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A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

www.fotografemelhor.com.br | n0 283 | Ano 24

Retratos exóticos de
barbudos e bigodudos
Olhar feminino em
nu e sensualidade
Gravuras
fotográficas
Imagens fofas
de crianças
Fotografia
de pets

Dicas para
dominar a

baixa
velocidade
Especialistas ensinam como explorar a técnica
em fotos de rua, de paisagem e de ação
Grandes fotógrafos da edição: Cássio Vasconcellos Cris Nadalin Danilo M. Yoshioka Ernst Haas Fernando Frazão
Greg Anderson Luiz Claudio Marigo Magda Pinheiro Mário Baptista Paty Balbino Renato Machado Rodrigo Capuski
Fundador
Aydano Roriz
Diretores
Luiz Siqueira
Tânia Roriz

Diretor Executivo: Luiz Siqueira


Diretor Editorial e Jornalista Responsável:
Roberto Araújo – MTb.10.766 – araujo@europanet.com.br
CARTA AO LEITOR
REDAÇÃO
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
Editora de arte e capa: Izabel Donaire
Editor convidado: Érico Elias
Colaboradores especiais: Diego Meneghetti e Livia Capeli
Colaboraram nesta edição: Ana Luísa Vieira e José de Almeida
E m uma época em que o foco perfeito, o congelamento da ação
e os filmes P&B ditavam os padrões da fotografia mundial, um
austríaco, membro da agência Magnum, resolveu ousar. Ao
cobrir uma tourada em Pamplona, na Espanha, em 1956, para a revista Life,
ele simplesmente não deu a mínima para o convencional, ajustou baixa
Revisão de texto: Denise Camargo
velocidade na sua Leica carregada com Kodachrome e produziu imagens em
PUBLICIDADE que touro e toureiro não tinham nitidez, os movimentos eram borrados e o
publicidade@europanet.com.br
resultado se parecia com pinceladas de uma pintura expressionista.
São Paulo
Equipe de Publicidade: Angela Taddeo, Alessandro Donadio, Quando o filme chegou ao laboratório, o encarregado disse ao editor
Elisangela Xavier, Ligia Caetano, Renato Perón e Roberta Barricelli
que as fotos estavam com problema, que não podiam ser usadas. Desfeito o
Outras Regiões equívoco, a Life publicou uma matéria de 12 páginas com as imagens borradas
Head de Publicidade Regional: Mauricio Dias (11) 98536 -1555
de Ernst Haas, um dos pioneiros tanto em fotografia colorida quanto no uso
Brasília: New Business – (61) 3326-0205
Santa Catarina: MC Representações – (48) 9983-2515 da baixa velocidade do obturador como forma de expressão artística. Não que
Outros estados: Mauricio Dias – (11) 3038-5093
Publicidade – EUA e Canadá: Global Media, +1 (650) 306-0880
fotos “tremidas” feitas por profissionais fossem uma novidade. As imagens
de Robert Capa sobre o desembarque das tropas aliadas na Normandia, o
ASSINATURAS E ATENDIMENTO AO LEITOR
Gerente: Fabiana Lopes (fabiana@europanet.com.br) chamado “Dia D”, estão entre as mais cultuadas de todos os tempos pelo
Coordenadora: Tamar Biffi (tamar@europanet.com.br)
Equipe: Josi Montanari, Camila Brogio, Regiane Rocha,
momento histórico registrado. Como Capa, muitos fotojornalistas não
Gabriela Silva e Bia Moreira conseguem nitidez e foco perfeitos em cenas cruciais por causa da rapidez dos
ATENDIMENTO LIVRARIAS E BANCAS – (11) 3038-5100 acontecimentos, da tensão e da adrenalina. Nesses casos, a fotografia como
Equipe: Paula Hanne (paula@europanet.com.br)
informação se sobrepõe à qualidade técnica – Robert Capa, aliás, foi quem
EUROPA DIGITAL (www.europanet.com.br)
Gerente: Marco Clivati (marco.clivati@europanet.com.br)
levou Haas para a Magnum e o nomeou, em 1950, vice-presidente da agência
Equipe: Anderson Ribeiro, Anderson Cleiton, Adriano Severo, em Nova York, onde se fixaria até a morte, em 1986.
Fábio Molliet e Karine Ferreira
As fotos de Ernst Haas em Pamplona foram planejadas e estudadas. De
PRODUÇÃO, EVENTOS E MARKETING
Gerente: Aida Lima (aida@europanet.com.br)
sólida formação cultural como parte da elite de ascendência judaica de Viena,
Arte: Jeff Silva ele tinha como objetivo mostrar a passagem do tempo pelo movimento.
Equipe: Beth Macedo (produção) e Laura Araújo (arte)
Frações de segundo que os olhos não enxergam registradas graças ao ajuste
DISTRIBUIÇÃO E LOGÍSTICA de baixa velocidade do obturador. Essa é a técnica que exploramos nesta
edição, na matéria de capa, com os vários efeitos que ela provoca.
Coordenação: Henrique Guerche
(henrique.moreira@europanet.com.br)
Equipe: Gabriel Silva e Henrique Kenji Cabe ressaltar que, em meio à crise pandêmica do novo coronavírus e
ADMINISTRAÇÃO seus desdobramentos no dia a dia de todos, você recebe esta edição de
Fotografe com menos páginas que o habitual, mas com bastante conteúdo,
Gerente: Renata Kurosaki
Equipe: Paula Orlandini e Beatriz Miranda
DESENVOLVIMENTO DE PESSOAL como sempre. Fique atento, pois todos teremos meses complicados à frente.
Tânia Roriz e Elisangela Harumi Cuide-se e de sua família. Boa leitura.
Rua Alvarenga, 1.416 – São Paulo/SP, CEP: 05509-003
Telefone: 0800-8888-508 (ligação gratuita) e
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14

Paty Balbino
Ano 24
Edição 283

20
Abril/2020

Foto de capa:
Christian Mueller/
Shutterstock

Greg Anderson

6 Grande Angular
Notícias e novidades

14 Imagens fofas
O trabalho de Paty Balbino com bebês

20 Barba e bigode
Retratos exóticos de Greg Anderson
Cássio Vasconcellos

26 Gravuras fotográficas
A arte de Cássio Vasconcellos
26
34 BAIXA VELOCIDADE
Saiba usar para ter efeitos criativos

48 Fotografia de pets
Dicas de um casal de especialistas

62 Nu com olhar feminino


Os ensaios de Magda Pinheiro

34
Fernando Frazão
GRANDE ANGULAR

Konstantin Chalabov
Ao lado, a foto
premiada do russo
Chalabov, que usou
um iPhone 11 Pro
no modo noturno,

Os melhores no
conforme previa o
desafio da Apple

desafio do iPhone 11
Abaixo, imagem de
Andrei Manuilov
(à esq.) com
A Apple divulgou o resultado
do desafio Night Mode Photo,
com seis ganhadores. O desafio
foi lançado para que usuários da série
iPhone 11 enviassem imagens capturadas
espécie de concurso: Konstantin Chalabov
foi um dos ganhadores, com imagem de
um caminhão em uma estrada repleta
de neve, com os faróis e a luz interna do
veículo acessos; Andrei Manuilov ficou
iPhone 11 Pro
Max e de Rustam com o modo noturno do aparelho, um entre os melhores com uma foto feita na
Shagimordanov dos principais avanços incorporados ao área interna de um prédio, com diversas
com iPhone 11 modelo. Os russos se destacaram nessa varandas e varais com roupas penduradas;
Andrei Manuilov

Rustam Shagimordanov

Ao lado, orangotango
usado em performances
no Safari World de
Bangkok, Tailândia

6
Ruben P. Bescós
Acima, registro em contraluz do espanhol Rubén P. Bescós e, abaixo,
foto noturna do chinês Yu Zhang: ambos usaram o modelo 11 Pro Max
Yu Zhang

Imagem premiada
do indiano Mitsun
Soni, que usou o
iPhone 11 Pro e Rustam Shagimordanov se
destacou com a cena noturna de
um vilarejo durante o inverno.
Os demais ganhadores
foram Mitsun Soni, da Índia, que
fotografou uma árvore iluminada
artificialmente; Rubén P. Bescós,
da Espanha, que registrou um
grupo de pessoas se deslocando
na contraluz; e Yu Zhang, da China,
que clicou um carrinho de comida
de rua à noite. As imagens serão
utilizadas em anúncios publicitários
da Apple e os ganhadores serão
Mitsun Soni

remunerados por essa utilização


comercial de suas imagens.

Fotografe Melhor no 283 7


GRANDE ANGULAR

Nicholas More
Greg Lecoeur
Ao lado, a foto premiada de Lecoeur e,
acima, a do britânico Nicholas More

FRANCÊS GREG LECOEUR VENCE


CONCURSO DE FOTOS SUBAQUÁTICAS
O concurso Underwater Photographer Conservação Marinha. A foto feita por
of the Year (UPY), realizado no ele mostra os últimos momentos de vida
Abaixo, imagem do
Reino Unido e voltado a fotografias de um atum preso a uma rede de pesca,
britânico Nur Tucker,
em dupla exposição, subaquáticas, divulgou o resultado de realizada no mar Mediterrâneo, próximo a
vencedor na categoria sua edição 2020. O grande vencedor Nápoles, Itália. Anita Kainrath, da Áustria,
Jovem Talento foi o francês Greg Lecoeur, que captou ganhou na categoria Novos Talentos com
um grupo de focas imagem de tubarões-limão nadando em
nadando entre as um manguezal nas Bahamas.
frestas de um iceberg O UPY conta ainda com duas
na Antártica. categorias voltadas a fotógrafos locais.
O fotógrafo italiano Nick More, de Devon, foi o vencedor
Pasquale Vassallo foi da categoria Fotógrafo Britânico com
indicado na mesma imagem de um cardume de peixes em
premiação como que usou a técnica chamada de zooming,
ganhador da categoria que combina flash, baixa velocidade de
obturação e alteração do movimento do
zoom durante o disparo. Na categoria
Abaixo, tubarões Jovem Talento Britânico, a ganhadora
fotografados por
foi Nur Tucker, de Londres, que usou
Anita Kainrath nas
Bahamas (à esq.) e dupla exposição para criar a sensação
a foto premiada de de que ondas estavam envolvendo um
Pasquale Vassallo cavalo-marinho.
Nur Tucker
Anita Kainrath

Pasquale Vassallo

8 Fotografe Melhor no 283


Livro tem fotos
de cerca de
100 espécies
de pássaros
Lucas Lenci

LENCI LANÇA LIVRO COM


ANIMAIS EMPALHADOS
O fotógrafo paulista Lucas Lenci universo em torno do tema: muitas
apresenta um novo trabalho, Still pessoas colecionam animais
Life, livro editado pela Fotô Editorial empalhados e têm interesse em ter
com reflexões a partir de animais esse tipo de objeto. “É um universo
mortos que passaram pelo processo particular, organizado e muito
de taxidermização e que parecem admirado na Europa”, diz.
ter vida em contraponto aos presos Ele fotografou cerca de 100
nos zoológicos, que parecem estar espécies de pássaros em museus,
sem vida. A ideia surgiu em visitas a lojas especializadas e na casa de
museus de história natural, quando colecionadores. Elas estão divididas
seus filhos demonstravam mais em três partes: as aves, os estúdios de
interesse pelos animais expostos do taxidermia e os dioramas, pintura que
que pelos vivos nos zoológicos. representa o hábitat ao fundo tendo
Lenci descobriu que há um os animais empalhados à frente.

