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A magia e os desafios da
paisagem
noturna
Dicas de quatro especialistas
Retratos ousados de
Gabriel Wickbold
Nu artístico em P&B
Os riscos de fotografar a
Amazônia em chamas
A fé de Severino Silva
Grandes fotógrafos da edição: Cristiano Xavier David Eisenberg Gabriel Wickbold Gabriela Biló Gjon Mili Marcelo Portella
Marco Antonio Perna Paulo Behar Ricardo Takamura Severino Silva Ueslei Marcelino Valda Nogueira Victor Lima Victor Moriyama
22
Foto de capa:
Victor Lima
6 Grande Angular
Notícias e novidades
12 Revele-se
Fotos dos leitores em destaque
28
Gabriel Wickbold
16 Câmeras Clássicas
A SLR pioneira Kine Exakta
22
E o incrível light painting com Picasso
36 PAISAGEM NOTURNA
Ricardo Takamura
60 Amazônia em chamas
A cobertura de três fotojornalistas
60
Gabriela Biló
70 A fé de Severino Silva
Do hard news ao documentário
76 Vida de fotógrafo
O estilo divertido de David Eisenberg
86 Equipamento
Lançamentos de Canon, Nikon e Sony
REDAÇÃO
Diretor de Redação: Sérgio Branco (branco@europanet.com.br)
Editora de arte e capa: Izabel Donaire
Editor convidado: Érico Elias
CARTA AO LEITOR
J
Colaboradores especiais: Diego Meneghetti e Livia Capeli
Duas obras produzidas por Lemos entre 1949 e 1952 que estão na exposição: Eu Poeta (autorretrato) e Luz Teimosa
6
Uma das fotos de indígena
e paisagem em que Frisch
usou fusão de duas cópias
se somam a outras 40 do
mesmo autor que o IMS já
tinha, foram feitas em uma
expedição comissionada pela
Casa Leuzinger, do Rio de
Janeiro. Frisch percorreu o
Rio Amazonas de Tabatinga
até Manaus, em viagem
que durou cinco meses.
Muitas das imagens finais
são resultantes da fusão de
duas cópias fotográficas
em papel, visto que Frisch
Albert Frisch/Acervo IMS
registrou indígenas diante de
um fundo neutro e depois qualidade técnica do trabalho,
realizou a montagem com a paisagem realizado em uma época em que
amazônica ao fundo. São fotografias era necessário emulsionar e revelar
que ficaram conhecidas não apenas as chapas em campo, munido de
pelo ineditismo, como também pela um laboratório portátil.
Eustáquio Neves
A MUSA DO DESCANSO
DOS GUERREIROS
Nada escapa a um publicação, Tiago Queiroz foi
fotojornalista observador. escalado para uma matéria
Tiago Queiroz, da Agência de cotidiano na região da
Estado, é a prova de que uma Avenida Faria Lima. Foi ali
boa foto pode surgir do nada, que se deparou com a cena.
basta estar atento aos sinais. No meio de uma tarde
Ao circular pelas ruas de São de sexta-feira, em pleno
Paulo (SP), ele percebeu a Monumento às Musas, dois
existência de uma nova classe bike boys descansavam com
de trabalhadores, chamados a cabeça dentro de suas
de bike boys, entregadores bolsas de entrega.
solicitados via aplicativo, a A imagem, capturada
maioria deles homens e jovens. com uma Canon EOS 1
O tema acabou virando DX com lente fixa de 40
pauta para duas reportagens mm, viralizou. Apenas na
publicadas em O Estado de conta do fotógrafo no
S. Paulo, a mais recente feita Facebook teve cerca de 800
em parceria com o repórter compartilhamentos. “Sou
Renato Jakitas. Logo após a grato pela discussão que
ela gerou sobre os rumos
que o trabalho informal está
Entregadores tiram
Tiago Queiroz
A VENCEDORA DO
Tathiana Gimenez
CONCURSO DA ABFRN
A fotógrafa paulista Thatiana
Gimenez, dona do estúdio Doce Click
Fotografia, foi a grande vencedora
do concurso da Associação Brasileira
dos Fotógrafos de Recém-Nascidos
(ABFRN). Como prêmio, ela teve a foto
na capa do recém-lançado Manual
Prático de Newborn, publicação inédita
no Brasil e fruto da parceria entre
Fotografe e ABFRN.
