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Fotografe

A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

fotografemelhor.com.br
n0 304 | Ano 26

Como usar a
TELEOBJETIVA
• VIDA SELVAGEM • BIRDWATCHING • ESPORTES
• FOTOJORNALISMO • MODA • FOTOGRAFIA SOCIAL
Ueslei Marcelino/Reuters
editorial

14
Ano 26
Edição 304

Foto de capa:
Petr Simon

M inha primeira tele foi uma Vivitar 80-300 mm bem escura, f/5.6-6.3, de segunda
mão – era o que meu dinheiro podia comprar na época. Branca como as USM
da Canon, então sonho de consumo, em vez de protegido por um metal resistente, o
conjunto óptico se alojava em um tubo de plástico de alto impacto – portanto, era leve.
Tinha foco automático, mas a nitidez deixava a desejar. Com ela, fotografei muito, inclusive
a posse do presidente Eduardo Duhalde na Argentina em 2002 – estava em Buenos Aires
a passeio, em um hotel pertinho do congresso, e quando me viram
com aquela baita lente me deixaram passar e ficar nas grades, a
cerca de 100 metros do palanque. Acabei vendendo-a para um
conhecido e passei a usar uma Sigma 100-400 mm, f/4-5.6, com a
qual também me diverti muito. Ter uma tele é muito importante em
qualquer equipamento, como você verá nesta edição. Boa leitura.

Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
branco@europanet.com.br

Equipe de redação modelo 2022


Denise Camargo (revisora), Izabel Donaire
(editora de arte), Livia Capeli (colaboradora

sumário
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
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revele-se

Beijo da vida
O beija-flor é um pássaro da família biológica Trochilidae,
composta de cerca de 360 espécies que podem ser encontradas
no continente americano desde a Terra do Fogo, no extremo
sul, ao Alasca, no extremo norte. A maioria se concentra na Ficha técnica
região tropical, caso de todo o território brasileiro. E um deles foi Autor: Marcelo Messias
sugar o néctar de uma flor na casa do gaúcho Marcelo Messias, Cidade: Porto Alegre (RS)
servidor da Defensoria Pública do Estado que fotografa há 20 Câmera: Canon EOS 7D Mark II
anos. Com uma poderosa telezoom, ele conseguiu uma imagem Objetiva: Sigma 150-600 mm
do nível dos grandes profissionais especializados em aves: o Exposição: f/8, 1/2.000s e ISO 1.000
momento do beijo que dá nome ao pequeno pássaro.

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Pintura impressionista
Surgido na França no século 19, em plena Belle Époque, o
impressionismo foi rechaçado pelos conservadores. Tem
como característica pinceladas que deixam relevo na tela, um
trabalho de luz e sombra para chegar a uma representação Ficha técnica
autoral da realidade, negligenciando a forma para privilegiar Autor: Sergio Tani
a cor – Claude Monet é a principal referência. E não é que o Cidade: Capela do Alto (SP)
fotógrafo Sergio Tani deparou-se com uma verdadeira obra Câmera: Nikon D300
de arte feita pela natureza no sítio onde mora? Líquens sobre Objetiva: Nikkor 20 mm
a tela de uma estufa se transformaram em um jardim com Exposição: f/5, 1/125s e ISO 800
pinceladas impressionistas graças ao olhar de Tani.

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informe nome, telefone, ficha da foto (equipamento, dados técnicos...) e faça um breve relato sobre as imagens.

Fotografe 304 5
Marcos Sanchez
Concursos & Prêmios

A imagem Occupied Windows, uma colagem de 96 janelas de um prédio ocupado

Os premiados da Bienal
em Cores de Londrina
M arcos Sanchez (ABCclick), com a imagem Occupied Windows, foi o grande
vencedor da XXII Bienal de Arte Fotográfica Brasileira em Cores da
Confederação Brasileira de Fotografia (Confoto), organizada em dezembro de 2021
pelo Foto Clube de Londrina (PR) como parte das comemorações do cinquentenário
da fundação. Sanchez levou a medalha de ouro para o fotoclube de São Caetano do
Sul (SP), mas no cômputo geral o primeiro lugar em pontos ficou com o Clube do
Fotógrafo de Caxias do Sul (RS), que ainda teve Basílio Marchetto, com a imagem
Drizzler, como medalha de prata da Bienal. O ABCclick ficou apenas 3 pontos atrás do
fotoclube gaúcho e 7 à frente do Salvador Foto Clube, terceiro lugar no geral e que
teve Cesare Simioni, com a foto Entrando, como medalha de bronze.

O fotógrafo Marcos
Mario Jorge Tavares

Sanchez (último da
esq. para a dir.) ao
lado da esposa na
entrega da medalha
de ouro da Bienal
em Cores e junto
com diretores da
Confoto e do Foto
Clube Londrina

6 Fotografe 304
Basílio Marchetto

Devido à pandemia de covid-19, foram selecionadas 158. Dessas, 20 Acima, a paisagem


o evento de entrega de prêmios foram premiadas (os medalhistas noturna em longa
foi restrito a alguns diretores e mais 17 menções honrosas) exposição que
da Confoto, do Foto Clube de colocadas em exposição até o dia deu a medalha
Londrina e ao fotógrafo medalha 28 de fevereiro de 2022 no Museu de prata a Basílio
de ouro, sendo transmitido ao Histórico de Londrina. A seleção Marchetto;
vivo, via YouTube. No total, 25 foi efetuada por uma comissão abaixo, cena que
fotoclubes participaram da Bienal julgadora de cinco jurados, sendo valeu a medalha
em Cores, que recebeu 1.424 três internacionais (de Argentina, de bronze a
imagens de 358 autores, das quais Indonésia e Macedônia). Cesare Simioni

A Bienal de
Londrina teve
25 fotoclubes
participantes
e o vencedor
na pontuação
geral foi o
Clube do
Fotógrafo de
Caxias do Sul Cesare Simioni

Fotografe 304 7
A cena da noiva
se preparando
com a luminária
Fabio Mirulla

em primeiro
plano deu o
prêmio a Mirulla

Italiano é o fotógrafo
do ano em casamento
O italiano Fabio Mirulla foi o vencedor se arrumar usando uma luminária em primeiro
geral de 2021 do International Wedding plano que parece o vestido dela. O segundo
Photographer of the Year (IWPOTY). Ele captou lugar no geral ficou com a dupla canadense
uma imagem criativa de uma noiva começando a Andrew e Bec, da empresa Willow & Wolf, com
o retrato de um casal de aventureiros
que caminhou a noite toda para chegar
ao topo de uma montanha para ser
fotografado ao nascer do sol, antes de
se casar à tarde.
Mirulla, que mora na Toscana,
superou 414 fotógrafos de 58 países
que enviaram cerca de 1.500 imagens
para nove categorias desse que é
considerado o principal concurso
de fotos de casamento do mundo.
Entre as demais imagens premiadas,
destacaram-se ainda Ken Pak, dos
Andrew e Bec

Noivos fotografados no topo de Estados Unidos, na categoria Pista de


uma montanha ao nascer do Sol Dança, e Mic Panic, da Alemanha, na
categoria Retrato de Casal.
Mic Panic
Ken Pak

As imagens premiadas nas categorias Pista de Dança (à esq.) e Retrato de Casal (à dir.)

8 Fotografe 304
Fotografe 304 9
Túnel do tempo A F2 foi a
sucessora da
lendária Nikon
F e fez sucesso

Nikon F2 Rainha do
fotojornalismo
da redação

G rande novidade em setembro de 1971, a


reflex profissional Nikon F2 rapidamente
conquistou o mercado profissional mundo afora,
Oferecia motor-drive para quatro fotos por
segundo (que também rebobinava o filme) e
um amplo jogo de lentes, que ia da enorme
principalmente o de fotojornalismo. Rápida, fisheye de 6 mm f/2.8 a supertele (com
precisa e durável, chegou ao mercado repleta de espelho) de 2.000 mm f/11. Era montada com
acessórios e um jogo de lentes de alta qualidade. 1.506 componentes, vários produzidos com
Grande e pesada (quase 2 kg com a objetiva metais nobres, como aço inoxidável no flange
normal e motor-drive), tinha um corpo modular e (anel) de encaixe das objetivas e em algumas
o visor destacável. partes do obturador, e titânio, na
A então moderna F2 cortina do obturador.
oferecia uma grande precisão O aperfeiçoamento do obturador
na medição de luz, ótimo e o novo desenho das cortinas de
para os filmes de slides que titânio aumentaram a velocidade
se popularizavam na época. para 1/2.000s e 1/80s para
Ela dispunha de dois visores sincronismo do flash, recorde para
Photomic dotados de excelente a época. Mais espetacular eram
fotômetro TTL
de medição
ponderada central, A Nikon F2
com regulagem de tinha grande
sensibilidade de ASA precisão na
(ISO) de 6 até 6.400. medição de luz

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O modelo foi lançado
em 1971 e ficou no
mercado até 1980,
quando surgiu a F3
Fotos: Arquivo Fotografe