FOTO DO MÊS
EMPREENDEDORISMO VIRAL
Assim que foi noticiado o primeiro caso
Danilo M. Yoshioka

de infecção com o novo coronavírus no


Brasil, no dia 26 de fevereiro de 2020, em
São Paulo (SP), o fotógrafo freelancer Danilo
M. Yoshioka, da Agência Futura Press,
saiu às ruas da cidade em busca de uma
imagem que ilustrasse o assunto.
No dia seguinte, ele foi à Avenida
Paulista, ficou perambulando por cerca de
uma hora e, então, resolveu parar e esperar.
Minutos depois, foi recompensado.
Um vendedor de rua, antenado na
novidade, vendia máscaras com um cartaz
pendurado no pescoço que informava:
“10 caso de corona confirmado. Previna-se.
Use máscara. R$ 2,00”. Yoshioka não teve
nem tempo de trocar a lente. Saiu correndo
com a Canon EOS R e a objetiva 70-200 mm
f/2.8 em punho, ultrapassou o vendedor
ambulante, que caminhava rapidamente,
e conseguiu fazer uma sequência de fotos
emblemática daquele momento, publicada
em vários veículos de imprensa. Vendedor de máscaras em ação

Fotografe Melhor no 283 9


GRANDE ANGULAR

CURTAS

Nikon D6 atrasada
A Nikon postergou o
lançamento de sua DSLR top
de linha D6 em decorrência da
pandemia do novo coronavírus,
que comprometeu as linhas
de produção por falta de
peças fabricadas na China.
As especificações da D6 já
foram divulgadas, dentre
elas o sensor de 21 MP, foco
automático com 105 pontos e
disparo contínuo de até

Fotos: Divulgação
14 imagens por segundo.

Acervo online
O Smithsonian Institution,
nos EUA, lançou a plataforma
online Open Access, com
2,8 milhões de imagens
digitalizadas de domínio
público para livre download. FUJIFILM APRESENTA A X-T4
O Smithsonian encoraja os
A Fujifilm anunciou a avançada Segundo a Fujifilm, o obturador
navegantes a baixarem as
mirrorless X-T4, que vem para da X-T4 está mais resistente e rápido,
imagens e usarem nas mais
substituir o modelo X-T3, mantendo com vida útil estimada em até 300
diversas aplicações. Acesse
o sensor de formato APS-C de mil ciclos e capacidade de realizar
www.si.edu/openaccess.
26,1 MP, o processador quad- disparos contínuos de até 15 imagens
-core X-Processor 4 e o visor digital por segundo. O corpo compacto e
Voigtlander com resolução de 3,69 milhões robusto, disponível nas cores prata
de pontos. Já as novidades em ou preta, pesa 607 gramas.
superluminosa relação à predecessora são várias: A nova Fujifilm X-T4, que filma
A Cosina anunciou o sistema de estabilização de imagem em resolução 4K 60p, tem preço na
lançamento da objetiva com desempenho aperfeiçoado, faixa de US$ 1.700 (apenas o corpo)
Voigtlander Nokton 60 mm bateria recarregável NP-W235 com nos EUA e battery grip externo
f/0.95, para câmeras mirrorless autonomia para até 600 disparos opcional. O modelo deverá estar
de padrão Micro Four Thirds, com uma recarga, monitor articulado disponível no Brasil na loja online da
com fator de corte de 2x. Com com mais mobilidade e com nova Fuji, mas não tinha preço definido até
11 elementos dispostos em resolução de 1,62 milhões de pontos. o fechamento desta edição.
8 grupos, ela é robusta e tem
foco manual. A previsão é que
chegue custando US$ 1.300
nos EUA.

Sony 20 mm f/2.8
A Sony lançou a grande
angular FE 20 mm f/1.8 G para
sua linha de câmeras mirrorless
com sensor full frame. Pequena
e luminosa, pesa 373 gramas.
Acima, a X-T4
Com 14 elementos ópticos em com um battery
12 grupos, a lente é vendida grip opcional; ao
nos EUA por US$ 900. lado, o monitor
articulado

10 Fotografe Melhor no 283


LINHA DE ENTRADA DA
CANON TEM NOVA DSLR
A Canon lançou a Rebel EOS T8i, Bluetooth e utiliza a bateria LP-E17,
DSLR de entrada com sensor APS-C com autonomia de até 800 disparos
com 24 MP. O modelo traz como por recarga. No mercado dos EUA,
principal novidade a captura de o modelo chega custando na faixa
vídeo em formato 4K (25p). Dotada de US$ 750, apenas o corpo, e US$
de um processador Digic 8, a Rebel 900, no kit com a objetiva EF-S 18-
T8i faz disparo de até 7 imagens 55 mm f/4-5.6 IS STM.
por segundo (ims), tem monitor A Canon também anunciou uma
articulado de 3 polegadas sensível nova opção de lente na linha R,
ao toque, conta com conexão para mirrorless. A 24-105 mm f/4-
-7.1 IS STM é versátil, cobrindo de
Nova Rebel T8i e grande angular a meia-tele, e pesa
a recém-lançada apenas 395 gramas. Como não
24-105 mm, se trata de uma lente luminosa, o
lente para a linha preço mais em conta: é na faixa de
R de câmeras US$ 400 em lojas dos EUA.
mirrorless

SAMSUNG LANÇA
CELULAR DE 108 MP
A Samsung anunciou a nova performance do foco automático
geração de seus smartphones da série e do desempenho em altas
S20. Os modelos S20 e S20+ têm sensibilidades. Tem também outras
três câmeras traseiras, uma de 12 MP duas câmeras traseiras, uma de
com objetiva de abertura f/1.8, outra 12 MP com ultra-grande angular
de 12 MP com lente grande angular f/2.2 e outra de 48 MP com tele
f/2.2 e uma terceira com 64 MP e dotada de zoom óptico de 4x com
objetiva tele f/2. abertura f/3.5. Todos os modelos
Já o S20 Ultra vai além ao contar filmam em resolução 8K e os preços
com uma câmera principal com de mercado nos EUA estarão na
um sensor de 108 MP (9,6 x 7,2 faixa de US$ 1.000 (S20), US$ 1.200
mm), o que permite melhorar a (S20+) e US$ 1.400 (S20 Ultra).

Os três modelos
da série S20 de
smartphones
da Samsung: o
Ultra é o mais
sofisticado

Fotografe Melhor no 283 11


LANÇAMENTO

Os segredos das
fotos de nu e sensual
Coleção inédita sobre o tema reúne o trabalho de seis profissionais
que têm estilos e projetos distintos. Aprenda com eles

A fotografia de nudez e sensualidade é


um dos gêneros mais recorrentes entre
grandes fotógrafos, herança que vem da
arte clássica grega, em que homens e mulheres eram
esculpidos em mármore, e da fase renascentista da
momento em que as mulheres estão empoderadas
e cada vez mais influentes no destino da sociedade.
Profissionais liberais, empresárias, funcionárias
públicas, estudantes... Elas exercem as mais variadas
atividades e hoje decidem posar nuas ou de lingerie
pintura, base para estudos da anatomia. Há várias por diversos motivos, sustentando um sólido nicho
formas de abordar o tema, como poderá ser visto de mercado. Em cada projeto dos seis fotógrafos
nos seis volumes da coleção Fotografia de Nu e desta coleção há objetivos e caminhos distintos,
Sensual, com obras dos brasileiros Guilherme Lechat, entretanto, todos compartilham dos mesmos
Brasilio Wille, Tallyton Alves, Douglas Pinheiro, Junior princípios éticos: é preciso ser cuidadoso na hora de
Luz e Vildnei Andrade. dirigir a cena, evitar tocar na pessoa e saber como
O fato é que os ensaios de nu artístico e deixá-la à vontade de maneira profissional. Para
de sensualidade têm crescido no Brasil em um saber mais, acesse: www.europanet.com.br.

GUILHERME LECHAT BRASILIO WILLE TALLYTON ALVES


Professor de fotografia desde O nu artístico em estúdio, com A regra básica para o sucesso
1994, o paulista Guilherme Lechat é luz controlada e produzido com de um ensaio sensual está em
um dos mais experientes fotógrafos cuidado, ganha aspecto de fine art conseguir deixar a modelo à
brasileiros no segmento e teve vários pelo olhar do paranaense Brasilio vontade, mantendo uma postura
trabalhos publicados em Fotografe. Wille, seja em imagens coloridas ou profissional. Foi valendo-se dessa
Autor do livro Fotografia de Nu em P&B. Ele fotografa tanto modelos máxima que o goiano Tallyton
Artístico – Linguagem, Composição para trabalhos autorais quanto Alves, antigo leitor de Fotografe,
e Técnica, ele é especialista em clientes que desejam ser clicadas registrou cerca de 500 modelos no
fotografar modelos não profissionais no ambiente de estúdio, onde o seu estúdio em 11 anos de carreira.
em P&B. Tem preferência por luz profissional cria esquemas de luz Grande parte do material de nu e
natural em locações externas ou em para dar volume, textura e brilho às sensualidade produzido por ele vem
ambiente interno. imagens quer faz. de ensaios pessoais para clientes.

