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Contexto e narrativa em fotografia

Maria Short
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Contexto e narrativa em fotografia

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Título original: Context and Narrative.
Publicado originalmente por AVA Publishing S.A.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
(Câmara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Desenho gráfico: an Atelier project, www.atelier.ie Short, Maria

Tradução: Maria Alzira Brum Lemos Contexto e narrativa em fotografia / Maria


Short ; [tradução Maria Alzira Brum Lemos]. --
Edição: Telma Franco Diniz São Paulo : Gustavo Gili, 2013.
Preparação e revisão de texto: Solange Monaco e Marcos Visnadi
Fotografia da capa: © Emily Watts Título original: Context and narrative.
ISBN 978-85-8452-020-6
Design da capa: Toni Cabré/Editorial Gustavo Gili, SL
1. Comunicação visual 2. Fotografias
Qualquer forma de reprodução, distribuição, comunicação 3. Fotografia - Técnicas 4. Linguagem visual
pública ou transformação desta obra só pode ser realizada I. Título.
com a autorização expressa de seus titulares, salvo exceção
prevista pela lei. Caso seja necessário reproduzir algum
trecho desta obra, seja por meio de fotocópia, digitalização 12-15476 CDD-779.9
ou transcrição, entrar em contato com a Editora. Índices para catálogo sistemático:
A Editora não se pronuncia, expressa ou implicitamente,
a respeito da acuidade das informações contidas neste livro 1. Fotografias 779.9
e não assume qualquer responsabilidade legal em caso de
erros ou omissões.

© da tradução: Maria Alzira Brum Lemos


© AVA Publishing S.A., 2011
para a edição em português:
© Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2013

ISBN: 978-85-8452-020-6 (digital PDF)


www.ggi.i.com.br

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Título: The Portrait [O retrato]
Fotógrafa: Maria Short
Colocar um sujeito em um ambiente
descontextualizado ou, como neste
caso, in situ, pode causar impacto
na interpretação e na narrativa
dentro da imagem.

Editorial Gustavo Gili, SL


Rosselló 87-89, 08029 Barcelona, Espanha. Tel. (+34) 93 322 81 61

Editora G. Gili, Ltda


Av. José Maria de Faria, 470, Sala 103, Lapa de Baixo,
CEP: 05038-190, São Paulo-SP, Brasil. Tel. (+55) (11) 3611-2443
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Contexto e narrativa em fotografia

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Introdução 6

1
A fotografia 8
2
Tema 40
3
Público 66
A função da fotografia 10 Escolhendo seu tema 42 Público e intenção 68
O briefing fotográfico 20 Conceito 44 Declaração de intenção 74
Contexto e fotografia 28 Equipamento e materiais 48 A resposta do público 78
Estudo de caso: Fatores externos 54 Intenção, interpretação
O projeto Regency Estudo de caso: e contexto 80
− Richard Rowland 34 Ex-combatentes Estudo de caso:
Exercícios e resumo 38 sem-teto King Alfred
− Stuart Griffiths 60 − Simon Carruthers 90
Exercícios e resumo 64 Exercícios e resumo 94
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Sumário
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4
Narrativa 96
5
Signos e símbolos 120
6
Texto 142
O que é narrativa? 98 Base teórica 122 Usando o texto 144
Série ou conjunto Lidando com signos O texto integrado 150
de fotos 102 e símbolos 126 O texto na imagem 156
A imagem individual 108 Enigmas e verdades 132 Informação
Estudo de caso: Técnicas práticas 134 complementar 160
Tema cinza médio Estudo de caso: Estudo de caso:
− Kim Sweet 114 Les Moguichets Incerteza
Exercícios e resumo 118 − Betsie Genou 136 − Trevor Williams 162
Exercícios e resumo 140 Exercícios e resumo 166

Conclusão 168
Leituras recomendadas 170
Recursos on-line 172
Créditos das imagens 173
Índice 174
Agradecimentos 176
A ética profissional 177
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Introdução

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A maioria de nós vive cercada de fotografias; como ao contexto fotográfico, social, cultural,
fotografias que exercem uma miríade de papéis histórico e geográfico no sentido mais amplo.
e funções tanto dentro de nossas vidas quanto A palavra “narrativa” significa um relato falado
ao redor. Fotografias que nos incentivam ou escrito de eventos interligados, uma história
a comprar coisas, que contam notícias locais que pode transmitir uma ideia. Quando
e internacionais, que mostram pessoas e se usa a fotografia para contar uma história
lugares, que documentam eventos e fornecem ou transmitir uma ideia, podem-se empregar
provas do que aconteceu. Em alguns casos, técnicas narrativas para construir e desenvolver
as fotografias podem mesmo ser o motivo o relato, prender a atenção do público
para criar um momento ou evento. Para alguns e permitir que este se relacione de alguma
de nós, as fotografias talvez estejam entre forma com a história e sua intenção.
nossos bens mais preciosos. Uma história pode ser contada por meio
As fotografias nos falam do passado; de de fotografia tanto com uma única imagem
segundos, minutos, horas e anos passados. individual quanto com uma série ou conjunto
de imagens. Portanto, o contexto e a
Fotografias podem dar forma a lembranças
narrativa de uma foto podem atuar de várias
e guardá-las. Podem influenciar na descoberta
maneiras para possibilitar uma comunicação
de nossa identidade e em nosso relacionamento
visual efetiva.
com os outros. Fotografias podem compartilhar
ideias, conceitos e crenças. Podem distorcer
a verdade e a realidade; podem ser obras Produzindo imagens “bem-sucedidas”
com carga política altamente subjetiva, podem Então, o que torna uma foto bem-sucedida?
ser criadas e usadas de forma responsável Muitos fotógrafos e artistas tendem a ser
ou irresponsável. Assim como em muitas bastante intuitivos no processo de realização
outras áreas da comunicação, fotografias da imagem; de maneira inconsciente,
podem ser o reflexo das crenças e ideais usam sua percepção visual para criar,
e da dignidade e da integridade de um produzir tecnicamente e editar o trabalho.
indivíduo ou de um grupo. Se observarmos contexto e narrativa em
termos de estrutura ou método e aplicarmos
Definindo contexto e narrativa isto ao processo de produção do trabalho
fotográfico, talvez possamos identificar,
A arte de contar histórias depende muito
em certa medida, os ingredientes mais
de entender o papel que contexto e narrativa
importantes por trás de uma imagem
exercem em relação ao meio em que tais
bem-sucedida.
histórias são contadas e para quem. O modo
como uma história é contada, seja visualmente, Este livro aborda a fotografia como um
seja em palavras, depende da cultura, empreendimento criativo e acadêmico,
da época e do público. Poderíamos dizer que e embora seja possível aprender técnicas
isso é contexto em sua forma mais simples. práticas e se envolver em debates teóricos,
O contexto pode ser descrito como as não é possível prescrever uma fórmula.
circunstâncias que formam o cenário para O fotógrafo criativo e pensante toma decisões
um evento, declaração ou ideia. Em fotografia, levando em conta a aplicação adequada
a palavra “contexto” pode se referir ao conteúdo das técnicas contrapostas a um arcabouço
de uma foto, à sua posição em relação teórico, com base em sua abordagem pessoal
a palavras ou outras imagens, à publicação da linguagem visual.
ou ao local em que tal foto é vista, assim
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Estrutura do livro A fotografia
Este livro analisa os conceitos e a mecânica O capítulo 1 explora o papel e a função
por trás do processo de realização da imagem da fotografia, seu propósito e intenção.
em relação ao contexto e à narrativa. Dirige-se Examinamos o briefing fotográfico, discutimos
a fotógrafos que queiram desenvolver sua os pontos que devem ser considerados
própria abordagem em termos de linguagem tanto para criar quanto para responder a
visual. Está dividido em capítulos que mostram um briefing e vemos como a compreensão
as inter-relações e a sobreposição de alguns do contexto dá forma a nossas decisões.
dos conceitos e mecânicas centrais para Tema
a prática e o debate fotográficos. Os três
No capítulo 2 ponderamos sobre a escolha
primeiros capítulos destacam a relação de três
do assunto a ser fotografado, sobre a maneira
vias entre o fotógrafo, o tema e o público.
de pesquisar, preparar e se relacionar com
Ao levantar conceitos básicos que envolvem
o tema antes e durante o processo fotográfico
as noções de verdade e realidade, esses
e como tudo isso molda as fotos resultantes.
capítulos abordam a pertinência do contexto
e da narrativa para a produção e leitura de Público
uma fotografia. Com base nos conceitos No capítulo 3 analisamos a intenção por trás
apresentados nos primeiros capítulos, os três de nossas fotografias em relação ao público
capítulos finais abordam especificamente e como a apresentação e a qualidade
a mecânica contextual e narrativa da linguagem da imagem dão apoio a essa intenção.
visual, explorando os modos como ela pode Narrativa
ser usada para produzir imagens coerentes.
No capítulo 4, por meio da análise de vários
exemplos, discutimos técnicas narrativas
e exploramos seu uso para ajudar a traduzir
nossas ideias e conceitos em fotografias.
Signos e símbolos
O capítulo 5 introduz alguns fundamentos
teóricos em torno do uso e da leitura de signos
e símbolos nas fotos. Analisamos o uso
de signos e símbolos como indícios visuais
para ajudar o público a interpretar a imagem.
Texto
O texto talvez seja a ferramenta mais
importante que usamos em conjunto
com as fotos para apoiar nossa intenção.
No capítulo 6 exploramos a fotografia
como texto em si, o texto dentro da
fotografia e a apresentação conjunta
de fotografia e texto.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Sumário | Introdução | A fotografia ◊


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A fotografia
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 ∆ Essencialmente, fotos são sempre do passado.


Título: da série Mother of O momento aconteceu ou foi criado, foi fotografado
Martyrs [Mãe de mártires] e passou. Esses momentos documentados podem
Fotógrafa: ser usados de várias maneiras e, embora sejam
Newsha Tavakolian
do passado, podem ter relevância imediata para
Todas as quintas e sextas-feiras,
mães iranianas que sentem o presente e encorajar-nos a pensar no futuro.
orgulho de seus filhos terem Fotografias podem ser objetos e podem ser imagens;
dado a vida pelo Irã visitam
o cemitério. Seus filhos podem transmitir ou inspirar desejos e mesmo expressar
morreram lutando contra pensamentos, sentimentos e ideias que transcendem
a Guarda Republicana as diferenças históricas e culturais. Fotos podem criar
iraquiana. Todas
elas têm um carinho especial e evocar lembranças ou simplesmente retratar um
pelos retratos dos filhos. Esta assunto e ser informativas.
imagem é um exemplo claro
de como fotografias podem Fotografias bem-sucedidas são resultado do envolvimento
ser significativas para aqueles do fotógrafo, tanto no nível prático quanto no conceitual,
que perderam entes queridos. com um conjunto de critérios relacionados ao contexto
A jovem Tavakolian é uma
premiada fotógrafa iraniana. da foto e ao briefing. O briefing deve mencionar a função
O foco principal de seu trabalho e a finalidade da imagem, e o fotógrafo, trabalhar para
são as questões das mulheres cumpri-las.
no Oriente Médio, e suas fotos
têm sido amplamente publicadas Neste capítulo, vamos explorar o uso da fotografia
na imprensa internacional. a partir da perspectiva do fotógrafo a fim de iluminar
as principais questões que se apresentam tanto
no trabalho de encomenda, atendendo a um briefing,
quanto numa produção autoral, de trabalho autodirigido.

1 BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Introdução | A fotografia | Tema ◊


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A função da fotografia

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Discussões em torno de conceitos como As próximas páginas oferecem uma breve
verdade e realidade rondam a fotografia desde descrição de algumas das funções básicas
sua origem. A fotografia é capaz de descrever de uma foto a fim de explorar esses
literalmente a aparência visual de uma coisa, “níveis de verdade” em relação às diferentes
mas também pode ser construída ou manipulada abordagens fotográficas. Longe de ser
de maneira subjetiva, conceitual e técnica uma lista exaustiva ou definitiva, as seções
para apresentar um ponto de vista ou ideia destacam pontos básicos a ser considerados
particular. na identificação de algumas funções genéricas
No ensaio “O heroísmo da visão”, de Sobre da fotografia que darão forma à abordagem
fotografia, de 1979, Susan Sontag diz: “Muitas do fotógrafo em relação a noções de verdade
pessoas ficam ansiosas quando estão prestes e realidade. Corroborando as inter-relações e
a ser fotografadas (...) porque temem a sobreposições dessas seções está a ideia
desaprovação da câmera. As pessoas de que o contexto em que determinada foto
querem a imagem ideal, uma fotografia é vista dará forma tanto ao método
em que exibam o melhor de si. Sentem-se de produção quanto à interpretação
repreendidas quando a câmera não lhes dessa foto.
devolve uma imagem de si mesmas como
mais atraentes do que realmente são... A descrição literal das aparências
Em meados da década de 1840, um fotógrafo
Existem certos tipos de fotografia cuja
alemão inventou a primeira técnica para
principal função é retratar ou registrar
retocar negativos. Suas duas versões de
a aparência visual de uma pessoa, objeto
um mesmo retrato − uma retocada, outra
ou lugar. Fotos de passaporte, de produtos,
não − deslumbraram multidões na Exposition
imagens para fins diagnósticos (como raios X
Universelle realizada em Paris em 1855...
ou ressonância magnética) e fotografias
A notícia de que a câmera podia mentir
de cenas de crime são os exemplos mais
tornou o ato de se deixar fotografar muito
óbvios. Nessas circunstâncias, salvo nas
mais popular”.
fotos de passaporte, o fotógrafo precisa ser
Como ilustra Sontag, a câmera pode mentir, um especialista com conhecimento técnico.
e essa dinâmica entre uma ferramenta
Essas fotografias existem como provas,
mecânica e seu uso altamente subjetivo
e o observador precisa ver o máximo possível
é central para a discussão fotográfica
de detalhes. Portanto, a meta principal
em termos da relação entre o fotógrafo,
do briefing e do fotógrafo é produzir imagens
o tema, a foto e o público.
de alta qualidade que reproduzam o tema
O objetivo e a função da fotografia moldam original o máximo possível. Para alcançar
e dão forma à abordagem do fotógrafo. esse objetivo, o fotógrafo faz escolhas
Dependendo do resultado final desejado, baseadas na iluminação, composição
o fotógrafo será instado a se envolver com e qualidade da imagem a ser obtida.
esses “níveis de verdade” em diferentes
graus, tanto no plano prático quanto no
plano conceitual.
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Título: Sandy Springs Bank
Robbery (c. 1920) [Assalto ao
banco em Sandy Springs]
Fonte: Cortesia da National Photo
Company Collection (Biblioteca
do Congresso dos Estados Unidos)
Uma foto da cena do crime; observe
o nível de atenção dado à exposição
e à qualidade tonal, permitindo que
a imagem seja o mais detalhada
possível.

