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A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

www.fotografemelhor.com.br | n0 295 | Ano 25

Fotojornalismo:
grandes temas
pela visão de
Lalo de Almeida

Documental:
o olhar inquieto
de João Urban

Estúdio
casa
em

Quatro espaços para servir de inspiração


Dicas de como planejar seu estúdio

√ Depoimento:
como montei meu √ MOB, luz artificial de janela
estúdio no quintal
Testamos a Led Window
para pequenos espaços

Grandes fotógrafos da edição: Brasilio Wille Daniela Margotto Danilo M. Yoshida David Alan Harvey
Douglas Pinheiro Jean Lopes João Urban Lalo de Almeida Livia Capeli Marco Brotto Renato Rocha Miranda
EQUIPE DE REDAÇÃO MOVIDA
POR RESPEITO AO LEITOR, ÉTICA
E PROFISSIONALISMO

carta ao leitor
Denise Camargo (revisora), Érico Elias (editor
convidado), Izabel Donaire (editora de arte),
Livia Capeli (colaboradora especial),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)

A EQUIPE DA EDITORA EUROPA QUE CUIDA


COM MUITA DEDICAÇÃO DE ATENDIMENTO,
ASSINATURAS, VENDAS, INTERNET,
PRODUÇÃO, MARKETING, PUBLICIDADE,

A
LOGÍSTICA, DISTRIBUIÇÃO, ADMINISTRAÇÃO
E Recursos humanos fotografia tem muitas facetas e trabalhar
Anderson Cleiton, Anderson Ribeiro, em estúdio é uma delas. Já acompanhei
Angela Taddeo, Beth Macedo, Bia Moreira, várias dessas produções, mas nunca me
Camila Brogio, Elisangela Harumi,
Elisangela Xavier, Fabiana Lopes, Gabriel Silva, meti a fotografar com cabeça de flash,
Geraldo Nilson, Henrique Guerche, Jeff Silva, modificador de luz e rebatedor. Não é minha praia,
Josi Montanari, Laura Araújo, Ligia Caetano,
Luiz Siqueira, Maitê Marques, Marco Clivati, mas respeito e admiro quem faz disso uma arte, pois
Maria Beatriz Rodrigues, Mauricio Dias, está longe de ser um trabalho simples. O mundo
Paula Hanne, Paula Orlandini, Renata Kurosaki,
Renato Peron, Roberta Barricelli, Tamar Biffi, digital veio a facilitar muito a vida dos fotógrafos
Tania Roriz e Valeria Romahn que vivem enfurnados, bolando esquemas de luz. Na
NOSSO E-MAIL era analógica, trabalhar em estúdio era um desafio
Juan Esteves

fotografe@europanet.com.br muito maior. Por isso, havia verdadeiros magos a


NOSSO SITE controlar a baixa latitude de exposição de cromos e
www.fotografemelhor.com.br slides e a pensar em soluções de iluminação para as
Sérgio Branco mais variadas situações. E dá-lhe Polaroid para testar
NOSSAS REDES SOCIAIS
@fotografemelhor Diretor de Redação a luz antes de realmente fotografar com filme.
branco@europanet.com.br Nesta edição, dedicamos um longo espaço ao
PARA ANUNCIAR EM FOTOGRAFE
E MELHORAR A IMAGEM DA SUA eMPRESA tema “Como montar um estúdio em casa”, sonho de
publicidade@europanet.com.br
muitos fotógrafos. E quem entende bastante disso é
A revista Fotografe Melhor é uma publicação a repórter Livia Capeli. Nesses 20 anos que estou à
da Editora Europa Ltda. (ISSN 1413-7232).
A Editora Europa não se responsabiliza pelo frente de Fotografe, Livia me acompanha há 16, e a
conteúdo dos anúncios de terceiros. grande maioria das matérias que envolvem estúdio
Impressão é feita por ela, que, além de jornalista, é fotógrafa e
AR Fernandez adora trabalhar no ambiente de hazy e girafa.
PARA ASSINAR E COMPRAR REVISTAS, LIVROS, Livia escreveu uma ampla matéria de capa, testou
COLEÇÕES E ENCICLOPÉDIAS um produto recém-lançado para quem trabalha
Ligue para 0800-8888-508 (Brasil)
(11) 3038-5050 (SP) em estúdio (ou quer ter um) e ainda deu seu
(11) 95186-4134 depoimento de como montou o próprio espaço de
www.europanet.com.br
atendimento@europanet.com.br trabalhar em casa – sonho antigo dela, que também
acompanhei por anos, possível de ser realizado
depois que ela se mudou com marido, filho e
Fundada por cachorro para São José do Rio Preto (SP).
Aydano Roriz Confira todas as dicas da Livia, que são ótimas,
SEDE Rua Alvarenga, 1416 – São Paulo – SP e dê andamento ao seu projeto de trabalhar em
CEP 05509-003
casa. Hoje a pandemia impõe isso a uma grande
parcela da população, mas ela vai ter de acabar um
VOCÊ TAMBÉM ENCONTRA AS EDIÇÕES
dia (mesmo com toda a incompetência do governo
DA REVISTA FOTOGRAFE NAS SEGUINTES federal), e aí ter um estúdio caseiro vai ser um
PLATAFORMAS DIGITAIS:
privilégio mais do que uma necessidade. Boa leitura.
• EuroClube • GoRead • Amazon Prime
• Tim Banca • Claro Banca • Oi Revistas • Bancah Ano 25 - Edição 295
• UOL Banca • Clube de Revistas • Revistarias Abril/Maio de 2021
• Nuvem do Jornaleiro • Mais Banca • Magzter
• Ubook • Bookplay • PressReader • Zinio Foto de capa: Brasilio Wille
Modelo: Kauana Laís Silva

Fotografe Melhor no 295 3


6 Grande Angular
Notícias e novidades

sumário Grande Prêmio Fotografe


Confira as dicas do fotógrafo Jean
Lopes, um craque em concursos
12
Brasilio Wille

32
Meu estúdio
no quintal
Depoimento de quem
planejou por anos ter
seu espaço de trabalho
Livia Capeli

16 Estúdio em casa
Dicas de como fazer o projeto se realizar
e quatro casos para servir de inspiração

40 48
Livia Capeli

Teste de Alma de
produto repórter
Avaliamos a Led Window O fotojornalista Lalo
MOB, luz contínua de Almeida completa
portátil que imita janela 30 anos de carreira
com mais um
prêmio no currículo
João Urban

56
Lalo Almeida

O inquieto João Urban


Conheça o aclamado trabalho
documental do fotógrafo paranaense

4
grande angular

Juan López Ruiz


Prêmio da Sony
anuncia 10 ganhadores
A Organização Mundial de
Fotografia anunciou os
vencedores de 10 categorias do
Sony World Photography Awards 2021,
que busca premiar as melhores imagens de
caindo sobre um campo de lavandas na
província de Guadalajara, na Espanha. Outro
espanhol, Mariano Belmar Torrecilla, venceu
na categoria Estilo de Vida com imagem de
uma caminhada matinal de duas senhoras
Acima, a imagem 2020, que irão receber equipamentos Sony captada em uma praia de Alicante, Espanha.
vencedora na como prêmio e participarão da rodada final Na categoria Arquitetura, a primeira
categoria Paisagem de avaliação para indicar o vencedor geral. colocação ficou com o alemão Klaus Lenzen,
e, abaixo, as
Uma das imagens mais impressionantes com imagem da escadaria do hotel Hyatt,
melhores fotos em
Criatividade (à esq.) é a do fotógrafo espanhol Juan López em Düsseldorf, que parece flutuar por conta
e Retrato (à dir.) Ruiz, vencedor da categoria Paisagem, de um jogo de luz e sombra. Na categoria
que registrou uma tempestade de raios Criatividade, a ganhadora foi Tamary Kudita,
do Zimbábue, com retrato em
contraluz de uma jovem negra
Tamary Kudita

com um vestido vitoriano,


segurando utensílios de cozinha
tradicionais da etnia Shona.
O croata Marijo Maduna
foi vencedor na categoria
Movimento, com instantâneo que
registra o momento em que uma
mulher salta de um penhasco
na ilha de Lokrum, perto de
Dubrovnik, Croácia. Na categoria
Mundo Natural e Vida Selvagem,
quem ganhou foi Cristo Pihlamäe,
da Estônia, com o flagrante de
uma lebre com a língua de fora.
Lyudmila Sabanina

A vencedora da categoria
Retrato foi a russa Lyudmila
Sabanina, com imagem de uma
criança que mais parece uma

6 Fotografe Melhor no 295


Khanh Phan
Klaus Lenzen
Duas grandes fotos vencedoras no concurso mundial da Sony nas categorias Arquitetura (à esq.) e Viagem (à dir.)

F. Dilek Uyar
Mariano Belmar

Ao lado, a imagem que ganhou na categoria Foto de


Rua e, acima, a que ficou em 10 lugar em Estilo de Vida

pintura renascentista, captada em Khanh Phan (Vietnã), com o registro em uma sala vazia. E a categoria
um momento de contemplação do de uma mulher cercada por caixas Fotografia de Rua foi vencida pelo
pequeno modelo. Já na categoria cheias de pescado, captada no turco F. Dilek Uyar (Turquia), por
Viagem o ganhador foi o vietnamita mercado de peixes Long Hai, em Ba foto que documenta o momento
Ria-Vung Tau, no Vietnã. em que um funcionário público
A primeira colocação da da cidade de Ancara realiza a
Marijo Maduna

categoria Objeto ficou com o pulverização de vagões de um trem


húngaro Kata Zih, com foto que parado na plataforma. As imagens
retrata o manequim de um alfaiate finalistas podem ser conferidas
iluminado pela luz de uma janela acessando o link: worldphoto.org.

Fotos que ficaram em primeiro


Kata Zih

lugar nas categorias Movimento


(à esq.), Mundo Natural e Vida
Selvagem (abaixo) e Objeto (à dir.)
Cristo Pihlame

7
grande angular

O orangotango
fotografado
de um ângulo
Thomas Vijayan

incomum deu o
primeiro lugar
ao canadense
Thomas Vijayan
no World Nature
Orangotango dá de 2020

prêmio a canadense
O canadense Thomas Vijayan foi o recebeu uma medalha de ouro e mil libras.
Dipanjan Pal

vencedor do Grande Prêmio no World O WNPA indicou ainda, como


Nature Photography Awards 2020 (WNPA) segundo e terceiro colocados gerais, o
com uma fotografia registrada de um checo Vladimir Cech e a alemã Alette
ponto de vista inusitado. A imagem Magiera, respectivamente, premiados com
mostra um orangotango subindo em medalhas de prata e bronze. A premiação
uma árvore e foi captada em Bornéu, contou com 12 categorias. Em cada uma
ilha situada na Oceania. Vijayan conta delas foram escolhidos primeiro, segundo
que passou vários dias acompanhando e terceiro lugares.
o movimento dos animais, que estão Com sede em Londres, Inglaterra,
ameaçados de extinção. O fotógrafo o WNPA destina parte dos fundos
arrecadados a duas ONGs que combatem
as mudanças climáticas, Clean Air Task
As imagens vencedoras
nas categorias Arte Natural Force e Coalition for Rainforest Nations.
(à esq.), Comportamento/ A competição de 2020 recebeu inscrições
Répteis e Anfíbios (abaixo) e de 20 países. Confira todas as imagens
Comportamento/Pássaros ganhadoras no link bit.ly/3ma95Gn.
Vittorio Ricci

