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Fotografe

A revista que valoriza o fotógrafo e a fotografia

fotografemelhor.com.br
n0 307 | Ano 26

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A arte do nu em
PRETO E BRANCO
O que dizem oito especialistas sobre os ensaios,
a luz, a composição, a inspiração e a conversão da cor
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editorial

24
Guilherme Lechat

Ano 26
Edição 307

Foto de capa:
Mário Laine

G regos, romanos e egípcios tratavam da nudez no campo da arte séculos e séculos


atrás. Infelizmente, em pleno século 21, a hipocrisia, o conservadorismo puritano e
o preconceito ainda são um desafio para fotógrafos profissionais sérios e comprometidos
quando o assunto é nu artístico. O lado positivo é que uma boa parcela de mulheres cada
vez mais poderosas e independentes vê esse segmento como uma forma de valorizar a
liberdade de escolha, aumentar a autoestima e mostrar o próprio corpo da forma que
desejar. Por isso o aumento, nos últimos anos, na procura por ensaios de sensualidade e
nudez – algo que também começa a ocorrer timidamente com os homens. A opção pelo
P&B tem sido uma tendência e também uma maneira, embora não
admitida, de fugir de qualquer semelhança com ensaios eróticos de
revistas masculinas de tempos atrás. Nesta edição, oito especialistas
do setor falam sobre a arte do nu artístico em P&B, dando dicas e
colocando suas posições em relação ao assunto. Boa leitura.

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Juan Esteves
Sérgio Branco
Diretor de Redação
branco@europanet.com.br

Equipe de redação pela democracia


Denise Camargo (revisora), Izabel Donaire
(editora de arte), Livia Capeli (colaboradora
especial), Luiz Siqueira (diretor executivo),
Roberto Araújo (diretor editorial) e
Sérgio Branco (diretor de redação)
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A revista Fotografe Melhor é uma publicação da
Editora Europa Ltda. (ISSN 1413-7232). matéria de capa
A Editora Europa não se responsabiliza pelo
conteúdo dos anúncios de terceiros. A arte do nu em preto e branco........................ 24
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Estética Hitchcock
A fotógrafa Tainá Lossëhelin recebeu a proposta da cliente
Paula Febbe, fã de Alfred Hitchcock. Ela desejava realizar
um ensaio tendo como inspiração o universo de suspense e
a estética da época de ouro da Old Hollywood e uma pitada
de filme noir. Com uma produção bem planejada, o ensaio foi
realizado em um casarão vintage na Mooca, em São Paulo (SP),
que a dona disponibiliza para locação fotográfica. Para criar
Ficha técnica
a atmosfera de suspense, Tainá direcionou para os olhos da
modelo a luz de um flash dedicado com um snoot e duas tiras Autor: Tainá Lossëhelin
de papelão preto coladas no bocal. Um segundo flash com Cidade: São Paulo (SP)
uma sombrinha rebatedora de 80 cm foi usado para iluminar o Câmera: Canon EOS 6D Mark II
restante da cena. A parede de tijolinhos e a banheira vitoriana Objetiva: Canon 35 mm
com um braço exposto ao fundo (de uma amiga da fotógrafa) Exposição: f/5, 1/160 e ISO 200
deixaram o clima ainda mais Hitchcockiano.

4 Fotografe 307
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Retrato com persistência


Já era noite quando Henrique Oliveira, depois de passar a tarde
toda fotografando a cliente Sandy Layla de Oliveira, conseguiu
fazer um retrato que o agradasse. Contratado para fazer um
book em estúdio em comemoração dos 20 anos da estudante de
Direito, o fotógrafo usou três flashes: dois diante da cena e um
Ficha técnica
ao fundo para luz de recorte. Como fundo, uma parede pintada Autor: Henrique Oliveira
de preto; um ventilador doméstico ajudava a criar o movimento Cidade: Rio de Janeiro (RJ)
no cabelo de Sandy. Enquanto Henrique fotografava com uma Câmera: Nikon D610
lente 50 mm, a moça, que nunca havia posado antes, se esforçava Objetiva: Nikkor 50 mm
na dinâmica. Ao conferir o resultado, ele percebeu que graças à Exposição: f/5.6, 1/120 e ISO 200
persistência havia conseguido o que planejava.

Como participar: envie para fotografe@europanet.com.br no máximo duas fotos em arquivo digital e
informe nome, telefone, ficha da foto (equipamento, dados técnicos...) e faça um breve relato sobre as imagens.

Fotografe 307 5
Galeria do Assinante

Paixão
Entre pelo
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F oi a partir de sua entrada no Foto Clube


de Londrina, em 2001, que o engenheiro
de telecomunicações Mário Jorge Tavares viu
estrangeiras do setor e nas publicações do
conceituado Foto Cine Clube Bandeirante, de
São Paulo (SP), e na extinta revista Íris – já nos
seus horizontes se ampliarem na fotografia, anos 2000 tomou como referência Fotografe,
atividade que definiu como hobby preferido no da qual é assinante desde 2009.
final da década de 1960, quando foi desenhista Mário Jorge Tavares define como
de arquitetura e se inspirava nas revistas fundamental sua atividade fotoclubística,
pois teve a chance de conhecer
outros apaixonados por fotografia
e passou a ter contato com
olhares diferenciados, o que lhe
permitiu participar, dentre outras
atividades, de concursos internos,
salões nacionais e internacionais
da área. “É um eterno e prazeroso
aprendizado”, diz.
Como membro bastante
ativo do Foto Clube Londrina, a

Imagens de um fotógrafo
que anda pelas ruas: no alto,
Alegria da infância; ao lado,
Crianças desinibidas

6 Fotografe 307
Fotos: Mário Jorge Tavares

Mário Jorge Tavares tem um olhar atento


às cenas que ocorrem ao seu redor, no
espírito do bom street photographer

mais importante
Entre em nosso cidade do oeste
Canal nodo Paraná,
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recebeu premiações e aceitações em salões
nacionais e internacionais. Foi, por exemplo,
medalha de bronze do Salão Internacional de
Praga em 2020, na República Checa, e menção
honrosa no Salão Internacional da Apricot
Photo de 2020, na Armênia. No prestigioso
Salão Internacional de Arte Fotográfica de Jaú
(SP) de 2014 obteve a medalha de ouro na
categoria fotografia P&B. Participou de várias
exposições coletivas, sendo a mais recente
em 2020 na mostra Viva a Vida!, no Espaço
Cultural CEDDO, em Londrina.
A primeira oportunidade de aprimorar seu
olhar foi em 1989 ao participar de um curso
com o fotógrafo Álvaro Eloy, em Cornélio
Procópio (PR). Depois, cursou Fotografia
Digital/Tratamento de Imagens na Escola
Focus, em São Paulo (SP), com o professor
Ênio Leite, em 2006; no mesmo ano, fez um
workshop com o especialista em Photoshop
Clício Barroso; e foi da primeira turma da
Nikon School em São Paulo (SP), em 2011.
Depois de ter participado em 2011
da elaboração do livro Cliques e Escritos, ontem e hoje, que mostra por imagens, com
do Foto Clube de Londrina, Mário Jorge histórico de diferentes pontos de destaque,
Tavares está produzindo a obra Londrina: a transformação da cidade.

Fotografe 307 7
Fotos: Shutterstock
Grande Angular

O valor de
compra dos
equipamentos
tem um limite
de R$ 50 mil

Aprovada isenção de impostos


para fotógrafos profissionais
A Comissão de Assuntos Econômicos
(CAE) do Senado aprovou em
março de 2022 o projeto de lei da Câmara
A proposta do deputado licenciado
Rodrigo Maia (atualmente no PSDB)
estabelece a isenção do Imposto de
(PLC 141/2015) que isenta de imposto Importação, do Imposto sobre Produtos
os equipamentos e materiais importados Industrializados (IPI) e das contribuições
para uso exclusivo no exercício da PIS/Pasep e do Cofins – concedidas somente
profissão de fotógrafo e cinegrafista. aos equipamentos e materiais que não
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O texto recebeu parecer favorável do contarem com similar nacional e pelo prazo
relator, o senador Esperidião Amin de cinco anos, a partir da publicação da lei, e
(PP-SC), e seria enviado para sanção até o limite de R$ 50 mil.
presidencial. Amin sugeriu dar o nome de O texto prevê algumas exigências
Orlando Brito à lei, em homenagem ao para a obtenção do benefício, entre elas
grande repórter fotográfico que morreu a comprovação do exercício da profissão
recentemente (veja na pág. 16), pela (de fotógrafo ou repórter fotográfico) e a
“contribuição que fez ao documentar a declaração de falta de equipamento similar
história política brasileira”. no mercado nacional. O beneficiário fica
obrigado a permanecer com o equipamento
pelo prazo mínimo de dois anos.
Se entrar em vigor, a
Para o relator Amin, a evolução
lei valerá mais a pena
tecnológica trouxe novas necessidades
para lentes por serem
para os profissionais brasileiros,
mais baratas e duráveis
prejudicados pelo alto custo
dos equipamentos
importados e pela
tributação aplicada
sobre eles. “Tal
situação poderá
gerar defasagem
tecnológica, causando
grande prejuízo às
atividades profissionais
destacadas na
proposta”, comentou.