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∆ Introdução do capítulo | A função da fotografia | O briefing fotográfico ◊
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A função da fotografia

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Além do registro das aparências Nossa coleção pessoal também pode conter
Em A câmara clara (1980), Roland Barthes outros tipos de imagens que literalmente
escreve sobre uma fotografia de sua mãe, registram aparências; por exemplo, um
tirada quando ela tinha cinco anos. Barthes exame de ressonância magnética ou raios X
está no apartamento em que a mãe morreu, de nós mesmos, de um parente ou de um
olhando uma coleção de fotos dela; procurando animal de estimação. Essas imagens,
“a verdade do rosto que eu tinha amado”. originalmente produzidas para fins médicos
Em uma foto da coleção, ele encontra ou factuais, podem assumir novo significado
aspectos do temperamento da mãe que quando vistas no contexto dos bens pessoais;
ele queria encontrar. Nessa busca, Barthes elas podem se tornar parte da identidade do
articula uma forma pela qual muitos sujeito e podemos nos relacionar com elas
de nós nos relacionamos com fotografias; em um nível mais afetivo. Isso ilustra o quanto
o modo como elas transmitem um aspecto o contexto é importante para dar forma
da experiência humana compartilhada à interpretação.
e fornecem algum tipo de evidência
ou porta de entrada tangível para nossa
própria existência ou a de outros.
O modo pelo qual a fotografia pode ir além
do registro das aparências e transmitir
algo do temperamento do indivíduo ou das
circunstâncias é algo com que podemos
nos identificar tanto na produção quanto no
compartilhamento de nossas fotos pessoais.
Níveis de verdade
Podemos guardar com carinho as fotos de
alguém que se foi ou as fotos de um passado Uma fotografia pode distorcer a realidade
remoto. Fotografias podem ajudar a confirmar, em função:
ou até mesmo criar, nossa ideia de história • da intenção do fotógrafo ou da pauta:
pessoal e identidade. Podemos usar fotos apresentação do momento, pessoa, lugar,
para retratar nossa identidade; uma identidade evento ou ideia de uma determinada forma;
que pode ser conscientemente construída
• da perspectiva literal do fotógrafo: inclusão/
ou simplesmente revelada com um sorriso ou
exclusão de fatores relevantes, composição
um gesto. Fotografias podem manter vivas
e senso de ocasião;
as lembranças, mas também podem criar,
distorcer ou substituir lembranças. • da intenção do sujeito: desejo de aparecer
de uma determinada forma, pela
composição de sua expressão e gestos;
• da abordagem técnica: o formato, a
localização e a apresentação da imagem;
• do valor que o público atribui à fotografia:
informativo, intelectual, científico, afetivo
e físico.
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Título: A Collection Of Family
Photographs [Coleção de fotos de
família]
Fotógrafo: Desconhecido
Uma coleção de fotos de família
em situações formais e informais
que oferecem uma porta de entrada
para nossa própria existência
e a de outros.

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A função da fotografia

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Contar histórias − verdade ou ficção? A fotografia como crítica social
Uma história contada por meio de fotografias Karin Becker Ohrn oferece uma definição de
pode assumir muitas formas, e a apresentação documentário fotográfico em Dorothea Lang
ou visualização de uma imagem em um and the Documentary Tradition [Dorothea
determinado contexto dará forma à maneira Lange e a tradição documental] (1980):
como a imagem é lida. Por exemplo, a “O objetivo do fotógrafo era chamar a atenção
publicação britânica Picture Post (1938-1957) do público para o tema de seu trabalho
e a revista norte-americana Life Magazine e, em muitos casos, preparar o caminho para
(1936-1972) ficaram famosas por suas a mudança social”.
narrativas fotográficas, frequentemente Ainda que uma fotografia não seja uma
chamadas de “fotojornalismo”ou “fotografia representação objetiva da realidade, ela
documental”. pode ser considerada um meio para transmitir
David Hurn, fotógrafo da Magnum, fala sobre o que o fotógrafo acredita ser o espírito ou
as conotações desses termos a Bill Jay no livro a essência daquela ideia, pessoa, lugar
On Being a Photographer [Ser fotógrafo] (1997): ou evento. Fotografias documentais de caráter
“Se eu me intitulasse, ou se me intitulassem, social, ainda que tenham brotado da vivência
fotógrafo documentarista, isso iria sugerir, do fotógrafo como sujeito e tenham sido
para a maioria das pessoas hoje em dia, que moldadas por sua abordagem conceitual,
eu tiro fotos de uma verdade objetiva − coisa podem oferecer uma experiência visual
que não faço (...) O único aspecto factualmente de um conjunto de circunstâncias, a fim
correto da fotografia é que ela mostra como de apresentar, compartilhar ou transmitir
era a aparência de determinada coisa sob um entendimento que vai além das palavras.
um determinado conjunto de circunstâncias. O termo fotojornalismo pode sugerir uma
Mas isso não é a mesma coisa que a verdade relação significativa entre texto, eventos
subjacente ao evento ou situação”. atuais e a ilustração de uma notícia. Em
Os termos “fotojornalismo” e “fotografia termos simples, a fotografia documental
documental”, devido à natureza e às e o fotojornalismo podem se referir
implicações da terminologia, levantam a uma narrativa fotográfica com uma
discussões bastante complexas que dizem intenção determinada.
respeito a noções de verdade e autenticidade. A abordagem documental ou fotojornalística
Como Derrick Price observa em “Surveyors requer o envolvimento do fotógrafo com
and Survive” [Observadores e observados], o assunto, um senso de responsabilidade
no livro Photography [Fotografia] (2004), com relação ao briefing, ao tema e ao público,
editado por Liz Wells: “Certamente, a natureza assim como a capacidade para lidar com
de uma imagem por si só não é suficiente para as questões éticas que cercam a fotografia.
classificar uma determinada foto como sendo
essencialmente documental; é preciso
observar os contextos, práticas, formas
institucionais em que o trabalho está
inserido”.
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Título: da série Boys and Girls [Meninos e meninas], Gladys, East London,
2009
Fotógrafa: Shaleen Temple

Shaleen descreve sua série de fotos com essa faceta do modo de vida
como: “Uma série de retratos de sul-africano. O projeto levanta
empregadas domésticas e jardineiros questões sobre os rumos do país
negros sul-africanos nas casas de desde o fim do apartheid e as
seus patrões brancos. Ter crescido relações entre os trabalhadores
na África do Sul, antes de me mudar e seus patrões brancos”.
para o Reino Unido, implicou conviver

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∆ Introdução do capítulo | A função da fotografia | O briefing fotográfico ◊
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A função da fotografia

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Título: Sem título, 1998–2002
Fotógrafo: Gregory Crewdson
Nesta imagem, o “mágico e espiritual”
que Crewdson procura é alcançado
não só pela combinação inusitada
de jardim e cozinha, mas também
pela maneira como o cenário está
iluminado e pela relação entre os
principais elementos da imagem;
o que conta não é apenas o que
ele está fotografando, mas
como ele está fotografando.
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Realidades alteradas Em uma entrevista a Antonio Lopez para
As seções anteriores exploraram a ideia a galeria de arte SITE Santa Fe, em fevereiro
de que toda fotografia é construída. de 2001, Crewdson diz: “Acho que, em certo
Existem alguns tipos de fotografias que sentido, há algo sobre fotografia em geral
são claramente construídos para transmitir que poderíamos associar com a memória,
determinada ideia ou conceito em relação ou com o passado, ou com a infância. Nunca
a uma realidade alterada, descontextualizada fiz literalmente trens em miniatura, quadros
e representada. Isso pode ser conseguido vivos ou coisas assim. Mas há algo ingênuo
fotografando um cenário construído que remete à infância no processo... Eu era
ou manipulando uma imagem, seja na muito interessado em dioramas de museus
câmera ou na pós-produção, mas a questão e sempre quis construir o mundo com
central por trás da construção de uma foto fotografias... fosse em meu estúdio, fosse
é o conceito e a ideia. Não importa se ela em locações. Acho que uma das coisas
será exposta em uma galeria ou usada que podemos obter da fotografia é esse
em publicidade, o fato é que a fotografia estabelecimento de um mundo”.
altamente construída envolve o espectador
de uma maneira que desafia ou distorce
suas noções de verdade e realidade.
O fotógrafo estadunidense Gregory Crewdson
produz cenas surreais, dispendiosas e
teatralmente elaboradas de casas e bairros
estadunidenses. Os cenários são construídos
minuciosamente, atentando para cada
detalhe, e são vistos como “uma alusão
aos anseios e ao mal-estar da América
suburbana”. Muitas influências
cinematográficas e artísticas podem ser
encontradas no trabalho de Crewdson.

“Sempre fui fascinado pela condição poética


do crepúsculo. Por sua qualidade transformadora,
seu poder de transformar o comum em algo mágico
e espiritual. Meu desejo é que a narrativa nas fotos
opere nessa circunstância. É essa sensação de estar
entre limites que me interessa.”
Gregory Crewdson, fotógrafo estadunidense

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∆ Introdução do capítulo | A função da fotografia | O briefing fotográfico ◊
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Uso comercial de realidades alteradas Essa abordagem que assume a construção
Quanto ao estabelecimento de um mundo, de uma realidade alterada muitas vezes leva
marcas e empresas usam fotografias para a esse tipo de imagem brincalhona, chocante
transmitir a ideia de um estilo de vida e complexa, que insta o fotógrafo a confrontar
quando divulgam e embalam seus produtos. o mundo segundo princípios definidos pela
Muitas empresas − desde companhias essência de uma ideia, de uma maneira
locais independentes a conglomerados que frequentemente se afasta da existência
internacionais − usam a fotografia em vários corriqueira do cotidiano.
níveis para afirmar e reforçar sua identidade
empresarial e incentivar o consumidor
a comprar um determinado estilo de vida.
Podemos interpretar isso como a fotografia
criando ou estabelecendo um mundo que
o consumidor se sente instado a comprar.
Do ponto de vista do fotógrafo, o principal
objetivo do briefing publicitário é trabalhar
para criar e evocar no espectador o
espírito desse estilo de vida. Em algumas
circunstâncias, o fotógrafo se preocupa
em criar uma encenação, uma ampliação
ou distorção da verdade para aludir a
algo além do produto em si. Em outras
circunstâncias, encenação e distorção
não estão tanto nas fotografias, mas
no contexto em que elas são usadas
e exibidas.
Músicos, por exemplo, se apoiam
muito na fotografia e em outras formas
de comunicação visual para transmitir
sua identidade artística de uma forma
que o éthos criativo se estenda para além
da música em si mesma e se torne uma
experiência cultural por meio da linguagem
visual usada. A foto da capa do álbum
Nevermind [Não se preocupe] do Nirvana
(que mostra um bebê nadando e estendendo
a mão em direção a uma nota de um dólar)
foi feita na Califórnia em 1991 pelo fotógrafo
subaquático Kirk Weddle. Concebida
por Robbert Fisher, do selo Geffen, a capa
tem uma imagem marcante e é uma alusão
irônica ao éthos contracultural da banda.
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∆◊
Título: Sem título
Fotógrafo: Phil Glendinning
Fotografias construídas nem sempre
custam caro. Phil Glendinning faz
cabeças de papel machê e depois
as fotografa em cenas construídas.
Usando a si próprio como modelo,
Glendinning coloca a câmera em
um tripé e usa um cabo longo
para disparar o obturador, depois
de verificar o enquadramento. Certa
vez, numa demonstração no estúdio,
Glendinning sentiu calor e tirou a
cabeça de papel machê no intervalo
entre as fotos. Um aluno fotografou-o
segurando a cabeça na mão.
Glendinning aproveitou a ideia
para fazer um novo trabalho
fotográfico usando a cabeça,
porém sem vesti-la; ao revelar
seu rosto, ele deu outra dimensão
a seu trabalho no que diz respeito
à representação da identidade.

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∆ Introdução do capítulo | A função da fotografia | O briefing fotográfico ◊
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O briefing fotográfico

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O briefing fotográfico define o contexto do  ◊ 
resultado final e, dependendo da natureza Título: Nan [Vovó]
do briefing, também pode conter informação Fotógrafo: Tim Mitchell
relevante sobre a abordagem conceitual. Aqui, Tim Mitchell, aluno do curso
O briefing fotográfico não precisa ser de música digital, estava respondendo
a um briefing de duas palavras: “still
complicado. Pode, por exemplo, ser tão time” [alusão a still life, natureza-
simples quanto um grupo de amigos que morta]. Mitchell declarou que seu
decide parar em um local bonito para tirar objetivo pessoal era aprender
a usar sua câmera manualmente.
uma foto que ficará de lembrança daquele Ele decidiu fotografar a avó no
dia. O briefing deles é bem claro: eles sabem ambiente em que ela vivia, durante
o que estão fotografando, onde e por quê. o outono, produzindo uma série
de imagens que relaciona a idade
Estendendo um pouco mais o exemplo, da avó à época do ano. Ao incluir
se um dos amigos tem uma câmera analógica os próprios pés em uma das fotos,
Mitchell faz uma referência visual
e outro, uma câmera digital, eles decidem à idade do fotógrafo e alude à
usar a digital porque ficará mais fácil diferença entre gerações. Estas
compartilhar a imagem quando voltarem imagens foram a resposta inicial
de Mitchell ao briefing.
para casa. O grupo delineou claramente
tanto o briefing quanto o resultado e vai
se relacionar com a imagem resultante
conformemente.
Analisemos agora, com mais detalhes,
o briefing do estudante, o briefing autodirigido
e o briefing profissional.

“Você tem de sentir afinidade pelo objeto


fotografado. Você tem de estar inserido nele, mas
permanecer suficientemente afastado para encará-lo
com objetividade. É como assistir da plateia a uma
peça de teatro que você já sabe de cor.”
George Rodger, fotojornalista britânico
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 20—21

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∆ A função da fotografia | O briefing fotográfico | Contexto e fotografia ◊
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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
O briefing fotográfico

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O briefing do estudante
Respondendo a um briefing
Dependendo da natureza do curso, é comum
que se defina um briefing com algumas • Leia o briefing cuidadosamente e liste
coordenadas para os alunos trabalharem por os pontos principais que você precisa
determinado período de tempo. Se o briefing resolver.
for muito específico − estipulando, por
• Esclareça seus próprios objetivos de
exemplo, que o trabalho produzido tenha
aprendizagem no contexto do briefing.
determinado estilo ou tema ou que use
uma técnica específica −, então o principal • Divida seu tempo em partes
propósito do trabalho a ser realizado administráveis. Arranje tempo para
é bastante claro. No entanto, muitos cursos pesquisa, experimentação, processamento,
propõem briefings mais flexíveis para impressão, manipulação digital e para
estimular uma resposta mais pessoal o preparo da apresentação final.
e, assim, ajudar os alunos a identificar • Procure tirar fotos para compartilhar em
suas próprias áreas de interesse, que reuniões acadêmicas e seminários.
acabarão funcionando como veículo para • Exercite verbalizar suas ideias; redigi-las
o desenvolvimento de uma linguagem visual pode ajudar a organizar seus pensamentos.
própria. Seja como for, a ideia do briefing
• Elabore perguntas e ideias que queira
é fazer que os alunos iniciem, desenvolvam
fazer ou compartilhar.
e articulem ideias para traduzi-las em um
trabalho fotográfico. • Mantenha um caderno de anotações para
registrar o feedback recebido.
Por isso, é importante começar a pesquisar
ideias e fazer fotos o mais cedo possível, a fim
de ter um trabalho visual para apresentar em
reuniões acadêmicas e seminários e participar
ativamente do feedback interativo. Esse método
de ensino e aprendizagem promove uma
interação genuína entre conceito e técnica, Crítica coletiva
bem como o desenvolvimento de bons
métodos de trabalho e resolução de • Anote quanto tempo você terá para fazer
problemas técnicos. sua apresentação.
• Ensaie sua apresentação para que
se encaixe no tempo que você terá.
• Faça notas de como deseja apresentar
o trabalho, dos pontos que quer abranger
e das questões que deseja levantar.
• Contribua e dê feedback para seus colegas;
você aprenderá com isso também.
• Dê feedback construtivo e faça
comentários objetivos e de qualidade.
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 22—23

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 ∞ 
Título: Dad [Pai]
Fotógrafo: Tim Mitchell
Mitchell continuou a desenvolver
suas ideias na esfera da identidade
e dos papéis familiares e passou
a usar fotografia analógica em preto
e branco. Esta imagem mostra uma
evolução significativa no uso da
linguagem visual à medida que ele
passou a explorar representações
menos óbvias, aventurando-se além
do impacto visual imediato.