12 Fotografe Melhor no 283


DOUGLAS PINHEIRO JUNIOR LUZ VILDNEI ANDRADE
Tentar reproduzir na fotografia a Ele busca transformar a fotografia Reunir sensualidade do corpo
atmosfera de intimidade e conforto de nu e sensualidade em um processo feminino, natureza e P&B em um
de um quarto, usando a luz de janela de muita criatividade para oferecer mesmo espaço é o projeto do
como aliada, é o que faz Douglas ensaios a mulheres que desejam um fotógrafo paulista. Ele tem como
Pinheiro ao atender mulheres que trabalho que fuja do lugar-comum marca registrada a fotografia de
buscam um ensaio sensual. Para ter e possam ser vistas como parte de nudez em locações exóticas, como
clima de ambiente caseiro, o fotógrafo uma obra artística. Ao seu lado, a fazendas centenárias desabitadas
fluminense usa a própria casa como companheira Michelle Cordeiro, artista ou estações de trens abandonadas.
estúdio, onde está habituado com a plástica, produtora e incentivadora do Nesses locais, Andrade tira proveito
luz natural do lugar. Ele posiciona as fotógrafo goiano, é quem idealiza a dos elementos cenográficos que
mulheres em pontos estratégicos para maquiagem, os figurinos e os cenários encontra, como pedreiras, extratores
aproveitar essa iluminação. usados por Junior Luz. de areia, campos e pastos.

Coleção Primeiros Passos na Fotografia


A nova coleção Primeiros Passos na Fotografia câmera (de um smartphone a uma DSLR) e de lentes
contempla os mais importantes pontos para você (fixa, zoom, tele, macro...) e de acessórios (flash, tripé,
entender da técnica fotográfica na teoria e na prática. cabo disparador...), trata de conceitos de composição
Com informações objetivas e imagens de alta qualidade e suas principais grades (Regra dos Terços, Rácio de
como exemplos ilustrativos, os oito volumes têm como Fibonacci e Simetria Dinâmica) e explica técnicas mais
meta criar uma base sólida para quem quer se tornar um avançadas, como longa exposição, panning, jiggling, light
fotógrafo de alto nível, seja com um smartphone, uma painting, contraluz, preenchimento de luz, rebatimento
câmera mirrorless ou uma reflex digital. A coleção está de flash, foco seletivo, entre outras.
assim dividida: Os Conceitos Básicos, O Equipamento, Traz ainda dicas valiosas dos principais segmentos
A Composição, A Técnica, O Retrato, A Paisagem, da fotografia: retrato, paisagem, cena de rua e natureza.
A Cena de Rua e A Natureza. São ensinamentos baseados em quase 25 anos de
Esta coleção aborda parâmetros da fotografia reportagens publicadas em Fotografe, um acervo de
(abertura, velocidade, sensibilidade ISO, distância focal, informações sem igual em publicações segmentadas.
profundidade de campo...), fala dos vários tipos de Para saber mais, acesse: www.europanet.com.br.

Fotografe Melhor no 283 13


FOTOGRAFIA SOCIAL

A diminuição da
frequência no
acompanhamento
dos bebês permite
trabalhar mais a
pós-produção

Retratos fofos
Com um novo método para produzir ensaios de acompanhamento de
bebês, a fotógrafa Paty Balbino mostra como inovar no segmento
POR LIVIA CAPELI

Q
uem trabalha atender os pequenos modelos: o no mercado triplicou depois de ela
fotografando bebês Acompanhamento Criativo. adotar essa fórmula.
sabe como é difícil criar Com estúdio baseado em Santa Além do conceito, que começou
algo todos os meses Barbara d'Oeste, interior de São a desenvolver há quatro anos, Paty
em ensaios de acompanhamento. A Paulo, Paty explica que o foco do conta que também foi preciso inovar
necessidade de ter uma ideia nova, seu trabalho é destacar o bebê em a parte mercadológica do negócio.
a busca por temas variados para um set de fundo de tecido colorido Na contramão da proposta adotada
agradar aos pais e o investimento usando pouquíssimos acessórios por muitos profissionais de atender
em acessórios vira um vício para em uma combinação harmoniosa. mensalmente cada bebê, ela passou a
alguns – e pode até gerar um Pode até parecer simples demais restringir as sessões entre trimestrais,
desgaste financeiro e psicológico para fotógrafos que acreditam quadrimestrais e semestrais, o
em profissionais do segmento. A que é preciso cercar a criança com que, segundo ela, dá “fôlego” para
fotógrafa Paty Balbino, 33 anos, uma porção de adereços, porém, a a produção e margem para uma
cansou de ser refém desse sistema e especialista afirma que o esquema agenda menos tumultuada, podendo
elaborou um método para simplificar tem agradado aos clientes e diz se dedicar mais à pós-produção das
a rotina no estúdio na hora de que o faturamento e a aceitação imagens, por exemplo.

14 Fotografe Melhor no 283


Em algumas fotos,
a fotógrafa usa um
flash complementar
escondido atrás de
acessórios de cena
Fotos: Paty Balbino

Fotografe Melhor no 283 15


FOTOGRAFIA SOCIAL
Campanhas
publicitárias
também são
referências para
a fotógrafa

Fotos: Paty Balbino


PRODUÇÃO PARA
DESTACAR O BEBÊ
Eu me Paty Balbino atua há 10 anos na área crianças”, conta ela, que era enfermeira
identifiquei com o e foi por meio de algumas reportagens antes de se dedicar à fotografia.
estilo da Cris sobre dicas de sessões com crianças com a Tendo como referências campanhas
Hapen, o uso de fotógrafa Cris Hapen (uma das precursoras publicitárias e alguns trabalhos da
do ensaio de acompanhamento) nas revistas australiana Anne Geddes e a própria Cris
cores no fundo e o Fotografe Técnica&Prática e Fotografe Hapen, o objetivo maior de Paty Balbino
destaque aos que ela se apaixonou pelo assunto. “Eu me consiste em alinhar dois parâmetros:
bebês com poucos identifiquei com o estilo dela, o uso das compor um cenário minimalista e ter uma
acessórios cores no fundo, o jeito como ela destacava iluminação que destaque o bebê. Para
os bebês em sets com poucos acessórios os sets, ela usa tecidos que não amassam
Paty Balbino e muitas expressões interessantes das esticados sobre um suporte criado pelo pai
dela. O suporte deu tão certo que ganhou o
nome de Stiq e passou a ser comercializado
Fundos coloridos e (veja o teste do produto na edição 277).
poucos adereços: Outro segredo dela é a iluminação, que
fórmula adotada por cria um efeito contrastante e homogêneo
Paty Balbino tendo como luz principal um flash da Atek
com a super sombrinha da Lumitec (veja
o teste deste equipamento na edição
268). Essa grande sombrinha ajuda a criar
um atraente tom de pele em imagens de
bebês, além de distribuir a luz de forma
mais igualitária, sem gerar sombras duras
e marcantes. Em algumas imagens, Paty
reforça a luz com um flash dedicado, que
fica escondido atrás de algum acessório,
com o refletor voltado para o fundo, criando
uma luz de recorte nas costas da criança.

16 Fotografe Melhor no 283


FOTOGRAFIA SOCIAL

Fotos: Paty Balbino


Acima e abaixo, bebês clicados pela fotógrafa, cujo estilo minimalista vem inspirando outros profissionais da área

Com isso, a fotógrafa paulista Já para se aperfeiçoar sobre o mais algumas horas. Ela entrega 12
criou uma estilo já reconhecido. lado comportamental dos bebês imagens digitais de cada sessão, que
“Tenho visto algumas pessoas buscou informações em cursos com podem ser escolhidas entre trimestrais
copiando meu trabalho, mas não médicos, pediatras e doulas. (quatro sessões em um ano),
fico zangada, não. Ao contrário, Com o novo modelo de sessões quadrimestrais (três) e semestrais
tenho orgulho”, diz ela. No de acompanhamento, ela se restringe (duas). Paty Balbino também oferece
entanto, para chegar ao resultado a atender entre quatro e cinco bebês cursos online para quem tem interesse
desejado, a especialista conta que por mês, cobrando mais do que no em aprender técnicas de produção,
fez muitos cursos relacionados à sistema tradicional mensal e tendo luz e comportamento dos bebês.
parte mais técnica da fotografia, mais tempo de atender o cliente, Para saber mais, acesse:
a maioria referente à iluminação. por fechar um período do dia, e não www.patybalbino.com.br.

Acima, Paty Balbino, que era


enfermeira e hoje fotografa bebês

18 Fotografe Melhor no 283


OLHAR GLOBAL

Dois participantes
do campeonato
americano de
barbas e bigodes

Entre barbas
e bigodes
Ao retratar os participantes de um concurso nos Estados Unidos,
Greg Anderson mostra um excêntrico universo de personagens
POR ANA LUÍSA VIEIRA

Q uando, em 2012, o
fotógrafo americano Greg
Anderson ficou sabendo
que Las Vegas, onde
morava, tinha acabado de sediar nada
O concurso, que, como o nome
sugere, reúne o que há de mais
excêntrico entre barbudos e bigodudos
nos Estados Unidos, era tudo o que
ele queria. Mas, ainda não foi daquela
me organizei e fui até o campeonato
por conta própria”, lembra ele, que
naquela época era profissional havia
pouco mais de cinco anos e constatara
sua grande paixão no ofício: “Sempre
menos que um Campeonato Nacional vez que ele teve a chance de fotografar amei fazer retratos de pessoas que
de Barbas e Bigodes, não pensou os participantes. “Os produtores me encontrava nas ruas”.
duas vezes: “Consegui o contato da informaram que todos os competidores Da primeira experiência, o
produção do evento e perguntei se tinham voltado para casa, mas disseram fotógrafo se recorda de chegar à
ainda havia participantes na cidade que eu poderia retratar quem quisesse competição e dar de cara com um
interessados em vir até o meu estúdio na edição do ano seguinte, que rapaz que tentava, freneticamente,
para fazer um ensaio”, relembra. aconteceria em Nova Orleans. Em 2013, solucionar um cubo mágico. "Ele

20 Fotografe Melhor no 283


Fotos: Greg Anderson

parou o que fazia, olhou para a minha cara perfeito", diverte-se. Anderson pegou Os retratos de barbudos
e disse: 'Você provavelmente quer que eu gosto pela coisa e o campeonato acabou excêntricos passaram a
enfie meu dedo no nariz para tirar essa se tornando um compromisso anual. Há compor uma série que
Anderson faz desde 2013
foto, não quer?'. Concordei e ele assim sete anos o que não falta é personagem.
nos Estados Unidos
o fez até que eu conseguisse o clique excêntrico em seu portfólio.

