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fotografemelhor.com.br
n0 304 | Ano 26
Como usar a
TELEOBJETIVA
• VIDA SELVAGEM • BIRDWATCHING • ESPORTES
• FOTOJORNALISMO • MODA • FOTOGRAFIA SOCIAL
Ueslei Marcelino/Reuters
editorial
14
Ano 26
Edição 304
Foto de capa:
Petr Simon
M inha primeira tele foi uma Vivitar 80-300 mm bem escura, f/5.6-6.3, de segunda
mão – era o que meu dinheiro podia comprar na época. Branca como as USM
da Canon, então sonho de consumo, em vez de protegido por um metal resistente, o
conjunto óptico se alojava em um tubo de plástico de alto impacto – portanto, era leve.
Tinha foco automático, mas a nitidez deixava a desejar. Com ela, fotografei muito, inclusive
a posse do presidente Eduardo Duhalde na Argentina em 2002 – estava em Buenos Aires
a passeio, em um hotel pertinho do congresso, e quando me viram
com aquela baita lente me deixaram passar e ficar nas grades, a
cerca de 100 metros do palanque. Acabei vendendo-a para um
conhecido e passei a usar uma Sigma 100-400 mm, f/4-5.6, com a
qual também me diverti muito. Ter uma tele é muito importante em
qualquer equipamento, como você verá nesta edição. Boa leitura.
Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
branco@europanet.com.br
sumário
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
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Beijo da vida
O beija-flor é um pássaro da família biológica Trochilidae,
composta de cerca de 360 espécies que podem ser encontradas
no continente americano desde a Terra do Fogo, no extremo
sul, ao Alasca, no extremo norte. A maioria se concentra na Ficha técnica
região tropical, caso de todo o território brasileiro. E um deles foi Autor: Marcelo Messias
sugar o néctar de uma flor na casa do gaúcho Marcelo Messias, Cidade: Porto Alegre (RS)
servidor da Defensoria Pública do Estado que fotografa há 20 Câmera: Canon EOS 7D Mark II
anos. Com uma poderosa telezoom, ele conseguiu uma imagem Objetiva: Sigma 150-600 mm
do nível dos grandes profissionais especializados em aves: o Exposição: f/8, 1/2.000s e ISO 1.000
momento do beijo que dá nome ao pequeno pássaro.
4 Fotografe 304
Pintura impressionista
Surgido na França no século 19, em plena Belle Époque, o
impressionismo foi rechaçado pelos conservadores. Tem
como característica pinceladas que deixam relevo na tela, um
trabalho de luz e sombra para chegar a uma representação Ficha técnica
autoral da realidade, negligenciando a forma para privilegiar Autor: Sergio Tani
a cor – Claude Monet é a principal referência. E não é que o Cidade: Capela do Alto (SP)
fotógrafo Sergio Tani deparou-se com uma verdadeira obra Câmera: Nikon D300
de arte feita pela natureza no sítio onde mora? Líquens sobre Objetiva: Nikkor 20 mm
a tela de uma estufa se transformaram em um jardim com Exposição: f/5, 1/125s e ISO 800
pinceladas impressionistas graças ao olhar de Tani.
Como participar: envie para fotografe@europanet.com.br no máximo duas fotos em arquivo digital e
informe nome, telefone, ficha da foto (equipamento, dados técnicos...) e faça um breve relato sobre as imagens.
Fotografe 304 5
Marcos Sanchez
Concursos & Prêmios
Os premiados da Bienal
em Cores de Londrina
M arcos Sanchez (ABCclick), com a imagem Occupied Windows, foi o grande
vencedor da XXII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores da
Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto), organizada em dezembro de 2021
pelo Foto Clube de Londrina (PR) como parte das comemorações do cinquentenário
da fundação. Sanchez levou a medalha de ouro para o fotoclube de São Caetano do
Sul (SP), mas no cômputo geral o primeiro lugar em pontos ficou com o Clube do
Fotógrafo de Caxias do Sul (RS), que ainda teve Basílio Marchetto, com a imagem
Drizzler, como medalha de prata da Bienal. O ABCclick ficou apenas 3 pontos atrás do
fotoclube gaúcho e 7 à frente do Salvador Foto Clube, terceiro lugar no geral e que
teve Cesare Simioni, com a foto Entrando, como medalha de bronze.
O fotógrafo Marcos
Mario Jorge Tavares
Sanchez (último da
esq. para a dir.) ao
lado da esposa na
entrega da medalha
de ouro da Bienal
em Cores e junto
com diretores da
Confoto e do Foto
Clube Londrina
6 Fotografe 304
Basílio Marchetto
A Bienal de
Londrina teve
25 fotoclubes
participantes
e o vencedor
na pontuação
geral foi o
Clube do
Fotógrafo de
Caxias do Sul Cesare Simioni
Fotografe 304 7
A cena da noiva
se preparando
com a luminária
Fabio Mirulla
em primeiro
plano deu o
prêmio a Mirulla
Italiano é o fotógrafo
do ano em casamento
O italiano Fabio Mirulla foi o vencedor se arrumar usando uma luminária em primeiro
geral de 2021 do International Wedding plano que parece o vestido dela. O segundo
Photographer of the Year (IWPOTY). Ele captou lugar no geral ficou com a dupla canadense
uma imagem criativa de uma noiva começando a Andrew e Bec, da empresa Willow & Wolf, com
o retrato de um casal de aventureiros
que caminhou a noite toda para chegar
ao topo de uma montanha para ser
fotografado ao nascer do sol, antes de
se casar à tarde.
Mirulla, que mora na Toscana,
superou 414 fotógrafos de 58 países
que enviaram cerca de 1.500 imagens
para nove categorias desse que é
considerado o principal concurso
de fotos de casamento do mundo.
