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DIREÇÃO

DE MODELOS
POR JULIANO COELHO
Olá!

Tudo bem? Sou o Ju. Muitos me conhecem como Juliano Coelho, mas pode me chamar de Ju.
Durante os últimos anos me especializei em retratos femininos e resolvi fazer esse pequeno
livro com dicas que são bem importantes na hora de se relacionar com uma modelo.

Espero que seja útil em sua caminhada.


int r o d ução
O ano era 2012. Na época eu era epenas mais um funcionário de uma agência de
publicidade/design de Porto Alegre. Nesse ano a fotografia já estava na minha vida fa-
ziam 3 anos, porém ainda como hobby. Durante os primeiros anos de fotografia como
hobby e amador, me aventurei em fazer eventos como casamentos, batizados, 15 anos,
além de ensaios de casais, família, além dos retratos femininos.

Afim de montar meu estilo e conhecer mais minha linguagem fotográfia, viajei à varios lu-
gares do Brasil, tirando dias de férias na agência de design/publicidade para poder estu-
dar. Foi então que percebi um oco, um vácuo em um mercado que tinha tudo para crescer:
ensinar sobre direção de modelos e retratos femininos.

No final de 2012 daria início à uma nova e bem sucedida fase de minha vida: de ensinar
sobre retratos femininos e direção de modelos. De lá pra cá, já foram mais de uma centena
de workshops pelo Brasil e Europa e milhares de alunos ensinados pela nossa técnica.
Desde 2012 então, muitos outros workshops de retratos femininos bem como artistas foram
surgindo e enchendo nossa timeline, assim como mais interessados em estudar sobre essa
arte que é simplesmente incrível. Porém em todos esses anos, um questionamento per-
manece ainda em minha cabeça:

POR QUE É TÃO DIFÍCIL DIRIGIR UMA MODELO?

Tenho percebido um padrão muito nítido nos últimos anos. Milhares de pessoas me procu-
ram pessoalmente em meus workshops ou depois de ter lido o livro A Obra-prima do
Criador, de minha autoria e até mesmo em algum post fazendo a seguinte pergunta: “como
eu faço para dirigir com mais naturalidade”?

Essa é a grande pergunta: COMO?

Nesse pequeno e-book falarei sobre como é minha técnica e dicas de como dirigir com
fluidez. Espero ser útil à sua vida e sobretudo à sua carreira para dirigir uma modelo com
mais facilidade. Vamos então se divertir e começar essa jornada?
coletando
informações
capítulo 1
Já parou para pensar que as maiores descobertas da história no fundo estão mais rela-
cionadas à perceber as coisas do que necessariamente à genialidade? Quero usar de
exemplo Isaac Newton. Era o ano de 1665, período em que a Universidade de Cambridge
foi obrigada a fechar suas portas por causa da peste que se alastrava por toda a Europa.
Nesse período, ele passou muito tempo em sua fazenda e todos conhecemos a história (ou
o que contam dela). Um belo dia, estava Newton sentado embaixo de uma macieira quan-
do de repente, uma maçã cai. Então ele começou a questionar o por que a maçã sempre
desce perpendicularmente ao chão. Por que não vai para os lados, para cima? Por que
sempre em direção ao centro da Terra? Percebe? Observação.

Ser perceptivo é observar cada detalhe da modelo. Para isso eu dou um nome: COLE-
TAR INFORMAÇÕES. Comece a questionar, fazer perguntas em seu íntimo. Toda vez que
você olha para alguém, pergunte a si mesmo o por que ela está vestindo tal roupa, o que
suas marcas querem dizer, se há acessórios, qual a importância deles, qual a história da
modelo, qual a intenção dela ao querer fazer tais fotos. Um bom diretor de modelos antes
de mais nada é curioso, perceptivo e sobretudo muito questionador. Colete todas as infor-
mações possíveis, pois o retrato não começa no ato do clique. Ele apenas termina.
o q u e vo cê vê ?
O grande “pulo do gato” de um retratista é imprimir em seus retratos aquilo que ele vê.
Ententa, não o que todo mundo viu, mas APENAS o que ele viu. Um bom retratista tem
desenvolvido sobretudo o ato de enxergar, de observar, de prestar a atenção e não neces-
sariamente a configuração básica da câmera ou as regras. Desenvolva em primeiro lugar a
profundidade de seu olhar, assim você o deixará mais sensível a imprimir a peculiaridade
e singularidade de cada mulher.