Acima, o modelo todo


preto com motor-drive e,
ao lado, a versão prata

as velocidades lentas de 2s a 10s, inédito em elementos asféricos, a 35 mm f/1.4, a 135 f/2


uma câmera mecânica, produzidas pelo mesmo e a 300 mm f/2.8. E foram lançadas teles com
mecanismo do disparador automático – para zoom poderosas: 180-600 mm e 360-1.200
usá-las era preciso selecionar o modo B (bulb) no mm. As lentes favoritas (e as mais usadas) eram
botão da exposição e a posição “T” no anel junto a 85 mm f/1.8, a 105 mm f/2.5, a 180 mm f/2.8
ao disparador. A múltipla exposição foi outra e as micro (macro) de 55 mm e 135 mm. Os
novidade da F2: acionada pelo mesmo botão teleconversores originais TC-200 (objetivas até
de rebobinar (sob a câmera), mantinha imóvel o 200 mm) e TC 300 (acima de 300 mm) de 2 x e
fotograma enquanto se armava o obturador pela 7 elementos eram os melhores da época.
alavanca de transporte. O reinado da F2 durou até 1980, quando a
Havia para ela uma infinidade de acessórios: Nikon lançou a substituta eletrônica F3 com um
visores de todo tipo, com e sem fotômetro, único modo de exposição automática. Mas ela
estilo capuchão, com lente de aumento de 6x era tão querida que continuou sendo procurada
e “de ação”; oculares de borracha, de ângulo por um bom tempo até perder espaço no
reto e de aumento; corretores de dioptria e mercado para um modelo
até uma iluminação auxiliar para o fotômetro amador, a Nikon FM lança A F2 tinha um
de ponteiro. A remoção do visor (liberado (depois FM2), também de corpo modular
por duas travas) permitia o intercâmbio de funcionamento mecânico em que o visor
19 telas de focalização, todas montadas em e regulagem manual. era destacável
caixilho metálico com lentes de
aumento individuais. A Nikon
ainda produziu alças, manoplas,
mesa de reprodução, cabeças
panorâmicas para tripé, flashes,
para-sóis, filtros, tubos e foles
de extensão, cases para lentes...
Alta qualidade também
era vista nas objetivas: as grandes
angulares profissionais vinham com
elementos flutuantes (para melhorar
a nitidez a curtas distâncias) e as
superteles tinham foco interno e avançados
cristais ED. Entre as objetivas superluminosas
havia a caríssima 50 mm Noct f/1.2 com

Fotografe 304 11
Grande Angular A Tokina 400 mm de
espelho é compacta e tem
abertura máxima f/8

Tele de 400 mm
por US$ 262
A japonesa Tokina anunciou uma versão atualizada
de sua supertele de espelho 400 mm f/8 que
permite que ela seja usada com oito tipos diferentes de
baioneta. A nova lente é construída com seis elementos
em dois grupos, tem distância mínima de foco de 115
cm e rosca de filtro frontal de 67 mm. Ela é totalmente manual
e, usando adaptadores, funciona com os sistemas de câmera
Canon EF, Canon M, Fujifilm X, Micro Four Thirds, Nikon F,
Nikon Z, Pentax K e Sony E-mount. Como é o caso com todas
as lentes de espelho, apresenta um bokeh característico,
considerado menos agradável do que o da óptica convencional,
um porém até aceitável para ter uma supertele barata e relativamente
pequena. O preço sugerido é de US$ 262 no mercado dos EUA.

Genérica
para Fuji
Fotos: Divulgação

A Viltrox, fabricante chinesa de óptica


e acessórios, anunciou a lente autofoco
13 mm f/1.4 para câmeras Fujifilm
da linha X, que oferece um ângulo de
visão próximo a 20 mm. A objetiva fixa
é construída com 14 elementos em
11 grupos e tem distância mínima de
Lente com foco de 22 cm. Usa um motor de passo
(STM) para acionar o mecanismo de
abertura f/0.95 foco interno, conta com diafragma de
9 lâminas e rosca de filtro frontal de 67
A Venus Optics, que vem se destacando mm. Com peso de 420 g, a lente chega
com lançamentos arrojados, anunciou a ao mercado internacional custando
luminosíssima lente Laowa Argus 45 mm cerca de US$ 470.
f/0.95 FF para câmeras mirrorless full frame.
Ela é fabricada com 13 elementos em 9
grupos. O diafragma tem 15 lâminas e a
abertura mínima é de f/16. Com rosca de filtro
frontal de 72 mm, tem uma distância mínima
de focagem de 50 cm. Ela apresenta um anel
de abertura físico que pode ser retirado com
o toque de um botão e conta com design de
foco interno. Está disponível em versões para
baionetas Canon RF, Nikon Z e Sony E por
US$ 799 na loja online da Venus Optics.

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Fotografe 301 13
Em vários segmentos
matéria de capa
da fotografia um
profissional precisa
investir alto para ter
uma teleobjetiva

Petr Simon

De longe com a tele: urso-pardo


de Kamchatka, Rússia, na captura
de salmão em um lago gelado

14 Fotografe 304
Ueslei Marcelino/Reuters
Detalhe dos dentes do cubano Julio La Cruz, medalha de ouro no boxe na Olimpíada de Tóquio

Saiba usar as
teleobjetivas
Confira dicas de especialistas de diferentes áreas, que
ainda comentam sobre a importância dessas lentes longas
e sua relação com elas no trabalho que realizam
POr Sérgio Branco

N a maioria das vezes, quem começa a


fotografar tem à disposição uma lente
zoom básica, como a 18-55 mm, ou uma fixa 50
o sonho se torna realidade em curto ou médio
prazo. Mas, com planejamento financeiro ou
algum sacrifício de outro bem pessoal, muitos
mm. Uma vez inoculado pelo vírus da fotografia, fotógrafos investem nesse tipo de equipamento
o iniciante vislumbra novas lentes e, em grande em busca de espaço no mercado, caso do
parte dos casos, o desejo é direcionado para uma premiado fotojornalista brasiliense Ueslei
teleobjetiva. Por questões de custo-benefício Marcelino, que vendeu um carro para comprar a
e versatilidade, opções com zoom, como 18- primeira 300 mm f/2.8 usada.
-135 mm, 70-200 mm e 70-300 mm, são as mais Marcelino lembra que no início da carreira,
corriqueiras. Na etapa seguinte, dependendo do via fotógrafos mais experientes com poderosas
rumo que o fotógrafo quer tomar, as teleobjetivas teles e imaginava: "Nossa, essa deve ir até a
fixas profissionais, como 300 mm, 400 mm e Lua!". Vender seu precioso Fiat Strada foi a
600 mm, passam a ser um sonho de consumo. saída para ter uma 300 mm para cobrir jogos
Como em geral são bastante caras, nem sempre de futebol. O fotojornalista lembra que nas

Fotografe 304 15
Beto Oliveira

Acredito que primeiras partidas sentiu muita na distância focal mínima. Então,
uma tele possa dificuldade para conseguir um bom faça a foto e se surpreenda com
ser um bom a enquadramento e colocar a bola uma perspectiva e uma estética
dentro do fotograma. “Parecia muito completamente nova sobre o que
diferencial para ‘apertado’ e demorei um pouco para você fotografou”, ensina ele.
que o fotógrafo me acostumar”, comenta. Ueslei Marcelino faz de tudo
trabalhe de Com a prática, foi pegando um pouco com a tele para a agência
forma mais o jeito de usar a tele e hoje Reuters: cobre o dia a dia da política
criativa ao acredita que esse tipo de lente em Brasília (que sem esse tipo de
é fundamental para qualquer lente seria quase impossível), viaja
compor a cena"
segmento da fotografia. Ele explica para diversos pontos do Brasil e
Ueslei Marcelino que, pelo tamanho, considerava mesmo do exterior para reportagens
que a teleobjetiva só era útil para diversas e, claro, vai para quadras,
coisas que estavam muito longe. pistas e gramados em busca de
“Acho que muita gente pensou impactantes imagens de esporte
ou pensa assim. Mas você pode e – fez uma elogiadíssima cobertura
No alto, Ueslei deve usá-la em todas as distâncias. dos Jogos Olímpicos de Tóquio
Marcelino com Experimente fazer um close de em 2021, por exemplo. Para ele, a
sua supertele de uma pessoa ou objeto na distância teleobjetiva gera um efeito estético
600 mm cobrindo focal mínima. Encoste a lente no que ele aprecia muito. “Acredito que
o Kuarup 2021 em que você quer fotografar e vá se é um bom atrativo nesse mundo de
aldeia do Xingu, afastando, tentando o foco. Quando milhões de imagens em que vivemos.
no Mato Grosso a lente conseguir focar, você está Ela oferece um recurso técnico no

16 Fotografe 304
Ueslei Marcelino/Reuters

Presidente
Bolsonaro com
óculos de visão
noturna: sem uma
tele, a cobertura
de política em
Brasília (DF) seria
quase impossível

mínimo diferente. Além disso, você tem o fato de Marcelino ensina que o uso de uma
poder aproximar e mudar a relação dos planos teleobjetiva exige adaptação e que é
fotografados, deixando algo maior ou mais
preciso treinar para dominá-la
evidente”, afirma.
A velha 300 mm f/2.8 que custou um carro
foi trocada por superteles poderosas, a 600 mm
f/4 e a 400 mm f/2.8, que ele usa com bastante Na hora de fotografar, o conselho é ir com
frequência. Mas Marcelino acalenta um ousado calma, pois, segundo ele, “é outro planeta”.
sonho de consumo: “Queria ter a 1.200 mm Pontua que a tele exige uma nova relação com o
f/5.6, lente raríssima, com poucas unidades no jeito de fotografar, já que é maior, mais pesada
planeta, pois são feitas sob encomenda”, diz. De e é preciso ter cuidado ao se movimentar.
volta à realidade, ele dá suas dicas para quem “Você vai enxergar tudo mais fechado no
busca a primeira tele: “Para começar, sugiro a visor da câmera, vai parecer que você deu um
compra de um bom monopé. Existem marcas zoom automático no enquadramento. Por
boas no mercado e o ideal é ter um pequeno, isso, demora um pouco mais para entender os
leve e resistente. Modelos em fibra de carbono espaços e se posicionar na distância ideal para
são ótimos”, comenta. Lembra que é sempre ter tudo o que você quer dentro do quadro”,
prudente não usar tele sob chuva, mesmo as que ensina. Como exercício de adaptação, ele
dizem ter proteção contra entrada de água: “É propõe sair sem compromisso e fotografar
uma proteção pequena, portanto, recomendo o durante algumas horas apenas com a tele. Por
uso de capas protetoras. Existem vários modelos último: criar uma meta e se desafiar a usar a
que apenas ‘vestem’ o equipamento e o protege lente cada vez mais. “E, quando alcançar a meta,
de danos, riscos, chuva, sol e até quedas”, explica. dobre a meta”, afirma.