Entre as demais imagens premiadas,
destacaram-se ainda Ken Pak, dos
Andrew e Bec
As imagens premiadas nas categorias Pista de Dança (à esq.) e Retrato de Casal (à dir.)
8 Fotografe 304
Fotografe 304 9
Túnel do tempo A F2 foi a
sucessora da
lendária Nikon
F e fez sucesso
Nikon F2 Rainha do
fotojornalismo
da redação
10 Fotografe 304
O modelo foi lançado
em 1971 e ficou no
mercado até 1980,
quando surgiu a F3
Fotos: Arquivo Fotografe
Fotografe 304 11
Grande Angular A Tokina 400 mm de
espelho é compacta e tem
abertura máxima f/8
Tele de 400 mm
por US$ 262
A japonesa Tokina anunciou uma versão atualizada
de sua supertele de espelho 400 mm f/8 que
permite que ela seja usada com oito tipos diferentes de
baioneta. A nova lente é construída com seis elementos
em dois grupos, tem distância mínima de foco de 115
cm e rosca de filtro frontal de 67 mm. Ela é totalmente manual
e, usando adaptadores, funciona com os sistemas de câmera
Canon EF, Canon M, Fujifilm X, Micro Four Thirds, Nikon F,
Nikon Z, Pentax K e Sony E-mount. Como é o caso com todas
as lentes de espelho, apresenta um bokeh característico,
considerado menos agradável do que o da óptica convencional,
um porém até aceitável para ter uma supertele barata e relativamente
pequena. O preço sugerido é de US$ 262 no mercado dos EUA.
Genérica
para Fuji
Fotos: Divulgação
12 Fotografe 304
Fotografe 301 13
Em vários segmentos
matéria de capa
da fotografia um
profissional precisa
investir alto para ter
uma teleobjetiva
Petr Simon
14 Fotografe 304
Ueslei Marcelino/Reuters
Detalhe dos dentes do cubano Julio La Cruz, medalha de ouro no boxe na Olimpíada de Tóquio
Saiba usar as
teleobjetivas
Confira dicas de especialistas de diferentes áreas, que
ainda comentam sobre a importância dessas lentes longas
e sua relação com elas no trabalho que realizam
POr Sérgio Branco
Fotografe 304 15
Beto Oliveira
Acredito que primeiras partidas sentiu muita na distância focal mínima. Então,
uma tele possa dificuldade para conseguir um bom faça a foto e se surpreenda com
ser um bom a enquadramento e colocar a bola uma perspectiva e uma estética
dentro do fotograma. “Parecia muito completamente nova sobre o que
diferencial para ‘apertado’ e demorei um pouco para você fotografou”, ensina ele.
que o fotógrafo me acostumar”, comenta. Ueslei Marcelino faz de tudo
trabalhe de Com a prática, foi pegando um pouco com a tele para a agência
forma mais o jeito de usar a tele e hoje Reuters: cobre o dia a dia da política
criativa ao acredita que esse tipo de lente em Brasília (que sem esse tipo de
é fundamental para qualquer lente seria quase impossível), viaja
compor a cena"
segmento da fotografia. Ele explica para diversos pontos do Brasil e
Ueslei Marcelino que, pelo tamanho, considerava mesmo do exterior para reportagens
que a teleobjetiva só era útil para diversas e, claro, vai para quadras,
coisas que estavam muito longe. pistas e gramados em busca de
“Acho que muita gente pensou impactantes imagens de esporte
ou pensa assim. Mas você pode e – fez uma elogiadíssima cobertura
No alto, Ueslei deve usá-la em todas as distâncias. dos Jogos Olímpicos de Tóquio
Marcelino com Experimente fazer um close de em 2021, por exemplo. Para ele, a
sua supertele de uma pessoa ou objeto na distância teleobjetiva gera um efeito estético
600 mm cobrindo focal mínima. Encoste a lente no que ele aprecia muito. “Acredito que
o Kuarup 2021 em que você quer fotografar e vá se é um bom atrativo nesse mundo de
aldeia do Xingu, afastando, tentando o foco. Quando milhões de imagens em que vivemos.
no Mato Grosso a lente conseguir focar, você está Ela oferece um recurso técnico no
16 Fotografe 304
Ueslei Marcelino/Reuters
Presidente
Bolsonaro com
óculos de visão
noturna: sem uma
tele, a cobertura
de política em
Brasília (DF) seria
quase impossível
mínimo diferente. Além disso, você tem o fato de Marcelino ensina que o uso de uma
poder aproximar e mudar a relação dos planos teleobjetiva exige adaptação e que é
fotografados, deixando algo maior ou mais
preciso treinar para dominá-la
evidente”, afirma.
A velha 300 mm f/2.8 que custou um carro
foi trocada por superteles poderosas, a 600 mm
f/4 e a 400 mm f/2.8, que ele usa com bastante Na hora de fotografar, o conselho é ir com
frequência. Mas Marcelino acalenta um ousado calma, pois, segundo ele, “é outro planeta”.
sonho de consumo: “Queria ter a 1.200 mm Pontua que a tele exige uma nova relação com o
f/5.6, lente raríssima, com poucas unidades no jeito de fotografar, já que é maior, mais pesada
planeta, pois são feitas sob encomenda”, diz. De e é preciso ter cuidado ao se movimentar.
volta à realidade, ele dá suas dicas para quem “Você vai enxergar tudo mais fechado no
busca a primeira tele: “Para começar, sugiro a visor da câmera, vai parecer que você deu um
compra de um bom monopé. Existem marcas zoom automático no enquadramento. Por
boas no mercado e o ideal é ter um pequeno, isso, demora um pouco mais para entender os
leve e resistente. Modelos em fibra de carbono espaços e se posicionar na distância ideal para
são ótimos”, comenta. Lembra que é sempre ter tudo o que você quer dentro do quadro”,
prudente não usar tele sob chuva, mesmo as que ensina. Como exercício de adaptação, ele
dizem ter proteção contra entrada de água: “É propõe sair sem compromisso e fotografar
uma proteção pequena, portanto, recomendo o durante algumas horas apenas com a tele. Por
uso de capas protetoras. Existem vários modelos último: criar uma meta e se desafiar a usar a
que apenas ‘vestem’ o equipamento e o protege lente cada vez mais. “E, quando alcançar a meta,
de danos, riscos, chuva, sol e até quedas”, explica. dobre a meta”, afirma.