Na foto, feita há cinco meses,
aparece a bebê Gabriela, então com
10 dias, e a irmã Clara, de 2 anos,
filhas do casal Luana e Vinicius
Destefani. A interação entre as irmãs
na imagem foi o que mais chamou a Paulo. A vitória no concurso da ABFRN, Acima, a
atenção dos jurados para a escolha da segundo ela, repercutiu bastante entre imagem
foto vencedora, pois foge das poses os colegas de profissão. “Já tinha sido vencedora do
clássicas do segmento de newborn. finalista em outros concursos, mas concurso e, ao
lado, Thatiana
Thatiana Gimenez, 40 anos, é nunca havia vencido”, diz ela. Gimenez,
profissional há sete e mantém seu Para mais informações de como profissional
estúdio na região da Freguesia do adquirir o Manual Prático de Newborn, do segmento
Ó, zona Noroeste da cidade de São acesse www.europanet.com.br. há sete anos
Camila Diniz
No peito e na raça
A
natação, ensina Jonne Roriz, fotógrafo especialista
nessa modalidade, é um dos esportes mais difíceis de
se registrar justamente por causa da água, que pode
impedir que o nadador fique no foco. Não foi o que ocorreu √ Autor: Laura Lopes
com a foto feita por Laura Lopes durante uma prova de nado √ Cidade: Ilhéus (BA)
de peito do Campeonato Baiano de Natação. Ela congelou √ Câmera: Nikon D5300
com perfeição o movimento do nadador no auge da braçada, √ Objetiva: Nikkor 55-200 mm
com o splash de água reforçando a sensação de movimento. √ Exposição: f/5.6, 1/2.000s e ISO 250
Exakta
A primeira
A avançada e
inovadora
câmera fabricada
em Dresden,
Alemanha, foi
uma das vítimas
do nazismo na Visão lateral da Exakta,
Segunda Guerra. reflex pioneira para
Saiba mais o formato 35 mm
A Exakta contava
com uma ampla
T erminada a feira de fotografia
de 1936 em Leipzig, Alemanha,
a fotografia nunca mais seria a
mesma. Naquela ocasião foi apresentada
a primeira câmera reflex de 35 mm do
tela de focalização e mundo, a Kine Exakta. Criada pela Jhagee
visor tipo capuchão Kamerawerk, empresa de Dresden,
Alemanha, tinha dispositivos inéditos
para a época, entre os quais visor e tela
de focalização intercambiáveis, alavanca
para o avanço do filme, obturador
mecânico de cortina de 12s a 1/1.000s e
baioneta de encaixe rápido da objetiva.
A Exakta também foi pioneira em
aplicações médicas e científicas: contava com
sistema para instalação em microscópios,
telescópios, endoscópios e aparelhos de
topografia, além de chassi para 250 chapas.
Para macrofotografia, tinha uma espécie
de ring flash e até fotômetro TTL, mas
apenas para uso com fole de extensão. No
entanto, a ascensão do nazismo e o advento
da Segunda Guerra acabaram com todos
reflex
A vantagem
do sistema SLR é
a possibilidade de
focar e enquadrar
através da
objetiva
Fotos: Mário Bock
O modelo
trazia uma
faquinha
embutida para
cortar o filme
Duas das imagens em que Pablo Picasso pinta com luz diante da câmera do mestre albanês Gjon Mili na França
Light painting
com Picasso
Gjon Mili, fotógrafo albanês radicado nos EUA, foi pioneiro na técnica
e um dos grandes nomes mundiais entre os anos de 1940 e 1960
POR SÉRGIO BRANCO
O carioca Marco
Antonio Perna
aposta no Esculturas
em low key
clássico P&B
contrastado para
produzir ensaios
de nu artístico
POR JOSÉ DE ALMEIDA
UMA FONTE DE
LUZ DE CADA LADO
As imagens do trabalho Female
Sculptures foram feitas em diversos locais
com esquema de estúdio, explica Marco
Antonio Perna. Inicialmente, diz que era
apenas um aprendizado numa temática
“de que todo fotógrafo gosta”. À medida
que o conhecimento crescia, percebeu
que estava montando um portfólio
respeitável sobre o tema e, em dado
momento, o trabalho poderia ser editado
em formato de livro.
O fotógrafo conta que o esquema
de iluminação foi um processo lento
de escolha de direcionamento de luz.
“Basicamente, a luz da maioria das fotos
é uma fonte de cada lado da modelo,
em ângulos e alturas diversas. Cerca
da metade delas foram com flash sem
24
Algumas modelos (acima e no Marco Antonio Perna
alto, à esq.) parecem ginastas, mas é fã do trabalho do
o fotógrafo garante que eram
mulheres com elasticidade nata fotógrafo russo Anton
Belovodchenko e não
modificador de luz. Posteriormente,
descobri que podia obter o mesmo
esconde que usou o
efeito com lâmpadas LED, embora trabalho dele como
a imagem não fique praticamente referência para seus
pronta na câmera como a feita
com flash. Mas a facilidade do LED
ensaios, mas não o
compensa muito”, afirma. copiou simplesmente
Apesar de gostar do efeito
que uma fonte de luz dá no estilo
low key (em que predomina o tom sua principal referência. “As
escuro e o alto contraste), ele usou poses dos ensaios que ele faz
duas fontes, o que foi um desafio. remetiam ao meu subconsciente
“Do início dos primeiros testes até a de dança. Resolvi fazer fotos
finalização do livro foram cerca de daquele jeito. Logo percebi que
dois anos e meio”, informa Perna, fã não tinha ginastas russas nem
confesso do trabalho do fotógrafo estúdio grande nem verba para
russo Anton Belovodchenko, grandes esquemas”, brinca.
Todas as imagens dos ensaios foram aprovadas em comum acordo: fotógrafo e modelo tinham que gostar da foto
POSES INTROSPECTIVAS
Marco Antonio Perna comenta que cada “Algumas vinham para a sessão como se
mulher é um caso particular nos ensaios estivessem numa praia de nudismo, em
Cada e que os corpos são diferentes em todos outras dava para notar que havia alguma
mulher e cada os sentidos. “Algumas se adaptam melhor tensão. O que facilitou muito foi que várias
corpo são um em algumas poses, outras em outras. posavam com frequência para ensaios de
caso particular. Uma das modelos tinha uma elasticidade nu artístico, mas em outro estilo”, conta.
nata. Várias delas eram frequentadoras Ele faz questão de frisar que todas as
O fotógrafo assíduas de academia de ginástica, mas não fotos foram aprovadas em comum acordo.
precisa prestar eram ginastas”, garante. O estilo de pose “Envio a imagem para a modelo aprovar.
atenção a isso. escolhido, mais introspectivo na maioria, foi Tenho que gostar e ela também. Apenas
algo natural, contudo, depois ele percebeu duas preferiram não divulgar as fotos”,
Algumas são bem que sua experiência com dança influenciou diz Marco Antonio Perna, que continua
soltas, e outras, bastante na direção de cena. trabalhando como analista de sistemas (é
mais tensas Algo que ele aprendeu durante as funcionário público) e fazendo suas fotos
sessões de fotos é que o comportamento de dança, “em bailes ou shows à noite ou
Marco Antonio Perna das modelos também é muito diferente. no fim de semana, menos balé”, informa.
