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A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

www.fotografemelhor.com.br | n0 296 | Ano 25

Retrato
criativo
Dicas de quatro especialistas
para imagens encenadas
Ideias para ensaios com pessoas comuns
Fotógrafo espanhol ensina a retratar casais
Um trabalho inspirado na pandemia
O estilo de David LaChapelle

Grandes fotógrafos da edição: Daniel Marenco David LaChapelle Gisele Martins Irina Dzhul
Jamari Lior Joan Carol Cano Leo Martins Priscila Prade Walda Marques Wendrey Oliveira
Equipe de redação sempre ligada
nos principais temas da fotografia
para surpreender o leitor

carta ao leitor
Denise Camargo (revisora), Érico Elias (editor
convidado), Izabel Donaire (editora de arte),
Livia Capeli (colaboradora especial),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)

A EQUIPE DA EDITORA EUROPA


Anderson Cleiton, Anderson Ribeiro,
Angela Taddeo, Beth Macedo, Bia Moreira,
Camila Brogio, Elisangela Harumi,
Elisangela Xavier, Fabiana Lopes, Gabriel Silva,
Geraldo Nilson, Henrique Guerche, Jeff Silva,
Josi Montanari, Laura Araújo, Ligia Caetano,
Luiz Siqueira, Maitê Marques, Marco Clivati,

U
Maria Beatriz Rodrigues, Mauricio Dias,
Paula Hanne, Paula Orlandini, Renata Kurosaki, ma das missões de Fotografe como
Renato Peron, Roberta Barricelli, Tamar Biffi, revista especializada em fotografia, a
Tania Roriz e Valeria Romahn
única do Brasil (quiçá da América Latina)
NOSSO E-MAIL ainda em circulação e que vai para as
fotografe@europanet.com.br
bancas, é abrir caminho para novos fotógrafos
NOSSO SITE ou jogar luz em nomes experientes ou mesmo
www.fotografemelhor.com.br consagrados, mas que ainda não mostraram seu
NOSSAS REDES SOCIAIS
trabalho nas páginas da revista. Perseguimos isso
@fotografemelhor em toda edição, mas creio que nesta, especialmente,
fomos um pouco além, pois há uma série de
Juan Esteves

PARA ANUNCIAR EM FOTOGRAFE


E MELHORAR A IMAGEM DA SUA eMPRESA profissionais de alta qualidade para tratar de um
publicidade@europanet.com.br tema que particularmente adoro: retrato.
É bom sempre lembrar que a fotografia, como
A revista Fotografe Melhor é uma publicação
da Editora Europa Ltda. (ISSN 1413-7232). Sérgio Branco uma atividade profissional, começou justamente
A Editora Europa não se responsabiliza pelo Diretor de Redação pelo retrato. Nomes como os franceses Félix Nadar
conteúdo dos anúncios de terceiros. branco@europanet.com.br e Èugene Disdéri, lá pelos idos de 1850 a 1870,
Impressão estão entre os pioneiros que substituíram pintores
AR Fernandez na arte de retratar pessoas em Paris e montaram os
PARA ASSINAR E COMPRAR REVISTAS,
primeiros estúdios fotográficos para ganhar dinheiro.
LIVROS, COLEÇÕES E ENCICLOPÉDIAS Assim, acredito que o retrato é a área mais
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(11) 3038-5050 (SP)
tradicional e nobre da fotografia e está presente
(11) 95186-4134 em praticamente todos os segmentos. No entanto,
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atendimento@europanet.com.br
como fugir do lugar-comum, como ousar, como
produzir um retrato criativo? Nomes como a alemã
Jamari Lior, a ucraniana Irina Dzhul, o espanhol
Joan Carol Cano, o americano David LaChapelle
Fundada por
Aydano Roriz e os brasileiros Walda Marques, Leo Martins,
Wendrey Oliveira e Priscila Prade estão presentes
SEDE Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo – SP
CEP: 05509-003 nesta edição justamente para mostrar como
chegar a resultados pouco convencionais, tendo a
criatividade como um ponto em comum.
Talvez você nunca tenha ouvido falar de nenhum
VOCÊ TAMBÉM ENCONTRA AS EDIÇÕES
DA REVISTA FOTOGRAFE NAS SEGUINTES deles ou conheça um ou outro, como LaChapelle,
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• Bancah • UOL Banca • Clube de Revistas referência e possa aprender com eles. Boa leitura.
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Ano 25 – Edição 296
• Bookplay • PressReader • Zinio Junho de 2021
Foto de capa: Jamari Lior

Fotografe Melhor no 296 3


6 Grande Angular
Notícias e novidades

Fotojornalismo
12
16
Brasileiro está entre premiados

sumário do World Press Photo 2020

Grande Prêmio Fotografe


Confira as dicas da premiada Gisele Martins

20
Jamari Lior
Bienal P&B
em Amparo
Antonio Neto

Saiba quem foram os


melhores na competição
entre fotoclubes

Retrato criativo
Inspire-se no trabalho de Jamari Lior, Irina
Dzhul, Walda Marques e Leo Martins
24
38 54
Wendrey Oliveira

Criatividade Retratos
amazônica da varanda
Casal de Itaituba, no Uma série diferente
Pará, mostra como de Priscila Prade em
fazer muito com pouco tempos de pandemia

48 60
Joan Carol Cano

Priscila Prade

Como ousar em
retrato de casais
O espanhol Joan Carol Cano
ensina a obter fotos de O estilo de LaChapelle
impacto com ideias simples Os polêmicos retratos do americano

4
grande angular

Fotos: Craig Easton

Série de retratos é destaque


no Prêmio Sony de 2021
O fotógrafo britânico Craig
Mark Hamilton Gruchy

Easton foi escolhido como


Fotógrafo do Ano 2021
pela Competição Profissional do
Prêmio Sony, um dos mais cobiçados
do mundo. A premiação foi obtida
pelo ensaio intitulado Bank Top, com
retratos realizados em uma comunidade
periférica de maioria negra em Blackburn,
norte da Inglaterra. Desenvolvido com
a colaboração do escritor e acadêmico
Abdul Aziz Hafiz, o trabalho também foi
o ganhador na categoria Retrato.
O Prêmio Sony selecionou primeiros,
segundos e terceiros colocados em
10 categorias. Os vencedores foram
Tomáš Vocelka, da República Checa,

Acima, dois dos retratos que deram o


prêmio ao britânico Craig Easton; ao
lado, trabalho vencedor na categoria
Criatividade, que permite manipulação

6 Fotografe Melhor no 296


Laura Pannack
Simone Tramonte
Acima, imagens de trabalhos
premiados da italiana Simone
Tramonte (à esq.) e da britânica
Laura Pannack (à dir.)

em Arquitetura e Design; Mark


Hamilton Gruchy, do Reino Unido,
em Criatividade; Vito Fusco, da
Itália, em Projetos Documentais;
Simone Tramonte, da Itália, em
Meio Ambiente; Majid Hojjati, do
Irã, em Paisagem; Laura Pannack,
do Reino Unido, em Portfólio;
Anas Alkharboutli, da Síria, em
Esportes; Peter Eleveld, da Holanda,
em Natureza-Morta; e Luis Tato,
da Espanha, em Vida Selvagem e
Anas Alkharboutli

Natureza.
A World Photography
Organization, que promove o
Prêmio Sony, também concedeu o
prêmio Contribuição Excepcional
Vito Fusco

para a Fotografia 2021 à fotógrafa


mexicana Graciela Iturbide,
com uma trajetória de 50 anos
retratando as complexidades e
contradições da cultura popular
e da religiosidade em seu país.
Confira todos os ganhadores da
Competição Profissional do Prêmio
Sony no link cutt.ly/GbtRAwu.

Acima, uma foto da série


premiada do sírio Anas
Alkharboutli e, ao lado, imagem
da série do italiano Vito Fusco

Fotografe Melhor no 296


grande angular

Retrato de um
carregador
que vive em
Calcutá, Índia,
feita com ele
Tom Price

fora do ambiente
urbano, rendeu
o primeiro lugar

Retrato surreal dá a Tom Price

prêmio a britânico
Foram anunciados os vencedores da mostra o corpo de uma suposta vítima do novo
Corpo embrulhado sexta edição do concurso anual Mind’s Eye, coronavírus embrulhado com filme plástico
deu 20 lugar ao organizado pela revista on-line All About Photo. após desinfecção, procedimento adotado até
indonésio Irwandi
e retratos de irmãs O vencedor do prêmio Fotógrafo do Ano hoje pelas autoridades sanitárias da Indonésia.
o 30 ao irlandês 2021 foi o britânico Tom Price com imagem O americano Joseph-Philippe Bevillard
Bevillard; mais retirada de uma série de retratos surreais de ficou na terceira colocação, com o retrato de
abaixo, cena policial carregadores de Calcutá, Índia. A maioria desses duas irmãs realizado em Dublin, capital da
em Honduras deu o carregadores é migrante e o fotógrafo desloca- Irlanda. A imagem faz parte de um projeto de
40 lugar ao espanhol -os do ambiente urbano, criando uma sensação documentação de grupos nômades conhecidos
Javier Arcenillas (à
esq.) e protesto em de estranhamento. como Travellers e que sofrem discriminação na
Santiago que valeu O segundo lugar foi para o fotógrafo sociedade local. A galeria completa de imagens
o 50 ao chileno indonésio Joshua Irwandi com uma imagem de premiadas e finalistas pode ser conferida no
Javier Vergara uma série sobre os impactos da covid-19, que link: https://cutt.ly/BbrLgzo.
Joshua Irwandi

Joseph-Philippe Bevillard
Javier Vergara
Javier Arcenillas

8
Xinpei Zhang
Ao lado, a foto vencedora
do concurso, que mostra
o embrião de um rato;
acima, a que ficou em
10 lugar na região
Ásia/Pacífico, reúne
Werner Zuschratter

escamas de asas de 40
espécies de borboletas

As melhores fotos
microscópicas de 2020
Com a incrível imagem de escamas coletadas nas asas de 40
um embrião de rato, o alemão espécies de borboletas. Na região das
Werner Zuschratter foi o vencedor Américas, o vencedor foi o americano
global do concurso Ciências da Justin Zoll, com panorâmica de
Vida, organizado anualmente pela cristais de glutamina e beta alanina.
Olympus desde 2017 e dedicado Já o suíço Grigorii Timin ganhou o
exclusivamente a imagens prêmio que engloba Europa, Oriente
capturadas com microscópio, Médio e África com a foto de fibras
que revelam um universo fora do de colágeno e células de pigmento
alcance do olhar humano. dérmico da pele embrionária de uma
Além do vencedor global, cobra doméstica africana. Outras
outros três prêmios regionais foram nove imagens foram selecionadas
concedidos. O chinês Xinpei Zhang como menção honrosa. A galeria
foi o vencedor da região Ásia/Pacífico completa pode ser conferida no link:
com uma fotomontagem que reúne cutt.ly/Qbr4h9E.
Justin Zoll