A grande questão agora é: O QUE VOCÊ VÊ TODA VEZ QUE LEVANTA A CÂMERA PARA
FOTOGRAFAR ALGUÉM?

Não confunda direção de modelos com guia de poses, ou replicar fotos prontas apenas por
estética, beleza ou modismo, algo que tem saturado hoje as redes sociais. Um bom diretor
de modelos é aquele que consegue extrair a verdadeira beleza de cada mulher. Está você
investindo em seu olhar para deixá-lo mais sensível à extrair essa beleza?
JAMAIS associe seu sucesso como diretor de modelos pela estética, pelo número de poses
que você tem gravado em sua mente e sobretudo pela capacidade da modelo se auto-diri-
gir.

Seu sucesso como diretor de modelos está em perceber as coisas ao seu redor, coletar
informações e colocar tudo isso dentro de um retrato que seja verdadeiro e que sobretudo
informe ou instigue o espectador à saber quem é sua retratada.

Colete o máximo de informações e saiba exatamente o que você quer mostrar em suas
imagens toda vez que você apontar a câmera. Para isso, não se prenda a ver tantas fotos
em redes sociais. Isso não é inspiração, é referência e muitas vezes condensa nosso olhar
e o conceito que temos de belo sobre a ótica de outros fotógrafos, e não a nossa.

Você está fotografando com sua visão ou com a visão condensada de beleza de outros
profissionais. Convença-se a si mesmo do quê você está vendo, de sua razão na fotografia
e de que precisa perceber cada vez mais e isso automaticamente o fará mais paciente na
hora de conectar, dirigir e sobretudo criar.
da n i
A Dani é uma mulher plural. Ela define-se como uma mulher determinada, e de fato ela é,
porém ela é plural. É uma atriz talentosíssima, mas ao mesmo é psicóloga de formação.
Não cansa de correr atrás dos sonhos e ainda assim sobra tempo para sinuca. É intimida-
dora, mas ao mesmo tempo se mostra frágil e passiva por muitas vezes. No momento de
coletar informações, acabei percebendo uma certa fragilidade ao tocar em assuntos como
passado, infância, maternidade e relacionamentos e vi o quanto ela precisava gritar, ex-
travasar, renovar e sobretudo se aceitar. A direção de modelos não foi baseada em poses
ou conceitos prontos, mas apenas em observar o que a modelo tinha à oferecer naquele
momento do ensaio. Isso é o mais interessante, não se trata de poses, mas na habilidade
de converter em foto aquilo que está acontecendo naquela fase da vida da modelo.
referências
visuais
capítulo 2
d e o n d e t i rar
Não costumo ter fotógrafos como fonte de inspiração, pois acredito que a inspiração é
algo de dentro, aquilo que amo. Sigo o trabalho de vários outros fotógrafos mas como fon-
te de referência visual. Alguns deles mudaram a minha vida e tive a grande honra de tê-los
como mestres. Tenha suas referências visuais, mas vá além do que se vê.

DANIEL AGUILAR
Esse cara foi o primeiro fotógrafo que mexeu com minha vida, com meu interior. Com um
estilo muito sensivel e peculiar de dirigir e iluminar, sua fotografia é toda coração e de
forma muito simples, porém complexa, tenta usar de referências de pintura em seus retratos
de noivas. Foi o primeiro fotógrafo que me fez chorar e que me deu sentido à tudo isso.

FER JUARISTI
El cabrón está entre os caras mais criativos do mundo em termos de composição. Tive a
honra de conhecê-lo há alguns anos e sua técnica me ajudou muito ao longo dos anos.
JAN SCHOLZ (MICMOJO)
Na minha modesta opinião, o cara mais fera do mundo em retratos femininos, sobretudo
por fotografar com câmeras analógicas bem antigas. Um cara extremamente prático e sim-
ples, com uma maneira muito singular de retratar o universo feminino. Pude conhecê-lo em
Bruxelas há alguns anos.

