Fotografe

A revista que valoriza a fotografia brasileira

fotografemelhor.com.br
n0 310 | Ano 26

Fotografia de
MODA
Dicas e informações valiosas de especialistas
para trabalhar com editorial, publicidade,
e-commerce, influencers, desfiles e redes sociais
EDITORIAL
20
Ano 26
Vanessa Carvalho

Edição 310

Foto de capa:
Inara Prusakova
Shutterstock

G lamour e suor; ostentação e ralação; "carão" impávido para o público e chilique

de insegurança nos bastidores. Quem já acompanhou um desfile de moda de
padrão internacional sabe os perrengues que ocorrem longe da passarela. O foco
voltado para as top models e os disparos incessantes de cliques dos fotógrafos mostram
apenas o lado mais festejado, conhecido e midiático da fotografia de moda. Contudo,
o segmento é muito mais do que isso. Há uma série de nichos que, se bem explorados,
podem representar um mercado rentável, como o e-commerce. Quanto aos editoriais
de moda, outrora muito valorizados em revistas impressas, hoje podem ser explorados
na internet via redes sociais. Nesta edição, contamos um pouco sobre esse mundo
que vem perdendo o glamour desde os anos 1980, mas não a
força mercadológica. Confira dicas dos especialistas ouvidos
pela jornalista Livia Capeli e saiba mais sobre esse setor que já
consagrou grandes nomes na história da fotografia.

Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
EQUIPE DE REDAÇÃO NA PASSARELA branco@europanet.com.br
Denise Camargo (revisora), Izabel Donaire
(editora de arte), Livia Capeli (colaboradora
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
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REVELE-SE

Entre o céu e o rio

Durante dois dias e meio, o fotógrafo Celso Lobo saiu
em viagem pelas águas do Rio Amazonas com o objetivo
de registrar a população ribeirinha. No trecho entre
Santarém e Belém, mais precisamente na entrada do FICHA TÉCNICA
Estreito de Breves, ele avistou uma tromba d'água no Autor: Celso Lobo
meio do rio. Celso estava na cabine de comando do Cidade: Belém (PA)
navio e teve de descer correndo para o primeiro andar Câmera: Canon EOS 5 D Mark II
da embarcação para conseguir realizar a composição Objetiva: Canon 16-35 mm
entre a natureza e a proa do navio. A cena não demorou Exposição: f/2.8, 1/500s e ISO 100
mais do que sete minutos.

4 FOTOGRAFE 310
Mar de melancolia
Adriano Silva estava na Praia do Cardoso, em Laguna (SC),
quando flagrou um grupo de pescadores tirando o barco
FICHA TÉCNICA
do mar diante da tempestade que se anunciava graças
a um céu extremamente carregado. O local abriga uma Autor: Adriano Silva
vila e a pesca é a principal atividade de muitas famílias, Cidade: Laguna (SC)
que abastecem restaurantes e consumidores da região. Câmera: Fuji X-E1
Repleta de galpões e pequenos barcos, é a praia mais ao Objetiva: Fuji 14 mm
leste da costa sul do Brasil, cheia de rochas, com mar bravo Exposição: f/5, 1/500s e ISO 100
e muitas ondas – um paraíso para surfistas.

Como participar: envie para fotografe@europanet.com.br no máximo duas fotos em arquivo digital e
informe nome, telefone, ficha da foto (equipamento, dados técnicos...) e faça um breve relato sobre as imagens.

FOTOGRAFE 310 5
CONCURSOS & PRÊMIOS

Jatenipat Ketpradit
TAILANDÊS E BRASILEIRO SE
DESTACAM EM CONCURSO
Acima, o retrato de
O tailandês Jatenipat Ketpradit foi o vencedor geral da segunda edição
do concurso International Portrait Photographer of the Year 2022,
organizado na Austrália. Ketpradit fez uma série com quatro grandes retratos
um guerreiro Suri, e o mais impressionante é o de um guerreiro etíope da tribo Suri, etnia
tribo da Etiópia; que vive nas montanhas da Etiópia. As armas de fogo, como o rifle AK-47,
abaixo, a imagem entraram na vida das tribos etíopes e isso tem provocado vários problemas,
que deu prêmio explica o fotógrafo. Ele usou duas meninas da tribo vestindo um “chapéu”
ao brasileiro florido, de longa tradição na cultura local, para passar a ideia de flores versus
Daniel Taveira, armas – como vencedor geral, ele recebeu US$ 3 mil.
de Palmas (TO) Na categoria Retrato Ambiental, o brasileiro Daniel Taveira, de Palmas
(TO), foi o primeiro
colocado com uma foto
Daniel Taveira

da série Antropogênico,
trabalho que visa
denunciar o descaso
com o meio ambiente na
Amazônia – ele ganhou
US$ 1 mil como vencedor
da categoria. Os 101
melhores retratos serão
publicados em livro. Para
conhecer as demais fotos
premiadas, acesse: https://
internationalportrait
photographer.com.

6 FOTOGRAFE 310
 A VOLTA DO PRÊMIO
CONRADO WESSEL
Tadeu Vilani
Depois de cinco anos de hiato,
um dos mais importantes concursos
para fotógrafos brasileiros volta a
abrir inscrições: o Prêmio Conrado
Wessel de Fotografia. O prazo vai
até 10 de setembro de 2022, aberto
a profissionais ou não, que podem
submeter ensaios fotográficos ao
tema geral “Clima, Meio Ambiente e
Biodiversidade”.
Os ensaios devem ser compostos
de dez fotografias de acordo com o
tema geral, de conteúdo etnográfico,
paisagístico, ecológico e socioambiental,
desenvolvido em território brasileiro.
O portfólio encaminhado digitalmente
para avaliação deverá conter imagens de um mesmo trabalho, e não de Acima, uma das
fotografias avulsas e sem conexão. O trabalho deve ter sua produção imagens do ensaio
realizada e comprovada a partir de 10 de janeiro de 2020. TVP&B, que deu
Serão selecionados entre os inscritos os três melhores ensaios, avaliados ao gaúcho Tadeu
quanto a aspectos técnicos, beleza, composição, forma, originalidade, Vilani o Prêmio
qualidade cultural, unidade de conjunto (edição e narrativa) e capacidade Conrado Wessel
de comunicar o tema sem o auxílio de texto. Os prêmios serão R$ 60 mil na edição de 2011
(primeiro lugar), R$ 25 mil (segundo lugar) e R$ 15 mil (terceiro lugar). Para
mais detalhes, acesse: https://www.fcw.org.br/fotografia.

PORTUGUÊS VENCE CRIATIVE AWARDS 2022

Com uma imagem batizada de “A
Falsa Ilusão”, o fotógrafo português André
Boto foi escolhido o vencedor geral da
edição 2022 do Creative Photo Awards,
o concurso dedicado à fotografia artística
e criativa no Siena Awards, festival
internacional de artes visuais. Feita em
Montijo, Portugal, a foto destaca a poluição,
um problema contemporâneo que é muitas
vezes subestimado.
Boto trabalha em Lisboa com projetos
autorais e fotografia comercial (arquitetura,
interiores, indústria, produto e publicidade).
Ele superou dezenas de milhares de imagens
enviadas por fotógrafos de
128 países. Para conhecer
os vencedores das 17
categorias do Creative
Photo Awards, acesse:
https://creative.sienawards.
com/gallery/2022.

A poluição foi o tema

explorado pelo fotógrafo
português André Boto
André Boto

FOTOGRAFE 310 7

GRANDE ANGULAR
FRANCÊS LANÇA LIVRO
SOBRE O FUNK CARIOCA
A efervescência cultural do funk carioca,
no seu universo de ritmos, rituais,
territórios e identidades, atraiu o olhar do
fotógrafo francês Vincent Rosenblatt, que se
radicou no Brasil e se dedica a registrar esse
mundo que ainda causa polêmica e as cenas
das Festas Pretas desde 2005. O trabalho
está sintetizado nas 200 páginas do livro
Rio Baile Funk, editado pela {Lp} press e
impresso na gráfica Ipsis.
Rosenblatt vem dedicando noites
insones aos bailes funk, mergulhando
no corpo a corpo com os funkeiros para
documentar esse fenômeno cultural
nascido como um movimento nos anos
1980. Cada pessoa
retratada no livro
8
Fotos: Vincent Rosenblatt
O fotógrafo
francês reúne
na obra imagens
do funk carioca
que ele vem
captando
desde 2005
receberá um exemplar, assim como os DJ’s
e os produtores de bailes, que convidaram o
fotógrafo para ir às suas favelas, aos bailes e
aos clubes suburbanos ao longo dos anos.
Não se trata de um livro sobre a história
do funk nem sobre seus mais famosos
protagonistas. Rosenblatt preferiu registrar
as emoções, os movimentos e as cores que
ditam o ritmo. Assim, o livro é feito desses
fragmentos e das centenas de noites e
noites viradas ao longo dos últimos 17 anos.
O objetivo é ser uma espécie de experiência
de baile por meio dos recortes do autor –
o preço da obra é de R$ 170, e para saber
como adquiri-la basta acessar o site
www.vincentrosenblatt.net.
Nascido em 1972 em Paris, França,
Vincent Rosenblatt vive e trabalha
no Rio de Janeiro. Estudou História e
Antropologia na Sorbonne, trabalhou
como fotojornalista e descobriu o Brasil
em 1999, graças a um intercâmbio
estudantil. De 2002 a 2008, desenvolveu
o projeto Olhares do Morro (www.
olharesdomorro.org), no Morro Santa
Marta, zona sul do Rio.
Ao lado, a capa do livro e uma
das imagens que demonstram a
intimidade do fotógrafo com a cena
JOÃO MARCOS ROSA É
ESCOLHIDO PELA ILCP

Fotos: João Marcos Rosa

mineiro João Marcos Rosa, 43 anos, é
o mais novo membro da International
League of Conservation Photographers
(ILCP) – ou a Liga Internacional dos
Fotógrafos pela Conservação, em tradução
livre. O anúncio foi feito em 28 de junho
de 2022 e marca o êxito do profissional O fotógrafo
ao ser escolhido para fazer parte da mais mineiro vem
importante organização fotográfica mundial se dedicando
voltada para a proteção do meio ambiente. ao segmento
A ILCP reúne os de natureza e
principais nomes mundiais vida selvagem
da fotografia e do cinema desde 1998
ligados a natureza, vida
selvagem e meio ambiente, Sartore, da mexicana Cristina Mittermeier
muitos deles referências e do holandês Frans Lanting, entre outros
para o brasileiro desde que grandes nomes. Criada em 2005 e com sede
ele começou a fotografar, em Washington-DC (EUA), a ILCP tem base
caso dos americanos em outros 26 países e hoje conta com cerca
David Doubilet e Joel de 120 membros ao redor do mundo. João
Marcos Rosa é apenas o segundo brasileiro a
João Marcos Rosa é o integrar esse time, pois até aqui essa honraria
segundo brasileiro na ILCP era apenas do celebrado Luciano Candisani.