Foto de cristais de glutamina e beta alanina venceu na região das Américas

Fotografe Melhor no 296 9


grande angular
Foto do Mês/Arfoc-SP
Os sinais do
fim da vida
A foto de um eletrocardiograma
com as linhas retas, identificando
que se tratava de um paciente já
sem vida, sintetizou de forma sóbria
e ao mesmo tempo aterradora o
que o fotojornalista Daniel Marenco
testemunhou na UTI do Hospital
Centenário de São Leopoldo, o único
da cidade gaúcha de cerca de 230 mil
habitantes, próxima à capital Porto
Daniel Marenco

Alegre. “Foi uma experiência triste


demais, tensa, perigosa, senti medo
de entrar naquela UTI”, confessa ele.
Capturada durante uma pauta Nas linhas do eletrocardiograma, a morte no hospital de São Leopoldo (RS)
sobre o caos da pandemia de
covid-19, quando crescia a segunda quem vai ver a matéria”, diz ele. natal, São Leopoldo, para fotografar a
onda no Brasil, no fim de março de A cobertura marcou o retorno campanha de um político nas eleições
2021, a imagem quase não entrou na de Marenco ao fotojornalismo, já municipais de outubro de 2020. Sua
edição final enviada à Agência EFE. que após deixar o jornal O Globo, em volta ao fotojornalismo se deu a partir
“Ela é forte e sempre me pergunto janeiro de 2020, ele passou por um de março de 2021 com uma pauta
qual é o limite para mostrar uma período sabático morando em uma sobre o caos da segunda onda de
realidade assustadora. Tomo muito praia no litoral de Santa Catarina, covid-19 em Porto Alegre para a Folha
cuidado para tentar não ultrapassar enquanto ocorria a primeira onda de de S.Paulo – a cobertura lhe rendeu o
o limite do respeito às vítimas e de covid-19 no Brasil. Retornou à cidade convite para trabalhar na Agência EFE.

A perda de três profissionais renomados


A fotografia brasileira perdeu três nacional. Começou no Foto Cine na região, foi feita uma campanha
profissionais renomados entre março Clube Bandeirante e participou dos liderada pela jornalista Eliane Brum
e abril de 2021: Manuk Poladian, grupos Cromos e Luminous, voltando para interná-lo em um hospital privado
Maurilo Clareto e Luiz Prado. Manuk, nos últimos anos ao FCCB. em São Paulo (SP), para onde ele foi
83 anos, ainda lamentava a perda do A covid-19 também foi a causa trazido em UTI aérea. Uma rede de
amigo Sérgio Jorge quando também da morte do fotojornalista Maurilo solidariedade arrecadou fundos que
foi vitimado pela covid-19 no início Clareto, o Lilo, 61 anos. Ele contraiu custearam a viagem e o tratamento
de março. Ele marcou seu nome a doença em Altamira (PA), onde do fotógrafo, mas, em 21 de abril,
como um mestre em fotografia de passou a morar nos últimos anos após mais de um mês intubado, Lilo
casamento e como um dos mais para cobrir pautas na Amazônia. Sem Clareto perdeu a luta contra a doença.
antigos membros do fotoclubismo acesso a uma vaga de terapia intensiva Ele trabalhou durante muitos anos no
Estadão e na revista Época.
Já Luiz Prado, também repórter
fotográfico, não resistiu ao processo
degenerativo da esclerose lateral
amiotrófica (ELA) e morreu no dia
26 de abril aos 67 anos. Brincalhão
e ao mesmo tempo ousado, pronto
Fotos: Divulgação

para todo tipo de pauta, Prado foi


fotógrado da Folha de S.Paulo, do
Jornal do Brasil e do Estadão. Depois,
fundou a Agência Luz, onde atuou
Luiz Prado (à esq.), Lilo Clareto com a jornalista Eliane Brum (ao centro) e até 2018 prestando serviços voltados
Manuk Poladian (à dir.), três grandes profissionais nas suas áreas de atuação para fotografia institucional.

10 Fotografe Melhor no 296


Lalo de Almeida
Ao lado, a foto do
dinamarquês Mads
Nissen, feita em um
lar de idosos em São
Paulo (SP) durante
a pandemia, eleita a
melhor de 2020 entre
as imagens únicas de
um acontecimento
Mads Nissen

Lalo de Almeida vence


o World Press Photo
Brasileiro se destaca na categoria Meio Ambiente com imagens das queimadas
no Pantanal e dinamarquês vence no geral com imagem captada em São Paulo

O fotógrafo paulista Lalo


de Almeida, tema de
matéria publicada
na edição 295 de Fotografe,
venceu a categoria Histórias/Meio
Assuntos Contemporâneos com uma
série sobre famílias afetadas pelo
zika vírus. Já uma foto feita em São
Paulo (SP) pelo dinamarquês Mads
Nissen, da agência Panos Pictures,
abraçada pela enfermeira Adriana
Silva da Costa Souza, no lar de idosos
Viva Bem. A cena, captada em 5 de
agosto de 2020, mostra o primeiro
abraço que Rosa recebia em cinco
Ambiente do World Press Photo foi a grande vencedora geral entre meses, já que os asilos permaneceram
(WPP) 2021, principal premiação as imagens que registram um fato fechados no Brasil a partir do mês
do fotojornalismo global, com uma isolado e também primeiro lugar na de março, por conta da pandemia de
reportagem sobre as queimadas no categoria Notícias Gerais. covid-19, e só reabriram em agosto.
Pantanal – Lalo havia conquistado o Nissen fotografou a senhora Rosa Na premiação do WPP, em
segundo lugar em 2017 na categoria Luzia Lunardi, de 85 anos, sendo que histórias são compostas de

12 Fotografe Melhor no 296


Antonio Faccilongo

Uma das imagens da série de Lalo de Almeida sobre os incêndios no Pantanal que venceu na categoria Histórias/Meio
Ambiente (à esq.) e uma das fotos da série Habibi, do italiano Antonio Faccilongo, vencedor geral entre as histórias
Alexey Vasilyev
Pablo Tosco

Trabalhos premiados do italiano Pablo Tosco (à esq.) e do russo Alexey Vasilyev


conjuntos de imagens que tratam em Temas Contemporâneas e, abaixo, da americana Ami Vitale em Natureza
sobre temas ou eventos de grande
relevância jornalística, o italiano
Ami Vitale

Antonio Faccilongo foi o vencedor


geral e também na categoria
Projetos de Longa Duração com
uma série intitulada Habibi, que
retrata a vida de prisioneiros
palestinos detidos em penitenciárias
israelenses e sua relação com o
mundo externo, permeada por uma
série de restrições, como proibição
de contato físico com visitantes.
O WPP tem um total de oito
categorias e premia imagens únicas e
histórias em sete delas, com exceção

13
Fotojornalismo

Oleg Ponomarev
Adam Pretty
Acima, fotos do russo Ponomarev,
Gabriele Galimberti

vencedor em Retrato (à esq.), e


do suíço Pretty, ganhador em
Esportes; ao lado, uma imagem
do italiano Gabriele Galimberti
sobre colecionadores de armas

de Projetos de Longa Duração,


que só recebe inscrição de ensaios
fotográficos. Na categoria Temas
Contemporâneos, os vencedores
foram o argentino Pablo Tosco, com
foto de uma pescadora e seu filho
no Iêmen, e o russo Alexey Vasilyev,
com ensaio sobre a Sakhawood,
como é chamada a indústria
cinematográfica existente na região
de Sakha, na Sibéria.
A americana Ami Vitale foi a
vencedora na categoria Natureza,
com imagem de uma girafa de
Rothschild (Giraffa camelopardalis
rothschildi) capturada para ser
Evelyn Hockstein

retirada de uma ilha inundada no


Lago Baringo, Quênia. Na mesma
categoria, a história vencedora foi
produzida pelo holandês Jasper
Doest e reúne imagens de duas
pombas que passaram a frequentar
sua casa durante o isolamento
social em decorrência da covid-19.
Oleg Ponomarev, da Rússia,
foi o vencedor da categoria
Retratos, com imagem de Ignat,
homem transgênero abraçado

Foto da americana Evelyn


Hockstein, vencedora
em Notícias Pontuais

14 Fotografe Melhor no 296


Uma das imagens
da série do italiano
Lorenzo Tugnoli
sobre explosão em
Beirute, no Líbano
Lorenzo Tugnoli

à sua namorada Maria, em São homem que discordam sobre


Petersburgo. Já o italiano Gabriele a remoção de uma estátua por
Galimberti foi o ganhador da manifestantes em Washington DC.
categoria Histórias/Retrato com Na mesma categoria, a história
ensaio realizado nos Estados Unidos vencedora foi a do italiano Lorenzo
que retrata proprietários de armas Tugnoli, que documentou os efeitos
ostentando seus arsenais. devastadores da explosão de um
O suíço Adam Pretty ganhou na depósito de fertilizantes no porto
categoria Esportes com a imagem de Beirute, no Líbano, ocorrida em
de um homem escalando uma agosto de 2020.
pilha de toras na Alemanha ao Na categoria Meio Ambiente,
praticar bouldering, que consiste em o melhor foi o americano Ralph
escaladas de baixa altura sem uso de Pace com imagem subaquática
proteção contra quedas. A história de um leão-marinho que nada
vencedora na categoria foi a do em direção a uma máscara contra
canadense Chris Donovan e mostra a covid-19 descartada no mar
a equipe de basquete The Flint da Califórnia, EUA. A história
Jaguars, de Flint, nos EUA, assolada vencedora da categoria Notícias
pela desindustrialização. Gerais foi produzida pelo russo
A americana Evelyn Hockstein Valery Melnikov e apresenta como
venceu a categoria Notícias Pontuais é viver em meio ao conflito em
com foto de uma mulher e um Nagorno-Karabakh, no Azerbaijão,
alvo de disputas
com a Armênia,
país vizinho
que reivindica a
posse da região.
Confira todas as
fotos e histórias
premiadas
no WPP 2021
acessando o link:
cutt.ly/Bv5Wy5N.