Fotografe 304 17
Fotos: Araquém Alcântara
A primeira onça fotografada por Araquém foi em 1980 com uma Takumar de 200 mm de rosca

Tele na mão Ele conta que sua primeira tele foi uma
Com o avanço da tecnologia, as Takumar 200 mm de rosca que usava em uma
teleobjetivas passaram a ter conjuntos de câmera SLR Pentax Spotmatic. “Com essa
elementos ópticos cada vez mais aprimorados, Takumar, fotografei meus primeiros bichos,
foco automático cada vez mais rápido e inclusive a primeira onça, em janeiro de 1980,
sistemas de estabilização cada vez mais no Igarapé do Guedes, em Manacapuru, no
eficientes. Mas houve um tempo Amazonas. Dá para imaginar a
em que elas eram usadas na mão, Onça-pintada: dificuldade para trocar as lentes
sem qualquer artifício automático a teleobjetiva é naquela época? Era um tempo
para foco ou estabilização, como fundamental para sofrido o que se levava para
lembra Araquém Alcântara, quem fotografa vida rosquear as lentes no corpo da
mestre em fotografia de natureza, selvagem, como câmera...”, comenta.
vida selvagem e meio ambiente. Araquém Alcântara Araquém explica que as

18 Fotografe 304
Com autofoco
rápido e sistema
de estabilização
ficou muito mais
fácil usar uma lente
longa, mas quando
comecei era tudo
no manual, um
grande desafio"
Araquém Alcântara

Sussuarana captada
no Rio Araguaia, na
divisa entre Goiás e
Tocantins, em 2013

teleobjetivas são fundamentais para quem Kit Passarinheiro


atua no segmento dele por causa do fator de Silvia Faustino Linhares e Ederson Godoy,
aproximação, principalmente para fotografar a leitores de Fotografe que se tornaram
fauna. “Demorei muito tempo para conseguir profissionais, se dedicam ao segmento de
comprar uma 800 mm f/5.6. Depois de alguns natureza, assim como Araquém Alcântara,
anos, achei melhor passar para a 600 mm f/4 da mas em uma especialidade que tem total
Canon, que é ótima, mas muito pesada”, afirma. dependência de teleobjetivas: a fotografia
Conta que gosta de usar teles também para de aves. A primeira experiência de Silvia com
registrar detalhes da vegetação e retratar gente. teles foi heroica: fotografar automobilismo
Nesse caso, dá preferência às que oferecem com uma pequena câmera compacta com
zoom, como a 70-200 mm e a 100-400 mm. superzoom. Depois ela comprou uma DSLR
Agora, vive a expectativa de testar uma básica e foi agregando lentes. “Foi um grande
600 mm da linha RF da Canon em uma mirrorless aprendizado até chegar à lente que mais me
R5, conjunto menor e mais leve. Diz ainda que agradou. Chamo meu atual equipamento
estuda comprar uma Canon 200-400 mm de 'kit passarinheiro', pois é o preferido dos
f/4, que vem com um teleconversor de 1.4x observadores de aves. Pena que a Canon
integrado, o que a transforma em uma zoom descontinuou ambas e vai me obrigar no
280-560 mm. “É uma maravilha, parece uma futuro a trocá-las”, comenta ela referindo-se ao
f/2.8. Tem alta definição, excelente estabilização, conjunto da telezoom 100-400 mm f/4.5-5.6
versatilidade e é relativamente leve”, avalia. com a DSLR EOS 7D Mark II.
Sua principal dica para quem vai começar Até chegar a essa opção, a primeira foi a 55-
a usar tele é cuidar da estabilidade para não -250 mm, que segundo ela era incrivelmente
produzir fotos tremidas. Ele recomendo treinar leve (375 g) apesar de ser “escura”. Depois,
velocidades mais baixas em várias situações trocou pela 75-300 mm f/4-5.6, uma péssima
(terrenos acidentados, barco em movimento, ideia, pois a lente era ruim, avalia. Em seguida,
entre outros) e conferir o resultado. “Vale já com a 7D Mark II, investiu na profissional 70-
usar monopé ou tripé, mas o melhor é treinar -200 mm f/2.8. “Era boa para o automobilismo,
bastante para usar a lente na mão mesmo”, mas péssima para fotografia de natureza e aves.
defende o mestre Araquém Alcântara. Então, adquiri minha primeira 100-400 mm,

Fotografe 304 19
Fotos de aves, como a deste tucano-
-da-montanha-de-peito-cinza,
exigem que o fotógrafo tenha uma
boa teleobjetiva acima de 300 mm

Fotos: Silvia Linhares


um alcance que se mostrou muito decisivo para eu manter minha Queria muito a
satisfatório”, comenta. surrada 100-400 mm durante esses nova tele 100-
Para a especialidade dela, Silvia anos. Com a câmera, o total dá 2,5
-500 mm com
ensina que é indispensável uma tele quilos, o que é bem razoável para
com estabilizador e uma câmera carregar”, comenta. E, como nem uma mirrorless
com sequência rápida de disparo. sempre é possível usar monopé R5, mas hoje
“O alcance focal é importantíssimo, ou tripé em determinados lugares só vendendo
pois as aves têm uma distância de na natureza, malhar os braços e as um rim para
segurança e, se você ultrapassar pernas é essencial, diz a mulher que comprar esse
essa linha imaginária, ela voa. Daí a detém o maior número de espécies
necessidade de um bom conjunto. de aves fotografadas no Brasil.
conjunto"
Algumas aves podem estar em local Há também um sonho de Silvia Linhares
que não permite uma aproximação
razoável, então uma tele longa
Silvia Linhares em ação
ajuda e muito. Quando a luz é muito
com sua telezoom
boa, uso um teleconversor de 1.4x,
mas a abertura em 400 mm vai de
f/5.6 a f/8”, explica.
A fotógrafa sabe que tele
mais “clara”, ou seja, com abertura
máxima mais ampla, como f/2.8,
pode gerar fotos melhores. Mas,
além de custarem os olhos da
cara, pondera ela, geralmente são
pesadas para carregar durante
extensas caminhadas. “O peso foi

20 Fotografe 304
Socó-boi registrado por
Linhares com sua Canon
100-400 mm f/4.5-5.6

consumo, lógico: a nova Canon RF


100-500 mm f/4.5-7.1, que viria
acompanhada de uma mirrorless R5
ou R6. “Isso me deixaria meio quilo
mais leve, sem precisar fazer regime,
sem contar as inúmeras vantagens das
câmeras sem espelho”, brinca Silvia.
Ela alega que o conjunto faria muita
diferença nas suas expedições. “Mas
ainda vai demorar para conseguir

Supertele, o desafio
Quanto maior a distância focal, mais fechado lente comum: não é o corpo que segura o
fica o enquadramento e mais seletivo se conjunto, mas sim a objetiva. Por isso, se
torna o olhar. Isso é muito difundido, mas o usar um monopé ou tripé, é preciso prendê-
que não se diz tanto é que a partir de 400 mm lo no corpo da lente, que tem um encaixe
(categoria das superteles) é difícil usar todo para isso, e não na câmera. E qualquer tele
o potencial da lente. O primeiro problema precisa ser empunhada corretamente, com
pode parecer estúpido, mas é bem real: a a mão esquerda a “abraçá-la” por baixo, de
dificuldade em localizar o tema. Com uma forma a mantê-la firme. Lentes mais pesadas,
400 mm, até dá, mas com a 600 mm alguns quando usadas na mão, podem ser seguradas
podem levar um bom tempo para encontrar a pela alça onde se prende o monopé (ou tripé),
garça que voa logo acima no céu. Quando as ponto já estudado pelo fabricante como de
dificuldades de campo reduzido se associam maior equilíbrio do conjunto.
à luminosidade limitada e à lentidão do Dica final: com uma tele na mão, não
autofoco (ou à falta de precisão do fotógrafo tendo ela estabilizador de imagem, fique
no foco manual), manusear uma 600 mm atento para que a velocidade seja, no mínimo,
pode ser um verdadeiro calvário, sem falar do próxima à distância focal usada. Ou seja: na
peso (em torno de 6 kg). 135 mm, no mínimo 1/125s; na 200 mm,
Além disso, as superteles foram 1/180s; na 300 mm, 1/250s, e assim por
concebidas para fotografar temas bem diante. Isso evita imagens tremidas, o grande
afastados, não servem para distâncias problema no uso da teleobjetiva.
curtas. Parece óbvio, mas Shutterstock
quantas vezes o tema não
cabe no visor por estar perto
demais? Há poucas lentes
boas alcançando de 400 mm
a 600 mm e são caríssimas.
A abertura máxima é f/4, já
que é inviável fabricar uma
f/2.8, que seria muito grande
e com um preço absurdo.
A câmera equipada
com teles de 300 mm a 600
mm não é carregada do
mesmo jeito que com uma