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∆ A função da fotografia | O briefing fotográfico | Contexto e fotografia ◊
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O briefing fotográfico

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O briefing autodirigido Conexão pessoal com o tema
Uma vez identificadas as principais áreas de Em uma entrevista a Brian Sherwin, a fotógrafa
interesse em termos de abordagem conceitual Michelle Sank fala sobre a relevância que sua
e tema, pode-se definir um projeto e realizá-lo criação teve sobre seu trabalho fotográfico
durante um período de tempo, junto com outros e enfatiza a importância que ela dá ao processo
trabalhos. Esses projetos autodirigidos muitas de geração de imagem: “Sou muito ligada
vezes podem se desenvolver de forma intrigante a meus temas, seja na rua ou em ambientes
e inesperada. de trabalho construídos. É um processo de mão
Conversando sobre seu trabalho com Susan dupla, e eu sempre digo que a interação
Butler, em 1993, o artista e fotógrafo britânico que desenvolvo com meus temas é tão
Keith Arnatt explica: “Você começa com uma significativa quanto a fotografia em si”.
ideia, ainda que mínima, e então obtém um Shank explica que as pessoas que ela fotografa
resultado e observa esse resultado... Não sei muitas vezes tiveram vidas difíceis e ela tenta,
dizer exatamente o quê, mas alguma coisa ao retratá-las, “mostrar as nuanças sociais,
pode ter acontecido, e você pode achar psicológicas e físicas” que elas transmitem
algo ali que desvia ou parece se desviar com seu senso de humanidade. Segundo
radicalmente de sua ideia original − e de ela diz: “Acho que o fato de eu ter crescido
repente aquele resultado o leva para outro no sistema do apartheid, pertencendo
lugar. Não foi algo preconcebido. A capacidade a uma comunidade de refugiados, foi
que a câmera tem de transformar aquilo que o que me levou a fotografar pessoas
é fotografado é uma eterna fonte de fascínio que vivem à margem da sociedade”.
pra mim”.
O comentário de Arnatt mostra como
é importante que o fotógrafo se dê tempo
para desenvolver uma ideia por meio
da prática. Ideias podem mudar e evoluir
de maneiras inimagináveis, por isso
Desenvolvendo ideias
é importante dar-se tempo para que
esse desenvolvimento ocorra. O processo
• Pense na possibilidade de fazer uma foto
de tirar fotos permite a assimilação das ideias
todo dia no mesmo horário, e identifique
que surgem com a experiência de fotografar,
o que é mais importante: a hora ou o lugar.
ao mesmo tempo em que o fotógrafo interage
com o tema. • Reúna em um álbum fotos que você acha
inspiradoras.
• Escolha um tema e faça suas próprias fotos
para montar uma coleção.
• Defina uma meta − por exemplo, um dia
por mês − para fotografar seu tema.
• Reserve um tempo toda semana para
pesquisar suas ideias.
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 24—25

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Título: da série Young Carers


[Jovens cuidadores]
Fotógrafa: Michelle Sank
Esse projeto foi realizado durante
uma residência patrocinada pela
Ffotogallery, de Cardiff, País de Gales.
Sank fotografou cuidadores jovens,
menores de idade, que muitas vezes
eram os principais responsáveis por
um pai ou irmão doente. Ela explica:
“Com esses retratos, eu quis dar aos
jovens uma noção de sua própria
identidade e normalidade. Eu quis
removê-los de seu ambiente
doméstico e colocá-los dentro
da ‘luz’ e ao ar livre. Ao deixar que
se vestissem como bem quisessem
e fossem eles mesmos, acho que,
pelo menos naquele instante, eles
se sentiram especiais, centrados
e livres”.

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∆ A função da fotografia | O briefing fotográfico | Contexto e fotografia ◊
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O briefing fotográfico

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O briefing profissional Equilibrando briefing e tema
O fotógrafo pode obter um briefing profissional A forma adequada de responder a
“jogando uma ideia como isca” a um cliente um briefing é claramente demonstrada
potencial ou órgão de financiamento, ou pode pelo fotógrafo britânico Keith Morris, que
responder a uma solicitação direta do cliente. fotografou músicos ao longo de quatro
Dependendo da função da fotografia, o fotógrafo décadas. Marc Bolan, Nick Drake, Janis Joplin,
pode ser solicitado a apresentar um orçamento Ian Dury e Dr Feelgood estão entre os muitos
inicial, dar ideias ou disponibilizar amostras músicos com quem trabalhou.
de trabalho. Morris era conhecido por sua paixão e
O contexto do resultado final moldará empenho, por sua capacidade de trazer
não apenas as considerações conceituais à tona a personalidade de cada músico,
e práticas, mas também as financeiras. mas sobretudo por realizar um trabalho
Portanto, vale a pena despender tempo de alto padrão com o mínimo de problemas.
no primeiro contato para reunir o máximo Ele estudou fotografia na Escola de Artes
de informação possível. É importante Guildford e mais tarde conseguiu um estágio
saber de quanto tempo você dispõe para com David Bailey, no auge da década de 1960.
fazer o orçamento e combinar quando Morris tinha plena consciência da atmosfera
e como enviá-lo. Dar ideias e orçar na hora social e cultural da época; isso pode ser visto
pode ser perigoso; evitar precipitações pode em sua obra documental e ecoa tanto em sua
lhe garantir tempo suficiente para pesquisar e abordagem dos músicos fotografados quanto
refletir sobre suas prioridades profissionais nos ambientes em que ele os situou.
e também sobre sua capacidade para
responder ao briefing de forma adequada.

“Uma grande foto é a plena expressão do que


o fotógrafo sente em relação ao que está sendo
fotografado no sentido mais profundo, e a verdadeira
expressão do que ele sente em relação à vida em sua
totalidade.”
Ansel Adams, Photographers on Photography: A Critical Anthology by Nathan Lyons (ed.)

[Fotógrafos falam sobre fotografia: uma antologia crítica de Nathan Lyons]


LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 26—27

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 ∞ 
Título: Dr Feelgood, Canvey Island
Fotógrafo: Keith Morris
Keith Morris foi um fotógrafo prolífico
e dedicado que trabalhava com
músicos de diversos gêneros.
Jake Riviera, antigo diretor da
Stiff Record (e mais tarde empresário
de Elvis Costello), explica: “Ele tinha
o dom de sacar qual era a pegada
da banda e registrá-la em foto
rapidamente”.

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∆ A função da fotografia | O briefing fotográfico | Contexto e fotografia ◊
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Contexto e fotografia

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O contexto influencia no modo como Na pintura de Garnett, o sujeito é visto como
o espectador estabelece sua interpretação um arruaceiro qualquer, expressando raiva.
da fotografia. Uma mesma fotografia pode A recontextualização da foto de Meiselas
ser usada em diferentes contextos e assumir na pintura de Garnett poderia ser vista
significados diferentes em relação a cada um não apenas como falta de respeito pelo
deles. Como o fotógrafo trabalha para cumprir significado das ações e intenções do sujeito,
um briefing, é importante que ele conheça mas também como falta de consideração
o contexto em que as fotos serão usadas por aquilo que, para os envolvidos, havia
e vistas. sido uma batalha séria e longa pelo que
O contexto pode ser definido pela função acreditavam ser justo.
da foto; por sua localização; por sua relação Na Harpers Magazine de fevereiro de 2007,
com outras fotos da mesma série ou obra; Garnett e Meiselas falaram sobre o incidente.
pelo uso de texto e por fatores ainda mais Segundo Meiselas: “Não há como negar que
extrínsecos, por exemplo, sua atualidade, nesta era digital as imagens são deslocadas
localização geográfica e interpretações e descontextualizadas com muito mais
culturais e experiências trazidas pelo facilidade. A tecnologia nos permite fazer
público. muitas coisas, mas isso não significa que
devamos fazê-las. Na verdade, se a história
está trabalhando contra o contexto, nós, como
Distorção contextual
artistas, devemos trabalhar com mais afinco
Um bom exemplo de como o contexto pode para recuperá-lo. Nós temos essa dívida de
afetar o sentido de uma obra ocorreu quando especificidade não apenas um para com o
a artista plástica Joy Garnett usou parte de uma outro, mas também para com nossos sujeitos,
foto de Susan Meiselas como base para com quem temos um contrato implícito”.
sua pintura Molotov Man [Homem molotov].
Meiselas está empenhada em proteger
Na foto original de Meiselas, um membro
a integridade e as motivações de seu sujeito
da Frente Sandinista de Libertação Nacional
e também aquilo que poderia ser descrito
da Nicarágua joga uma bomba em um dos
como certo grau mais amplo de conhecimento
últimos quartéis remanescentes da Guarda
e precisão histórica. Como esse incidente
Nacional de Somoza. A foto foi tirada
demonstra, é fundamental que os fotógrafos
em 16 de julho de 1979, um dia antes de
conheçam tanto as implicações práticas quanto
o ditador Anastasio Somoza Debayle fugir da
as implicações éticas do contexto para
Nicarágua. Meiselas apresentou a foto dentro
desenvolver seu próprio senso de limites
de um amplo conjunto que contextualizava
éticos e um código de conduta profissional.
a situação em vários aspectos que eram
relevantes para as ações do sujeito nos
âmbitos político, social e cultural, hoje
também relevantes do ponto de vista
histórico.
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 ∞ 
Título: Sandinistas at the Walls of the Esteli National Guard Headquarters,
1979 [Sandinistas os muros do quartel da Guarda Nacional de Esteli, 1979]
Fotógrafa: Susan Meiselas

Susan Meiselas explica: “É importante Fiz a imagem em questão em 16 de


para mim − na verdade, é crucial para julho de 1979, véspera do dia em
meu trabalho − que eu faça o possível que Somoza fugiria para sempre da
para respeitar a individualidade das Nicarágua. O que está acontecendo
pessoas que fotografo, todas vivendo aí é tudo menos arruaça. Ele está
em épocas e lugares específicos. jogando uma bomba em um quartel
Para dar um pouco de contexto: da Guarda Nacional, um dos
tirei a foto acima na Nicarágua, últimos que continuavam nas mãos
governada pela família Somoza de Somoza. Foi um momento
desde antes da Segunda Guerra importante na história da Nicarágua
Mundial. A FSLN, popularmente − os sandinistas em breve tomariam
conhecida como sandinistas, fazia o poder”.
oposição ao regime desde o começo
dos anos 1960.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB∆ O briefing fotográfico | Contexto e fotografia | Estudo de caso ◊


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Contexto e fotografia

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Formato final e fim a que se destina
Ao aceitar um projeto de encomenda,
ou seja, responder a um briefing profissional,
é fundamental estabelecer qual será o formato
final: arquivo digital? Transparência colorida?
Foto impressa? Algum outro tipo de formato?
Por outro lado, quando se trabalha em um
briefing autodirigido, uma parte do processo
pode ser experimentar com vários formatos
para assim desenvolver a abordagem
conceitual.
Uma vez estabelecido o formato, é importante
compreender exatamente onde e como
a imagem será usada. Algumas situações
pedem uma abordagem que transmita uma
noção de tempo e lugar; imagens evocativas
que criem determinada atmosfera. Outras
pedem que o espectador possa ver o máximo
possível do objeto fotografado, nos mínimos
detalhes, de maneira quase clínica e exata.
O uso de texto − que abordaremos no
capítulo 6 − também exerce grande
influência sobre a leitura da imagem.
Além disso, é importante ter em mente como
as fotos podem se relacionar entre si dentro
do conjunto da obra. O fotógrafo pode criar
uma série de imagens para transmitir o sentido
geral da obra e fotos individuais para transmitir
aspectos específicos da narrativa global.
Ordem, tamanho, formato e localização
na página podem trabalhar em conjunto
para influenciar no modo como as fotografias
serão vistas e lidas. A apresentação das fotos
funciona como parte do conceito. Vale a pena
perguntar se a apresentação vai ecoar, moldar
ou funcionar como parte do conceito. Será
que o método de apresentação do trabalho
estará em consonância com a abordagem
conceitual?
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 30—31

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 ∆ ∞ 
Título: Pavilion Unseen [Pavilhão
invisível]
Fotógrafo: Michael C. Hughes
Fotografando à noite, usando apenas
holofotes do lado de fora do Royal
Pavilion (um emblemático edifício
na vibrante cidade de Brighton, no
Reino Unido), Hughes teve a ideia
de fotografar “através das camadas” de
edifícios famosos. Ele incorporou
ao projeto o uso de holofotes externos
para aludir conceitualmente à noção
de um “palco de teatro” apagado,
aludindo assim à presença de
habitantes do passado, como atores
esperando nos bastidores. O folheto
que acompanha a exposição reflete
essa viagem ao longo do tempo
e do espaço.

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∆ O briefing fotográfico | Contexto e fotografia | Estudo de caso ◊
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Contexto e fotografia

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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 32—33

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“Fotógrafos deveriam procurar Ambiente social e cultural
Assim como é preciso levar em conta o
saber quais eram as ideias, contexto mais imediato do destino e formato
atitudes, imagens e influências final da foto, também é importante ter em
mente o contexto cultural e social no qual
dos melhores fotógrafos de todos a imagem será vista. Será que a foto fará
os tempos. Ninguém aprende referências diretas a eventos da atualidade
ou será que assumirá um novo significado,
no vácuo. A história da fotografia outras dimensões, em função das crenças
é como uma arca do tesouro locais, dos acontecimentos atuais ou da
experiência dos espectadores?
aberta, cheia de inspiração.
Da mesma forma que é importante respeitar
Seria masoquista negar seu os costumes locais ao visitar lugares novos,
imenso valor e utilidade.” também é importante ter em mente a
experiência e a expectativa do público
David Hurn e Bill Jay, On Being a Photographer
ao criar e localizar imagens em termos
[Ser fotógrafo]
geográficos e de temas correntes.
Em uma entrevista a John Tulsa, da rádio
BBC 3, Eve Arnold, fotógrafa da Magnum,
falou sobre o uso de legendas como uma
maneira de explicar o que se passa em suas
fotos, especificamente em lugares onde ela
 ∆  não falava a língua e não entendia muito
Título: Family Burial Chambers bem o que estava fotografando: “Depois de
[Jazigos familiares]
terminar o trabalho, achei um intérprete para
Fotógrafo: Mehdi Vosoughnia
me dizer o que estava acontecendo... Se eu
Fotografias de parentes mortos
decoram os jazigos familiares em não conseguisse avaliar exatamente o que
um antigo cemitério de Qazvin, no Irã. estava acontecendo, eu me perguntava se
Algumas foram tiradas há mais de meus espectadores seriam mais perspicazes
50 anos. Vosoughnia fotografou os
jazigos em 2005 e 2006 e descreve a ponto de entender melhor... A moda agora
a experiência: “Mais uma vez, eles é colocar as legendas no final do livro, e a
estão diante de um fotógrafo. Só gente tem de ficar indo e vindo, legenda,
que agora ninguém morre por eles
e ninguém se apaixona por eles. imagem, imagem, legenda, e isso é pura
Apenas sua lembrança vai e vem arrogância”.
de vez em quando. A seu tempo, eles
entraram em um estúdio de fotografia Esta é a opinião de Arnold e, em certa medida,
para eternizarem-se; hoje eu, o revela a lógica por trás de seu trabalho. Todo
fotógrafo, entro em seu santuário fotógrafo tem seu código pessoal de conduta
para registrar suas fotos”.
e ética, bem como uma visão criativa única,
que passaremos a ver a partir de agora.

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∆ O briefing fotográfico | Contexto e fotografia | Estudo de caso ◊
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Estudo de caso: O projeto Regency − Richard Rowland

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Título: da série The Regency Project [O projeto Regency]
Fotógrafo: Richard Rowland
“Como eu havia trabalhado “Eu consegui me engajar em um
anteriormente no atendimento projeto que refletia algumas de minhas
a usuários de drogas e a sem-teto, preocupações sociais, e ao mesmo
aquele era um ambiente em que eu tempo aplicar uma abordagem
podia transitar com relativa facilidade, documental para explorar alguns
o que é uma grande vantagem em desses temas. Em minha abordagem,
se tratando de lidar com pessoas fotografei os moradores, os espaços
frequentemente marginalizadas. e os objetos deixados para trás.”
LLLL
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Estudo
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de caso
Durante quase um quarto de século, a Casa Regency forneceu alojamento
para homens sem-teto no sul da Inglaterra. No início dos anos 2000, tinha
ganhado fama de lugar perigoso e sujo. Praticamente abandonado, o edifício
entrou em declínio e foi ficando cada vez mais negligenciado, juntamente
com os 55 homens que moravam ali. Eles haviam chegado à casa por várias
razões, frequentemente ligadas ao álcool, drogas, problemas de saúde mental
e separação amorosa. Havia anos que não recebiam nenhuma ajuda ou
assistência, e o clima na casa era de desespero e resignação. O outrora
majestoso edifício, todo decorado com cornijas e impressionantes janelas
em arco, tinha se tornado um território degradado.
A mudança veio embalada nos projetos do Brighton Housing Trust para
uma renovação radical. O edifício, que parecia ter renunciado à rua em
que se encontrava, passaria por três anos de reformas no bojo de um
projeto concebido não apenas para reformar o prédio, mas também
para criar e manter uma rede de assistência e instalações para
os homens que usariam seus serviços.
Na época, Richard Rowland estava trabalhando para a associação gestora
de moradias de baixa renda que havia adquirido o Regency. Quando ele
soube do estado do edifício e dos planos para reconstruí-lo, achou que
aquele era um projeto em que valeria a pena se engajar. Marcou uma
reunião com o diretor e explicou sua proposta: documentar o processo
de restauração e a vida daqueles que moravam no edifício.