8 Fotografe 307
Lalo de Almeida ganha
World Press Photo 2022
Lalo de Almeida
O fotojornalista Lalo de
Almeida foi anunciado
em abril de 2022 como o
vencedor mundial do World
Press Photo na categoria
Projeto de Longa Duração. O
projeto tem 12 anos e mais
recentemente Lalo publicou
uma série de reportagens
com imagens em P&B na Folha
de S.Paulo e retratando os
dramas ambientais e sociais na
Amazônia. Batizado de Distopia
Amazônica, mostra como o
desmatamento, a mineração,
o desenvolvimento de
infraestrutura e a exploração
de recursos naturais ameaçam recebido o World Press Photo Queimadas na
a floresta, principalmente mundial na categoria Meio Amazônia, um
nos últimos quatro anos. Em Ambiente pelo seu trabalho nos dos aspectos do
2021, Lalo de Almeida já havia incêndios no Pantanal. trabalho de Lalo

Morre
Entre Patrick
em nosso Canal noDemarchelier
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O fotógrafo francês Patrick Demarchelier, Demarchelier teve
considerado um dos maiores nomes da moda, um final de carreira
morreu no dia 31 de março de 2022, aos 78 polêmico ao ser
anos, em decorrência de um câncer. Nascido em acusado de assédio
La Havre, cidade próxima a Paris, Demarchelier
descobriu a fotografia aos 17 anos, quando Nos anos 1990,
ganhou uma câmera Kodak de seu padrasto. com a explosão das
Depois de se mudar para Nova York nos anos top models, Demarchelier fotografou todas as
1970 para atuar como freelancer, Demarchelier rainhas das passarelas da década e nos anos
ganhou notoriedade nos anos 1980 ao fotografar 2000 se tornou um dos raros profissionais da
campanhas para moda que podiam escolher a dedo com quem
grifes como trabalhar – uma das modelos que ele mais clicou
Christian Dior, nessa fase foi a brasileira Gisele Bündchen. O
Louis Vuitton, fotógrafo francês esteve no Brasil em 2004 para
Céline, Tag Heuer, produzir o famoso Calendário Pirelli de 2005.
Chanel, Yves Saint Em 2018, porém, Demarchelier conheceu
Laurent, Lacoste, o lado menos glamouroso da fama ao ser
Calvin Klein e Ralph acusado de assédio sexual por pelo menos 50
Lauren. modelos e uma ex-assistente, o que o forçou
a se aposentar. As acusações nunca foram
Foto feita por provadas, mas lhe custaram um banimento
Demarchelier da Condé Nast, a editora que publica a
no Brasil para o tradicional revista de moda Vogue, e que na
Calendário Pirelli ocasião informou que não mais o contrataria.

Fotografe 307 9
nova tilt-shift A lente surge
como opção mais
de 20 mm barata diante
A Venus Optics anunciou das marcas
a lente Laowa 20 mm f/4 tradicionais
Zero-D Shift, que oferece um
deslocamento de mais ou
menos 11 mm em câmeras
full frame e dá aos fotógrafos
de arquitetura mais controle
sobre a perspectiva, ou seja,
torna possível corrigir as linhas
verticais convergentes. A lente tilt-shift
tem um ângulo de visão de 94,4 graus,
é construída com 16 elementos em 11
grupos (com dois elementos asféricos e
três elementos de dispersão extra-baixa) com baioneta para as séries Canon EF,
e tem diafragma de 14 lâminas (que cria Canon RF, Nikon F, Nikon Z, Sony E, Pentax
um bokeh circular suave) e rosca de K, Leical L e Fujifilm G. Custa US$ 1.100 no
filtro de 82 mm. Pode ser encontrada site da Venus Optics.

Uma pinhole muito avançada


FuguFilm, um novo
A empresa Thingyfy anunciou a Pinhole
slide na praça Pro Max, que afirma ser a lente de orifício mais
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avançada do mundo graças à distância focal
Prova de que os variável de 18-36 mm, às seis aberturas e ao
filmes ainda têm suporte para várias baionetas de câmera. Ela
público, a Japan oferece seis tamanhos de orifícios diferentes:
Camera Hunter 0,1 mm, 0,15 mm, 0,2 mm, 0,25 mm, 0,3
(JCH) anunciou mm, 0,35 mm, 0,5 mm e 0,8 mm. Segundo a
o FuguFilm 400, empresa, a perfuração é feita por microbroca
diapositivo de de controle robótico para perfurar com
ISO 400 que precisão um círculo perfeitamente redondo.
será colocado no A Pinhole Pro Max (foto abaixo) pode ser
mercado ainda em usada com montagens Canon EF, Nikon F,
2022. De acordo Sony A, Sony E, Fujifilm X, Micro Four Thirds e
Fotos: Divulgação

com Bellamy Hunt, fundador da JCH, é o Pentax K. A lente está disponível na plataforma
primeiro filme reversível totalmente novo de financiamento coletivo Kickstarter a partir
a ser lançado em quase duas décadas. de US$ 219 e a produção está prevista para
O FuguFilm 400 levou três anos para ser iniciada em julho de 2022 – a campanha já
ser criado, um trabalho que começou superou em muito a meta de financiamento.
em 2019. Hunt informa que houve
muitas versões de teste para se chegar ao
equilíbrio entre saturação e ISO. O desafio
não foi fácil porque muitos dos produtos
químicos usados em slides anteriores hoje
são proibidos. Assim, várias mudanças
foram feitas para cumprir as diretrizes que
visam proteger o meio ambiente.

10 Fotografe 307
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Fotografe 307 11
Estante

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Uma visão aérea


O fotógrafo Vitor
Marigo retratado
por Edinger no
sobre a pandemia Cristo Redentor

E m meio à pandemia de covid-19, o


fotógrafo Claudio Edinger descobriu meio
por acaso como produzir uma série de retratos
“Fomos tomar banho de rio e levei meu drone.
Pedi a Alice, filha de Betina Samaia, minha
namorada, que ficasse deitada nas pedras
com um ponto de vista incomum documentando para que eu fizesse seu retrato com o drone.
o isolamento das pessoas. A ideia surgiu quando Comecei a pensar em como as pessoas iriam
ele foi passar a primeira fase da quarentena, em se lembrar desse período. Daí surgiu o projeto
março de 2020, em uma fazenda em Brotas (SP). de uma série de retratos aéreos”, explica

12 Fotografe 307
Fotos: Claudio Edinger

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Acima, o artista plástico Vik Muniz; abaixo, o
casal socialite paulistano Dado e Marina Foz

Claudio Edinger lança livro


que reúne retratos que
fez com drone durante o
período mais crítico do
isolamento social
Edinger, que lançou em abril de 2022 o livro
Quarentena pela editora Vento Leste.
O fotógrafo vinha usando um drone DJI
Mavic Pro 2 antes da pandemia para fazer
imagens de paisagens urbanas com a técnica
do foco seletivo, do qual é especialista. Nunca
imaginou, porém, que o aparelho servisse
para fazer retratos. “Aos poucos, começou
a fazer muito sentido. Com o drone, há um
novo ponto de vista do céu, como se os
deuses estivessem nos vendo. Ao mesmo
tempo escancara nossa fragilidade, pois
através do mesmo ar somos atacados por
um vírus cujo tamanho é 125 milionésimos
de um milímetro”, comenta Edinger. Aliada à

Fotografe 307 13
Edinger conseguiu

Fotos: Claudio Edinger


uma solução técnica
para mostrar o
isolamento social
com criatividade

Entre em nosso
A imagem que
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vista aérea, a experiência com o aparece de corpo inteiro, em pé
deu início à série, foco seletivo também funciona a ou deitada, destacada pelo foco.
feita no rio de favor dele, isolando ainda mais o O curador Marcello Dantas,
uma fazenda elemento humano e acrescentando autor de alguns textos do livro e
em Brotas (SP) dramaticidade à imagem. um dos retratados por Edinger
Depois de Alice, os durante a pandemia, diz que o
personagens foram se fotógrafo é escolado nas múltiplas
sucedendo: quase todos possibilidades das linguagens
são amigos ou amigos fotográficas, mas que foi
de amigos. Ele marcava o absolutamente feliz ao desenvolver
dia da foto com a pessoa, uma solução técnica que traduzisse
levantava voo para avaliar a o espírito de uma época marcada
locação e combinava o lugar pelo isolamento social. “Ao ser
– na janela, na sacada ou retratado por ele, entendi a
na varanda do apartamento mudança da geometria na relação
ou da casa ou em um espaço fotógrafo, retratado e drone. O
externo em que a pessoa drone atua como uma entidade
própria, inoculando a realidade com
uma intervenção robótica que se
posiciona entre os humanos que
Serviço
ali atuam a seu serviço. A foto é
O livro Quarentena – O isolamento social na o retrato de uma situação, não
pandemia de 2020/21 tem 288 páginas, formato necessariamente de uma pessoa.
22 x 28 cm e traz 145 imagens feitas com drone. É nessa hora que o contexto se
Custa R$ 250 e pode ser encontrado em livrarias revela e fala sobre o tempo que
e no site da Vento Leste (www.ventoleste.com). vivemos”, reflete Dantas.