RYAN MUIRHEAD
Um dos caras, talvez o cara mais sensível do mundo, na minha opinião. Como mestre, me
ensinou a fotografar mais com QUEM EU SOU do que COM AQUILO que tenho nas mãos.
A verdade em seus retratos e sua conexão tem conquistado o mundo com um olhar extrema-
mente forte, profundo e por vezes intimidador.

JOÃO GUEDES
Sempre acompanhei o trabalho do João de perto, porém quando o conheci, acabei me
conhecendo. Até esse momento eu queria fazer boudoir. Depois desse momento, o João me
instigou a fazer mais trabalhos autorais, de graça e assim nasceram vários projetos do Ju
que hoje são conhecidos. Um grande olhar, um grande amigo, um grande mestre.
Toda vez que seguimos alguém, na maioria das vezes fazemos pelas motivações equivo-
cadas. Um fotógrafo que não conhece seu olhar, que não sabe o que amar com os olhos,
dificilmente saberá por que caminho trilhar e toda vez que seguir alguém, estará em seu
subconsciente procurando fazer apenas uma cópia.

Quando seguimos alguém, não devemos assim fazer apenas pela técnica ou por ser uma
referência visual, mas por ser uma influência em nossa vida. O quê aquela pessoa têm a
acrescentar em seu olhar? O quê ele tem a acrescentar em sua vida? Qual foi o caminho
percorrido por ele até ali? Qual é sua história?

Da mesma maneira, não tome somente a fotografia como referências visuais. Existem tam-
bém outras fontes, como cinema, pintura, literatura, música e outros meios. Ache as suas.
NAT I
A Nati é uma doçura. Um encanto de pessoa. Sabe aquela pessoa que dá vontade de ficar
abraçado por horas?

Durante nossa conversa, fiz algo que gosto muito de fazer com certas modelos: parar
alguns segundos, ficar de frente um para o outro se olhando, em silêncio. Isso ajuda na
conexão, sobretudo com pessoas que fotografo pela primeira vez. E como ajuda!
A Nati nesse momento, além de chorar, se abriu contando sobre uma mágoa do passado e
o quanto isso ainda a machuca. Imediatamente me veio a inspiração de afogá-la em suas
mágoas. Foi um ensaio de alma.
ta mi
A vida é simplesmente surpreendente, não é?

Moro em Florianópolis e aqui na minha região é muito comum as pessoas pedirem carona
na rua. Tenho muito o hábito de dar carona quando estou me dirigindo aqui na ilha e foi
assim que conheci a Tami. Durante a carona conversamos, falei sobre o que era o meu
trabalho, ela falou sobre sua faculdade e no final lhe entreguei meu cartão.

Para minha surpresa, um ano depois dessa carona ela entrou em contato pedindo para ser
fotografada. Pessoa muito iluminada, leve de um riso lindo, foi incrível conhecê-la mais.
por onde
começar?
capítulo 3
e ago ra?
Essa talvez seja uma das mensagens mais duras que eu tenha a dizer: retrato NÃO É POSE.
Entendeu? Ser um bom diretor de modelos NÃO É DECORAR OU COPIAR POSES, entende?
Só faz isso quem não tem o olhar desenvolvido o suficiente para observar.

Ao longo dos últimos anos, depois de ter retratado mais de 400 mulheres, e ainda contan-
do, ainda aprendendo, entendi que não saber o que fazer na hora de começar um ensaio
é uma grande bênção. Isso mesmo. Quanto menos soubermos o que fazer pode ser um
grande aliado. Geralmente as pessoas quando não sabem por onde começar, travam. Ao
contrário, relaxe e observe. Retrato É EXPRESSÃO!

Quando colocamos todas as mulheres na mesma pose, estamos afirmando categoricamente


que não sabemos dirigir, enxergar e que todas as mulheres são iguais, colocadas em uma
forma. Não parece muito atrativo, não é?
Um bom diretor é calmo, observador e por vezes até frio. Ele observa a modelos, suas ex-
pressões, provoca, faz ela reagir à certos estímulos, sem se esquecer de observar o mundo
à sua volta. Tudo começa com o olhar, com a observação, conforme mencionamos e vou
passar logo mais A SEQUÊNCIA do quê observar durante uma sessão.

lu z
Toda, isso mesmo, toda direção de modelos começa com a luz. Não necessariamente com
a pose, mas com a luz. A primeira coisa que faço ao chegar em algum local é perceber e
observar a luz. Sabendo isso, é METADE DO ENSAIO resolvido. Como assim? Não adianta
ser um bom diretor de modelos e fotografar na luz errada. Sempre o posicionamente inicial
durante uma sessão se dará através da luz.