Paul Dale

8 Fotografe Melhor no 295


Dez anos caçando
a Aurora Boreal
Há dez anos o brasileiro Marco com prefácio de Alberto Andrich,
Brotto se dedica a fotografar a Aurora fundador e CEO da World Adventure
Boreal. Após entrar pela primeira Society, e citações de fotógrafos
vez em contato com o fenômeno renomados, como Luciano
das luzes coloridas no céu em uma Candisani, da revista National
viagem para o Ártico, ele decidiu Geographic, e Cristiano Xavier.
redirecionar sua vida e criou uma A publicação tem 220 páginas
agência de expedições, tornando- e mostra registros de 82 viagens.
-se um “caçador” de Auroras Boreais. Além de fotos, o livro traz algumas
Parte de suas aventuras está agora referências relacionadas ao cosmos e
reunida no livro Aurora Boreal: à energia, depoimentos de pessoas
amor em forma de luzes e cores, que já presenciaram o fenômeno por
meio das expedições organizadas
por Marco Brotto para a Islândia,
O livro de o Alaska, nos Estados Unidos, e
Marco Brotto a tríplice fronteira entre Suécia,
reúne imagens
Finlândia e Noruega. Para saber
de 82 viagens
que ele fez mais sobre o livro e as expedições
para fotografar lideradas por Brotto, acesse
Auroras Boreais auroraboreal.com.br.
Fotos: Marco Brotto

Fotografe Melhor no 295 9


grande angular

David Alan Harvey


deixa a Magnum
A polêmica em torno de a partir dos
condutas questionáveis do fotógrafo termos de busca
americano David Alan Harvey teve “adolescentes”
como desfecho seu pedido de e “prostitutas
desligamento da Magnum diante da tailandesas”, parte
possibilidade de a famosa agência de uma série
David Alan Harvey
de fotojornalismo expulsá-lo. O caso clicada por Harvey
começou quando o site Fstoppers em 1989. A polêmica se deu em torno nova investigação e a afastá-lo por
publicou reportagem relatando de alegações de que as imagens um ano. O fotógrafo de 76 anos foi
ter encontrado no acervo on-line retratavam meninas menores de idade acusado de assédio sexual por 11
da Magnum fotografias de Harvey e, por isso, constituíam um ato de mulheres, todas também fotógrafas
abuso sexual infantil. A Magnum se que ele convidava para trabalhar
comprometeu a fazer uma auditoria como assistente e acompanhá-lo em
interna, que resultou em uma resposta viagens. A nova auditoria ainda não foi
vaga da agência. concluída, mas Harvey optou por pedir
Esse fato, porém, desencadeou seu desligamento definitivo, alegando
uma série de denúncias contra inocência. Informações de bastidor,
Harvey, reunidas em uma reportagem no entanto, revelam que o Conselho
publicada na Columbia Journalism da Magnum já havia se decidido pela
Review, que levou a Magnum a abrir expulsão do fotógrafo e iria, em breve,
levar a decisão para ser votada por
Ao lado, David Alan Harvey em todos os membros da agência. Essa
Divulgação

ação e, acima, foto de trabalho seria a causa da decisão de Harvey de


que ele fez no Rio de Janeiro (RJ) se afastar por iniciativa própria.
Danilo M. Yoshida

Foto do Mês/Arfoc-SP
Apinhamento social
Dia 3 de março de 2021. A segunda autorização para fotografar. “Esperava
onda da pandemia de covid-19 se encontrar o local um pouco mais
avolumava assustadoramente no Brasil, vazio por conta da pandemia.
batendo novos recordes de mortes e Mas, quando cheguei, por volta
infecções. Apenas naquele dia, foram das 17h30, o cenário era aquele.
registradas 1.910 mortes, o que levou A cada trem que chegava, uma
o governador de São Paulo, João nova aglomeração de centenas de
Dória, a decretar fase emergencial pessoas se formava, que, ainda por
no Estado. Diante dessas notícias, o cima, acabava por lotar os vagões”,
fotógrafo freelancer Danilo M. Yoshida relata. A imagem foi publicada em
dirigiu-se à Estação da Luz no fim de diversos veículos e no Instagram
tarde, para registrar o movimento do próprio fotógrafo. “Muita gente
em um dos locais de maior comentou, compartilhou e repostou,
aglomeração da megalópole, e fez o engajamento gerado foi absurdo.
uma imagem que espelha o quanto Acredito que isso ocorreu porque as
a guerra contra o novo coronavírus pessoas estão cansadas da pandemia
não será fácil de ser vencida. e do descaso de políticos com a
Yoshida diz que a Estação da população”, avalia Yoshida.
Luz é um local tradicionalmente
conhecido pelos fotógrafos, pois Março de 2021: Estação
lá se tem uma visão de cima das da Luz em horário de pico
plataformas e não é preciso de em plena pandemia

10 Fotografe Melhor no 295


Grande Prêmio Fotografe

Fotos: Jean Souza


O premiado
fotógrafo Jean
Lopes conta como
O aprendizado
a participação em
concursos pode
trazer avanços
dos concursos Por Érico Elias
importantes para o
desenvolvimento de
um estilo próprio P articipar de concursos não
é apenas uma forma de
dar visibilidade ao trabalho,
obter recompensas financeiras ou dar
um impulso à carreira. É também uma
o triunfo no concurso o fez enxergar
algo que estava na fotografia dele e da
qual até então não tinha se dado conta:
a presença da cor como elemento da
composição. “Essa recompensa adicional
oportunidade de progredir e descobrir não estava prevista no regulamento do
elementos em seu próprio trabalho. Jean concurso", brinca Lopes.
Lopes, potiguar da cidade de Assu (RN) Por viver em uma cidade do interior
e o primeiro a conseguir a façanha de do Nordeste, ele conta que aprendeu
vencer o Concurso Leica-Fotografe na muito não apenas se inscrevendo, mas
categoria Cor, com uma só imagem (em sobretudo acompanhando os resultados
2006), e na categoria Ensaio (em 2007), de concursos. Um dos primeiros de que
chegou a essa conclusão na prática. participou foi o da Nikon Internacional,
Ele lembra que foi uma experiência quando estava começando a fotografar.
marcante conquistar o primeiro lugar no Ao conhecer as fotos premiadas, ele
No alto, duas imagens do concurso de 2006. Além da viagem para compreendeu que ainda precisava
ensaio Pau de Sebo, de Jean participar e receber a premiação durante melhorar muito. “Pense no contexto
Lopes, vencedor do Concurso o Festival Internacional de Fotografia de quem aprendeu a fotografar antes
Leica-Fotografe em 2007 Paraty em Foco e da exposição na mídia, de existir internet, em que a única

12 Fotografe Melhor no 295


formação era na base do erro e do Leica-Fotografe em 2007, foi
do acerto, quando as publicações realizado ao longo de três anos. Ele
especializadas eram escassas e o fotografou o tradicional pau de sebo,
acesso à informação de qualidade que percorre os bairros de Assu
era restrito aos grandes centros. durante o período de festa junina.
Tomei como lição essa experiência Misto de brincadeira e competição, o
inicial e até hoje sigo aprendendo pau de sebo chega a ser desafiador
e me inspirando com os grandes também para quem quer fotografá-lo
concursos", comenta. sem cair na redundância.
Conta que fez o ensaio para
Igreja e pau de sebo si, sem grandes pretensões e sem
No concurso Leica-Fotografe de pressa. Não lembra quantas fotos
2006, Jean Lopes foi o vencedor da foram feitas, mas diz que não foram
categoria Cor com um instantâneo muitas. Às vezes, e especialmente no
feito na comunidade de Pataxó, começo dos ensaios, ele sai a campo
próxima a Assu. O fotógrafo foi só para observar e buscar uma
atender a encomenda de um cliente, interação com os personagens. “Uma
que queria apenas uma foto da vantagem para quem aprendeu a
igreja local, e se deparou com a fotografar na época do filme é saber
cena, conseguindo rapidamente observar mais e fotografar menos.
compor usando no primeiro plano Ter menos fotos também facilita o
uma mulher que passava com uma processo de edição. Essa etapa do
sombrinha. “Acho que o sucesso trabalho é muitas vezes penosa, mas
da foto se deve muito ao rigor crucial para o sucesso de todo o
da composição e, a despeito da ensaio", observa.
explosão de cor, consegue manter A edição do ensaio premiado
tudo em perfeito equilíbrio", aponta. foi realizada pelo fotógrafo, que
Já o trabalho Pau de Sebo, acredita ser importante que o
que deu a Jean Lopes a primeira autor desenvolva a capacidade
colocação na categoria Ensaio de escolher o próprio material.

Fotografe Melhor no 295 13


Fotos: Jean Souza
Acima, Jean Lopes; ao lado, a foto
que ganhou na categoria Cor no
Concurso Leica-Fotografe de 2006;
e, mais abaixo, outra bela imagem
do fotógrafo de Assu (RN)

perturbadora, que causa estranheza…


Quem sabe ela não vai ser o achado
do concurso?", argumenta.
Para Lopes, se o fotógrafo tem
uma imagem excepcional que
já foi enviada a outro concurso
e não obteve premiação, talvez
seja a ocasião de tentar de novo.
Ele ressalta que julgar fotos não é
uma tarefa fácil e envolve muitas
escolhas subjetivas, por isso fotos
excepcionais podem acabar ficando
de fora de alguns concursos, a
depender do nível geral dos inscritos
e da comissão julgadora.
Já na categoria Ensaio, o mais
importante é que as imagens formem
um conjunto coeso que transmita
claramente o que se quer comunicar.
Jean Lopes sempre lembra que
Mas é preciso lembrar que esse às regras pode resultar em uma menos é mais. “Se você só tem seis
procedimento pode se tornar uma escolha malfeita. Pior, há exemplos boas imagens, não tente forçar a
armadilha, já que o autor pode criar de fotos premiadas que tiveram barra, incluindo mais fotos no ensaio,
laços afetivos com os personagens, sua premiação cassada por ferir as isso pode acabar prejudicando o
com a história, com o momento da regras do concurso. conjunto”, ressalta. Na hora de editar
foto e se apegar a certas imagens, Para quem deseja se inscrever seu ensaio, vale pedir ajuda para
mesmo quando não faz sentido na categoria Imagem Destacada, alguém mais experiente, sugere ele,
incluí-las no trabalho. Jean Lopes indica fugir de clichês, principalmente artistas de outras
como evitar fotos do pôr do sol ou linguagens. “Uma opinião qualificada
olho no regulamento selfies bonitinhos, fotos de família às vezes muda a percepção sobre
A primeira dica que Jean Lopes e outros temas recorrentes. “Não nosso próprio trabalho", avalia.
dá a quem deseja participar de um mande fotos muito parecidas, Para saber mais sobre
concurso como o Grande Prêmio decida antes qual a melhor de sua como participar do Grande
Fotografe 2021, que está com sequência. Como o concurso tem Prêmio Fotografe 2021, acesse:
inscrições abertas, é a leitura atenta tema livre, pode ser sua chance fotogramemelhor.com.br/premio/
do regulamento. A falta de atenção de mandar aquela foto esquisita, regulamento.