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∆  Contexto e fotografia | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
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Estudo de caso: O Projeto Regency − Richard Rowland

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Revelando uma história social
Rowland explica suas motivações para se envolver no projeto:
“Meu interesse se assentava principalmente nos aspectos
históricos e culturais do edifício. Como ele seria descascado
e lixado, quis registrar as camadas que haviam ficado
escondidas durante décadas. Camadas que, uma vez tiradas,
não se limitariam a expor os elementos estruturais, pois
também revelariam algo da história social − as vidas que
por ali passaram e as referências culturais deixadas como
marcas no próprio tecido do edifício −, histórias embutidas,
por exemplo, numa poltrona velha, na reprodução de uma
pintura manchada de fumo ou num carpete surrado e gasto.
“Conforme o projeto ia se desenvolvendo, aumentava minha
vontade de fotografar os moradores. Embora tais retratos
sejam uma pequena parte do trabalho como um todo, eles
são elementos fundamentais subjacentes à importância
e à relevância desse projeto de restauração. Não se trata
meramente de um empreendimento para recuperar o velho
edifício Regency, mas de uma obra que causa impacto direto
na vida de tantas pessoas que precisam desesperadamente
de um ‘lar’”.
Rowland se valeu de sua experiência profissional na assistência
a usuários de drogas e a grupos de sem-teto para interagir
de forma adequada ao fotografar e ao lidar com as questões
éticas no âmbito do projeto. A percepção de Rowland sobre
o potencial desse projeto é resultado da junção que ele fez
entre sua consciência cultural e social e sua abordagem pessoal
da linguagem fotográfica; na execução, ele conseguiu empregar
seus pontos fortes pessoais e profissionais.
LLLL
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LLLL

∆√◊
Título: de The Regency Project
[O projeto Regency]
Fotógrafo: Richard Rowland
Usando uma Kodak Portra VC 400,
uma Hasselblad formato 6×6 e,
basicamente, iluminação natural,
com uso ocasional de flash direto,
Rowland fez cerca de 55 visitas para
fotografar o local e seus moradores.

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∆  Contexto e fotografia | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Capítulo 1: Exercícios e resumo

Exercícios:
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

Reflita sobre
a foto
◊ Recolha em seu caderno uma coleção de fotos que represente
os vários usos da fotografia. Por exemplo, uma foto publicitária, uma
editorial e assim por diante.
◊ Analise os aspectos fundamentais de cada uma delas e tome notas.
◊ Reúna algumas fotos tiradas por fotógrafos cujo trabalho
instintivamente o atrai; coloque-as em um lugar onde possa vê-las
regularmente e tente identificar quais qualidades o atraem.
◊ Selecione um conjunto de fotos de sua coleção pessoal ou álbum
de família. Observe-as e reflita sobre seus componentes essenciais em
vista da reação que despertam em você ou da relação que tem com elas.
◊ Reflita sobre a influência que questões de geografia e atualidades
podem ter na criação e no posicionamento de suas imagens, pense
em vários cenários possíveis e em como você os incorporaria em seu
trabalho, se necessário.
◊ Tente apresentar uma fotografia de várias maneiras diferentes
e pondere sobre como ela poderia ser usada em diversos contextos.
◊ Visite exposições e analise a apresentação das fotografias; você
diria que o tamanho, o formato e a ordenação das fotos influenciaram
sua reação?
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 38—39

Resumo
LLLL

◊ Exploramos sucintamente as noções de verdade e realidade


em relação à fotografia.
◊ Reconhecemos que, de muitas maneiras e em muitos níveis,
fotografias são criações construídas.
◊ A função da fotografia influencia a abordagem fotográfica.
◊ O contexto em que uma fotografia é vista influencia fortemente
sua interpretação.
◊ A terminologia fotográfica em si também é discutida, uma vez que
as conotações implícitas muitas vezes se referem a noções de verdade
e autenticidade.
◊ Ao observar a abordagem e o trabalho de determinados fotógrafos,
percebemos que, embora seja importante envolver-se e estar ciente
das implicações do debate teórico em curso, cada fotógrafo imprime
uma abordagem singular e única à prática profissional.
◊ Vamos explorar essa “abordagem única” do fotógrafo no próximo
capítulo, enquanto continuamos a discutir o uso da fotografia para
explorar interesses e comunicar ideias.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 40—41

Tema
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

 ∆ A escolha do objeto, ou tema, e de como esse objeto,


Título: da série Horse Portraits ou tema, será fotografado são aspectos fundamentais
[Retratos de cavalos] da linguagem visual. O objeto é aquilo que o público
Fotógrafa: Maria Short “vê” e que então vai moldar ou questionar uma série de
Quando o público vê o objeto interpretações inerentes ao objeto em si, o entendimento
fotografado olhando diretamente
para a lente, cria-se uma relação que o público tem desse objeto, e representações
baseada na contemplação entre existentes sobre ele. Reconhecer essa relação de
objeto e público. três vias entre objeto, foto e público dará substância
à realização e à apresentação da fotografia.

2 ∆ A fotografia | Tema | Público ◊


LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Escolhendo seu tema

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Em seu ensaio The Decisive Moment  ◊ 
[O instante decisivo], o francês Henri Título: da série Constructed
Cartier-Bresson, fotógrafo da Magnum, afirma: Childhoods [Infâncias construídas]
“Acredito que, no ato de viver, a descoberta Fotógrafo: Charley Murrell
de nós mesmos é feita simultaneamente à Charley Murrell explica como seu
projeto Constructed Childhoods
descoberta do mundo que nos rodeia, que explora o impacto causado por
pode nos moldar, mas também ser afetado imagens que cercam a vida das
por nós. Um equilíbrio deve ser estabelecido crianças diariamente: “Imagens
veiculadas em publicidade, revistas,
entre esses dois mundos − o que está dentro televisão, internet e outras mídias,
e o que está fora de nós. Como resultado em brinquedos e alguns produtos
de um processo constante e recíproco, esses alimentícios têm um impacto
significativo na forma como as
dois mundos vão formar um único. E é este crianças se veem. Elas procuram
mundo que precisamos comunicar”. se ver refletidas nessa grande
quantidade de imagens e, em parte,
Para ser fotógrafo, você precisa ser apaixonado constroem sua própria ideia de si
pela comunicação de “algo”, já que isso mesmas a partir dessas imagens.
permeará cada escolha que você fizer em Meu projeto discute essas infâncias
construídas usando diferentes
relação a seu trabalho. Para ser fotógrafo, formatos de mídia para representar
você também precisa estar interessado o eu ‘ideal’ dessas crianças em
no mundo a seu redor, precisa estar relação com a realidade em que
vivem”.
interessado em outras coisas além da
fotografia. A essência do trabalho está
em seu envolvimento com o tema, pois isso
vai transparecer em suas fotografias; esse
envolvimento fará suas fotos respirarem, Comunicando sua intenção
e é assim que você vai “personalizar” − Perguntas fundamentais
seu trabalho. Se você sabe por que está
fotografando seu tema, então pode escolher • Você realmente precisa fotografar o tema
como fotografar esse tema, o que, por sua em si? Ou pode comunicar sua intenção
vez, deve ajudar seu público a interpretar fazendo referências ou alusões a ele ou
a imagem. fotografando seu entorno?
• Se decidir fotografar o próprio tema, pergunte
a si mesmo qual a importância da locação,
da hora do dia, e da qualidade da luz,
equipamentos e materiais em relação
ao conceito?
• O que você precisa ou quer apresentar
e compartilhar com seu público e como
você fará isso?
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 42—43

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∆ Introdução do capítulo | Escolhendo seu tema | Conceito ◊
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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Conceito

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LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 44—45

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O conceito está diretamente relacionado
a por que você está fotografando seu
objeto/tema; seu conceito atrela seu objeto
ao contexto, no sentido de que é a razão
por que você o está fotografando e como,
de que maneira. Em certa medida, o conceito
é seu motivo ou intenção.
Uma das questões mais importantes a ser
consideradas é “por que uma fotografia?”.
Por que não apresentar o objeto em si, ou uma
pintura, uma escultura, um texto ou outra forma
de representação dele? No sentido mais básico
− por exemplo, uma foto de um imóvel à
venda − a resposta pode ser “é fisicamente
impossível transportar a coisa em si”.
Em outras situações pode não ser tão simples;
nesses casos vale a pena analisar com
cuidado o papel que a fotografia desempenha
na percepção que o público desenvolve
daquele tema simplesmente por ele ter
sido fotografado. Ao optar por fazer uma
foto, você já está interagindo com uma
◊ série de referências e alusões que o público
Título: da série China Between traz consigo e imprime em sua leitura.
[China a meio de]: Restaurant Staff
Gather for a Pep Talk e What time Por isso é importante compreender a maneira
is it There? (Xiamen, 2007) pela qual o contexto permeia a interpretação,
[Funcionários do restaurante se não apenas em relação ao tema e à abordagem
juntam para uma conversa
animada e Que horas são lá?] conceitual, mas em relação ao ato de fotografar
Fotógrafa: Polly Braden também. Depois de refletir sobre os motivos
China Between é um ensaio que o levam a fotografar seu tema em lugar
fotográfico sobre a moderna cultura de representá-lo em texto ou pintura, a
urbana da China contemporânea. próxima etapa é refletir sobre sua intenção
David Campany, escritor e curador,
descreve o trabalho de Polly Braden: ou lógica. Qual é sua intenção? O que você
“O que ela estava tentando descobrir, quer dizer por meio da fotografia?
sem ter total consciência disso por
um longo tempo, era uma forma
de observar, fotografar e editar
que pudesse expressar a relação
complexa entre a vida cotidiana
nas florescentes cidades da China
e as grandes transformações que
têm ocorrido ali”.

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∆ Escolhendo seu tema | Conceito | Equipamento e materiais ◊
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Conceito

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O ponto de vista individual Entendendo o tema
Suas próprias convicções, sua noção de Elliott Erwitt, fotógrafo associado da Magnum,
integridade, intuição, qualidades pessoais explica como Eve Arnold transferiu suas
e habilidades técnicas vão influenciar a lógica convicções e seu próprio temperamento
e o conceito de seu trabalho − o que você para a forma de trabalhar e para as fotos
fotografa, como e por quê. Essas características resultantes: “O fato é que Eve consegue
individuais são componentes essenciais se inserir em situações em que outros não
do processo de realização da imagem. conseguem. Ela é a pessoa mais afável,
A estadunidense Eve Arnold, fotógrafa da agradável, acessível e inofensiva que se
Magnum, é um ótimo exemplo do quanto os pode imaginar. Qualidades maravilhosas
pontos de vista pessoais, a personalidade para uma fotógrafa, que pode conseguir
e até mesmo a subjetividade podem levar fotos como ninguém”.
a uma obra perspicaz. Em uma entrevista a Eve Arnold usou suas habilidades sociais
Mark Irvine, Arnold responde à questão da para obter uma compreensão mais completa
agenda política do fotógrafo, explicando sua de seus objetos e foi capaz de usar esse
intenção ao fotografar os temas escolhidos: discernimento para desenvolver um conceito
“Houve momentos em que decidi que iria para cada um. Ter uma compreensão clara
mostrar as pessoas como elas realmente do conceito, da justificativa para um trabalho,
são − como no caso de Joe McCarthy, que substanciará muitas decisões que você vai
manteve os Estados Unidos como refém tomar como fotógrafo antes, durante e depois
por muitos anos e arruinou a vida de muita de fazer a foto. A abordagem conceitual
gente.” Na mesma entrevista, Arnold enfatiza é a essência do processo e da fotografia.
a inevitabilidade de ser influenciada pela Pelo fato de permear certas escolhas sutis
sociedade em geral: “Todos nós somos concernentes a objeto, materiais, composição
agentes políticos. Como você pode e apresentação final, a relação entre conceito e
se divorciar do sistema em que vive? objeto escora tudo o que o fotógrafo faz.
Você tem sentimentos − e sua cabeça
não foi feita só para separar as orelhas”.
Ao dizer isso, Arnold está reconhecendo que,
particularmente no caso do polêmico político
estadunidense Joseph McCarthy, sua própria
atitude em relação a seu objeto influenciou
na forma como o fotografou. Ela também
conta que os fotógrafos podem desenvolver
um maior entendimento sobre seu objeto pela
proximidade física e pelo envolvimento em
um nível mais pessoal. Questionada sobre
as fotos com teleobjetivas dos paparazzi,
ela diz simplesmente: “O que eles fazem
não tem nada a ver com intuição; eu não
considero aquilo fotografia, porque se trata
apenas de um registro fotográfico. É muito
diferente quando você trabalha de fato com
alguém”.
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 46—47

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 ∞ 
Título: Cuba, Havana. Bar Girl in
a Brothel in the Red Light District.
1954. [Cuba, Havana. Garota no
balcão em um bordel no bairro
da luz vermelha. 1954.]
Fotógrafa: Eve Arnold
No dia seguinte a seu aniversário de
98 anos, em Cannes, em 22 de abril
de 2010, Eve Arnold foi agraciada
com o prêmio Lifetime Achievement
Awards, pelo conjunto de sua obra,
na cerimônia anual do Prêmio
Internacional Sony de Fotografia.
A baronesa e advogada Helena
Kennedy disse: “Eve sempre criou
uma verdadeira relação de confiança
com as pessoas que fotografava,
e acho que isso significa que ela
captava detalhes nessas pessoas
que muitas vezes passavam
despercebidos para os outros”.

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∆ Escolhendo seu tema | Conceito | Equipamento e materiais ◊
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Equipamento e materiais

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Tendo refletido sobre o tema e o conceito, A presença da câmera
o próximo passo é a seleção do equipamento
e dos materiais adequados para realizar Preste atenção na maneira como os
o projeto. O equipamento e os materiais seguintes formatos de câmera podem
que você usar vão influenciar, obviamente, afetar seu relacionamento com o objeto
na aparência da imagem resultante. No entanto, durante o processo de tomada da imagem.
é importante relembrar que a resposta • Segurando uma telemétrica (rangefinder)
do público dependerá não apenas do modo ou 35 mm na altura do olho.
como você usa os materiais, mas também • Segurando uma câmera de formato médio
das expectativas desse mesmo público. com um prisma na altura do olho.
É claro que o fotógrafo pode questionar
• Segurando uma câmera de formato
essas expectativas, ou subvertê-las, mas
médio na altura da cintura, olhando para
é importante reconhcer ideias preconcebidas,
baixo para focar e depois para cima,
a fim de lidar adequadamente com elas.
estabelecendo contato visual direto com
A execução técnica é fundamental no apoio seu objeto.
à abordagem conceitual e à leitura de uma
• Usando um tripé e, talvez, um cabo
imagem por parte do espectador. Por exemplo,
disparador.
observe trabalhos de vários fotógrafos e analise
como a escolha do formato, da qualidade • Usando uma câmera de grande formato,
do filme e da apresentação influencia em demorando-se para fixar a imagem.
sua leitura da imagem. Da mesma forma, • Parando para recarregar o filme.
reflita sobre o processamento, a qualidade • Parando para verificar imagens digitais.
tonal e a nitidez dos detalhes em relação
à sua leitura da imagem. Será que sua leitura
seria alterada se a imagem fosse mais
ou menos granulada, ou se fosse colorida
em vez de preto e branco?
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 ∆ ∞ 
Título: da série Pickled [Em conserva]
Fotógrafa: Olena Slyesarenko

Olena Slyesarenko fotografou seus Slyesarenko observou que, mesmo


sujeitos debaixo d’água. Amante da enfrentando variados graus de
ambiguidade, Slyesarenko procurou dor e medo, seus sujeitos ainda
fazer que a água ficasse o mais se esforçavam para manter
imperceptível possível para o a compostura e o controle tanto
espectador. Ela usou a água quanto possível, pois tinham
para diminuir o controle de seus consciência de que sua “imagem”
fotografados sobre as imagens seria registrada como uma fotografia
resultantes. permanente.