Leão-marinho
diante de máscara
em foto premiada
do americano
Ralph Pace
Ralph Pace

15
Grande Prêmio

Fotos: Gisele Martins


Cena de cerimônia de candomblé realizada na tradicional Igreja de Nossa Senhora Achiropita na Missa da Mãe Negra

Para concurso, vale


até rever o arquivo
Gisele Martins, premiada fotógrafa baseada na capital paulista, dá
dicas para quem pretende participar de concursos e premiações

I nscrever um trabalho em um
concurso como o Grande
Prêmio Fotografe é uma
ocasião para o fotógrafo revisitar
seu arquivo. Nesse processo, muitas
Nas dez edições realizadas
do Concurso Leica-Fotografe, ela
é a única mulher a conquistar o
primeiro lugar na categoria Ensaio,
em 2006, depois de ter sido a
Para Gisele, os grandes
concursos dão visibilidade e
estar entre os ganhadores é uma
excelente forma de divulgação
do nome do fotógrafo. “Outro
ideias podem surgir a partir de um terceira colocada na categoria P&B benefício é ter seu trabalho avaliado
ensaio ou uma foto “esquecidos” por em 2004. Ela também foi premiada por profissionais respeitados da
lá. Gisele Martins, fotógrafa baseada duas vezes na Convocatória Portfólio área. Quem quer crescer precisa
em São Paulo (SP), defende que, em Foco, promovida pelo Festival expor-se a julgamentos. Editar seu
para criar algo novo, envolvimento, Internacional de Fotografia Paraty material para concursos também é
paixão e pesquisa são essenciais. em Foco, em 2018 e 2020. um aprendizado importante, uma

16 Fotografe Melhor no 296


Reavaliar
oportunidade para você refletir sobre a celebrações de matriz africana realizadas
imagens de
própria produção”, avalia. em um templo da igreja católica. trabalhos já
O ensaio vencedor do Concurso Leica- Esse ensaio foi exposto no final feitos pode ser
-Fotografe de 2006 aborda celebrações de de 2005 na Pinacoteca de São Paulo.
religiosidade afro-brasileiras no bairro do Ela lembra que as oportunidades para
a chance para
Bixiga, em São Paulo (SP), tanto na igreja fotografar não foram muitas, pois novas ideias
católica quanto no candomblé. Gisele ocorreram poucas celebrações ao longo de ensaios ou
Martins iniciou o trabalho em 2003, a partir do período. "O candomblé foi incorporado
da participação no projeto “Povos de São ao ensaio por sugestão do curador de encontrar
Paulo – Uma Centena de Olhares sobre a da exposição, Diógenes Moura. Nesse uma bela foto
Cidade Antropofágica”, em homenagem período, eu também fazia um curso de esquecida
aos 450 anos da cidade. Ela atuou no grupo desenvolvimento de projetos com o Iatã
“Cultos, Crenças e Misticismos”, coordenado Cannabrava, e a troca de informações com
pelo fotógrafo Egberto Nogueira. o professor e o grupo ajudou muito”, relata.
Ao longo de dois meses, fotografou A edição para o ensaio enviado ao
missas que promoviam o sincretismo Leica-Fotografe, limitado a seis fotos, foi
Gisele Martins focou
religioso na Paróquia Nossa Senhora feita com a ajuda de um amigo fotógrafo, seu ensaio P&B no
Achiropita: a de São Benedito e a partir das imagens que já haviam sincretismo religioso
a da Mãe Negra. Ficou fascinada entrado na exposição. Gisele considera que ocorria no bairro do
com a beleza e a potência daquelas que a ajuda de outras pessoas é muito Bixiga, em São Paulo (SP)

Fotografe Melhor no 296 17


Grande Prêmio

Fotos: Gisele Martins


importante na hora de editar um podem contribuir para a geração
trabalho a ser enviado para um de insights”, comenta.
concurso. “Hoje em dia utilizo Já na categoria Imagem
muito o Instagram para mostrar Destacada o ideal é inscrever
meu trabalho e obter feedback. Fiz fotografias mais potentes, de
isso com meu ensaio mais recente, maior impacto e mais instigantes.
Interiores”, complementa. “Emoção e originalidade podem ser
atributos que permitem à sua foto se
Dicas para edição destacar”, aposta a fotógrafa.
Com inscrições abertas até Com diversas premiações
31 de maio de 2021, o Grande e exposições ao longo de sua
Prêmio Fotografe conta com carreira e fotografias nos acervos
duas categorias: Ensaio e Imagem da Pinacoteca da São Paulo e da
Destacada. Para quem deseja se Biblioteca Nacional da França,
inscrever na categoria Ensaio, que Gisele Martins mantém o costume
permite o envio de um conjunto de participar de concursos e
coeso de 6 a 10 imagens, Gisele premiações. Diz não conhecer
Martins aconselha fazer com que a fundo todos os concursos
as fotos selecionadas conversem disponíveis, mas percebeu que a
entre si e apresentem um conceito, oferta tem crescido nos últimos
uma ideia. Ela diz que a conexão anos. “Atualmente, temos muitos
estética entre as imagens é muito festivais de fotografia, todos com
importante, pois cria união, faz com suas convocatórias, e acho que
que o conjunto seja harmonioso. eles são bem relevantes. Além do
A Missa de São Benedito,
na mesma igreja do Bixiga, "Para explorar bem o tema do Grande Prêmio Fotografe, é claro,
também reunia elementos ensaio, pesquisa e estudo são pois a revista sempre teve um
da religião católica com a imprescindíveis, pois facilitam papel importante na promoção e
de matriz africana o planejamento da execução e divulgação de concursos”, diz.

18 Fotografe Melhor no 296


Fotoclubismo
Annemarie Brugger

A foto Releitura dos


Amantes, da gaúcha
Annemarie Brugger, foi
medalha de ouro na
Bienal P&B de 2020

Caxias do Sul ganha


Bienal P&B em Amparo
Depois de dois
adiamentos em
O Clube de Fotógrafo de
Caxias do Sul (RS), com
um total de 973 pontos,
foi o ganhador da 31a Bienal de Arte
Fotográfica Brasileira Preto e Branco,
Releitura dos Amantes. Antonio Neto,
do Foto Clube de Londrina (PR), ficou
com a medalha de prata com a obra
Sérgio. Tadeu Vilani, também membro
do CFCS, recebeu a medalha de bronze
virtude da pandemia,
organizada pelo Cine Foto Clube de com a obra Em Uruguaiana.
a competição entre Amparo (SP) e supervisionada pela Os gaúchos receberam pela
fotoclubes brasileiros Confederação Brasileira de Fotografia conquista o Troféu Eduardo Salvatore,
(Confoto). Além disso, a medalha de entregue virtualmente durante uma
é vencida pelos ouro, reconhecimento pela melhor cerimônia no dia 10 de abril de 2021.
gaúchos, que ainda foto entre todas no entendimento Cerca de 200 fotoclubistas de várias
da comissão julgadora, foi entregue partes do Brasil acompanharam a
levam medalhas de a Annemarie Brugger, integrante do entrega de prêmios em transmissão
ouro e bronze fotoclube da Serra Gaúcha, com a obra on-line de Amparo. O Salvador Foto

20 Fotografe Melhor no 296


Tadeu Vilani

Acima, a imagem do gaúcho Tadeu


Vilani, que recebeu a medalha de
bronze; ao lado, a do paranaense
Antonio Neto, medalha de prata

Clube ficou com o segundo lugar


(Troféu Hércules Florence), totalizando
605 pontos, seguido pelo Foto Clube
Riofotográfico, com 492 pontos (Troféu
Abade Louis Compte). No total, foram
inscritas 2.018 imagens P&B de 512
participantes de 32 fotoclubes de
73 cidades diferentes de 16 Estados.
Participaram da comissão julgadora
nomes respeitados no meio: Eduardo
Muylaert, Marcos Varanda, Mônica Maia,
Nair Benedicto e Sérgio Branco.
Foi o primeiro evento com a
participação do gaúcho Carlos Gandara,
novo presidente da Confoto, que
assumiu recentemente, já que a eleição
foi realizada no começo de 2021 (deveria
ter sido em 2020, mas por causa da
pandemia foi adiada). Em assembleia
virtual, 36 fotoclubes elegeram a chapa
de Gandara, de oposição, mas houve
Antonio Neto

contestação judicial do processo. No


julgamento, a Justiça deu ganho de causa
ao grupo de Gandara.
Fotoclubismo

Roberto Soares Gomes


Menções honrosas na Além de organizar a Bienal, o Cine – que deveria ter ocorrido em agosto de
Bienal: acima, do mineiro- Foto Clube de Amparo (CFCA) conseguiu 2020, mas em função da pandemia sofreu
-carioca Roberto Soares um honroso quarto lugar na classificação dois adiamentos. Nesse meio-tempo,
Gomes e, abaixo, do geral com 485 pontos mesmo sem nunca em 30 de novembro de 2020, o grande
gaúcho Afonso Cesa Neto
ter participado de um evento desse porte fotógrafo Sérgio Jorge, então presidente
do CFCA, morreu vítima de covid-19
aos 83 anos (veja na edição 292), sendo
substituído pelo vice Reginaldo Leme,
também fotógrafo profissional. Para
honrar o legado do mestre nascido em
Amparo e onde havia voltado a morar,
a organização da Bienal criou o Troféu
Sérgio Jorge para premiar seu fotoclube
de coração.
O crescimento do CFCA se explica
pela adesão ao fotoclube de muitos ex-
-integrantes do Grupo Luminous, de
São Paulo (SP), que nos últimos anos
havia ganhado várias bienais da Confoto,
Cor e P&B. O fotoclube paulistano,
presidido por Ourivaldo Barbosa do
Valle, o Barbosa (que foi por mais de
Afonso Cesa Neto

uma década diretor administrativo da


Confoto e saiu no início de abril de 2021),
teve uma série de problemas políticos
internos e acabou se desfazendo, com