A arte de
empreender
As duas faces de Gabriel Wickbold, jovem fotógrafo e galerista paulistano
que vem chamando a atenção com trabalhos de grande impacto visual
POR ÉRICO ELIAS
C om 35 anos recém-completados,
Gabriel Wickbold é um dos
maiores fenômenos da
fotografia brasileira na atualidade. Em 2019,
ele já expôs em Portugal, Reino Unido e
no Brasil, Art Basel Miami, nos Estados
Unidos, e ESTe Art, no Uruguai.
Mas Wickbold, herdeiro da tradicional
fábrica de pães que leva o nome da família,
conta que se sente realizado mesmo é no
Emirados Árabes – onde foi escolhido como momento da criação. No trabalho que faz
um dos quatro homenageados no festival em estúdio, o corpo humano se transforma
Acima, imagem da Xposure. Fora isso, é dono de uma galeria em anteparo para experimentações
série Sexual Colors,
primeiro trabalho de (confira o box), na qual comercializa o seu e reflexões. Suas séries têm um forte
Wickbold realizado trabalho e o de fotógrafos estrangeiros. Essa impacto visual e, ao mesmo tempo, estão
em estúdio com segunda atividade o leva a ser presença estruturadas em torno de propostas
o uso de tintas constante em feiras de arte, como SP-Foto, conceituais – nada é gratuito, arte pela arte.
estúdio
A marca de
Wickbold é a
criação de retratos
impactantes em
estúdio
tintas
A utilização
de pigmentos e
outros materiais
transforma
as feições
humanas
DA POESIA À FOTOGRAFIA
Antes de descobrir na fotografia e descobriu um Brasil formado por
a realização plena, Gabriel Wickbold gente generosa e acolhedora, capaz
passou pela poesia e pela música. A de sorrir e bem receber mesmo em
poesia o despertou para a observação situações muito precárias. “Retornei
do mundo, enquanto a música trouxe dessa aventura transformado, triste de
a experiência da direção, já que ver as condições em que grande parte
ele atuou como produtor musical, dos brasileiros se encontrava, mas
conduzindo os músicos para a com uma fé na humanidade por sua
sonoridade desejada em cada caso. empatia”, recorda.
A grande transformação se deu O impacto da viagem fez com que
em 2006, quando ele partiu em uma Wickbold se reinventasse. O primeiro
viagem para percorrer o Rio São passo foi criar um estúdio de fotografia
Francisco da nascente à foz. Nesse no mesmo espaço em que mantinha
percurso, a fotografia deixou de ser o estúdio de música. Ali começaram as
hobby e passou ao primeiro plano. experiências, sempre como autodidata. Uma das fotos mais conhecidas da
“Me senti pela primeira vez realizado “Nunca fui assistente de fotógrafo. série Sexual Colors de Wickbold
como artista e entendi que ali poderia Simplesmente comecei. Foi na cara
mudar ou conduzir a forma com que e na coragem que fotografei moda, trabalho: a utilização de pigmentos para
as pessoas encaram a vida, me senti publicidade, retratos, e minha forma de a produção de retratos em estúdio. A
puro e verdadeiro, sem ter que fazer trabalhar os arquivos era diferente, as ideia de fazer um trabalho com tintas
o mínimo de esforço para aquilo fotos tinham uma textura minha, o que surgiu de um amigo. Logo na primeira
acontecer”, lembra. logo ficou como a minha assinatura sessão de fotos ele sentiu que se abria
A revelação se deu pela em estúdio”, comenta. ali um longo caminho para pesquisas
descoberta da fotografia como Depois de um ano aprendendo e experimentações, que culminou, em
ferramenta expressiva e, ao mesmo na prática e fazendo um pouco de 2009, com a série Sexual Colors, na qual
tempo, comunicativa. Wickbold entrou tudo, Wickbold se deparou com o que o rosto humano é usado como tela e
na casa das pessoas para fazer retratos seria uma das grandes marcas do seu sofre mutações inesperadas.
Imagens da série
Sans Tache, na qual a
impressão fotográfica
HOMEM E NATUREZA
é violada pela ação
O trabalho de Gabriel Wickbold parece Para a série Naïve, de 2010, ele pintou
de grilos e pelo fogo
de um maçarico se desenvolver de maneira orgânica. Uma o rosto dos modelos com tinta branca e
série conduz a outra. Quando fotografava esperou secar para obter a textura desejada,
para a série Sexual Colors, reparou que para então sobrepor elementos colhidos na
a tinta guache secava e trincava, criando natureza, com um colorido peculiar. “Quis
superfícies áridas no corpo dos modelos. chamar o homem de Naïve, ou ingênuo,
Daí nasceu a ideia para uma série que trata por se achar superior à natureza. Coloquei-o
da relação do homem com a natureza. seco e sereno, cada cabeça buscando
Quis fazer
uma crítica ao
vício de ficar
conectado o
tempo todo.