LIVRO DE CANDISANI DE GRAÇA VIA CORAL VIVO

Que tal baixar de graça a versão digital feitas por Candisani no litoral de São Paulo,
de um livro de 174 páginas do renomado nas suas andanças a bordo do veleiro Hiva
Luciano Candisani? É o que propõe o Oa. É um mergulho na biodiversidade dos
Instituto Coral Vivo com a publicação ecossistemas marinhos do litoral paulista,
Atlântico Paulista – Carta de Navegação que Candisani conhece como poucos e
pela Biodiversidade, com imagens inéditas que há anos vem explorando equipado
do célebre fotógrafo, também biólogo, com câmera e lente em caixa-estanque,
mergulhador e navegador. A obra está máscaras, nadadeiras e cilindros de ar. O
disponível para download gratuito desde projeto, patrocinado pela Petrobras, foi
8 de junho de 2022, Dia Mundial idealizado por Tito M. C. Lotufo,
dos Oceanos, no site do Projeto Litoral paulista: coordenador regional do Coral
Coral Vivo – acesse o link https:// golfinho- Vivo em São Paulo e professor
coralvivo.org.br/o-que-fazemos/. -pintado-do- da USP (ele é um dos maiores
O livro Atlântico Paulista reúne -atlântico e especialistas brasileiros em
83 fotos, a maioria subaquática, ouriço-do-mar biologia marinha).
Fotos: Luciano Candisani

FOTOGRAFE 309 9
FOTOGRAFIA DE PAISAGEM
Imagem noturna de longa exposição captada com a zoom grande angular Nikkor 14-24 mm
APAIXONADO PELA
GRANDE ANGULAR
POR MARCELO PORTELLA (TEXTO E FOTOS)
U ma das minhas grandes paixões na
fotografia sempre foi usar a lente grande
angular. Começou em 2000 com uma Nikon
24-120 mm com as câmeras Nikon N80 e a
lendária FM2, ambas com filme 35 mm. O uso
desse tipo de lente expande as possibilidades
na fotografia de paisagem e de arquitetura,
principalmente pelo controle das distorções,
pela criação do senso de escala e perspectiva
com o aumenta da proporção do céu,
mantendo o primeiro plano na composição.
Na migração para o sistema digital em
2005, comecei com a Nikon D70 e a grande
angular Tokina ATX Pro 12-24 mm f/4. Depois,
na busca por aumentar o ângulo de visão,
mudei para a Tamron 10-24 mm. Essa lente,
porém, não tinha a mesma qualidade da Tokina,
apenas ganhei mais ângulo de visão.
10 FOTOGRAFE 310
Em 2010, decidi investir em uma câmera
full frame. Como a Nikon demorou para lançar
a sucessora da D700, migrei para a Canon EOS
5D Mark II em conjunto com a grande angular
17-40 mm f/4, e foi uma boa experiência. No
ano seguinte, a Nikon lançou a linha D800 e
logo vi a possibilidade de ter a notável Nikon
14-24 mm f/2.8. Vendi todo o sistema Canon e
voltei para a Nikon em um piscar de olhos.
A objetiva Nikon 14-24 mm é uma ultra
grande angular com altíssima qualidade,
sonho de consumo de fotógrafos de paisagem
e arquitetura por diversos motivos, como
ter incrível nitidez nos cantos mais distantes
e oferecer uma imagem nítida em diversas
aberturas. Vale ressaltar que ela não tem a rosca
para encaixe de filtros circulares devido ao seu
ângulo de visão, mas isso pode ser resolvido
 Acima, a cachoeira Seljalandsfoss,
atração turística na Islândia; ao
lado, paisagem com Aurora Boreal
no arquipélago de Lofoten, Noruega

facilmente com os adaptadores e

filtros, como da Fotodiox (https://
bityli.com/vVnGwz), que têm ótimo
custo-benefício se comparado a outras
soluções, como os da Lee Filters, que
em dólar custam mais que o dobro.

USO É DESAFIADOR
Usar uma objetiva ultra grande
angular é um desafio, mas se você
exercitar será compensador. Talvez a
maior dificuldade para um iniciante
é como fazer uma composição
harmônica com um ângulo de visão
tão extenso que contemple uma
grande quantidade de elementos –
esse desafio é um tema recorrente nas
expedições fotográficas que organizo
com alunos e nas quais exploro
diferentes ângulos e enquadramentos
com esse tipo de objetiva para
expandir o lado criativo deles.

FOTOGRAFE 310 11

DISTÂNCIA HIPERFOCAL
Com câmera full frame e comprimento focal de 14 mm
Distância até o assunto: 2,32 m Abertura: f/2.8 Abertura: f/16
Distância hiperfocal 2,32 m 0,42 m
Hiperfocal próximo ao limite 1,16 m 0,21 m
DOF próximo ao limite 1,16 m 0,35 m
DOF limite distante ∞ ∞
Profundidade de campo ∞ ∞
Profundidade de campo na frente 1,16 m (0,00%) 1,97 m (0,00%)
Profundidade de campo atrás ∞ ∞
12 FOTOGRAFE 310
As casinhas vermelhas de Lofoten
em meio à neve: foco no primeiro
terço da cena é a dica de Portella
Em uma cena de paisagem
ampla, com planos próximos e
afastados, é normal que muitos
iniciantes tenham dúvidas sobre
qual é o lugar ideal para fazer o foco.
É bem diferente de fazer um retrato
com uma objetiva 50 mm, em que
fica bastante óbvio que o foco deve
ser nos olhos do retratado.
De maneira geral, quando vou
fotografar uma paisagem, faço o foco
no primeiro terço da cena, e fica bem
mais fácil quando o assunto principal
está mais afastado e não tem um
plano muito próximo da câmera.
Fiz duas imagens em Lofoten,
na Noruega, em dois momentos
distintos, que exemplificam isso.
Eu estava em cima de uma ponte
e o foco foi feito nos rochedos
que sustentam atraentes casinhas
vermelhas. Em uma delas, consegui
explorar a luz incrível da Aurora
Boreal (veja na pág. anterior); na
outra, retratei o ambiente gelado do
lugar (confira ao lado).
A melhor maneira de aprender
sobre foco e nitidez é estudar
um pouco sobre profundidade
de campo e distância hiperfocal,
pois é importante você entender a
relação entre comprimento focal,
diafragma e distância do assunto.
Em livros didáticos ou na internet,
você encontra um vasto material
sobre o tema, assim como existem
aplicativos, como o PhotoPills, que
ajudam a aplicar isso na prática.
Veja a ilustração e a tabela ao lado,
em que usei o comprimento focal
em 14 mm, a mesma distância
até o assunto, e dois valores de
aberturas para ilustrar a mudança
na profundidade de campo.
Observa-se que determinando
a abertura em f/2.8 toda parte da
cena a partir de 2,32 m está nítida,
mas entre a câmera e o ponto de
foco (2,32 m) existe uma perda
 Lente da posição 14 mm, com a
câmera no tripé, e filtro polarizador
para reduzir reflexos na superfície
de nitidez gradual. Quando altero o valor
da abertura para f/16, amplio a distância
hiperfocal e ganho mais profundidade de
campo, do primeiro plano ao infinito.
PROFUNDIDADE DE CAMPO
Uma vez que você começa a dominar a
profundidade de campo, pode aplicar isso
na hora de fotografar e determinar quais
configurações e/ou recursos deve utilizar para
realizar a imagem idealizada. Ainda em Lofoten,
fotografei uma paisagem com o foco destacando
o primeiro plano (chão e placas de gelo). Todo o
enquadramento, até a cadeia de montanhas ao
fundo, está 100% nítido – confira acima.
Na composição da imagem, usei o
comprimento focal em 14 mm com a câmera
no tripé voltada para baixo (veja a foto making
of) de forma a ter as placas de gelo formando
uma diagonal imaginária junto com a poça e
assim criando um primeiro plano visualmente
impactante, com texturas interessantes e linhas
que ajudam a conduzir o olhar para o plano de
fundo com as montanhas e o céu dramático.
Usei um filtro polarizador para reduzir os
reflexos nas superfícies planas (água, gelo e
solo), trazendo assim mais textura; determinei o
valor de ISO 31 e a abertura f/2 para aumentar
o tempo de exposição – o valor da abertura
também foi para ganhar profundidade de campo.
Se aplicada a Regra dos Terços, observa-se que
o primeiro plano ocupa os dois terços inferiores
do quadro e a placa de gelo está localizada no
ponto de ouro – na hora de compor a imagem,
não penso na regra, pois sempre reafirmo a
importância de estudar a teoria, aplicá-la na
prática e assim ganhar mais liberdade para criar,
superar limites técnicos e consequentemente
gerar a composição de forma mais instintiva.
COMPOSIÇÃO E MOVIMENTO
Durante as expedições que faço, trabalho
com os alunos a importância da composição
e mostro que a movimentação do fotógrafo
é fundamental para observar os diferentes
ângulos em relação ao assunto, principalmente
quando se usa a lente ultra grande angular.
Ao se abaixar e se aproximar de um assunto
FOTOGRAFE 310 13