Fotografe 304 21
Saíra-douradinha
fotografada por
Godoy com a Canon
100-400 mm

comprá-lo. Por enquanto, só que precisava de uma lente de pelo


Meu sonho de
vendendo um rim”, afirma, menos 400 mm”, lembra ele. Assim,
consumo é ter mantendo o humor. também apostou na profissional
uma supertele Ederson Godoy, que é biólogo Canon 100-400 mm f/4-5.6 como a
600 mm f/4, e ornitólogo, diz que a realidade colega de especialidade.
que hoje está na financeira acaba falando mais O sonho de consumo é
faixa dos 13 mil alto quando o assunto é ter uma uma 600 mm f/4, que, segundo
teleobjetiva. No caso dele, o Godoy, permitiria mais registros
dólares. Com a primeiro investimento foi em uma e menos crop (corte) nas imagens
cotação atual é Canon 70-300 mm, de perfil amador, obtidas. “Consegui fazer um guia
uma fortuna" que, como no caso de Silvia Linhares, fotográfico usando a 100-400 mm,
Ederson Godoy não atendeu às expectativas tanto porém, muitas imagens tiveram
em qualidade (problemas de foco um corte muito grande, o que não
e nitidez) quanto no alcance para comprometeu o livro, mas, se fosse
a fotografia de aves. “Logo percebi para ampliar mais as imagens, o
resultado não seria bom”, confessa.
De qualquer forma, ele avalia que
a 100-400 mm atende 90% das
situações em fotografia de aves e diz
que gosta de usá-la também em fotos
de paisagem, pois proporcionam
imagens com um enquadramento
mais criativo, principalmente no pôr
e no nascer do Sol.

Fotojornalismo e moda
William Volcov é fundador
da Brazil Photo Press ao lado da
parceira e também fotógrafa Vanessa
Carvalho. Radicado em Nova York,
o fotojornalista também atua em
cobertura de grandes desfiles de
Beija-flor denominado besourinho-de-bico-vermelho moda, área em que a teleobjetiva

22 Fotografe 304
Detalhe
de modelo
durante desfile
na São Paulo
Fashion Week;
abaixo, a top
model Gisele
Bündchen
Fotos: William Volcov

é de extrema necessidade. Volcov recorda William Volcov cobre desfiles de moda


que a primeira tele foi uma Canon 70-300 geralmente com uma tele de 300 mm
mm f/4-5.6, telezoom que não o atendia
plenamente. Por isso, começou a pesquisar
f/2.8, mas sonha com uma 400 mm
outras lentes que unissem versatilidade com
longo alcance. Chegou, na época, à telezoom
Sigma 150-500 mm f/5-6.3. Explica que com
ela conseguia fazer praticamente tudo em
ambientes com boa iluminação, entretanto,
quando tinha menos luz, sentia uma enorme
dificuldade, pois era uma lente “escura”.
Tempo depois conseguiu comprar uma Sigma
300 mm f/2.8, que foi trocada, passados
alguns anos, por uma da Canon.
Volcov diz que sem uma tele não é
possível cobrir bem um desfile de moda, pois
os fotógrafos ficam distantes da passarela
e precisam mostrar, além do look completo,
detalhes da roupa. Para uso geral no cotidiano
de fotojornalismo, acredita que há muitas
vantagens em usar uma lente longa. “Uma
tele oferece aproximação sem incomodar ou
atrapalhar, deixa o personagem fotografado
mais à vontade. Além de você poder abusar
da criatividade com a possibilidade de novos
enquadramentos”, justifica.

Fotografe 304 23
Usei muito a Sigma 150-500 mm, que
era escura, mas me ajudou muito no
começo de carreira pela versatilidade
das distâncias focais que oferecia"
William Volcov

para a agência Associated Press (AP) no Rio


de Janeiro (RJ), conta que a primeira tele foi
uma 70-200 mm f/4 assim que ela decidiu
seguir carreira no fotojornalismo. “É uma lente
versátil que pode ser usada em diferentes
Imagem situações, tanto em coberturas na rua quanto
de modelo em esportes. Também é uma ótima lente para
William Volcov

de corpo se ter em uma segunda câmera para fotografar


inteiro feita futebol”, ensina ela, que, com o tempo, migrou
com tele para a versão f/2.8 da zoom por ser mais clara
em situações de pouca luz. Também conta com
uma 200-400 mm f/4, outra telezoom que
Apesar de estar feliz com a Canon prima pela versatilidade. Já como sonho de
300 mm f/2.8, o grande desejo e maior objetivo consumo pensa em uma fixa 200 mm f/2.
do momento é conquistar a 400 mm f/2.8 da Para Bruna, algo interessante de se
marca. Para quem vai começar a usar teles, ele observar ao se trabalhar com teleobjetiva é a
diz que o ideal seria ter uma lente aproximação do primeiro plano,
luminosa, como a 70-200 mm Bruna Prado com o que muitas vezes traz uma
f/2.8, que pode atender à demanda a 200-400 mm f/4: relação criativa e potente. Por
de diversos tipos de trabalho e Argentina comemora conta da estabilidade, também é
ainda tem bom desempenho em conquista da Copa crucial contar com um monopé,
ambientes de baixa luminosidade. América de 2021 principalmente em coberturas
Já Bruna Prado, que trabalha vencendo o Brasil esportivas. Ela sugere no mínimo
Fotos: Bruna Prado/Associated Press

24 Fotografe 304
Eu gosto muito
de lentes do tipo
telezoom, como
a já clássica
70-200 mm
ou a ótima
200-400 mm,
por conta da
versatilidade"
Bruna Prado

Detalhe das
manifestações de
2013 feito com a
70-200 mm f/2.8

uma distância focal de 300 mm para principalmente em Brasília (DF).


a cobertura de jogos de futebol e de “Trabalhar na capital federal sem
400 mm para registrar personagens uma supertele é pedir para ficar
de longe, caso de cobertura política, sem notícia”, diverte-se ela.

Estabilização de imagem
O recurso da estabilização de imagem está em perfil, com o obturador em 1/4s), o
presente em uma variedade de lentes para borrado continuará visível na foto. Mas, se o
DSLR e mirrorless. Cada marca o denomina sujeito for estático, assim ele permanecerá.
de maneira diferente: IS (Canon), VR (Nikon), A estabilização óptica na lente foi
SteadyShot (Sony), Mega O.I.S. (Panasonic introduzida ainda na era do filme, com a
e Leica), IBIS (Olympus), SR (Pentax), OS compacta Nikon Zoom 700 VR em 1994.
(Sigma) e VC (Tamron). O objetivo é um só: No ano seguinte, a Canon criou a primeira
compensar vibrações na câmera e na lente, objetiva de SLR estabilizada, a EF 75-
permitindo o uso de exposições mais longas -300 mm f/4-5.6 IS USM. Inicialmente era
sem registrar tremores nas fotos. Isso é possível uma estabilização da ordem de dois
importante nas distâncias focais longas pontos (dobrando o tempo de exposição).
(teleobjetivas), close-ups (objetos pequenos Atualmente, estabilização de quatro ou
vistos de perto) e com qualquer lente em cinco pontos são comuns.
situações de pouca luz em que não se deseje Importante: a estabilização não é
usar o flash. necessária quando a câmera está montada
Cabe aqui não fazer confusão: a em tripé. O sistema poderá gerar vibrações
estabilização não visa congelar qualquer na tentativa de estabilizar o que já está
movimento. Se parado. As lentes
a imagem incluir de DSLR mais
objetos móveis modernas detectam
que normalmente automaticamente se
sairiam borrados estão montadas em
(por exemplo, uma tripés e desativam a
pessoa caminhando estabilização.
Fotos: Bruno Stuckert

Acima, imagens Em casamento do zoom. Claro que ela perde um


de casamento E, por falar em Brasília, Bruno pouco na qualidade em relação a
feitas com tele por Stuckert, 41 anos, vem de uma uma fixa, mas a versatilidade que
Bruno Stuckert linhagem de fotógrafos há décadas: oferece vale a pena. Posso ter vários
a família dele é composta de 33 enquadramentos com apenas uma
profissionais da área, sendo que lente”, comenta. Mas, apesar de
um dos mais famosos é seu falecido a 70-200 mm suprir suas
tio, Roberto Stuckert, o Stukão, necessidades tanto na fotografia
que cobriu a inauguração da capital social quanto em projetos autorais,
Com uma tele federal e foi fotógrafo oficial do ex- ele revela que o sonho de consumo
é possível obter -presidente João Figueiredo. Bruno, é uma 800 mm f/5.6.
por sua vez, escolheu trilhar o A vantagem do uso de teles em
imagens mais
caminho da fotografia de casamento. cobertura de casamento é poder
espontâneas Por ter começado na fotografia fotografar de longe, colhendo
durante um aos 15 anos e por ser filho do expressões dos noivos no altar em
casamento, fotógrafo Eduardo Franca Stuckert, enquadramentos bem fechados ou
principalmente ele teve acesso a bons equipamentos vagar sem ser percebido durante a
no momento desde cedo. A primeira tele que usou festa após a cerimônia, quando surgem
foi uma Canon 70-200 mm f/2.8, oportunidades de registrar momentos
da festa" semelhante à que tem atualmente. espontâneos dos recém-casados, dos
Bruno Stuckert “Gosto da 70-200 mm por causa familiares deles e dos convidados.