É como se a
pessoa estivesse
enrolada num
emaranhado
de linhas
Gabriel Wickbold
Imagem da série I Am
Online, uma crítica ao
vício em internet das
novas gerações digitais
SUFOCAMENTO E EXPLOSÃO
As séries mais recentes, I Am de inquietações acerca do vício com esse conceito de vida perfeita.
Online, de 2016, e I Am Light, de em tecnologia, redes sociais e Quis fazer uma crítica a tudo isso
2018, parecem se sustentar em informação. “A geração de nativos e me colocar na primeira pessoa.
princípios opostos. Na primeira há digitais tem muita dificuldade em se Digital, conectado e enrolado nesse
uma sensação de sufocamento, desconectar. Vivemos um paradoxo, emaranhado de linhas e conexões
causada por fios que envolvem os pois mentimos e somos enganados que nos sufoca”, explica.
rostos. Na segunda, há uma explosão constantemente nas redes sociais, Depois de viver intensamente
de luzes e os rostos parecem se nessa luta incessante por comer bem, essa série, Gabriel Wickbold
expandir e se desintegrar. viajar, ser bem-sucedido, bom pai e reservou um tempo para meditar
I Am Online nasceu a partir por aí vai. Começamos a sofrer muito e foi para um retiro espiritual.
Imagem captada
em Santo Antônio
do Pinhal (SP): o
uso da câmera no
modo manual é
imprescindível para
fazer fotos noturnas
Ricardo Takamura
Marcelo Portella
forte e leve
Cena em que o
elemento humano e a
luz artificial integram a
paisagem noturna de
maneira harmônica
luzes
Flash, lanterna
e iluminador
LED podem ser
complementos
criativos à luz
Victor Lima
ambiente
é estudar o ambiente
com calma e ter em
mente que elementos
em primeiro plano
tendem a aumentar a
ideia de profundidade.
Primeiro, pensar no
que deseja destacar
no primeiro plano,
depois compor com os
elementos do segundo
plano (caso haja) e, por
fim, harmonizar tudo
com o fundo, onde está
o horizonte.
Há muitas
possibilidades criativas
para fotografar
paisagens noturnas,
como poderá ser
O ELEMENTO observado nos
trabalhos de Cristiano
Cabana de nativo
no Deserto de Gobi,
na Mongólia, como
primeiro plano para
a cena de céu estrelado
O fotógrafo de
Minas Gerais
PINTURA COM LUZ: recomenda a
CRISTIANO XAVIER utilização de
flash e lanterna
Para o fotógrafo mineiro Cristiano fundo tem as estrelas no céu escuro. Dê a para “pintar” a
Xavier, o tópico mais interessante da sua contribuição criativa por meio da luz cena noturna,
fotografia noturna é aprender a fazer light artificial. Ao pintar a cena, o resultado será
painting na cena para obter um resultado mais rico e diferenciado”, ensina. misturando de
que vai além do simples registro em longa Atualmente, uma tendência na forma criativa
exposição. Xavier diz que quem deseja se fotografia de paisagem noturna, e que luz ambiente e
destacar no segmento precisa aprender a impressiona o observador, é incluir uma
trabalhar com as diversas possibilidades parte do cinturão de estrelas da Via luz artificial
da fotografia noturna usando a iluminação Láctea, a galáxia da qual o sistema solar
artificial. Ele, por exemplo, escolheu usar faz parte. Para isso, Xavier costuma usar
flashes para criar efeitos nas imagens que uma Canon EOS 5Ds com a objetiva
faz. Mas, para quem está começando, 14 mm f/2.8 (luminosa e com pouca
recomenda o uso de uma lanterna distorção). Ajusta ISO 3.200 ou 4.000, que
potente para realizar essas interferências. considera o suficiente, e alerta que acima
“A fotografia noturna é como uma tela em disso o nível de ruído é muito alto e pode
branco que podemos pintar com luz. O deteriorar a imagem, principalmente em
astros
Para fotografar
o céu estrelado é
necessário saber ao
menos o básico
de astronomia
de técnicas se o fotógrafo
economizar justamente na base
da câmera, ou seja, no tripé.
Um acessório profissional, de
qualidade, pode ser fundamental
para gerar uma imagem nítida,
mantendo a câmera firme
durante a exposição. “Procure
investir em um feito com fibra de
carbono, que seja leve, fácil de
transportar e firme para suportar
qualquer vento, pois um pequeno
movimento em longa exposição
pode levar tudo por água abaixo.
Se tiver que escolher, fique com
o tripé pesado, mas que seja
firme”, explica.
45
MATÉRIA DE CAPA
estrelas
O registro do
rastro das estrelas
é um clássico
em paisagem
noturna
EXPERIMENTAÇÕES:
MARCELO PORTELLA
Marcelo Portella, profissional há 16
anos, leva a paixão pela fotografia noturna
tão a sério que modificou a própria Nikon
D800E para capturas de espectro completo.
Ou seja, mandou retirar um filtro interno
da câmera e tem feito experimentos com
astrofotografia e infravermelho para
ter efeitos de modificação de cores em
algumas imagens.