14 Fotografe 307
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Fotojornalismo

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Fotos: Orlando Brito

O povo sob as botas dos militares durante a comemoração do 7 de setembro de 1971

Orlando Brito
agora é luz
Por Sérgio Branco

16 Fotografe 307
Em foto para O Globo, Brito mostra Pelé sendo condecorado por Ernesto Geisel em 1977
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O aclamado fotógrafo mineiro criado em Brasília morre


aos 72 anos deixando um legado de grandes imagens que
contam a história contemporânea da política brasileira

Q uando saiu da pequena Janaúba, norte


de Minas Gerais, quase na divisa com
a Bahia, Orlando Péricles Brito de Oliveira
precoce com o fotojornalismo – naquele mesmo
ano, 1964, a luz da democracia foi apagada pelo
golpe militar e o Brasil entrou em uma sala escura
encontrou uma Brasília ainda em construção, da qual sairia apenas 21 anos depois... Em dois
onde cimento, areia, vergalhões, poeira (muita anos na redação brasiliense da Última Hora, Brito
poeira) e a mão de obra de gente de várias partes aprendeu muita coisa. A mais importante foi
do Brasil ali se juntavam para realizar o sonho manusear uma câmera alemã Rolleiflex: colocar o
do também mineiro Juscelino Kubitschek de filme, ajustar a exposição, fazer o foco e apertar o
Oliveira, então presidente da República. De botão de disparo. A etapa seguinte, a de domar a
calças curtas, pés descalços, aquele menino luz, ele foi descobrindo aos poucos.
de 6 anos jamais poderia imaginar que um Convidado por Fotografe para fazer uma
dia, diante do seu olhar através do visor de apresentação no Festival Paraty em Foco de
uma câmera, iriam desfilar nove presidentes 2009, Brito contou que a primeira reportagem
democraticamente eleitos, como Juscelino, e fotográfica feita por ele foi em 1965, aos 15
cinco da época da ditadura militar. anos, quando o Brasil vivia o começo da ditadura
Aos 14 anos, o emprego de contínuo no militar com o marechal Humberto de Alencar
laboratório da sucursal do então combativo diário Castelo Branco na presidência. Certo dia,
Última Hora deu-lhe a chance de um contato o Palácio do Planalto informou que Castelo

Fotografe 307 17
Não basta fazer uma foto
apenas noticiosa, ela tem que
ser atraente de alguma forma
e também provocar dúvidas
ou questionamentos"
Orlando Brito

Branco iria visitar o arcebispo de


Brasília (DF). Assim que Alberico
de Souza Cruz, então editor-chefe
da sucursal da Última Hora, soube
da agenda, desdenhou: “Ah, manda
esse moleque lá”. O jovem contínuo,
aprendiz de fotógrafo, iniciava sua
jornada por uma cidade de ares
futuristas em que os prédios ainda
cheiravam a novo. De lá para cá foram
57 anos usando a câmera como um
cinzel para esculpir com a luz imagens
que se tornaram referência para todo
tipo de fotógrafo, como o brilhante
retrato de perfil do político Ulysses
Guimarães que foi capa da revista
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Veja em 1992 –veja a história desta
foto na pág. 22.

Agência própria
Orlando Brito trabalhou em em revista semanal teria A sutileza em
grandes jornais, como Última Hora, O Globo de produzir um material de registrar a
e Jornal do Brasil, e nas revistas Veja e Caras. nível superior ao que fazia censura em
Depois que deixou a revista de celebridades, para o jornal, pois só iria ter tempos de
abriu em Brasília a própria agência de imagens, a foto publicada dias depois ditadura nos
a Obritonews. Nela, prestava serviços de de o fato ter ocorrido. Uma anos 1970
fotógrafo, comercializava imagens, editava livros vantagem o meio revista lhe
e realizava projetos institucionais. Conhecido dava: podia fazer várias imagens de um mesmo
pelo estilo de entregar imagens de estética personagem porque havia mais tempo.
apurada, Brito inovou a cobertura de política da Brito cobriu 18 dos 21 anos do período da
época. “Entendi que não bastava ser noticioso, ditadura militar e toda a fase de redemocratização.
precisava ser bonito. Tinha de ter uma forma Produziu retratos icônicos dos mais importantes
e ser atraente. Buscava por fotos que também políticos brasileiros. “O fotógrafo deve cuidar
sugerissem perguntas”, explicou em uma das bem de seu ofício e de seus personagens. Sou
várias entrevistas que deu a Fotografe. A visão um fotógrafo do poder e o que eu faço é tentar
mais aguçada também o ajudava a transmitir a retratar a alma dessas pessoas. Fotografia de
situação política que o Brasil vivia em tempos de político tem muito mais de futuro do que de
ditadura sem ser censurado. passado ou presente”, avaliou. Essas imagens da
Ele passou 13 anos em O Globo, e seguiu história recente do Brasil podem ser vistas nos
para a redação de Veja, na qual permaneceu por livros que editou: Perfil do Poder (1982), Senhoras
quase duas décadas. Pontuava que esse foi o e Senhores (1992), Poder, Glória e Solidão (2002),
momento de apurar ainda mais o olhar. Sabia que Iluminada Capital (2003) e Corpo e Alma (2006).

18 Fotografe 307
As fotos que mostram a morte
de dois soldados do Exército
em treinamento deram a Brito
o World Press Photo de 1979

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fotógrafo foi o primeiro
brasileiro a ser premiado

Fotos: Orlando Brito


pelo renomado concurso
internacional de fotojornalismo
World Press Photo – recebeu
a honraria em 1979 quando
trabalhava em O Globo com o
flagrante de um acidente que
matou dois soldados do Exército durante um entrevista a Fotografe. Para ele, no entanto, o
treinamento. Por 11 vezes, foi o vencedor do pior era a autocensura. “Que existe até hoje nas
Prêmio Abril, na categoria Fotografia – tantas que redações e precisa ser combatida”, afirmava.
passou a ser hors concours. Além de fotografar,
ocupou o cargo de editor de fotografia no Jornal Única e grande paixão
do Brasil e na Veja, e mostrou sua versatilidade na Em uma entrevista dada em 2021 a um
cobertura de Copas do Mundo, Jogos Olímpicos programa da Rádio Câmara, da Câmara dos
e uma porção de outras pautas além de política. Deputados, foi perguntado a Orlando Brito se
Era convicto em dizer que os fotojornalistas ele tinha a fotografia como paixão. A resposta:
tiveram um papel decisivo na contestação do “Uma das primeiras e talvez uma das únicas. A
regime militar por se beneficiarem do fato de fotografia é tudo para mim, é o que me trouxe até
os censores não terem muito discernimento aqui. Não consigo enxergar nada sem ser pelo
para interpretar imagens. “Mas isso não significa ângulo fotográfico, visual, estético. Então, não
que os fotógrafos não foram perseguidos. Fui consigo fazer nada que não passe, que não toque,
preso e tive o filme tomado diversas vezes. Havia no tema fotografia”.
também uma censura anterior à publicação, na Nos últimos anos, além da agência, Brito tinha
própria organização dos eventos oficiais, quando um emprego fixo na estatal Empresa Brasileira
se criava o cenário desejado às fotos”, relatou em de Comunicação (EBC), mas foi demitido logo no