Fotografe Melhor no 283 21


OLHAR GLOBAL

conexão
Para Greg
Anderson um bom
retrato nasce da
empatia com o
personagem

Anderson (abaixo) descobriu


o concurso nacional de
barbudos (acima) por acaso
A MAGIA DO RETRATO
e passou a ir ao evento todo Para Greg Anderson, de 44 anos Nascido em Las Vegas, a
ano para fazer retratos
e 15 de profissão, os bons retratos vontade de fotografar veio aos 23
estão invariavelmente relacionados anos, quando se mudou para Nova
à conexão estabelecida entre York. “Fiquei inspirado por tudo
fotógrafo e modelo. "Tem a ver com o que acontecia à minha volta.
o que o fotógrafo quer dizer sobre a Comecei a carregar minha primeira
pessoa que está à frente da câmera câmera, uma Contax RTS com
ou com o que ele quer que saibam lentes Carl Zeiss de 35 mm, que
sobre aquela pessoa", acrescenta. meu tio encontrou no banco de trás
Ele diz que o momento perfeito do táxi dele, para fotografar todos
é quando todos os aspectos os lugares aonde ia”, recorda.
de um retrato convergem: a luz Algum tempo depois,
correta, a expressão, a composição, conseguiu um emprego em um
a distância focal, o ângulo, os laboratório de processamento de
adereços... “É quando a mágica filmes e passou a frequentar aulas
acontece", diz. Boas referências no famoso International Center of
também ajudam. No caso do Photography (ICP), em Manhattan.
americano, elas incluem nomes Um dos professores o chamou
como o canadense Yousuf Karsh para trabalhar como assistente em
Arquivo Pessoal

(1908-2002), o alemão Martin seu estúdio. “Foi minha introdução


Schoeller e os americanos Mark ao universo da fotografia
Seliger, Annie Leibovitz e Dan Winters. profissional”, afirma.

22 Fotografe Melhor no 283


Os participantes do concurso americano de barba e bigode (acima e abaixo) não andam pelas ruas assim;
os visuais diferentões são criados especialmente para a participação no evento com o uso de cremes fixadores
Fotos: Greg Anderson

23
OLHAR GLOBAL

Fotos: Greg Anderson


Concorrem desde criações mais estilosas e elegantes (acima, à esq.) a looks
mais criativos e ousados, como este que combina com penas de pavão

PREFERÊNCIA PELA
LUMINOSA 50 MM
Anderson voltou a morar em Na hora de divulgar seu trabalho,
Las Vegas e ganha a vida com a o fotógrafo diz usar principalmente o
fotografia comercial, especialmente Instagram. No caso do Campeonato
dentro dos gêneros retrato e lifestyle. Nacional de Barbas e Bigodes, utiliza
Como instrumentos de trabalho, usa também o Facebook, para que os
uma Canon EOS 5D Mark IV e um próprios participantes possam curtir,
jogo completo de lentes fixas da compartilhar e mesmo salvar as
marca. “Mas, se fosse para escolher imagens que quiserem.
uma só para fotografar pelo resto da Mas, de todos os retratos que já
vida, seria a 50 mm f/1.2”, pontua. fez, o preferido de Greg Anderson
Softwares como Capture One e não está em nenhuma rede social,
Photoshop entram no pós-produção tampouco enquadra uma barba ou
caso algum ajuste seja necessário. bigode extravagante. Fica guardado
a sete chaves: “É uma foto que tirei
dos meus filhos durante as férias que
O concurso reúne pessoas passamos na costa da Califórnia, em
com estilos de vida bem 2017. Na minha vida, é uma imagem
distintos, mas que cultuam que representa um tempo e um lugar
modelar a barba e o bigode com perfeição”, ressalta.

24 Fotografe Melhor no 283


CULTURA
Cássio Vasconcellos

Gravuras
fotográficas
O fotógrafo Cássio Vasconcellos busca inspiração na
obra de viajantes europeus em expedição pelo Brasil
no início do século 19 para produzir série artística
POR ÉRICO ELIAS

26 Fotografe Melhor no 283


Imagem da recente
série Viagem Pitoresca
pelo Brasil, do fotógrafo
Cássio Vasconcellos

N o interior da Mata
Atlântica, diante de
uma enorme jequitibá-
-rosa, o fotógrafo paulista Cássio
Vasconcellos faz o enquadramento
série Viagem Pitoresca pelo Brasil,
realizada em trechos de mata nativa
que preservam a condição selvagem
encontrada por aqueles viajantes.
Depois, as fotos passam por
compostas em imagens complexas
a partir de manipulações digitais,
criando obras hiper-realistas e ao
mesmo tempo improváveis. “Cada
imagem da série Coletivos me toma
tendo em mente obras de artistas tratamento digital, ganhando uma muito tempo no computador. Uma
como Debret ou Rugendas. Essa textura próxima à de gravuras. delas chegou a demandar um ano de
visão artística de uma imagem Esse trabalho nasceu em 2015 trabalho. Depois de um tempo, me
captada em meio à natureza como uma espécie de contraponto senti meio saturado e com vontade
tem como inspiração expedições à série Coletivos, desenvolvida por de me reconectar com a natureza.
europeias feitas ao Brasil no Vasconcellos a partir de 2008, baseada Foi nesse momento que começou a
início do século 19 e originou a em tomadas aéreas que depois são nascer a nova série”, conta o fotógrafo.

Fotografe Melhor no 283 27


CULTURA

Até Hercules
Florence, um
dos inventores
da fotografia,
ARTISTAS EUROPEUS NA
veio ao Brasil FLORESTA TROPICAL
em uma das Para Viagem Pitoresca pelo Brasil, o precisão. Foram produzidas por pintores e
expedições e fotógrafo pesquisou gravuras feitas durante ilustradores como os alemães Johann Moritz
depois ficou por expedições científicas e artísticas produzidas Rugendas e Carl von Martius, e os franceses
por pintores e ilustradores em visita ao Brasil Jean-Baptiste Debret, Conde de Clara, Aimé-
aqui, fixando-se na época da monarquia. Cássio Vasconcellos -Adrien Taunay e Hercules Florence – cabe
em Campinas indica três expedições em especial como lembrar que Florence depois se radicaria em
base para seu trabalho: a Missão Austríaca Campinas (SP) e lá seria um dos criadores da
(1817-1821), capitaneada pelo botânico Carl fotografia, em 1833.
Friedrich Philipp von Martius e o zoólogo “O material produzido nessas expedições
Johann Baptist von Spix; a Missão Artística faz parte do imaginário brasileiro. Fico
Francesa, que aportou no Rio de Janeiro em imaginando o impacto que aqueles viajantes
1816, liderada por Joachim Lebreton; e a tiveram ao se deparar com a exuberância
Expedição Langsdorff (1821-1829), chefiada da Mata Atlântica. Isso me inspirou a
pelo barão Georg Heinrich von Langsdorff e buscar uma reconexão com a natureza,
patrocinada pela Rússia czarista. um contato com um ambiente que não é
Realizadas pouco antes do surgimento familiar, um processo de descoberta dos
da fotografia, essas expedições contaram vestígios daquelas paisagens nos dias de
com a presença de artistas dedicados à hoje”, relata Vasconcellos. Além disso, ele
documentação visual do chamado “novo também tem uma relação familiar com
mundo”. Como em grande parte dos casos essas expedições, já que seu tataravô,
Acima, uma das árvores o intuito era científico, essas imagens o botânico alemão Ludwig Riedel,
encontradas na Mata botânicas, de paisagens e da flora da participou da Expedição Langsdorff,
Atlântica pelo fotógrafo floresta tropical, primam pela minúcia e pela tornando-se depois o fundador da seção

28 Fotografe Melhor no 283


Por meio de
tratamento
digital intenso, o
fotógrafo obtém
efeito de gravura
Fotos: Cássio Vasconcellos

botânica no Museu Nacional. em 1859 na França, ilustrado com álbum fez sucesso justamente pelo
O nome da série, Viagem Pitoresca litografias produzidas a partir de ineditismo, pelo caráter exótico que
pelo Brasil, é inspirado no álbum Brésil fotos tomadas por Victor Frond e as paisagens e os costumes do Brasil
Pittoresque, lançado comercialmente com textos de Charles Ribeyrolles. O despertavam no público europeu.

Vasconcellos é
tataraneto do
botânico Ludwig
Riedel, membro
da Expedição
Langsdorff

Fotografe Melhor no 283 29


ÊNFASE NO
TRATAMENTO DIGITAL
Com um trabalho bastante ancorado mente qual será o resultado final. Depois
no uso da manipulação digital, Cássio de pronta, a imagem recebe um tratamento
Vasconcellos conta que a primeira etapa que confere uma textura próxima da obtida
Acima e abaixo, imagens
para a concepção de uma nova série é a em gravuras feitas pelos artistas viajantes.
da nova série: fotógrafo
passa mais tempo realização de testes e pesquisas prévias, Cada hora passada em campo corresponde
tratando as imagens do incluindo modos de tratamento. Antes de a muitas horas à frente do computador para
que clicando em matas sair a campo para fotografar, ele já tem em chegar ao resultado pretendido.
Fotos: Cássio Vasconcellos

30
Paisagem do Rio de Janeiro, que atraiu viajantes europeus no século 19, surge entre a folhagem da Mata Atlântica

Como as saídas a campo envolvem Tem vezes que não existe trilha e você
longas caminhadas dentro da mata, precisa de um mateiro para ir abrindo
Vasconcellos explica que sempre leva a picada com um facão. Gosto muito
consigo o mínimo de equipamento dessa sensação de aventura, mas como
necessário. Ele usa DSLR Canon não sou muito preparado fisicamente
acompanhada de uma lente 24-105 mm cheguei a ter dores nos joelhos. A chuva
f/4 L. As maiores dificuldades técnicas na mata é uma coisa linda, mas também
enfrentadas durante a captação das traz preocupações com equipamento e O impacto
imagens estiveram relacionadas ao acaba atrapalhando no meu caso, que uso
ambiente de mata virgem – a maior parte óculos”, conta Vasconcellos. sentido por
das imagens produzidas até o momento O trabalho foi exposto na galeria Mario aqueles viajantes
foi captada em zonas de Mata Atlântica, Cohen, em São Paulo, ainda em 2015, e europeus me
em parques e reservas nos estados de São na galeria dotART, em Belo Horizonte, em inspirou a fazer a
Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Paraná, 2016. Em 2019, fez parte da exposição
Santa Catarina e Rio Grande do Sul. coletiva Nous les Arbres (Nós as Árvores),
série, juntamente
“Nas primeiras viagens, seguia trilhas já realizada na Fundação Cartier, em Paris. com um desejo de
conhecidas. Depois, comecei a acompanhar Inicialmente programada para ocorrer de reconexão com a
biólogos e pesquisadores em zonas de julho a novembro de 2019, a mostra foi natureza
acesso limitado. Nesse tipo de caminhada, prorrogada até janeiro de 2020, devido ao
você tem sempre que estar acompanhado. sucesso obtido junto ao público parisiense. Cássio Vasconcellos