Gosta de produzir algumas imagens de
paisagem noturna fora do convencional,
como ter a luz da Lua como fonte de
Acima, rastros de iluminação de primeiro plano ou mesmo
luz deixados pelo usar um drone com duas lanternas de LED
deslocamento para ter o mesmo efeito. Ele conta que
das estrelas; ao aproveita as expedições fotográficas que
lado, uso de
light painting organiza para estimular principalmente a
para iluminar criatividade dos alunos.
as pedras no Além do equipamento personalizado,
primeiro plano Portella usa ainda duas outras Nikon, a D850
A luminosidade
das grandes
EQUILÍBRIO DA LUZ:
aglomerações RICARDO TAKAMURA
urbanas causa Aprender a enxergar a tênue iluminação mais enxergar o céu estrelado como ele
um tipo de nas paisagens durante a noite e entender realmente é. Somos uma das últimas
poluição visual o que a câmera vai fazer com essa luz: gerações que têm a oportunidade de ver a
para Ricardo Takamura, esse é o principal Via Láctea. Acredito que em pouco tempo
que dificulta a segredo. Segundo ele, é necessário treinar ela será visível somente em áreas de vazio
observação do bastante os olhos para fotografar no escuro humano, como desertos, regiões gélidas
céu estrelado (o olho humano costuma levar cerca de 15 e no oceano”, explica ele, defendendo a
minutos para se adaptar à total escuridão). ideia de que a fotografia noturna é uma
tal como ele O exercício começa em desligar todo e maneira de documentar algo que está
realmente é qualquer tipo de luz, inclusive a da tela desaparecendo rapidamente.
do celular. Takamura lembra também que Para produzir imagens de paisagem
é bastante difícil fazer a composição em noturna com céu estrelado e driblar a
fotografia noturna – para ele, é literalmente poluição luminosa, é necessário ir cada
disparar no escuro. Portanto, planejar com vez mais longe das grandes, médias e até
antecedência, visitando as locações durante mesmo pequenas cidades. Além disso, o
o dia, é um ponto-chave nesse tipo de tema. brilho da Lua também costuma atrapalhar
A cada ano que passa, o céu fica bastante esse tipo de fotografia. Portanto,
Acima, a dinâmica mais oculto atrás de um manto de um dos segredos é fotografar em noites
do rastro das luminosidade. Isso é resultado da de Lua nova, ensina Takamura.
estrelas contrasta
com a solidez da poluição luminosa das grandes cidades, A receita fica ainda mais completa se
formação rochosa explica Takamura. “Atualmente já se juntar a isso uma noite sem nuvens, sem
de Analândia (SP) pode considerar o fato de que um terço poluição e com pouca umidade do ar.
em primeiro plano da população mundial não consegue Nem sempre é possível conseguir um céu
51
MATÉRIA DE CAPA
“Costumo fazer o foco no modo manual da lente, mas, na minha opinião, isso
e usar algum ponto de luz distante, como nem sempre é confiável para fotografia
uma estrela mais brilhante. Outro truque noturna”, avalia Takamura.
Para produzir seus trabalhos, ele usa
uma Nikon D810 com a objetiva Nikkor
14-24 mm f/2.8 e uma Fuji XT3 com uma
Rokinon 12 mm f/2. Entretanto, explica
que com os avanços tecnológicos é
possível fotografar estrelas até mesmo
com alguns modelos de smartphone e
de câmera compacta.
Fazendo coro com os demais
especialistas, ele indica que um bom tripé
também é fundamental. Takamura sugere
os modelos robustos, pois quanto mais
pesados, mais estáveis. Por outro lado,
inviabilizam saídas que requerem longas
caminhadas. Na dúvida, o ideal é ter dois
de perfil profissional, um mais leve e outro
mais pesado – o fotógrafo usa
dois da Manfrotto, um do modelo
055xpro3 (pesa cerca de 2,5 kg) e um do
A escala de Bortle mede a luminosidade do céu noturno e permite modelo 190cx (1,3 kg), quando precisa
quantificar o nível de observação astronômica e de poluição luminosa fazer longas caminhadas.
foco
Focalizar
bem a cena é
um dos grandes
dasafios de quem
fotografa
à noite
Contraluz da Lua
combinado com
longa exposição para
registrar as famosas
Torres del Paine, na
Patagônia chilena
55
MATÉRIA DE CAPA
indica ele. “Existe um modo de redução equipamento, usa uma Canon EOS 6D Deserto do Atacama e
Mangue Seco (abaixo):
de ruído de longa exposição que, quando com objetiva Canon 16-35 mm f/2.8, tripé
quanto mais isolado o
ativado, ajuda no controle de grãos. Manfrotto modelo 055XProb e lanternas lugar, menos poluição
Porém, ele duplica o tempo de captura, de mão e de cabeça. luminosa para atrapalhar
já que faz uma foto com o obturador
aberto e outra de mesma duração com o
obturador fechado”, explica o especialista.
Lima ressalta ainda que tais
recomendações levam em conta exposições
de no máximo 30 segundos em modo
manual. No caso de exposições maiores,
em modo B (bulb), o ideal é reduzir o ISO
na mesma proporção de f-stops (pontos de
exposição) em que se aumenta o tempo de
captura. Sobre o foco, ele recomenda usar o
modo manual, desligando o estabilizador de
imagem com a câmera no tripé para evitar
que o motor de estabilização provoque
vibração indesejada e atrapalhe a captura.