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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Equipamento e materiais

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◊ Formato da câmera − perguntas
Título: da série The Red River fundamentais
[O rio Vermelho]
Escolher o equipamento apropriado
Fotógrafo: Jem Southam
e desenvolver um estilo pessoal para
Southam fotografou a série The Red
River entre 1982 e 1987. Ele seguiu usá-lo são aspectos essenciais para qualquer
o curso do rio, tinto de vermelho fotógrafo que queira desenvolver uma
devido à mineração, desde sua abordagem única. Essa abordagem
nascente no interior da Cornualha,
Reino Unido, até o mar. Viajando repercute sobre as imagens resultantes
por uma paisagem afetada pela de forma a contribuir para sua linguagem
mineração de cobre e estanho, visual. Eis algumas perguntas fundamentais
pela horticultura e pelo turismo,
a série traz a história e o legado para se fazer antes de escolher o equipamento:
das culturas que moldaram aquela • Que formato de câmera combina mais com
paisagem. Southam revisitava
lugares com frequência, e seu sua intenção conceitual: câmera vintage,
conhecimento e conexão com 35 mm, de médio ou de grande formato?
o tema, combinado ao uso solidário
da técnica fotográfica, deu às suas • Que tipo de qualidade de imagem reflete e
fotos uma expressão articulada expressa melhor sua intenção? Por exemplo,
e poética. a nitidez é um detalhe muito importante?
• Que forma a imagem deve ter: quadrada
ou retangular?
• Será que todas as linhas convergentes
precisam ser corrigidas (por exemplo,
em fotos de arquitetura)?
• Você precisa de rapidez e mobilidade?
Se assim for, uma câmera pesada,
de grande formato, pode ser inadequada.
• Que tamanho devem ter as fotos impressas?
Ou elas serão apresentadas na tela?
• Você vai aludir a algum estilo ou gênero
estabelecido de fotografia?
• O que é mais apropriado para seu produto
final: filme ou digital?
• Que tom ou aspecto você gostaria de atribuir
às imagens finais e como e onde elas vão ser
vistas?
• Você precisa se comunicar continuamente
com seu objeto ou com outras pessoas
enquanto fotografa? Se sim, você vai precisar
desenvolver um modo de trabalhar com o
equipamento que facilite essa comunicação.

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∆ Conceito | Equipamento e materiais | Fatores externos ◊
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Equipamento e materiais

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“Minha intenção artística é fazer um trabalho que explore


a forma como nossa história, nossa memória e nossos
sistemas de conhecimento se combinam para influenciar
o modo como reagimos aos lugares que habitamos,
visitamos, criamos e com que sonhamos. Olha só como
eu dou uma bela envernizada no que faço. A verdade
é que sou compulsivo e trabalho porque é o que eu quero
fazer. Minhas fotos são o resultado de minha necessidade
de trabalhar da forma mais estimulante e agradável possível.”
Jem Southam, fotógrafo britânico
LLLL
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∆ Considerações técnicas
Título: da série The Red River A escolha do tipo de filme, velocidade e
[O rio Vermelho]
outras considerações técnicas em relação
Fotógrafo: Jem Southam
à intenção e ao resultado final são fatores
Jem Southam explica algumas das
decisões técnicas que influenciaram importantes no processo de realização da
seu trabalho: “Comprei uma câmera imagem. Antes de tomar essas decisões,
de campo MPP 5×4 em 1975 vale a pena se perguntar se você pende
e comecei a trabalhar com fotos
coloridas. Mas não gostei dos para determinadas cores e tons, quanta
resultados. As imagens ficavam granulação ou ruído você quer e se você
muito saturadas, e não era o que planeja realizar alguma correção ou
eu estava tentando fazer. Abandonei
a cor e passei os seis anos seguintes manipulação na pós-produção. Como e
trabalhando com a mesma câmera onde o produto final será visto são fatores
em preto e branco. Nesse ínterim de especial importância quando se considera
sofri forte influência dos Bechers
e passei a trabalhar com fotos de a qualidade da imagem.
arquitetura”. Southam conta que foi Aspectos técnicos a serem analisados e que
Paul Graham, ao lhe mostrar alguns
trabalhos de William Eggleston, vão apoiar seu conceito:
quem o levou a perceber que • Cor ou preto e branco?
existiam materiais que permitiam
trabalhar com cor da forma como • Digital ou filme?
ele queria. Ele, então, voltou
a trabalhar com fotos coloridas • Impressão ou transparência?
e não tirou nenhuma preto e • Velocidade do filme e granulação?
branco desde então.
• Luz ambiente ou flash?
• 35 mm, médio ou grande formato?
• Fotografia sem câmera?
• Impressão ou tela?
• Tipo de papel?
• Processo de impressão?

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∆ Conceito | Equipamento e materiais | Fatores externos ◊
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Fatores externos

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Os fotógrafos frequentemente precisam Encontrando uma paixão em comum
lidar com fatores externos, tais como atraso Um exemplo de fatores externos que
nos transportes, condições meteorológicas influenciaram ou, neste caso, criaram um
e pessoas. Qualquer um desses elementos projeto é Salam, de Seba Kurtis (ver próxima
pode mudar completamente a natureza de uma página). Kurtis descreve assim o making of
tomada. Em momentos assim é preciso ter de Salam: “Fui fotografar no norte da África,
os pés no chão, usar sua capacidade criativa onde traficantes de seres humanos criam
e habilidades interpessoais. O segredo é novas rotas para contrabandear imigrantes
concentrar-se em sua intenção conceitual para Itália e Grécia, entre outros países.
e procurar novas maneiras de expressá-la. Depois de dois dias, meu guia me deu uma
Também é importante ter em mente que faca para que me protegesse e, em seguida,
o objeto fotografado ou as pessoas no desapareceu. Não falo árabe, eu e minha
ambiente terão suas próprias expectativas câmera 5×4 não éramos bem-vindos em
de como fotógrafo e objeto se comportam muitos lugares e senti muita hostilidade,
ou “devem” se comportar, por exemplo: mesmo por parte de pessoas comuns nas
posando para a câmera de certa maneira ruas − algumas chegaram a usar meios
ou esperando que uma infinidade de fotos físicos para tentar me impedir de fotografar”.
seja feita rapidamente. Isso, às vezes, desanima Durante a viagem, Kurtis ficou fascinado
um pouco, mas é importante encontrar um ao se deparar com estúdios de fotografia
meio de trabalhar da maneira mais em todas as aldeias. Nesses estúdios ele
harmoniosa possível; conversar sobre foi recebido calorosamente e as trocas
as expectativas durante o estágio de de ideias sobre fotografia eram apaixonadas
preparação pode ajudar. e entusiasmadas. Ele então passou a visitar
estúdios em todas as aldeias, enquanto
esperava por um contato ou para ter acesso
a algum lugar. Ele descreve assim a
experiência: “Encontrei consolo nos estúdios
fotográficos locais, onde meu rosto e minha
câmera eram calorosamente recebidos com
respeito; uma paixão em comum nos unia −
a linguagem da fotografia. Havia algo de belo,
ainda que ingênuo, na luta deles para resistir
à globalização, em sua disposição para
vender sorvete e produtos para cabelo no
mesmo recinto apenas para manter seus
sonhos vivos. Inesperadamente, esse projeto
ganhou vida naqueles lugares onde o tempo
parecia ter parado, mas os corações
continuavam abertos”.
LLLL
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LLLL
A influência do background pessoal Informação perdida
Vale a pena lembrar que Kurtis nasceu
na Argentina em 1974 e cresceu em Buenos Contemple a experiência tridimensional
Aires sob uma ditadura. Estudou jornalismo ao fotografar seu tema; liste os pontos
e foi ativista político. Em 2001, a Argentina que atuam para criar a atmosfera que você
entrou em uma crise econômica e política. deseja capturar, mas que não estarão
Kurtis foi para a Europa, permanecendo na visíveis na imagem, reflita sobre como
Espanha como imigrante ilegal por mais de esses pontos afetam o “silêncio” da foto
cinco anos. De modo que não seria incorreto e investigue se existem meios visuais de
fazer ligações entre suas experiências de aludir a eles ou incluí-los. Por exemplo:
vida e o modo como exerce e desenvolve • Ruído de fundo: música, sons da rua,
seu trabalho fotográfico. Para seu mais canto de pássaros, tratores, cascos
recente trabalho The Promised Land [A terra de cavalo.
prometida], vencedor do prêmio Vauxhall
• Cheiros: café, grama, maresia, flores,
de fotografia, ele produziu uma série de
mau cheiro.
retratos que captam a essência do povo
britânico hoje: quer nascidos e criados no • Temperatura e clima: calor, umidade,
Reino Unido, quer residentes de segunda vento, frio.
geração ou imigrantes ilegais. • Sotaques e dialetos.

“Uma coisa a foto precisa conter: a humanidade


do momento. Esse tipo de fotografia é realismo.
Mas realismo não é suficiente − é preciso haver
percepção, e os dois juntos podem fazer uma boa
foto. É difícil descrever essa linha tênue, em que
a matéria termina e a mente começa.”
Robert Frank, em World History of Photography [História mundial da fotografia],
de Naomi Rosenblum

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB∆ Equipamento e materiais | Fatores externos | Estudo de caso ◊


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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Fatores externos

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 ∆ √ 
Título: da série Salam
Fotógrafo: Seba Kurtis
Seba Kurtis foi para o norte da África
e, enquanto enfrentava hostilidade e
dificuldades para ter acesso a seu
tema pretendido, entrou em um
estúdio fotográfico por curiosidade.
Ali ele teve uma calorosa acolhida,
e a paixão compartilhada pela
fotografia possibilitou uma troca
positiva. Ao retomar a viagem,
passou a visitar os estúdios
fotográficos nas cidades e vilas
ao longo do caminho.

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∆ Equipamento e materiais | Fatores externos | Estudo de caso ◊
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Fatores externos

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Local e hora No artigo “A View of a Private World” [Visão


A natureza do briefing ditará se as fotos de um mundo privado], Alex Novak conta
devem ser feitas em uma “oportunidade a experiência de Sonja Bullaty quando ela
única” ou durante um período prolongado era assistente do fotógrafo tcheco Josef
de tempo. As condições de iluminação Sudek: “Seu senso de luz se tornou crucial;
e seu uso adequado já deverão ter sido ele costumava planejar por mais de um ano
explorados como parte da pesquisa para captar o momento de iluminação exata...
e preparação para o projeto. Há casos Montávamos o tripé e a câmera, sentávamos
em que a imagem depende das condições no chão e ficávamos conversando...
meteorológicas e requer uma luz específica De repente, sem mais aquela, Sudek se
em determinada hora do dia. Isso pede uma levantava. Um raio de sol havia rompido
boa dose de flexibilidade e paciência, para a escuridão, e nós começávamos a agitar
esperar, por exemplo, que as nuvens entrem uns panos para levantar nuvens de pó
(ou saiam) de enquadramento, ou para e poder ‘ver a luz’, como dizia Sudek.
aguardar o nascer/pôr do sol. Decerto ele sabia que o sol iluminaria
aquele ponto talvez duas ou três vezes
por ano, e simplesmente ficava esperando”.
LLLL
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LLLL

 ∆ 
Título: Summer’s Bounty
[Recompensa de verão]
Fotógrafo: Ray Fowler
Ray Fowler conhece bem essa
região campestre e já presenciou
a mudança das estações nessa
paisagem ao longo de vários anos.
Em função de seu conhecimento
da área, ele foi capaz de prever as
condições sazonais e garantir o uso
Prepare-se e seja flexível do equipamento e dos materiais
adequados na hora certa do dia
Esse caso ilustra claramente o quanto para registrar esta cena. Usando
é importante conhecer seu tema e estar uma Hasselblad Xpan, com lente
preparado para aproveitar a condição 45 mm e filme Velvia, Fowler se
concentrou em capturar o máximo
de iluminação certa. Por outro lado, tão da paisagem, do céu e das cores,
importante quanto preparar-se para estar ciente de que condensar uma
no lugar certo na hora certa é ser flexível paisagem através da lente de
uma câmera pode resultar numa
com a maneira como sua intenção pode experiência frustrante quando
se manifestar visualmente. Ser rígido demais comparada à alegria de senti-la
na abordagem e passar horas à procura de em três dimensões; por isso ele
escolheu um formato panorâmico.
uma imagem exata pode significar ignorar Sua experiência com o local,
centenas de outras imagens possíveis. combinada a seu vasto conhecimento
Por isso, é importante estar sempre aberto dos equipamentos, valeu como uma
pesquisa prévia sobre tema e técnica
para novas abordagens em relação ao para produzir a imagem que tinha
tema, procurando possíveis composições em mente.
e dinâmicas.

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∆ Equipamento e materiais | Fatores externos | Estudo de caso ◊
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Estudo de caso: Ex-combatentes sem-teto − Stuart Griffiths

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∞ 
Título: da série Homeless
Ex-Service [Ex-combatentes
sem-teto]
Fotógrafo: Stuart Griffiths
Usando uma câmera Leica e filme
Kodak, Griffiths fotografou os
moradores de um albergue para
ex-combatentes.
LLLL
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Estudo
LLLL

de caso
Em 1988, então com 16 anos, Stuart Griffiths alistou-se no Regimento de
Paraquedistas. Foi uma iniciativa para escapar do que ele descreve como
“a vida provinciana” de sua cidade natal, Warrington, no Reino Unido. Após
cinco anos, Griffiths reconheceu que o que ele mais gostava no serviço militar
era do papel de fotógrafo da unidade. Ele decidiu então deixar o Regimento
de Paraquedistas e seguir carreira na fotografia.
Em 1997, quatro anos depois de deixar o exército, Griffiths formou-se em
fotografia editorial. Passou a se dedicar a projetos autodirigidos explorando
os conflitos militares na Albânia, as milícias privadas em Bagdá e a guerra civil
no Congo. Como ele mesmo relata, esses projetos podiam ser muito perigosos:
“A viagem para Kinshasa foi provavelmente onde eu me achei mais despreparado,
emocional e mentalmente. Foi ali que me vi levado por multidões gritando
alucinadas, execuções simuladas, intimidação e abuso. Acabei em uma prisão
congolesa”. No entanto, a ferrenha convicção de que sua vida, sua voz e suas
opiniões eram relevantes e válidas fez que ele continuasse em atividade.
Especificamente, Griffiths queria revelar um aspecto da realidade da vida
militar e gerar um sentimento de empatia e compreensão pelas dificuldades
enfrentadas pelos ex-combatentes.
Financiar esses projetos enquanto tentava se sustentar era um exercício caro,
e, em 2000, Griffiths se viu sem-teto e trabalhando como fotógrafo paparazzi
em Londres. Enquanto procurava um lugar para ficar, ele soube de um albergue
para ex-combatentes. Ali Griffiths encontrou um grupo de homens com cujas
dificuldades ele conseguiu se identificar. Ele passou então a fotografar aqueles
ex-combatentes sem-teto, e esse seu trabalho foi publicado pela primeira vez
no Reino Unido pelo jornal The Guardian, em maio de 2005.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Fatores externos | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊


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Estudo de caso: Ex-combatentes sem-teto − Stuart Griffiths

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Influências
Griffiths enfatiza a importância de se ter uma ligação, ou
paixão pelo tema, ao falar sobre suas influências: “Comecei
a admirar fotografia na adolescência. Um dos primeiros livros
que comprei foi Skinhead (1982) de Nick Knight. Eu mesmo
era skinhead e queria saber mais sobre esse modo de vida.
“Mais tarde, quando eu ainda era estudante, outra influência
foi Troubled Land [Terra turbulenta] (1987), de Paul Graham.
Ele fotografou algumas das áreas que eu patrulhava como
soldado, e o mais interessante, para mim, era que suas fotos
eram muito sutis, as imagens apenas sugeriam o conflito
que estava ocorrendo em Ulster, na Irlanda do Norte.
“Fui incentivado por Philip Jones Griffiths, principalmente pelo
livro Vietnam Inc. (1971). Quando vi pela primeira vez seu
trabalho, fiquei profundamente comovido com seu compromisso
com o tema e pela forma como o livro se constrói com base
na perspectiva vietnamita... Conheci Philip Jones Griffiths
um ano antes de ele morrer, e ele foi uma espécie de mentor
para mim, me encorajando a continuar meu trabalho com
os veteranos. Em comum tínhamos também certo desprezo
pela figura do fotógrafo ‘embarcado’ na unidade militar,
que é atualmente a norma na cobertura de guerra. Também
me inspirei na dedicação de Chris Steele-Perkins a seu
tema, desenvolvido em áreas socialmente excluídas em
The Ted’s (1979). Depois mergulhei no trabalho dos
fotógrafos estadunidenses William Eggleston, Stephen
Shore, Lee Friedlander, Diane Arbus, Nan Goldin. Fiquei
profundamente inspirado por esses artistas, porque eles
fotografavam o que estava a seu redor, por mais banal
que fosse, documentando assim suas próprias trajetórias
pessoais, uma iniciativa que teve um enorme impacto sobre
a maneira como eu olho para o que está à minha volta.
É esse ponto de vista autobiográfico e subjetivo que
eu procuro em minha própria prática como fotógrafo”.
A história de Griffiths e de seu trabalho fotográfico estão
documentadas no filme Isolation [Isolamento] (2009).
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 62—63

LLLL

 ∞ 
Título: da série Homeless
Ex-Service [Ex-combatentes
sem-teto]
Fotógrafo: Stuart Griffiths
Griffiths quer gerar um sentimento
de empatia e compreensão das
dificuldades enfrentadas pelos
ex-combatentes.