Fotografe Melhor no 283 31


CULTURA

fusão
Em seu
trabalho recente,
Vasconcellos
explora fusão
entre fotografia
e pintura

32 Fotografe Melhor no 283


Fotos: Cássio Vasconcellos

Na série Dríades e Faunos,


são incluídos modelos
apropriados de pinturas

DESDOBRAMENTOS
E APROPRIAÇÕES
Como desdobramento da série Adolphe Bouguereau. Viagem Pitoresca pelo Brasil seguirá,
Viagem Pitoresca pelo Brasil, Cássio “Gosto de brincar com essa pois Vasconcellos pretende ampliá-
Vasconcellos passou a produzir a partir ambiguidade entre pintura e -la com imagens feitas na Amazônia
de 2019 a série Dríades e Faunos, cujo fotografia. As minhas imagens são – região foi pouco explorada pelo
título faz menção a divindades greco- tratadas a ponto de parecerem fotógrafo por conta das grandes
-romanas que habitam as florestas. pinturas, enquanto as pinturas que distâncias a percorrer e do alto
Para produzir essa série, ele transpôs eu aproprio foram realizadas em um custo envolvido nas viagens.
corpos de modelos nus às paisagens estilo realista, que mais parece uma Em um momento em que as
desabitadas que fotografou para a fotografia. Essa confusão enriquece florestas e os povos nativos se
primeira série. Esse trabalho originou o trabalho e faz o espectador encontram ameaçados pela expansão
a primeira exposição individual do compreender que a fotografia é das fronteiras agrícolas, as séries
fotógrafo, em cartaz na galeria Nara no fundo uma grande ilusão. Ela é parecem propor uma mensagem
Roesler, no Rio de Janeiro, até o dia 30 também e desde o princípio uma de harmonia e comunhão com a
de maio de 2020. imagem construída e codificada, e natureza. Consolidam também uma
À primeira vista, parece que foram não um mero espelho do real”, nova faceta do diversificado trabalho
utilizados modelos reais. Ao olhar defende Vasconcellos. de Cássio Vasconcellos, atualmente
com maior atenção, percebe-se que Enquanto Dríades e Faunos é um dos mais ativos fotógrafos na
são modelos retirados de pinturas considerada uma série pontual, cena artística brasileira.
e cuidadosamente enxertados
aos cenários naturais. Para isso, o
fotógrafo se apropriou de pinturas
acadêmicas da segunda metade do
século 19, feitas após o invento da
fotografia, em um estilo bastante
realista que se aproxima da imagem
fotográfica. A maior parte das pinturas
é de autoria do francês William

Cássio Vasconcellos em
campo: trabalho teve
repercussão internacional

33
MATÉRIA DE CAPA

O domínio criativo da
baixa velocidade
Sem o congelamento da ação ou da cena, entenda
como o movimento pode ser trabalhado na fotografia
para gerar imagens de expressão mais artística
Renato Machado

34 Fotografe Melhor no 283


POR JOSÉ DE ALMEIDA

S e nos primórdios da fotografia a longa


exposição era dominante, obrigando
as pessoas a parecer estátuas, sem
mover um músculo quando eram retratadas,
com a evolução tecnológica do equipamento,
No final do século 19, nos anos 1870, o
inglês Eadweard Muybridge (1830-1904) deu
início à era da alta velocidade na fotografia
com experimentos científicos que levaram à
criação da imagem em movimento, ou seja,
a busca pela exposição mais curta, com altas o cinema. Já no final da década de 1930, o
velocidades que congelam o movimento, americano Harold Edgerton (1903-1990),
virou um padrão. Nitidez e foco ainda são professor de Engenharia Elétrica do Instituto
dominantes nessa era digital, que produz de Tecnologia de Massachusetts (MIT),
milhões de imagens diariamente. Por isso, o começou a experimentar várias unidades
desfoque de movimento e o tremor proposital de flashes para captar o movimento em alta
que causa borrões quebram paradigmas, velocidade em um único fotograma. Nesse
chamam a atenção de quem observa a período, o uso da alta velocidade era o desafio;
imagem e, em certos casos, são tidos como congelar o movimento de maneira perfeita,
visões artísticas. Mas isso não o objetivo. Mas isso tudo começou a mudar
quer dizer que basta errar na exposição na metade dos anos 1950 quando um
para fazer “arte”. Para usar corretamente a austríaco chamado Ernst Haas (1921-1986)
baixa velocidade do obturador, em frações rompeu com os padrões da fotografia
de segundos ou em segundos cheios, é vigente ao usar filme colorido para mostrar o
preciso dominar a técnica. movimento como uma trilha borrada de cores.

Paisagem noturna mostra


a Chiesetta Alpina, de
Jaraguá do Sul (SC),
circundada por luzes
de faróis de carro, efeito
do ajuste de baixa
velocidade no obturador

Fotografe Melhor no 283 35


Fotos: Ernst Haas

Tourada em Pamplona, Haas, membro da famosa agência história da fotografia como exemplo do
Espanha, em 1956, Magnum, foi um dos pioneiros no uso de uso ousado e criativo da baixa velocidade
e carros durante a filme colorido em uma época que isso era do obturador. Dominar essa técnica foi a
Indianápolis 500, nos
EUA, em 1957: Hass visto com desconfiança pelos profissionais. maneira que ele encontrou de se diferenciar.
inovou com a baixa A série de imagens que fez de uma tourada Ou ajustava uma velocidade lenta na câmera
velocidade em fotos em Pamplona, Espanha, em 1956, para ou explorava a pouca sensibilidade do
de ação e esportes a revista americana Life, entrou para a filme quando os níveis de luz eram muito

36 Fotografe Melhor no 283


O panning e o
Sehmus Altay
jiggling são duas
baixos para congelar a ação, mesmo nas na fotografia é primeiro garantir que o técnicas criadas
velocidades mais altas do obturador. movimento esteja congelado e em foco.
Ele começou a fazer experiências com as Somente depois de aprender como impedir
para fotografar
ágeis câmeras 35 mm, explorando pontos que a imagem fique tremida ou desfocada é com o obturador
de luz em movimento, acompanhando que muitos passam a entender o tremor e o da câmera
horizontalmente o objeto (panning) ou borrão deliberado como elemento criativo –
balançando a câmera para cima e para baixo e esse é o caminho natural.
ajustado em
(jiggling), deixando o assunto “borrar” – Como não é possível predeterminar baixa velocidade,
publicou várias fotos assim na renomada o efeito, o ideal é ajustar várias baixas o que gera
revista Life. Segundo Haas, “a fotografia é velocidades do obturador para depois
uma transformação, não uma reprodução”, escolher a foto mais interessante. Uma sensação de
e suas experiências representavam “um sugestão é começar com 1/30s ou 1/15s, movimento
tipo visual de poesia” – vale lembrar que experimentar 1/8s ou 1/4s e avançar
a baixa velocidade do obturador e, por para um segundo inteiro ou um pouco
consequência, a longa exposição também mais. Um dos clássicos nesse sentido são
é fundamental para registrar paisagens as cachoeiras e corredeiras com a água
noturnas com ou sem o céu estrelado (veja parecendo leitosa, influência direta de outro
mais na edição 278), e para light painting mestre da fotografia, o americano Ansel
(leia na edição 242), temas que não serão Adams (1902-1984), que inspira fotógrafos
abordados nesta matéria. como o catarinense Renato Machado e o
paulista Mário Baptista, usuários de baixa
FOCO X BORRÃO velocidade nos trabalhos que desenvolvem.
Ernst Haas, que se fixaria em Nova Adams era também estudioso da técnica,
York até sua morte, influenciou gerações criador do Sistema de Zonas, referência
de fotógrafos desde os anos 1960, como máxima para imagens em P&B, e autor da No alto, um exemplo
de jiggling, em que
o fotojornalista carioca Fernando Frazão, trilogia A Câmera, O Negativo e A Cópia
além de ajuste de
que atualmente usa a técnica na cobertura (veja mais na edição 275). baixa velocidade, a
de competições esportivas. No entanto, a Fã de Ernst Hass e de Ansel Adams, o câmera é balançada
preocupação fundamental de quem começa saudoso Luiz Claudio Marigo (1950-2014), para cima e para baixo

Fotografe Melhor no 283 37


MATÉRIA DE CAPA

efeito
Velocidade
de 1/30s já pode
causar efeito de
movimento na foto
em algumas
situações

Renato Machado
Acima, baixa velocidade para
criar o efeito cremoso na água;
ao lado, panning em fotografia
de natureza valoriza a ação

implicam em muitas diferenças para a


velocidade e a profundidade de foco.
Marigo também usava a técnica
do panning, ou seja, mover a câmera
horizontalmente acompanhando a
velocidade do assunto. De acordo
com ele, quando essas velocidades
são iguais, o assunto aparece nítido
e o fundo borrado. A velocidade do
Luiz Claudio Marigo

obturador dá o intervalo de tempo em


que o assunto é acompanhado pela
câmera. Uma velocidade de obturador
maior ou menor produzirá um fundo
mais ou menos borrado.
Em fotografia de cachoeiras, a
um dos pioneiros da fotografia de Marigo, é possível escolher dica de Luiz Claudio Marigo é que, se
natureza no Brasil, ensina que a entre diversas combinações da alguma vegetação grande aparece no
duração da exposição determina a velocidade do obturador com a enquadramento, o fotógrafo precisará
nitidez e a sensação de movimento. abertura do diafragma e manter a de um dia sem vento para não tremer
Com movimentos da câmera, o mesma exposição. Por exemplo: as as folhas. Ele preferia dias nublados
fotógrafo pode potencializar esses combinações de 1/60s com f/5.6, para poder utilizar velocidade de 2
recursos técnicos para exercitar a 1/30s com f/8, 1/15s com f/11 e segundos ou mais, fechando bem
criatividade e criar efeitos. Segundo 1/8s com f/16 são equivalentes, mas o diafragma. Se, mesmo com o

38 Fotografe Melhor no 283


Trem passa por um
túnel com velocidade de
obturação de 1/2s na foto
ao lado e 2,5s na imagem
abaixo: efeitos diferentes

tempo e o diafragma fechados, não


conseguisse velocidade baixa, usava
um filtro polarizador ou de densidade
neutra (ND) para “escurecer” a cena.