Victor Lima informa que seus locais
preferidos para fotografar ficam em
Mangue Seco (BA), Ilha Grande (RJ),
Fotos: Victor Lima
Perto do fogo
Confira as dificuldades enfrentadas por fotógrafos na cobertura
das queimadas na Amazônia, que envolveu longas distâncias,
riscos, perigos, conexão precária e incursões em mata fechada
POR ÉRICO ELIAS
Victor Moriyama
Longas
distâncias
a percorrer,
muitos focos LOGÍSTICA E
de incêndio,
estradas bem DESLOCAMENTO
precárias e “Em situações de crise ou risco, atingidas por focos de incêndio.
internet ruim: a logística tem que ser sua principal Marcelino passou 35 dias na região
preocupação. Se você não pensar e da Amazônia acompanhado do colega de
problemas que colocar um pé à frente das possíveis vídeo da Reuters, Leonardo Benassatto.
os fotógrafos situações, vai ter problemas maiores”, No primeiro período, eles fizeram idas
enfrentaram ensina Ueslei Marcelino. O planejamento e vindas com veículo 4 x 4 alugado em
se dá em grande medida antes da partida, Porto Velho. Rodaram pelo norte de
por meio de uma pesquisa prévia e da Rondônia, o sul do Amazonas, e foram
consulta a fontes que estão no local até o Acre para acompanhar um ritual
ou que conhecem em profundidade o indígena em defesa da floresta. Depois,
tema abordado. Todos os fotógrafos voaram até o Maranhão e foram para
entrevistados partiram de Porto Velho, a Terra Indígena Arariboia, próximo ao
capital de Rondônia, um dos locais de município de Amarante do Maranhão.
melhor infraestrutura entre as regiões mais Gabriela Biló viajou acompanhada
Ueslei Marcelino
Marmelos, todas no sul do Amazonas. e Leonardo
O percurso foi feito em veículo Benassatto, da
comum, passando por estradas de Reuters; ao lado,
terra. “Infelizmente não tínhamos um Gabriela Biló e
carro 4 x 4, o que dificultou muito. André Borges, da
Nosso carro era alto, o que nos Agência Estado
salvou. Chegamos a atravessar um
rio com ele devido à precariedade
de uma ponte que, se passássemos
por ela, tínhamos a impressão de que
63
FOTOJORNALISMO
Acima, o fotógrafo
Victor Moriyama; ao
lado, homem da brigada
contra incêndios na mata
Victor Moriyama
quilômetros de pastos sem fim e
quantidades enormes de terras
improdutivas. São terrenos que
seguem na recuperação da
pastagem, para receber o gado
quando o pasto atingir a altura
a chamar a atenção da imprensa grande agência internacional, Marcelino já
adequada. Se a terra não for
internacional, e relata que em poucos dias passou por diversos cursos de segurança usada para boi, certamente será
a cidade foi “invadida” por jornalistas de para situações de risco. “Nós recebemos usada para a soja, alimentação
diversos veículos e agências. Da cidade treinamentos para cobrir ambientes básica do gado. Num país em
era possível ver no horizonte os focos de hostis quase todos os anos pela Reuters que o rebanho bovino chega
incêndio. Havia muita fumaça no ar. e aprendemos algumas coisas simples, a 215 milhões de cabeças,
Dadas as dificuldades de acesso por porém muito importantes, como manteremos o status de maior
terra e as grandes distâncias a percorrer, manter os pés secos, as botas limpas, se exportador mundial de carne ao
uma boa parte da cobertura foi feita hidratar com mais custo das florestas”, prevê Behar.
do ar, em sobrevoos realizados em regularidade, dormir
pequenos aviões Cessna. Moriyama conta assim que puder e
que o aeroclube de Porto Velho contava evitar o risco. Acabei
com uma empresa que serviu bem a toda fazendo isso quase
demanda, cobrando um valor de R$ 800 que de maneira
por hora de voo. militar, o que me
Já as aproximações dos focos de ajudou muito. O
incêndio, tanto por ar como por terra, desgaste físico das
exigiram muita atenção e prudência. caminhadas dentro
“O risco é real. O fogo vira rápido com da mata não foi
o vento e, se você não estiver bem brincadeira”, recorda.
posicionado, fica desorientado e preso
no incêndio”, explica Gabriela Biló, cuja
cobertura foi toda feita por terra. “Nas
aproximações por aeronave em áreas
de queimada ou garimpo, sempre pedia Caminhão carrega
para baixar um pouco mais e o piloto toras de madeira
próximo a Porto
me alertava até onde poderíamos ir em
Velho (RO), em
segurança, para não ter problemas”, foto captada por
relata Ueslei Marcelino. Paulo Behar durante
Por conta de trabalhar em uma expedição à região
Paulo Behar
sujeira
Faz parte da
logística pensar
na limpeza do
equipamento
em situações
hostis
EQUIPAMENTO E CONEXÃO
Marcelino levou equipamento equipamento”, lembra Marcelino.
fotográfico, notebook, um telefone Como fotógrafa da Agência Estado,
satelital, um terminal BGAN para transmitir Gabriela Biló não tinha os mesmos
fotos e textos de lugares remotos, e um recursos tecnológicos de transmissão
aparelho GPS, além de diversas baterias disponibilizados pela Reuters. “Um dos
extras, que serviam para recarregar o maiores desafios era a conexão. Do que
computador e os aparelhos, e um inversor adianta termos o material se não pudermos
de voltagem, que garantiu uma “tomada contar para o mundo o que está ocorrendo?