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∆ Fatores externos | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
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Capítulo 2: Exercícios e resumo

Exercícios:
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

Foque no
objeto
◊ Faça uma lista das atividades de que você gosta, de seus ambientes
preferidos, e observe se você os aprecia com outros ou sozinho.
Isso comporá sua lista de processos. Pode indicar sua aptidão para
determinados ambientes e condições de trabalho. Em seguida, faça uma
lista de coisas com as quais as pessoas o associam, como gatos, cães,
teatro, música ou roupas. Isso comporá sua lista de temas. Finalmente,
faça uma lista daquilo que lhe interessa. Por exemplo, quando você assiste
a filmes ou televisão, ouve ou lê notícias, que histórias lhe atraem mais?
Isso pode dar corpo tanto à sua lista de processos quanto à de temas.
A partir dessas listas, identifique os tópicos que podem ser associados
com processo e quais podem ser aproveitados como tema.
Com base em sua lista de temas, pergunte-se: esse tópico é visual?
Escolha, então, um tópico a partir da lista de temas e outro da lista
de processos. Verifique se os dois podem ser combinados para
fotografar o tema escolhido com o processo escolhido. Isso pode
ajudar a esclarecer seus pontos fortes e dar-lhe um insight sobre
seus verdadeiros interesses e motivações.
◊ Observe o trabalho de outros fotógrafos. O que lhe agrada em termos
visuais, técnicos e conceituais? Escolha um fotógrafo ou abordagem
e estipule para si mesmo um briefing em que tenha de usar técnica ou
conceito similar. Um briefing simples que tenha limites claros e escala
de tempo pode ser útil. Fotografar dez de seus bens pessoais preferidos,
um itinerário regular ou um lugar específico por um determinado período
de tempo pode ser uma forma útil de identificar que tipo de trabalho
você considera envolvente.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 64—65

Resumo
LLLL

◊ Discutimos a fonte de ideias e a lógica, ou o conceito, que orienta


o trabalho do fotógrafo.
◊ Enfatizamos a importância de o fotógrafo ser apaixonado e ter respeito
por seu tema, trazendo, ao mesmo tempo, suas qualidades e habilidades
pessoais para o processo.
◊ O processo de fotografar não está dissociado da experiência de vida
do fotógrafo, nem de suas ideologias pessoais e, em alguns casos,
é a manifestação criativa dessas experiências e ideologias.
◊ Uma vez reconhecidos esses aspectos significativos, podemos concluir
que o desenvolvimento profissional do fotógrafo é um processo de duas
vias, e ocorre em sintonia com sua criatividade e com o desenvolvimento
de suas convicções e princípios éticos.
◊ Analisaremos, a seguir, o impacto que a abordagem conceitual,
as ideologias pessoais e os códigos de ética do fotógrafo exercem
sobre a interpretação de seu trabalho pelo público.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 66—67

Público
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

 ∆ Os dois capítulos anteriores abordaram a relação de


Título: Will, da série The Prince três vias entre fotografia, tema e público. Observamos
Albert [Will, da série O príncipe a fotografia e o tema com algum detalhe. É hora de voltar
Albert]
nossa atenção para o público.
Fotógrafa: Maria Short
A ausência de contexto pode Em seu ensaio Brodovitch on Photography [Brodovitch
encorajar o público a refletir sobre sobre fotografia] (1969), o influente diretor de arte
a importância do tema. Alexy Brodovitch afirma: “Assim como é o diretor de
arte quem deve ser responsável pelo público, o fotógrafo,
se quiser manter sua integridade, deve ser responsável por
si mesmo. Ele deve buscar um público que aceite sua
visão, em lugar de perverter sua visão para atender
o público”.
Na seção anterior, abordamos o tema e a importância
de o fotógrafo reconhecer suas intenções por trás da
comunicação fotográfica. Um aspecto significativo
dessa comunicação é entender a função da fotografia.
A função da fotografia pode permear escolhas críticas
antes, durante e depois da realização da foto. É igualmente
importante ter uma apreciação do público que verá a foto
e do contexto em que esta será vista.

3 BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Tema | Público | Narrativa ◊


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Público e intenção

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Embora não seja possível prever exatamente
como o público vai reagir a uma fotografia,
o processo de realização da imagem pode ser
influenciado pela conexão entre o fotógrafo
e seu tema e pela clareza quanto à sua
intenção. Muitos fotógrafos se referem a
“feeling” e “instinto” como partes essenciales
de sua prática fotográfica, e dizem que usam
esses impulsos intuitivos para reagir a seu
ambiente e tema. Em se tratando do público,
parece que as assim chamadas “respostas
intuitivas” são parte intrínseca da linguagem
visual. O fotógrafo reage ao tema, essa reação
gera um componente essencial da fotografia,
que é então transmitido ao público por meio
da foto.
Um dos maiores desafios que um estudante
de fotografia enfrenta é a tradução de ideias
em imagens. Assim como paixão, sinceridade
e comprometimento são vitais para criar fotos
que envolvam o público, a sinceridade da
intenção do fotógrafo deve ser escorada por
sua aplicação técnica.

 ∞   ◊ 
Título: da série The Bedrooms
[Quartos]
Fotógrafa: Emma O’Brien
Em sua série The Bedrooms, Emma
O’Brien reconhece a interpretação
pessoal que o público tende a
trazer para a obra, segundo explica:
“Para os solteiros, o quarto é onde
eles se encontram verdadeiramente
sós, o que pode suscitar uma
experiência agradável ou de solidão.
Dependendo do estado de espírito
e da disposição da pessoa, pode ser
um santuário ou uma prisão. Essas
imagens pretendem transmitir uma
atmosfera e um estado de espírito
ambíguos, insinuando, apenas,
e revelando muito pouco sobre o
fotografado. O espectador tende
a projetar sua própria experiência
na fotografia”.
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 68—69

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Traduzindo ideias em imagens:


técnicas para solução de problemas

• Procure esclarecer sua intenção com • Contraste esta lista com sua declaração
um simples enunciado ou algumas de intenção.
expressões-chave. • Analise se sua intenção precisa de mais
• Analise suas fotos em relação à sua esclarecimentos.
declaração de intenção ou expressões- • Analise se suas fotos precisam ser mais
chave. bem desenvolvidas para corresponder
• Faça uma lista dos componentes à sua intenção.
essenciais de uma fotografia.

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∆ Introdução do capítulo | Público e intenção | Declaração de intenção ◊
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Público e intenção

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Refletindo sobre a intenção Em seu ensaio sobre o trabalho do fotógrafo
Em um artigo para o jornal The Guardian, Keith Carter, Bill Wittliff descreve um momento
em maio de 2010, o fotojornalista britânico semelhante de conscientização, quando Carter
Don McCullin descreveu para Nicholas Wroe começou a pensar diferente sobre sua forma
como uma experiência no front o levou a de comunicar fotograficamente: “Ele, de
refletir sobre suas motivações e a alterar sua repente, olhou para o alto: acima dele os
intenção. McCullin conta que, no início, suas galhos de uma árvore estavam enfeitados
motivações pouco tinham a ver com mudar com serpentinas sopradas pelo vento. Para
a percepção do público: “Eu era jovem Keith elas pareciam espíritos tentando voar.
e entusiasmado e queria fazer boas fotos Ele, instintivamente, levantou a câmera só
para mostrar aos outros fotógrafos. Isso para ver que aparência elas teriam isoladas
e o orgulho profissional de convencer um no visor e foi imediatamente atingido pelo
editor de que eu era o homem certo para simbolismo. Ele não estava mais vendo
ser enviado a algum lugar eram as coisas os objetos em si, mas o significado −
mais importantes para mim”. o conteúdo humano − que eles
representavam”.
Foi quando ele cobria a guerra de Biafra,
em 1969, que lhe ocorreu que seu objetivo O ponto-chave aqui é que uma fotografia
deveria ser destacar o inaceitável por meio pode provocar uma ressonância maior do
de suas imagens: “Entrei em uma sala de aula que a de um mero registro de eventos.
sendo usada como hospital e vi 800 crianças Reflita sobre a foto a partir da perspectiva
literalmente caindo mortas na minha frente. da intenção, mas observe-a de maneira
Eu tinha três filhos. Aquilo me afastou a enxergar o que realmente está lá e como
completamente da imagem ‘oba-oba’ do isso está apresentado, uma vez que é isso
fotógrafo de guerra hollywoodiano. E me que o público vai ver e é a isso que ele vai
transformou em outra pessoa”. reagir. Se você disser: “Eu gostaria de transmitir
uma impressão x em minha foto”, pode ser
útil esclarecer em palavras o que é esse x
e então examinar a foto e se perguntar se
cada componente que está lá contribui para
a transmissão de x.
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 ◊     √ 
Título: da série Neither [Nem um,
nem outro]
Fotógrafa: Kate Nolan
“Dizem que eu preciso de
um emprego, que preciso ser
responsável, amadurecer e ser
alguém importante. Aqui na Rússia,
se supõe que aos 25 anos uma
mulher já tenha família, casa, um
bom emprego, tudo resolvido. Às
vezes, tendo a acreditar neles, mas
então conheço alguém normal, como
você, e tudo muda” − Irina, citada no
projeto Neither, de Kate Nolan.
Neither é um mergulho dentro do
coração da nova geração da
Kaliningrado pós-soviética.
Aprisionados nos sonhos de um
futuro que sua terra natal não pode
reconhecer nem satisfazer, muitos
russos estão à procura de sua
identidade soterrados sob o peso
de sua história e de seu isolamento,
tanto em relação à sua pátria quanto
à nova Europa. Abandonados em
uma terra que tanto superestima
quanto subestima seus desejos,
eles têm pouca capacidade para
conhecer seu futuro.

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∆ Introdução do capítulo | Público e intenção | Declaração de intenção ◊
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Público e intenção

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 ∞ 
Título: News-stand; 32nd Street
& Third Avenue. Nov. 19, 1935
[Banca de jornal, 32nd Street
& Third Avenue, 19 de novembro
de 1935]
Fotógrafa: Berenice Abbott
Em About Changing New York [Sobre
uma Nova York em mudança], escrito
para a Biblioteca Pública de Nova York
em 1996, Julia van Haaften explica a
intenção por trás das fotos de Abbott
de Nova York: “As imagens de Nova
York são produto de uma artista com
visão altamente pessoal e motivações
complexas; são a resposta de Abbott
às suas próprias observações desse
ambiente em mudança acelerada,
e seus conceitos de um vocabulário
formal apropriado à documentação
fotográfica”.
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Paixão subjacente Elizabeth McCausland, crítica de arte
Berenice Abbott foi muito clara em sua do jornal The Springfield Republican, de
intenção por trás do relato documental Massachusetts, resenhou About Changing
About Changing New York, realizado com New York e afirmou: “A abordagem realista
um prêmio em dinheiro do Federal Art Project. e objetiva da cidade, levada a cabo por
A vontade de fotografar Nova York surgiu Abbott... conseguiu criar o espírito da cidade”.
em 1929, quando, como fotógrafa de retratos, Em uma conversa com Abbott depois da
Abbott visitou a cidade depois de quase uma publicação da resenha, McCausland expôs
década em Paris e viu que a cidade do século sua opinião sobre a expressão pessoal
XIX que ela uma vez chamara de “lar” estava “apaixonada” de Abbott: “Somente a partir
se transformando em uma metrópole. da paixão e da paixão irreal algum sentido de
Inspirada pela fotografia modernista europeia, realidade na arte, ou na vida, pode nascer”.
ela estava ansiosa para aplicar sua nascente Então, mais uma vez, nos deparamos com
linguagem visual e suas intenções criativas. a importância da paixão e do compromisso
subjacente com o tema e com a intenção”.
Em 1939, Abbott explicou suas intenções por
trás de About Changing New York: “Preservar
para o futuro uma crônica fotográfica precisa
e fiel do aspecto mutante da maior metrópole
do mundo... uma síntese que mostre o arranha-
céu em relação aos edifícios menos colossais
que o precederam... para produzir um resultado
expressivo em que os detalhes em movimento
coincidam com o equilíbrio do design e a
importância do tema”.

“O sentimento que nos invade quando olhamos para


uma imagem não deve ser distinto da imagem nem de
nós mesmos. O sentimento, a imagem e nós mesmos
somos unidos em um só mistério.”
René Magritte, artista surrealista belga

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∆ Introdução do capítulo | Público e intenção | Declaração de intenção ◊
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Declaração de intenção

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Como foi discutido anteriormente, a intenção O posfácio de Lana Wong, coordenadora
do fotógrafo é de grande importância e do projeto, fala de seu entusiasmo para dirigir
influirá no “sabor” das fotos. A disposição do o projeto e detalha sua experiência. Uma
observador de acreditar na narrativa construída declaração das Nações Unidas descreve
pelo fotógrafo é influenciada pela confiança a lógica e o impacto do projeto. Declaração
que ele deposita na autenticidade da foto. semelhante é dada por Susan V. Berresford,
Em se tratando de fotografias, a noção de presidenta da Fundação Ford, patrocinadora
autenticidade é muito debatida; em termos do projeto, e por sua colega sul-africana Mary
simples, no entanto, está relacionada ao Ann Burris, que escreve: “Na África oriental,
esforço do fotógrafo para comunicar o mais estamos bem cientes do fato de que nosso
verdadeiramente possível. futuro coletivo está nas mãos de nossa
juventude... Relatos de violência cometida
pelo crime organizado, mortes por Aids,
Rebater
uso de drogas e insegurança política e
Para ilustrar esse ponto, vamos observar as econômica estão por toda parte, são as
fotos de Shootback [Rebater] e comparar manchetes de primeira página sobre os
a declaração de intenção com o estilo e o jovens de nossa região. Todos esses relatos
conteúdo das imagens. Um dos estágios são suficientemente verdadeiros, mas
do projeto, publicado posteriormente como as imagens capturadas pelos jovens do
Shootback: Photos by Kids from the Nairobi Shootback estão mais próximas da verdade,
Slums [Rebater: fotos batidas por crianças porque elas também retratam o invencível
das favelas de Nairóbi], editado por Runyon espírito humano e nossa sede insaciável
Hall, Karen e Lana Wong (1999), era fornecer de expressão”.
aos adolescentes de Mathare, uma das maiores
Um texto adicional da Associação Desportiva
favelas da África, em Nairóbi, câmeras
Juvenil Mathare acrescenta uma indicação
compactas para que eles documentassem
clara das razões por trás das obras do projeto.
suas vidas cotidianas. O texto introdutório
O livro inclui também um retrato e uma breve
é claro e simples: são fotografias feitas
autobiografia de cada um dos adolescentes
pelos adolescentes, acompanhadas por
participantes.
suas descrições de quando e como cada
foto foi batida.
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 ∞ 
Título: da série Shootback
[Rebater]
Fotógrafo: Peter Ndolo
Peter fala sobre sua experiência
com o projeto Shootback: “Agradeço
a Deus e ao Shootback, pois eu
poderia estar na rua pedindo
dinheiro, roubando bolsas ou
cheirando
cola, mas agora aprendi a bater
fotos, a processar filme e a lidar
com a internet”.