14 Fotografe Melhor no 295


Brasilio Wille

O fotógrafo paranaense Brasilio Wille durante a produção de um ensaio no grande estúdio que montou em casa

Estúdio em casa:
dicas e quatro inspirações
Veja como é possível montar um estúdio caseiro profissional sem
gastar muito e confira as diferentes soluções encontradas por quatro
fotógrafos experientes para trabalhar sem sair de casa

16 Fotografe Melhor no 295


espaço
Douglas Pinheiro
Para fotografar
pessoas, a área
mínima ideal é de
15 m2, segundo
especialistas

O fotógrafo fluminense Douglas Pinheiro faz ensaios de nu e sensual com luz natural em seu apartamento-estúdio

Por Livia Capeli

M orar onde se trabalha nunca fez tanto


sentido como neste momento de
pandemia de covid-19, que tem no
isolamento social uma forma de evitar contágios pelo
novo coronavírus. Mas, para alguns profissionais de
não exige um grande espaço, mas fotografar pessoas, por
exemplo, demanda uma área bem maior e que ofereça
certo conforto ao cliente, como um banheiro.
Além da questão de espaço, o processo de
montagem de um estúdio caseiro precisa levar em conta
fotografia, o significado de trabalhar em casa é ainda outros fatores. Caso o fotógrafo more na casa com
maior, pois está diretamente ligado à realização pessoal outras pessoas (família ou amigos), é fundamental que
de ter um estúdio sem a necessidade de desembolsar elas entendam o trabalho que é feito e compartilhem do
dinheiro com aluguel de um imóvel. O fato é que montar sonho que está sendo realizado, já que a movimentação
um estúdio caseiro não é complicado nem caro, porém, de clientes ou de pessoas entregando produtos para
a estrutura e o valor do investimento estão diretamente serem fotografados afetarão a rotina do lar. E, caso o
relacionados ao nicho de mercado ao qual o fotógrafo estúdio seja montado em prédio de apartamentos,
pretende atender. Registrar produtos para e-commerce essa movimentação precisa ser entendida e aprovada

Fotografe Melhor no 295 17


Matéria de capa

Daniela Margotto
Montar um
estúdio em casa
requer a escolha também pelo síndico e moradores, distância focal da objetiva que será usada
principalmente os vizinhos. para calcular a distância entre modelo e
de um espaço Do ponto de vista do investimento fundo, no caso de fotos de pessoas – com
que não interfira que será feito, ele vai depender base em uma objetiva de 50 mm, o ideal
da disponibilidade financeira do é que o comprimento seja de pelo menos
na rotina do lar fotógrafo, pois será necessário comprar 5 m. Já como área a sugestão é de um
nem das outras equipamentos e acessórios. Muitos que estúdio entre 15 m2 e 20 m2 no mínimo,
pessoas que têm em mente o projeto de montar um sendo que o ideal é em torno de 30 m2.
estúdio em casa vão comprando o que Em geral, em um estúdio para retratos,
morem no local precisam aos poucos, até chegar o dia é importante que exista espaço para o
de efetivamente colocar o espaço para camarim, com espelho, cadeira e mesa
funcionar. Outros preferem definir o espaço para maquiagem – indispensáveis para
para pensar no que comprar. Fotógrafos que a pessoa possa trocar de roupa e ser
experientes dizem que o primeiro estúdio maquiada com privacidade. O banheiro
pode ser mais simples e que muitos pode ser transformado em camarim e
Acima, retrato feito
pela fotógrafa Daniela acessórios podem ser improvisados. outros espaços restritos podem ser criados
Margotto no estúdio Em relação a espaço, os especialistas com biombos. Já a decoração não precisa
que ela montou na explicam que a altura do pé-direito ser luxuosa, mas deve ter um estilo clean,
sua casa em São Paulo (distância entre o teto e o chão) não agradável, prático e aconchegante – uma
(SP); na página ao lado, importa tanto, já que o tamanho-padrão poltrona é o mínimo para acomodar um
retrato realizado pelo (entre 2,5 m e 2,8 m) é suficiente. O mais cliente com conforto. E, caso haja espaço
fotógrafo Renato Rocha
Miranda também em importante são os espaços laterais, a sobrando, o fotógrafo pode usar como
um estúdio caseiro, largura e, principalmente, o comprimento. área de tratamento de imagem (com
recém-inaugurado no Para determinar o comprimento adequado mesa, computador e cadeira) e colocar
Rio de Janeiro (RJ) para um estúdio em casa é preciso saber a algumas prateleiras para armazenar

18 Fotografe Melhor no 295


arquivos e livros de uso profissional. Só é Cada um tem sua fórmula: desde Fotos de pessoas
necessário tomar cuidado para o monitor trabalhar apenas com luz natural e e de produtos
ficar longe de janelas e portas que alguns improvisos de luz contínua, como grandes precisam de
fundos maiores, que
possam gerar reflexos na tela. Pinheiro, a algo mais sofisticado em podem ser de papel
termos de equipamento, como Wille. (acima, à esq.); para
escolha do fundo Confira dicas de modificadores de luz mais pequenos produtos de
Detalhe muito importante: o fundo. populares e a solução de cada fotógrafo e-commerce, um fundo
Um fundo infinito de alvenaria é o para seu estúdio em casa. em bancada resolve
sonho de todo fotógrafo ao montar um
estúdio, mas em casa fica praticamente

Renato Rocha Miranda


inviável. Quando o espaço é pequeno e
o orçamento curto, a solução é recorrer
a fundos fotográficos versáteis, feitos
com materiais alternativos, como uma
placa de compensado (tamanho de
1,60 x 2,20 metros, com 15 mm de
espessura é a sugestão), encontrada em
qualquer loja especializada ou grandes
lojas de material de construção – uma
placa assim pode ser pintada, o que
permite variar a cor do fundo sempre
que necessário sem gastar muito.
Também é possível instalar de dois a três
compensados na parede com um sistema
de trilhos, deslizando os fundos nas cores
desejadas conforme a necessidade.
Tecidos de TNT também são opções
boas e baratas para fundos (o preto
produz melhor resultado que o branco,
afirmam os especialistas), enquanto fundos
de papel são uma boa alternativa, porém,
mais caros – para não ter de cortar o papel
a cada trabalho, a dica é usar uma placa de
fórmica branca ou preta no chão.
O fato é que um estúdio em casa
pode ser criado de várias formas, como
contam os experientes fotógrafos
Douglas Pinheiro, Daniela Margotto,
Renato Rocha Miranda e Brasilio Wille.

19
Matéria de capa

projeto
Comprar os
equipamentos

Shutterstock
aos poucos é uma
opção que muitos
escolhem

A luz básicA para o


primeiro estúdio
Montar um estúdio em casa também custo-benefício, pois estão entre as opções
requer pensar na iluminação que será mais baratas. Elas emitem luz refletiva e
usada. É possível trabalhar apenas com luz proporcionam um bom aproveitamento,
natural, escolher uma solução baseada em produzindo bons resultados. São muito
um equipamento de luz contínua de LED usadas para retratos, mas, dependendo
ou ter alguns modificadores de luz, opção da proposta, servem como opção para
da maioria dos fotógrafos. O modificador fotos de produtos. Podem ser dos
de luz é um acessório para ser colocado tamanhos pequeno, médio e grande em
diante da cabeça de flash e cada modelo relação ao diâmetro.
gera um efeito diferente na iluminação. A sombrinha branca gera uma luz mais
Quem está começando não precisa ter suave e projeta sombras mais amenas.
uma porção deles, mas alguns são básicos Já a sombrinha prata oferece melhor
e curinga dentro de um estúdio: as aproveitamento da luz, fazendo com
sombrinhas branca, prata e difusora, o hazy que o fotógrafo ganhe mais pontos do
light, o softbox e os refletores parabólico e diafragma. Provoca mais contraste e
base (com ou sem colmeia). iluminação mais intensa – por outro lado,
As populares sombrinhas refletoras gera mais reflexos e sombras acentuadas.
branca e prata estão no setor das luzes A grande diferença entre a branca e a
mais suaves e oferecem um atraente prata é que a prateada oferece uma luz
um pouco mais dura, dando um tom mais
neutro ao trabalho. Também é preciso
Ter um softbox (no alto) e
uma sombrinha (ao lado) já é considerar que, quanto maior o tamanho
um bom começo para quem da sombrinha, mais luz ela espalhará,
planeja ter um estúdio em causando mais difusão da iluminação.
casa sem gastar muito A sombrinha difusora é vista como

20 Fotografe Melhor no 295


A sombrinha difusora (à esq.)
pode ser uma alternativa mais
barata ao hazy light (acima)

O softbox (à esq.), o refletor


parabólico (acima) e o refletor base
Fotos: Divulgação

com colmeia são modificadores de


luz clássicos em um estúdio

para várias situações. Na prática, o bocal suavemente fechado), os


uma das características que convencionais, conhecidos também
diferenciam o hazy light do softbox como curtos (com o bocal mais
é o formato. Por ser quadrado aberto), e os angulados (cortados
substituta de baixo custo do softbox e não ter abas, o hazy gera luz em ângulos). Todos oferecem
ou do hazy light, mas sem oferecer menos contrastada se comparado projeção de sombras acentuadas
um maior controle da luz como ao resultado obtido com o softbox, e potencializam a luz. Por outro
esses modificadores. Ela funciona que é retangular e também oferece lado, causam alto índice de reflexos,
como um difusor de luz, gerando uma luz difusa suave. O difusor dependendo do produto que está
iluminação difundida, porém, mais frontal branco recuado envolto por sendo fotografado.
contrastada. O modo de utilizá- abas do softbox ajuda a direcionar Com mais concentração de luz
-la é diferente das sombrinhas melhor a luz e controlar reflexos na ainda, o refletor base pode ser usado
convencionais, pois ela deve ser lente, evitando o efeito flare. com ou sem colmeia, acessório que
posicionada de frente ao objeto, de No setor de luzes mais duras, leva esse nome por lembrar um favo
modo a difundir a luz, e não refleti-la. o refletor parabólico é dos mais de mel. Esse modificador projeta
Ainda no campo das luzes populares por produzir uma sombras acentuadas quando usado
suaves, o hazy light é um dos iluminação direta, concentrada e como iluminação direta. Com a
modificadores mais usados em contrastada. Há refletores alongados colmeia acoplada a ele, a luz dura é
estúdios por ser curinga e servir (que têm o corpo mais longo e suavizada (mas não muito).

Fotografe Melhor no 295 21


Matéria de capa

janela
A principal luz
do home studio
de Pinheiro vem
das janelas do
apartamento

Fotos: Douglas Pinheiro


Diferente e com
custo quase zero
O estúdio do fotógrafo Douglas de luz que ilumina os ambientes, já que
Pinheiro, que atende ensaios de nu e trabalha somente a luz natural de janela,
sensualidade, foi organizado dentro de um além de ter sempre à mão os adereços
apartamento de 60 m2 que ele divide com necessários para compor os cenários.
a mãe, dona Lizete, em Niterói (RJ). O home O fotógrafo conta que precisou investir
studio do profissional fluminense é um na redecoração da casa como um todo,
exemplo de como é possível montar algo além de trocar cortinas, almofadas e
com base simples e acessível, sem grandes comprar luminárias, que fazem parte do
investimentos: o apartamento de três cenário e também são usadas como luz
dormitórios tem três ambientes úteis usados contínua para complementar a iluminação
para cenário das sessões (sala com sofá, natural. Apesar da vantagem de trabalhar
quarto com cama de casal e segundo quarto em home office a custo quase zero, Pinheiro
com móveis antigos). Já o terceiro quarto conta que ficar limitado aos mesmos
é o de Douglas, onde fica o computador, cenários e ângulos é um inconveniente
usado apenas para guardar tudo que possa do sistema adotado por ele. Ele acredita
“contaminar” os outros cenários. ainda que existe um pouco de preconceito
Desde que decidiu focar no segmento, de uma ou outra cliente em relação
a intenção de Douglas sempre foi a de ao atendimento doméstico: “O ensaio
usar um cenário doméstico como estilo sensual provoca uma fantasia na cabeça
e linguagem. Além de deixar o clima de algumas garotas, elas pensam em fazer
mais íntimo, a opção ajudou a desafogar algo em um lugar superluxuoso e, quando
Cada ambiente tem
o orçamento do serviço com taxas de falo que atendo aqui, tenho a sensação de
ângulos já estudados
pelo fotógrafo para locações. Outro grande benefício de usar que algumas acham mixuruca”.
os ensaios de nu e a própria residência como estúdio é que o O fotógrafo procura sempre agendar
sensual que realiza fotógrafo já está acostumado com o tipo os ensaios no horário de trabalho da mãe,