Existe algo que chamo de “luz guia” e na locação procuro por ela. Geralmente são pontos
melhores iluminados que guiarão no frame o olhar do espectador até aquele ponto espe-
cífico. Colocar a modelo naquele local, experiênte ou não, é apenas uma consequência
natural. Observe a luz do cenário, os pontos mais claros e de melhores contrastes.
co mpo s i ção
O posicionamento da modelo de uma forma correta está totalmente associada à variadede
de composição que um cenário fornece. Procurar elementos como linhas, formas geométri-
cas, padrões, texturas e contrastes são fundamentais para ser um bom diretor, não somente
de modelos mas de fotografia. Costumo extrair muito dos filmes, sobretudo do Terrence
Malick, como o famoso A Árvore da Vida e Mundo Novo.

O que tenho percebido ao longo dos anos é um conceito totalmente equivocado de muitos
alunos na hora de compor. Quem disse que trocar a modelo de local o tempo todo para
fazer um clique é o ideal? Coloque a pessoa em um ponto específico, com luz boa, com
bons elementos para compor e comece a procurar possibilidades, ou seja, ANDE!

Geralmente “queimamos” a possibilidade ao fazer apenas um clique e trocar a pessoa no-


vamente de local. Dessa forma sempre começamos tudo denovo e não damos tempo para
nosso olhar perceber o mundo ao redor. Não procure um local pela estética, mas pela
composição. Sempre há algo além para se ver, porém precisamos procurar por ele.
Perceba que todas as fotos acima foram realizada exatamente com a modelo no mesmo
local. Eu chamo isso de ICEBERG. Ela ficou no mesmo local, deixei-a livre, leve e solta, fui
provocando seus movimentos através de comandos específicos e fui fotografando perce-
bendo o que a locação tinha de me oferecer. O local era uma pista abandonada em Juiz
de Fora/MG, porém era muito mais do que isso. Era rico em texturas e informações.
EX PR E SSÃO
Retrato é vida e vida não é fotografar a pessoa como se ela fosse uma estátua. Vida é
movimento, vida é expressão. Como dizia a música, é um grito de gol, é um banho de mar,
é inverno, é verão. Vida é mentira, é verdade. Tudo isso é vida, inclusive o choro, a lágri-
ma, a dor mais profunda que a modelo possa estar vivendo naquele momento.

É a expressão que marca um retrato para sempre. Como não lembrar da expressão da
menina afegã de Steve McCurry? Ahhh... aquele olhar. Hipnotiza!

Um bom diretor de modelos está em não somente observar as dezenas de expressão mas
como também em PROVOCÁ-LAS. Durante muito tempo achei que um bom fotógrafo deve-
ria saber dirigir através de comandos especiais, como “abracadabra” ou “shazam”, e na
realidade não é nada disso.

Expressão a gente não pede, a gente causa. Um bom fotógrafo é um bom provocador do
método ação e reação, e sabe registrar o exato tempo dessa provocação, mesmo que seja
em silêncio absoluto.
Não confunda uma expressão apenas como um sorriso, tampouco uma foto boa pela es-
tética, mas pela verdade que ela oferece, pela alma, pelo conjunto. Nessa hora, deixar a
timidez de lado é fundamental e tomar conta das ações ajuda muito. Saiba em primeiro
lugar o quê você quer mostrar (lembra?), e isso será sua bússola durante o ensaio.