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∆ Público e intenção | Declaração de intenção | A resposta do público ◊
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Declaração de intenção

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 ∞
Título: da série Shootback [Rebater]
Fotógrafo: Saidi Hamisi

Uma das principais qualidades das O making of das fotos faz parte de
fotos de Shootback é que elas foram um projeto comunitário e ambiental
feitas por adolescentes que vivem no que tem efeitos reais, positivos
ambiente que fotografaram. Do ponto e duradouros sobre a vida dos
de vista do público, essa autoria adolescentes e suas famílias;
implica um senso de honestidade trata-se de um projeto de inclusão
que não seria apreciado da mesma e de criação de valores que teve
forma se as fotos tivessem sido feitas um impacto enorme sobre Hamisi.
por um fotógrafo visitante. Ele comenta: “Minha ambição é me
tornar um bom jornalista no futuro”.
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Uma lógica clara O ponto a salientar aqui é que as fotos
Em geral, o texto que acompanha as imagens correspondem à declaração de intenção
de Shootback dá informações claras sobre inicial. Para aplicar esse princípio a seu
o making of das imagens e a lógica do próprio trabalho e contemplar sua foto a partir
processo. Portanto, quanto ao público, da perspectiva de sua intenção, pode ser útil
não há mistério conceitual com relação observar a foto examinando o que realmente
às fotos, que são claras quanto a sua função está ali e considerar “o quê?”, “onde?”,
e finalidade: sua visualização está inserida “como?” e “por quê?”. Essa reflexão pessoal
em um contexto claro. As fotos em si são sobre sua imagem deve iluminar os principais
coloridas e preto e branco e conduzem aspectos do contexto dentro da foto e em
o espectador para o cotidiano dos fotógrafos torno dela
de forma criativa e informativa, por meio da e ajudar você a pensar em como desenvolver
combinação de interiores detalhados, retratos uma linguagem visual eficaz.
e cenas de rua, cobrindo assim uma variedade
de aspectos que compõem o ambiente dos
fotógrafos e transmitem uma noção de sua
vida cotidiana.

“A fotografia, justamente porque só pode ser produzida


no presente, e porque está baseada no que existe
objetivamente diante da câmera, ocupa o lugar de
mídia mais satisfatória para registrar a vida objetiva
em todos os seus aspectos, de onde vem seu valor
documental. Se a isso acrescentarmos sensibilidade
e compreensão e, acima de tudo, uma orientação
clara quanto ao lugar que ela deveria ocupar no campo
do desenvolvimento histórico, acredito que o resultado
é algo digno de um lugar na produção social, para
a qual todos deveríamos contribuir.”
Tina Modotti, 1000 Photo Icons by Anthony Bannon (Foreword)
[Tina Modotti, 1000 fotos icônicas, prefácio de Anthony Bannon]

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∆ Público e intenção | Declaração de intenção | A resposta do público ◊
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A resposta do público

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Nos capítulos anteriores, reconhecemos a Em outro artigo da revista Reportage sobre
influência das experiências sociais, culturais, as fotos de Stoddart, John Sweeney comenta
geográficas e de temas da atualidade sobre o resultado financeiro da publicação das fotos.
a compreensão e a interpretação de fotografias Ele conta que as imagens apareceram pela
pelo público. Outro fator a ser considerado primeira vez no jornal britânico The Guardian
é a atitude com que o público aborda a com texto de Victoria Brittain junto ao número
imagem e como esta irá afetá-lo e a seu da linha telefônica da organização Médicos
comportamento subsequente. Sem Fronteiras. No dia em que o material foi
publicado, a organização recebeu 700
telefonemas e foram doadas 40 mil libras
Comunicação e variações na percepção
(63 mil dólares). As mesmas imagens
As imagens que o fotojornalista britânico apareceram depois na edição internacional
Tom Stoddart fez sobre a fome no sul do do The Guardian, o que resultou em mais
Sudão, em 1998, são um bom exemplo dinheiro, incluindo uma doação individual
de imagens que tiveram um efeito de 10 mil libras (16 mil dólares) de uma
demonstrável sobre o público. Na revista pessoa da Nova Zelândia. As fotos passaram
Reportage, em uma introdução às imagens, a aparecer em revistas nos EUA, Alemanha,
Colin Jacobson escreve sobre a influência França, Holanda, Espanha e em todo o mundo,
civilizadora do fotojornalismo sobre aumentando a sensibilização e a ajuda
a humanidade: “As fotos que Stoddart financeira para o povo do Sudão.
realizou no Sudão pertencem à tradição
de fotojornalismo que pode mudar a maneira
como nos relacionamos com o mundo”.
Jacobson continua: “As imagens não são
apenas clichês visuais, feitas rapidamente
para entregar o trabalho no prazo. Elas nos
persuadem a responder aos sentimentos
daqueles que aparecem nelas. São o resultado ◊
da paixão, da preocupação e do compromisso, Título: A Child Cries as He is Fed
qualidades que extrapolam as imagens. by an Aid Worker in the Feeding
Centre at Ajiep, Southern Sudan,
Stoddart também é um talentoso narrador During the 1998 Famine [Criança
visual. E isto, em última instância, é o que chora ao ser alimentada por
prende nosso olhar”. um funcionário no Centro de
Alimentação em Ajiep, sul do
Sudão, durante a fome de 1998]
Fotógrafo: Tom Stoddart
As fotos de Stoddart sobre a fome
no Sudão angariaram imensa ajuda
financeira, o que revelou, pelo menos
do ponto de vista econômico, que
a noção de “fadiga da compaixão”
era apenas isto: uma noção.
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Fadiga da compaixão? Defendendo a publicação das imagens, John
No entanto, há opiniões contrárias à publicação Sweeney observou: “O sucesso das imagens
desse tipo de imagens. Ao publicar as fotos de Stoddart sugere que a ideia de fadiga
de Stoddart, o Daily Express foi duramente da compaixão é um mito conveniente para
criticado pela proeminente política britânica aqueles que detêm o poder político. O Daily
Clare Short, por “bater na mesma tecla sobre a Express levantou 500 mil libras (800 mil
fome”. Short argumentou que situações como dólares). Acho que as pessoas respondem
a fome no Sudão pedem soluções políticas magnificamente. Os leitores não são idiotas.
em lugar de doações individuais e que a Deixe que eles decidam”.
circulação das pungentes fotos de Stoddart
só resultaria em “fadiga da compaixão”. Nesse
contexto, fadiga da compaixão é a noção de
que os espectadores que são bombardeados
com imagens e reportagens sobre o sofrimento
se tornam cínicos e relutantes em ajudar.

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∆ Declaração de intenção | A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto ◊
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Intenção, interpretação e contexto

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O contexto é um componente importante Comunicação clara
na declaração de intenção e na posterior O contexto pode corroborar a intenção do
interpretação do público. Até agora, fotógrafo tanto na identificação do público
discutimos a importância da sinceridade com o objeto fotografado quanto na
do fotógrafo ao comunicar fotograficamente. comunicação entre um e outro por meio da
Reconhecemos também que o público pode foto. Da perspectiva do fotógrafo, quando
abordar uma fotografia imbuído de algum grau da produção de fotos e tradução de ideias
de suspensão da descrença ou da vontade de em imagens, a análise do contexto pode
se envolver com uma imagem e com as ser uma ferramenta útil para esclarecer
convicções e ideologias pessoais que ela se ele, como fotógrafo, está usando
representa. Também analisamos como várias a linguagem visual para se comunicar
influências sociais, culturais, geográficas e de da forma mais clara e adequada possível.
temas da atualidade podem dar forma à
Nas próximas páginas, vamos voltar a alguns
interpretação de uma fotografia pelo público.
pontos relacionados à técnica, já abordados
Quando todos esses fatores se combinam, em relação ao tema, ou objeto, no capítulo 2;
fica claro que, embora os fotógrafos possam vamos enfocá-los em termos de como o
tentar transmitir uma intenção ou expressão, contexto pode influenciar na interpretação
nem sempre é possível prever com precisão que o público faz de uma imagem.
a resposta do espectador. No entanto,
a resposta do espectador pode ser influenciada
pelo engajamento do fotógrafo com a
linguagem visual de uma maneira coerente
com sua intenção.

 ◊ 
Título: da série Life After Zog and
Other Stories [Vida depois de Zog
e outras histórias]
Fotógrafa: Chiara Tocci
No começo da década de 1990,
no sul da Itália, Chiara Tocci
testemunhou o desembarque
de levas de albaneses nas costas de
sua cidade natal depois do que ela
descreve como “uma viagem cruel e
cheia de desenganos”. Chiara explica:
“Fugindo de um futuro sem esperanças
em direção a algo igualmente obscuro
e complexo, eles se espalharam
por toda a Europa. Suas histórias,
imaginadas e supostas, se apoderaram
de meus pensamentos: quem eles
haviam deixado para trás e o que
almejavam? Anos depois, esse fascínio
por aquele povo e sua terra enigmática
se transformou em uma viagem
fotográfica pelas áreas remotas
das montanhas da Albânia”.
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∆ A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso ◊
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Intenção, interpretação e contexto

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Composição e qualidade da imagem isso acrescenta sabor à imagem”. Mas será
que acrescenta mesmo? Uma impressão ruim
A qualidade da imagem técnica é um
pode ser vista apenas como uma impressão
aspecto muito significativo da linguagem
ruim, nada menos que desagradável, o que
visual. Os principais fatores que contribuem
pode depreciar e desvalorizar a intenção do
para a qualidade da imagem técnica são
fotógrafo.
formato de câmera, tipo de filme e velocidade,
iluminação e exposição. No livro On Being a Photographer [Ser
fotógrafo] (1997), David Hurn explica:
Pode ser extremamente gratificante visitar
“O que um fotógrafo deve se perguntar
mostras fotográficas para ver a qualidade
é: ‘Será que estou traduzindo o que vejo da
dos detalhes e da exposição de uma foto
melhor maneira possível em termos visuais?’
feita com uma câmera de grande formato
Em outras palavras, para ser capaz de se
e exposição bem medida. Essa é uma ótima
comunicar, o comunicador deve conhecer
maneira de desenvolver uma apreciação sobre
seu ofício, tanto do ponto de vista técnico
a relevância da execução técnica. Posicionar-se
quanto organizacional, pois são esses
em frente a uma imagem impressa bem
processos que o ajudam a se comunicar
executada permite ao espectador se envolver
com clareza. O fotógrafo que costuma ser
totalmente com o tema e explorar o conceito.
tão desastrado no que faz que não consegue
Se um dos aspectos da abordagem conceitual dizer o que está tentando dizer, por mais
for questionar a qualidade técnica e produzir sincero que seja, é, na melhor das hipóteses,
uma imagem tecnicamente “incorreta”, um aprendiz; na pior, um impostor”.
é preciso ficar claro que tal resultado é
Há ocasiões em que as circunstâncias
intencional. Manter certa continuidade
podem inadvertidamente acrescentar maior
com uma aplicação coerente da abordagem
significado a uma imagem, como é o caso
técnica é fundamental para permitir que
da foto na página oposta. Os rolos de filme
a conexão entre conceito e técnica seja
de Robert Capa foram danificados durante
apreciada e compreendida.
a revelação e muitas pessoas consideram
Baixa qualidade da imagem que o estrago realmente intensifica o poder
Às vezes, um aluno apresenta uma foto com emotivo dos negativos que sobreviveram.
exposição ou impressão ruim e diz: “Acho que

“As imagens icônicas que Robert Capa fez dos desembarques


do Dia D talvez comuniquem o horror da guerra com maior
intensidade porque os negativos foram arruinados por um
técnico de laboratório excessivamente entusiasmado. Aquelas
fotos de Capa e as atualmente tiradas com celular e vídeo
estão tão aquém das imagens vistosas veiculadas pela
publicidade contemporânea, que acabam se parecendo
muito mais com a própria vida, em toda a sua fragilidade.”
Mark Power, Between Something and Nothing [Entre nada e alguma coisa]
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Título: France. Normandy. Omaha Beach. The First Wave of American
Troops Lands at Dawn. June 6th, 1944 [França. Normandia. Praia de
Omaha. A primeira leva de soldados estadunidenses desembarca ao
amanhecer. 6 de junho de 1944]
Fotógrafo: Robert Capa © 2001 Cornell Capa

Os negativos das fotos de Robert Capa que sobreviveram foram danificados


do desembarque na Normandia foram e distorcidos pelo superaquecimento.
secados muito rapidamente por um No entanto, é possível interpretar
assistente de laboratório e o excesso essas imagens danificadas como
de calor fez que a emulsão derretesse mais sugestivas do horror que
e provocasse a desidratação do filme. retratam do que se tivessem sido
Muitos quadros foram perdidos e os produzidas com perfeição.

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∆ A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso ◊
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Intenção, interpretação e contexto

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Representação fotográfica “pura”
Jürgen Perthold criou uma série de fotos
que foram tiradas com uma câmera acoplada
à coleira de seu gato. A qualidade técnica
e a composição fortuitas permitem que
os espectadores coloquem as imagens
em contexto. Esse é um ótimo exemplo
de energia criativa focada na elaboração da
ideia, no desenvolvimento técnico da câmera,
na execução e edição das imagens, mas
sem participação do fotógrafo na obtenção
da imagem propriamente dita. Nesse caso,
é possível dizer que a ideia e o processo são
o grande avanço conceitual das imagens.
O que guardamos dessas imagens se
reduz à nossa interpretação como público.
No entanto, o que devemos ter em mente
é como o contexto mais amplo das imagens
influencia nossa interpretação. Aliás, não
só influencia, como também possibilita nossa
interpretação. Como a fotografia está muito
democratizada, pois a maioria das pessoas
possui ou tem acesso a uma câmera, estamos  ∞ ◊
familiarizados com noções como verdade Título: da série Cat’s Eye View
e realidade, composição e qualidade, não [Ponto de vista do gato].
apenas como espectadores, mas também Fotógrafo: Jürgen Perthold
como criadores de imagens. Nós mesmos O gato usa uma câmera digital
pequena, leve e barata, especialmente
já produzimos uma imagem mal enquadrada, concebida para ser colocada na
mal iluminada e assim por diante. Aceitamos coleira e programada para tirar uma
tais imagens porque elas parecem que não foto por minuto. Com velocidade
de obturador fixa e sem flash, esses
foram arquitetadas pelo fotógrafo; na verdade, registros são uma reminiscência do
podemos até percebê-las como uma antigo instantâneo familiar com fotos
representação fotográfica “pura” da ocasionalmente desfocadas e pouca
definição de cores e detalhes quando
verdade e da realidade. tiradas na sombra.
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∆ A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso ◊
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Intenção, interpretação e contexto

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Processo e apresentação Clareza de intenção
A maneira como uma imagem é apresentada Os artistas alemães Bernd e Hilla Becher
é um aspecto importante do contexto em fotografaram edifícios industriais por mais
que é vista e, por conseguinte, interpretada. de 40 anos, começando em 1959, e fizeram
O tamanho, o formato e a ordenação das vários retratos em preto e branco de tipos
fotos são os principais elementos a influenciar específicos de estruturas industriais. Em um
o modo como as imagens de uma série se artigo para a Tate Magazine, Michael Collins
relacionam entre si ou realçam o significado explica: “Na simplicidade pode se encontrar
de uma imagem individual. Analisaremos uma profunda sabedoria. Assim é a arte de
ordem e sequência em um capítulo posterior Bernd e Hilla Becher. O objetivo dos Becher
(veja página 102), de modo que por enquanto sempre foi fazer fotos de estruturas industriais
vamos nos concentrar na apresentação geral. com a maior nitidez possível. Eles não estão
Conjuntos de tipologias, ou séries, são uma interessados em fazer imagens eufemísticas
forma simples, mas eficaz de permitir que o e sociorromânticas, glorificando a indústria,
espectador veja as semelhanças e diferenças nem em fazer condenações apocalípticas
em um conjunto de fotografias. Tipologia é mostrando custos e perigos dessa mesma
simplesmente o estudo dos tipos. A fotografia indústria. Eles também não têm nada em
pode ser usada de maneira coerente para comum com os fotógrafos que produzem
produzir um conjunto de imagens relacionadas, agradáveis abstrações modernistas e que
como as fotos de Jamie Sinclair na página tratam as estruturas como formas decorativas
oposta, e elucidar aspectos do objeto ou divorciadas de sua função”.
da abordagem conceitual. A apresentação No caso das tipologias dos Becher, o conceito
do conjunto tipológico em uma grade, por é encontrado na leitura das imagens com base
exemplo, pode ser um aspecto integrante na execução de alta qualidade. Os Becher
da interpretação e também um exercício se esforçam em obter excelência técnica,
para refletir sobre como os espectadores e o conceito salta aos olhos do espectador
vão de uma imagem a outra, ou como − a “simplicidade” de sua produção e
usar ou comentar no espaço de exposição. apresentação revela a “profunda sabedoria”
a que Collins se refere.