22 Fotografe Melhor no 296


Eduardo Garcia

Sônia Ferreira
seus membros se filiando a outras Também tiverem
agremiações fotográficas, como o menção honrosa
tradicional Foto Cine Clube Bandeirante, imagens de Sônia
Ferreira (acima),
também de São Paulo (SP). A ida para
do Foto Cine Clube
o CFCA foi mais natural porque os de Amparo, e de
integrantes do Luminous se reuniam no Eduardo Garcia
estúdio de Sérgio Jorge em São Paulo e, (ao lado), do Clube
de certa forma, tinham uma ligação com Riofotográfico
o saudoso mestre.
As 150 fotografias selecionadas e
premiadas estarão expostas na sede do 150 imagens selecionadas pelos jurados,
Cine Foto Clube de Amparo, que passou com destaque para as 17 menções
Abaixo, parte da
recentemente por uma grande reforma honrosas e as três medalhistas, foi exposição da Bienal P&B
capitaneada por Sérgio Jorge. “Nosso enviado para todos os fotoclubistas 2020 montada no Cine
grande sonho era realizar o evento que participaram do evento. Foto Clube de Amparo
de forma presencial, aproveitando a
reinauguração da sede, mas infelizmente
tivemos que adiar por duas vezes
até que decidimos pela realização
on-line”, explica Reginaldo Leme, que
foi o coordenador geral da Bienal de
Amparo. Como a visitação à mostra
ainda é complicada devido à pandemia,
ela ficará montada no salão principal do
CFCA pelo menos até junho de 2021, com
grande possibilidade de prorrogação.
E, se a Bienal P&B ocorreu
virtualmente, a grande novidade é que
após anos de divulgação do catálogo
das fotos de destaque apenas em
Reginaldo Leme

formato digital o pessoal de Amparo


decidiu fazer uma versão impressa,
apresentada durante a cerimônia de
premiação. O catálogo, que traz todas as

Fotografe Melhor no 296 23


Matéria de capa
Irina Dzhul

A ucraniana Irina
Dzhul aposta em
uma estética de
contos de fada

Caminhos do
retrato criativo
Da criação de um mundo de sonho à fotografia de personagens reais,
inspire-se no trabalho de quatro especialistas: a alemã Jamari Lior, a
ucraniana Irina Dzhul e os brasileiros Walda Marques e Leo Martins
Por Érico Elias

O processo criativo no retrato permite


inúmeras formas de abordagem, que
iniciam na pesquisa de modelos e
locações, se desdobram na escolha do equipamento
e da iluminação, na criação de cenários, figurinos
e tratamento digital. Fotógrafos especializados no
segmento dão pesos distintos a essas etapas, segundo
o estilo de cada trabalho, caso de quatro profissionais
renomados que chamam a atenção pela criatividade:
a alemã Jamari Lior, a ucraniana Irina Dzhul e os
e maquiagens, e terminam no processo de edição brasileiros Walda Marques e Leo Martins.

24 Fotografe Melhor no 296


A alemã Jamari Lior
incorpora cenografia
e figurino em suas
criações, como nesta
foto com uso de páginas
de jornais e livros

criação
O figurino tem
muita importância
na criação de
retratos com
encenação
Jamari Lior

Fotografe Melhor no 296 25


Matéria de capa

Jamari Lior
A produção
cenográfica é
um recurso que Jamari Lior é o nome artístico adotado eclosão da pandemia do novo coronavírus,
por Maja Jerrenstrup, nascida em Colônia, ela passava mais tempo viajando para
marca um estilo na Alemanha, referência para vários fotografar, participar de eventos e dar
nos retratos fotógrafos brasileiros que acompanham workshops do que em sua casa na
realizados por seu trabalho pela internet. Lior é dona de Alemanha. Ela comenta que viagens são
um estilo marcado por uma influência o principal combustível para sua atividade
Jamari Lior da mitologia indiana, em particular, e criativa. “Adoro conversas interessantes,
e Irina Dzhul das mitologias, em geral. Ela concebe livros, filmes, pois tudo isso pode inspirar.
imagens tendo em vista a expressão de um Mas talvez a coisa mais importante para
inconsciente coletivo, retratando sempre clarear as ideias seja sair e dar uma volta
corpos femininos, que transmitem um com os olhos bem atentos”, diz.
clima nonsense, com força e sensualidade. Com uma abordagem bastante
A fotógrafa alemã explica que as próxima da profissional alemã, Irina Dzhul,
ideias para novos trabalhos surgem nascida em Kiev, capital da Ucrânia, define-
principalmente quando ela está exposta a -se como uma fotógrafa de contos de
novas experiências e impressões, sobretudo fada. Suas imagens envolvem alto grau
quando viaja. “Todos os anos passo pelo de produção cenográfica e de tratamento
menos um mês na Índia e, ao todo, já digital, por vezes estando mais próximas
contabilizei três anos vivendo naquele da ilustração do que da fotografia. São
país, que tem grande influência sobre meu cenas cuidadosamente criadas, explorando
trabalho. A estética indiana busca veicular complexas relações entre modelos
Os retratos encenados
de Jamari Lior têm mensagens simbólicas dissolvendo as femininas, as vestimentas e a paisagem
influências mitológicas fronteiras entre a obra de arte e o público. urbana ou natural. Mesmo quando envolve
e buscam transmitir É nisso que me esforço, que quero atingir cenários conhecidos de cidades, Dzhul cria
força e sensualidade com minha fotografia”, explica. Até a uma ambientação de sonhos, forjando

26 Fotografe Melhor no 296


Fotos: Irina Dzhul

Jamari Lior
Acima, dois retratos criados pela
ucraniana Irina Dzhul e, ao lado,
a força do figurino em imagem
idealizada pela alemã Jamari Lior

personagens femininos fora do comum.


A ucraniana afirma que a fotografia
é uma forma que ela encontrou de
contar uma história, de suscitar questões
relevantes, criar uma narrativa em uma única
imagem, fazendo o espectador pensar e
o levando para um outro mundo. “Tenho
fé na harmonia entre as pessoas e com a
natureza. Tento falar não somente da beleza
da forma, mas também do conteúdo. O
mundo mágico do conto de fada, a viagem
no tempo e no espaço, um sonho excitante...
é disso que vivo todos os dias”, explica.
Assim com Lior, Dzhul influencia a criação
de uma série de profissionais brasileiros,
principalmente fotógrafas.

Criações brasileiras
A paraense Walda Marques, que
nasceu e vive em Belém, também busca
a criação de personagens a partir de
um minucioso trabalho que envolve
a concepção de cenário, figurino,
maquiagem e cabelo. Muitas das mulheres
que posam para ela são clientes que

27
Matéria de capa
Walda Marques

Acima, uma criação da paraense


Walda Marques e, ao lado, um retrato
editorial de Leo Martins, que fez o
chef Oscar Bosch posar no mar com
uma pescada-amarela no ombro

pagam pelo retrato e topam “entrar na


brincadeira”, como ela define, criando uma
mistura entre trabalhos autoral e comercial.
Ao contrário de Jamari Lior e Irina Dzhul,
cuja maioria das cenas é captada em
locações externas, Walda Marques cria
seus cenários dentro do próprio estúdio,
com uso de fundos pintados que simulam
ambientes naturais.
A fotógrafa ressalta que as mulheres
que fotografa não são modelos
profissionais, são pessoas que gostam da
proposta e aceitam fazer esse trabalho
com ela. “Eu mesma cuido de tudo, a
maquiagem, o figurino, o arranjo de
Leo Martins

28 Fotografe Melhor no 296


Leo Martins
Walda Marques

cabelo, o fundo, a luz. Esses elementos se pessoa, onde ela se sente mais à vontade. Acima, Walda Marques
complementam, e do conjunto surge o Martins afirma que a pesquisa usa placa de vidro para
que quero. Gosto de trabalhar a pessoa até sobre o personagem é fundamental criar um efeito no retrato;
encontrar o que desejo e, com isso, crio para a construção do retrato. Como o à esq., o estilista Fause
Haten posa de forma
uma personagem e faço com que a pessoa fotojornalismo exige rapidez, na maioria das inusitada para Martins
acabe se incorporando e queira se mostrar vezes, ele diz que a busca pela informação
daquela forma”, resume. sobre o personagem pode ser realizada
A criatividade, no entanto, não depende até no caminho para a sessão de fotos, no
da criação de um personagem fictício bate-papo com o editor ou com o repórter.
ou de uma cena de sonhos para aflorar. “Por vezes, a pesquisa pode ser até mesmo
Especializado em retratos editoriais que durante o café que você toma enquanto Pesquisar
buscam apresentar ao público leitor monta a luz e conversa com a pessoa para sobre a vida do
pessoas “reais” que se destacam em suas sentir o humor dela, como se ela expressa personagem é
atividades profissionais, o fotojornalista Leo ou se movimenta, antes de ela começar fundamental para
Martins, carioca radicado em São Paulo a posar. São coisas que parecem muito
(SP), coloca sua inventividade a serviço da básicas, mas ajudam a montar o quebra-
tentar criar algo
informação. Tem como missão sintetizar -cabeça para idealizar a foto”, explica. diferente na hora
de maneira leve e visualmente atraente Quando a pauta dá mais tempo para de fazer um retrato
a personalidade do retratado, sempre se pesquisa, tudo o que o fotógrafo puder editorial
deslocando para o local onde a pessoa vive saber sobre o retratado é fundamental para
ou trabalha, ou seja, no “habitat natural” da realizar um bom trabalho, assegura ele. Leo Martins

Fotografe Melhor no 296 29


Matéria de capa

Gosto de
misturar elementos
nos meus retratos
e quero que o
observador tenha
uma interpretação
própria do que
está vendo
Jamari Lior

A alemã Jamari Lior


conta com a parceria de
maquiadores, estilistas
e modelos para
realizar seus retratos
e se diverte com esse

Fotos: Jamari Lior


processo criativo

Jamari Lior:
caminho das Índias
Maja Jerrenstrup passou por com produções fotográficas e críticas, mas é justamente isso que
uma formação nada ortodoxa cinematográficas. Graças à sua busco. Quero que as pessoas criem
antes de começar a fotografar experiência diante das câmeras, as próprias interpretações a partir das
e de assumir seu nome artístico Lior incorpora a performance em imagens que faço”, comenta.
de Jamari Lior. Apaixonada por seus trabalhos como fotógrafa. Para conceber as cenas,
viagens e pela cultura indiana, Ela afirma que, para a maior parte Jamari Lior trabalha em equipe,
mudou-se para Chennai, na de suas fotos encenadas, lugares, em parceria com maquiadores,
Índia, para aprender a dança roupas e maquiagem têm grande estilistas e modelos. “Adoro essa
Bharatanatyam. Lá trabalhou como importância – especialmente quando atmosfera criativa, é como uma
atriz e ingressou em uma agência ela cria cenas de inspiração oriental, terapia para todos os envolvidos,
de modelos. Essa experiência foi combinando objetos e elementos totalmente absorvidos no trabalho,
fundamental para que incorporasse de figurino e cenografia para gerar participativos, deixando de certa
a fotografia como meio expressivo, novas identidades. “Sei que essa forma o mundo físico para trás para
já que deu a ela familiaridade mistura de elementos pode motivar incorporar conceitos", explica.