Fotografe 304 17
Fotos: Araquém Alcântara
A primeira onça fotografada por Araquém foi em 1980 com uma Takumar de 200 mm de rosca
Tele na mão Ele conta que sua primeira tele foi uma
Com o avanço da tecnologia, as Takumar 200 mm de rosca que usava em uma
teleobjetivas passaram a ter conjuntos de câmera SLR Pentax Spotmatic. “Com essa
elementos ópticos cada vez mais aprimorados, Takumar, fotografei meus primeiros bichos,
foco automático cada vez mais rápido e inclusive a primeira onça, em janeiro de 1980,
sistemas de estabilização cada vez mais no Igarapé do Guedes, em Manacapuru, no
eficientes. Mas houve um tempo Amazonas. Dá para imaginar a
em que elas eram usadas na mão, Onça-pintada: dificuldade para trocar as lentes
sem qualquer artifício automático a teleobjetiva é naquela época? Era um tempo
para foco ou estabilização, como fundamental para sofrido o que se levava para
lembra Araquém Alcântara, quem fotografa vida rosquear as lentes no corpo da
mestre em fotografia de natureza, selvagem, como câmera...”, comenta.
vida selvagem e meio ambiente. Araquém Alcântara Araquém explica que as
18 Fotografe 304
Com autofoco
rápido e sistema
de estabilização
ficou muito mais
fácil usar uma lente
longa, mas quando
comecei era tudo
no manual, um
grande desafio"
Araquém Alcântara
Sussuarana captada
no Rio Araguaia, na
divisa entre Goiás e
Tocantins, em 2013
Fotografe 304 19
Fotos de aves, como a deste tucano-
-da-montanha-de-peito-cinza,
exigem que o fotógrafo tenha uma
boa teleobjetiva acima de 300 mm
20 Fotografe 304
Socó-boi registrado por
Linhares com sua Canon
100-400 mm f/4.5-5.6
Supertele, o desafio
Quanto maior a distância focal, mais fechado lente comum: não é o corpo que segura o
fica o enquadramento e mais seletivo se conjunto, mas sim a objetiva. Por isso, se
torna o olhar. Isso é muito difundido, mas o usar um monopé ou tripé, é preciso prendê-
que não se diz tanto é que a partir de 400 mm lo no corpo da lente, que tem um encaixe
(categoria das superteles) é difícil usar todo para isso, e não na câmera. E qualquer tele
o potencial da lente. O primeiro problema precisa ser empunhada corretamente, com
pode parecer estúpido, mas é bem real: a a mão esquerda a “abraçá-la” por baixo, de
dificuldade em localizar o tema. Com uma forma a mantê-la firme. Lentes mais pesadas,
400 mm, até dá, mas com a 600 mm alguns quando usadas na mão, podem ser seguradas
podem levar um bom tempo para encontrar a pela alça onde se prende o monopé (ou tripé),
garça que voa logo acima no céu. Quando as ponto já estudado pelo fabricante como de
dificuldades de campo reduzido se associam maior equilíbrio do conjunto.
à luminosidade limitada e à lentidão do Dica final: com uma tele na mão, não
autofoco (ou à falta de precisão do fotógrafo tendo ela estabilizador de imagem, fique
no foco manual), manusear uma 600 mm atento para que a velocidade seja, no mínimo,
pode ser um verdadeiro calvário, sem falar do próxima à distância focal usada. Ou seja: na
peso (em torno de 6 kg). 135 mm, no mínimo 1/125s; na 200 mm,
Além disso, as superteles foram 1/180s; na 300 mm, 1/250s, e assim por
concebidas para fotografar temas bem diante. Isso evita imagens tremidas, o grande
afastados, não servem para distâncias problema no uso da teleobjetiva.
curtas. Parece óbvio, mas Shutterstock
quantas vezes o tema não
cabe no visor por estar perto
demais? Há poucas lentes
boas alcançando de 400 mm
a 600 mm e são caríssimas.
A abertura máxima é f/4, já
que é inviável fabricar uma
f/2.8, que seria muito grande
e com um preço absurdo.