Em elétrica” no carro. Nas viagens por terra O computador não conectava nem com
situações de crise com 4 x 4 era necessário poupar ao reza, todo o material, texto, foto e vídeo,
ou risco, a máximo o veículo para evitar quebra. era enviado via WhatsApp em pequenas
logística tem que “Ao imaginar que poderíamos ter um cidades que encontrávamos, com bastante
problema com o carro, nos perder ou ter compressão e pouca resolução, tendo que
ser a principal que ficar mais tempo para registar alguma ser interpolada pelos profissionais do jornal
preocupação. É cena ou esperar uma luz mais bonita, para publicação”, relata Biló.
preciso se fizemos uma pequena dispensa com Como estava fazendo uma cobertura
alimentos básicos que nos ajudou nas mais “fria”, voltada principalmente para
programar para andanças. Também levamos combustível uma grande reportagem que o jornal The
evitar problemas extra. Algo que achei impressionante foi New York Times planejava publicar em
maiores a quantidade de sujeira que as lentes e novembro de 2019, Victor Moriyama podia
câmeras pegavam. Temos de estar ligados retornar à base em Porto Velho para, de lá,
Ueslei Marcelino também nesse aspecto, a limpeza do enviar o material. Moriyama conta que a
situação em campo era de fato catastrófica. os índios querem sobreviver da floresta e No alto, árvore cortada
“As imagens me lembram o Apocalipse, me o que ela oferece, a caça, os frutos, a água. em trecho destruído
lembram um pouco daquele filme Platoon, Por outro lado, há pessoas que não têm pela ação do fogo;
acima, um incêndio
com árvores pegando fogo em um cenário muitas oportunidades e acabam sendo consome a floresta na
de guerra. De fato, o que está acontecendo empregadas na derrubada da floresta para região sul do Amazonas
é uma guerra pela floresta. Por um lado, abrir novas fronteiras agrícolas”, analisa.
Madeireiros ilegais
interceptados pelos índios
Guajajara, na Amazônia
maranhense: a cobertura
mais tensa já vivida por
Ueslei Marcelino
Os três
fotógrafos
entrevistados GUARDIÕES DA FLORESTA
estiveram em A cobertura dos três fotógrafos guiados por Antonio Teharim, integrante
áreas de reserva envolveu o contato com povos da tribo que estava desolado com as
indígenas, na busca de reportar o drama queimadas dentro da reserva. “Até onde
indígena para vivido por eles. Moriyama se embrenhou se via eram cinzas. Levamos quase duas
acompanhar pelas terras dos Uru-ue-wau-wau, em horas para chegar ao local de difícil
a luta pela Rondônia. Para chegar até a aldeia, teve acesso, cheio de areais, pontes quebradas
de caminhar por oito horas em mata e lamaçais. Uma vez lá, tive minutos para
preservação da fechada e chegou a ter um início de fazer a foto e retornar a algum local com
floresta em meio desidratação, que causou alucinações conexão para transmitir a tempo do
às queimadas leves. Dormiu por lá e acompanhou um fechamento do jornal impresso”, lembra.
grupo na abordagem de madeireiros Como havia ficado tarde, Antonio
ilegais. “Eles estavam armados de arco convidou-os a dormir na aldeia. “No dia
e flecha, preparados para o embate. seguinte, entendemos como era grande
Havia uma tensão no ar. Encontramos o impacto naquele povo, tanto que os
o local onde os madeireiros atuavam, próprios Tenharim se voluntariavam
mas não tinha ninguém. Eles queimaram para lutar contra o fogo na brigada do
os barracos, como de praxe, mas não Prev Fogo, do Ibama. Me marcou muito
houve conflito”, relata. o desespero, a tristeza e a vontade de
Gabriela Biló esteve na reserva ajudar desse povo”, recorda Biló.
Teharim/Marmelos, no Amazonas. Ela A história mais tensa foi vivida
e seu companheiro de cobertura foram por Ueslei Marcelino. Ele e Leonardo
Victor Moriyama
fazem incursões pela mata na busca
de desbaratar a ação de invasores.
Assim, ao acompanhar uma ronda,
Marcelino viveu uma situação de
confronto, quando os indígenas
interceptaram três caminhões
Gabriela Biló/Agência Estado
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FOTOGRAFIA DOCUMENTAL
leva à fé
news, deixa a vida de redação
para se dedicar a um projeto
pessoal sobre a fé do brasileiro
POR ANDRÉ TEIXEIRA
Severino Silva
Do setor de
limpeza do
jornal O Globo
para uma vaga
na equipe do
EXPERIÊNCIA A
diário O Dia,
Severino Silva
FAVOR DO OLHAR
Encarar riscos não é novidade para de O Dia, em 1992, e ali conseguiu um
dedicou-se esse paraibano de Pirpirituba, no agreste espaço que talvez não tivesse num veículo
muito para do Estado. Órfão de pai aos oito anos, de perfil menos popular.
aprender os chegou ao Rio de Janeiro com 11, com O jornal apostava alto na cobertura
a mãe, a avó e a irmã. Depois de rodar da violência carioca, uma realidade à
segredos da pela Baixada Fluminense, a família se qual ele, até hoje morando na mesma
profissão estabeleceu na Tavares Bastos, favela Tavares Bastos, já estava mais do que
encravada no bairro do Catete. Ainda acostumado e soube retratar como
adolescente, trabalhou em obras e no poucos. “Conheço os caminhos, as
comércio, enquanto alimentava o sonho regras de aproximação. Um ‘bom-dia’,
de ser fotógrafo – que começou a se ‘por favor’ e ‘obrigado’ ajudam muito”,
materializar quando conseguiu uma vaga ensina. A obstinação – “enquanto não
no setor de limpeza de O Globo. consigo a foto, não sossego”, garante – e
Insistente e disposto a aprender, em a capacidade de observação fazem parte
pouco tempo fazia os primeiros frilas para do pacote. “Com o tempo, você aprende
o próprio jornal, nas folgas do trabalho a antever situações”, avalia. Os prêmios
como fotógrafo industrial. Depois de obtidos na carreira (Tim Lopes, Vladimir
passagens por outros jornais, já como Herzog, Nikon e Líbero Badaró, entre
repórter fotográfico, entrou para a equipe outros) e a divulgação de suas fotos em
Imagem de Padre
Cícero cultuada em
Juazeiro do Norte
Fotos: Severino Silva
Procissão do Fogaréu, em
Pirenópolis (GO), e, mais
abaixo, a procissão de Corpus
Christi em São Cristovão (SE)
Eisenberg tem um
projeto dedicado a
fotos de bailarinas em
ambientes urbanos
Fotos: David Eisenberg
Olhar experiente,
alma de garoto
POR LIVIA CAPELI
Conheça
o trabalho
do divertido
D avid Eisenberg tem 66 anos e
não está nem aí para a idade.