30 Fotografe Melhor no 296


Lior utiliza diferentes fontes de luz marca Nikon, ela utiliza as mirrorless Lior trabalha com luz
dependendo do tema a ser fotografado. Z7 e DSLR D850, combinadas com uma natural e também com
Por vezes, lança mão de flashes, mas grande variedade de objetivas. Gosta flashes e luz contínua,
especialmente de usar grande angular sua preferida como
utiliza com mais frequência luz contínua
iluminação artificial;
e iluminação ambiente. Quando e tele, explorando os extremos. Já a na pós-produção, ela
fotografa em cenários externos com relevância da pós-produção depende mesmo prefere fazer o
luz natural, busca explorar sombras da imagem – algumas exigem horas de tratamento de suas fotos
pronunciadas ou usar o sol de fim de tratamento para serem finalizadas e é a
tarde na contraluz. Embaixadora da própria fotógrafa que trata as imagens.

31
Matéria de capa

Imagem da série
Alma de uma Árvore,
uma das várias que
Irina Dzhul realiza

Irina Dhzul:
a alma do lugar
A fotografia invadiu a vida da revelar sua sensualidade e beleza”, comenta. Cita a série Deus É Um, que
ucraniana Irina Dzhul há cerca de 9 afirma a fotógrafa. Ela mesma concebe mostra como todos louvam um único
anos, quando ela se tornou mãe e os trabalhos, da ideia à execução. Diz Deus por meio de diferentes religiões.
comprou uma câmera para registrar adorar criar artesanalmente figurinos Em Invisível, ela retrata pessoas com
momentos em família. Até então, para as modelos e, em muitos casos, algum tipo de deficiência. Já em
trabalhava como arquiteta e designer. até a decoração e os objetos em Memória de Gerações a ucraniana
“A fotografia surgiu como um hobby e cena. “Esse processo me motiva e aborda fatos trágicos da história
hoje é a minha profissão. A formação me impulsiona para ir cada vez mais global, como a guerra, a fome e as
anterior me ajuda muito a lidar com além. Sempre recomendo a outros catástrofes naturais.
cenários grandes e complexos, me fotógrafos que desejam atuar nesse Irina Dzhul trabalha com uma
dá senso de composição, ritmo, gênero que cuidem pessoalmente de DSLR Canon EOS 5D Mark IV e
proporções e cor", avalia. todos os aspectos", ressalta. com as objetivas fixas 35 mm f/1.4,
Irina não costuma trabalhar com O trabalho de Irina Dzhul é 85 mm f/1.2 e 135 mm f/2. Tem
modelos profissionais. Sempre sai para marcante do ponto de vista formal, predileção pela 85 mm por conta
fotografar com uma ideia clara daquilo mas também envolve a abordagem da possibilidade de controlar mais
que deseja obter e sabe exatamente de conteúdos relevantes para a radicalmente a profundidade de
a locação, a pessoa retratada e a atualidade. Na série Alma de uma campo. Com relação à iluminação,
roupa necessárias para chegar ao Árvore, as mulheres fotografadas se ela sempre usa luz natural e evita
resultado planejado. “O que mais me misturam com as árvores, criando uma fontes artificiais complementares.
inspira são os lugares, consigo captar espécie de comunhão entre dois seres O tratamento das imagens é feito
imediatamente a alma do lugar. As vivos. “Também tenho vários projetos por ela mesma e, não raro, envolve
pessoas também me inspiram e busco sobre questões sociais importantes”, profundas alterações na imagem.

32 Fotografe Melhor no 296


Antes da
fotografia, trabalhei
como arquiteta e
designer e isso me
ajuda a resolver
problemas com os
cenários e com a
composição
Irina Dzhul

Figurino e cenário
são fundamentais nos
retratos criados pela
fotógrafa ucraniana, que
sempre trabalha com
luz natural e idealiza
produções que remetem
a contos de fada
Fotos: Irina Dzhul

33
Matéria de capa

Gosto de
montar os meus
figurinos para
os retratos e uso
muitos elementos,
como tecidos e
objetos variados
que guardo
Walda Marques

Walda Marques tem


experiência com
maquiagem, teatro
e dança, atividades
que a ajudam na
criação de retratos
não convencionais

Walda Marques:
estúdio como teatro
Com pai e tios fotógrafos, Walda muito cedo, também fiz um pouco eventualmente convida algum pintor
Marques cresceu frequentando de teatro e dança. Sempre vivi de rua para fazer o serviço, mas
estúdios. Acabou dirigindo sua nesse meio das artes do espetáculo, sempre a partir do que ela idealizou.
atividade profissional para o campo por isso foi fácil passar a criar O figurino, a maquiagem e os
da maquiagem e, como maquiadora, personagens em estúdio usando a arranjos de cabelo também são feitos
continuou trabalhando em estúdios fotografia como suporte”, explica. por ela. Assim, ela transformou seu
fotográficos, além de expandir seu Walda tem um estilo de direção estúdio em um espaço mágico, onde
campo de atuação para o teatro, bastante tátil. Ela passa mais tempo nascem retratos que dialogam com
o cinema e a televisão. Diz que, preparando a cena e a modelo do os universos da pintura e do teatro.
para ela, foi natural a migração que fotografando. Encara a sessão A fotógrafa conta que o estúdio
para a fotografia e para o retrato de fotos como um longo processo tem tudo a ver com o tipo de
em particular. “Além de atuar como de construção de uma personagem. trabalho que ela faz, pois lá guarda
maquiadora e de ter familiaridade A maioria dos fundos utilizados é muitos panos, bordados, coisas
com equipamento fotográfico desde pintada pela própria fotógrafa, que encontradas no lixo ou na rua e

34 Fotografe Melhor no 296


Fotos: Walda Marques

muitos objetos que pessoas lhe dão por Acima, dois retratos
conhecerem o estilo dela. “Sabem que feitos para clientes
posso usar em alguma produção", conta. do estúdio com
figurinos criados
Walda Marques gosta de misturar flash
pela fotógrafa
com luz contínua e busca sempre construir
uma iluminação teatral. Ela fotografa
com uma DSLR Canon 5D Mark IV e tem
predileção pela meia-tele de 105 mm.
Também adora fotografar com smartphone,
no caso um iPhone, e muitas de suas
imagens finais foram feitas com o aparelho.
Seu trabalho autoral conta com
algumas séries e está focado na figura
feminina. Ela já criou ensaios sobre
mulheres marajoaras, produtoras de
mandioca e vendedoras do Ver-o-Peso,
o famoso mercado de rua de Belém. Mas
a fotógrafa paraense encara todas as
personagens como derivações de uma
mesma figura. “Meu trabalho é sobre
uma mulher que tem uma força enorme
nas mãos, que toma banho de cheiro, vai
em busca do santo que realmente quer
prestigiar, homenagear, rezar. Uma mulher
que pode e deve fazer o que ela bem A luz de Walda
Marques tem um
quer, solta, viva, livre, que nasce de tudo estilo teatral, com
o que eu já vi, das coisas que ouço e das a mistura de flash
lembranças que tenho”, define. com luz contínua

Fotografe Melhor no 296 35


Matéria de capa

Prefiro mil Leo Martins:


vezes retratar
a pessoa no
faces do mundo real
ambiente dela,
Formado em Jornalismo, Leo Martins de trabalho intenso de um jornal obriga
onde se sente à começou a fotografar profissionalmente o profissional a ser criativo com as
vontade, do que ainda na faculdade. Ele fazia cobertura de ferramentas que ele tem ao seu dispor no
levá-la para um hard news, política e protestos, encarando momento da pauta. Resolver um retrato
estúdio situações em que o controle sobre os bem e rápido acaba sendo essencial
acontecimentos é muito baixo e que quando se tem três pautas de temas
Leo Martins exigem jogo de cintura para conseguir diferentes em lugares distintos da cidade
boas fotos. Após ingressar na equipe para entregar antes do fechamento da
do jornal Diário de São Paulo, na capital edição, explica ele.
paulista, aos poucos ele próprio e seus O desafio de Leo Martins, que hoje
Acima, retratos do chef editores perceberam o dom que tinha atua com freelancer, consiste em transmitir
Victor Dimitrow (à esq.),
para resolver retratos de forma rápida e ao público um pouco da personalidade e
tido como muito criativo, e
do ator Antônio Fagundes, criativa, o que fez com que passasse a atuar da atividade profissional do retratado. Ele
que fazia uma peça em exclusivamente nesse tipo de pauta. não constrói um personagem fictício, mas
que bebia muito uísque O fotojornalista conta que o ritmo busca extrair o máximo de personagens