em primeiro plano, abre-se um
mundo de possibilidades que não
são percebidas quando se fica em
pé somente movimentando o zoom
para frente e para trás.
Como a distância mínima do foco
na grande angular é pequena, ao
ficar próximo do assunto, o fotógrafo
consegue criar uma ilusão de óptica
distorcendo o tamanho real dos
objetos em relação à cena. Foi assim
que fiz uma foto de uma pedra no
Making of das Vale da Morte, região desértica
fotos feitas por ao leste da Califórnia, EUA. Fiquei
Marcelo Portella bem próximo dela com a intenção
no Vale da Morte de “aumentar” seu tamanho em
relação ao fundo e registrar o rastro
criado pela sua movimentação
14 FOTOGRAFE 310
Pedra no Vale da Morte, EUA, e seu
rastro criado pela movimentação
natural, um fenômeno curioso
natural causada pelo vento e por
finas camadas de gelo. Por estar
tão próximo, mesmo usando o valor
da abertura em f/22, não consegui
manter a nitidez até a cadeia de
montanhas ao fundo. Porém, o
destaque da pedra em primeiro plano
ficou ótimo – veja o making of ao lado.
Havia ali dois caminhos para
obter nitidez até o infinito: primeiro,
me afastar um pouco do assunto
e usar a distância hiperfocal, mas,
nesse caso, mudava um pouco a
composição e por isso descartei essa
opção. Então, escolhi o segundo:
o empilhamento de foco (focus
stacking), para o qual eu teria de
fazer cerca de seis fotos focando
de forma progressiva, começando
pela pedra e indo até a montanha
ao fundo. Depois, processar essas
imagens no Photoshop ou outro
software específico, para não ter de
alterar a composição.
O primeiro plano aumentado
é uma das linguagens que gosto de
usar nas minhas composições, muitas
vezes “tiltando”, ou seja, inclinando
 Mesquita Nasir-ol-Molk, no Irã; abaixo, Morro
a câmera para baixo e me aproximando do
do Pai Inácio, na Chapada Diamantina, Bahia
assunto em primeiro plano. Sempre observo
muito a geometria da cena, a perspectiva, a
possibilidade de usar linhas naturais e criar
pontos de fuga ou interseções entre cenas de
paisagens ou de arquitetura.

EXTENSÃO DA PERSPECTIVA
Com a objetiva ultra angular consigo
estender a perspectiva reproduzindo
uma distorção entre elementos que não é
perceptível ao olho humano. Isso muitas vezes
pode causar certa estranheza no observador e
também maior impacto visual, alterando assim
a realidade material da cena. Essa distorção
de fato é criada em função da posição da lente
em relação ao assunto: quanto mais próximo,
maior a distorção, por isso a importância de o
fotógrafo se movimentar de forma consciente,
pois é por meio dela que você irá controlar o
resultado final.
Na foto feita na Mesquita Nasir-ol-Molk
(veja acima), em Shiraz, no Irã, destino previsto
para 2023 em uma das minhas expedições, usei
a posição de 14 mm para registrar o máximo
da cena em uma só imagem, mas tive de tomar
alguns cuidados, pois não era permitido tripé no
local. Os desafios foram obter simetria entre os
elementos, conseguir a câmera bem nivelada e me
posicionar no ponto mais ao fundo possível para
evitar distorções nos elementos mais próximos.

FOTOGRAFE 310 15
 The Subway,
atração em
Utah, EUA:
composição
aproveitou as
linhas da cena
para conduzir
o olhar do
observador
(veja no
detalhe)

neutra (ND 6 stops) para aumentar o tempo de

exposição. Na composição, a curva do rio em
primeiro plano serviu para aumentar a sensação
de profundidade em uma cena que contém
elementos geométricos que influenciam na
leitura da imagem – confira na pág. ao lado.
Para gerar a sensação de tridimensionalidade
nas imagens, a dica é recorrer a linhas-guias,
diagonais e outros elementos geométricos na
cena para conduzir o olhar do observador.

FOCO NO CÉU
Em outra ocasião, no alto do Morro do A fotografia noturna ou astrofotografia vem
Pai Inácio, na Chapada Diamantina, na Bahia, ganhando cada vez mais adeptos na era digital,
durante uma expedição nacional, usei uma pois tudo ficou mais fácil, prático e democrático.
sequência de ranhuras esculpidas pelo tempo Também nesse segmento a Nikkor 14-24 mm se
na pedra para trabalhar mais uma vez essa destaca, pois sua qualidade continua causando
extensão da perspectiva e mostrar a beleza do
vale ao fundo – veja na página anterior. Essa
Paisagem
perspectiva criada pela grande angular cria
noturna com
uma sensação de profundidade muito atraente
a Via Láctea
para o observador, gerando a sensação de
ao fundo no
tridimensionalidade na imagem – que, quando
Deserto do
impressa em grande formato, a partir de 90 cm
Atacama
ou 120 cm no lado mais longo, magnifica isso.
Na foto que fiz em um desfiladeiro de
formato único, chamado The Subway (o metrô,
em tradução livre), no Zion National Park, em
Utah, nos EUA, fiquei sobre a queda-d’água com
a câmera inclinada para baixo e procurei seguir
o caminho criado pela geometria natural desse
incrível cenário, onde há um túnel criado dentro
do cânion que tem algumas piscinas naturais.
Para fugir da cena tipo cartão-postal, em que
a captura seria mais próxima a cachoeira e seu
entorno, fiz essa foto usando o filtro polarizador
para controlar os reflexos e o filtro de densidade

16 FOTOGRAFE 310
inveja na concorrência e o fato de ser uma
lente zoom faz com que ela seja mais versátil. A
abertura máxima f/2.8 ajuda muito na exposição
correta dos objetos celestes sem a necessidade
de aumentar o valor do ISO acima de 6.400.
Em todas as expedições fotográficas que
coordeno, deixo reservado momentos para
a prática da fotografia noturna, seja com Via
Láctea, rastro de estrelas, Aurora Boreal ou
até mesmo a luz da lua. Em geral, é um dos
momentos mais celebrados pelos alunos, muitas
vezes causando comoção – o que me traz a
sensação de missão cumprida.
Sempre busco uma composição entre
céu e primeiro plano e, quando possível, uso
ferramentas criativas para iluminar o primeiro
plano, como no caso de duas fotos em que usei
um drone como fonte de luz: a que foi feita no
cânion do Vale da Lua, em Goiás, sob a Via Láctea
e a grande nuvem de Magalhães (veja ao lado); e a
realizada em um ônibus abandonado no Deserto
do Atacama, no Chile – confira na pág. anterior.
Durante as expedições, costumo mostrar
também que é possível combinar diversas
técnicas de fotografia noturna, como no caso
do rastro de estrelas captado no Parque No alto, foto de rastro de estrelas no
Nacional dos Três Picos, na região serrana do Parque Nacional dos Três Picos (RJ);
Rio de Janeiro – além do rastro de estrelas, há acima, paisagem noturna do Vale da Lua,
ainda light painting (casa ao fundo) e um drone em Goiás, com drone como fonte de luz
iluminando o primeiro plano – veja acima.
É indescritível a sensação de ver a felicidade experiência me faz entender de forma mais clara
estampada no rosto dos alunos quando meu papel na fotografia e do privilégio de ter um
conseguem fazer imagens noturnas do céu dos melhores trabalhos do mundo – para saber
com qualidade. Ser o elemento condutor dessa mais, acesse dreamscapes.com.br.

FOTOGRAFE 310 17
MATÉRIA DE CAPA
Inara Prusakova/Shutterstock

Editoriais de moda nasceram em páginas de revistas impressas e hoje circulam pelo meio digital

20 FOTOGRAFE 310
 Fotografia de
MODA
Dos desfiles da alta-costura aos editoriais, passando pelo
e-commerce e chegando às fotos de influenciadoras, o
segmento fashion é vasto. Confira dicas de especialistas
para entender as oportunidades e os nichos desse mercado
POR LIVIA CAPELI

A fotografia de moda sempre foi cercada

de glamour desde seus primórdios: a
primeira imagem oficial considerada do gênero
foi feita pelo fotógrafo francês Adolf de Meyer,
que também era barão, para ser publicada
na revista Vogue em 1913, e a modelo era
a milionária Gertrude Vanderbilt Whitney.
Passado mais de um século, o glamour ainda
impera nos grandes desfiles internacionais,
mas no dia a dia os fotógrafos do segmento
estão em uma suada luta dirigindo modelos
femininos e masculinos, em editoriais de
revistas e sites, nas redes sociais, no outdoor da
rua, nos populares sites chineses de compras
e até em catálogos veiculados via WhatsApp.
Multifacetado e repleto de oportunidades de
atuação para profissionais, este é um setor que
vive se reinventando.
Além de estar antenado com as
tendências, um fotógrafo especializado no
segmento de moda precisa dominar não
apenas a técnica, mas também o conceito da
marca, saber como valorizar o estilo das peças
de roupa e como direcionar a imagem para o
público-alvo. Aqueles que se preparam bem
para atuar no setor estão aptos a enfrentar
desafios de mercado, como a recente fase de
pandemia de covid-19, que obrigou muitos

Dezenas de fotógrafos Vanessa Carvalho

durante a cobertura da
São Paulo Fashion Week:
o glamour resiste nos
desfiles de passarela