Na primeira foto, falei sobre a infância e provoquei a lágrima da modelo. Essa expressão
marcante precisava ser registrada, pois era o que ela estava vivendo, sobretudo sentindo
naquele momento. Na segunda imagem, no posicionamento correto, estávamos conversan-
do sobre vida, passado e liberdade e na hora a modelos disse “estou me sentindo tão leve,
tão linda, tão livre. Posso tirar a roupa?”. Vê? Tudo é provocado, mas de forma orgânica.
dirigindo
com fluidez
capítulo 4
co mo fala r
Muitos alunos me perguntam: o quê você costuma falar na hora do ensaio? Existem dois
segredinhos que, se bem treinados, vai ajudar a fluir durante o ensaio. Já falamos várias
vezes da observação e ela não pode aqui ser esquecida e ignorada, entretanto agora
anexamos alguns elementos, a conversa e a ação.

Não esqueça de conversar o tempo todo com a modelo, entretanto essa conversa deve ser
mais como GATILHOS MENTAIS para fazê-la se abrir. Por exemplo, pergunte sobre seu
passado, sobre saudade, sobre a infância, sobre o que ela sente nessa fase da vida como
mulher e como profissional, e a deixe falar. A conversa não é sobre você, mas um interesse
real e genuíno sobre ela. É nesse momento que você observará as expressões.

Sobre a ação, sempre instigue ela a fazer PEQUENOS MOVIMENTOS. Nada muito brusco
ou forçado, tem de ser leve e orgânico, de acordo com a mensagem fotográfica que você
quer transmitir. Provoque reações e se concentre naquilo que você está percebendo.
o bj eçõ e s
Nos últimos anos vejo vários alunos colocando questões específicas para realizar bons
ensaios. As mais comuns são:

1) Não consegui dirigir porque a modelo não tinha experiência.


2) Sempre que eu mandava fazer um movimento, não era um movimento bonito. Era duro,
travado, como se não fosse ela.
3) A modelo era tímida e não sabia o que fazer.
4) A modelo não estava concentrada.
5) E se a modelo for gordinha?
6) A modelo era experiente demais e não pude criar nada.
7) O noivo/marido/namorado/mãe/avó/alguém foi junto e a modelo travou.
8) A modelo começou a falar sobre coisas que não gostava em si e não consegui criar
absolutamente nada.
9) Me deu branco e não lembrei de nenhuma pose na hora.
10) Sou tímido na hora de falar e dirigir.
Aqui vão as respostas para essas objeções, dentro de minha própria experiência.

1 - A qualidade de nosso ensaio não está relacionado à experiência da modelo, mas do


nosso processo criativo somado à expressão dela. Tenha como base o conforto. Colocar
a modelo confortavelmente, sentada, deitada, de pé, enfim, em um local de boa luz, para
isso não necessita-se de experiência. Tampouco para batar papo.

2 - Dirigir não necessariamente é ficar modelando a pessoa, sobretudo dando comandos.


Você não está no ensaio para mandar, está para observar e retratar sobre sua visão. Se
a modelo tiver algum movimento que segundo você não fique tão legal, é porque ela não
está a vontade. O corpo da modelo sempre revela se ela está confortável ou não. Tudo dela
deve ser confortável e orgânico. Conforto é a palavra da vez.

3 - Ela não precisa fazer nada. Se ela for tímida e até não quiser falar, fotografe o silêncio
dela, seu olhar. Acredite, seu silêncio é profundo e fala. Ela não precisa ser dirigida como
alguém livre, leve e solta necessariamente. Fotografe quem as pessoas são, e não o que
elas fazem. Importante!
4 - Não deixe o ensaio ficar longo e cansativo. Demore no ensaio o tempo suficiente para
você ter a atenção e concentração da modelo, e isso pode significar minutos, algumas
vezes. Converse com ela, se interesse, puxe assunto. Não fique olhando apenas no back
lcd da câmera. Olhe nos olhos dela e ela se interessará mais por você.

5 - Qual o problema da pessoa ser gordinha? Mais uma vez, não baseie seu ensaio em
uma pose, mas tome como base a observação. Independente do peso, rótulo, cor de pele e
profissão, todas as pessoas tem algo de belo e de bom. Está em você achar isso e imprimir
em seu retrato. O problema não é a pessoa ser gordinha, e sim, consegue você achar uma
pessoa gordinha bela? Esse é o segredo, achar a beleza em tudo e em todos.