Fotografe 307 19
Fotos: Orlando Brito
início do governo Bolsonaro. Como exames detectaram a existência de
Orlando Brito fotógrafo freelancer, mantinha-se um tumor no intestino e ele teve de
nos corredores (e cercadinhos) do passar por uma cirurgia complexa.
influenciou
poder em Brasília, ao lado de jovens No dia 8 de fevereiro, já na UTI
várias gerações fotojornalistas que o cultuavam, em recuperação, conseguiu gravar
de fotojornalistas como Gabriela Biló, ex-Estadão um áudio para um grupo de amigos
que se tornaram agora na Folha de S.Paulo, e Ueslei que tinha no WhatsApp. Porém,
especialistas Marcelino, da agência Reuters. dois dias depois seu quadro se
naEntre
cobertura Na primeira semana de fevereiro, agravou e ele teve de passar por mais
em nosso Canal no Telegram:
Brito passou a sentir fortes dores
t.me/BRASILREVISTAS
procedimentos, incluindo a intubação.
de política em abdominais e foi aconselhado a Mesmo debilitado, foi removido para o
Brasília (DF) procurar um médico. Como não CTI do hospital de Taguatinga, região
tinha plano de saúde, foi para a administrativa de Brasília, porque a
emergência do Hospital Regional UTI do Regional havia sido requisitada
da Asa Norte, na capital Federal. Lá, para pacientes de covid-19. Lá,
enfrentou mais uma cirurgia, mas não
resistiu. Morreu na madrugada do dia
11 de março de 2022.
Orlando Brito deixou, além da filha
Carolina e dos netos Theo e Thomas,
uma legião de amigos e admiradores.
Acima, cena da Recebeu mensagens de respeito e
posse do general pesar de vários políticos e ganhou
Artur da Costa um amplo espaço na edição do Jornal
e Silva como Nacional na Globo, proporcional à
presidente em sua grandeza como fotojornalista –
março de 1967; ao para muitos, o maior de sua geração.
lado, Lula enxuga Gentileza, bom-humor, simplicidade,
o suor durante generosidade, faro para a notícia e um
as eleições para olhar muito acima da média faziam
presidente de de Brito um ser humano com uma
2002, que venceu luz especial, que certamente seguirá
depois de ter emanando pelos corredores de
disputado o cargo Brasília a inspirar jovens fotógrafos
por três vezes que têm o foco no poder.

20 Fotografe 307
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História de uma foto

A efígie do
senhor Diretas Já
Este texto foi escrito tempos atrás como parte de um livro ainda
não finalizado sobre histórias dos bastidores de grandes fotos
Orlando Brito
Por Sérgio Branco

O rlando Brito tem um tique


de ficar ajeitando os óculos,
geralmente de armação vermelha
de acetato, uma característica
do veterano fotógrafo que lhe
dá certa jovialidade. Fala manso,
pontua as frases com um “veja
bem” aqui e outro ali. É envolvente,
sedutor e convincente quando
defende um ponto de vista ou
conta uma história. Depois de
cinco décadas passadas em
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Brasília (DF), onde se tornou
íntimo dos bastidores do poder,
Brito parece ter absorvido a
eloquência e a sagacidade de
alguns poucos políticos admiráveis,
parlamentares que empunhavam
uma vela no fim do túnel nos
tempos escuros da ditadura
militar. Um desses homens era
Ulysses Guimarães.
Brito fotografou o doutor
Ulysses, como gosta de chamá-lo,
centenas de vezes, dos mais variados
ângulos. Ele começou a trabalhar na
cobertura política na capital federal
em 1966, época em que Ulysses
Guimarães já era um parlamentar
renomado, pois sua primeira eleição a
deputado federal por São Paulo fora
em 1951. Mas o fotógrafo confessa
que uma dessas imagens o incomoda
por reputá-la como premonitória.
Era uma terça-feira modorrenta,
6 de outubro de 1992, dia de pouco O perfil de Ulysses Guimarães feito na
movimento no Congresso Nacional. contraluz em 1992 e capa da revista Veja
Fotógrafo da revista Veja em Brasília, quando o deputado federal morreu

22 Fotografe 307
Arquivo pessoal
Fiz seis fotos do doutor Ulysses naquele
dia com slide e só consegui ver o
resultado 11 dias depois, já que na
sucursal de Brasília não havia como
revelar um filme diapositivo"
Orlando Brito

Orlando Brito se preparava para voltar à redação


no final da tarde. Ao descer os degraus da
escada do Salão Verde da Câmara para o térreo,
vislumbrou o sol, na sua trajetória descendente,
sendo engolido pelo horizonte. Mais uma vez
percebeu a beleza na luz do outono do cerrado
do Planalto Central, que despejava uma réstia de
raios cristalinos no ambiente.
Enquanto ele descia a escada, Ulysses
Guimarães chegava à Câmara – onde cumpria
o décimo primeiro mandato consecutivo como
deputado federal. Seguia, solene, em direção
ao elevador privativo dos parlamentares. Foi e sentiu um aperto no Orlando Brito
interrompido na sua trajetória pelo jornalista coração. Imediatamente começou a
Ivanir Bortot, então repórter do jornal Gazeta entrou em contato com carreira de
Mercantil. Parado em frente ao elevador, o Veja em São Paulo e falou fotojornalista em
veterano político respondia à pergunta do
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS com o diretor de redação 1966 na sucursal
jornalista. Já Orlando Brito, do lugar onde Mário Sérgio Conti para do jornal Última
estava via na contraluz a silhueta de Ulysses e alertá-lo das fotos que Hora em Brasília
Bortot, ambos como efígies, contornados pelos havia feito.
raios solares do entardecer. No dia seguinte, o Brasil viveu o drama
O fotógrafo virou a Nikon que tinha em do resgate dos corpos, achados somente na
mãos para obter um corte vertical, ajustou o parte da tarde. Todos foram encontrados, o
foco manual da objetiva zoom 70-210 mm e de dona Mora Guimarães, o de Severo e o de
apertou o botão disparador por seis vezes. Em Maria Henriqueta Gomes e o do piloto Jorge
tempos de fotografia analógica, sabia que tinha Comoratto. Menos o de Ulysses. Enquanto
feito um grande retrato do doutor Ulysses, o Brasil começava a se despedir do veterano
mas teria de esperar para ver o resultado, pois político, então com 76 anos, Orlando Brito,
na sucursal de Veja em Brasília não havia como por telefone, escolhia com Conti a foto que iria
revelar aqueles filmes diapositivos. Por isso, para a capa de Veja. “É a terceira da série de seis
para apressar o processo, logo que chegou à fotogramas sequenciais, pode ir nessa, tenho
redação retirou o cromo de 36 poses da câmera certeza”, defendia, sem ter visto o material que
e o enviou para o laboratório da Editora Abril em tinha produzido. Conti concordou ao ver a foto.
São Paulo (SP). Com sorte, em dez dias teria a Brito conferiu o resultado daquele instante
cartela com as fotos na mão. de luz incrível somente no dia 17 de outubro, um
Não deu tempo. Seis dias depois, na noite sábado, quando a revista chegou a Brasília. Por
do dia 12 de outubro, uma segunda-feira, o ter uma relação próxima com Ulysses Guimarães,
então presidente Itamar Franco foi avisado não conteve as lágrimas. Era uma imagem forte
que o helicóptero em que viajavam Ulysses feita em momento sereno. Colorida, parecia
Guimarães e o ex-senador Severo Gomes, com preto e branco, pois mostrava o perfil negro de
as respectivas mulheres, havia desaparecido Ulysses esculpido pelo cinzel de uma luz alva.
num voo entre Angra dos Reis e São Paulo. Uma aura inesperada que definia os traços
Orlando Brito recebeu a notícia por telefone inconfundíveis do “senhor Diretas Já”.

Fotografe 307 23
Mário Laine trabalha
matéria de capa
bastante com a luz
natural e com duplas
ou trio de modelos
em seus ensaios

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Mário Laine

A arte do nu em
preto e branco
Oito especialistas falam sobre a opção pelos ensaios
monocromáticos, os cuidados que tomam com a luz na
hora de fotografar e os ajustes que fazem na conversão
24 Fotografe 307
Richard Avedon
Nastassja Kinski por Richard
Avedon em 1983; abaixo,
um clássico nu de Edward
Weston, feito em 1936

POr Livia Capeli

O s mais conservadores podem não


concordar, mas nu como arte fascina
desde a antiguidade: escultores e pintores se
dele para uma conversão simples e eficiente.
Juan Esteves, que prepara seu primeiro livro
de nu artístico, lembra que o corpo nu inspira
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esforçavam para representar o corpo em seu fotógrafos desde os primórdios da fotografia
estado original, algo fácil de ser comprovado e que o P&B realmente pode ser visto como
em qualquer museu que exiba obras de mais “nobre” ao longo da história, mas que
civilizações antigas, como a egípcia, a grega há muitos trabalhos coloridos referenciais
e a romana. Na fotografia, os primeiros nus que devem ser observados por quem está
surgiram na década de 1830 e, com o tempo, começando (leia mais na pág. 36). O fotógrafo,
esse segmento acabou se tornando um dos

Edward Weston
mais cultuados e desafiadores. Do ponto de
vista estético, os ensaios em P&B sempre
passaram um sentimento mais artístico e
glamouroso, conforme atestam os especialistas
Brasilio Wille, Juan Esteves, Mário Laine,
Guilherme Lechat, Vildnei Andrade, Tallyton
Alves, Fábio Hashimoto e Alex Curty. Mas é
preciso saber realmente o que funciona na
opção monocromática, e não apenas converter
qualquer imagem colorida.
Para Brasilio Wille, mestre nos ensaios de
nudez e sensualidade em estúdio, tudo começa
na hora de captar as imagens. Ele, por exemplo,
ajusta a câmera no modo monocromático para
visualizar os tons de branco, preto e cinza.
Fotografa em formato RAW, que mantém todas
as informações dos canais de cor do arquivo, e
depois decide se mantém a imagem colorida ou
a converte em P&B – veja na pág. 40 as dicas