22 Fotografe Melhor no 295


O quarto com cama
de casal, um dos
ambientes, é onde
Dona Lizete, mãe do
fotógrafo, dorme

O apartamento
passou por uma
redecoração
mas, quando acontece de ela estar para receber
em casa, ele explica às clientes que as clientes que
uma adorável senhorinha estará no procuram o
fotógrafo para
apartamento, o que costuma deixá- os ensaios: a sala
-las mais seguras. Dona Lizete recebe é um dos pontos
todas com muita simpatia, pois apoia bem iluminados
o trabalho do filho. que ele usa

23
Matéria de capa

Fotos: Daniela Margotto


Daniela Margotto Endereço de
transformou
dois cômodos mães e bebês
da ampla casa Especialista em ensaios de newborn, suporte (na mesma parede, ainda pode
onde mora com crianças e gestantes, a fotógrafa Daniela ser colocada uma lona, fixada em outro
Margotto montou seu estúdio na casa em tipo de suporte). E a versatilidade ainda
o marido e dois que mora com o marido e os dois filhos não para por aí: o ambiente comporta
filhos em um adolescentes, na zona sul de São Paulo uma janela grande com uma cortina
estúdio com (SP). Com duas salas dispostas logo na de voal para ser usada no esquema de
entrada principal, sem que a cliente tenha contraluz em fotos de gestantes.
cerca de 38 m2 acesso ao interior da residência, Daniela Como equipamento de luz, Daniela
dividiu os ambientes profissionais entre Margotto conta com dois flashes da
o estúdio (a área que usa para fotografar marca americana Einstein para iluminar os
tem cerca de 38 m2) e um espaço no qual cenários, um que fica no tripé e outro em
abriga recepção, acervo e camarim. uma girafa. Uma sombrinha de 1,80 m de
No estúdio, a fotógrafa planejou o diâmetro e um softbox Greika são usados
local para ter a maior diversidade possível como acessórios para difundir a luz.
de fundos e cenários. As quatro paredes Para atender as mães com conforto,
são totalmente funcionais: uma tem um o estúdio oferece uma cômoda com
fundo infinito e quase todo o restante é trocador. Já na sala de recepção há um
pintado de cinza (com e sem textura). Em confortável sofá para acomodar quem
uma das paredes cinza há um suporte de não está participando da sessão – ali
Acima, ensaio infantil
fundo fixo para rolos de papel em que também estão álbuns e outros materiais
com o tema circo em
que a fotógrafa fez a pode também ser montado um cenário expositivos do portfólio da fotógrafa.
produção com muitos com fundo de tecido. Em outra, existe Quando a família dela não está
detalhes em seu estúdio um fundo de madeira de demolição com usando o jardim interno da casa, Daniela

24 Fotografe Melhor no 295


Imagens de newborn é
uma das especialidades da
fotógrafa, que redobrou os
cuidados de higiene por causa
da pandemia de covid-19

aproveita o espaço aberto para


fazer algumas fotos, o que evita
de ter de ir a um parque. Isso cria
mais variedade de cenários em
sessões com gestantes e ajuda a
vender mais, comenta ela. Também
foi uma opção muito usada por
ela nos momentos de restrição por
causa da pandemia de covid-19.
No começo da pandemia, ela
conta que teve muito receio de
trazer pessoas que não sabia como
estavam se cuidando para dentro
de casa. "Adotei procedimentos, Para proteger o espaço de também notou que, com tudo que
como oferecer muito álcool em trabalho e a casa, a fotógrafa aconteceu por causa da pandemia,
gel e uma caixinha para os clientes ainda precisou espaçar os horários os ensaios com bebês e crianças
colocarem os celulares, estabeleci da agenda de atendimento de ficaram um pouco mais difíceis, pois
distanciamento e uso obrigatório clientes, prevendo o tempo para a todos estavam levando uma vida
de máscara e ainda tenho aqueles higienização do estúdio (chegou até diferente: os pequenos modelos
tapetes higienizadores para os pés a adquirir um aparelho higienizador demoram mais para se sentir à
aqui na entrada”, explica. profissional). Daniela Margotto vontade e a estranham mais.

Duas salas na parte dianteira da casa, separadas do restante dos ambientes, foram transfomadas em estúdio: uma
é ocupada por fundos e equipamentos e outra por recepção com sofá, escritório e acervo de roupas e acessórios

Fotografe Melhor no 295 25


Matéria de capa

O fotógrafo
deve dimensionar
o tamanho do
estúdio para o tipo
de trabalho que
fará em casa. Para
e-commerce, por
exemplo, não é
preciso muito
espaço
Renato Rocha Miranda

Fotos: Renato Rocha Miranda


Ao lado e abaixo, retratos
feitos por Renato Rocha
Miranda com o fundo de
lona que será o principal
em seu home studio

Experiências compartilhadas
A montagem de um novo home studio pelo fotógrafo Renato Rocha Miranda
em uma cobertura duplex de frente para no se canal no YouTube (youtube.com/
o Parque Chico Mendes, há 5 minutos da renatorochamiranda), com cerca de
praia no Recreio dos Bandeirantes, zona 25 mil inscritos. Funcionou como uma
oeste do Rio de Janeiro (RJ), foi mostrada espécie de passo a passo de como
organizar um local de trabalho em casa.
Próximo de completar 25 anos de
carreira na fotografia, 16 deles dedicados
a trabalhos para a Rede Globo, Miranda
tem estúdio em casa desde 2012. O
primeiro espaço montado, chamado de
Criadouro Carioca, funcionou até fevereiro
de 2021 na Barra da Tijuca, também zona
oeste do Rio, como sala para workshops
e cursos, galeria, sala para gravação de
vídeos e podcasts, além, é claro, de estúdio
de fotografia e lar do fotógrafo.
Com uma estrutura mais compacta
e enxuta economicamente, o novo
home studio é dedicado a retratos e
está constituído no segundo andar
da casa em uma área útil de 7 m de
largura por 6 m de comprimento. No
mesmo pavimento há um banheiro
(usado também como camarim e sala de
maquiagem), uma cozinha equipada com
micro-ondas e frigobar e um depósito.
A proposta do estúdio de Renato
Rocha Miranda é usar iluminação

26 Fotografe Melhor no 295


O estúdio do carioca Renato
Rocha Miranda foi montado
em um dos ambientes de um
apartamento de cobertura

totalmente natural, salvo em dias


nublados, quando ele recorre a
flashes. Uma grande janela lateral é a
responsável por fornecer a iluminação
necessária para os ensaios, enquanto
uma cortina dupla de voal, combinada
com blackout, ajuda a difundir a luz
(para filtrar mais a luz, ele colocou vidros
jateados na janela). E, como o espaço
ainda tem uma varanda, é ali que o
fotógrafo pretende ministrar cursos.

10 pontos a considerar
Por experiência própria,
Renato Rocha Miranda lista 10
apoia? Essas perguntas precisam de
respostas objetivas. 7 Lembre-se de que um espaço
pequeno pode proporcionar
pontos a considerar antes de
montar um estúdio em casa: 3 Escolha um lugar da casa para
montar o estúdio que ofereça um
acesso sem invadir a privacidade de
pouca variação de luz. Essa limitação
pode colocar em risco seu processo
criativo. Como você vai lidar com isso?

1 Identificar os nichos mais


promissores e planejar o espaço
conforme seu foco. O local precisa
outros moradores. Entradas laterais
individuais ou salas separadas por
um corredor com porta ou cortina
Tenha a solução.

8 Não se esqueça de que um


estúdio em casa também deve
ser escolhido para comportar essa limitando o acesso dos clientes é ter suas obrigações administrativas
atividade. Atualmente, os setores de uma boa opção. e contábeis. Quem vai fazer a
comida, bebida, restaurantes, bares
e farmácias são os mais promissores 4 Seu local de trabalho oferece um
banheiro para uso exclusivo do
limpeza, tratar das fotos e fazer a
contabilidade? Pense nisso.
para fotos de e-commerce. Um
estúdio compacto atende bem
essa necessidade.
cliente? Isso é muito importante.

5 Se você mora em condomínio, as


regras administrativas permitem
9 Você está pronto para abrir mão
do seu conforto, de dias de folga e
de viajar? Ser dono do próprio negócio

2 O local escolhido dentro


da sua casa para abrigar o
entradas de visitantes limitando
horários e dias? Seu horário de
é deixar de ter dinheiro entrando na
conta quando não há produção.
estúdio e todos os equipamentos
montados vai ocasionar
funcionamento provavelmente terá de
respeitar as normas. 10 Lembre-se de que em um
negócio próprio seu chefe
desconforto para quem mora
junto com você? Sua família está
ciente disso? Ela concorda e
6 Sua casa oferece um local de
estacionamento para o cliente? É
um atrativo a mais.
é o cliente. Ele é quem vai cobrar
prazos e resultados. E você poderá
ter muitos chefes...

Fotografe Melhor no 295 27


Matéria de capa
quarto
Wille montou o
primeiro estúdio
no quarto quando
ainda morava na
casa de seus
pais

Um grande
estúdio caseiro
Com um trabalho eclético, voltado Proprietário de uma área ampla em
para os mercados de book, moda, Curitiba (PR), ele fez a combinação de uma
Acima, imagem de nu e
publicidade, mundo corporativo, ensaios área operacional de trabalho (com set de
sensual feita no estúdio
de Brasilio Wille em sensuais femininos e de gestantes, o estúdio, recepção, camarim, lounge, sala
Curitiba (PR), que tem fotógrafo paranaense Brasilio Wille de aula, depósito, sala administrativa e
recepção independente tem um estúdio em casa há 34 anos. quarto de acervo) com área residencial,
que divide com a mulher, Lígia (gerente
dos negócios), já que os dois filhos já não
moram mais com eles.
“O primeiro estúdio foi no meu
quarto, em casa, para desespero da
minha mãe. Depois, casado, comprei
um terreno meio sem noção do que ia
fazer. Construí a casa e montei o estúdio.
Anos depois reformei e isolei a casa do
trabalho, dando mais privacidade para
minha família. Foram seis anos até chegar
ao que tenho hoje. Mesmo assim, ainda
tenho uma área de lazer compartilhada
que serve de apoio para o estúdio e que
tento planejar o uso para não coincidir
com o dia de lavar roupa”, brinca ele.
O espaço de trabalho de Brasilio pode
ser considerado um exemplo de home
studio avançado. Hoje é um barracão de
9 m de largura por 13 m de comprimento

28 Fotografe Melhor no 295


Fotos: Brasilio Wille

Brasilio Wille comprou


um terreno amplo, onde
construiu há 34 anos a
casa e o estúdio, que foi
aumentado aos poucos

com pé-direito de 6,5 m que abriga


um fundo infinito de concreto, que
vai do piso até o teto. Além disso, a
sala de aula de 7 m de largura por
10 m de comprimento também pode
ser desmontada e aproveitada como
um segundo estúdio.
O grande estúdio caseiro do
fotógrafo é equipado com suportes
fixos na parede para fundos de
papel e tecido, há um arsenal com
cerca de 15 flashes de todos os tipos
(compactos, a bateria, geradores...),
além de aproximadamente 60 tipos
diferentes de modificadores de
luz, câmeras e objetivas diversas,
computadores, fora os acessórios,
como tripés e girafas, entre outros.
Wille diz que a vantagem de
morar no trabalho está relacionada
diretamente ao custo com
deslocamento e despesas com
imóvel, bem como isolamento
(principalmente durante a pandemia).
Por outro lado, o inconveniente
é saber separar a vida pessoal da
profissional, pois quem não tem
disciplina pode acabar trabalhando
em dias de folga também. “O mais
importante de tudo aqui no estúdio
é o cachorro, que me avisa quando
chega cliente, pois sou surdo. É ele
também que me ajuda a aliviar o
estresse”, conta, entre risos.