A câmera equipada
com teles de 300 mm a 600
mm não é carregada do
mesmo jeito que com uma
Fotografe 304 21
Saíra-douradinha
fotografada por
Godoy com a Canon
100-400 mm
Fotojornalismo e moda
William Volcov é fundador
da Brazil Photo Press ao lado da
parceira e também fotógrafa Vanessa
Carvalho. Radicado em Nova York,
o fotojornalista também atua em
cobertura de grandes desfiles de
Beija-flor denominado besourinho-de-bico-vermelho moda, área em que a teleobjetiva
22 Fotografe 304
Detalhe
de modelo
durante desfile
na São Paulo
Fashion Week;
abaixo, a top
model Gisele
Bündchen
Fotos: William Volcov
Fotografe 304 23
Usei muito a Sigma 150-500 mm, que
era escura, mas me ajudou muito no
começo de carreira pela versatilidade
das distâncias focais que oferecia"
William Volcov
24 Fotografe 304
Eu gosto muito
de lentes do tipo
telezoom, como
a já clássica
70-200 mm
ou a ótima
200-400 mm,
por conta da
versatilidade"
Bruna Prado
Detalhe das
manifestações de
2013 feito com a
70-200 mm f/2.8
Estabilização de imagem
O recurso da estabilização de imagem está em perfil, com o obturador em 1/4s), o
presente em uma variedade de lentes para borrado continuará visível na foto. Mas, se o
DSLR e mirrorless. Cada marca o denomina sujeito for estático, assim ele permanecerá.
de maneira diferente: IS (Canon), VR (Nikon), A estabilização óptica na lente foi
SteadyShot (Sony), Mega O.I.S. (Panasonic introduzida ainda na era do filme, com a
e Leica), IBIS (Olympus), SR (Pentax), OS compacta Nikon Zoom 700 VR em 1994.
(Sigma) e VC (Tamron). O objetivo é um só: No ano seguinte, a Canon criou a primeira
compensar vibrações na câmera e na lente, objetiva de SLR estabilizada, a EF 75-
permitindo o uso de exposições mais longas -300 mm f/4-5.6 IS USM. Inicialmente era
sem registrar tremores nas fotos. Isso é possível uma estabilização da ordem de dois
importante nas distâncias focais longas pontos (dobrando o tempo de exposição).
(teleobjetivas), close-ups (objetos pequenos Atualmente, estabilização de quatro ou
vistos de perto) e com qualquer lente em cinco pontos são comuns.
situações de pouca luz em que não se deseje Importante: a estabilização não é
usar o flash. necessária quando a câmera está montada
Cabe aqui não fazer confusão: a em tripé. O sistema poderá gerar vibrações
estabilização não visa congelar qualquer na tentativa de estabilizar o que já está
movimento. Se parado. As lentes
a imagem incluir de DSLR mais
objetos móveis modernas detectam
que normalmente automaticamente se
sairiam borrados estão montadas em
(por exemplo, uma tripés e desativam a
pessoa caminhando estabilização.
Fotos: Bruno Stuckert
26 Fotografe 304
O que as teles têm
√ manual
Foco automático com opção
instantânea – Lentes para
uma chave que limita o foco a uma faixa de
distância mais longa.
uso profissional permitem manter o
autofoco permanentemente ativado e
reajustar o foco com a mão a qualquer √ podem
Trava de zoom – Algumas objetivas
alongar o zoom sozinhas quando
momento, sem ser necessário desligar o apontadas para baixo e encurtar quando
AF por meio de uma chavinha, como é o apontadas para cima por conta da força
usual nas lentes mais básicas. da gravidade sobre seu peso. Essa falha
desagradável é apelidada de "zoom
Shutterstock
Fotografe 304 27
O monopé é um acessório
fundamental para o uso de
teles acima de 300 mm
Mitos e verdades
O fotógrafo francês Laurent Guerinaud,
que colaborou vários anos com Fotografe e
é autor da coleção de livros Fotografia Fácil,
esclarece dois mitos em relação ao uso de
teleobjetiva: a afirmação de que uma grande
angular oferece profundidade de campo maior
e que a lente longa “esmaga a perspectiva”. São
conceitos técnicos errados que se espalharam
como fake news no mundo da fotografia.
Primeiro: a profundidade de campo não muda
com a distância focal, mas sim com a abertura
Ao lado, a imagem
em corte de uma
200-400 mm f/4
da Canon mostra a
complexidade do
conjunto óptico
de uma telezoom;
abaixo, a diferença
de projeto da zoom
para o da tele fixa
Canon EF 200-400mm f/4L IS USM + Extender 1.4x Canon EF 400mm f/4 DO IS USM
28 Fotografe 304
Petr Simon
A distância
focal das
teleobjetivas
não influencia
na profundidade
de campo nem
na perspectiva;
outros fatores
são a causa
Por ter menos
elementos ópticos no
seu projeto, a tele fixa
é em geral melhor
que a zoom
Petr Simon
30 Fotografe 304
William Volcov
planos distintos. “Portanto, uma f/2.8 aproveita-se uma visão muito O fundo bem
teleobjetiva é uma ótima solução clara que facilita o enquadramento desfocado é uma
sempre que a meta for fotografar e o foco, tanto manual quanto característica do
um tema com fundo afastado automático, até em condições de uso de teles com
demais ou pequeno demais”, diz ele. iluminação difíceis, já que a câmera aberturas amplas,
Outra polêmica envolvendo sempre usa a abertura máxima da como se observa
teles, afirma Guerinaud, é sobre lente para a imagem mostrada no na foto acima
a qualidade da fixa em relação à visor e a medição do foco. Tem mais:
zoom. Ele esclarece que, embora lentes com diafragmas mais amplos
seja mais versátil, a zoom, por ter também são geralmente de alta
mais elementos ópticos na sua qualidade óptica.