36 Fotografe Melhor no 296


Fotos: Leo Martins

reais. Para tanto, não costuma tomar agradável para todos, acho que o Retratos da versátil atriz Regiane
decisões sobre roupa e maquiagem, melhor é deixar a pessoa em seu Alves (à esq.) e do galerista Thomaz
que fica a cargo da pessoa. Quando habitat natural. Prefiro mil vezes Pacheco ao lado de uma obra de
arte embalada para transporte
tem a oportunidade de solicitar armar as luzes em um vestiário ou
previamente, pede que o retratado se em sua casa do que levar um atleta
vista como se sente mais confortável, para um estúdio”, comenta. Para ele,
com a roupa que fique mais o processo de construção da imagem faz sentido – seu modificador de
confiante e com maquiagem o mais é sempre em conjunto, metade da luz predileto é um octabox.
natural possível (se for o caso). foto é dele e a outra metade é do A pós-produção tem pouco peso
Martins raramente sai com personagem. “Quanto mais corda no trabalho que ele faz, pois, em
uma ideia preconcebida por outras damos um para o outro, melhor o geral, o tratamento se resume a corte,
pessoas, e, se assim for, não volta resultado”, ensina. ajuste de cor e exposição. Ele tenta
apenas com a opção de foto já Leo Martins trabalha atualmente sempre resolver o máximo possível
combinada. Ele diz que usar os com uma DSLR Canon 5D Mark IV, da parte técnica de exposição
elementos disponíveis ao seu redor que gosta de usar com as fixas 35 durante a sessão. “Como são retratos
durante a sessão facilita, além de mm f/1.4, 50 mm f/2.5 Macro e 100 de pessoas reais para pessoas reais
tudo, a vida do fotografado. “Muitas mm f/2.8 Macro. Ele usa também verem, prefiro que permaneçam
das pessoas que fotografo não têm flashes portáteis e monta a luz com em linha com a realidade”, afirma.
a desenvoltura de um ator ou a no máximo duas fontes artificiais Para Leo Martins, seus retratos têm
consciência corporal de um modelo, na cena, mesclando com luz pitadas de humor ou de nonsense,
então, para criar um momento natural do ambiente quando isso mas jamais de fantasia.

Fotografe Melhor no 296 37


Vida de Fotógrafo

O casal do Pará une


ideias de retratos
criativos a recursos
de pós-produção

38 Fotografe Melhor no 296


Criatividade
com simplicidade
Veja como um casal de Bananas maduras
Itaituba, interior do Pará, podem servir de
moldura para o
produz retratos ousados rosto da modelo
usando apenas luz natural,
cenários comuns e
acessórios baratos
Por Livia Capeli

U ma imagem de grande
impacto visual nem
sempre precisa ostentar
produções e investimentos
exagerados: a melhor ferramenta
ainda está no olhar criativo na hora
de enxergar a cena. É assim que
o jovem casal Wendrey Oliveira
e Naira Fabiane, de 29 e 26 anos,
respectivamente, agita as ruas da
sossegada cidade amazônica de
Itaituba, no interior do Pará, palco
para mais de mil ensaios de books
pessoais, gestantes, debutantes
e casais clicados por eles. Com
56 mil seguidores no Instagram,
a dupla usa as redes sociais para
divulgar o trabalho a clientes e ainda
compartilha dicas para incentivar
profissionais iniciantes sobre a
fotografia criativa construída com
pitadas de simplicidade.
Purpurina, farinha de trigo,
decoração de Natal pública,
Fotos: Wendrey Oliveira

bananas, aviãozinho de papel


e até pacote de salgadinhos
viram ferramentas nas mãos dos
fotógrafos na hora de criar uma
imagem. Inspirados nos trabalhos
de dois fotógrafos brasileiros, o
cearense Gilmar Silva e o gaúcho que fugissem do lugar-comum. na linha de frente dos cliques e no
Rafael Ferreira, o casal confessa Muito da inspiração para os processo de pós-produção, enquanto
que, desde o início da carreira em retratos vem do universo das Naira atua em todas as etapas do
2017, quando ambos investiram na histórias em quadrinhos, do cosplay processo criativo, desde a assistência
fotografia como profissão, o desafio e até das raízes indígenas da cultura a Wendrey até ideias de poses,
sempre foi o de produzir imagens amazonense. Wendrey Oliveira está escolha de cenários e de figurinos.

Fotografe Melhor no 296 39


Vida de Fotógrafo
Pose de balé em salto
no rio: tudo é uma
questão de congelar
o momento certo

40 Fotografe Melhor no 296


Fotos: Wendrey Oliveira

O trabalho feito
pelo casal do
Equipamento e luz interior do Pará,
Devido à sua origem na área de luz dramática e de envolver a cena na
em plena região
edição de imagens e pós-produção, contraluz dourada do sol se pondo”, amazônica, é
Wendrey Oliveira nunca deu muita explica o fotógrafo. quase sempre
importância a equipamentos top de linha, Mas não é apenas nas ruas de Itaituba,
mas gradativamente foi aperfeiçoando cidade de 100 mil habitantes às margens
com luz natural
esse quesito. Autodidata na fotografia, do Rio Tapajós, que a criatividade do em locações
começou usando uma DSLR de entrada, casal desponta. A dupla também tem um encontradas em
a Nikon D5200, e, após alguns sacrifícios, pequeno estúdio montado na sala de
como vender a TV, comprou um modelo casa, com dois flashes e fundo infinito, Itaituba mesmo
profissional, a Nikon D750. Tempos para produções em que precisam
depois veio a tão sonhada mirrorless controlar melhor a iluminação ou fazer um
Sony Alpha 7 III junto com duas lentes trabalho mais intimista.
luminosas, ótimas para retratos, as Para Naira Fabiane, o trabalho de
Sony 85 mm f/1.8 e 35 mm f/1.8. produção criativa está diretamente ligado
O casal tem como estilo trabalhar à necessidade de se mostrar profissional,
sempre com luz natural, em alguns preparando todos os detalhes antes
casos combinada com a iluminação da sessão de fotos, pesquisando o que
colorida vinda de um bastão de LED da combina com o cliente, a personalidade Inspiração em
Yongnuo, recurso usado principalmente de cada pessoa retratada e seus desejos quadrinhos:
ao anoitecer. “Adoramos fotografar na sobre o trabalho fotográfico. Com base acima, cosplay
golden hour, que aqui na região surge a nisso, ela busca a locação ideal, se será algo de Arlequina,
personagem da DC
partir das 17h. No Pará, os dias são mais mais urbano ou na natureza, quais serão
Comics (à esq.), e
longos e o sol, abrasador, e esse horário os adereços e qual o tipo de abordagem garota-aranha,
é o que melhor aproveitamos para as de cena (direção, poses e figurino) para referência ao super-
produções. Também gostamos de uma construir um ensaio “diferentão”. -herói da Marvel

Fotografe Melhor no 296 41


Modelo na contraluz e
um pouco de farinha
de trigo para fugir de
algo mais convencional

Uma regra
Inovação sem
que procuro perder a técnica
seguir nos retratos
é manter a lente O casal paraense segue à risca campo e, consequentemente, destacando
algumas receitas técnicas consagradas o primeiro plano, ou seja, a modelo,
no nível dos olhos para a produção de retratos profissionais. valorizando ainda mais o retrato.
da pessoa, mesmo Uma delas é unir a luz natural com A dupla também toma muito cuidado
que eu tenha que um forte desfoque de fundo, o que se na hora de fotografar em externa,
me deitar consegue com o ajuste de diafragmas dedicando uma atenção rigorosa à
mais amplos, como f/1.8, f/2.8 ou f/4, escolha do plano de fundo. Embora
Wendrey Oliveira diminuindo assim a profundidade de ambos enxerguem possibilidades em

42 Fotografe Melhor no 296


Fotos: Wendrey Oliveira

trabalhar em qualquer cenário, Movimento congelado (foto


Naira e Wendrey sempre estão acima à esq. e ao lado) e
pose em lugar inusitado
atentos a fundos que possam ter são recursos para conseguir
muita poluição visual. Procurar retratos mais criativos
lugares com ambientes neutros,
como muros e paredes, é uma
alternativa para destacar a
pessoa. Entretanto, quando não imutável, pois Wendrey também
dá para escapar de um fundo ousa na hora de buscar novos
com muita informação visual, a ângulos e enquadramentos,
dica é fechar o enquadramento, fotografando muitas vezes em
seja fazendo um close ou contra-mergulho (de baixo para
mudando o ângulo. cima), como no caso de uma
Outro importante item no cliente que se sentou no aro de
receituário de um bom retrato uma tabela de basquete – antes,
é adotado por Naira e Wendrey: claro, ele verificou se o lugar
manter a posição correta na oferecia segurança suficiente
hora de fotografar a pessoa. O para suportar o peso da moça.
fotógrafo explica que sempre Para ter o melhor ângulo, ele
procura manter a lente ao nível se deitou no chão da quadra e
dos olhos do retratado, mesmo usou o céu como fundo, criando
que precise se agachar ou deitar uma foto que teve bastante
no chão. Mas essa regra não é repercussão no Instagram.
Cacos de um espelho (à esq.) e jornal
pegando fogo: retratos criativos que
ganham cores mais saturadas
e contrastadas na pós-produção

O poder das cores


Por meio de tutoriais no um destacado especialista em
Instagram que mostravam Photoshop, que ele passou a
em vídeos como era feito o dominar a técnica de edição.
tratamento em algumas fotos, É na pós-produção que a
Wendrey Oliveira dominou primeiro fotografia de Wendrey e Naira
o Photoshop e depois aprendeu ganha cores mais chamativas,
a fotografar sozinho, também destacando ainda mais o trabalho
recorrendo a aulas na internet. criativo deles. “Cores quentes são as
Diz que fez aproximadamente 20 nossas preferidas, então, se temos
cursos on-line sobre pós- uma roupa vibrante ou um cenário
-produção, mas foi por meio dos colorido, é aí que gostamos de
ensinamentos do fotógrafo e carregar nos tons usando recursos
editor de imagens Rafael Ferreira, de ajuste de contraste e saturação
no Photoshop, disponíveis nos
presets que desenvolvemos”, explica
Wendrey Oliveira.
Naira Fabiane e Wendrey
Oliveira se inspiram nos É durante a edição também
fotógrafos brasileiros Gilmar que algumas imagens recebem
Silva e Rafael Ferreira manipulação, quando podem ser
Arquivo Pessoal

44 Fotografe Melhor no 296


edição
As imagens
têm acréscimo de
elementos sempre
que o casal julga
necessário
Fotos: Wendrey Oliveira

acrescentados elementos que estejam de Photoshop e Lightroom desenvolvidos Pose não convencional,
no contexto da imagem via Photoshop, por ele por R$ 49,99. Para saber mais manipulação digital e
como pétalas de rosas, fumaça, papel sobre o trabalho do casal, se inspirar ideia simples, mas de
impacto: na imitação
colorido picado, avião de papel, flores nas produções ou adquirir o pacote de
de Polaroid na mão da
e até peixinhos. Para ajudar fotógrafos presets, basta acessar o perfil modelo, a imagem que
iniciantes ou os que desejam dar um @wendreyfotografias. Além disso, o se repete infinitamente
upgrade na pós-produção que fazem, casal pretende lançar em breve um
Wendrey comercializa pacotes de presets workshop sobre fotografia criativa.