O espaço de trabalho tem


sala de reunião, camarim
e até sala de aula, onde o
fotógrafo dá seus cursos

29
Como montei meu
estúdio em casa
Confira o depoimento da fotógrafa Livia Capeli, que, além de ser
repórter de Fotografe, atua no mercado de fotografia de gestantes
e bebês no home studio que ela montou no próprio quintal
Por Livia Capeli

M ontar um estúdio é
um desejo que muitos
fotógrafos têm em
algum momento da carreira. Comigo
não foi diferente. Contar com um
apenas uma estudante de Fotografia
da turma de 2002 na Escola
Panamericana de Artes de São Paulo
(SP). Pouca gente sabe, mas, antes
de fazer parte da equipe de redação
caseiro – no caso, um barracão no
fundo do quintal da casa da minha
falecida avó. Eu e meu namorado
(hoje meu marido) fizemos tudo que
deu para tentar transformar aquilo
local confortável para atender o de Fotografe, eu me formei primeiro em algo apresentável e funcional: o
cliente e ter liberdade para trabalhar como fotógrafa e depois como estúdio, cheio de goteiras, se resumia
com segurança sempre esteve entre jornalista, e em meio a isso arrisquei a uma parede mais ou menos branca,
meu planos, desde quando eu era improvisar meu primeiro estúdio uma câmera Nikon FM-10 de filme e

32 Fotografe Melhor no 295


grávidas
Fazer ensaios
de gestantes e
bebês é uma das
Fotos: Livia Capeli

especialidades
da fotógrafa

Fotografe Melhor no 295 33


Dicas profissionais
Fotos: Livia Capeli

A fotógrafa Livia Capeli


usa basicamente
iluminação de luz
contínua no estúdio
que montou em casa

um par de flashes de estúdio, bem antigos,


que acabaram logo dando curto – a
iniciativa foi um grande fiasco.
Durante os 16 anos na redação de
Fotografe (que completo em ação em
2021), sempre mantive a atividade de
fotógrafa e nunca desisti do sonho de
ter meu espaço para trabalhar. Vivenciei
diversos segmentos dentro da fotografia,
entretanto, depois que tive meu filho, passei
a me interessar muito mais por fotografia
de bebês e crianças, mesma época em
que o segmento de newborn chegava ao
Brasil. Comecei a montar acervo, pedia
“emprestado” os filhos dos amigos para
praticar e, sem estúdio, fazia os ensaios
na casa deles. Até o ponto de começar a
sofrer de dores na coluna de tanto carregar
cacarecos para cima e para baixo.
No final de 2018, troquei a vida caótica
da capital paulista pelo interior (São José
do Rio Preto) e me mantive trabalhando
remotamente para Fotografe. Meu
principal objetivo foi buscar um imóvel

34
A fotógrafa cobriu
uma parte do seu
quintal para criar
uma espaço de
trabalho, como
visto nas imagens
ao lado e abaixo

que combinasse qualidade de vida ensaios. Conto com uma área de assim como revesti a área com piso
para a família e boa localização para 28 m2, que foi coberta, com espaço bem claro, formando um espaço
montar meu próprio espaço, pois para um banheiro e lavabo exclusivo iluminado, suave e tranquilo, uma
não estava disposta a pagar aluguel para os clientes, com um trocador característica do meu estilo de
para manter um estúdio. de fraldas para os bebês, uma copa fotografia. Tenho idealizado para o
com pia, cantinho do café e balcão futuro, na área descoberta ao redor do
Espaço planejado onde deixo sempre disposto álbuns estúdio, um pequeno jardim com área
Montei o estúdio no quintal para os clientes folhearem. gramada, plantas e um pergolado para
da casa que comprei, depois de Minha área útil de estúdio é de realizar sessões em ambiente externo.
uma grande reforma. A casa conta 16 m2, podendo ter duas opções de Como iluminação uso a Led
com entrada independente e assim montagem de set, com possibilidade Window Pro, equipamento que
o cliente não precisa passar pelo de usar recuo de 3,30 m ou 4,85 m, simula uma janela de luz de LED,
interior dela. Planejei o espaço para o suficiente para fotografar bebês e associada à luz natural que entra
funcionar de maneira versátil: pode gestantes com objetiva fixa 50 mm por uma abertura lateral do estúdio.
ser usado como local de trabalho e com zoom 24-105 mm. Planejei Optei por usar a luz contínua por
e como área de lazer para minha tomadas em locais estratégicos e algumas razões: além de ter uma
família quando não estou fazendo escolhi pintar paredes de branco, luz homogênea, fotografar bebês e

Fotografe Melhor no 295 35


Dicas profissionais
Fotos: Livia Capeli

crianças envolve uma dinâmica de de roupa, desde que tenha sempre para o momento, então ofereço
muita atenção a eles e assim não um plano para combinar a roupa dele também essa opção a elas.
preciso me preocupar com a precisão com o cenário planejado. Contudo, Levei cerca de três anos para
de disparo do flash para captar o em ensaios de newborn, os props montar meu acervo e ainda não
movimento do pequeno modelo. (como são chamados cestos e caixas parei, pois existe sempre o fator
usados para acomodar os bebês renovação nesse tipo de segmento.
Acervo no estúdio durante o ensaio) são importantes Os props são encontrados apenas
Quando decidi focar na área de no segmento. No caso das grávidas, em lojas específicas e não são
fotografia de família, sobretudo em muitas delas não costumam investir elementos baratos – isso se dá
gestantes e bebês, o primeiro passo em um guarda-roupa de gestantes, pelo fato de atenderem a padrões
foi formar um acervo de acessórios e algumas sempre perguntam se de medidas corretos e materiais
e figurinos. Você pode até depender eu tenho roupas para o ensaio. Elas seguros para a saúde e anatomia
do cliente trazer uma ou outra peça querem vestir algo único e exclusivo do recém-nascido. O que também

Acima, Livia Capeli na área


de 16 m2 que usa para
efetivamente fotografar:
ela tem opções variadas
de fundos no estúdio

Para quem trabalha com


fotografia de crianças e
gestantes, ter um acervo
de peças de roupa e de
acessórios é fundamental

36 Fotografe Melhor no 295


Espaços para
café, com xícaras
personalizadas,
e para mães
trocarem bebês
são detalhes
que a fotógrafa
pensou na hora
de montar seu
estúdio; ao
lado, parte do
acervo dela para
imagens de
newborn

acontece com as roupinhas, gorros ser minhas principais opções, pois Quando não encontro o que
e headbands (acessórios de cabelo) não me cansam rapidamente e desejo, procuro fazer eu mesma, o
para ensaios de newborn. combinam com tudo. que me proporciona originalidade
Optei por um estilo mais Quando acontece de eu não – na rede social Pinterest há muitas
minimalista e, por conta do encontrar algum prop com a cor que postagens de “faça você mesma”.
conhecimento que adquiri com a desejo, decido adquiri-lo mesmo Gosto de confeccionar bandeirolas
ajuda de muitos fotógrafos que assim e depois pinto com tinta à de tecido, arranjos com flores e
entrevistei e também pelo fator de base de água e atóxica. Também balões. A ajuda de costureiras,
economia de espaço e dinheiro, busco muita coisa na internet, estilistas e lojas infantis também é
procuro adquirir acessórios de comércio popular e em lojas de importante para esse segmento.
cores e materiais neutros, que departamentos que podem ser úteis Faço parcerias, oferecendo fotos
podem funcionar como curinga para os ensaios – mas para isso é em troca do empréstimo de peças,
para diversos ensaios. Tons bege, preciso ter cuidado para não adquirir assim tenho sempre o acervo de
branco, creme e off white costumam peças de gosto duvidoso. figurinos renovado.

Fotografe Melhor no 295 37


Dicas profissionais

Fotos: Livia Capeli


fundos versáteis painel de madeira – uso preso na
No meu acervo também conto parede por um pequeno par de
com um variado conjunto de fundos travas que improvisei. Uso o painel
de tecidos lisos coloridos e ainda com várias combinações: no chão
os estampados com desenhos com parede branca ou dividindo
que imitam texturas, pisos de metade dele no chão e outra metade
madeira, paredes de tijolos... Eles no piso. Também faço combinações
são impressos em tecido de elanca com os fundos de tecido e posso
e, quando bem esticados em usar um fundo infinito de rolo de
um suporte modular retrátil que papel branco, montado com dois
adquiri da fotógrafa Paty Balbino, tripés com suporte apropriado. Optei
se transformam em um cenário por usar sistemas que não são fixos
muito versátil. Na área de estúdio para poder desmontar quando não
geralmente monto o cenário usando estou trabalhando.
dois tecidos: um no chão e outro no E, no meio disso tudo, para ter
suporte, arrematando o acabamento um estúdio em casa considerei
com um pedaço de rodapé de vários fatores: tentar invadir o
polipropileno que comprei na loja mínimo possível a privacidade da
Leroy Merlin. É muito tranquilo minha família, oferecer conforto
guardar os fundos de tecido no para o cliente, ter versatilidade
armário e posso também levá-los e conseguir trabalhar minha
para qualquer lugar, caso precise criatividade e, principalmente,
fotografar fora do meu estúdio. ter segurança e cuidados com
No alto, banheiro-camarim
e estante para acessórios de Comprei também na Leroy Merlin a higienização em tempos de
newborn; acima, guarda-roupa um piso laminado de 2,5 m2 com pandemia. Mantendo tudo sempre
com peças para ensaios com sistema de junção tipo click, que, limpo antes e depois de cada
grávidas e crianças quando unidos, formam um seguro sessão – afinal, moro onde trabalho.

38 Fotografe Melhor no 295


Janela de luz
portátil
Testamos a Led Window MOB, versão bem menor da Led Window Pro,
que oferece iluminação com lâmpadas de LED e tem tamanho ideal
para estúdios menores ou para ser levada à casa do cliente

40 Fotografe Melhor no 295


Fotos: Livia Capeli

Por Livia Capeli Ensaio de bebê


durante o teste da

A
Led Window MOB,
Led Window Pro, novidade na MOB e ganhou novas medidas: 1,85 m que teve um bom
área de iluminação profissional, de altura por 1,28 m de comprimento. desempenho
patenteada e comercializada Como a versão maior, vem com controle
pela SmartBind Solutions, de Jundiaí (SP), de luminosidade, painel refletixo de LED e
foi testada na edição 276 de Fotografe. cortinas para difundir a luz.
Alguns meses depois da reportagem, a A vantagem é que o equipamento
empresa, para atender ao desejo de vários pode ser montado com praticidade e ser
clientes, desenvolveu uma opção portátil guardado, quando desmontado, dentro
e compacta do modelo pioneiro, que de uma bolsa impermeável e transportado
simula a luz natural de janela de uma forma facilmente no banco de trás ou porta-
descomplicada, podendo ser montada malas do carro. Para avaliar a nova versão,
até na sala de um pequeno apartamento. Fotografe preparou produções para analisar
Mas, mesmo assim, muita gente achava na prática os prós e os contras do produto,
o produto grande, já que é composto que, pelas características, pode ser um bom
de uma estrutura com 2,12 m de altura investimento para quem pretende montar
por 2 m de comprimento. Assim, o novo um estúdio caseiro ou ter um estúdio móvel,
modelo recebeu o nome de Led Window indo até a casa do cliente.