composição, costuma perder para a Segundo ele, usa-se uma
fixa tanto em termos de qualidade tele não só para se aproximar de Se o fotógrafo
óptica quanto de abertura máxima maneira artificial das cenas a serem tiver condições
e de distorção. “Para quem tem a fotografadas, mas também para
financeiras, é
possibilidade de usar uma tele de alcançar um enquadramento mais
distância focal fixa, o conselho é seletivo. O principal objetivo é focar mais vantajoso
sempre optar por ela em vez da a atenção do observador no tema, o ter uma tele fixa
zoom”, argumenta ele, que lembra que o fotógrafo consegue ao fechar luminosa do
ainda que são consideradas teles o enquadramento e também ao que uma com
lentes a partir de 135 mm. reduzir a profundidade de campo. zoom, apesar da
Quanto à “claridade” das teles, O resultado é um tema isolado que
ou seja, sua abertura máxima, ele se destaca perfeitamente do fundo
versatilidade"
explica que com uma abertura qualquer que seja o contexto. Laurent Guerinaud
Fotografe 304 31
Aula com Brasilio A importância do
equilíbrio de branco
V ocê já percebeu que, algumas vezes, fotos feitas no mesmo lugar podem
sair com cores diferentes? Às vezes mais azuladas e em outras com
tons amarelados? Isso ocorre por causa da imprecisão do ajuste do equilíbrio
de branco (white balance) na câmera e principalmente no uso do ajuste de WB
automático (AWB), que neutraliza automaticamente qualquer excesso de cor.
Cada fonte de luz tem sua cor natural e a câmera precisa se ajustar a ela, seja
de forma automática, com pré-ajustes ou de modo personalizado. Segundo
o fotógrafo Brasilio Wille, entender o gerenciamento de cor da câmera é
fundamental para corrigir problemas de variações de tons, principalmente em
uma mesma sequência de fotos para que fiquem com uniformidade visual.
Para Brasilio Wille, uma fotografia bem feita é basicamente um registro da
luminosidade (da quantidade de luz e seu efeito), da frequência da luz (a cor da
luz) e da composição (corte da cena). Isso tudo faz o observador se encantar
visualmente por uma imagem. Desses três parâmetros, a cor representa um
elemento muito forte e característico para diversas situações no relacionamento
32 Fotografe 304
das pessoas com o mundo. Nas câmeras Filtragem RGB O perfil neutro
profissionais, bem como em smartphones Curiosamente, as tem temperatura
avançados, o modo profissional (M) traz o câmeras não “enxergam” de cor de 5500K
ajuste de cores personalizado. Essa função está o mundo colorido, ou seja, e, a partir dele,
distribuída em menus diferentes (Espaço de não fotografam em cores, é possível
Cor, Estilo de Imagem e White Balance) e muda e sim em preto e branco esquentar ou
conforme a marca e o modelo de equipamento. com filtragem em RGB: esfriar os tons
Red (vermelho), Green
(verde) e Blue (azul). Wille explica que as cores
Desvio para azulado vistas no monitor, na tela do computador e na
foto impressa são fruto de uma recomposição
da cor da câmera. Segundo ele, o mundo real
tem mais de um trilhão de cores, mas os olhos
humanos podem enxergar uma média de até 12
milhões. Já a câmera, conforme característica
de profundidade de bits, pode chegar a igualar
ou registrar muito mais que isso quando usado
o formato RAW de arquivo. Mas para conseguir
visualizar tudo isso é necessário recursos de
conversão da cor por meio de uma cadeia de
ajustes na câmera e no computador.
Estilo/Controle da Imagem
É um menu com perfil pré-ajustado de
situações cotidianas que você pode escolher na
lista disponível na câmera, como o Automático,
Fotografe 304 33
O modo
Personalizado de
white balance é
fundamental para
fundo branco
O ajuste correto Standard, Retrato, resolver isso, Wille afirma que o ideal é deixar
do equilíbrio Paisagem, Neutro, no modo Neutro ou Standard para depois
de branco evita Fiel, Monocromático, fazer a correção em um editor de RAW, já que
uma série de Personalizado... usando sempre o mesmo padrão as edições e
distorções no Esses modos fazem o os presets irão funcionar.
espaço de cor gerenciamento de como
dos arquivos os tons de cinza serão White Balance
compostos, implicando em O modo personalizado de equilíbrio de
deixar as tonalidades mais ou menos intensas branco (consulte o manual da sua câmera)é
em determinadas cores na imagem final. Wille o mais recomendado pelo especialista, pois
explica que o modo Paisagem, por exemplo, vai determinar o modo mais neutro (5500K)
aplica uma intensidade de azul (para valorizar o das cores no ambiente (equivalente à luz do
céu) e verde (para ressaltar temas como grama, Sol às 10h). O processo é muito simples e
árvores, plantas) acima da vale para todos os tipos de
média na imagem. equipamento: ajuste o modo
Já o modo retrato Personalizado no menu da sua
reforça um pouco mais câmera; em seguida, pegue
o vermelho porque uma folha de papel branco
simplesmente a maioria (sulfite) ou use uma parede
das câmeras foi projetada branca ou mesmo um cartão
por asiáticos, que têm a cinza. No ambiente da sessão
pele mais amarelada e, de fotos, diante da luz que
consequentemente, a pele será usada, faça uma foto da
nesse ajuste resultará
em uma aparência mais
alaranjada, o que pode Os modos padronizados
ser estranho para os de white balance que são
caucasianos, gerando uma oferecidos na maior parte
pele muito vermelha. Para das câmeras digitais
34 Fotografe 304
Acima, um cartão
cinza, usado para
ajustar o modo
Personalizado;
ao lado, menus
de Canon e Nikon
para a escolha
dos modos de
white balance
referência escolhida (folha de papel, parede formato. Ou seja, nem sempre tudo precisa ser
branca ou cartão cinza). Depois, vá ao menu da tecnicamente certo. Para fazer isso no programa
câmera, selecione WB Personalizado e proceda de edição, basta aumentar a temperatura de cor
a calibração como é indicado no manual. A (acima de 6000K, mais alaranjado) ou diminuir
câmera processará a última foto feita como (abaixo de 3000K, mais azulado).
referência, ajustando o white balance
para a situação de luz do ambiente.