O descolado senhor de cabelos
grisalhos parece se divertir muito na hora de
transmitir o que aprendeu ao longo de 46
da música e importantes políticos mexicanos
menos tensa e mais divertida. “Crie um
momento agradável para mostrar quem seu
fotografado é realmente por dentro”, ensina.
Ao longo da admirável carreira,
fotógrafo David anos de carreira. Tem uma alma jovem que Eisenberg marcou seu nome na moda
invade o estúdio e que o faz pular e fazer ao fotografar para marcas como Armani,
Eisenberg, graça para descontrair qualquer modelo Valentino e Hugo Boss. Também assinou
canadense travado que esteja diante de suas lentes.
Nascido em Toronto, Canadá, ele esteve
editoriais em publicações como Rolling
Stone, Poder, Día Siete, Tentaciones, Fox Sports
radicado no em São Paulo (SP) como uma das principais USA, Vogue, Líderes Mexicanos, Open e com
México que atrações do evento Zoom In Project, grande destaque para a revista Playboy,
promovido pela Canon do Brasil – do qual é versão latino-americana. Entre suas “vítimas”
esteve no Brasil embaixador da marca no México, país onde (como ele gosta de chamar seus modelos)
para evento passou a viver em 1972. estão Ringo Starr, Fidel Castro, Bill Gates,
É assim, com uma vibrante energia, que David Byrne, além de diversas celebridades
realizado pela David torna uma sessão fotográfica com mexicanas e vários nomes de peso da
Canon presidentes de grandes corporações, astros política e do mundo do espetáculo.
fotografando
bebês e ATIVIDADE ATÉ EM
casamentos
até conseguir PROGRAMA DE TV
trabalhos nas Nos últimos anos, David Eisenberg Outro é um programa de TV chamado
áreas comercial se envolveu em três grandes projetos Shooting Hot com David Eisenberg,
e editorial, áreas autorais. Em Manos en el Tabaco, o fotógrafo transmitido pela emissora mexicana Total
documentou, durante quatro anos, a história Play e SHE Entertainment. E há ainda um
com as quais e os personagens da indústria do tabaco programa independente, disponível nos
se identificou de Cuba, o que lhe rendeu 25 exposições sites www.shootinglikearockstar.com e
no México e em diversos outros países. www.shootingwiththepros.com, em
que ele compartilha segredos e
experiências fotográficas.
A atriz mexicana Martha Ele começou o namoro com
Higareda em pose a fotografia aos 15 anos, depois
sensual para Eisenberg
que uma amiga pediu algumas
imagens ao estilo fashion, feitas
com a câmera Mamiya 500 TL
e alguns rolos de filme P&B do
pai dele. O primeiro trabalho
profissional foi com fotos de
bebês recém-nascidos para
bancar o curso de fotografia na
Universidade de Ryerson, em
Toronto. Depois de fotografar
1.280 bebês e concluir o curso,
ele foi para a área de fotos de
casamento, somando 235 no total.
Mesmo assim David ainda procurava
um caminho na fotografia.
Fotos: Divulgação
Sony a9 II
chega com novidades
A Sony anunciou o
lançamento do modelo
profissional mirrorless
Alpha a9 II com uma atualização que
mantém muitas das especificações
de 693 pontos, cobre 93% da área
enquadrada e apresenta o mais
recente sistema de rastreamento
em tempo real da Sony. No quesito
sensibilidade, trabalha no intervalo
milhões de pontos, é móvel e ativado
por toque. A câmera ganhou também
um novo battery pack, com disparador
na vertical, que acomoda duas baterias
e agora oferece dois slots para cartão
principais do modelo anterior, de ISO 50 a 204.800, sendo SD (ambos suportam mídia UHS-
mas acrescenta capacidades possível salvar o arquivo em RAW -II), além de portas Gigabit Ethernet e
aprimoradas de conectividade e totalmente expandido e 14 bits USB 3.2, permitindo transferência de
fluxo de trabalho para fotógrafos não compactados. arquivos por FTP. O preço nos EUA é
profissionais e fotojornalistas, O corpo de liga de magnésio de US$ 4.500, só o corpo, com vendas
segundo a empresa. Com isso, ela é à prova de intempéries, possui previstas a partir de novembro de 2019.
recebeu um recurso interessante: o estabilização de imagem integrada em
Voice Memo. Esse recurso possibilita 5 eixos e oferece dois mostradores e
anexar arquivos de áudio às imagens, um joystick para selecionar um ponto
que podem ser reproduzidas pelos AF. O monitor de 3 polegadas tem 3,7
editores ao revisar envios dos
fotógrafos em campo.
A câmera tem sensor full frame
de 24 MP com perfil especial para
coberturas esportivas, já que tem
velocidade máxima de disparo
de 20 imagens por segundo
(ims). Essa rapidez é graças ao
obturador eletrônico, mas mesmo
com o obturador mecânico ela
não decepciona: atinge 10 ims. O Modelo tem sensor full frame
autofoco, com detecção de fase e corpo em liga de magnésio