EFEITO EM PAISAGENS
Filtros ND, aliás, fazem parte
do arsenal do catarinense Renato
Machado, 50 anos, empresário da
área de marketing que começou a
fotografar mais seriamente em 2014
– hoje, 50% do seu tempo é dedicado
à fotografia, liderando expedições
fotográficas, dando workshops e
produzindo imagens para dois livros
que pretende lançar. Focado em
paisagens, Machado usa a baixa
velocidade para obter um efeito de
movimento em fotos de cachoeiras,
riachos, mar e céu com nuvens, e,
em alguns casos, luzes de veículos
inseridos no cenário.
Ele diz que no caso de cachoeiras
e rios, muitas vezes o volume de
água e a velocidade da correnteza

Fotos: Renato Machado


são fatores que podem pedir ajustes
finos na configuração da câmera,
mas o tempo de exposição não pode
ser muito elevado para que não haja
perda de detalhes. “Normalmente, o
ajuste é de 2 a 8 segundos. Quando

Praia em Itajaí (SC)


ao entardecer com
velocidade ajustada
para 2s de exposição

39
MATÉRIA DE CAPA

Parque de diversões com

Fotos: Mário Baptista


ajuste de 1/4s de velocidade
e, abaixo, cena urbana
Em fotos com com 25s de exposição para
marcar o rastro de faróis
baixa velocidade,
usar um ISO
também baixo uso um tempo muito longo, o efeito do magia da longa exposição. Os detalhes, o
movimento se perde e cria uma massa controle da luz, isso me atraiu”, informa. No
para evitar ruído de luz sem muitos detalhes e sem muita começo, ele não tinha filtro de densidade
digital e ter um atratividade”, comenta. neutra (ND) e saía apenas em dias dublados
bom tripé são Machado afirma que a baixa velocidade ou procurava cachoeiras no meio da mata
do obturador foi o grande influenciador para conseguir ajustar tempo de exposição
recomendações para a entrada dele na fotografia nunca maior que 1 segundo para obter um
importantes de paisagem. “Vi em algumas fotos, efeito na água sem superexpor a foto.
principalmente de cachoeiras e córregos, a “Meu primeiro filtro ND era circular,
mas indico apenas para iniciantes, pois esses
filtros criam vinheta nos cantos e alteram
a cor. Atualmente, uso apenas filtros ND
retangulares da Lee e da K&F Concept com
vários stops (pontos), cada um de acordo
com a luz do local. Quanto mais tempo de
exposição, maior o stop do filtro”, explica.
Com a câmera no tripé (outro equipamento
imprescindível), ele trabalha sempre no modo
manual, com o ISO mais baixo e a abertura
entre f/5 e f/10 para direcionar o ponto focal
e ter uma foto menos “chapada”.
Diz que não faz cálculos nem usa
aplicativos para simular parâmetros, pois
gosta de testar as possibilidades e ver
o resultado logo a seguir. Além do ND,
também coloca na lente o filtro polarizador
para intensificar as cores e reduzir reflexos,

40 Fotografe Melhor no 283


O ônibus se transforma
em vulto na Marginal
Pinheiros, em São Paulo,
com ajuste de 1/5s

como os da superfície da água.


“Aprendi na prática, errando muito,
ajustando configuração incorreta,
fazendo composição sem atrativos.
Já sei bastante coisa, mas continuo
aprendendo. Fotografia é um
aprendizado eterno”, comenta.

MOVIMENTO QUE ATRAI


Mário Baptista, 40, se dedica
inteiramente à fotografia há apenas
um ano. Mas, desde os 12, quando
ganhou uma Canon A1 do pai, ele
vem produzindo imagens de maneira
autodidata. Trabalhou durante 26 anos
na empresa da família até tomar a
decisão de largar a vice-presidência
do Grupo Protege, de transportes de
valores, e mudar totalmente os rumos
da vida. “Foi um longo caminho até
ter coragem para seguir o que o
coração pedia. Acabei descobrindo
que a moeda mais cara do planeta se
chama felicidade”, declara ele.
Feliz como fotógrafo, agora com
uma mirrorless Sony Alpha a7 IV e
uma compacta premium Ricoh GR
III na bolsa, Baptitsa explica que
procura usar baixas velocidades em Cena urbana
no metrô de
situações em que o protagonismo Nova York
da imagem está justamente no com ajuste
movimento. “Algumas vezes, do obturador
você percebe que tem um ótimo em 1/3s
enquadramento em uma situação,
mas sente que há algo faltando.
Nesses casos, o movimento dá
outro atrativo para a imagem”,
defende Baptista.
Depois de muito testar, ele diz
que encontrou algumas “receitas”
para determinadas situações: para
congelar carros em velocidade
baixa, usa algo em torno de 1/8s (às
vezes 1/15s); para pessoas andando
tenta ir até 1/2s (dependendo da
situação de luz externa). Baptista
diz se identificar com cenas em
movimento, pois sempre teve uma
vida muito agitada. “Sou um cara
meio ligado no 220”, brinca. que no modo manual perdeu muitas de baixa velocidade que desejo. Consigo
Ele prefere usar a câmera no modo fotos tentando ajustar os parâmetros ter uma ideia melhor das possibilidades
de prioridade de velocidade, S (de para chegar onde queria. “Esse modo criativas com as luzes urbanas, os rastros
shutter) em câmeras Sony e Nikon semiautomático ajuda muito para de faróis de carros, reflexos e outras
(TV em câmeras Canon). Confessa abreviar o tempo para produzir o efeito opções”, explica Mário Baptista.

Fotografe Melhor no 283 41


MATÉRIA DE CAPA

Acima, ginasta na prova de cavalo com alça com ajuste de velocidade de 1/10s
e, abaixo, competição de canoagem com 1/30s, ambas feitas com teleobjetiva
Fotos: Fernando Frazão

Prova de ciclismo olímpico


em velódromo com
velocidade de 1/13s e
grande angular de 15 mm

MOVIMENTO NA AÇÃO ESPORTIVA


A fotografia de esportes está Brasil, na sucursal do Rio de Janeiro. bem treinada, gera imagens de uma
associada à alta velocidade de “Com o avanço tecnológico, em que plasticidade diferenciada que o olho
obturação para congelar a ação, câmeras com obturação eletrônica humano também não consegue
mas o fotojornalista Fernando chegam a disparar em um ritmo de enxergar pelo motivo inverso do das
Frazão, 32 anos, gosta de usar a até 30 quadros por segundo, cada fotos com alta velocidade”, explica.
baixa velocidade para produzir vez mais a imagem diferente vai Para ele, o efeito dos borrões, seja no
imagens diferentes, que ressaltam ter espaço para se destacar. Assim, plano de fundo ou no corpo do atleta,
o movimento, ao estilo Ernst Haas. operar com o obturador em baixa imprime uma camada de expressão
Profissional há 11 anos, sempre no velocidade é um dos recursos para quase surrealista.
fotojornalismo, tem passagem pelo sair do lugar-comum”, argumenta. Fernando Frazão conta que é
jornal O Globo e atualmente faz parte A técnica ainda surpreende, pois comum os fotógrafos brincarem entre
da equipe de fotógrafos da Agência produz resultados inesperados. “Se si, ao ver um colega usando baixa

42 Fotografe Melhor no 283


Competições de
automobilismo,
velocidade de obturação ao fotografar, com congelado e o plano de fundo fica borrado
ciclismo e as
a frase “ele está fazendo arte”. no sentido do movimento da câmera. Isso corridas no
Lembra que a técnica pode ser aplicada porque o atleta e a câmera se mantiveram atletismo são
a uma variedade de esportes, mas nem no mesmo eixo, aparentando estar parados
sempre é a melhor opção. Planejar e um em relação ao outro, emparelhados,
as mais comuns
reconhecer a oportunidade certa para digamos”, ensina o fotógrafo. para a utilização
usá-la faz a diferença. Para ele, ciclismo, O especialista comenta que o panning de panning
automobilismo ou corridas de atletismo mais comum é no sentido horizontal, mas
são oportunidades mais óbvias para também funciona na vertical e na diagonal, nas imagens
usar a baixa velocidade com a técnica do em esportes como saltos ornamentais e
panning – que consiste em mover a câmera ginástica artística. A técnica é mais usada
no momento do clique, como se fosse com teleobjetiva, focando na expressão
para um movimento de foto panorâmica, do atleta. Mas também funciona com a
sincronizado com o movimento do atleta, grande angular. “Nesse caso, é possível
acompanhando-o. “O atleta aparece nítido e dar mais destaque para o ambiente em

Fotografe Melhor no 283 43


A técnica do panning em sentido vertical pode ser usada em provas de saltos ornamentais, que são muito rápidas
Fotos: Fernando Frazão

que o esporte está sendo praticado, são uma ótima oportunidade para Uns sairão muito borrados, outros
explorando formas e cores”, afirma. praticar a baixa velocidade em ação mais nítidos, aparentando estar
O fotojornalista pontua que não esportiva, sugere ele. “Usar a baixa parados. A dica é deixar o movimento
é apenas o esporte profissional que velocidade para retratar diversos do atleta mais ou menos borrado,
gera boas imagens. Atletas amadores, corredores passando, alguns mais variando a velocidade do obturador,
muitas vezes, dão mais liberdade para velozes, outros menos, irá resultar de forma que os elementos de
o fotógrafo criar. As corridas de rua, em uma forma inusitada de registrar primeiro plano ou do plano de fundo
comuns em várias cidades brasileiras, a diferença de velocidade entre eles. fiquem estáticos”, ensina.