Fotografe 307 25
Helmut Newton

Man Ray

Acima (à esq.), a professor e crítico de fotografia especialistas, o fotógrafo que deseja


ousada foto Sie comenta que daguerreótipos de trabalhar na área deve lutar sempre
Kommen (Nude), autoria desconhecida já mostravam contra a vulgaridade, marca do
de Helmut mulheres nuas ou com pouca roupa
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS visual erótico de algumas revistas
Newton, feita e eram usados por pintores como masculinas. Buscar referências na
em 1981, e a referência (veja box). história da arte, por exemplo, é uma
obra Natasha, Nesse começo marcado pela forma de treinar o olhar. Na própria
com solorização, discrição por causa do puritanismo, fotografia, há nomes consagrados,
criada por Man os fotógrafos recorriam a prostitutas, como Man Ray, Richard Avedon,
Ray em 1931 já que outras mulheres se recusavam Erwin Blumenfeld, Edward Weston,
a posar nuas. Vivia-se uma época Helmut Newton, para citar alguns,
em que a única nudez autorizada que podem servir de inspiração.
para publicação se resumia a fotos
de nativos que ilustravam relatos De olho na luz
de exploradores e antropólogos em Dono de um olhar elegante para
revistas como a National Geographic o nu artístico, o mineiro Mário Laine
ou em livros didáticos – o que diz que quando uma pessoa observa
tratava basicamente de mostrar uma foto colorida o cérebro leva
a superioridade da civilização os olhos a tentar perceber todas
ocidental sobre povos de várias elas, podendo causar distração,
regiões do planeta. tirando o foco daquilo que seria
É preciso muito
Na atualidade, tempos em o ponto de interesse. Já o preto e
cuidado para que o conservadorismo e o branco não causa essas distrações e
a produção de preconceito convivem com mulheres permite perceber com mais clareza
imagens em empoderadas que pagam por o verdadeiro objetivo da imagem,
P&B, pois o ensaios de sensualidade, ainda há seja um sentimento, uma forma ou
segredo está no uma linha bem definida para que um as duas coisas juntas.
ensaio de nu possa ser considerado Entretanto, pontua ele, é
controle da luz" artístico, seja P&B ou colorido: necessário certa cautela ao produzir
Mário Laine o bom gosto. Para a maioria dos uma imagem em P&B. O maior

26 Fotografe 307
Fotos: Mário Laine

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Acima, uma colagem de Mário Laine
com várias cenas de nu; ao lado, o controle
da luz para desenhar as formas do corpo

cuidado começa com a luz, seja ela natural ou de


estúdio. Em fotos externas, por exemplo, em que
se tem apenas a iluminação natural como fonte
principal, é importante observar as nuances
que a luz produz, onde ela se destaca e o que
evidencia. Já nos trabalhos em estúdio existe
a possibilidade de direcionar a luz, definindo
o que se deseja evidenciar, influenciando na
mensagem que se quer transmitir, ensina Laine.
Para ele, o processo de trabalho para
captar uma imagem P&B ou cor é o mesmo.
“Sobre isso, li certa vez um artigo que dizia que
a diferença essencial, no caso da fotografia,
não estava no método, e sim na substância de
cada estilo. A substância da fotografia em preto
e branco é a luz, e a da colorida é a cor, por
isso as fotos em preto e branco parecem mais
dramáticas e mais trágicas do que as coloridas,
que na maioria das vezes se apresentam mais
amenas e leves. É claro que isso não é absoluto
e há exceções”, discorre.

Fotografe 307 27
Como o ser humano
enxerga o mundo em
cores, o preto e branco
parece transportar o
olhar para um universo
desconhecido, como um
sonho ou algo surreal"
Guilherme Lechat
Fotos: Guilherme Lechat

Ao lado e abaixo,
trabalhos de Guilherme
Lechat, fotógrafo que
sabe dirigir as modelos
com muita eficiência

Para manter o equilíbrio


Segundo Mário Laine, o principal requisito
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Veterano no segmento de ensaios de
para realizar um ensaio de nu e sensualidade
em P&B é ser coerente com aquilo que nu artístico usando basicamente a estética
se planeja sobre o trabalho. Outro fator monocromática como linguagem, o paulista
importante é saber explorar a luz também no Guilherme Lechat aconselha a quem está
software de edição. Com esse conhecimento, começando na fotografia experimentar de tudo
ressalta ele, é possível aumentar o grau de um pouco antes de se prender a uma única
dramaticidade, de sensualidade e passar a estética: “As cores também são lindas, não ter
emoção necessária. O tratamento da imagem preconceitos estilísticos é fundamental”, avisa.
ainda pode ser usado para evidenciar um ponto Para ele, tecnicamente, a fotografia colorida
de interesse na composição. aproveita muito mais o espectro visível da luz.
No entanto, refletindo
filosoficamente, o diferencial
mais importante que
distingue as duas linguagens
é o fato de o ser humano
enxergar o mundo em
cores, o que faz com que
o colorido seja muito mais
facilmente assimilado
pelo observador. “Quando
se fotografa em preto e
branco, automaticamente
se adentra em um
universo desconhecido.
A monocromia é como se
fosse um sonho, algo surreal.

28 Fotografe 307
Portanto, o P&B tem o poder de transportar o
observador para um mundo imaginário, já que o
real é colorido”, comenta Lechat.
Ele explica que na fotografia P&B, assim como
ocorre na cor, a fotometria tem que ser bem-feita,
sobretudo para o registro da modelo. No mais,
tudo é uma questão de adequação à proposta. Os
resultados devem ser perseguidos com o mesmo
nível de cuidado de uma fotografia colorida: tudo
deve ser estudado com muita atenção: “Mesmo que
você já seja muito experiente, não pode relaxar. A
monocromia é algo que já deve estar sistematizado
e interiorizado quando a proposta é um nu. Esse não
é um tema para iniciantes”, afirma.
Segundo ele, se você for pensar e fotografar
como purista, um bom preto e branco deve

Fotometria perfeita para


destacar as formas do corpo da
modelo em uma pose incomum

Referência para pintura


Eugène Durieu
Uma das primeiras o fotógrafo amador
funções da fotografia de Eugène Durieu (1800-
nu artístico foi servir de -1874). Delacroix ficou
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referência para desenhos famoso por ter um estilo
e pinturas com uma série de pintura baseado no
de possibilidades de pose. uso dinâmico da cor,
Consideradas vulgares e com pinceladas leves
excessivamente explícitas e contornos pouco
para o gosto artístico do nítidos. Entusiasta da
século 19, sua circulação fotografia desde seu
ficou restrita a circuitos surgimento, ele dizia
particulares. Era uma que, por sua excessiva
ferramenta auxiliar nas nitidez e literalidade, não
artes plásticas, pois poderia jamais alcançar o
permitiu encurtar a estatuto de arte.
duração das sessões de As fotografias de nu
pose com modelos vivos, produzidas para venda a
garantindo a obtenção de artistas tinham mulheres
várias opções de pose em uma mesma sessão, como tema preferencial, em poses que
aliadas à reprodução correta dos volumes estavam de acordo com a prática tradicional,
e proporções e à capacidade de produção e geralmente fazendo alusão à antiguidade
distribuição de cópias em grande quantidade. clássica. Com o objetivo de escapar desse
Na década de 1850, era ampla e farta a padrão, Delacroix convidou Durieu para
oferta de clichês fotográficos de modelos nus fotografar nus especialmente dirigidos pelo
voltados especialmente a artistas plásticos pintor. A parceria resultou na criação de
como matéria-prima para a criação. dois álbuns fotográficos com cenas de nu
Uma das parcerias mais célebres nesse masculino e feminino, hoje pertencentes às
campo foi feita em Paris, França, entre o coleções da Biblioteca Nacional Francesa e da
pintor Eugène Delacroix (1798-1863) e George Eastman House, nos Estados Unidos.