Fotografe Melhor no 295 41


equipamento
O acessório
ofereceu uma luz
contínua bem
homogênea nas
fotos do bebê
Fotos: Livia Capeli

O produto emite Montagem e ajustes


uma luz forte
Com estrutura baseada em tubos de 135 cm de comprimento). Montado,
e homogênea, alumínio, o acessório de luz móvel é leve chega à altura máxima de 1,85 m, com
regulável em (5,2 kg) e possibilita boa movimentação 1,28 m de comprimento e 60 cm de largura.
quando desmontado dentro da bolsa Cristina Paiva, fotógrafa, criadora do
intensidade, (15 cm de altura, 25 cm de largura e equipamento e fundadora da SmartBind,
que consegue desenvolveu um sistema que possibilita ao
fazer uma boa modelo MOB ajustes de altura e ângulo,
tornando possível fotografar uma pessoa
reprodução em pé ou então ser usado no “modo
de cores e de newborn”, abaixo do painel até o chão,
tom de pele proporcionando uma altura de 1,10 m, ideal
para posicionar adereços na altura do piso,
sobre um tapete ou outros tipos de base,
como usualmente é feito em fotografia de
bebês e recém-nascidos.
A Led Window MOB também conta
com ajustes de ângulos, podendo ter o
painel com cortina girado em ângulo de
90º para a esquerda ou a direita, bem
como recolher os pezinhos de apoio para
trás para que não apareçam à frente da
cortina durante o uso do modo newborn.
Os pés também têm ajuste de nivelamento
para que o acessório fique firme e apoiado.
Como o modelo anterior, o
equipamento é constituído por uma lona
prata reflexiva com fitas de LED e uma

42 Fotografe Melhor no 295


Acima, detalhe do botão para o controle de ajuste de luminosidade (à esq.) e da base do produto, que tem estrutura
tubular de alumínio; abaixo, detalhe de conexões e encaixes, que são práticos e apresentam uma boa resistência

cortina com dupla camada de voal e ilhoses de fácil A Led Window


montagem. Para conectar o equipamento à tomada MOB chega a
(bivolt automático para 110v/220v), existe uma fonte de 1,85 m de altura
máxima, mas a
alimentação que conta com um controle para o ajuste de
cortina com o
intensidade da luz, que pode ser aumentada ou diminuída, sistema de LED
conectado a um cabo de energia de 4,7 metros. por trás mede
Com potente fluxo luminoso (1.980 lúmens com a apenas 1,20 m
cortina fechada à distância de 1 metro do produto,
segundo a fabricante), a Led Window MOB, assim
como a versão Pro, proporciona um Índice de
Reprodução de Cores (IRC) de 98, sendo que
em uma escala de 80 a 100 define os acessórios
de luz que reproduzem mais fielmente as cores,
independentemente da temperatura de cor medida
em Kelvin – isso significa que o produto reproduz tons
de pele e cores de roupas muito próximos à realidade.
A montagem da Led Window MOB é muito fácil: leva
cerca de 15 minutos depois que se pega o jeito. Dentro
da bolsa impermeável, estão disponíveis oito itens,
entre tubos, fonte de alimentação, cortina e painel de
LED reflexivo. O equipamento acompanha um manual
ilustrado com fotos, bem prático.

Fotografe Melhor no 295 43


equipamento

Fotos: Livia Capeli


Acima e abaixo, a Led Window MOB sendo desmontada até ser acondicionada em uma bolsa para o transporte:
com a prática, o fotógrafo não leva mais do que 15 minutos para montar ou desmontar o equipamento portátil

A pequena
janela de luz
artificial tem a
vantagem de
o Teste prático
ser portátil e Durante a avaliação prática de A luz proporcionada é de fato
Fotografe, ficou evidente que a maior homogênea e suave e a possibilidade de
de ser usada vantagem do equipamento é a mobilidade: ajustes de altura é bem interessante, pois
em espaço montagem e desmontagem é feita com permite adequar a janela de luz artificial a
pequenos, seja facilidade, sem necessidade de uso de um adulto em pé ou um bebê deitado. Já
ferramentas, e o transporte é bastante os pontos de LED não aparecem nas fotos,
no estúdio ou na cômodo. Outro ponto positivo é que o pois a combinação das duas camadas de
casa do cliente acessório de luz pode ser usado para uma voal da cortina disfarça os pontinhos das
sessão de fotos em espaços pequenos. fitas que ficam no painel reflexivo.

44 Fotografe Melhor no 295


Comparativo MOB X Pro
Diferentemente da Led Window Já a estrutura da Led Window
Pro, que requer duas pessoas e Pro é bem superior à da MOB,
tempo maior de montagem, a com tubulação bem mais robusta
versão MOB pode ser montada devido ao tamanho. A estrutura da
em no máximo 15 minutos por MOB desaponta um pouco quando
apenas uma pessoa. Desmontada se faz o comparativo, porém é
dentro da bolsa, a MOB pode ser compreensível, levando-se em conta
guardada em qualquer local da a questão da mobilidade.
casa (debaixo da cama, em cima Ambas as versões proporcionam
do guarda-roupa...), o que é ótimo luz suave e difusa com qualidade,
para quem não tem muito espaço. mantendo a uniformidade de tons
Já a versão Pro acaba sendo durante todo o ensaio. O espaço de
um equipamento com grandes aproveitamento do painel da cortina No teste com a Led Window Pro,
dimensões que exige um espaço da MOB é mais restrito em relação à Fotografe descobriu que, além de
próprio para acomodá-la, além versão Pro, principalmente quando a iluminar, o equipamento profissional
de inviabilizar a montagem e a ideia é realizar imagens de silhuetas podia ter a função de acessório de
desmontagem a todo momento. e contraluz – é preciso posicionar composição visual e a interação do
A fonte de alimentação de bem o modelo diante do acessório modelo com o tecido da cortina, que
energia da MOB é no sistema bivolt menor para ele não ficar fora do abre em duas partes, facilitando a
automático, muito segura quando painel. Isso porque a cortina (e o direção, como realmente pode ser
não se tem o conhecimento da painel) da Pro mede o tamanho da feito com uma janela com cortina.
voltagem da tomada em locações, altura máxima, ou seja, 2,20 m. Já a No teste do produto portátil, não
diferente da versão Pro, que é feita cortina da MOB é de apenas 1,20 m. é possível ter a mesma função,
de modo chaveado, correndo- Ou seja, se estiver na altura máxima principalmente porque a cortina da
-se o risco de queimar a fonte de 1,85 m, fica um espaço de 65 cm MOB não é dividida em duas partes,
dependendo da situação. embaixo sem iluminação. restringindo essa finalidade.

O cabo de 4,7 m da fonte de


alimentação permite conectar o acessório
em tomadas distantes, além do plugue de
energia que liga o painel reflexivo de LEDs
à fonte de alimentação ser bem seguro. Os
pequenos LEDs são de 12 volts, o que não
oferece riscos de choque se forem tocados,
principalmente por crianças.
O painel reflexivo pode ser enrolado
facilmente e colocado dentro da bolsa de
transporte, e pelo fato de as fitas de LEDs
serem bem presas à lona não há risco de
soltarem ou quebrarem. A cortina tem um
sistema de montagem bastante simples
e, apesar do tamanho de espaço útil de
1,28 de comprimento para fotografar em
contraluz, ele é coerente com a mobilidade
que o produto oferece.
Em alguns momentos em meio aos
ensaios, o equipamento, quando usado exclusivamente por meio do e-commerce Ao poder ser usada a
na posição de altura máxima, por maior da loja virtual da empresa (www. uma altura de 1,10 m, a
que fosse o aperto, não travou, precisando smartbindshopp.com.br). O preço do Led Window MOB facilita
a produção de fotos de
ser reajustado. Apesar de leve, ofereceu equipamento é de R$ 1.986.28 à vista bebês e de newborn
estabilidade, e mesmo montado na altura ou 12 x de R$ 179,91. O produto é
máxima não tombou. Outra ressalva é patenteado no INPI, atendendo a todos
que o equipamento poderia ter os pés de os protocolos de segurança e normas
tubo no formato arredondado, em vez de de IRC. Pode ser retirado diretamente
quadrado, proporcionando ainda mais a na empresa em Jundiaí (SP) ou ser
sensação de segurança. entregue por meio de transportadora
A Led Window MOB é vendida em qualquer região do Brasil.

Fotografe Melhor no 295 45


Fotojornalismo

pautas
O fotógrafo
tem o foco voltado
para histórias que
rendem pautas
de grande
interesse

Foto do bugio carbonizado pelos incêndios no Pantanal em 2020 correu o mundo e se destacou no World Press Photo

Em busca de
grandes temas
Por Érico Elias

O fotojornalista Lalo
de Almeida tem
conseguido vários
O paulistano Lalo de Almeida
comemora 30 anos de
carreira com mais uma
premiação: foi escolhido no início de
2021 como Fotógrafo Ibero-americano
Ao atuar como colaborador especial
do jornal Folha de S.Paulo há 27 anos,
Lalo apostou desde o início da carreira
em pautas próprias, o que lhe permitiu
desenvolver histórias em profundidade,
prêmios mesmo do Ano de 2020 pelo concurso Poy superando as limitações da atribulada
trabalhando de Latam (Pictures of the Year International), rotina de fotojornalista. Ele conta que
por conta do conjunto da obra feita sempre teve uma vida profissional
forma independente no ano anterior, um portfólio que paralela à do jornal. Essa liberdade e
em pautas para reúne imagens da cobertura sobre as o estímulo constante dos editores o
queimadas no Pantanal e na Amazônia, encorajam a tocar seus projetos.
jornal. Veja como ele os efeitos da pandemia de covid-19 no Lalo afirma que jamais se acostumou
viabiliza seus projetos Brasil e a produção de coca na Bolívia. com a ideia de ficar esperando a pauta

48 Fotografe Melhor no 295


Fotos: Lalo de Almeida

chegar da redação para ir para rua, sempre de idade. O trabalho propunha traçar um Acima, o impacto
buscou um caminho próprio. Ele não paralelo visual entre o gaúcho e o vaqueiro das obras da usina
tem interesse pelas coberturas “clássicas”, nordestino, baseado no livro Os Sertões, de Belo Monte
de Euclides da Cunha. O trabalho rendeu no Rio Xingu, em
valorizadas pelos fotógrafos do jornal,
Altamira (PA);
como Copa do Mundo, Jogos Olímpicos ou ao fotógrafo o Prêmio Máximo da I Bienal abaixo, imagem do
guerras. Prefere gastar sua “cota” de viagens Internacional de Fotografia de Curitiba, em primeiro grande
indo atrás de alguma história forte no 1996, e o segundo lugar na categoria Ensaio do trabalho de Lalo,
Nordeste ou na Amazônia. “Aos poucos, as Prêmio Fundação Conrado Wessel, em 2007. O Homem e a Terra
pessoas foram me vendo como um fotógrafo
que documentava esse Brasilzão esquecido
pelo eixo Rio-São Paulo”, comenta.
Por pouco, Lalo de Almeida não se
tornou fotógrafo de natureza. Era essa
a ideia que tinha em mente quando
abandonou a graduação em Geologia na
Universidade de São Paulo (USP). Os pais
concordaram com os planos do rapaz,
mas exigiram que ele se formasse na área.
Então, mudou-se para Milão, Itália, para
estudar Fotografia no Instituto Europeo di
Design. Após seis meses de curso, passou
a fazer frilas em pautas policiais e acabou
mergulhando de cabeça no fotojornalismo.
De volta ao Brasil, o primeiro trabalho
desenvolvido foi O Homem e a Terra,
projeto de documentação fotográfica
sobre populações tradicionais brasileiras.
Lalo passou meses viajando de carro
acompanhado da mulher e da filha mais
velha, que na época tinha apenas 6 meses