26 Fotografe 304
O que as teles têm

√ manual
Foco automático com opção
instantânea – Lentes para
uma chave que limita o foco a uma faixa de
distância mais longa.
uso profissional permitem manter o
autofoco permanentemente ativado e
reajustar o foco com a mão a qualquer √ podem
Trava de zoom – Algumas objetivas
alongar o zoom sozinhas quando
momento, sem ser necessário desligar o apontadas para baixo e encurtar quando
AF por meio de uma chavinha, como é o apontadas para cima por conta da força
usual nas lentes mais básicas. da gravidade sobre seu peso. Essa falha
desagradável é apelidada de "zoom

√ Colar e suporte para tripé – As


teles longas contam com um suporte
rastejante". Algumas objetivas não têm
remédio para o problema, enquanto
para tripés ou monopés – alguns são algumas trazem uma trava de zoom. A
removíveis e outros integrados à lente. Os maioria simplesmente tem um mecanismo
removíveis são fixados com abraçadeiras de zoom propositalmente "duro",
de pressão. A base do suporte tem rosca requerendo um esforço razoável com a
para o tripé ou monopé, o que deixa a mão para mudar sua posição.
câmera suspensa. Com um monopé
instalado, o conjunto formado com a
lente e a câmera pode ser carregado de √ intenção
Para-sol – O para-sol é obrigatório se a
é evitar os "fantasmas" luminosos
forma prática por cima do ombro, prática e a perda de contraste que resultam do
usual de fotógrafos de esportes. espalhamento de luz oblíqua dentro da
objetiva. Com a presença do Sol ou outra

√ Limitador de foco – As objetivas


mais longas possuem elementos de vidro
fonte de luz pontual intensa dentro do
quadro, não há como evitar completamente
volumosos e pesados; o mecanismo de esses fenômenos ópticos. Mas, quando a
foco automático é mais lento por conta fonte da luz está apenas ligeiramente fora
disso. Caso a lente perca o foco, poderá do quadro, há muita variação na capacidade
gastar um tempo precioso "caçando" o das objetivas de evitar a interferência dessa
ponto focal, movimentando o mecanismo luz. Aí entra o para-sol: ele bloqueia a luz
até a distância mais próxima e de volta indesejada antes que entre na lente. Existem
até a mais distante. Para amenizar o lentes com para-sol embutido deslizante e
incômodo, diversos modelos contam com algumas em que a peça é integrada.

Shutterstock

Fotografe 304 27
O monopé é um acessório
fundamental para o uso de
teles acima de 300 mm

Ao usar teleobjetivas profissionais


em casamento, o especialista indica que é
preciso ter braços fortes e disposição, pois
elas são grandes e pesadas. Bruno Stuckert
diz que o uso de teles exige treino para
evitar imagens tremidas e enquadramentos
inadequados. “Na minha visão, o importante
mesmo é se divertir com a fotografia.
Fotografe muito, treine um pouco todo dia.
Busque inspirações diferentes, se provoque
e descubra a sua originalidade”, recomenda.

Mitos e verdades
O fotógrafo francês Laurent Guerinaud,
que colaborou vários anos com Fotografe e
é autor da coleção de livros Fotografia Fácil,
esclarece dois mitos em relação ao uso de
teleobjetiva: a afirmação de que uma grande
angular oferece profundidade de campo maior
e que a lente longa “esmaga a perspectiva”. São
conceitos técnicos errados que se espalharam
como fake news no mundo da fotografia.
Primeiro: a profundidade de campo não muda
com a distância focal, mas sim com a abertura

por dentro de uma teleobjetiva

Ao lado, a imagem
em corte de uma
200-400 mm f/4
da Canon mostra a
complexidade do
conjunto óptico
de uma telezoom;
abaixo, a diferença
de projeto da zoom
para o da tele fixa

Canon EF 200-400mm f/4L IS USM + Extender 1.4x Canon EF 400mm f/4 DO IS USM

Fluorita IS (Estabilização Óptica) Vidro DO (Óptica Difrativa) IS (Estabilização


Vidro ED (Dispersão Extrabaixa) Extensor 1.4x) Fluorita Óptica)

28 Fotografe 304
Petr Simon

do diafragma e a distância entre os coisa alterada é o enquadramento. O enquadramento


elementos fotografados e a câmera. Trocar a distância focal é de um tema em
Da mesma maneira, a distância exatamente igual a cortar uma movimento com
focal não influencia na perspectiva, imagem, ampliando o que sobra. uma tele acima
que depende unicamente do ponto Guerinaud pontua que esses de 300 mm é um
de vista a partir do qual é feita a dois conceitos são errados grande desafio
foto. Assim, quando uma foto é feita na teoria, mas na prática não para os iniciantes
sem a mudança do ponto de vista totalmente, quando se leva em
com uma 18 mm, uma 50 mm, uma conta que a escolha pela objetiva
200 mm e uma 400 mm, a única conduz o fotógrafo a mudar seu
Fotos: Shutterstock

A distância
focal das
teleobjetivas
não influencia
na profundidade
de campo nem
na perspectiva;
outros fatores
são a causa
Por ter menos
elementos ópticos no
seu projeto, a tele fixa
é em geral melhor
que a zoom

Petr Simon

comportamento e, assim, o ponto de vista. a modelo tenha o mesmo tamanho no visor.


“Pense na seguinte situação: um fotógrafo Consequentemente, a escolha por uma objetiva
de moda quer registrar uma modelo com um com ângulo de visão mais fechado reduz o
monumento ao fundo. Ele tem duas alternativas. campo fotografado, fazendo, assim, o fundo
Pode se posicionar muito perto da modelo e parecer mais próximo”, explica ele.
usar uma grande angular, o que resulta em um Por isso, quem diz que a tele “esmaga” a
ângulo de visão bem amplo, de enquadramento perspectiva está completamente errado na
aberto atrás dela, maximizando o segundo teoria. Porém, essa simplificação na linguagem
plano. A outra opção é ficar mais longe e usar corresponde a uma realidade prática quando
uma tele. Isso o obriga a se afastar para que se fotografa dois temas posicionados em

30 Fotografe 304
William Volcov

planos distintos. “Portanto, uma f/2.8 aproveita-se uma visão muito O fundo bem
teleobjetiva é uma ótima solução clara que facilita o enquadramento desfocado é uma
sempre que a meta for fotografar e o foco, tanto manual quanto característica do
um tema com fundo afastado automático, até em condições de uso de teles com
demais ou pequeno demais”, diz ele. iluminação difíceis, já que a câmera aberturas amplas,
Outra polêmica envolvendo sempre usa a abertura máxima da como se observa
teles, afirma Guerinaud, é sobre lente para a imagem mostrada no na foto acima
a qualidade da fixa em relação à visor e a medição do foco. Tem mais:
zoom. Ele esclarece que, embora lentes com diafragmas mais amplos
seja mais versátil, a zoom, por ter também são geralmente de alta
mais elementos ópticos na sua qualidade óptica.
composição, costuma perder para a Segundo ele, usa-se uma
fixa tanto em termos de qualidade tele não só para se aproximar de Se o fotógrafo
óptica quanto de abertura máxima maneira artificial das cenas a serem tiver condições
e de distorção. “Para quem tem a fotografadas, mas também para
financeiras, é
possibilidade de usar uma tele de alcançar um enquadramento mais
distância focal fixa, o conselho é seletivo. O principal objetivo é focar mais vantajoso
sempre optar por ela em vez da a atenção do observador no tema, o ter uma tele fixa
zoom”, argumenta ele, que lembra que o fotógrafo consegue ao fechar luminosa do
ainda que são consideradas teles o enquadramento e também ao que uma com
lentes a partir de 135 mm. reduzir a profundidade de campo. zoom, apesar da
Quanto à “claridade” das teles, O resultado é um tema isolado que
ou seja, sua abertura máxima, ele se destaca perfeitamente do fundo
versatilidade"
explica que com uma abertura qualquer que seja o contexto. Laurent Guerinaud

Fotografe 304 31
Aula com Brasilio A importância do
equilíbrio de branco
V ocê já percebeu que, algumas vezes, fotos feitas no mesmo lugar podem
sair com cores diferentes? Às vezes mais azuladas e em outras com
tons amarelados? Isso ocorre por causa da imprecisão do ajuste do equilíbrio
de branco (white balance) na câmera e principalmente no uso do ajuste de WB
automático (AWB), que neutraliza automaticamente qualquer excesso de cor.
Cada fonte de luz tem sua cor natural e a câmera precisa se ajustar a ela, seja
de forma automática, com pré-ajustes ou de modo personalizado. Segundo
o fotógrafo Brasilio Wille, entender o gerenciamento de cor da câmera é
fundamental para corrigir problemas de variações de tons, principalmente em
uma mesma sequência de fotos para que fiquem com uniformidade visual.
Para Brasilio Wille, uma fotografia bem feita é basicamente um registro da
luminosidade (da quantidade de luz e seu efeito), da frequência da luz (a cor da
luz) e da composição (corte da cena). Isso tudo faz o observador se encantar
visualmente por uma imagem. Desses três parâmetros, a cor representa um
elemento muito forte e característico para diversas situações no relacionamento

Neutro Desvio para alaranjado

32 Fotografe 304
das pessoas com o mundo. Nas câmeras Filtragem RGB O perfil neutro
profissionais, bem como em smartphones Curiosamente, as tem temperatura
avançados, o modo profissional (M) traz o câmeras não “enxergam” de cor de 5500K
ajuste de cores personalizado. Essa função está o mundo colorido, ou seja, e, a partir dele,
distribuída em menus diferentes (Espaço de não fotografam em cores, é possível
Cor, Estilo de Imagem e White Balance) e muda e sim em preto e branco esquentar ou
conforme a marca e o modelo de equipamento. com filtragem em RGB: esfriar os tons
Red (vermelho), Green
(verde) e Blue (azul). Wille explica que as cores
Desvio para azulado vistas no monitor, na tela do computador e na
foto impressa são fruto de uma recomposição
da cor da câmera. Segundo ele, o mundo real
tem mais de um trilhão de cores, mas os olhos
humanos podem enxergar uma média de até 12
milhões. Já a câmera, conforme característica
de profundidade de bits, pode chegar a igualar
ou registrar muito mais que isso quando usado
o formato RAW de arquivo. Mas para conseguir
visualizar tudo isso é necessário recursos de
conversão da cor por meio de uma cadeia de
ajustes na câmera e no computador.