FOTOGRAFE 310 21
 Existem variadas Ao lado, ensaio em locação
formas para se externa com foco no público
trabalhar com jovem; abaixo, produção em
estúdio para destacar acessórios
fotografia no
mundo da moda
segmento, principalmente após o fim
da Segunda Guerra e até a metade
dos anos 2000 – no Brasil, o gênero
só chegou ao final da década de
1950 com Otto Stupakoff, autor do
primeiro ensaio autoral por aqui (veja
box). A partir da segunda década do
século 21, na era do imediatismo das
redes sociais e das influenciadoras, o
segmento deixou de ser dependente
das revistas e sofreu transformações
na forma de se propagar. A mídia
digital se impôs sobre a impressa.

profissionais a mudar a forma de trabalhar:
foi preciso reduzir equipes e custos, usar a
criatividade para buscar alternativas com
baixos orçamentos, ter jogo de cintura durante
OLHO NA ROUPA
Com 23 anos de carreira, o
fotógrafo Dorival Zucatto já fotografou
muitos desfiles na São Paulo Fashion
Week. Com o tempo, tornou-se
um especialista em fotos de moda
comercial, com o foco em lookbook para
lojas da região do Brás e do Bom Retiro,
na zona central da capital paulista. Ele
ensina que um dos segredos de sucesso dentro
da profissão está em ter um olhar apurado
em relação à roupa fotografada. Além disso, o

Fotos: Shutterstock
os momentos de quarentena e reciclar o
conhecimento sobre negócios e técnicas para
manter o mercado movimentado.
Os fashions photographers, como gostam
de ser chamados alguns fotógrafos do meio,
podem atender a diversas vertentes, do
fotojornalismo de moda (que abrange a
cobertura de desfiles), passando pelas imagens
de beleza (com o objetivo de vender produtos
cosméticos e acessórios), indo para o editorial
(para mostrar conceitos e comportamentos
por meio de ensaios para revistas impressas e
digitais) e chegando aos trabalhos comerciais
(incluem fotos para e-commerce, publicidade,
lookbook e catálogos).
Fundamentais ao longo da história
desse gênero de fotografia desde a imagem
pioneira do barão Adolf de Meyer, Vogue,
Harper’s Bazaar, Vanity Fair e demais revistas
de moda sempre foram a principal referência
para fotógrafos que buscam se destacar no

22 FOTOGRAFE 310
 Dorival Zucatto
Acima, imagem de lookbook
feita por Dorival Zucatto
e, ao lado, foto de ensaio
realizado por Sidnei Gea
profissional deve estar atento a todos
os detalhes sobre o alinhamento e
Sidnei Gea
a combinação do figurino durante
o ensaio, desde corrigir um simples
amassado na peça até o jeito correto
de uso das roupas.
Outro veterano no assunto,
Sidnei Gea diz que manter uma boa
relação profissional com a equipe
envolvida no trabalho, ter domínio
técnico de fotometria, luz ambiente
e externa, além de direção de
modelos, são os predicados de um
bom fashion photographer. Gea,
que começou a fotografar em
1986 e desde 2009 especializou-
-se em atender influenciadoras
digitais inseridas no mercado da
moda comercial, explica que o
fotógrafo precisa estar atento às
oportunidades que aparecem. “No
mundo digital, as coisas ficaram
mais práticas. Você pode buscar O mundo digital
os contatos de possíveis clientes,
principalmente influencers, pelo
deixou as coisas
direct do Instagram e mostrar seu mais práticas,
trabalho”, comenta. Gea lembra pois você pode
ainda que a divulgação do portfólio buscar clientes
do fotógrafo se tornou muito mais pelo Instagram
fácil com as redes sociais, pois não
e mostrar seu
é mais necessário fazer visitas
pessoais, marcando reunião com trabalho"
mídia em kit físico, como era feito Sidnei Gea
antigamente. “Basta ter um bom
perfil no Instagram e saber usá-
-lo a seu favor”, ensina ele, que tem
clientes influenciadoras e socialites
como Sophia Alckmin, Nati Vozza e
Cris Tamer, entre outras.
FOTOGRAFE 310 23
 Quem trabalha com editorial
de moda precisa ter visão e
sensibilidade para fotografar
de maneira tanto comercial
quanto conceitual"
Rodrigo Marconatto

Como há várias possibilidades

de atuação na fotografia de
moda, além de Zucatto e Gea, os
especialistas Vanessa Carvalho,
Rodrigo Marconatto, Marcio Farias,
Alex Mantesso, Newton Medeiros e
Danilo Russo também dão dicas de
Fotos: Rodrigo Marconatto

como trabalhar no mundo fashion.

EDITORIAL DE MODA
Criado para estilistas, confecções,
grifes e lojas mostrarem produtos
ao público, o editorial de moda,
que marcou época nas revistas e
em alguns jornais na fase áurea da
mídia impressa, agora usa a internet
como principal fonte para mostrar
comportamentos, conceitos e
personalidades por meio de redes
sociais e de revistas digitais. Por isso,
é fundamental o fotógrafo manter um
portfólio nas redes digitais, como o
Instagram, e conhecer os caminhos
para mostrar seu trabalho na web.
Apesar de muitas vezes oferecer
uma remuneração mais baixa que a
alcançada no nicho de moda comercial
(além de os custos de produção
ficarem por conta do próprio
fotógrafo), o editorial de moda sempre
foi a área mais vislumbrada pela
maioria dos profissionais do mundo
fashion por ainda envolver certo

Ao lado e acima,
imagens de editoriais
de moda realizados por
Rodrigo Marconatto

24 FOTOGRAFE 310
 PRIMEIRA FOTO DE MODA

A primeira imagem de moda oficial

da história é do fotógrafo francês
barão Adolf de Meyer para a revista
Vogue americana publicada em 15 de
janeiro de 1913. A foto que mostra
a americana Gertrude Vanderbilt
Whitney, modelo de família milionária.
Gertrude era escultora, patrona de
arte e fundadora, em 1931, do Whitney
Museum of American Art, em Nova York.
Antes do barão Adolf de Meyer, as
revistas de moda publicavam um tipo de

Fotos: Barão Adolf de Meyer

fotografia que aparecia nas páginas de
notícias sociais: senhoras bem vestidas
em festas, casamentos, partidas de tênis,
corridas de cavalos e bailes de debutantes.
Havia ilustrações de roupas por meio
de desenhos e, quando uma modelo era
fotografada, o resultado tendia a ser
monótono e estereotipado.
De Meyer propôs algo mais criativo
e, antes de ser contratado pela Vogue
e pela Vanity Fair em 1913, já havia se
estabelecido como um artista com retratos
do bailarino ucraniano Vaslav Nijinski
e da italiana Marchesa Luisa Casati,
personalidade da época. Suas imagens
eram vistas como românticas e chiques na
época. Em 1922, o fotógrafo francês foi
trabalhar na Harper's Bazaar.
Em 1932, o luxemburguês Edward
Steichen foi o responsável por produzir a
primeira foto de moda colorida, publicada
também pela Vogue – uma garota de
maiô, segurando uma bola, época que o
surrealismo invadiu a fotografia. Já no
Brasil o pioneiro foi o paulistano Otto
Stupakoff, que, em 1958, produziu o
n
Edward Steiche

primeiro ensaio de moda autoral com

a modelo carioca Duda Cavalcanti,
então sua namorada – ela trajava um No alto,
vestido emprestado do estilista Dener. A Gertrude
produção foi realizada na casa de Heitor Vanderbilt
dos Prazeres, amigo de Stupakoff, no Whitney;
Rio de Janeiro (RJ). O ensaio nunca foi acima, modelo
publicado, mas Stupakoff foi o primeiro em ensaio de
grande profissional desse segmento no De Meyer; ao
Brasil e em 1965 mudou-se para Nova lado, capa da
York, onde se consagrou com trabalhos Vogue de 1932
para as revistas Harper’s Bazaar, Life, por Edward
Esquire, Glamour, Look e Vogue. Steichen

FOTOGRAFE 310 25
 Fotos: Rodrigo Marconatto
Uma das funções do editorial
de moda é expor referências e
ideias do mercado fashion

glamour e ser considerado uma das melhores

formas de projetar o nome do profissional no
mercado de trabalho.
Com 12 anos de carreira e fotos publicadas
em revistas como Vogue, Harper's Bazaar,
Glamour e Mensch, Rodrigo Marconatto explica
que para produzir imagens para esse nicho
é importante compreender o perfil da mídia
em que o trabalho será publicado. Segundo
ele, para conseguir se inserir no mercado, é
necessário dedicação, paciência e estudo. Ao
buscar sucesso na carreira, é preciso pesquisar
e entender um pouco de cada elemento que
compõe o trabalho (maquiagem, tendência
de moda, produção, técnicas de luz e perfil
dos modelos), além de compreender como
funciona o mercado de moda e o que ele exige.
“O fotógrafo dessa vertente precisa ter
visão e sensibilidade para expor a fotografia
de uma maneira tanto comercial quanto
conceitual. O editorial de moda é uma função de inspirar e imprimir com imagens
forma de expressão, exposição de ideias e todo o contexto elaborado por uma equipe”,
referências para o mercado fashion e tem a ensina Rodrigo Marconatto.