6 - Fotografe sempre de “pau duro”. Várias vezes fotografei pessoas experiêntes, mais
do que eu e foi uma grande chance para eu aprender e mostrar que eu sabia que estava
fazendo - mesmo que não soubesse no momento. Confiança é tudo. Jamais passe algo de
desconfiança para a modelo, jamais. Tome o ensaio pra si. Fotografe sempre no modo
“bad ass”. Sacou? Nunca é demais explicar sobre o que você quer fazer e sobre o que está
enxergando. Não se deixe intimidar. Apenas se conecte com sua retratada.
7 - Conexão é tudo e raramente uma modelo, sobretudo se for inexperiente se soltará se
alguém estiver acompanhando. Eu não trabalho e nunca trabalhei com assistente e dou
preferência para não ter ninguém acompanhando a modelo durante o ensaio. Essa para
mim é uma condição real e levo ela muito a sério. Dica: deixe essa condição explicada já
no seu orçamento.

8 - Muitas vezes algumas modelos começam a falar sobre coisas que não gostam em si
e parece que isso limita um pouco o fotógrafo. Fato! Uma dica é sempre falar nesse mo-
mento sobre coisas que ela gosta. Eu nunca pergunto o que ela não gosta, e quando isso
acontece, deixo claro que as fotos que farei não serão dela se olhando no espelho, mas
com uma visão particular, a minha. Não deixe a modelo tirar sua liberdade de criar por
complexos físicos. Tudo tem dois lados e nem sempre a maneira como a modelo se vê, é a
maneira como o mundo a vê.

9 - Ótimo! Quando menos se preocupar com poses, melhor, assim você não engessa a
modelo. No começo era assim comigo também. Hoje procuro observar e criar através do
método da percepção, extraindo o que eu enxergo de melhor da locação e da modelo.

10 - Eu era extremamente tímido e precisei superar isso. Nós não nascemos tímidos, nos
tornamos por algum fator da vida. Durante o ensaio, fale, provoque e sobretudo se expo-
nha sem medo. Coloque seu olhar, suas ideias, sua visão de mundo pra fora.
alguns
cuidados
capítulo 5
Todos nós já cometemos muitos equívocos até aqui e é duro dizer, mas eles são importantes
em nossa caminhada fotográfica. Eu mesmo já fiz tanta bosta, mas se não fosse por elas,
eu não teria como refletir e melhorar, tanto como fotógrafo e também como homem. Acho
importante deixar alguns cuidados bem específicos para reflexão na hora de dirigir.

POSES E SÓ POSES
Brinque mais com a expressão. Não fique somente repetindo poses. Estamos fotografando
seres humanos e não estátuas. Não se preocupe em congelar tanto a modelo, isso deixa o
ensaio frio, sem alma.

ELOGIOS GENÉRICOS
Cuidado para não elogiar apenas de forma genérica, tipo “nossa, como você é linda”.
Quando elogiar, que seja de verdade e elogie algo específico que ela valoriza, como seu
estilo de se vestir, ou a cor de seus cabelos.

PERMISSÃO
Sempre peça permissão para mexer na roupa, tocar, para posicionar a pessoa, como de-
itá-a ou sentá-la. Pergunte se ela se importa com isso.
A NUDEZ
Sempre encare a nudes como algo natural, como de fato é. Nascemos nus e a nudez nos
faz livre, não objetos de desejo sexual. Se você não lida bem com nudez, não fotografe
alguém nú. Da mesma forma, não fique encarando partes específicas do corpo.

A CONEXÃO
Interaja mais com a modelo do que com a câmera. Ela contratou seu olhar e não sua
habilidade de mexer em seus brinquedinhos.