44 Fotografe Melhor no 283


tremida
A partir de
1/60s já dá para
obter o tremor
proposital do
panning

Momento em
que o atleta de
saltos ornamentais
mergulha na água;
obturador ajustado
em 1/20s com a
lente em 135 mm

Fotografe Melhor no 283 45


MATÉRIA DE CAPA

Técnica com flash


Fernando Frazão lembra ajudar na sensação de nitidez na
que são poucas as competições parte congelada do movimento”,
esportivas profissionais que explica o especialista.
permitem o uso do flash. Em geral, Outra técnica é usar o flash
o acessório é permitido apenas com a câmera parada, configurado
na cerimônia de premiação. Em para sincronizar com a segunda
algumas modalidades ou em cortina com ajuste de velocidade
sessões de treino, no entanto, é bastante baixa no obturador. “A luz
possível conseguir autorização do flash vai estar sincronizada com
para disparar o flash, acessório o fechamento do obturador, e não
que combina bem com a baixa com a abertura no momento do
velocidade de obturador, avalia o clique, que é a forma tradicional”,
fotojornalista. “A luz do flash não ensina. Isso provoca um efeito
somente equilibra a iluminação de rastro de luz que segue o
no atleta, como também pode, movimento, deixando o atleta
associada à técnica do panning, nítido e congelado na imagem.

velocidade do movimento do atleta e


do efeito de borrão desejado, o que
pode envolver gosto pessoal.
“Recomendo começar os testes
com algo em torno de 1/60s e ir se
Quanto à velocidade certa para Segundo Frazão, a maioria das adaptando à situação. Gosto de usar
conseguir um efeito interessante, fotos de esporte é feita em 1/500s, velocidades mais baixas e consigo
Frazão explica que descobrir o 1/1.000s e 1/2.000s. Ele explica que resultados que me agradam mais
ajuste ideal para congelar a ação o movimento do maratonista pode entre 1/15s, 1/25s ou 1/30s com
depende de cada esporte e da ser completamente congelado lente grande angular e de 1/30s a
distância em que a ação ocorre com 1/500s, mas a imagem do 1/60s com teleobjetiva. Nada impede
em relação à posição do fotógrafo. motociclista pode ter partes borradas levar a técnica ao extremo, com
“Pense que um avião no céu a cerca nesse ajuste, seja no plano de fundo velocidades mais baixas. O desafio
de 800 km/h parece se deslocar ou nas rodas da moto devido à será maior, o índice de erros aumenta,
lentamente porque está longe. Um velocidade de deslocamento muito mas o prêmio pode recompensar”,
avião pousando a cerca de 250 km/h superior. Ele acredita que um valor diz ele. Como referências, pensando
parece estar mais rápido porque você mais lento que 1/250s já pode ser em especialistas em esportes
está perto da pista de pouso. Ou seja, considerado baixa velocidade para olímpicos, cita os ingleses Bob Martin
fotografar um maratonista vai exigir esportes. Explica que trabalhar e Adam Pretty, o americano Al Bello e
uma configuração diferente de um entre 1/125s e 1/15s costuma gerar o brasileiro Ivo Gonzalez, de quem foi
motociclista na pista”, ensina. bons resultados, dependendo da aprendiz no jornal O Globo.

46 Fotografe Melhor no 283


Fotos: Fernando Frazão
Modalidades diferentes,
ajustes diferentes: acima,
1/60s para corrida no
atletismo e, abaixo, 1/20s
para prova de natação

O ideal é
fazer testes com
velocidades
baixas quando o
assunto é registrar
esportes. Depois,
avaliar quais são
os resultados mais
interessantes
Fernando Frazão

Fotografe Melhor no 283 47


DICAS PROFISSIONAIS

Revelação d
Rodrigo Capuski

48 Fotografe Melhor no 283


os bichos
O mercado pet, que
cresce a cada ano,
pode ser um segmento
a ser explorado com
ensaios com animais
de estimação. Veja
as dicas de um casal
especialista no tema
nicho
Incluir os POR LIVIA CAPELI
tutores no ensaio

C
é uma forma de
om crescimento
diferenciar o
acelerado nos últimos
trabalho com anos, o mercado pet
pets tem gerado muitas oportunidades
de negócios. No segmento de
fotografia, a onda não é apenas o
ensaio com os bichos de estimação,
mas juntando eles e seus tutores,
conforme atesta o casal de
fotógrafos Cris Nadalin, 34 anos,
e Rodrigo Capuski, 36, de Curitiba
(PR), com seis anos de carreira. Eles
apostaram forte no nicho em 2019 e
têm alcançado ótimos resultados ao
oferecer books com essa proposta.
Cris e Rodrigo, da Nadalin
Fotografias, são tutores da Olívia,
uma Dachshund de 7 anos, e
de Leica, vira-latas de 4. Usam a
experiência com elas, assim como
a paixão por animais, para produzir
um trabalho que envolve iluminação
outdoor. A dupla prefere começar a
sessão de fotos sempre após as 15h
com o objetivo de conseguir uma
luz mais dramática – a contraluz
também é outra característica
que contribui para criar um efeito
atraente nos books. Eles usam
apenas o Lightroom para criar uma
tonalidade mais amarelada nas
imagens durante a pós-produção.

Cris e Rodrigo
preferem fazer suas
fotos no fim de tarde,
com luz "quente"

Fotografe Melhor no 283 49


Fotos: Cristina Nadalin

O segredo para A DIFERENÇA DAS


obter imagens
atraentes é
LENTES LUMINOSAS
destacar o Além do estilo de iluminação, outra prioridade é obter foco preciso nos olhos
pet em fundo característica do trabalho é o uso de dos pets. Assim, ao realizar imagens
objetivas fixas Sigma Art 35 mm f/1.4 mais posadas ela indica o ajuste do foco
desfocado e e 85 mm f/1.4 para fotografar os pets pontual (modo One Shot) com disparo
caprichar para com câmeras Canon EOS 5D Mark IV. A normal. No caso de imagens do animal
ter um bom preferência por lentes fixas e luminosas, em movimento, a dica é ajustar a câmera
segundo Cris Nadalin, é pelo fato de elas para o modo de disparo contínuo com o
foco nos olhos gerarem um forte desfoque no fundo, autofoco AI Servo AF, na Canon (ou AF-C,
valorizando o primeiro plano. Outra de Continuous-servo, na Nikon). Muito
usado em cobertura esportiva,
funciona desta forma: dentro
da grade de pontos AF no visor,
escolhe-se o ponto de foco,
pressiona-se o botão disparador
até a metade e a câmera
acompanha o movimento do
tema, mantendo o foco.
Como Curitiba tem muitos
parques, Cris e Rodrigo dão
prioridade para realizar registros
outdoor. “Quando o cachorro ou o
gato é muito medroso, optamos

No alto, a plantação criou


uma moldura para destacar
o cão; ao lado, brincadeira
com o gato para obter poses

50 Fotografe Melhor no 283


Cão se diverte em
sessão de fotos:
há truques para
conseguir fotos
mais espontâneas

por fazer as fotos na casa do cliente. mostrar o comportamento do cachorrinha Leica em uma plantação
Quanto mais conhecido o território animal, priorizando o bem-estar de camomila, imagem que rendeu
para o bicho, mais fácil o trabalho. dele: “O maior objetivo é fazer o pet o segundo lugar no prêmio Dog
Gostamos também de sair um se divertir, pois as imagens ficam Photographer of the Year de 2016-
pouco da região metropolitana de ainda mais espontâneas”, ensina. -2017, na categoria Dogs at Play,
Curitiba e procurar por campos Foi em uma dessas aventuras pelo Kennel Club de Londres,
floridos na estrada”, explica Cris. em busca de campos nas estradas Inglaterra, um dos mais concorridos
Ela informa que o intuito é sempre que Rodrigo Capuski registrou a concursos mundiais sobre o tema.

Rodrigo Capuski
Foto da cachorrinha
Leica em plantação
de camomila rendeu
prêmio a Capuski

51
DICAS PROFISSIONAIS

externas
Os parques da
capital paranaense
são os cenários
mais utilizados
pelo casal
Rodrigo Capuski

DEIXAR O PET
BEM À VONTADE
Para não estressar o animal, o ensaio
pet costuma durar em média entre 1h30
e 2h. Durante a sessão, são usados alguns
truques para chamar a atenção dos bichos.
Um deles é usar brinquedos de borracha
com apitos, que podem ser acionados sem
que o pet veja. O som emitido desperta
a curiosidade, fazendo com que o animal
olhe para a câmera.
Petiscos são outro segredo infalível,
assim como aproximar o tutor para deixar
o modelo mais contido em uma foto mais
posada. Já as bolinhas são macetes para
Acima, retrato
de cães juntos imagens em movimento. É importante
de sua tutora; também que o tutor seja orientado a
ao lado, o casal sempre levar saquinho para recolher os
durante sessão dejetos do animal em sessões externas,
de fotos: assim como água e uma plaquinha de
enquanto um identificação na coleira.
clica, o outro
Arquivo Pessoal

atua como Para Cris, fotografar bichos de estimação


assistente nas requer paixão e respeito pelo mundo
mais diversas animal, pois eles vão lamber e pular no
funções fotógrafo enquanto ele trabalha. Mas não

52 Fotografe Melhor no 283


Em alguns
Cristina Nadalin

casos, cenas
internas também
fazem parte do
repertório
Arquivo Pessoal

Cristina Nadalin

só de cães (a maioria) e gatos vivem os Para quem gosta do tema e quer se A dupla em ação
fotógrafos do mundo pet. Além de aves, aprofundar mais no assunto, o casal de fotografando um
mais comuns, muitas famílias costumam ter fotógrafos tem uma programação de cursos, cachorro (à esq.)
animais de estimação exóticos, como cobra, palestras e workshops. Para acompanhar a e Ricardo Capuski
interagindo com
lagarto, aranha... O profissional não pode ter agenda e saber mais sobre o trabalho deles, uma cobra: pets
preconceito e deve atender esses clientes acesse: www.nadalinfotografia.com.br ou exóticos também
também, comenta Ricardo Capuski. Instagram: @nadalinfotografia. merecem fotos

Fotografe Melhor no 283 53


NU ARTÍSTICO

Ensaios sensuais
são cada vez mais
procurados por
mulheres comuns

Sensual com
olhar feminino
Acompanhe as lições da fotógrafa paulista Magda Pinheiro para
produzir ensaios sensuais de mulheres comuns com elegância
POR LIVIA CAPELI

