zona norte, e trabalhava com mais
Como às vezes havia um grande acuidade”, conta Walter Carvalho.
desperdício de tempo porque nem sempre Outra descoberta que fez durante a fase de
o processo dava certo e ele tinha que jogar domínio da platinotipia era que as imagens que
tudo fora, em meados dos anos 2000, Walter ele tinha no acervo, usadas como matriz (fotolitos
Carvalho começou a estudar a platinotipia, de origem fotomecânica e transparências
pois os processos dos primórdios da fotografia
sempre o atraíram. “Ao descobrir que a platina
podia ser exposta ao Sol, isso me encantou.
A exposição é longa, mas era possível fazer
usando a luz ambiente. Não precisava de
laboratório, podia usar a janela da minha casa,
uma maravilha”, comenta.

Ao lado de mestres
Na sua pesquisa, Walter Carvalho se
deparou com grandes nomes da fotografia que
também tiveram seus momentos dedicados
à técnica da platinotipia: Alfred Stieglitz,
Edward Weston, Robert Mapplethorpe, Irving
Pen, Paul Strand... Tomado pelo entusiasmo,
intensificou os testes, trabalhando com a luz Foto feita especialmente para virar "iluminura"

48 Fotografe 309
Fotos: Walter Carvalho

impressas de origem digital), não Uma "iluminura" – razão pela qual foi de certa
Entre em nosso Canal no Telegram:
“casavam” bem com o processo,
t.me/BRASILREVISTAS
jamais é igual à outra, forma abandonado por muitos
faltava alguma coisa. Por isso, mesmo saindo da fotógrafos ao longo de décadas
Walter Carvalho começou a mesma matriz, já passadas. “É muito caro por causa
fotografar para essa finalidade. que o gesto da mão é do alto preço da platina, mais
“Passei a olhar para o assunto como sempre diferente valiosa que ouro. Já gastei alguns
quem vê ali uma imagem à base de milhares de dólares importando
platina sendo trabalhada. Na época, a série ainda o material porque não encontro platina no
não se chamava Iluminuras”, comenta. Brasil”, revela Carvalho. As pinceladas com
O nome, aliás, vem do latim illuminare, ou a mistura à base de platina são dadas sobre
iluminar, e não tem relação com as iluminuras da papéis para gravura, para aquarela ou um
Idade Média – pinturas decorativas e pequenos especial da Hahnemühle para platina. “Trago
desenhos que ilustravam a Bíblia, saltérios (livro tudo de fora, com exceção do fixador”, diz.
de salmos), pergaminhos e livros de alquimia. “No Por ser um processo em que não há como
meu caso, tem relação direta com a questão da prever o resultado exato, Walter Carvalho
luz. Além disso, gosto da palavra iluminura, me ressalta que é impossível ter duas "iluminuras"
dá prazer em ouvir e pronunciar”, diz o fotógrafo. iguais, ou seja, cada obra é única, pois depende
O que faz certo link com as iluminuras medievais do gesto da mão no momento de pincelar. “O
é o trabalho manual, observa Carvalho, pois as resultado é a expressão da mão. Com a mesma
imagens finais da platinotipia são criadas à mão, matriz eu posso fazer semelhantes ou outras
como uma pintura. versões que jamais serão iguais”, explica.
Hoje, quando sai para fotografar, diz que põe
Alto preço em ação um “olhar das iluminuras” tal seu
Se o processo criado por sir Willis cerca envolvimento com o platinotipia.
de 150 anos atrás facilita a vida de Walter Para um bom entendimento das fases da
Carvalho por prescindir de laboratório, por criação da imagem, ele descreve o processo:
outro lado, pesa no bolso, pois é bem caro “Você está diante de uma folha em branco,

Fotografe 309 49
Fotos: Joaquim Marçal
Divulgação

No sentido horário, Carvalho pintando


o papel, examinando o resultado após a
lavagem e conferindo frascos de platina

pensa em uma imagem que tem na cabeça ou minhas iluminuras”, explica Walter Carvalho.
olha para uma pequena ampliação na mão, ou
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTASHoje, com um dos diretores da equipe
um contato, quando é o caso de fotomecânica, da novela "Pantanal", diz estar afastado do
e imagina que naquele papel de 56 x 76 cm vai cinema por causa de projetos sucessivos na
nascer uma iluminura. Age com a mão, com o Rede Globo. Informa que apenas colaborou
gesto, com o pincel embebido na platina e outros no início para uma conceituação imagética de
elementos. Espera secar e depois sobrepõe "Pantanal", cuja direção de fotografia está a
àquele papel pincelado a sua matriz, um fotolito cargo de Sérgio Tortori. “Na novela eu apenas
feito em gráfica ou uma transparência criada dirijo um grupo de atores, não dou palpite
via computador, ambos do mesmo tamanho do no ponto de vista de imagem. Me reporto ao
papel. Posso colocar um vidro em cima, para diretor artístico Gustavo Fernandez”, conta. Já
sanduichar as duas partes, ou usar uma câmara a prática da fotografia é uma atividade diária,
de vácuo para chupar e ficar tudo pressionado. confessa. “Fotografo todo dia, nem que seja
Exponho à luz ultravioleta entre 8, 10, 12, 15 da janela da minha casa. Abro a janela e faço
minutos, dependendo do contraste, e depois uma foto da paisagem. Não abro mão de me
dou um banho revelador com amônia, outro com alimentar de uma coisa que faz parte de mim,
fixador e lavo. Nasce assim uma iluminura”. que é a fotografia”, afirma.
Experimentado pela vida, com 50 anos de
novas iluminuras carreira como um dos principais diretores de
Fascinado, o fotógrafo pretende continuar fotografia do cinema brasileiro, Walter Carvalho
com a série de "iluminuras" e vai passar para gosta de frisar que para ele não interessa aonde
uma nova fase: fazer duas exposições, ou seja, chegar, e sim de onde partir. Leitor semanal ou
trabalhar uma forma sobre a outra, segundo quinzenal do poeta João Cabral de Melo Neto,
ele, criando contradições ou aproximações, lembra um poema que diz: “Fazer no extremo
harmonia ou desarmonia entre elas, para onde o risco começa”. Reforça que adora o
gerar uma terceira imagem. “Vou pesquisar e desafio de fazer aquilo que ainda não conhece,
começar a trabalhar com isso. Essa série com por isso o investimento de tempo e dinheiro em
a superposição de áreas é a segunda etapa das um processo fotográfico de 1873.

50 Fotografe 309
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