Fotografe Melhor no 296 45


Dicas profissionais

Fotos: Joan Carol Cano


A água é um elemento
muito usado por Joan
Carol Cano em suas
produções com casais

Inspiração
espanhola
O fotógrafo Joan Carol Cano mostra como conseguir imagens
impactantes para retratos de casais com ideias simples. Confira

48 Fotografe Melhor no 296


O beijo entre o casal,
em diversas situações,
é o momento que
Cano diz ser o melhor
durante os ensaios

Por Livia Capeli

H abituados a enxergar
tudo sempre na mesma
perspectiva, com receitas
prontas, alguns fotógrafos acabam
cravando raízes na zona de conforto.
(Palamós, região litorânea da
Catalunha, Espanha), Cano sabe
como aproveitar reflexos de poças
de água e de ondas do mar sem
cair em clichês – a água, aliás, é um
fotográfica aos 8 anos de idade.
À medida que crescia, se divertia
fotografando amigos e familiares,
o que lhe rendeu álbuns que
guarda até hoje. Ao fazer cursos
Quem quer fazer imagens que elemento bastante presente nos de multimídia e audiovisual, que o
fujam do lugar-comum precisa ter ensaios dele. Especialista também na ajudaram a ampliar seu repertório
em mente que é necessário buscar arte da pós-produção, usada para criativo, ele aprendeu a técnica da
novas maneiras de observar o ressaltar tons de cores e manter uma fotografia profissional sozinho.
mundo, e isso significa mexer um assinatura pessoal no tratamento, Amante da iluminação natural
pouco o corpo: agachar, deitar-se o fotógrafo catalão mostra no e de recursos como ajuste de baixa
no chão e até mergulhar em uma Instagram como realiza algumas velocidade do obturador, Joan Carol
piscina – tudo faz parte da estratégia produções suas com casais, revela Cano recorre bastante a técnicas
para conseguir uma fotografia truques e conta um pouco sobre de light painting usando lanternas,
criativa. É dessa maneira que o o trabalho criado com recursos pisca-pisca, velas de sparklers
fotógrafo espanhol Joan Carol Cano, simples, mas sempre com resultados (palitos metálicos que soltam faíscas,
38 anos, tem conquistado casais de muito criativos. em formato de estrelinhas) e até
namorados, noivos e recém-casados. Com duas décadas de fogo em flores de plástico – tudo
Brindado com belíssimas carreira profissional, Cano conta para criar um clima muy caliente em
paisagens da cidade onde mora que ganhou a primeira câmera fotos de casais, geralmente jovens.

Fotografe Melhor no 296 49


submerso
A fotografia
subaquática é um
dos recursos que
Cano usa nos
ensaios
Fotos: Joan Carol Cano

Simplicidade criativa
Cano comenta que muitos coisas simples. “Gosto de alcançar desses artifícios banais, mas
dizem que seu trabalho tem um um resultado especial por meio que proporcionam impacto na
aspecto dramático, com o qual de elementos simples que uso em imagem”, avalia. Atualmente, ele
ele concorda. Ele sempre busca minhas produções, principalmente trabalha com uma Canon EOS 5D
fazer seus ensaios ao ar livre e tem porque raramente profissionais Mark IV com lente fixa Sigma 35
como objetivo ser criativo com se lembram de recorrer a alguns mm f/1.4, sua preferida.

50 Fotografe Melhor no 296


A 5D Mark IV é colocada à vezes "Apesar de ser um tipo de trabalho muito Por viver em uma cidade
dentro de uma caixa-estanque para divertido e impactante para o segmento, litorânea banhada pelo
fotos subaquáticas na piscina ou no mar, a fotografia subaquática de casais é bem Mediterrâneo, Cano tem
no mar uma de suas
além de também usar a pequena câmera complexa tanto para mim quanto para os
locações prediletas, como
de ação GoPro em suas produções. modelos. Todos precisam saber como se pode ser visto nas fotos
comportar e fazer boas expressões acima e abaixo, à esq.
debaixo d'água e isso não é para
qualquer pessoa", adverte.
O trabalho dele é de certa
forma facilitado pelas belezas
do litoral da região, no Mar
das Baleares, que faz parte do
Mediterrâneo. Palamós é uma
cidade turística e oferece, segundo
Cano, pequenos recantos mágicos
para produzir imagens outdoor.
As rochas e o mar de azul intenso
estão quase sempre presentes no A fotografia
trabalho dele, que explora ainda o subaquática para
movimento das ondas ao congelar
a água batendo nos casais. Ele
fotos de casais é
diz que a dica principal para esse algo divertido,
tipo de fotografia é usar um bom mas também
tripé, pois ao trabalhar em baixa muito complexo,
velocidade é imprescindível não pois não é nada
haver nenhum tipo de movimento
na câmera. "Esse é um desafio
fácil obter boas
quando se tem um casal diante da poses embaixo
câmera e é necessário estimulá-los d'água
a fazer demonstrações de afeto e
paixão", comenta Cano. Joan Carol Cano

Fotografe Melhor no 296 51


Dicas profissionais

Sem truque
de Photoshop
Embora muita gente acredite Cano usa a técnica de light
que as imagens do espanhol sejam painting (como acima à esq.
criadas no Photoshop, ele afirma e ao lado) e conta com a
habilidade de certos casais
que prefere tentar tornar tudo muito
para conseguir poses fora
real, como água e principalmente do comum (acima, à dir.)
fogo: “Asseguro que 80% do meu
trabalho é feito com elementos
reais, pois muitos dos itens precisam
de interação dos modelos para se em cenários que favoreçam
tornar algo realmente genuíno. O a prática do talento de
que faço depois na pós-produção cada um. No entanto,
é ressaltar ainda mais algum se não há nenhuma
componente”, explica. aptidão entusiasmante,
Já sobre o conceito de cada ele busca outro tipo
ensaio, ele esclarece que procura de representação,
algumas vezes relacionar o tema com logicamente, sem sacrificar o lado pós-produção para representar
algum hobby ou especialidade do criativo de cada trabalho. melhor o trabalho. “Isso vem com
casal, mas isso não é regra. Diz que, Cano lembra que todo a prática diária”, comenta. Ele diz
se os clientes forem experts em ioga fotógrafo depois de certo tempo que construiu com experiências
ou praticantes de ciclismo, a ideia é acaba encontrando seu próprio o próprio estilo de trabalhar e
sempre explorar isso com poses ou estilo, iluminação e estratégias de também de predefinições no Adobe

52 Fotografe Melhor no 296


Aqui o uso de talco
no cabelo da modelo
e o movimento da
cabeça dela geraram
um efeito intrigante
Fotos: Joan Carol Cano

Joan Carol Cano


assegura que
Lightroom, o que torna o processo de nenhum outro recurso de luz, como
80% do seu
edição muito mais fácil. "Obviamente, flash ou luz contínua profissional. trabalho é feito
nunca é o mesmo em todos os meus O efeito fica por conta das luzes da com elementos
trabalhos, embora eles tenham cidade ou dos próprios elementos
características muito semelhantes. É difícil presentes no cenário. Sua inspiração, reais e que 20%
usar o mesmo preset para todas as fotos ele ressalta, vem dos quatro elementos de manipulação
como regra. É uma questão de encontrar da natureza: água, terra, fogo e ar. é para destacar
o certo e modelá-lo até que se obtenha Se você gostou do trabalho do
um bom resultado final", afirma. espanhol, pode acompanhar os making componentes na
Apreciador da golden hour, ao nascer ofs e as publicações no Instagram dele: composição
e ao pôr do sol, Joan Carol Cano não usa @joancarolphotography.

Fotografe Melhor no 296 53


Trabalho autoral

mergulho
Todas as fotos
foram feitas de um
ponto de vista
de cima para
baixo

Juscelino de Almeida,
funcionário de uma
empresa de fornecimento
de gás de cozinha

Retratos da varanda
Por Érico Elias

E
A fotógrafa
Priscila Prade
fotografou
m meio à tensão da pandemia
de covid-19, às vezes basta
um gesto para transformar
o dia de uma pessoa. Foi assim com a
fotógrafa Priscila Prade, especializada em
que era fotógrafa e pediu para fazer o
retrato. Surpreso com o pedido, ele topou.
Ela fez as fotos e pediu o contato dele e o
nome do perfil no Instagram para depois
marcá-lo na foto – era maio de 2020,
do segundo retratos de personalidades e na cobertura durante a primeira onda da doença.
pavimento de de espetáculos teatrais. Ao receber uma Naquele dia mesmo, ela publicou o
sua casa encomenda de remédios entregue pelo retrato no Instagram dela falando um
motoboy Itamar Santos, ela ficou tentada pouco sobre o respeito e a admiração que
profissionais a fazer um retrato dele da varanda da casa tem pelos profissionais que trabalham
em funções onde mora, no bairro de Alto de Pinheiros, em atividades essenciais em meio à
em São Paulo (SP). pandemia. “A repercussão foi incrível. O
essenciais A breve sessão de fotos foi precedida filho dele me mandou uma mensagem
em meio à de uma conversa sobre a pandemia, em agradecendo o carinho e dizendo que
que a fotógrafa perguntou sobre como nunca tinha visto o pai chegar em casa
quarentena funcionava para o entregador a nova tão feliz. Isso me tocou muito, e foi a partir
na pandemia dinâmica de trabalho. Priscila contou então desse momento que decidi iniciar a série

54 Fotografe Melhor no 296


Alexandre Moreira,
funcionário da Sabesp,
que fez um trabalho
na rua da fotógrafa
Fotos: Priscila Prade

Alexandre Abla, cardiologista


que trabalha no setor de
emergência do Hospital Santa
Catarina, em São Paulo (SP)

de retratos com esses profissionais tão severamente afetado, já que todos os fotos que fazia para espetáculos. Mas
atuantes em um contexto de tantas espetáculos de teatro, dança e música trabalho muito também com moda,
dificuldades”, conta a fotógrafa. foram proibidos. “Além de fotógrafa, material de divulgação de artistas e
Com um trabalho centrado no sou produtora cultural e, com tudo publicidade. Isso ainda tem algumas
teatro, ela é conhecida pelos retratos parado, houve uma queda quase demandas, mas é incomparável ao
de atores e atrizes famosos, um nicho total tanto em produções quanto em que eu fazia antes da pandemia”, diz.