Fotografe 307 29
Fotos: Tallyton Alves

Tallyton Alves prefere clicar


com a câmera ajustada para
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informação. Depois, com uso de


programas adequados, as cores são
eliminadas e surge, enfim, o melhor
preto e branco. Mas é fundamental
que tudo seja pensado, elaborado
conter a maior quantidade possível e projetado com antecedência.
de tons de cinza, ou seja, dos tons Fotografia é projeto”, defende.
Acredito que o mais claros aos mais escuros. O
P&B seja mais branco é apenas a luz, enquanto o Olhar monocromático
preto profundo está na ausência Com um olhar desenvolvido
expressivo, dela, todo o resto é cinza, pontua dentro do segmento de fotografia
intenso e Lechat. Ele ressalta que isso é para de moda, o fotógrafo goiano
glamouroso puristas perfeccionistas, pois tudo Tallyton Alves construiu uma
para ensaios de é possível na arte. É importante linguagem que mescla fashion
nu artístico" que experimentações sempre com nu e sensualidade. Ele
sejam feitas para que resultados acredita que a fotografia despida
Tallyton Alves
inovadores surjam. de cor se torna mais expressiva
Diferentemente da linha de e intensa. Com o P&B, segundo
pensamento de outros fotógrafos, ele, a atenção fica mais voltada
Lechat acredita que uma fotografia aos detalhes do assunto principal,
P&B deve ser capturada e visualizada possibilitando ao fotógrafo ter mais
em cores para posteriormente ser clareza e eficiência na criação da
convertida: “Desprezar as cores luz, na composição e na direção,
na captura é um desperdício de aproveitando a dramaticidade dos

30 Fotografe 307
Acima, um
corte ousado de
Tallyton Alves
ao enquadrar
contrastes para evidenciar texturas relacionada a algo clássico, a cena; abaixo,
e sombras. “A atemporalidade da romântico e atemporal, mas está Vildnei Andrade
fotografia em P&B e a riqueza também associada à facilidade explora a luz
dos detalhes geram mais glamour de visualizar a cena e enxergar natural filtrada
e poesia para fotografia de nu e melhor, e de maneira mais rápida, pela persiana
sensualidade”, diz ele.
O especialista costuma capturar
Vildnei Andrade

a imagem sempre em P&B, pois


dessa maneira consegue visualizar
melhor os contrastes, os detalhes
de luz e de sombra para criar uma
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iluminação mais assertiva. Inclusive,
usa o mesmo processo com as fotos
que irá manter coloridas por conta
das vantagens que, segundo ele, a
captura em P&B proporciona.
Tallyton explica que o processo
de tratamento das imagens começa
no Adobe Camera Raw com ajustes
básicos para realçar a iluminação e,
no Photoshop, faz os ajustes finos
usando o Plugin Silver Efex Pro, que
proporciona opções avançadas de
ajustes nas altas luzes, tons médios,
contraste, e ainda oferece o filtro
de cor, possibilitando um melhor
controle de cada tom da imagem,
mesmo convertida em tons de cinza.

Fiel a um estilo
Reunir paisagens da natureza,
sensualidade do corpo feminino
e fotografia P&B em um mesmo
trabalho é o foco do fotógrafo
paulista Vildnei Andrade.
Ele acredita que a fotografia
monocromática não está somente

Fotografe 307 31
Fotos: Vildnei Andrade
O corpo bem iluminado
é crucial para uma foto
de nu em P&B se destacar

Eu sempre giro ao redor da modelo Andrade explica que existem grandes


para enxergar a luz que imagino e diferenças entre trabalhar com cor e com
P&B em ensaios de nu artístico. Comenta que,
peço para ela girar no próprio eixo
quando a opção é pela cor, é preciso estar atento
para encontrar o melhor ângulo" se a reprodução da pele da modelo corresponde
Vildnei Andrade à realidade na imagem, se os elementos de
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fundo não interferem na composição do assunto
principal e se a luz refletida não “estoura” algum
a composição de sombras e contrastes. “Creio detalhe na cena, chamando muita atenção.
que o P&B traga emoção e sentimento de Com P&B, as cores, os objetos e o fundo
nostalgia ao observador, e um prazer enorme ao não importam tanto, alega Andrade. O essencial
fotógrafo, que deixa esse observador delirante e é ter o assunto principal bem iluminado e as
atordoado ao tentar decifrar as possíveis cores sombras impressas no corpo da modelo mostrar
escondidas em cada um dos pixels e pontos da profundidade, textura e volume. É importante,
imagem congelada”, explana. ensina ele, se preocupar com a organização do
cenário para que nenhum elemento
estranho possa contaminar a
composição e se a luz incidente
sobre a modelo, sempre o ponto
de referência na cena, está como
planejado. “Giro ao redor da modelo
até conseguir ver a luz que desejo no
resultado final e também peço para
que ela gire no próprio eixo para que
eu encontre o melhor ângulo a ser
usado. Somente após isso passo para
a segunda etapa, que é ver a cena no
visor. Depois vou intensificando ou

No P&B, luz e sombra


precisam estar sempre
bem equilibradas

32 Fotografe 307
diminuindo o contraste e o brilho”, explica.
Para ele, o resultado final deve trazer uma
imagem forte, contrastada, com iluminação sobre
o ponto central da cena e o fundo somente com a
composição secundária. Ele acredita que a luz e
o contraste devem ser sempre os maiores e mais
bens trabalhados itens de uma imagem em P&B.

Modo simplificado
Seja em estúdio ou em externa, o fotógrafo
carioca Alex Curty tem sempre uma produção
bastante simplificada. O maior objetivo dele é
dar ênfase à beleza das curvas das modelos por
meio de uma estética monocromática, revelando
texturas e contrastes que normalmente não são
mostrados muito bem em uma imagem colorida.
Para Alex Curty, construir uma imagem em P&B

Para Alex Curty, o P&B destaca

Alex Curty
mais as texturas e os contrastes e
isso valoriza os ensaios de nu

Autorretratos na natureza

EntreA
fotógrafa americana Anne Brigman autorretrato nua e a divulgá-lo publicamente.
é considerada uma das pioneiras Brigman realizava expedições à região de
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quando o assunto é nu artístico. Nascida Sierra Nevada e fez lá a maioria das fotos – à
no Havaí em 1869, após se casar, mudou- época, frequentada quase que exclusivamente
-se para Oakland, na Califórnia. Começou por homens, dadas as dificuldades de acesso.
a fotografar em 1901 e no ano seguinte Ela buscava inspiração em temas da mitologia
entrou em contato com a revista Camera grega pré-cristã, principalmente na figura das
Work, publicada em Nova York por ninfas, espíritos naturais femininos ligados a
Alfred Stieglitz e, depois de uma troca de locais ou eventos da natureza. Para fazer as
correspondências, foi convidada a fazer composições, buscava elementos naturais,
parte do grupo Photo-Secession em 1903, principalmente árvores, de forma que o
tornando-se a primeira representante da corpo feminino constituísse uma espécie de
Costa Oeste no principal movimento da continuação e complementação da natureza.
fotografia moderna dos Estados Unidos. Em sua obra mais conhecida, intitulada
O aspecto mais ousado e inovador na Alma de um Pinheiro Queimado (1906), ela
obra de Brigman são fotografias de nus mesma é a modelo, inserindo o corpo nu no
femininos imersos em ambientes naturais interior de um pinheiro atingido por um raio.
– foi a primeira fotógrafa a fazer um Com as mãos levantadas para o céu e a cabeça
voltada para o alto, incorpora uma espécie de
Anne Brigman

continuação do corpo da árvore. Vista como


“vulgar” na época, essa imagem foi retirada de
uma exposição realizada em Oakland.
Com o tempo, o trabalho de Brigman
perdeu relevância do ponto de vista estético,
porém ficou marcado na história da fotografia
como o primeiro a explorar o poder do nu
feminino imerso na natureza e visto da
perspectiva de uma mulher.

Fotografe 307 33
Vejo alguns ensaios em
que a razão da imagem
é apenas o nu, pois não
há preocupação com a
direção da modelo. Uma
boa direção também é
muito importante"
Alex Curty

Alex Curty prefere


Fotos: Alex Curty

fazer seus ensaios


de nu artístico com
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produção simplificada

exige cautela com o contraste, que deve ser mais lingeries, e em acessórios, para ter sucesso ao
acentuado, mas sem ser exagerado. converter a imagem para P&B no final.
Além disso, é importante cuidar para que A pós-produção é outra etapa importante
o fundo seja mais neutro e o foco, preciso. para fazer valer os cuidados com a fotografia
“Todas essas questões devem ser resolvidas P&B, diz Curty. O fotógrafo explica que, ainda
antes do clique. Uma boa direção também com a imagem colorida, logo após ajustes de
é muito importante, contraste, sombras e
pois atualmente há altas luzes, realiza os
muitos ensaios em que retoques pontuais em
simplesmente a razão de cores (principalmente
uma imagem é apenas o a pele). Com a imagem
nu. A preocupação com a quase pronta, ele
arte e não vulgarização são duplica a camada e só
fundamentais”, defende. após todo o processo
Curty comenta que converte a imagem para
quase sempre captura o preto e branco.
as imagens usando o
formato RAW e ajustando O tom do P&B
a câmera para visualização Ao inspirar-se em
em P&B. Contudo, ressalta trabalhos de fotógrafos
que o fotógrafo precisa estrangeiros, como o
entender como definir alemão Stefan Beutler,
uma paleta de cores em o austríaco Ingo
peças de roupa, como Kremmel, o australiano