Esse procedimento é muito O white balance
importante, principalmente quando Personalizado
se fotografa em fundo branco, gera uma
evitando assim que exista uma reprodução mais
invasão de cores no fundo. O ajuste fiel de cores
correto evita distorção de cores
e ao mesmo tempo é aplicado
automaticamente em todas as outras
fotos, colocando todas no padrão.
Wille explica que, mesmo que
você tenha feito a captura da foto
errada para o WB Personalizado, é
possível fazer o ajuste do balanço
de branco depois, na edição, tanto
em formato RAW quanto em outro
Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
de técnicas simples e práticas em cursos e do YouTube (41) 99943-0607
workshops presenciais ou online. Fotografe
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(informações
35
Nu & sensual
Olhar
Por Livia Capeli
intuitivo
Fernando De Santis, de 42 anos, via
os ensaios realizados por Bob Wolfenson e
JR Duran na extinta revista Playboy e, apesar
de achar tudo muito bacana, acreditava que
toda aquela produção em locações exóticas
com celebridades ou musas exuberantes era
O fotógrafo algo inacessível para a realidade da maioria
dos fotógrafos. Foi então que ele descobriu a
paulistano Fernando revista Trip, que mostrava mulheres sem fama
De Santis produz em cenários do cotidiano, como apartamentos,
com iluminação natural e produção mais sóbria,
ensaios sensuais para e o mais interessante: os ensaios também eram
assinados pelos competentes fotógrafos da
mulheres de diversas Playboy. Percebeu que esse tipo de produção
faixas etárias e mais casual, muito mais acessível, poderia ser
feita por ele com os recursos que tinha.
aposta em locações O paulistano De Santis conta que aprendeu
que façam as clientes a fotografar por conta própria, comprando
livros, apostilas e lendo dicas na Fotografe.
se sentirem em casa Depois que começou a fazer fotos de
sensualidade feminina, percebeu que precisava
se aperfeiçoar e realizou cursos de direção
com a fotógrafa Fernanda Preto, de retratos
36 Fotografe 304
O fotógrafo admirava
os ensaios da revista
Playboy, mas acabou
se inspirando na
revista Trip
Fotos: Fernando De Santis
com Bob Wolfenson e de iluminação com da própria cliente ou em imóveis alugados por
Renato Rocha Miranda. Como profissional, meio do aplicativo Airbnb. Entretanto, não se
ele trabalha com ensaios de nu e sensualidade restringe a esses espaço: também gosta de
desde 2013. Não tem estúdio e costuma fotografar em parques, na praia, em ruas e até
produzir as sessões em casas e apartamentos em avenidas movimentadas.
Fotografe 304 37
Fotos: Fernando De Santis
De Santis usa tanto luz natural e vai desde a garota que deseja presentear o
quanto flashes; tudo vai depender da parceiro até as que querem massagear o ego.
O especialista explica que é muito comum
iluminação que encontrar no local receber pedidos de clientes indicadas por
psicólogas para que trabalhem a autoestima.
A maioria é de classe média e, por incrível que
Luz natural e flash pareça, muitos maridos e namorados também o
No seu trabalho com ensaios de nu e contratam para fotografar as companheiras. Há
sensualidade, Fernando De Santis explica ainda um nicho que vem crescendo bastante
que usa a intuição e os recursos que estão nesse segmento: o de garotas que vendem suas
disponíveis no momento. “Não sou desses que fotos nuas nas redes sociais para monetização
cravam ‘só uso luz natural’ ou que somente (caso do Close Friends do Instagram).
fotografam com flash. Olho o cenário, penso
na composição e na luz que quero e faço. Se o Questionário
local já tem a luz que imaginei, vou de natural, Quando alguma cliente entra em contato
se não tem, eu utilizo flashes”, explica. para fechar um ensaio, o fotógrafo diz que já
Por fazer muitas sessões em apartamentos, passa uma série de tarefas para ela executar. A
ele trabalha com flashes dedicados com primeira é preencher e enviar um formulário
octaboxes acoplados ou eventualmente, padrão no qual a cliente deverá contar o
rebatendo a iluminação no teto – isso quando motivo da sessão, de quais estilos de fotos
precisa suavizar a iluminação. Os ensaios são mais gosta, se pensa em publicar as fotos ou
realizados com as câmeras Nikon D810 e se é algo mais íntimo, de que ela mais gosta e
D610, com lentes fixas Nikkor 16 mm fisheye de que menos gosta no próprio corpo. Ou seja,
f/2.8, 85 mm f/1.8, 24 mm f/1.8 e Sigma Art uma série de perguntas que ajudam a entender
35 mm f/1.4. De Santis conta que o perfil das o perfil da nova cliente.
mulheres que o procuram para realizar os Depois disso, De Santis pede para que
ensaios é bem variado: entre 18 e 65 anos – ela separe referências de fotos de que goste,
38 Fotografe 304
dele ou de outros fotógrafos. Isso
ajuda a entender as preferências
de poses, luz e estilo – se é algo
mais casual, requintado, ousado,
delicado e se gosta da ideia de fotos
totalmente nua. Em seguida, ele
conversa sobre o figurino: o que a
cliente pensa em usar ou não no dia
do ensaio; escuta as vontades dela
e dá sugestões. Também aborda
com ela quais objetos que podem
compor a sessão e contar uma
história, como garrafa de vinho, um
notebook, livros, flores, coisas que
possam trazer a identidade dela
para a sessão de fotos.
O fotógrafo explica que gosta
de realizar sessões que transmitam
a sensação de “estar em casa”,
portanto, a beleza simples do
cotidiano deve ser bem explorada:
“Não faz sentido o estilo mais
relaxado usando maquiagem
pesada, então, a grande maioria
opta por make-up mais neutra, que
elas mesmas resolvem. Porém, há as
que desejam algo mais elaborado.