26 FOTOGRAFE 310
 Fotos: Vanessa Carvalho

FOTOJORNALISMO DE MODA
Com o objetivo de documentar
o universo fashion, incluindo
registros de desfiles e seus
bastidores, bem como os looks
mostrados em semanas de moda, e
até a moda de rua, o fotojornalismo
de moda também engloba a prazos a cumprir é o que não faltam. Gisele Bündchen (à
captação dos figurinos usados Vanessa comenta que na esq.) e modelo na
por celebridades em eventos e semana de moda de São Paulo SPFW diante dos
premiações prestigiadas, tais como os fotógrafos e cinegrafistas fotógrafos (acima)
o Oscar e o Met Gala. Quem explica ficam organizados no "pit", tipo
isso é a fotojornalista Vanessa de arquibancada montada diante
Carvalho, uma especialista na da passarela – o que não ocorre,
cobertura de grandes eventos por exemplo, na semana de moda
de moda, com 24 edições do de Nova York (que tem locais Cobrir um
São Paulo Fashion Week e seis "secretos" com diversos desfiles
grande desfile de
do Nova York Fashion Week no simultaneamente) ou em outros
currículo. Ela conta que, apesar do eventos de prestígio internacional. moda não tem
glamour nas passarelas, há bem Captar o modelo bem de nenhum glamour
pouco brilho para quem trabalha frente é o suprassumo desse nicho, para o fotógrafo,
sério na captação das imagens: entretanto, não existe melhor e sim muito
além da obrigação de ter um bom lugar, tudo depende do foco de trabalho e prazos
equipamento, domínio total da trabalho de cada fotógrafo. “Há
técnica e uma credencial para profissionais que têm interesse em
a cumprir"
entrar nos eventos, exigências e fotografar apenas os acessórios Vanessa Carvalho

FOTOGRAFE 310 27
 Ao lado, modelo
durante a Nova
York Fashion
Week e, abaixo,
produção arrojada
na SPFW: fazer
a cobertura de
desfiles exige
câmera e lentes de
alta qualidade
Fotos: Vanessa Carvalho

(brincos, sapatos); para outros, detalhes dos

tecidos ou o look completo; há os que precisam
fazer fotos mais fechadas para capturar a
maquiagem para mostrar tendências; e tem
profissional que deseja registrar a história do
evento, incluindo a plateia, e isso faz com que
nem sempre seja preciso o posicionamento
no centro da arquibancada”, diz ela, indicando
que o mais coerente nesses eventos é sempre
levar um apoio para subir, como uma escada
portátil, pois sempre haverá uma brecha para
conseguir um lugar.
A especialista ensina que um kit ideal
para trabalhar com fotojornalismo de moda
consiste de uma câmera digital mirrorless ou
DSLR ou com sensor full frame que ofereça
sensibilidade ISO com baixo nível de ruído
e disparo rápido; lentes luminosas, como a
telezoom 70-200 mm f/2.8 com ajuste da
opção de autofoco contínuo – sob medida para acessório fundamental é o monopé, que, além
fotos de passarela. Para fotos de beleza na de proporcionar estabilidade à câmera com a
primeira fileira, o melhor é contar com a zoom tele, faz com que os movimentos do fotógrafo
24-70 mm f/2.8 ou a fixa 50 mm f/2.8. Outro fiquem menos restritivos.

28 FOTOGRAFE 310

Modelo Barbara Galvão em foto
para divulgar o Canal Woohoo;
ao lado, a atriz Dandara Mariana
em publicidade de perfume
IMAGENS DE BEAUTY
Marcio Farias, com longo
currículo no mundo fashion,
explica que o nicho de beauty é
uma vertente da fotografia de
moda em que a ideia é mostrar a
beleza da modelo representando
algum produto cosmético (além
de acessórios como brincos,
colares, anéis ou pulseiras) ou
um conceito de maquiagem, que
pode ser artística. Contudo, não se
restringe apenas à área de beauty:
a especialidade também pode ser
destinada a fotos para capas de
CDs e composites de modelos,
de maneira a valorizar a região do
rosto, enfatizando a pele, o cabelo e
a maquiagem da pessoa – e também
sua beleza natural, dependendo do
objetivo do trabalho.
Fotos: Marcio Farias
No mundo fashion, o nicho de beauty tem
como objetivo mostrar a beleza da modelo
com algum produto cosmético, como um
batom, ou um conceito de maquiagem"
Marcio Farias
Farias explica que a luz suave
é a mais indicada para esse tipo
de foto, porém, tudo é válido
em fotografia, pois depende
da proposta de cada ensaio:
assim como a luz natural, muitas
vezes uma luz mais dura pode
proporcionar um resultado
atraente. “Usar objetivas como
a fixa 85 mm, fechando mais no
close do rosto, dá a possibilidade
de ter mais nitidez sem distorcer
a imagem. Uma dica é fazer a
FOTOGRAFE 310 29

Imagens de beleza foto de beauty um pouco mais
inseridas no aberta no enquadramento
mundo fashion: porque, se precisar dar um corte
a atriz Monique posteriormente, é possível fazer
Alfradique (acima) sem perder qualidade”, indica.
e a modelo Aline Outra dica é procurar usar
Fontes (à dir.) fundos mais neutros, apesar de
Farias ressaltar que isso não é uma
regra. Um fundo mais desfocado
sempre pode ajudar a evidenciar o
rosto do modelo. Caso a foto seja
feita em externa ou o fundo tiver
muita textura, ele explica que é
sempre bom usar diafragmas mais
abertos, como f/4 (em estúdio,
A objetiva fixa
o sugerido seria algo em torno
de 85 mm é de f/8, f/10) para não perder
uma das mais informações da pele e, ao mesmo
recomendadas tempo, obter desfoque no fundo,
para fotos de destacando o primeiro plano.
beauty por Vale lembrar que não é
somente rostos femininos que são
oferecer mais fotografados em beauty: o nicho
nitidez no close também pede fotos masculinas e
até infantis – composites, capas
30 FOTOGRAFE 310
Fotos: Marcio Farias
de revistas, linha de cuidados para
pele e barba, shampoos e perfumes
entram na lista.
MERCADO COMERCIAL
Direcionada para a divulgação
e a comercialização das peças,
a fotografia de moda comercial
abrange trabalhos como lookbook,
e-commerce, publicidade e catálogos.
E atualmente é um dos nichos mais
procurados por pequenas, médias
e grandes marcas para vender seus
produtos. Em geral, são fotos menos
produzidas e menos conceituais
em relação às editoriais. O objetivo
do trabalho consiste em focar na
roupa, e não no conceito da marca
ou nos modelos. O fotógrafo tem
a responsabilidade de registrar as
combinações entre as peças, as
características dela e o caimento no
corpo das modelos.
Dorival Zucatto ressalta que
em fotos de lookbook o fotógrafo
 Acima e abaixo, imagens comerciais de lookbook
deve ficar sempre atento aos detalhes, que são realizadas em estúdio com muita agilidade
como botões, zíperes e costuras, que
são colocados na roupa pelo fabricante
como um diferencial, por isso devem
ser enfatizados nas imagens. “Hoje
o fotógrafo acaba a sessão e as fotos
vão direto, sem tratamento, para o
WhatsApp da loja, que rapidamente
transmite para os contatos dos clientes,
sempre ávidos por novidades. Durante
o ensaio, o pessoal do marketing da
marca já está fazendo chamadas nos
stories do Instagram para mostrar o que
há de novo. Tudo é muito imediato e
o profissional desse nicho precisa ser
muito ágil”, comenta Zucatto.
Fotos: Dorival Zucatto

Eu acabo uma sessão de lookbook

e as imagens vão direto para o
WhatsApp da loja, que transmite
na hora para os clientes"
Dorival Zucatto

FOTOGRAFE 310 31
 No lookbook, o fotógrafo deve
ter muita atenção aos detalhes
da roupa que registrará

Mercado Livre, Dafiti e Shopee aumentaram

as exigências de qualidade e propriedade
das fotos. Segundo ele, o Mercado Livre, por
exemplo, solicita certificado de autenticidade
de autoria do anunciante, coibindo o uso de
fotos de terceiros e uso indevido de imagem.
Mantesso lembra que o mercado da
moda é um dos que mais geram novidades e,
consequentemente, têm maior demanda de
imagens. A cada mês, trimestre ou estação, as
marcas criam e colocam à venda uma grande
quantidade de novos produtos que precisam ser
fotografados para figurarem nos sites. “Outros
Dorival Zucatto

mercados não contam com uma demanda tão

intensa, pois os produtos são comercializados
por longos períodos sem qualquer modificação”,
explica ele. O especialista enxerga uma força
cada vez maior no nicho de e-commerce de
Alex Mantesso, especialista em fotos de moda, tanto nas imagens de fundo branco (que
e-commerce, acredita que a demanda no setor são a maioria) quanto nas fotos de conceito
de venda de roupa pela internet só tende a para redes sociais, como o lookbook (que podem
crescer, pois o mercado de variar a coloração do fundo).
moda ainda está em forte As imagens de moda para Também expert no
ascensão no comércio online. e-commerce precisam ter assunto, Newton Medeiros
Para uma relação ainda mais uma boa luz e um fundo explica que um fotógrafo
profissional com quem trabalha que seja 100% branco para da área comercial de moda
nesse nicho, plataformas como agilizar a inclusão nos sites precisa estar preparado para
Fotos: Alex Mantesso