34 Fotografe 307
Em trabalhos
mais voltados
para o lado
sensual, eu
uso a cor; para
o lado mais
sentimental,
escolho o P&B"
Fotos: Fábio Hashimoto

Fábio Hashimoto

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Fábio Hashimoto acredita que o P&B remete a algo mais


dramático, sentimental e romântico nos ensaios de nu

Peter Coulson, o belga Frank De Mulder e o prioriza apenas dois elementos: luz e expressão
teuto-australiano Helmut Newton (1920- – para ele, ambos só funcionam perfeitamente
-2004), Fábio Hashimoto foca a sensualidade em conjunto. Tanto a luz quanto o plano
das mulheres evidenciando expressões e da modelo devem ser bem destacados,
sentimentos, e não por meio da nudez explícita. deixando o restante desfocado, subexposto
Para ele, a diferença entre os trabalhos em ou superexposto. Segundo ele, se tudo estiver
cor e em P&B é bem clara: “Quando pretendo focado ou aparecendo na mesma intensidade de
realizar um trabalho mais voltado para a iluminação, a atenção do observador poderá ser
sensualidade, vinculando um pouco a questão desviada do assunto principal.
do desejo ou algo mais próximo da realidade, Na pós-produção, Fábio Hashimoto procura
procuro fotografar em cor”, explica. Escolhe concentrar o contraste nas modelos deixando o
o P&B quando deseja transmitir algo mais ambiente subexposto – quando não é possível
dramático, sentimental, “escultural”, imaginativo fazer isso na hora de fotografar. Para ele, a pele
e romântico, mas sem sair da realidade. Para do rosto também deve receber um contraste
isso, costuma dirigir de forma que a modelo mais leve, assim como a iluminação deve ser
faça expressões que não costuma demonstrar sutilmente mais clara em relação ao restante do
publicamente, somente na intimidade. corpo e dos cabelos, colocando um pouco mais
Para seus ensaios em P&B, Hashimoto de volume na iluminação dessas regiões.

Fotografe 307 35
Nu & Sensual

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No tratamento, a ideia é que a imagem pareça um daguerreótipo marcado pelo tempo

O nu artístico
de Juan Esteves
A série Wishful Thinking, criada em 2016,
vai virar livro, o primeiro do fotógrafo nesse
segmento que o atrai desde o início da carreira
36 Fotografe 307
Passei a pensar em
um livro apenas
com fotos de nu
artístico depois de
publicar algumas
imagens com fusões
que fizeram sucesso
no Instagram"
Juan Esteves

Ao lado e abaixo, fotos da


Fotos: Juan Esteves

série Wishful Thinking, em


que Juan usa aplicativos,
como o Hipstamatic, para
simular alguns processos
Entre em nosso Canal no Telegram: t.me/BRASILREVISTAS clássicos da fotografia

Por José de Almeida

R enomado retratista, o fotógrafo e crítico


de fotografia Juan Esteves lembra
que as imagens de nu vieram imediatamente
de ensaio de nu. Segundo ele, na produção
atual, existem imagens que trabalham o
lirismo, enquanto outras vão contra as
após os primeiros retratos – já com primeiros convenções sobre o que é beleza ou contra o
daguerreótipos, com apelo
erótico e até pornográfico. Para
quem não sabe, informa que faz
ensaios de nu feminino desde
o início da carreira, há 40 anos,
tendo inclusive ministrado
vários workshops de retratos
de nus em festivais de
fotografia. Ele está trabalhando
atualmente na série Wishful
Thinking, algo como “sonhar
acordado”, segundo definição
do próprio autor, que será
publicada em breve – primeiro
livro dele dedicado em essência
aos nus femininos.
Para Juan, a grande
questão é a qualificação do
que é “arte” quando se trata

Fotografe 307 37
Fotos: Juan Esteves
Processos como calótipo e
marrom Van Dyke, criados via
software, podem ser vistos na
série Wishful Thinking
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que o nu masculino seja um desafio
maior para os fotógrafos por
causa do conservadorismo e do
preconceito”, comenta.
Na série Wishful Thinking, Juan
Esteves usa aplicativos que criam um
simulacro de processos fotográficos
históricos (como daguerreótipo,
calótipo, marrom Van Dyke...) para
gerar lirismo nas imagens. Conta
que a inspiração desde o início, assim
como nos retratos, vem da pintura,
em especial os nus impressionistas
e pós-impressionistas. Também tem
referências na própria fotografia,
caso da obra do checo František
Drtikol. Ele diz que a produção
começou por volta de 2016 com
fusões de nus e flores através do
aplicativo Hipstamatic e publicadas
que é consagrado. Esse tipo de trabalho vai no Instagram. Isso chamou a atenção do editor
sobreviver, diz. Já o nu comercial, de revistas francês Pierre Bessard, que o convidou a
ditas masculinas, está fadado a deixar de publicar um livro na Colection L'Imperiale, de
existir devido à internet. “Daí o fim de certas 2020. “Foi a partir daí que passei a pensar no
publicações, como a Playboy. Também creio projeto de um livro somente desses nus, que são

38 Fotografe 307
O fotógrafo diz
que se inspira
em pintores
como Renoir e
Bonnard para
sua série de
nus femininos

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Juan Esteves
também usa
fusões de
imagens, em geral
com plantas

inspirados em pintores como Renoir e Bonnard. uma incrível paleta de tons. Defende que Bob
Venho trabalhando para aumentar o número Wolfenson e JR Duran desafiaram o estilo
de imagens, convidando modelos e amigas que consagrado da revista Playboy, pois produziam
já posaram para mim e ressignificando arquivos ensaios com narrativas, bom gosto e qualidade
mais antigos de nus pessoais e das minhas aulas técnica que se distanciavam da vulgaridade
em workshops”, comenta Juan Esteves. – esta, na opinião dele, é o que incomoda na
Sobre a questão do nu em P&B parecer fotografia de nu. Já o P&B, por se distanciar da
mais artístico, o fotógrafo alega que há realidade, sempre foi considerado mais artístico,
trabalhos belíssimos em cor, como os feitos embora nem todo nu monocromático o seja.
pelo luxemburguês Edward Steichen, o teuto- Dos trabalhos de nu que viu recentemente
-americano Erwin Blummenfeld, o checo Jan e que lhe agradaram cita Privado, de Jairo
Saudek e o holandês Erwin Olaf, pioneiros como Goldfluss, não apenas pelo sentimento de
os cromos, e mais recentemente o da francesa beleza que provoca, mas também pelo processo
Camille Brasselet no livro The Sound of Silence narrativo de construção e edição das imagens, e
(edição Bessard, 2021). Lembra ainda que nus a série de Gal Oppido, inspirada em xilogravuras
como os feitos pelo americano Richard Avedon japonesas, em especial as shungas, e desenvolvida
para o famoso Calendário Pirelli mostram em conjunto com a artista Catarina Gushiken.

Fotografe 307 39
Aula com Brasilio
Enxergar em P&B
O paranaense Brasilio Wille figura
entre os grandes nomes da
fotografia de nu e sensualidade realizada
“Em nu e sensual, gosto tanto
de imagem colorida quanto de P&B.
Minha visualização da cena é sempre
em estúdio com luz controlada. Para ele, as monocromática por uma questão técnica,
produções em P&B significam criar imagens porém é durante a edição, foto por
com maior contraste e profundidade e foto, que decido como ela vai ficar, qual
acrescentar a singularidade marcada sentimento quero que transmita. Converter
pela ausência de cor, brincando com a simplesmente uma imagem para P&B para
imaginação do observador. Ele tem o que ela fique mais artística não faz sentido
costume de capturar as imagens sempre para mim. Cada imagem tem sua força, uma
usando na câmera o modo de visualização forma sensorial ou um poder que faz com
monocromático (mas com a captura em que as pessoas possam ler aquilo que eu
RAW), uma forma de converter o olhar para desejo transmitir ou expressar”, comenta ele.
enxergar os tons de cinza, distinguindo Wille alerta que para fazer um ensaio
melhor as texturas da pele, os brilhos e as de nudez e sensualidade pensando em
sombras – ele recomenda a técnica ensinada convertê-lo para P&B é preciso certo
na edição 292 de Fotografe. cuidado tanto com a cor da luz quanto com

É preciso planejar a luz para


que a conversão para o P&B
seja eficiente e atraente
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Fotos: Brasilio Wille

40 Fotografe 307
Brasilio Wille
prefere visualizar
a cena sempre em
P&B, mesmo que a
foto fique colorida

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A sutileza para trabalhar
com os meios-tons na luz e
na sombra é fundamental

a cor dos elementos e acessórios.


Segundo ele, o efeito artístico
no P&B pode ser perdido com
facilidade, principalmente na luz
e na sombra. Portanto, a sutileza
para trabalhar os meios-tons
depende muito da escolha inicial.