Nesse caso, indico algumas
profissionais em que confio para Célia, um jeito de me comunicar. Boa parte das
fazer o trabalho”, explica. Então, meu negócio é contar casos, clientes prefere
Por se tratar de ensaios íntimos, perguntar coisas de forma que elas posar usando
De Santis diz que seu acervo se fiquem à vontade e ‘esqueçam’ que lingerie, como
restringe apenas a acessórios, como estão posando em uma sessão de nas fotos acima
camisa, gorro, boné ou itens de fotografia sensual”, comenta. e abaixo
cena, como livros de arte, livros de Durante o ensaio, ele fala
fotografia, instrumentos musicais detalhadamente o que fazer com
(como guitarra), discos de vinil, cada parte do corpo, com as mãos,
CDs, fones de ouvidos... Segundo os cabelos, e como a cliente deve
ele, são objetos que
enriquecem o cenário
e com os quais a cliente
pode interagir.
Direção e poses
Como conversa
com a cliente antes da
sessão, o fotógrafo já tem
algumas informações e
as usa como ferramenta
para puxar assunto e
diminuir a timidez da
pessoa do ensaio. “Herdei
da minha mãe, a dona
Fotografe 304 39
Fotos: Fernando De Santis
O fotógrafo ensina que as poses devem ser pensadas de acordo com o tipo do corpo da cliente
direcionar o olhar. Caso a pose seja meio Algumas poses podem funcionar bem para as
complicada, ele mostra com o próprio corpo. mais magrinhas e não funcionar para as mais
Para De Santis, o mais importante é não deixar gordinhas. O contrário também acontece. Por
surgir um silêncio constrangedor. Assim, ele isso é que vale a pena perguntar de qual parte do
procura falar bastante, contando histórias e corpo a cliente mais gosta e dar ênfase a ela. Ele
incentivando a cliente a contar algo dela. Outro explica que há a questão das poses e dos ângulos
recurso é sempre deixar um fundo musical no que valorizam cada pessoa: se a modelo não é
ambiente. Aliás, essa é uma das tarefas que alta, um enquadramento em contra-mergulho (de
passa para as clientes antes do ensaio: pensar baixo para cima) a deixará mais imponente. Poses
em uma playlist para tocar no dia da sessão. deitadas ou em pé deixam a barriga mais chapada;
Em relação às poses, Fernando De Santis se a cliente estiver em pé, sem salto, ficar na ponta
é bastante realista: cada corpo e cada objetivo dos pés ajuda a definir os músculos das pernas e
são diferentes e devem ser respeitados. dos glúteos, além de alongar a silhueta.
40 Fotografe 304
fotografia social O retrato é uma das
vertentes do trabalho
da fotógrafa, que
também faz imagens
corporativas
Olhar afroafetivo
A carioca Gabriella Maria montou seu negócio
com foco em retratos voltados para famílias
afrodescendentes em prol da representatividade
Por Livia Capeli
42 Fotografe 304
Segundo o IBGE, o
Brasil tem 56% de
afrodescendentes
na sua população,
mas isso tem
pouca visibilidade
na fotografia
em geral e no
portfólio dos
fotógrafos".
Gabriella Maria
De ensaio de noivos
(ao lado) a fotos
Fotos: Gabriella Maria
de família (abaixo),
Gabriella conquista
seu nicho no mercado
Fotografe 304 43
Ensaios com gestantes
fazem parte dos serviços
oferecidos pela Afroafeto
denominado Afroafeto, uma resposta ao que ela que qualquer outro meio. “Quando fotografo
gostaria de ver em um trabalho de fotografia para uma família negra longe do estereótipo de
afrodescendentes. “Quando me autodenomino pobreza ou registro uma criança negra vivendo
Afroafeto e disponibilizo no meu portfólio fotos a infância como qualquer outra criança, quando
majoritariamente de pessoas negras, já há um clico homens e mulheres de pele preta em
filtro do tipo de cliente que vai me procurar ou total individualidade e subjetividade, firmo o
contratar. Acaba por ser uma proteção para mim, meu compromisso de plantar no imaginário de
e a chance de que eu ouça a pergunta: ‘quem é quem vê meu trabalho que existem realidades
a fotógrafa?', mesmo estando com a câmera na muito diferentes das que são sempre
mão, diminui drasticamente”, diz. atribuídas à população negra”, afirma.
Mesmo durante os dois anos atribulados
Mercado e oportunidades pela pandemia, a fotógrafa afirma que o
Gabi explica que trabalhar com o público projeto Afroafeto tem rendido bastante
negro significa para ela responsabilidade e satisfação. Tem conseguido bastante trabalho,
compromisso, principalmente na parte de participado de exposições e feito capas de CDs
construção de memória.