32 FOTOGRAFE 310
 PARA ONDE VAI A MODA
A partir do começo do século 21, a
fotografia de moda se diversificou e
hoje passa por uma profunda transformação.
“Em vez de grandes revistas ditando
tendências, hoje são as redes sociais que
fazem a moda”, comenta o especialista
Danilo Russo. Ele cita como referências
atuais os fotógrafos Tim Walker, Steven
Klein e David Sims, além de brasileiros como
Rafael Pavarotti, Marcos Florentino e Kelvin
Yule, a dupla Mar+Vin.
Diretor do Instituto Internacional de
Fotografia (IIF), que fundou em 2008, Russo,
italiano de Gênova, mora no Brasil há mais
de 20 anos e tem no currículo a formação
no Instituto Europeu de Design, em Milão, e
um portfólio com trabalhos realizados para
revistas de moda como W America, Vogue,
Harper´s Bazaar, Uomo, Elle, entre outras.
Um dos precursores de ensino de fotografia
de moda no Brasil e conhecedor da história
do gênero, ele pontua a importância das
revistas como formadoras desse mercado ao
longo de décadas ao apresentarem modelos
com roupas e acessórios em produções que
destacavam em situações cotidianas.
Russo cita o fotógrafo húngaro Martin
Munkácsi como um dos primeiros a adotar
o conceito, realizando ensaios fora do
estúdio, ao ar livre, e lembra que grandes
nomes da fotografia mundial, como Richard
Avedon, Man Ray, Irving Penn, Helmut
Newton, entre outros, militaram no
segmento e nele se destacaram.
Ressalta ainda que foi apenas depois da
Segunda Guerra, período em que as mulheres
entraram ativamente na vida social, que
a fotografia de moda
passou por uma a grande
revolução: “a mulher não
era mais um 'elegante
cabide', um manequim que
posa para representar
a condição social que o
marido rico pode oferecer,
mas sim um ser individual,
com atitude, e isso
aparece na representação
fotográfica”, ensina. Para
ele, o fotógrafo que mais
representa essa mudança
Fotos: Danilo Russo
foi Avedon, entretanto, cita ainda Penn,
Newton, Herb Ritz e Bruce Weber como
grandes nomes que revolucionaram o meio.
Segundo Russo, desde a década de 1980,
há um processo de desglamourização da
moda. Os fotógrafos começaram a quebrar
paradigmas e a buscar um estilo para expor
a insatisfação diante da falsa imagem da
modelo comparada com a realidade de vida de
muitas delas. Se nos anos 1980, a fotografia
concentrou seu foco na publicidade, tendo
nomes como Patrick Demarchelier, Bruce
Weber e Oliviero Toscani, já na década de
1990 houve uma popularização de imagens
de moda, fato que consagrou top models como
Cindy Crawford, Naomi Campbell e Claudia
Schiffer – segundo Russo, os fotógrafos que
representam essa época são Mario Testino,
David LaChapelle e Annie Lebovitz. Depois,
surgem nomes como Terry
Richardson e Juergen
Teller, que apostam em
fotos menos comerciais e
mais artísticas, mostrando
a realidade nua e crua em
imagens, avalia ele.
Acima e ao lado,
trabalhos de Danilo
Russo nos tempos
em que se dedicava à
fotografia de moda
FOTOGRAFE 310 33
 O especialista Newton Medeiros
recomenda criar um roteiro de
poses para fotos de e-commerce

está aparecendo – tudo isso em um ritmo de

produção de cerca de 6 a 10 fotos por minuto.
“Durante a execução de um trabalho para
e-commerce, é importante criar um roteiro
de poses que se harmonize com as peças e
saber que, diferentemente da foto conceitual,
a comercial precisa mostrar detalhes da
roupa. Portanto, é muito comum nesse tipo
de produção fotografar a modelo em poses de
frente, de lado e de costas”, explica Medeiros.
Vale lembrar que tanto as fotos de
e-commerce quanto as de lookbook têm como
destino a internet, portanto, não demandam
Newton Medeiros

alta resolução nas imagens. A luz é o ponto mais

importante, pois a foto precisa vender o produto
e a iluminação deve facilitar o tratamento no
sentido de conseguir, por exemplo, o fundo
100% branco tão requisitado em e-commerce.
encarar desafios de se organizar com a alta
produtividade e capacidade de cumprir prazos. FOCO EM INFLUENCERS
Além disso, para quem fotografa e-commerce Usado cada vez mais por grandes marcas
ou lookbook com modelos é fundamental ter para divulgar produtos, o trabalho de
capacidade de ficar atento a influenciadoras digitais tem
detalhes e ser rápido, como Influenciadoras de moda crescido dentro do setor de
perceber se a barra ou o cós também são um nicho moda. Elas recebem “mimos” e
estão dobrados, se a peça para profissionais da área: também são pagas para postar
está adequada no corpo do abaixo, Sophia Alckmin e nas redes sociais roupas de
modelo ou se a etiqueta não Helena Lunardelli (à dir.) lojas e de marcas. Por isso,
Fotos: Sidnei Gea

34 FOTOGRAFE 310

Nati Vozza (acima) e Sílvia Braz (ao
lado) mostram looks em redes sociais e
precisam de imagens profissionais
além de precisarem de retratos ao estilo de
moda, carecem ainda de imagens profissionais
expondo um momento espontâneo e animado
da experiência com o produto. Também é
habitual a prática de parcerias e permutas por
divulgação, entretanto, Sidnei Gea explica que
muitas vezes o trabalho do fotógrafo acaba
fazendo parte do pacote negociado com a
empresa patrocinadora da influenciadora e
deve ser pago em dinheiro, pois permuta por
likes e seguidores não pagam as contas.
Gea esclarece que geralmente as sessões
para influenciadoras ocorrem na própria casa
delas, ou em externas, próximos à loja ou a um
local que facilite a logística de troca de looks e
retoques da maquiagem. Outra particularidade
desse nicho é saber trabalhar com agilidade,
Trabalhar com influenciadoras exige
experiência em direção de modelos
e muita agilidade, pois elas querem
logo as imagens para divulgar"
Sidnei Gea
Fotos: Sidnei Gea
pois muitas acumulam a rotina de reuniões,
participam de eventos e fazem stories de cada
passo que dão. Portanto, a sessão de fotos
precisa se encaixar no meio de tudo isso.
Também é importante saber se comunicar
e passar as instruções certas durante a
sessão de fotos, pois elas não são modelos
profissionais. Ao mesmo tempo exige
profissionalismo e naturalidade, portanto, a
direção é diferente de um editorial de moda.
“As influenciadoras conhecem os melhores
ângulos delas e sabem o que precisa se destacar
em um look e em uma peça de roupa”, comenta
Gea. Outra dica: elas querem sempre o trabalho
“para ontem”, ou seja, é comum baixarem as
fotos direto no smartphone e fazerem elas
mesmas correções e ajustes.
FOTOGRAFE 310 35
FOTOGRAFIA DE MODA

Fotos: Marcio Farias

O modelo
Matheus Martins
em produção de
Marcio Farias

HOMENS NA MODA
Confira as dicas do especialista Marcio Farias para
produzir fotos com modelos masculinos, visto como
um desafio por muitos fotógrafos do segmento fashion
36 FOTOGRAFE 310
Modelos Lara Henrique, Lucas Laet, Bruno Pity e Vitor Castro em foto para a Hooks Magazine
POR LIVIA CAPELI
P roduzir fotos com modelos masculinos
é visto por muitos fotógrafos como
um desafio, por ser um trabalho que oferece
dificuldades muito maiores se comparado a
ensaio feminino de moda – até porque imagem
fashion com mulher é muito mais frequentes de
se ver e mais fácil de ser obtida como referência.
Fotografar homens implica em entender o estilo
de cada modelo, a iluminação certa para cada
biotipo e ter bons conhecimentos de direção
específica para esse gênero: é o que ensina o
fotógrafo carioca Marcio Farias.
Com trabalhos publicados em revistas
como Vogue, GQ, Men´s Health, Mensch e VIP,
o especialista explica que de cada dez ensaios
que realiza sete são com modelos masculinos.
Segundo Farias, o mercado de moda masculino
está em ascensão, pois os homens estão cada
vez mais preocupados com a aparência e em se
cuidar, consumindo mais produtos e lendo mais
a respeito. “Com isso, esse setor pode ajudar
até na recuperação da indústria da moda,
uma das mais impactadas pela pandemia de
covid-19”, avalia o fotógrafo.
Marcio Farias ressalta que no mundo
fashion os indicadores de beleza masculina
estão associados a homens com rosto mais
quadrado, com ângulo da mandíbula marcada,
queixo proeminente e tônus muscular mais
saliente. "Tem sido esse o padrão", diz.
Entretanto, o mercado gosta mesmo é
de atitude. Modelos que têm estilo próprio,
mais expressivos e que possuem o subjetivo
“borogodó”, conforme Farias, são os mais
requisitados para participar de campanhas
de publicidade e editoriais de moda. A razão é
FOTOGRAFE 310 37
 Marcio Farias ensina que é preciso
conhecer as poses-chave, que se
encaixam com qualquer modelo
que esses atributos ajudam a mostrar melhor
o produto a ser vendido, estimulando quem vê
a imagem a ser do mesmo jeito ou a adotar o
estilo do modelo. Portanto, o fotógrafo deve
saber como captar isso de maneira eficiente.
ATITUDE EM FOCO
A primeira dica para um fotógrafo se
dar bem na hora de produzir trabalhos no
segmento fashion é entender que as poses
para uma campanha ou um editorial de moda
se diferem das usadas em ensaios pessoais
– em que o foco é o modelo, e não o figurino.
Portanto, uma pose em que o modelo interage
com o look pode, por exemplo, ajudar a chamar
a atenção para a roupa vestida.
Nesse segmento, é necessário saber
como funcionam algumas poses-chave, que
se encaixam em qualquer tipo de modelo, seja
profissional ou não. O fotógrafo explica que em
geral as poses-chave masculinas são as mais
simples e podem gerar outras a partir delas:
“Descreveria uma delas partindo de algo como
o modelo de corpo mais ereto, fazendo algum
movimento com as mãos, uma ou as duas mãos
38 FOTOGRAFE 310
no bolso, arrumando Atores posando
uma gravata ou a como modelos para
manga da camisa, looks de moda: Felipe
uma das mãos solta e Roque (acima) e Felipe
a outra segurando o Fagundes (à esq.)
punho da mão solta,
e assim por diante”, explica Marcio Farias.
Outro exemplo de pose-chave é, com o
modelo ainda com o corpo ereto, fazer um
clique dele de frente, olhando diretamente
para a câmera, e depois outro com o olhar
mais para a lateral – e, claro, sempre com
muita atitude. “Aí já terá duas fotos diferentes
e o fotógrafo poderá na mesma sequência de
poses extrair diversos enquadramentos: uma
de meio-corpo, outra de corpo inteiro, depois
um close...”, ensina o especialista.
Farias lembra que ao contrário de modelos
femininas, que costumam conhecer mais do
próprio corpo e das expressões, os homens
são mais retraídos nesse aspecto. Por isso, o
fotógrafo precisa saber muito sobre poses, pois
as pessoas posam, mas não conseguem se ver
Fotos: Marcio Farias