Espaço de cor na câmera


Existem dois espaços de cor do sensor: o
RGB Adobe 1986 e sRGB (RGB Standart) –
esse último faz com que a pele, principalmente,
tenha uma aparência mais atraente. Se a foto
for capturada em RAW, o pré-ajuste em sRGB
permitirá uma edição ainda melhor das cores.

Estilo/Controle da Imagem
É um menu com perfil pré-ajustado de
situações cotidianas que você pode escolher na
lista disponível na câmera, como o Automático,

Do neutro para um tom mais quente


ou para um tom mais frio, que
podem também ser aproveitados

Fotografe 304 33
O modo
Personalizado de
white balance é
fundamental para
fundo branco

O ajuste correto Standard, Retrato, resolver isso, Wille afirma que o ideal é deixar
do equilíbrio Paisagem, Neutro, no modo Neutro ou Standard para depois
de branco evita Fiel, Monocromático, fazer a correção em um editor de RAW, já que
uma série de Personalizado... usando sempre o mesmo padrão as edições e
distorções no Esses modos fazem o os presets irão funcionar.
espaço de cor gerenciamento de como
dos arquivos os tons de cinza serão White Balance
compostos, implicando em O modo personalizado de equilíbrio de
deixar as tonalidades mais ou menos intensas branco (consulte o manual da sua câmera)é
em determinadas cores na imagem final. Wille o mais recomendado pelo especialista, pois
explica que o modo Paisagem, por exemplo, vai determinar o modo mais neutro (5500K)
aplica uma intensidade de azul (para valorizar o das cores no ambiente (equivalente à luz do
céu) e verde (para ressaltar temas como grama, Sol às 10h). O processo é muito simples e
árvores, plantas) acima da vale para todos os tipos de
média na imagem. equipamento: ajuste o modo
Já o modo retrato Personalizado no menu da sua
reforça um pouco mais câmera; em seguida, pegue
o vermelho porque uma folha de papel branco
simplesmente a maioria (sulfite) ou use uma parede
das câmeras foi projetada branca ou mesmo um cartão
por asiáticos, que têm a cinza. No ambiente da sessão
pele mais amarelada e, de fotos, diante da luz que
consequentemente, a pele será usada, faça uma foto da
nesse ajuste resultará
em uma aparência mais
alaranjada, o que pode Os modos padronizados
ser estranho para os de white balance que são
caucasianos, gerando uma oferecidos na maior parte
pele muito vermelha. Para das câmeras digitais

34 Fotografe 304
Acima, um cartão
cinza, usado para
ajustar o modo
Personalizado;
ao lado, menus
de Canon e Nikon
para a escolha
dos modos de
white balance

referência escolhida (folha de papel, parede formato. Ou seja, nem sempre tudo precisa ser
branca ou cartão cinza). Depois, vá ao menu da tecnicamente certo. Para fazer isso no programa
câmera, selecione WB Personalizado e proceda de edição, basta aumentar a temperatura de cor
a calibração como é indicado no manual. A (acima de 6000K, mais alaranjado) ou diminuir
câmera processará a última foto feita como (abaixo de 3000K, mais azulado).
referência, ajustando o white balance
para a situação de luz do ambiente.
Esse procedimento é muito O white balance
importante, principalmente quando Personalizado
se fotografa em fundo branco, gera uma
evitando assim que exista uma reprodução mais
invasão de cores no fundo. O ajuste fiel de cores
correto evita distorção de cores
e ao mesmo tempo é aplicado
automaticamente em todas as outras
fotos, colocando todas no padrão.
Wille explica que, mesmo que
você tenha feito a captura da foto
errada para o WB Personalizado, é
possível fazer o ajuste do balanço
de branco depois, na edição, tanto
em formato RAW quanto em outro

Quem é Brasilio Wille Aprenda mais nos Conheça mais o trabalho


Amanda Müller

Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
de técnicas simples e práticas em cursos e do YouTube (41) 99943-0607
workshops presenciais ou online. Fotografe
www.youtube.com/user/Brasiliow 304sobre cursos)
(informações
35
Nu & sensual

As sessões de Fernando De Santis costumam ser realizadas em casas ou apartamentos

Olhar
Por Livia Capeli

Q uando mais jovem, o fotógrafo

intuitivo
Fernando De Santis, de 42 anos, via
os ensaios realizados por Bob Wolfenson e
JR Duran na extinta revista Playboy e, apesar
de achar tudo muito bacana, acreditava que
toda aquela produção em locações exóticas
com celebridades ou musas exuberantes era
O fotógrafo algo inacessível para a realidade da maioria
dos fotógrafos. Foi então que ele descobriu a
paulistano Fernando revista Trip, que mostrava mulheres sem fama
De Santis produz em cenários do cotidiano, como apartamentos,
com iluminação natural e produção mais sóbria,
ensaios sensuais para e o mais interessante: os ensaios também eram
assinados pelos competentes fotógrafos da
mulheres de diversas Playboy. Percebeu que esse tipo de produção
faixas etárias e mais casual, muito mais acessível, poderia ser
feita por ele com os recursos que tinha.
aposta em locações O paulistano De Santis conta que aprendeu
que façam as clientes a fotografar por conta própria, comprando
livros, apostilas e lendo dicas na Fotografe.
se sentirem em casa Depois que começou a fazer fotos de
sensualidade feminina, percebeu que precisava
se aperfeiçoar e realizou cursos de direção
com a fotógrafa Fernanda Preto, de retratos

36 Fotografe 304
O fotógrafo admirava
os ensaios da revista
Playboy, mas acabou
se inspirando na
revista Trip
Fotos: Fernando De Santis

com Bob Wolfenson e de iluminação com da própria cliente ou em imóveis alugados por
Renato Rocha Miranda. Como profissional, meio do aplicativo Airbnb. Entretanto, não se
ele trabalha com ensaios de nu e sensualidade restringe a esses espaço: também gosta de
desde 2013. Não tem estúdio e costuma fotografar em parques, na praia, em ruas e até
produzir as sessões em casas e apartamentos em avenidas movimentadas.

Fotografe 304 37
Fotos: Fernando De Santis
De Santis usa tanto luz natural e vai desde a garota que deseja presentear o
quanto flashes; tudo vai depender da parceiro até as que querem massagear o ego.
O especialista explica que é muito comum
iluminação que encontrar no local receber pedidos de clientes indicadas por
psicólogas para que trabalhem a autoestima.
A maioria é de classe média e, por incrível que
Luz natural e flash pareça, muitos maridos e namorados também o
No seu trabalho com ensaios de nu e contratam para fotografar as companheiras. Há
sensualidade, Fernando De Santis explica ainda um nicho que vem crescendo bastante
que usa a intuição e os recursos que estão nesse segmento: o de garotas que vendem suas
disponíveis no momento. “Não sou desses que fotos nuas nas redes sociais para monetização
cravam ‘só uso luz natural’ ou que somente (caso do Close Friends do Instagram).
fotografam com flash. Olho o cenário, penso
na composição e na luz que quero e faço. Se o Questionário
local já tem a luz que imaginei, vou de natural, Quando alguma cliente entra em contato
se não tem, eu utilizo flashes”, explica. para fechar um ensaio, o fotógrafo diz que já
Por fazer muitas sessões em apartamentos, passa uma série de tarefas para ela executar. A
ele trabalha com flashes dedicados com primeira é preencher e enviar um formulário
octaboxes acoplados ou eventualmente, padrão no qual a cliente deverá contar o
rebatendo a iluminação no teto – isso quando motivo da sessão, de quais estilos de fotos
precisa suavizar a iluminação. Os ensaios são mais gosta, se pensa em publicar as fotos ou
realizados com as câmeras Nikon D810 e se é algo mais íntimo, de que ela mais gosta e
D610, com lentes fixas Nikkor 16 mm fisheye de que menos gosta no próprio corpo. Ou seja,
f/2.8, 85 mm f/1.8, 24 mm f/1.8 e Sigma Art uma série de perguntas que ajudam a entender
35 mm f/1.4. De Santis conta que o perfil das o perfil da nova cliente.
mulheres que o procuram para realizar os Depois disso, De Santis pede para que
ensaios é bem variado: entre 18 e 65 anos – ela separe referências de fotos de que goste,

38 Fotografe 304
dele ou de outros fotógrafos. Isso
ajuda a entender as preferências
de poses, luz e estilo – se é algo
mais casual, requintado, ousado,
delicado e se gosta da ideia de fotos
totalmente nua. Em seguida, ele
conversa sobre o figurino: o que a
cliente pensa em usar ou não no dia
do ensaio; escuta as vontades dela
e dá sugestões. Também aborda
com ela quais objetos que podem
compor a sessão e contar uma
história, como garrafa de vinho, um
notebook, livros, flores, coisas que
possam trazer a identidade dela
para a sessão de fotos.
O fotógrafo explica que gosta
de realizar sessões que transmitam
a sensação de “estar em casa”,
portanto, a beleza simples do
cotidiano deve ser bem explorada:
“Não faz sentido o estilo mais
relaxado usando maquiagem
pesada, então, a grande maioria
opta por make-up mais neutra, que
elas mesmas resolvem. Porém, há as
que desejam algo mais elaborado.
Nesse caso, indico algumas
profissionais em que confio para Célia, um jeito de me comunicar. Boa parte das
fazer o trabalho”, explica. Então, meu negócio é contar casos, clientes prefere
Por se tratar de ensaios íntimos, perguntar coisas de forma que elas posar usando
De Santis diz que seu acervo se fiquem à vontade e ‘esqueçam’ que lingerie, como
restringe apenas a acessórios, como estão posando em uma sessão de nas fotos acima
camisa, gorro, boné ou itens de fotografia sensual”, comenta. e abaixo
cena, como livros de arte, livros de Durante o ensaio, ele fala
fotografia, instrumentos musicais detalhadamente o que fazer com
(como guitarra), discos de vinil, cada parte do corpo, com as mãos,
CDs, fones de ouvidos... Segundo os cabelos, e como a cliente deve
ele, são objetos que
enriquecem o cenário
e com os quais a cliente
pode interagir.