Fotografe Melhor no 295 49


Fotojornalismo

Outro ponto de vista


No início dos anos 2000, Lalo de Do ponto de vista pessoal, ele
Almeida se lançou na documentação de diz que foi um dos trabalhos mais
um assunto que foge dos temas clássicos marcantes que fez. Passou quatro meses
da fotografia, como a condição humana, as viajando “pendurado” em um pequeno
injustiças sociais ou a religiosidade popular. monomotor, fotografando o trajeto
Ele embarcou nos aviões do Correio Aéreo que os aviões vermelhinhos do Correio
Acima e abaixo,
Nacional (CAN), serviço fundado em 1931 Aéreo faziam entre o Rio de Janeiro e
imagens da grande
reportagem Nas Asas que teve papel fundamental na integração Belém, seguindo a rota do Rio Tocantins
do Correio Aéreo, que se nacional, cobrindo áreas remotas do e passando por alguns dos lugares
transformou em livro território brasileiro. mais incríveis do Brasil, como o Vão do
Paranã, a Chapada dos
Veadeiros e o Jalapão.
O trabalho resultou
na publicação do livro
Nas Asas do Correio
Aéreo, lançado em 2002,
e foi finalista do Prêmio
da Fundação Conrado
Wessel. A boa repercussão
obtida na época deveu-
-se ao fato de trazer uma
nova perspectiva sobre
as paisagens brasileiras,
de um ponto de vista
não tão alto como o
dos aviões comerciais.
“Era o ponto de vista
de um pássaro, que
permite ter uma visão
do todo sem perder os

50
Fotos: Lalo de Almeida

detalhes. Hoje em dia, com todos esses


drones certamente o trabalho não teria
o mesmo impacto. A fotografia aérea
virou arroz com feijão”, observa.
Em 2009, Lalo fez sua primeira
cobertura relacionada ao projeto de
construção da usina de Belo Monte,
em Altamira, sul do Pará, às margens
do Rio Xingu. Depois de alguns dias
fotografando, ele percebeu que algo
grande iria ocorrer ali, uma daquelas
epopeias amazônicas, como Serra Pelada
e a construção da Transamazônica.
Decidido a se aprofundar no tema
sem as limitações de tempo e dinheiro
inerentes às reportagens de jornal,
Lalo usou os recursos da bolsa do XII
Prêmio Marc Ferrez de Fotografia,
concedido a ele pela Funarte em 2012. esse especial multimídia, que juntava No alto, imagem aérea
Isso possibilitou que ele ficasse quatro fotografia e vídeo. “Isso me permitiu que mostra parte do Rio
Xingu bloqueado pelas
meses na região, aproveitados para uma passar mais um tempo por lá e o obras da Usina de Belo
extensa documentação. projeto foi publicado com o título de Monte, no Pará; acima,
Ele lembra que, naquele mesmo A Batalha de Belo Monte. Foi um dos indígenas da etnia
ano, a Folha de S.Paulo resolveu inovar trabalhos mais premiados da história Munduruku aguardam
no formato de matérias especiais do jornal”, comenta. A partir daí, Lalo no Aeroporto de
e escolheu como primeiro tema de Almeida passou a acompanhar de Altamira para embarcar
justamente Belo Monte. Como ele era em avião da FAB para
perto outros temas relacionados ao
Brasília (DF), onde
o fotógrafo que mais conhecia a região “desenvolvimento” da região amazônica, tinham uma reunião
e já estava envolvido até o pescoço e vem trabalhando essa temática com o governo para
com o tema, fez todas as imagens para intensamente nos últimos dez anos. falar sobre hidrelétricas

Fotografe Melhor no 295 51


Fotos: Lalo de Almeida
Coberturas dramáticas
Outra história premiada surgiu em ficou impressionado com a relação entre
2016, quando Lalo de Almeida fez uma as mães e seus filhos. A dedicação das
cobertura sobre casos de microcefalia em mulheres, a luta contra a doença, contra
Acima e abaixo, imagens bebês, causada pela infecção das mães a pobreza, foi uma coisa muito forte e
de mães de filhos que
com o vírus zika durante a gestação. Ele emocionante, afirma.
tiveram microcefalia por
infecção do zika vírus viajou em companhia da repórter Cláudia O plano inicial era resolver a história
durante a gestação, um Collucci para Campina Grande (PB). Ao ali mesmo, mas, depois de entrevistar
trabalho premiado chegar ao ambulatório especializado, as mães, avaliou que precisava ir até a

52
Tive muito cuidado
ao fazer as fotos das mães
com as crianças com
microencefalia. Foi um
trabalho bem difícil e
me orgulho dele
Lalo de Almeida

casa das famílias para registrá-las


na intimidade, fora do ambiente
hospitalar. Alugou um carro por conta
própria e saiu em viagem pelo interior
da Paraíba. Na volta, quando editou Acima, coveiros no cemitério da Vila Formosa abrindo espaço para vítimas da
o material, percebeu que as imagens covid-19; abaixo, famílias indo morar na rua durante a pandemia em 2020
não eram sobre as crianças com
microcefalia vítimas do zika vírus, eram
sobre a relação profunda entre mães
e seus bebês. “Em nenhum momento
quis mostrar as crianças de modo a
salientar as cabecinhas deformadas
ou qualquer outra situação que fosse
desfavorável à imagem delas. São
fotografias muito respeitosas e me
orgulho disso”, explica. Incentivado
por Daigo Oliva, seu editor na época,
ele enviou o material para o World
Press Photo, principal premiação do
fotojornalismo mundial, e obteve a
segunda colocação na categoria
Séries-Temas Contemporâneos.
Lalo de Almeida iniciou 2020,
um ano marcado pelo impacto da
pandemia de covid-19, envolvido no
projeto Amazônia sob Bolsonaro, série
de reportagens sobre os impactos
das políticas do atual governo na
região, em parceria com o jornalista
Fabiano Maisonnave. Com a chegada
da pandemia, as viagens foram bombeiros e brigadistas estava fogo consumiu a vegetação com uma
interrompidas e ele permaneceu em sendo evacuado. Diferentemente voracidade tão intensa que o barulho
São Paulo fotografando os impactos das queimadas na Amazônia, que já parecia o de uma turbina de avião.
do novo coronavírus. tinha fotografado várias vezes, no Nem mesmo as aves conseguiram
Com o passar dos meses, as Pantanal era muito impressionante fugir e morreram carbonizadas nos
notícias sobre as queimadas no a quantidade de animais mortos ou galhos das árvores. O chefe dos
Pantanal começaram a se intensificar. feridos”, explica Lalo. brigadistas do Ibama, que chegou no
No começo de agosto, antes de Ao todo, o fotógrafo realizou dia seguinte à tragédia, me disse que
retomar as viagens para a Amazônia, quatro viagens para documentar as nunca tinha visto um incêndio tão
a dupla passou uma semana na queimadas no Pantanal para a Folha devastador. Foi nesse local que fiz a
região de Poconé, no Mato Grosso, de S.Paulo ao longo de 2020. As foto do macaco bugio carbonizado
para cobrir as queimadas. “Quando viagens foram patrocinadas em parte de joelhos”, recorda, referindo-se à
chegamos, já na primeira hora, foi um com recursos de parceiros externos. imagem que foi "Foto do Mês" na
susto. A estrada estava interditada, Na última delas, para a região da edição 291 de Fotografe e é finalista
cercada pelas chamas, e o hotel Serra do Amolar, Lalo presenciou o no World Press Photo 2021 na
onde estavam hospedados os incêndio mais intenso de todos. “O categoria Meio Ambiente/Histórias.

Fotografe Melhor no 295 53


Fotojornalismo

Fotos: Lalo de Almeida


Lalo de Almeida
acredita que
o desafio a Escolha intuitiva
ser vencido é Com trabalhos em cor e P&B, Lalo de tem uma ideia do que funciona em cor
como financiar Almeida reconhece que nunca desenvolveu e o que vai melhor no P&B. Como se
um método muito claro para escolher julga indeciso e os arquivos em RAW
o fotojornalismo entre as duas linguagens, guiando-se mais possibilitam qualquer caminho, ele
para a produção pela intuição. Com a chegada do digital, sempre fica na dúvida. “Muitas vezes, faço
de conteúdo de a decisão sobre o uso da cor ou do P&B duas edições diferentes para a mesma
passou para o momento da pós-produção. série, uma em cor e outra em P&B. Aí fico
qualidade, algo Quando está fotografando, ele já um tempão para escolher, sofrendo. E a
que custa caro

Acima e ao lado, imagens


da cobertura dos
incêndios no Pantanal,
um tema de repercussão
mundial em 2020

54 Fotografe Melhor no 295


decisão final só sai nos 48 minutos produzir o conteúdo; o jornal, que de Almeida na Folha de S.Paulo e
do segundo tempo”, confessa. tem o espaço e precisa de conteúdo; bancados por financiadores externos
Lalo acompanhou de perto as e o financiador externo, que tem os se multiplicaram, possibilitando a
profundas transformações causadas recursos e quer colocar determinados cobertura aprofundada de temas de
no mercado de mídia impressa com temas na pauta da opinião pública. interesse público. Para quem está
a chegada da internet e, depois, das “É importante salientar que esses começando no fotojornalismo, ele
redes sociais, fenômeno ainda em patrocinadores não têm qualquer ensina que é importante ter claro na
andamento. Na sua visão, não se influência editorial sobre o cabeça que não existe mais emprego
trata de uma crise passageira, pois conteúdo nem interesse comercial. fixo na área, e que para sobreviver
é o próprio modelo de negócio Normalmente são ONGs, institutos e profissionalmente é preciso buscar
que está em transformação no fundações, a maior parte de fora do formas alternativas de financiar o
mundo todo. No Brasil, onde a Brasil", explica. trabalho. “Não dá mais para chegar ao
leitura é pouco difundida em termos Nesse modelo, o jornal atua mais editor de um jornal com o portfólio
proporcionais, a situação se torna como uma plataforma de publicação debaixo do braço e achar que ele vai
ainda mais dramática. do que como um financiador para lhe dar um emprego ou financiar o
A crise do impresso, por produção de conteúdo. Desde 2016, projeto. Mas existem muitas outras
outro lado, também abriu novas os projetos realizados por Lalo possibilidades”, assegura.
oportunidades, já que a internet
propicia um espaço infinito para
expor e divulgar os trabalhos. Para
ele, o “nó” da questão está em
como financiar o fotojornalismo,
porque produzir conteúdo de
qualidade custa caro. O caminho
que ele encontrou para superar
esse desafio econômico foi criar
um modelo de trabalho que une
fotógrafo e jornalista, que sabem

Acima e ao lado,
fotos de destruição
da natureza na
Amazônia, convertidas
em P&B para dar
mais dramaticidade

Fotografe Melhor no 295 55


A senhora Lidia Martinhak, de ascendência ucraniana, na sua casa de madeira em Antônio Olinto (PR), em 2013

Um olhar inquieto
Conheça o trabalho documental do fotógrafo curitibano João Urban, que
ganhou dinheiro no setor de publicidade para bancar seus projetos autorais
Por érico elias