durante a foto nem identificar se Editorial com os tem tantos atributos simétricos em
a pose, a roupa ou a atitude está modelos Camila alguma parte do corpo ou rosto,
boa ou ruim. Cabe ao fotógrafo Antunes e James mas tem um sorrisão bacana ou um
dirigir o ensaio e ter a exata Tostes (à esq.); Pedro olhar mais expressivo, portanto,
noção do que pode ser feito para Novaes em produção aprenda a valorizar isso na foto”,
melhorar e adequar tudo ao estilo de moda para a comenta.
que ele imaginou. revista Mensch (à dir.) Caso o homem seja muito
magro, por exemplo, a solução
BUSCAR O QUE FAVORECE é que ele use roupas mais volumosas para
Além de entender sobre poses, é importante disfarçar. Quando a pessoa não gosta de algo
também manter uma atmosfera leve durante no corpo, dá para dar um jeito no Photoshop,
o ensaio. Brincadeiras sutis, mantendo a ética mas é preciso cuidado para evitar exageros.
e a postura, são táticas sempre bem-vindas “Pequenos ajustes são bem-vindos, mas mudar
para criar um ambiente descontraído. O o corpo todo é com um cirurgião plástico”,
fotógrafo deve evitar comentar sobre o físico esclarece. Farias diz que é importante também
ou o biotipo da pessoa – jamais fazer piadinhas valorizar as individualidades dos modelos
como: “cara, você tem um nariz grande” ou “e com criatividade. Se o homem tem cabelos
esses olhos caídos?”, mesmo que seja em tom longos, um vento nas madeixas pode dar um up
de brincadeira para descontrair. Coisas assim no ensaio. Já peles negras proporcionam um
podem ofender e mexer com a autoestima da brilho inigualável na imagem (ainda mais com
pessoa, travando o modelo. óleo corporal).
Farias explica que se o modelo não “segura” Marcio Farias ensina que, em ensaios
bem uma pose, ou seja, se ele não fica bem masculinos, antes de decidir a locação, é
em uma postura, é importante não forçar. válido identificar o estilo da campanha, do
Nesse caso, a dica é mudar a pose ou tentar modelo e da roupa, pois nem tudo serve
acrescentar algum acessório no look para que para todas as pessoas. Se for usar looks mais
haja uma interação com a roupa, gerando mais descolados, como jeans e camiseta, ou peças
confiança na hora de posar. Para ele, é dever coloridas, por exemplo, as ruas e os muros são
do fotógrafo procurar por qualidades que sempre cenários mais assertivos. Se o look é
valorizem o que o modelo tem de mais bonito e mais sofisticado, uma paisagem atraente de
disfarçar imperfeições. “Às vezes, o modelo não fundo é mais indicado.

FOTOGRAFE 310 39
AULA COM BRASILIO

Fotos: Brasilio Wille

PARA CAUSAR UMA
BOA IMPRESSÃO
S eja para portfólio ou para entregar ao cliente, algum dia você vai
precisar imprimir suas fotos. A escolha de um bom laboratório
se baseia, segundo Brasilio Wille, na capacidade de o local oferecer
diversas possibilidades de tamanho e superfície de impressão, bem como
O laboratório deve um estável controle das cores – tanto na impressão em papel químico
receber o arquivo do quanto em jato de tinta. O especialista explica que é importante sempre
fotógrafo já com a consultar se o laboratório conta com gerenciamento de cores e como ele
configuração exata do é feito para que as imagens sejam impressas com a mesma qualidade e
tamanho a ser impresso estilo que você está desenvolvendo no seu trabalho.

40
 Bons laboratórios
também devem
fazer a calibração
das impressoras
diariamente para
manter a qualidade
do cinza neutro

A calibração constante
das impressoras por conta do
laboratório (principalmente na
impressão química, que deverá
ocorrer duas vezes ao dia para
manter o padrão de qualidade do
cinza neutro) e o conhecimento
técnico do laboratorista também
são fundamentais para garantir uma
boa impressão. "No Brasil, não há
locais especializados em atender
fotógrafos profissionais e é quase
inexistente a oferta de laboratórios
que ofereçam acabamento e
manipulação, que ajustem a
impressão fora dos padrões,
imprimindo em tamanhos e
formatos personalizados, conforme
a necessidade de cada fotógrafo. não ocorra problemas durante a O especialista
Mesmo assim, apesar de poucas, impressão, ou seja, configure no em impressão
temos algumas boas opções para tamanho de impressão desejado, Olivelt Schreider,
impressão”, comenta Wille. deixando o arquivo em uma de Curitiba (PR),
Para colher dicas sobre qualidade em que o número de explica que é
como ter uma boa impressão em pixels na resolução esteja em fundamental o
laboratório, Brasilio Wille visitou centímetros correspondente à fotógrafo ter
a Digital Fotos (www.digitalfotos. resolução de 300 ppis (ou pixels um monitor
com.br) em Curitiba (PR) e por polegada) – já o perfil de cor bem calibrado
conversou com Olivelt Schreiner, deve estar ajustado para sRGB.
gerente do laboratório, que deu Além disso, na hora da captura
orientações a respeito do assunto. da foto, caso o fotógrafo use
Segundo Schreiner, a primeira formato JPEG, deverá ajustar
recomendação é enviar os arquivos a configuração da câmera na
em formatos específicos para que maior resolução oferecida pelo

FOTOGRAFE 310 41

A captura deve ser equipamento, bem como colocar a
em modo sRGB captura em modo sRGB.
e o monitor deve Se for editar a foto em
ser ajustado para programas como Photoshop
a temperatura de ou Lightroom, tudo deve
cor entre 5000K ser configurado no menu de
e 5500K gerenciamento de cores dos
programas. Além disso, o monitor
precisa também ser ajustado nos
seus controles: configure o perfil de
cor em sRGB e temperatura de cor
de 5000K a 5500K padrão. “Para
um ajuste perfeito, será necessário
O ideal para calibrar a saída da imagem da placa
ter um padrão de vídeo do computador com um
de cor de alto colorímetro ou espectrofotômetro.
nível é calibrar Você pode encontrar mais
informações desse tipo de ajuste de
a placa de vídeo
monitores consultando o site www.
do computador coralis.com.br”, recomenda Wille.
com a ajuda de Se você não tiver essas
um colorímetro ferramentas, um quebra-galho
indicado por Olivelt Schreiner é
42 FOTOGRAFE 310
Fotos: Brasilio Wille
pedir para o laboratório imprimir
uma imagem, em papel fosco,
sem nenhum ajuste e usando
apenas a configuração manual do
seu monitor (acertando brilho,
contraste, saturação, nitidez, perfil
de cor e temperatura de cor) para
que fique o mais próximo possível
da imagem capturada.
Também é importante fazer os
ajustes de corte e nitidez desejados
na imagem para a saída impressa,
seguindo os padrões usados pelo
laboratório antes de enviar para a
impressão (10 x 15 cm, 13 x 18 cm
e 15 x 21 cm, entre outros).
EXPLORE POSSIBILIDADES
A maioria dos laboratórios
oferece serviços que ainda são
pouco explorados pelos fotógrafos
para entregar um trabalho mais
criativo e que possa gerar mais
 O QUE EVITAR Ao lado, foto
em forma de

1 Enviar ao laboratório
arquivos nas extensões
.pdf; .tiff; .tag; .webp.
quebra-cabeça;
abaixo, as
opções de

2 Arquivos não papel brilhante

proporcionais ao tamanho- e fosco, e as
-padrão da impressão e em diferenças
baixa resolução (recebidos de impressão
por WhatsApp, Messenger, quando há falta
Facebook etc.). de resolução

3 Arquivos sem perfil de cor

atribuído (configuração do
Photoshop ou salvamento do
arquivo), que impossibilitam
uma boa impressão.

vendas. Os chamados fotoprodutos

englobam fotos impressas em
quebra-cabeça, fototela ou canvas,
acrílico, fotolivro, fotoímã, estilo
polaroid ou retrô, além de uma
caixa com pendrive e impressões no
tamanho 10 x 15 cm.
Uma dica importante na hora
de imprimir suas fotos: opte pelo
uso de papel fosco para as imagens
que serão muito manuseadas ou
guardadas em álbuns. O papel
brilhante pode ter um contraste
melhor, entretanto, ele gruda
com facilidade quando as fotos
ficam empilhadas ou se desgastam
facilmente em locais úmidos. Se a
ideia é fazer a impressão em papel
fosco, o recomendado é aumentar
um pouco mais o contraste para
manter o brilho mais atraente.
Por mais que a tecnologia
digital facilite em muitos aspectos,
é sempre importante imprimir as
fotos como elemento de memória.
Atualmente, há à disposição
diversos serviços pela internet que
oferecem impressão de imagens e
entrega em domicílio.