Fotografe Melhor no 296 55


Trabalho autoral
George Miranda,
que trabalha com
manutenção urbana,
comandou um serviço
na rua da fotógrafa

A fotógrafa fez
26 retratos ao
todo e diz que encontros casuais
esse trabalho
Priscila Prade aproveitou várias entregas nesses “encontros” casuais. E, com o sucesso
autoral e de feitas na sua casa para desenvolver o projeto da série no Instagram, vários profissionais
certa forma Retratos da Varanda. Mas, para conseguir em atividades essenciais entraram em
documental a uma variedade maior de profissões contato com ela dizendo que moravam
retratadas, passou a observar o movimento perto ou que estavam em trânsito para o
emocionou e a da rua e a convidar as pessoas gritando da hospital, a farmácia ou o consultório, por
deixou realizada varanda – todos usavam máscara e tiraram exemplo. “Assim, fui agregando mais gente
apenas para a foto. Eram escolhas aleatórias ao projeto. Sempre com uma boa conversa
e muita cumplicidade. Foi um trabalho que
me emocionou e me realizou muito”, diz.
Gilberto Silva, Apesar de ser conhecida por fotografar
frentista que celebridades, Priscila Prade sempre retratou
trabalha no posto “gente como a gente”, pessoas anônimas,
de gasolina próximo pouco ou nada conhecidas do público em
à casa da fotógrafa
geral. Essa prática deu a ela a experiência
necessária para dirigir quem não está
acostumado a posar para fotos. “Sou
muito procurada para retratar empresários,
executivos e pessoas 'comuns' em geral.
Adoro isso. Por muitos e muitos anos
trabalhei para revistas que precisavam com
frequência desse tipo de retratos. Daí que
vem também minha experiência”, explica.
Os retratos feitos da varanda no
segundo pavimento da casa permitiram
à fotógrafa explorar um ponto de vista

56
Acima, a jornalista Priscila
Carvalho, que trabalha na editoria Livia Soares,
de saúde do portal UOL, e o enfermeira
motoboy Itamar Santos, o primeiro especializada em
a ser fotografado da varanda terapia intensiva
do Hospital
Sírio-Libanês
pouco usual, chamado de plongée,
palavra em francês que significa
mergulho, caracterizado pelo
posicionamento da câmera acima da
cena, de cima para baixo. As pessoas
são retratadas olhando para o alto
e o rosto aparece em destaque em
relação ao restante do corpo.
As fotos foram feitas com uma
Nikon D810 e lente 70-200 mm f/2.8,

Fotos: Priscila Prade


sempre usando diafragmas bem
amplos, de preferência f/2.8, para
concentrar o foco no rosto e na parte
superior do corpo dos retratados,
destacando-os em relação ao chão
da rua, de pedra, que funcionou
como um fundo neutro.
Gilberto Ferraz,
A série tem 26 retratos e foi que foi fazer
interrompida quando a fotógrafa uma entrega de
começou um projeto social de um produtos orgânicos
livro de imagens de teatro que para a fotógrafa
ocupou integralmente seu tempo e abriu a caixa a
ao longo de dois meses. Depois pedido dela
disso, não retomou e, apesar da
repercussão positiva, ainda considera
um trabalho pontual, circunscrito aos
tempos de pandemia. Avalia que,
fora desse contexto, a série não faz
tanto sentido – mas não tem certeza
disso. Pelo jeito, o tempo dirá...

57
Arte
estilo
O fotógrafo
americano criou
um estilo longe do
convencional e
inspira muita
gente

O jeito LaChapelle
O polêmico fotógrafo
americano chegou
ao mundo da arte
pelas mãos de Andy
de retratar
Por José de Almeida
Warhol e traçou
sua trajetória com
muita criatividade e
ousadia. Saiba mais
O americano David
LaChapelle, 58 anos, não
é uma unanimidade. Há
quem ame e quem odeie seus retratos
encenados, tingidos por cores fortes
fotógrafos seguidores de um estilo pop
contemporâneo que já foi vanguarda
– muitos nem mesmo têm consciência
de que bebem na fonte de LaChapelle,
pois se inspiram em nomes que nele
e que se equilibram em uma mistura se inspiraram, um fio de meada que
fina entre o glamouroso e o bizarro, parece ter se perdido no tempo.
o cômico e o belo, com pitadas de Ser chamado de “Fellini da
irreverência, ironia, erotismo e até fotografia” em uma reportagem do
certa breguice. Intenso e vibrante, o jornal The New York Times no final
No alto, a imagem trabalho de LaChapelle jamais passa dos anos 1980 foi o primeiro sinal
escolhida para a capa do despercebido – para o bem ou para de sucesso profissional do inquieto
Calendário Lavazza 2020, o mal. Alheio a essa discussão, ele LaChapelle. Ainda adolescente, ele
produzido por LaChapelle vem influenciando gerações de deixou a pequena Simsbury Center,

60 Fotografe Melhor no 296


Fotos: David LaChapelle
Acima, a obra Respeito, criada
para o mês de novembro do
calendário; ao lado, imagem
do ensaio Celebração da Terra

em Connecticut, para estudar Belas


Artes na North Carolina School
of the Arts, escola pública, e logo
depois foi para Nova York se
aprimorar na Arts Student League
e na School of Visual Arts. Com
apenas 17 anos, LaChapelle fez o
primeiro trabalho profissional para
a revista Interview graças ao seu
fundador, ninguém menos que Andy
Warhol, ícone máximo da pop art –
que o “descobriu” ao ver algumas
fotos feitas por ele expostas em
uma galeria nova-iorquina.
Ao trabalhar na Interview e ter
Warhol como mentor, LaChapelle
teve um impulso e tanto para um
jovem em início de carreira. Em
pouco tempo, ele se tornou um
famoso retratista de celebridades
– Elton John, Madonna, Michael
Jackson, Lady Gaga, Britney Spears,

Fotografe Melhor no 296


Arte
Ao lado, a homenagem de
LaChapelle a Andy Warhol com
a transexual americana Amanda
Lepore e, abaixo, foto de
Madonna feita em 1998

Björk, Elizabeth Taylor, Pamela Anderson,


Uma Thurman, David Beckham, Paris
Hilton, Rihanna, Eminem, Benicio Del
Toro, Leonardo Di Caprio, Kate Moss,
Gisele Bündchen e Hillary Clinton são
alguns dos famosos que disseram amém
à irreverência do fotógrafo. Ele produziu
imagens que ilustraram a capa de revistas
como Vogue (italiana e francesa), Vanity
Fair, GQ, Rolling Stone, Playboy, The Face...
Um fato pitoresco na vida de David
LaChapelle é a confissão, feita em uma
entrevista ao The New York Times em
2011, de que passou anos pensando que
poderia morrer a qualquer momento
Fotos: David LaChapelle

de Aids, pois estava convicto de que


havia contraído a doença mesmo sem
ter feito teste para a presença de HIV
no organismo nem ter desenvolvido
sintomas. Muito ativo sexualmente na
Nova York da metade dos anos 1980,
quando a epidemia de Aids se alastrou
pela cena gay da cidade, LaChapelle
revelou que tinha medo de fazer o teste
e foi levando a vida sempre desconfiado,
esperando pelo pior, até que amigos o
convenceram a acabar com a paranoia.
Realizou o teste e deu negativo.

mudança de rumo
Muito dedicado à profissão,
LaChapelle tem cerca de 40 livros
publicados, é autor de uma porção de
capas de álbuns musicais (para artistas
como Macy Gray, Moby, No Doubt,
Whitney Houston, Mariah Carey, Lil’ Kim,
Elton John e Madonna) e, sempre fiel ao
seu estilo, fez ainda uma grande variedade
de trabalhos de moda e de publicidade –
o mais recente para o calendário 2020 da
empresa de café Lavazza. Da fotografia,
ampliou sua ação multimídia para a
produção de videoclipes musicais e para o
cinema independente, tendo conquistado
também prêmios nessas áreas.
Ele diz ter dado uma virada na carreira
para desprender-se do rótulo de retratista
de celebridades, fato marcado por uma
decisão radical: desligou o telefone na
cara da diva Madonna em 2011 e declarou
que não trabalharia mais com estrelas
como ela. Passou um período sabático
no Havaí e voltou ao batente renovado,

62
As imagens
focado em imagens voltadas para o das obras clássicas com Elizabeth Taylor e de LaChapelle
mercado de fine art pop, vinculando Marilyn Monroe usando a modelo e ícone
referências culturais às suas obras, como transexual americana Amanda Lepore.
ainda sofrem
aprendeu com Andy Warhol – ele, aliás, Contudo, o mundo das artes ainda com certas
homenageou seu mentor com a releitura não é unânime no reconhecimento restrições no
do talento de LaChapelle. Alguns
especialistas em fotografia fine art, como mundo da arte,
o americano Joshua Holdeman, e outros mas ele tem
ligados a grandes galerias e casas de público para
leilão de artes, acham que ele ainda é
um fotógrafo fortemente enraizado no suas produções
mundo da moda e das celebridades, o polêmicas
que tornaria sua produção artística menos
interessante e valorizada. Há também
os que o defendem, como o curador
americano Jeffrey Deitch, ex-diretor do
Museu de Arte Contemporânea de Los
Angeles, para quem LaChapelle ocupa
um novo espaço entre a vanguarda e a
cultura pop, consolidando-se como uma Acima, mais uma
referência na criação de imagens no final imagem do trabalho
Celebração da Terra e,
do século 20 e começo do 21. O certo é
ao lado, foto de capa
que gostando ou não do que David de para a revista Rolling
LaChapelle produz, não há como ficar Stone da rapper
indiferente diante de uma obra dele. americana Lizzo

Fotografe Melhor no 296 63


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