Direção e poses
Como conversa
com a cliente antes da
sessão, o fotógrafo já tem
algumas informações e
as usa como ferramenta
para puxar assunto e
diminuir a timidez da
pessoa do ensaio. “Herdei
da minha mãe, a dona

Fotografe 304 39
Fotos: Fernando De Santis
O fotógrafo ensina que as poses devem ser pensadas de acordo com o tipo do corpo da cliente

direcionar o olhar. Caso a pose seja meio Algumas poses podem funcionar bem para as
complicada, ele mostra com o próprio corpo. mais magrinhas e não funcionar para as mais
Para De Santis, o mais importante é não deixar gordinhas. O contrário também acontece. Por
surgir um silêncio constrangedor. Assim, ele isso é que vale a pena perguntar de qual parte do
procura falar bastante, contando histórias e corpo a cliente mais gosta e dar ênfase a ela. Ele
incentivando a cliente a contar algo dela. Outro explica que há a questão das poses e dos ângulos
recurso é sempre deixar um fundo musical no que valorizam cada pessoa: se a modelo não é
ambiente. Aliás, essa é uma das tarefas que alta, um enquadramento em contra-mergulho (de
passa para as clientes antes do ensaio: pensar baixo para cima) a deixará mais imponente. Poses
em uma playlist para tocar no dia da sessão. deitadas ou em pé deixam a barriga mais chapada;
Em relação às poses, Fernando De Santis se a cliente estiver em pé, sem salto, ficar na ponta
é bastante realista: cada corpo e cada objetivo dos pés ajuda a definir os músculos das pernas e
são diferentes e devem ser respeitados. dos glúteos, além de alongar a silhueta.

Como vender e divulgar


Fernando De Santis explica que vende as fotos pelo sistema de
pacotes, que são três: Básico, Clássico e VIP, tendo cada um
12, 24 e 36 fotos, respectivamente. São números baseados nos
antigos rolos de filmes. Além disso, ele também vende imagens
extras. Existe ainda a opção de a cliente adquirir fotoprodutos à
parte, como revista impressa, fotolivro com capa dura, videoclipe,
making of da sessão e impressões em tamanhos maiores.
Para a divulgação, o fotógrafo alega que o Instagram ainda é a
melhor ferramenta. Ele usa o perfil @desantisph para mostrar o trabalho e confessa que
não se prende apenas a essa rede social. Tem um site e nele escreve artigos em um blog
(www.fernandodesantis.com), publica fotos na plataforma Behance, da Adobe (https://
www.behance.net/desantisph), e tem um canal no YouTube no qual posta VLOGs que
mostram seu dia a dia nas sessões (https://www.youtube.com/c/FernandoDeSantis_).

40 Fotografe 304
fotografia social O retrato é uma das
vertentes do trabalho
da fotógrafa, que
também faz imagens
corporativas

Olhar afroafetivo
A carioca Gabriella Maria montou seu negócio
com foco em retratos voltados para famílias
afrodescendentes em prol da representatividade
Por Livia Capeli

A rquiteta de formação, Gabriella Maria,


37 anos, vem de uma família marcada
pela força feminina, muita fibra e afeto.
da sua fotografia e como tudo isso poderia
gerar impulsos para mudanças positivas.
Dedicada à produção de retratos de família,
Criada no subúrbio do Rio de Janeiro (RJ), de gestantes, de parto e também corporativos,
entre Campo Grande e Irajá, ela se assumiu e disposta a fotografar todos sem distinção, o
oficialmente como fotógrafa profissional em portfólio dela é composto majoritariamente
2018. A partir daí, foi entendendo como a de pessoas afrodescendentes.
representatividade poderia mudar a forma de Gabi, como é geralmente chamada, se
as pessoas se perceberem no mundo por meio orgulha de ser uma mulher negra suburbana

42 Fotografe 304
Segundo o IBGE, o
Brasil tem 56% de
afrodescendentes
na sua população,
mas isso tem
pouca visibilidade
na fotografia
em geral e no
portfólio dos
fotógrafos".
Gabriella Maria

De ensaio de noivos
(ao lado) a fotos
Fotos: Gabriella Maria

de família (abaixo),
Gabriella conquista
seu nicho no mercado

e levanta uma questão: muitos


fotógrafos têm o portfólio em que
predominam pessoas brancas,
sendo que, segundo o IBGE de
2018, pessoas negras e seus
descendentes representam 56%
da população brasileira. Tem mais:
de acordo com o Movimento
Black Money, esse público chega
a movimentar cerca de R$ 1,7
trilhão por ano no Brasil. Ou
seja, existe bastante potencial.
“Seria a fotografia segregadora?”,
questiona a fotógrafa.
Basta olhar para o próprio
mercado para responder à questão: é muito tratamento de imagem, edição e iluminação são
normal na própria formação do fotógrafo não feitos com base em pele branca. E, quando um
existir referências além do padrão caucasiano. fotógrafo precisa atender negros, as técnicas
Em cursos, workshops, escolas de fotografia e que aprendeu geralmente resultam em erros.
congressos, é raríssima a presença de modelos Foi partindo de seus próprios anseios
negros – sem contar que ensinamentos sobre que Gabi formatou um modelo de negócio

Fotografe 304 43
Ensaios com gestantes
fazem parte dos serviços
oferecidos pela Afroafeto

denominado Afroafeto, uma resposta ao que ela que qualquer outro meio. “Quando fotografo
gostaria de ver em um trabalho de fotografia para uma família negra longe do estereótipo de
afrodescendentes. “Quando me autodenomino pobreza ou registro uma criança negra vivendo
Afroafeto e disponibilizo no meu portfólio fotos a infância como qualquer outra criança, quando
majoritariamente de pessoas negras, já há um clico homens e mulheres de pele preta em
filtro do tipo de cliente que vai me procurar ou total individualidade e subjetividade, firmo o
contratar. Acaba por ser uma proteção para mim, meu compromisso de plantar no imaginário de
e a chance de que eu ouça a pergunta: ‘quem é quem vê meu trabalho que existem realidades
a fotógrafa?', mesmo estando com a câmera na muito diferentes das que são sempre
mão, diminui drasticamente”, diz. atribuídas à população negra”, afirma.
Mesmo durante os dois anos atribulados
Mercado e oportunidades pela pandemia, a fotógrafa afirma que o
Gabi explica que trabalhar com o público projeto Afroafeto tem rendido bastante
negro significa para ela responsabilidade e satisfação. Tem conseguido bastante trabalho,
compromisso, principalmente na parte de participado de exposições e feito capas de CDs
construção de memória.
Ela acredita que a Retratar a beleza da
fotografia tem o poder mulher negra é um dos
de comunicar e fixar objetivos da fotógrafa
conceitos mais rápido em seus ensaios

44 Fotografe 304
Fotos: Gabriella Maria

e singles de cantores como Jéssica Por não ter estúdio próprio, Gabi Acima, uma
Ellen, Bia Ferreira, Mc Carol, Afra já chegou a fazer sessões na sala de imagem de
de Sousa e Matheus Teixeira. casa, e por conta da demanda algumas documental de
Foi ainda finalista do concurso vezes a fotógrafa aluga espaços família e, abaixo, a
internacional Maternity Photo profissionais na zona sul ou norte do fotógrafa carioca
Awards e teve fotos participando Rio de Janeiro (RJ), com estrutura e Gabriella Maria
do e-book Diálogos Insubmissos, que equipamentos. Ela também produz
reúne ensaios com mulheres negras muita coisa em locações externas
em tempos de isolamento social. “Se ou na casa do cliente quando faz
considerar que venho de um lugar documental de família. Como
sem tradição na fotografia, com equipamento, tem uma Nikon D750
apenas quatro anos de carreira, com lentes fixas: 35 mm f/1.8, 50 mm
acredito que fui muito bem acolhida f/1.8 e 85 mm f/1.8. Para iluminar, dois
no meio”, afirma Gabi. flashes TTL compactos e um flash a
Para se preparar, ela fez bateria Godox Ad200, principalmente
diversos cursos livres, do iniciante para produções em externa.
ao avançado, com fotógrafas de A fotógrafa explica que, quando as
renome. Bruna Prado abriu-lhe o sessões ocorrem em estúdio, prefere
universo da iluminação com flash e a oferecer pacotes a partir de 30 fotos,
oficina de olhar humanista com Nana sendo possível adquirir imagens
Moraes a ajudou muito na carreira. extras. Já no trabalho documental, no Considerando
Para entender o mundo infantil e a qual há uma história a ser contada, que tenho
fotografia como negócio, procurou ela prefere não delimitar quantidade
somente
a ajuda de Nina Stanis. E, apesar específica de imagens e entrega o
de não ter tido a oportunidade de que for necessário e coerente com a quatro anos de
fazer um curso presencial com o narrativa do registro. Para divulgar carreira, acho
saudoso fotógrafo Januário Garcia o trabalho, ela usa seu site e as redes que a Afroafeto
(1943-2021), aprendeu com ele, em sociais – mas a maioria dos clientes encontrou
palestras online e lives, seu processo chega por indicação, comenta. seu espaço no
criativo e seu compromisso com a Para conhecer o trabalho dela,
fotografia documental na história de acesse www.afroafeto.com.br ou o
mercado"
pessoas negras. Instagram @afroafeto. Gabriella Maria

Fotografe 304 45
Fotojornalismo

Enterros rápidos e restritos: os momentos mais dramáticos na primeira onda de covid-19

Páginas de pandemia
Repórter fotográfico do Rio transforma sua
experiência na cobertura da mais grave crise
sanitária do século 21 em livro documental
Por Erbs Jr.