SOBRE AS MÃOS
Mãos é sempre um assunto complicado. Deixe as mãos leves, soltas, e não colocando no
peito como vemos em muitas fotos por aí, ou na cintura. Não fique repetindo muito isso,
é um erro clássico do retrato feminino. As mãos comunicam aquilo que sentimos. Deixe-
as sempre confortáveis e leves. Uma boa dica é interagir com objetos que estão na volta,
como roupa, chão, folhas, algum tipo de acessório, cabelo. Crie movimentos com as mãos.
As mãos também tem o poder de distrair o olhar do espectador nas imagens. Cuidado para
não posicionar as mãos sempre do mesmo jeito, pois isso deixará a mensagem da foto
repetitiva. Uma dica é extrair a referência das mãos das pinturas e ilustrações.
SOBRE CONFIANÇA
Ganhar a confiança da modelo é uma das coisas mais importantes de todo relacionamento.
Algo que precisei trabalhar e mudar muito ao longo do tempo. Olhe sempre nos olhos. Fale
sempre a verdade. Mostre mais quem você é do que aquilo que você faz ou conquistou.
Ninguém está interessado em saber isso. Mas elas estão altamente interessadas se você
será um cara respeitoso, gentil, se a tratará com respeito. Merecer a atenção da modelo e
ganhar seu respeito, admiração e amizade é o maior prêmio de um fotógrafo.

Durante algum tempo tive problemas com meu-entendido e com postagens em redes sociais.
Seja sempre bem claro e transparente com suas ações. Não tenha medo de se abrir e falar
o que pensa, mas sempre sendo gentil. Jamais grosseiro, rude. Não somos superiores a
ninguém, ao contrário, estamos nesse mundo para servir, não para sermos servidos. Se a
modelo por alguma razão não permitir que você poste uma foto, por mais que ela possa
ser a foto da sua vida, não poste. Mais vale a amizade e confiança da modelo do que
meia-dúzia de comentários em redes sociais. Eu mesmo tive de aprender muito com isso e
se pudesse voltar no passado, teria feito algumas coisas diferentes. Ganhar a amizade e
confiança de alguém é tudo.
conclusão
capítulo 6
Dirigir modelos não é uma tarefa das mais fáceis que existe. Não é fácil porque ela precisa
de conexão e sobretudo que ambas as pessoas, fotógrafo e modelo se abram e se permitam
naquele momento registrar algo que só vai acontecer naquele momento.

Também exige entrega, percepção, observação e ainda conectar todos esses pontos e
fazer uma imagem. Dirigir alguém é mais do que apontar a câmera e fotografar, mais do
que dar um comando ou uma ordem, é amar com os olhos. É amar tão intensamente a pon-
to de perder o fôlego, se arrepiar e ficar com um nó na garganta. É procurar a beleza, em
tudo e em todos e converter isso em uma imagem.

Deus nos fez livres, nos fez crianças puras, sem timidez, humildes. Volte a viver como cri-
ança e sobretudo a enxergar como criança. Sempre busque a conexão, sempre busque o
melhor de si misturado ao melhor dos outros. Essa união é perfeita.

E não se esqueça, fotografia é escrever (grafia) com a luz (foto). Mais do que estética, é a
mensagem que você deixará para as próximas gerações, não somente sobre o retratado,
mas sobre você. O QUÊ você está escrevendo toda vez que levanta a câmera? Descubra
isso, e isso o definirá para todo sempre.
muito
obrigado
Se você gostou do que leu e se interessou em saber mais conheça meu livro A OBRA-PRI-
MA DO CRIADOR. É um livro de 240 páginas com muito conteúdo. Também confira minha
agenda de workshops e meu clube de inspiração para fotógrafos chamado Bendito Retrato,
que mostro através de vídeos exclusivos como trabalho, dirijo e me conecto com a modelo.

LIVRO - www.escoladeretratos.com/livro
WORKSHOPS - www.escoladeretratos.com
BENDITO RETRATO - www.benditoretrato.com
ISE NÇÃO DE RESPONSAB ILIDADE

Todas as informações contidas neste guia são provenientes de minhas experiências e aprendizado como re-

tratista feminino ao longo dos últimos anos. Dessa forma esse e-book não tem o objetivo de afirmar que tudo

o que está aqui contido é uma verdade absoluta bem como funcionará com todos os profissionais ou estilos

fotográficos, o que ensino é a verdade para meu método. Não tenho como objetivo contradizer ou me-

nosprezar outros profissionais que ensinam sobre direção de modelos de forma diferente, sendo que cada

um tem seu ponto de vista. Cada profissional precisa ajustar de acordo com sua necessidade e público as

dicas aqui presentes. Todas as imagens são de portfólio e de propriedade de Juliano Coelho e não podem

ser removidas, alteradas ou copiadas.

DI RE I TOS AUTORAIS

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