Conversão para P&B


Na pós-produção de
uma foto, existem diversas
maneiras de corrigir contraste,
luminosidade e também de
realizar a conversão de cor para
P&B. Brasilio Wille ensina duas
técnicas muito usadas por ele
para não perder a qualidade na
hora de passar uma foto colorida
para os tons de cinza. Confira o
passo a passo em duas etapas
tendo como base o Photoshop.

Fotografe 307 41
Camada de ajuste

1 O primeiro passo
é abrir a imagem e
clicar em layer (camada).
2 O segundo passo consiste em usar o
comando control + shift + alt + E (no PC)
ou comando + shift + alt + E (no Mac) para
Depois, ir para camadas juntar as camadas anteriores e criar uma nova
de ajustes e escolher a camada. Depois, mudar o modo de camada
opção preto e branco. Na para multiply e ajustar a opacidade da layer em
caixa Propriedades de 50% para controlar o contraste de claro para
Ajuste, ir corrigindo de forma alternada, escuro da camada.
ou seja, aumentando ou diminuindo
conforme a necessidade da imagem o canal
de vermelho e amarelo, que são os tons
predominantes na pele.
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Imagem colorida
convertida para
P&B pelo método de
camada de ajuste

Resultado

42 Fotografe 307
Mapa de gradiente
Resultado
Fotos: Brasilio Wille

Foto após a
conversão pelo
método de mapa
de gradiente

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1 Nesta outra forma de conversão, ao


abrir a foto no Photoshop, deve-se
acessar a caixa de ferramentas, deixando
2 Para fazer um ajuste mais fino, a dica
é clicar duas vezes sobre a escala de
degradê do mapa de gradiente. Uma janela
o Set Foreground color selecionado em se abrirá e dentro dessa caixa será possível
preto. Em seguida, clicar em menu imagem > editar os tons disponíveis no Photoshop
ajustes > mapa de gradiente. usando cores gradientes para criar uma
imagem artística ou somente acrescentar
novas tonalidades de preto e branco.

Quem é Brasilio Wille Aprenda mais nos Conheça mais o trabalho


Amanda Müller

Fotógrafo e professor de fotografia há 41 anos, cursos online e siga nas redes sociais
Brasilio Wille é especializado em uma wille.com.br wille.com.br
variedade de assuntos. Mestre em iluminação
de estúdio e direção de modelos, ele quer
brasilio.wille
ensinar você a melhorar suas fotos por meio
Inscreva-se no canal prowilleoficial
de técnicas simples e práticas em cursos e do YouTube (41) 99943-0607
workshops presenciais ou online. Fotografe
www.youtube.com/user/Brasiliow 307
(informações sobre cursos) 43
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Fotografia social

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Assinatura portuguesa
Por Livia Capeli

Conheça o trabalho
do fotógrafo A fotografia de casamento veio de berço para
o fotógrafo Mário Monteiro, de 49 anos. O
pai, já falecido, também se chamava Mário Monteiro
lusitano Mário e foi um dos mais prestigiados profissionais de
Coimbra, em Portugal. Assim, desde pequeno, ele
Monteiro, que já fazia parte da equipe do patriarca e, com apenas
produz imagens 15 anos de idade, fotografou o primeiro casamento
como profissional. A decisão de cortar o cordão
criativas de noivos umbilical profissional e não depender mais dos
ousando nos negócios da família ocorreu quando ele fez 21 anos.
Abriu a própria loja de fotografia e foi estudar arte
enquadramentos para buscar novas linguagens.
e explorando Diversos cursos e workshops com os melhores
profissionais nacionais e estrangeiros da época
ângulos diferentes levaram a fotografia de Mário Monteiro para outro

46 Fotografe 307
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Ao lado e acima, cenas em que o fotógrafo
português explora o grafismo; abaixo, ele
usa a contraluz e o alto contraste do cenário
Fotos: Mário Monteiro

Fotografe 307 47
nível. Na contramão do tradicional, ele seguiu Participar de um momento especial e colaborar
um novo estilo de trabalho, mais ousado e com os noivos para que o dia seja eternizado
contemporâneo, e foi ganhando o próprio de uma maneira criativa é o que provoca a
espaço. Em 2004, tornou-se dono de uma adrenalina do fotógrafo. O grande desafio é
rede de lojas de fotografia e depois a vendeu – fazer um trabalho que consiga transmitir um
hoje, tem um estúdio e escritório para atender pouco da personalidade do casal mesclada
noivos. Ele soma cerca de dois mil casamentos com a linguagem adotada por ele, de maneira
no portfólio, além de prêmios em Portugal, original e com o ambiente e as condições de luz
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como o da APPImagem (Associação Portuguesa que tem ao seu dispor na hora de fotografar.
dos Profissionais da Imagem), e internacionais, Foi assim que retratou a noiva Fábia no
como o da FEP (Federação Europeia dos Museu PO.RO.S, em Condeixa-a-Nova, na região
Profissionais da Fotografia). de Coimbra. Usando as luzes de um corredor
Mário Monteiro explica que a fotografia de para compor a cena e uma luz de LED auxiliar
casamento para ele vai muito além de paixão. para eliminar as sombras nela, o fotógrafo

Estou sempre
em formação
contínua para
conhecer as
novidades do
segmento e
assim melhorar
meu trabalho"
Mário Monteiro

Ao lado, luzes do
corredor de um
museu usadas no
ensaio da noiva

48 Fotografe 307
Ao lado, um corte panorâmico em um cenário com brumas; acima, um
ensaio mais descontraído à beira-mar com uso de luz contínua de LED

conseguiu gerar uma imagem criativa para deleite Receita à portuguesa


da noiva, admiradora de arquitetura, que buscava Dono de um estilo peculiar, com imagens
algo mais arrojado para o book. “Normalmente, repletas de grafismos, muita atenção para usar
faço uma reunião prévia para perceber os estilos o contraste de claro e escuro e exploração de
e gostos de cada casal. Aí sugiro sempre algo que ângulos inusitados, parte do resultado das
vá ao encontro do gosto de cada um. Hoje ainda imagens produzidas por Mário Monteiro deve-
tenho mais vontade de criar novas emoções -se a recursos que envolvem desde a utilização
para casais, bem como estar à frente de novas de câmera mirrorless (no caso, a Fujifilm X-T3)
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tendências. Faço formação contínua e acredito a lente grande angular, que permite absorver
que somente assim poderei tentar obter ótimos mais espaço no enquadramento, dando um
resultados a cada trabalho”, comenta o fotógrafo. aspecto mais majestoso à cena.
Fotos: Mário Monteiro

Uso de uma ultra grande angular de 14 mm para dar uma visão geral da igreja na cerimônia

Fotografe 307 49
Fotos: Mário Monteiro
Acima e abaixo, A lente preferida dele é a 23 mm sua maioria. Ele usa a monocromia
imagens de noivos fixa, mas também carrega na bolsa a para tentar transmitir glamour,
feitas com o uso 16 mm, 35 mm, 56 mm, 50-140 mm. sentimentos, emoções e até certa
da luz ambiente, O especialista defende que o uso da dramaticidade. Também prefere
uma característica grande angular é o ideal para narrar cenários que tenham formas
do trabalho de a história de um casal de forma mais geométricas e grafismos, pois
Mário Monteiro completa, podendo incluir o cenário entende que esses aspectos são
ao redor. “Em praticamente todos valorizados com o uso dos tons
os 37 anos de carreira trabalhei com de cinza, preto e branco. Explica
Nikon e também com câmeras de que capta as cenas em cor e faz a
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médio formato, como a Hasselblad. conversão para P&B no Lightroom ou
O fotógrafo
Nos três últimos anos, comecei no Photoshop, dependendo do caso.
usou câmeras a fotografar casamentos com Para o cliente, na maioria das vezes,
Nikon, SLR mirrorless. Com um jogo de lentes entrega a opção em cor ou as duas
e DSLR, na fixas e câmeras menores, consigo ter opções, mas para portfólio o P&B se
maior parte da mais facilidade de manuseamento e faz quase sempre presente.
carreira; hoje versatilidade para encontrar ângulos Já as locações para os ensaios
que antes equipamentos maiores me são pensadas e escolhidas
trabalha com limitavam”, avalia ele. antecipadamente com o casal,
uma mirrorless Outro estilo muito marcante considerando a história dos noivos.
da Fujifilm na fotografia de Mário Monteiro O fotógrafo explica que um dos
são os registros feitos em P&B na fatores importantes que definem em
que lugar será feita a sessão
de fotos é a melhor hora da
incidência de luz natural e o
figurino que o casal pretende
vestir – trajes mais tradicionais
ou mais despojados podem
proporcionar combinações
diferentes de ambientes. Na
maioria dos casos, o especialista
acaba fotografando com luz
natural ou iluminação disponível
no ambiente, mas quando há
necessidade também usa luz
contínua de LED ou flash.

50 Fotografe 307
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