P ode ser para presentear


o marido ou namorado,
encontrar um novo amor
ou simplesmente massagear o
ego. Viver um dia de musa de capa
Natural de Rinópolis, interior de
São Paulo, Magda morou durante
oito anos na capital paulista, onde
atuou como empresária do ramo
da moda. Filha do fotógrafo Onísio
mil metros quadrados que atende
mulheres comuns de diversas idades
para ensaios sensuais.
No espaço, projetado
cuidadosamente por ela e o marido,
de revista em poses sensuais é o Alves de Assis, já falecido, ela as clientes podem desfrutar de cerca
desejo secreto de muitas mulheres. aprendeu o básico com o pai e, ao de 40 cenários diferentes. Delicadeza
E, quando o ensaio é feito por outra contratar um profissional para fazer e sedução são os principais
mulher, o trabalho fica mais fácil, imagens de sua loja de roupas, ingredientes do trabalho de Magda
conforme atesta a fotógrafa paulista percebeu que poderia fazer melhor Pinheiro, que também faz ensaios
Magda Pinheiro, 43 anos, que do que o resultado que recebeu. com gestantes, bebês, crianças e
oferece sessões para aquelas que Decidiu estudar e praticar fotografia, debutantes. Para ela, ter uma boa
desejam expressar a sensualidade mudando completamente de rumo. estrutura e muita discrição são pontos
por meio de imagens que envolvem Mudou-se em 2004 para São José essenciais para quem quer apostar no
roupas íntimas no figurino, mas sem do Rio Preto, região no noroeste do segmento de fotografia sensual, que
que a atitude pareça vulgar. Estado, para montar um estúdio de continua forte no mercado.

56 Fotografe Melhor no 283


Cada ensaio é um
novo desafio, pois
cada mulher tem
um perfil e um
corpo próprios
Fotos: Magda Pinheiro

Fotografe Melhor no 283 57


NU ARTÍSTICO

Conhecer de quais Começar o ensaio com a


cliente deitada é uma boa
partes do corpo a opção para relaxamento
modelo mais gosta e
colocar uma música para
relaxar estão entre as
estratégias de direção POSE ESTUDADA PARA
indicadas pela fotógrafa
VALORIZAR O CORPO
Um aspecto que merece muita
atenção no segmento da fotografia
sensual é em relação à direção e às
poses. Não existe corpo perfeito, e
como o assunto é registrar mulheres
comuns, que não são modelos
profissionais, há pontos que precisam
ser disfarçados e outros valorizados,
ensina Magda.
“Sempre digo à cliente que
ela pode confiar em mim, pois
vou destacar os pontos atraentes
dela. Durante o ensaio, peço para
ela pensar que está seduzindo o
namorado ou marido. E não pode
faltar um fundo musical”, explica.
A dica é procurar saber da
cliente de qual parte do corpo ela

Uma boa direção depende


da confiança: Magda
costuma dar sugestões
para valorizar a pose

58 Fotografe Melhor no 283


Fotos: Magda Pinheiro

Acima e ao lado, cenas na


contraluz: vale tudo para
ressaltar as partes do corpo
preferidas da cliente

mais gosta. A partir daí, ficar atento


em como destacar isso, Magda
lembra. No entanto, um corpo é
diferente do outro, ou seja, o que
funciona para uma pode não ficar
legal em outra. Portanto, cada
ensaio é um desafio.
Ela costuma dar sugestões, como
pedir para a cliente empinar a lombar
ou usar um salto alto, que quase
sempre ajuda a ressaltar o bumbum.
Projetar o queixo para frente e colocar
a língua no céu da boca podem ser
importantes para eliminar a papada
no pescoço, por exemplo. Além disso,
para quebrar a timidez da cliente às
vezes é necessário demonstrar a pose
com o próprio corpo.
Também funciona, para as mais
tímidas, pedir para que faça um
exercício de relaxamento antes de
começar o ensaio. Iniciar a sessão com
a cliente deitada na cama ou em uma
poltrona também é uma boa opção,
pois são lugares em que a maioria das
pessoas se sente relaxada.

59
NU ARTÍSTICO

CENÁRIOS
REQUINTADOS
Magda Pinheiro leva muito a sério a
ideia de oferecer um ambiente íntimo e
apropriado para as mulheres realizarem
as fantasias como musas. A casa escolhida
para acolher o estúdio é dividida em
duas alas, uma só para atender bebês e
crianças, e outra para adultos em sessões
de gestantes, 15 anos e fotografia sensual.
Uma equipe de 16 funcionários, formada a
maioria por mulheres, ajuda a fotógrafa a
editar, atender e produzir os ensaios.
Foi com seu olhar de sonhadora e
artista e a ajuda do marido, Sérgio, que
Magda projetou as dezenas de cenários,
divididos entre área externa e área interna.
Na área do jardim, por exemplo, é possível
realizar o ensaio cercado por plantas (e
longe do olhar curioso de vizinhos), seguir
para set de piscina com cascata e depois
fazer fotos em um miniceleiro, com muita
madeira rústica, roda de carroça e feno. Já
no ambiente interno há cenários repletos
de mobiliários vintage, como cabeceiras,
recamiers e poltronas, a maioria adquirida
em viagens e leilões. Ela está sempre à
procura de adquirir peças para compor
cenários também em sites de objetos e
mobília usados.
Cada cantinho do estúdio traz uma
atmosfera diferente, como um quarto
com decoração estilo vitoriano composto
por aconchegante cama de casal, outro
um banheiro luxuoso com banheira
Fotos: Magda Pinheiro

provençal, além de uma escada com


corrimão no estilo rococó, desenhado e
executado pelo marido dela. Mas, caso
alguma cliente não se ajuste a nenhum
dos cenários, há ainda a opção de realizar
o ensaio com fundo infinito branco ou
preto, ao estilo editorial de moda.
Arquivo Pessoal

Outra iniciativa da especialista foi


rechear os guarda-roupas dos três
camarins com diversos tipos de lingeries,

Ao lado, Magda
Pinheiro em sessão
de fotos em um dos
diversos cenários
internos montados
em seu estúdio-casa;
acima, foto feita no
mesmo cenário

60
Mais técnica,
menos Photoshop
Na hora de entregar o
trabalho para a cliente, Magda
Pinheiro prioriza material de alta
qualidade, com acabamento
refinado, como álbuns e revistas
impressas personalizadas, além
de imagens em um pendrive.
Ela explica ainda que vem
apostando cada vez mais em
uma fotografia orgânica, ou seja,
com pouquíssima intervenção de
pós-produção.
Segundo ela, o Photoshop
é usado apenas para eliminar
imperfeições da pele e corrigir
algum tipo de tonalidade ou
coloração, não mais do que
isso. “Há muitos profissionais
vivendo somente em função
do Photoshop, perdendo horas
preciosas da vida pessoal para
fazer fusões de imagens. Demorei
nove anos para me desprender
da ideia de entregar fotos sem
tratamento. Estava perdendo a
saúde, tive até uma paralisia facial,
por causa de estresse. Percebi que
posso fazer um trabalho perfeito
na captura como acontecia na
era do filme”, diz ela. Magda
ainda ressalta que cresceu na
profissão a partir do momento
em que começou a pensar como
empresária, e não como artista.
Para atender dois públicos
bem distintos (família versus
ensaios sensuais), a fotógrafa
aposta no seu profissionalismo,
pois já tem um nome consolidado
na região. Conta que algumas
mães vêm ao estúdio para o
ensaio de bebê e voltam mais
tarde para fazer o sensual.
Para ver mais trabalhos da
especialista e se inspirar, acesse
o site www.magdapinheiro.
com.br ou o Instagram @
magdapinheirofotografia.
Arquivo Pessoal

Foto feita no jardim do estúdio, que conta com piscina e até um miniceleiro

corpetes, capas, vestidos e robes, os cenários e os figurinos, fica


a maioria desenhada pela própria encantada. Aqui ela só precisa trazer
fotógrafa, que usa sua experiência os sapatos. Não precisa nem ter o
anterior no mercado de moda. São trabalho de se vestir, pois fazemos
figurinos inspirados no mercado de isso para ela. A ideia é mesmo
moda europeu, ela ressalta. “Quando proporcionar um dia de sonho”,
a cliente chega ao estúdio e conhece explica Magda.

61
NU ARTÍSTICO

Fotos: Magda Pinheiro


Uma primeira
entrevista
informal serve
para traçar um
BOM PARA A AUTOESTIMA
Magda conta que geralmente quem Para clientes que ficam inseguras
perfil da cliente, a procura são mulheres que atuam como quando chegam ao estúdio, mesmo
perceber seu empresárias, profissionais liberais ou depois de darem o primeiro passo, que
estilo e definir donas de casa. A idade é bem variada, é agendar o ensaio, Magda diz que
normalmente entre 30 e 60 anos, porém a é importante realizar uma entrevista
que caminho a maior procura fica na faixa etária logo acima informal, que pode acontecer no camarim,
sessão de fotos dos 30. A maioria delas quer presentear o no momento entre a maquiagem e a
irá seguir companheiro, mas há as que fazem para escolha do figurino. O assunto gira em
si mesmas como uma forma de elevar a torno das preferências, dos hobbies e
autoestima após uma decepção amorosa ou dos sonhos dela, o que ajuda a cliente a
para a aceitação do próprio corpo, no caso relaxar. Esse papo também é útil para o
de perda de peso, ou depois de se recuperar que a especialista chama de “leitura de
de alguma doença ou cirurgia. estilo”, ou seja, um método de análise da
personalidade que a auxiliará a definir que
caminho o trabalho seguirá.
“Algumas mulheres têm temperamento
mais gracioso e combinam com um
sensual mais romântico. Então, desenvolvo
a ideia de usar cenários mais leves, com
figurinos tendendo para tons pastel e
iluminação suave. Já outras se adéquam
mais a um estilo de sensual natural. Assim,
opto por fotografar nos cenários na área
externa do estúdio, como dentro da
piscina”, explica ela.

Acima e ao lado, ensaios sensuais


realizados por Magda Pinheiro em
seu estúdio no interior paulista

62 Fotografe Melhor no 283


mais que fofo, um livro
essencial para profissionais.
Um manual para
quem acredita que
este é um mercado
em constante
evolução e precisa
estar atualizado
com todas as
tendências.

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