A experiência ensinou ao fotógrafo


João Urban que, para ter sucesso na
fotografia documental, é preciso ter
certa paixão pela humanidade, pela natureza e
pela vida, ver a fotografia como um meio e não
A atração de Urban pela fotografia remonta
aos tempos de criança, quando se encantava com
o laboratório montado no porão da casa de um
tio. Mas a carreira profissional surgiu de forma
inesperada. Urban trabalhava como bancário e,
como um fim. Também é necessário dar bastante nas horas vagas, fotografava manifestações de
atenção à literatura, ao cinema e ao contato resistência à ditadura e atividades do Teatro do
com obras dos grandes mestres da fotografia, Estudante Universitário (TEU). Resolveu então
principalmente por meio impresso, como livros, investir em um laboratório próprio, que serviria
revistas e exposições, ressalta esse curitibano como fonte adicional de renda.
nascido em 1943. Ele é um dos mais importantes Uma das primeiras encomendas recebidas
nomes da fotografia documental no Brasil, foi para criar imagens de decoração para um
embora não seja tão badalado nem tão lembrado restaurante com espaço para festas em Curitiba.
quanto deveria. Prestes a comemorar 78 anos, “Hoje provavelmente seria processado, pois fiz as
está em plena atividade, dedicando-se a novas fotomontagens com certo viés surrealista usando
séries e digitalizando negativos e cromos antigos fotos que reproduzi de revistas”, recorda. Ao
com intenção de publicar novos livros e montar conhecer esse trabalho, uma dupla de publicitários
exposições. “É um bocado de trabalho”, comenta. resolveu convidar Urban para criar imagens para a

56 Fotografe Melhor no 295


Fotos: João Urban

agência. Ali se iniciou uma exitosa carreira publicitária a principal fonte de renda para Romão Diurza,
como fotógrafo publicitário, que atendia financiar trabalhos documentais pessoais, pequeno produtor
rural de ascendência
a todo tipo de encomenda, de caminhões que tornaram o nome de João Urban polonesa, em 2016, na
em grandes estúdios a relógios e joias, conhecido no Brasil e no exterior. Outra sua casa na Colônia
passando por modelos para anúncios e forma importante de financiamento foram de Santana, em
outras peças. Assim, veio da fotografia editais de órgãos públicos e parcerias. Cruz Machado (PR)

Fotografe Melhor no 295 57


Fotografia documental
Casal de boias-frias
na cozinha de casa
em Astorga (PR),
em foto de 1977

Irmã e cunhada Boias-frias e tropeiros


de Urban foram O primeiro trabalho de fôlego foi a Paraná forçaram um êxodo rural em massa.
para o campo documentação dos “boias-frias”, categoria Muitos desses trabalhadores foram morar
pesquisar o de trabalhadores rurais diaristas que na capital, Curitiba, vivendo nas periferias.
surgiu na década de 1970, quando a A irmã e a cunhada de Urban trabalhavam
êxodo rural no monocultura intensiva, a expansão da em um instituto de pesquisa do governo
final dos anos pecuária, o desmatamento acelerado e o do Paraná e foram designadas para ir a
desmantelamento das lavouras de café no campo estudar as origens do fenômeno.
1970 e ele Ele decidiu acompanhá-
foi com elas -las e, durante cinco anos,
fotografou a população
que ficou em torno das
cidades das regiões
agrícolas e passaram a
viver como trabalhadores
rurais diaristas. "Fiz
várias exposições e
publiquei um livro com
sua primeira edição na
Alemanha, em 1983, pela
Editora DIA, dedicada a
publicar assuntos latino-
-americanos”, conta.

Três meninos
cortadores de cana
em lavoura de
Ipauçu (SP), em 1980

58
Fotos: João Urban

Boias-frias em Jacarezinho (PR), em 1980; à dir., o tropeiro Nhô João, peão-arribador, em Ponta Grossa (PR), em 1990

A repercussão obtida com o trabalho


sobre os boias-frias deu a Urban
notoriedade como fotógrafo documental
e resultou em uma encomenda da
Secretaria de Cultura do Paraná para
registrar o antigo caminho das tropas, em
1990. O projeto foi realizado a partir de
uma iniciativa do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) e
envolveu quatro Estados por onde passava
o caminho: São Paulo, Paraná, Santa
Catarina e Rio Grande do Sul. O caminho
das tropas se estabeleceu ainda no período
colonial e permaneceu ativo até a década
de 1950. Os tropeiros saíam de Viamão, no
Rio Grande do Sul, com tropas de mulas,
que carregavam mercadorias no lombo até
Sorocaba, em São Paulo.
Urban conta que essas viagens
duravam pouco mais de dois meses
e as comitivas eram compostas de
madrinheiros, contra-madrinheiros,
peões-arribadores, capatazes, patrões,
comitiveiros e outros tipos de profissionais
especializados nessa lida. “Nas margens do
caminho surgiram fazendas e cidades hoje
importantes. Fui contratado junto com o foram reunidas em um livro, distribuído Agnelo Brandes, que
historiador Jaelson Trindade, estudioso do gratuitamente às prefeituras dos foi capataz de tropas,
caminho, para fotografar as marcas dessa municípios envolvidos. O fotógrafo tem em 1987, na sua casa
atividade. Retratei os últimos tropeiros planos de reeditar esse material e publicá- em Castro (PR)
ainda vivos, homens com 70, 80 e até -lo em nova edição, com um tratamento
100 anos”, comenta Urban. As imagens mais criterioso.

Fotografe Melhor no 295 59


Fotos: João Urban
Poloneses e ucranianos
Ainda no final da década de 1970, no interior do Paraná, a família fugiu para
João Urban deu início ao grande projeto Curitiba, onde Urban veio a nascer.
documental de sua vida: o registro de A documentação teve início com a
imigrantes poloneses e ucranianos no encomenda de um banco estatal que
Paraná. O trabalho tem raízes na própria realizava exposições sobre as etnias que
Sangue polonês: os origem de Urban: seu avô paterno veio colonizaram o Estado do Paraná. Por conta
irmãos Patki (acima) em
da Polônia para o Brasil com a família, em de sua ascendência, Urban foi escalado para
Araucária (PR), em 2004;
e Avelina e Lídia Marszal, 1924, em busca de melhores condições de fotografar os poloneses que viviam na área
avó e neta, em 1986, vida (seu pai tinha então 12 anos de idade). rural no entorno da capital paranaense. Uma
em Cruz Machado (PR) Trabalhando em regime de semiescravidão exposição foi realizada com as imagens

60
Fiz questão de fazer
uma exposição em todas
as pequenas localidades
onde fui fotografar filhos
e netos de poloneses
e de ucranianos
João Urban

em 1980, por ocasião da visita de


João Paulo II a Curitiba, já que o papa
nasceu em Wadowice, na Polônia.
Ali teve início um trabalho que se
desdobrou nos anos seguintes. Félix Dudek, bisneto de imigrantes poloneses, em Araucária (PR), em 1985
Em 1988, Urban teve a
oportunidade de ir à Polônia, apoiado
pelo consulado polonês, e fotografar
em uma região que tinha semelhanças
geográficas e arquitetônicas com as
regiões das colônias de poloneses no
Paraná. “Pude observar que alguns
costumes estavam mais preservados
no Paraná do que na Polônia. Em
2004, foi publicado o livro Tu i Tam
(aqui e lá, em polonês) com as
fotografias do Paraná e do sul da
Polônia”, lembra Urban.
Um desdobramento do trabalho
ocorreu em 2013, quando o irmão do
fotógrafo, a partir de uma pesquisa
sobre as raízes da família, descobriu
que sua avó paterna era filha do
casamento entre um ucraniano
e uma polonesa. Urban passou
então a fotografar descendentes
de ucranianos baseados no Paraná.
Se poloneses e ucranianos não
raro alimentavam uma rixa em
seus países de origem, em terras
brasileiras, passaram a viver em
Sangue ucraniano: irmãos Peremebidas, em Antônio Olinto (PR), e produção de
harmonia. “Reuni essas fotos às que pêssankas por Vera Daciuk, em Prudentópolis (PR), ambas a imagens de 2013
havia feito dos descendentes de
polacos anos antes, em uma edição
com o título de Aproximações. Fiz
exposições em todas as localidades
onde fotografei descendentes de
polacos e ucranianos", conta. Depois,
a exposição ganhou novo formato e
foi apresentada simultaneamente em
Lviv, na Ucrânia; Poznan, na Polônia;
e na Colônia Murici, em São José dos
Pinhais, na Grande Curitiba. No final
de 2019 e início de 2020, a mostra
recebeu uma nova versão no Museu
Paranaense, em Curitiba.

61
Fotografia documental

O fotógrafo
gosta de usar
objetivas fixas e tanto cor quanto P&B
tem predileção
Uma das principais características Em geral, utiliza a cor para registrar
pela 28 mm do trabalho de João Urban está no paisagens e interiores e deixa o P&B
porque ela não uso combinado da cor e do P&B. Ele para os retratos.
distorce demais desenvolveu o costume de sair para Quanto ao equipamento, o fotógrafo
fotografar com duas câmeras, uma com não tem regras rígidas: começou usando
o primeiro plano filme colorido e outra com filme P&B. câmeras Leica e Nikon de 35 mm. Depois
mais amplo
Fotos: João Urban

Acima, noite do
Dendê-Ylê Axé Oxossi
de Guangoubira,
em 2014; ao lado,
cerimônia de obrigação
de Carnaval em 2016 –
ambos na Comunidade
do Bode, bairro de
Pina, em Recife (PE)

62 Fotografe Melhor no 295


Rainha e reis do Congo de Santa
Luzia (MG) e, abaixo, príncipe
roxo de Moçambique de Belo
Horizonte (MG), nas Congadas
da Festa de São Benedito, em
Aparecida (SP), em 2000

do trabalho com os tropeiros,


passou a usar câmeras Hasselblad
de médio formato. Para o livro
Aparecidas, sobre as festas de São
Benedito em Aparecida (SP), e no
documentário com os poloneses,
ele contou com uma câmera de
grande formato Toyo Field 4 x 5.
A partir de 2006, entrou para o
mundo digital com uma Nikon
D300. Quando fotografou os
ucranianos, tinha em mãos uma
médio formato digital Pentax 645D.
Urban tem predileção por
objetivas fixas e gosta de usar
a 28 mm quando fotografa em
pequeno formato, pois ela permite
obter primeiros planos amplos sem
distorcer o plano de fundo. Quando
fotografa interiores, usa tripé e
flash, sempre rebatido, para se
aproximar ao máximo do que seria
uma iluminação natural.
De 2013 a 2018, ele trocou
Curitiba por Recife (PE), para
acompanhar sua mulher, Jussara
Salazar, nascida em Caruaru (PE)
e que mudou-se para Curitiba aos
20 anos de idade – ela queria
voltar às origens e estar mais
próxima da mãe.
Na capital pernambucana, o
inquieto fotógrafo aproximou-
-se do maracatu e do candomblé,
expressões da cultura e da
religiosidade local. O material
produzido ao longo de cinco anos
resultou em uma exposição feita
em 2020, em Recife. Segundo
Urban, há muita coisa ainda para
ser editada e esse trabalho deve
render novos frutos.
De volta à capital paranaense, ele
trabalha em uma nova série, na qual
se propõe a fotografar os mesmos
lugares registrados por Arthur
Wischral, descendente de alemães
que atuou profissionalmente no
Paraná entre 1910 e 1964. João
Urban já escolheu 40 imagens feitas
por Wischral em Curitiba para em
breve “refotografar”.

Fotografe Melhor no 295 63

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