Ela acredita que a Retratar a beleza da
fotografia tem o poder mulher negra é um dos
de comunicar e fixar objetivos da fotógrafa
conceitos mais rápido em seus ensaios
44 Fotografe 304
Fotos: Gabriella Maria
e singles de cantores como Jéssica Por não ter estúdio próprio, Gabi Acima, uma
Ellen, Bia Ferreira, Mc Carol, Afra já chegou a fazer sessões na sala de imagem de
de Sousa e Matheus Teixeira. casa, e por conta da demanda algumas documental de
Foi ainda finalista do concurso vezes a fotógrafa aluga espaços família e, abaixo, a
internacional Maternity Photo profissionais na zona sul ou norte do fotógrafa carioca
Awards e teve fotos participando Rio de Janeiro (RJ), com estrutura e Gabriella Maria
do e-book Diálogos Insubmissos, que equipamentos. Ela também produz
reúne ensaios com mulheres negras muita coisa em locações externas
em tempos de isolamento social. “Se ou na casa do cliente quando faz
considerar que venho de um lugar documental de família. Como
sem tradição na fotografia, com equipamento, tem uma Nikon D750
apenas quatro anos de carreira, com lentes fixas: 35 mm f/1.8, 50 mm
acredito que fui muito bem acolhida f/1.8 e 85 mm f/1.8. Para iluminar, dois
no meio”, afirma Gabi. flashes TTL compactos e um flash a
Para se preparar, ela fez bateria Godox Ad200, principalmente
diversos cursos livres, do iniciante para produções em externa.
ao avançado, com fotógrafas de A fotógrafa explica que, quando as
renome. Bruna Prado abriu-lhe o sessões ocorrem em estúdio, prefere
universo da iluminação com flash e a oferecer pacotes a partir de 30 fotos,
oficina de olhar humanista com Nana sendo possível adquirir imagens
Moraes a ajudou muito na carreira. extras. Já no trabalho documental, no Considerando
Para entender o mundo infantil e a qual há uma história a ser contada, que tenho
fotografia como negócio, procurou ela prefere não delimitar quantidade
somente
a ajuda de Nina Stanis. E, apesar específica de imagens e entrega o
de não ter tido a oportunidade de que for necessário e coerente com a quatro anos de
fazer um curso presencial com o narrativa do registro. Para divulgar carreira, acho
saudoso fotógrafo Januário Garcia o trabalho, ela usa seu site e as redes que a Afroafeto
(1943-2021), aprendeu com ele, em sociais – mas a maioria dos clientes encontrou
palestras online e lives, seu processo chega por indicação, comenta. seu espaço no
criativo e seu compromisso com a Para conhecer o trabalho dela,
fotografia documental na história de acesse www.afroafeto.com.br ou o
mercado"
pessoas negras. Instagram @afroafeto. Gabriella Maria
Fotografe 304 45
Fotojornalismo
Páginas de pandemia
Repórter fotográfico do Rio transforma sua
experiência na cobertura da mais grave crise
sanitária do século 21 em livro documental
Por Erbs Jr.
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O livro Vidas
Importam é um
documento de dois
anos de pandemia
no Brasil
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Fotos: Erbs Jr.
Acima, solidariedade
para alimentar
pessoas em situação
de rua no começo da
pandemia; ao lado, a
oração para doentes
no Hospital Carlos
Chagas, no Rio
estava em um daqueles quartos, resolveram de saúde nas alas destinadas aos doentes de
clamar pela ajuda divina. Elas me permitiram covid-19. No Hospital Universitário Clementino
fotografar, mas sem identificá-las. Ao final, Fraga, da Universidade Federal do Rio de
uma delas pediu para orar por mim. Naquele Janeiro (UFRJ), vi de perto a angústia dos muitos
momento, toda frieza que marca o jornalismo intubados e dos que ocupavam um leito de UTI
desapareceu. Fechei os olhos e tive um momento em plenas condições de consciência.
de conforto em um dia doloroso. Conheci histórias como a de Maria Vanessa
Lima de Araújo, 30 anos, que na reta final da
Profissionais de saúde gravidez foi diagnosticada com a covid-19 em
Fazer fotojornalismo como freelancer um estágio avançado e precisou passar por uma
requeria um trabalho intenso de apuração e cesariana de emergência para dar à luz Tainá.
busca por pautas relevantes que retratassem Mãe e filha foram separadas após o parto e Maria
o real cenário da pandemia. Com isso, desde o Vanessa seguiu para o Centro de Tratamento
início tentei fotografar a rotina dos profissionais Intensivo (CTI), onde ficou três dos 19 dias
48 Fotografe 304
O autor
Carlos Erbs dos Santos Junior,
conhecido como Erbs Jr. no meio
do fotojornalismo, é formado em
Jornalismo pela Universidade
Estácio de Sá, com especialização
em História do Brasil Pós-
-1930 pela Universidade Federal
Fluminense. Desde 2012
se dedica exclusivamente à
fotografia como freelancer com
trabalhos realizados para Folha
de S.Paulo, Metro Internacional
e agências de notícias Folha
Press, Frame Photo e AGIF. Tem
imagens publicadas em várias
edições do livro O Melhor do
Fotojornalismo Brasileiro,
inclusive a de 2020.
Fotografe 304 49
lados da história, me arrisquei
na cobertura dos mais diversos
protestos e manifestações, de
carreatas a “motociatas”, modalidade
de ato preferida do presidente Jair
Bolsonaro, que sempre descumpriu
todas as recomendações da
Organização Mundial da Saúde para
controle da pandemia.
A chegada das vacinas ao
Brasil foi o momento de uma
emoção diferente e de esperança
da cobertura. Não fotografei a
primeira pessoa vacinada com
Coronavac no Rio de Janeiro, mas
documentei as primeiras aplicações
da Astrazeneca, produzida pela
Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz)
– na ocasião, registrei uma pessoa
que passou a frequentar quase que
diariamente o noticiário nacional, a
infectologista Margareth Dalcomo.
Apesar dos momentos de dor
da perda de colegas de profissão, de
pessoas próximas e de personalidades
que admiro, ficarei com as boas
lembranças de tudo que foi vivido
e registrado. Cada dia que saí à
rua sei que corri riscos. Mas tinha
sempre em mente que, mesmo que
aquela fosse a última pauta, um dia
teria relevância. Não para mim, mas
para as futuras gerações que um dia
estudarão e tentarão entender como
administramos o “novo normal”, de
Fotos: Erbs Jr.
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