Quem é Brasilio Wille Aprenda mais nos Conheça mais o trabalho

Amanda Müller

Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
do YouTube (41) 99943-0607 43
de técnicas simples e práticas em cursos e
workshops presenciais ou online. FOTOGRAFE
www.youtube.com/user/Brasiliow 310
(informações sobre cursos)
FOTOJORNALISMO A fotógrafa
espanhola Cristina

Cristina De Middel/Magnum Photos

De Middel foi eleita
a nova presidente da
cooperativa

Imagem da série
The Afronauts, que
consagrou o trabalho
de Cristina De Middel

MAGNUM CHEGA AOS

75 ANOS NA ERA DO NFT
A cooperativa de fotógrafos que celebrizou Robert Capa
e Cartier-Bresson mantém o foco na independência e na
qualidade enquanto procura adaptar-se ao mercado atual
POR JOSÉ DE ALMEIDA

A o longo de 75 anos, completados

agora em 2022, a Magnum Photos tem
lutado para manter-se como uma referência
de qualidade como agência de fotojornalismo,
unindo visão fotográfica com compromisso social.
Para isso, enfrentou uma série de problemas
financeiros, submetendo-se a uma contínua
renovação, que significou explorar novos
mercados − como cinema, vídeo, publicidade,
livros e venda de reproduções impressas.
Também superou fortes divergências entre seus
membros, cuja seleção passa por um processo de
quatro anos, e conseguiu adaptar-se às mudanças
trazidas pelo mundo digital e pelas redes sociais,
mantendo sua independência.
Criada em Nova York, em 1947, este ano as
comemorações tiveram uma série de atividades
na Big Apple entre junho e julho de 2022, quando
os membros atuais da cooperativa se reuniram
para eleger um novo presidente, no caso, a
espanhola Cristina De Middel, que substituiu a
inglesa Olivia Arthur. De Middel ingressou na
Magnum como indicada em 2017
e se tornou associada em 2019. Depois de ter

46 FOTOGRAFE 310
 trabalhado por uma década como do lançamento de três coleções
fotojornalista, ela chamou a atenção NFT (arquivos digitais fungíveis) Crianças escalam
mundial em 2012 com o sucesso de da Magnum em parceria com a uma plataforma
seu segundo livro, The Afronauts– plataforma Obscura. Serão usadas em dia de feriado
em 2013, ela foi uma das atrações as imagens do valioso arquivo na Turquia: foto do
do Festival Internacional Paraty em da Magnum, e haverá ainda oito novo membro da
Foco com esse ensaio sobre um fotógrafos comissionados pela Magnum, o turco
programa espacial em Zâmbia, África agência para criar novos trabalhos Emin Özmen
Oriental. “Eu nunca fui presidente de
nada antes. Espero poder continuar
o grande trabalho que os presidentes
anteriores fizeram e que consiga
contribuir com novas ideias e
entusiasmo para o grupo”, diz ela.
Como uma cooperativa

Emin Özmen/Magnum Photos

fotográfica internacional de
propriedade de seus membros,
a Magnum possui um processo
estruturado para a introdução de
novos membros. Os fotógrafos
primeiro ingressam na organização
como indicados, antes de
progredirem para se tornar
associados e, finalmente, ser
admitidos no coletivo Magnum
como membros vitalícios. Em
2022, nenhum novo indicado

Lindokuhle Sobekwa//Magnum Photos

foi anunciado. No entanto, três
fotógrafos passaram a ser membros
plenos: além de Cristina De Middel,
o turco Emin Özmen e o sul-africano
Lindokuhle Sobekwa. A turca Sabiha
Çimen e o mexicano Yael Martínez
tornaram-se associados.
A grande novidade entre
as comemorações, que seguem
até o final de 2022, é o anúncio
Acima, imagem de ensaio feito em Joanesburgo pelo sul-
-africano Lindokuhle Sobekwa, novo membro da Magnum
Sabiha Çimen//Magnum Photos

Yael Martínez//Magnum Photos

Trabalhos de Sabiha Çimen (acima)

e de Yael Martínez (ao lado)

FOTOGRAFE 310 47
 Ao lado, a espanhola Cristina
De Middel, recém-eleita a nova
Fotos: Cristina De Middel/Magnum Photos

presidente da Magnum Photos

trabalhos que existirão primeiro

como NFTs. Estamos animados para
ver como, e em que direção, esse
mundo vai crescer”, avalia Olivia.

NOME CHAMPANHE
Tudo teria começado com uma
pergunta: "Por que ser explorados
por outros?". Robert Capa (húngaro
de nascimento e originalmente
Endre Friedmann) nem esperou a
fotógrafa francesa Gisèle Freund
responder ao seu questionamento
e completou: "Exploremos a nós
mesmos". A ideia que o lendário
fotógrafo vinha desenvolvendo
há quase uma década era
revolucionária: os próprios
fotógrafos deveriam vender
diretamente seu trabalho para o
cliente. Conservariam os negativos e
os direitos autorais, além de definir o
corte e a legenda da imagem.
O projeto de uma cooperativa
internacional de fotógrafos foi
consolidado em 6 de fevereiro de
1947 durante um almoço no Museu
de Arte Moderna de Nova York e a
Capa se juntaram o francês Henri
Cartier-Bresson, o polonês David
“Chim” Seymour, o inglês George
Rodger, o americano William
“Bill” Vandivert e as fotógrafas
Elliott Erwitt/Magnum Photos

americanas Rita Vandivert (casada

com Bill) e Maria Eisner – que
cumpriam funções administrativas
na cooperativa, tendo sido Rita a
primeira presidente e a gerente do
escritório de Nova York. O nome
Magnum, que soa imponente há
quase oito décadas como referência
No alto, foto especificamente para o projeto (veja do fotojornalismo de qualidade do
dos membros da box), que, segundo a ex-presidente pós-Segunda Guerra Mundial, veio
reunião em Nova Olivia Arthur, é uma aposta em uma da marca da champanhe aberta
York em junho nova forma de vender imagens. “É quando eles comemoravam a criação
de 2022; acima, um ato de confiança, tanto do lado do empreendimento.
do grupo que se das pessoas que vão comprar as Capa e Cartier-Bresson, os
reuniu em 1988 obras antes de elas serem criadas dois fundadores mais célebres,
em Paris quanto da Magnum, que fará tinham visões opostas quanto ao

48 FOTOGRAFE 310
 APOSTA NA ONDA DO NFT

C olecionadores, a comunidade Web3

e o público em geral poderão ter
fotografias do arquivo Magnum e de vários
de Alejandro Cartagena, fotógrafo e
cofundador da plataforma Obscura,
comunidade de artistas, colecionadores,
nomes aclamados dos séculos 20 e 21, curadores e construtores que visa
com imagens cunhadas como edições 1/1 capacitar fotógrafos no ecossistema
em NFT (do inglês non-fungible token, ou Web3. Cartagena diz que a Obscura foi
token não fungível, arquivo criptografado criada como um exercício conceitual
que representa algo único). A primeira para pensar a fotografia na era digital,
seleção apresenta imagens clássicas e oferecendo oportunidade para que
contemporâneas de todo o arquivo de fotógrafos criem trabalhos exclusivos
75 anos da Magnum, com nomes como para o mundo como NFT e, em seguida,
o francês Patrick Zachmann, o inglês como uma imagem impressa ou em
Stuart Franklin, a inglesa Olivia Arthur e o forma de livro.
americano Alec Soth. Como a Magnum Photos tem uma
A argentina-americana Alessandra tremenda reputação a zelar, houve
Sanguinetti, os italianos Lorenzo um cuidado extremo para averiguar o
Meloni e Alex Majoli, as americanas impacto ambiental que a tecnologia
Carolyn Drake e Hannah Price, a turca de blockchain causa ao gerar NFTs – no
Sabiha Çimen, a espanhola Lua Ribeira caso, um consumo absurdo de energia.
e o alemão Thomas Dworzak foram A ideia é usar diferentes métodos para
convidados a contribuir para as coleções compensar esse impacto com emissões
NFT. Nesse caso, o colecionador que de carbono, como a doação de uma
adquirir a foto vai receber a obra no dia parte dos recursos arrecadados com as
em que a NFT for criada na blockchain. coleções para uma instituição ambiental
A primeira seleção teve a curadoria de escolha do fotógrafo.
Henri Cartier Bresson/Magnum Photos
Arquivo Magnum Photos

conceito fotográfico da Magnum modelo para gerações de fotógrafos. Cartier-Bresson

Photos, o que acabou definindo
uma particularidade marcante da
agência: a convivência entre um
fotojornalismo de viés documental
com outro, de uma visão mais
artística. Capa queria o foco direto
nos acontecimentos, o fotógrafo
perto da notícia, e assim contribuiu
para criar o fotojornalismo moderno.
Já Cartier-Bresson defendia certo
distanciamento, com um olhar
mais criativo, e acabou servindo de
A fundação foi nos Estados em ação (à esq.) e
Unidos, mas o primeiro e acanhado Chim em conversa
escritório foi montado em um com Capa, em
apartamento de quarto e sala no foto feita por
número 125 da Rua Faubourg Cartier-Bresson
Saint-Honoré, em Paris, com um
telefone e instalações precárias. A
cooperativa fotográfica em pouco
tempo se tornou um sucesso e
logo se juntaram a ela outros cinco
grandes profissionais: a austríaca
Inge Morath e seu compatriota

FOTOGRAFE 310 49
Arquivo/Magnum Photos

George Rodger/Magnum Photos

O britânico George Rodger em ação na África;
abaixo, foto de Capa na Indochina em 1954

Nativo sudanês retratado em 1948 por Rodger;

abaixo, Cartier-Bresson no México em 1934
Robert Capa/Magnum Photos

Henri Cartier-Bresson/Magnum Photos

David "Chim" Seymour/Magnum Photos

fotografia, entre eles o lendário americano John

Morris, para fazer a mediação entre a agência
e o cliente de forma a realizar um criterioso
trabalho que visava reforçar o status de autor
do fotógrafo. Com isso, a Magnum se dedicou
ao gênero do ensaio fotográfico, oferecendo aos
clientes reportagens completas em vez de fotos
isoladas cujo uso dependia da decisão arbitrária
dos editores externos.
Acima, imagem Ernest Hass, os suíços A criação da Magnum Photos e seu sucesso
captada durante René Burri e Werner inspiraram fotógrafos pelo mundo afora a
Guerra Civil Bischop e o húngaro também criar suas agências de forma cooperativa
Espanhola por Cornel Capa, irmão de (caso da saudosa F4 no Brasil). A maioria
"Chim" Seymour Robert Capa. delas não resistiu às mudanças radicais no
Com perfil inovador fotojornalismo e na mídia, de uma maneira geral,
para a mídia da época, os fotógrafos da Magnum principalmente com o advento da era digital. A
não hesitavam em desafiar as normas editoriais pioneira Magnum sobrevive com muito esforço,
de revistas, suas principais clientes, mas para reinventando-se e olhando para o futuro – mas
sobreviver também tiveram de se adaptar a presa à sua missão do passado, estebelecida por
elas. Por isso, a agência contratou editores de Capa, Cartier-Bresson, Chim e Rodger.

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