D os primeiros casos de covid-19 em


dezembro de 2019 na China ao anúncio
de pandemia global pela Organização Mundial da
Ao longo da cobertura, vida e morte
caminhavam lado a lado: o vírus atingiu muitos
colegas de profissão e eu poderia ser o próximo
Saúde (OMS) em março de 2020, foram apenas – segundo dados da Federação Nacional dos
quatro meses. Começava aí uma mudança brusca Jornalistas (Fenaj), até agosto de 2021 o Brasil
na vida das pessoas e eu, como fotojornalista, tinha 278 profissionais da área vitimados pela
me vi diante da maior cobertura que havia covid-19, primeiro lugar no ranking mundial. Essa
feito até então. Produzi milhares de imagens, sensação de estar em uma corda bamba sobre
principalmente na primeira onda da doença, e um precipício foi uma constante, mais forte na
esse trabalho resultou no livro Vidas Importam, no primeira onda da doença, em 2020. Isso me fez
qual editei 120 fotos em P&B e que foi lançado mudar a estratégia da cobertura no decorrer
em dezembro de 2021. da pandemia em virtude da gravidez da minha

46 Fotografe 304
O livro Vidas
Importam é um
documento de dois
anos de pandemia
no Brasil

Fotos: Erbs Jr.


Acima, frasco da Coronavac, primeira
vacina aplicada no Brasil; ao lado,
o começo da pandemia, quando as
pessoas ainda andavam sem máscara

esposa e, consequentemente, do nascimento


da minha filha. Ou seja, preferi não mais me
expor em determinadas pautas para não ser um
transmissor da doença em casa.
Para cobrir os enterros, assisti em lives de
colegas que já cobriam a pandemia em outros
países que o mais importante era manter
a distância. Isso era bom por dois motivos:
para ser menos invasivo e para minimizar
os riscos de contágio. Mesmo os caixões de
vítimas da covid-19 sendo lacrados, o medo da
contaminação era grande.
Não foi fácil lidar com tantas emoções.
Quando eu retornava para casa, estava destruído
emocionalmente. Por conta disso, mais uma
vez segui os conselhos de outros colegas e
procurei intercalar os dias de trabalho. Essas
idas aos cemitérios também não eram rotineiras. forte e emocionante: ao passar de carro em
Ocorriam após a apuração e identificação frente ao Hospital Carlos Chagas, no bairro de
de números elevados de mortes em um Marechal Hermes, reparei que três pessoas
determinado dia ou a cada triste marca atingida, oravam do lado de fora olhando para as janelas
como nos 50 mil e nos 100 mil mortos. das enfermarias. Parei o carro e perguntei se elas
No mesmo dia em que me despedia de uma tinham parentes internados ali. A resposta foi
pessoa próxima, registrei um momento muito positiva; mesmo sem saber se a pessoa da família

Fotografe 304 47
Fotos: Erbs Jr.
Acima, solidariedade
para alimentar
pessoas em situação
de rua no começo da
pandemia; ao lado, a
oração para doentes
no Hospital Carlos
Chagas, no Rio

estava em um daqueles quartos, resolveram de saúde nas alas destinadas aos doentes de
clamar pela ajuda divina. Elas me permitiram covid-19. No Hospital Universitário Clementino
fotografar, mas sem identificá-las. Ao final, Fraga, da Universidade Federal do Rio de
uma delas pediu para orar por mim. Naquele Janeiro (UFRJ), vi de perto a angústia dos muitos
momento, toda frieza que marca o jornalismo intubados e dos que ocupavam um leito de UTI
desapareceu. Fechei os olhos e tive um momento em plenas condições de consciência.
de conforto em um dia doloroso. Conheci histórias como a de Maria Vanessa
Lima de Araújo, 30 anos, que na reta final da
Profissionais de saúde gravidez foi diagnosticada com a covid-19 em
Fazer fotojornalismo como freelancer um estágio avançado e precisou passar por uma
requeria um trabalho intenso de apuração e cesariana de emergência para dar à luz Tainá.
busca por pautas relevantes que retratassem Mãe e filha foram separadas após o parto e Maria
o real cenário da pandemia. Com isso, desde o Vanessa seguiu para o Centro de Tratamento
início tentei fotografar a rotina dos profissionais Intensivo (CTI), onde ficou três dos 19 dias

48 Fotografe 304
O autor
Carlos Erbs dos Santos Junior,
conhecido como Erbs Jr. no meio
do fotojornalismo, é formado em
Jornalismo pela Universidade
Estácio de Sá, com especialização
em História do Brasil Pós-
-1930 pela Universidade Federal
Fluminense. Desde 2012
se dedica exclusivamente à
fotografia como freelancer com
trabalhos realizados para Folha
de S.Paulo, Metro Internacional
e agências de notícias Folha
Press, Frame Photo e AGIF. Tem
imagens publicadas em várias
edições do livro O Melhor do
Fotojornalismo Brasileiro,
inclusive a de 2020.

de internação – conheceu a filha


por videochamada. Após a alta do
hospital, fotografei mãe, pai e filha em
casa. Considero que momentos como
esse foram importantes para manter
a esperança, principalmente quando
passei pela experiência de ser pai em
plena pandemia.
Assim foram muitos meses
contando histórias com finais tristes e
outros de esperança. Coube também
à imprensa mostrar a realidade
que o governo queria esconder
e os negacionistas deturpavam –
combater as fakes news acabou sendo
mais um desafio na cobertura da
pandemia. Essa luta rendeu muitas
ofensas a cada cobertura de atos
pró-governo, contra o isolamento
social e as medidas restritivas. Em
uma ocasião, um homem que se
exercitava no calçadão, incomodado
com minha presença para fotografar
a movimentação em Ipanema, fez
gestos obscenos na minha direção.
Esse foi apenas um de tantos
insultos e ameaças.
No feriado de 7 de setembro medida restritiva que proibia a No alto, a mãe que
de 2020, fui à praia do Arpoador, permanência na areia. Assim que conhece a filha por
acompanhado do também repórter descemos para trabalhar, ouvimos videochamada;
fotográfico Fernando Sousa, para ameaças das mais diversas. As acima, profissionais
registrar o descumprimento da ofensas vinham de populares da saúde em ação

Fotografe 304 49
lados da história, me arrisquei
na cobertura dos mais diversos
protestos e manifestações, de
carreatas a “motociatas”, modalidade
de ato preferida do presidente Jair
Bolsonaro, que sempre descumpriu
todas as recomendações da
Organização Mundial da Saúde para
controle da pandemia.
A chegada das vacinas ao
Brasil foi o momento de uma
emoção diferente e de esperança
da cobertura. Não fotografei a
primeira pessoa vacinada com
Coronavac no Rio de Janeiro, mas
documentei as primeiras aplicações
da Astrazeneca, produzida pela
Fundação Osvaldo Cruz (Fiocruz)
– na ocasião, registrei uma pessoa
que passou a frequentar quase que
diariamente o noticiário nacional, a
infectologista Margareth Dalcomo.
Apesar dos momentos de dor
da perda de colegas de profissão, de
pessoas próximas e de personalidades
que admiro, ficarei com as boas
lembranças de tudo que foi vivido
e registrado. Cada dia que saí à
rua sei que corri riscos. Mas tinha
sempre em mente que, mesmo que
aquela fosse a última pauta, um dia
teria relevância. Não para mim, mas
para as futuras gerações que um dia
estudarão e tentarão entender como
administramos o “novo normal”, de
Fotos: Erbs Jr.

máscara e banhados no álcool em gel.

No alto, gente que que desfrutavam do dia de sol


se manifestava em plena pandemia e também
a favor das de barraqueiros que estavam
regras sanitárias proibidos de trabalhar por conta
e contra elas; das medidas de combate ao vírus.
acima, a cientista Outra situação de grande risco foi
Margareth a cobertura de protestos já em 2021,
nos quais a aglomeração é inevitável,
Serviço
Dalcomo, da
Fiocruz, sendo mesmo que os realizados em Vidas Importam: Editora iVentura;
vacinada favor da vacina e contra o governo capa dura, 136 páginas, formato 18
tenham grande número de pessoas x 26 cm; ISBN 978-65-88760-06-2;
de máscara. Como a imprensa não preço sugerido de R$ 120 (vendido em
pode se abster de contar os dois livrarias físicas e online)

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