 ◊ 
Título: da série Constricted Reality
[Realidade comprimida]
Fotógrafo: Jamie Sinclair
Nestes retratos, Sinclair se inspirou
na sensação de perda de controle
sobre o próprio corpo devido à asma.
Para refletir essa sensação, ele fez
seus sujeitos prenderem a respiração
e os colocou de cabeça para baixo
enquanto os fotografava. Ele foi
capaz, então, de captar as reações
involuntárias de seus corpos.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 86—87

LLLL

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Intenção, interpretação e contexto

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
O processo como lógica conceitual  ◊
 ◊ 
Na série Glass [Vidro], de Laura Pannack, Título: da série Glass [Vidro]
o processo é a lógica conceitual por trás das Fotógrafa: Laura Pannack
imagens, como ela explica: “Refleti sobre a Pannack colocou fotógrafos na
posição de objeto usando uma placa
relação entre o objeto e o fotógrafo e decidi de vidro entre eles e a câmera e
fazer os fotógrafos experimentarem a posição pedindo para que fechassem os
de objeto. Coloquei uma folha de vidro entre olhos enquanto ela tirava as fotos.
mim e o fotografado para simbolizar o vidro
da lente, que é o único obstáculo concreto.
Em seguida, pedi que fechassem os olhos
para que não percebessem quando eu iria
fotografá-los, eliminando assim qualquer
possibilidade de controle que eles pudessem
ter, e provocando uma sensação de isolamento,
o que se relaciona com minhas ideias sobre
como as pessoas muitas vezes se opõem a
serem fotografadas e como reagem quando
confrontadas com a situação. Eu queria que
meus objetos não tivessem controle nenhum
sobre a imagem, pois eu sei que, como
fotógrafos, a percepção e o envolvimento
ficam muito mais evidentes”.
O trabalho de Laura é um grande exemplo
de como o método em si pode dar origem a
um aspecto interpretativo por parte do público
e ser um elemento essencial para influir na
apresentação e na interpretação da fotografia.

“Uma foto é uma impressão subjetiva. É o que o


fotógrafo vê. Por mais que tentemos entrar na pele,
no sentimento do objeto ou na situação; por mais que
sejamos empáticos, ainda é aquilo que vemos o que
transparece nas imagens; é a nossa reação ao tema,
e, no final, todo o corpus de nosso trabalho se torna
um retrato de nós mesmos.”
Marilyn Silverstone, britânica, fotógrafa da Magnum
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 88—89

LLLL

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∆ A resposta do público | Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Estudo de caso: King Alfred − Simon Carruthers

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 90—91

Estudo
LLLL

de caso
King Alfred, o decadente centro de lazer à beira-mar em Hove, no sul da
Inglaterra, foi inaugurado na década de 1930. Tendo servido ao público por mais
de 70 anos, o local foi escolhido para receber verbas para reconstrução. Uma
estrutura projetada por Frank Gehry, incorporando um complexo esportivo e 754
apartamentos, com um custo estimado de 290 milhões de libras (470 milhões
de dólares), foi proposta para o local, e tudo indica que será aprovada pelo
governo. O novo marco, projetado por um arquiteto mundialmente famoso,
apagará em breve a lembrança do ultrapassado centro de lazer.
O fotógrafo local Simon Carruthers decidiu capturar a atmosfera do complexo
original, antes de este ser permanentemente apagado da paisagem e da
memória das pessoas. Usando uma câmera Bronica ETRS 6×6 e filme Kodak
VC160, Carruthers conseguiu trabalhar apenas com a luz ambiente, captar sua
qualidade e assim transmitir a atmosfera do edifício. Mesmo nas salas mais
escuras, iluminadas com uma lâmpada de teto, é possível sentir a forte luz
natural refletida pelo mar e pelo amplo espaço circundante, na orla marítima
de Hove. Andando pelo edifício e passando de um tipo de fonte de luz para
outro, ainda se sente a proximidade do mar, já que os materiais de construção
de 1930 não isolam o ambiente externo, e uma rajada de vento ocasional ou
a brisa do verão assoviam pelos corredores. A qualidade da luz e o ar marinho
constituem boa parte da memorável experiência de se hospedar na orla de
Hove − algo que pode se perder em um edifício mais moderno com
ar-condicionado.
 ∆ 
Título: da série The King Alfred
[O King Alfred]
Fotógrafo: Simon Carruthers
Com lente configurada para a menor
abertura, a técnica e o senso de
precisão de Carruthers podem ser
apreciados nos detalhes e na
atmosfera que as imagens
transmitem.

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∆ Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Estudo de caso: King Alfred − Simon Carruthers

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Estética versus conceito
Carruthers descreve sua atração pelo edifício e a intenção
por trás de suas fotos: “Fui atraído pelo King Alfred por razões
que não entendo inteiramente; me intriga o processo de
decadência, principalmente em relação a coisas feitas pelo
homem. Decerto isso tem algo a ver com o processo gradual
de recuperação do território humano pela natureza. Tenho
consciência dos desperdícios e do efeito que nossa sociedade
descartável tem sobre o planeta. Eu acho que detectei um
elemento de descaso em nossa atitude para com este antigo
edifício, que serviu à comunidade por tanto tempo.
“Meu público ideal é o público em geral, uma vez que vejo
meu trabalho como informativo. A última coisa que eu quero
é que meu trabalho se torne exclusivo e só seja compreendido
pelas pessoas que estudaram artes. Meu trabalho é conceitual
− tem de ser −, mas só até certo ponto. Se ele for inteligível
apenas para 10% das pessoas que o virem, ele terá
fracassado. Meu objetivo é produzir imagens impressionantes
para prender a atenção; uma vez que a atenção foi ganha,
é hora de o significado transparecer. Se o trabalho não é
impressionante, não chama a atenção e fracassa. Tem de
haver um equilíbrio − estética e conceito ou significado.
Se o trabalho é puramente estético, não me interessa,
mas se é muito conceitual corre o risco de se tornar
autocentrado ou esnobe e, consequentemente, alienar
seu público”.

 ◊
Título: da série The King Alfred
[O King Alfred]
Fotógrafo: Simon Carruthers
King Alfred, o decadente centro de
lazer à beira-mar, em Hove, no sul da
Inglaterra, foi inaugurado na década
de 1930. Tendo servido ao público
por mais de 70 anos, o local recebeu
verbas e deve passar por uma
remodelação.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 92—93

LLLL

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ Intenção, interpretação e contexto | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Capítulo 3: Exercícios e resumo

Exercícios:
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

Considerando
o que foi visto
◊ Antes de visitar uma exposição, examine a obra on-line ou em livro.
Reflita sobre sua reação e compare-a com a própria reação diante da
mesma obra na exposição.
◊ Anote suas observações e reflita sobre a ligação, se houver, entre a
declaração de intenção do fotógrafo, a obra exposta e sua reação a ela.
◊ Entreviste um amigo ou parente que atua fora do campo da fotografia
e discuta a reação dessa pessoa a uma série de fotos pré-selecionadas.
◊ Troque fotografias com um colega e escreva uma descrição para cada
uma, sem tê-las visto ou tido conhecimento prévio delas. Escreva sobre
como você se sente acerca da fotografia e em que contexto você acha
que ela poderia ser usada.
◊ Imprima uma foto de várias maneiras diferentes; por exemplo, uma
grande, uma pequena e várias em diferentes tipos de papel. Discuta
com seus colegas o impacto do tamanho de impressão em relação
ao conceito.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 94—95

Resumo
LLLL

◊ Reunimos e consideramos os principais pontos que permeiam a


leitura de uma imagem com base na intenção do fotógrafo, na conexão
que ele estabelece com seu objeto e no uso adequado que ele faz da
técnica, da apresentação e da linguagem visual.
◊ Tendo analisado a relação entre conceito e contexto, poderíamos
dizer que o fotógrafo deve estar ciente das “regras” determinadas
pelas características exigidas no produto final e o fim a que se destina.
O público tende a interpretar uma imagem com base no contexto em
que ela aparece.
◊ Se observarmos atentamente a imagem em si, perceberemos que
o uso que o fotógrafo faz da composição e da realização técnica de
uma imagem fornece quadros de referência com os quais o público
pode interpretar a imagem.
◊ O fotógrafo também lida com escolhas éticas e define seu próprio
código pessoal de conduta, algo que advém do que ele entende como
sua intenção, assim como do processo interativo entre a vida e a relação
que ele estabelece com ela por meio da fotografia.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 96—97

Narrativa
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

 ∆ No capítulo anterior, discutimos como o público usa


Título: Sunday New York Times contexto e padrões de referência para interpretar
[New York Times de domingo] as imagens que vê. Técnicas narrativas visuais são
(1982)
usadas para desenhar ou criar esses padrões de
Fotógrafa: Tina Barney
referência e contexto.
Tina Barney certa vez disse:
“Comecei a fotografar o que eu Na fotografia, o propósito de usar essas técnicas narrativas
conhecia”. Durante a maior parte é dar sentido, coerência e, quando apropriado, um senso
das décadas de 1980 e 1990, isso
se resumiu a tirar fotos do cotidiano de ritmo a uma imagem ou sequência de imagens. Essas
dos amigos e parentes que viviam técnicas podem ser vistas como uma espécie de pontuação
nas áreas mais abastadas de Long visual. Neste capítulo vamos explorar o significado da
Island, Nova York e Nova Inglaterra.
Usando uma câmera de grande técnica narrativa em imagens individuais e múltiplas.
formato, 8×10, ela cria imagens
altamente detalhadas que mantêm
seu foco e riqueza quando
impressas em tamanhos como
1,2×1,5 metros. Ocasionalmente,
ela usa iluminação suplementar
e dirige seus objetos. Segundo
ela: “Quando me dizem que há
certo alheamento, certa rigidez
em minhas fotografias, e que
as pessoas parecem não se
conectar, minha resposta é que
isso é o melhor que conseguimos
fazer. Essa incapacidade de
demonstrar afeto físico é nossa
herança”.

4 BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Público | Narrativa | Signos e símbolos ◊


LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
O que é narrativa?

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Narrativas são usadas em muitos campos Narrativa linear
do conhecimento em que oferecer ao A série de fotos Full Circle [Círculo completo],
público uma linha condutora ou um conceito de Susan Derges, por exemplo, mostra
a ser dominado pode ser útil na análise ou girinos emergindo das ovas e seu posterior
transmissão de informação em um contexto desenvolvimento. Essa sequência retrata
específico; por exemplo, compartilhar literalmente o crescimento da vida de uma
experiências para ampliar o conhecimento forma linear. No entanto, essa representação
ou instigar mudanças. literal foi criada e apresentada de uma maneira
Em termos simples, uma narrativa geralmente que permite uma interpretação mais ampla
consiste de início, meio e fim. No entanto, das imagens. Visualmente, a linha condutora
uma narrativa fotográfica pode não seguir é fornecida quando nos damos conta da
necessariamente essa estrutura; por exemplo, contínua evolução: das ovas ao girino às rãs.
pode simplesmente dar a entender o que Essa metamorfose literal, somada à beleza dos
aconteceu ou sugerir o que pode vir a acontecer. detalhes e à sequência das imagens, pode
Uma narrativa fotográfica pode ser uma levar o público a interpretar a obra como
interpretação fictícia de uma determinada uma alegoria ou metáfora visual.
pessoa, lugar, evento ou momento. Como Falando de seu trabalho, diz Derges:
Chris Killip escreve no prefácio de suas fotos “A água é o foco de meu trabalho fotográfico
publicadas no livro In Flagrante [Em flagrante] há 27 anos. Tomei conhecimento da fragilidade
(1988): “Essas fotos podem dizer mais sobre e preciosidade desse elemento pela primeira
mim do que sobre o que elas descrevem. vez quando morei no Japão no início dos
O livro é uma ficção sobre uma metáfora”. anos 1980; percebi, então, seu potencial
Especialmente na comunicação visual, uma para funcionar como metáfora para uma
narrativa não precisa seguir um sentido linear. abordagem holística do mundo natural,
Pode ser cíclica, ou estar contida em uma única que inclui nossa participação criativa”.
imagem, ou fazer referências cruzadas que,
quando reunidas, substanciam o entendimento
ou interpretação que o espectador faz das
intenções do fotógrafo.

“Se eu estiver procurando alguma história


que seja, ela está em minha relação com
o objeto − não a história que eu conto,
mas aquela que me conta”.
Bruce Davidson, estadunidense, fotógrafo da Magnum
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 98—99

LLLL
 ◊ 
Título: da série Full Circle
[Círculo completo]
Fotógrafa: Susan Derges
Fotogramas de ovas eclodindo em
girinos representam uma metáfora
visual da perspectiva científica.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ Introdução do capítulo | O que é narrativa? | Série ou conjunto de fotos ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
O que é narrativa?

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 100—101

LLLL
A simbiose de processos e ideias Como nos capítulos anteriores, vemos mais
Derges costuma usar fotogramas e outros uma vez o artista mencionando seu método
métodos para produzir imagens sem câmera. de produção como um ingrediente essencial
Olhando para as imagens, o espectador pode para transmitir sua intenção. Podemos
começar a ler e entender “do que elas são” imaginar, em relação a Full Circle, de
devido à continuidade visual identificada Derges, a “fazedora”, como ela se descreve,
na cor, no tamanho do tema e no ângulo de envolvendo-se com seu tema durante o
perspectiva. De modo geral, uma vez que as período de tempo em que fez as imagens,
imagens mantêm esse nível de continuidade, enquanto a metamorfose ocorria. Essa
o espectador pode olhar o todo e ver que metamorfose leva o projeto adiante, com
há certa progressão de uma imagem para um tema em constante crescimento e
outra. Após uma inspeção mais minuciosa evolução, e se presta à produção de uma
dos detalhes, o espectador pode, então, série de imagens narrativas.
identificar “do que é” que as impressões Esse é apenas um exemplo de como técnicas
são, o modo como o tema se desenvolve narrativas podem ser usadas. Outros métodos
e arriscar uma interpretação. de produção e formas de apresentação serão
Falando da relação entre ideias e processo, abordados nas próximas seções.
Derges diz:
“Reluto em pensar em mim como fotógrafa
porque muito de meu trabalho com a luz
tem a ver com desenhar com luz e lidar de
maneira bastante tátil com papéis e texturas e
diferentes tipos de emulsões. Considerar-me
gravurista implicaria ter uma base artesanal
muito forte, e não me sinto completamente
à vontade com isso também. Certamente
me vejo como uma artífice e me sinto à  ∆ ◊ 
vontade com a ideia de minha identidade Título: da série Full Circle
ser vista principalmente como a de uma [Círculo completo]
criadora, uma fazedora. Meu trabalho Fotógrafa: Susan Derges
e minhas ideias sempre vêm do ato Full Circle lida especificamente com
de fazer e se desenvolvem a partir os ciclos naturais da vida e com a
relação entre as ovas, girinos e rãs
desse fazer, nunca ao contrário.” e a água em que habitam.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ Introdução do capítulo | O que é narrativa? | Série ou conjunto de fotos ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Série ou conjunto de fotos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Uma série ou conjunto de fotos pode funcionar Continuidade estética
como uma narrativa, sendo que o método de No projeto Birds [Pássaros], de Jill Cole,
produção e a forma de apresentação podem o significado subjacente da obra transparece
sugerir ao público indícios visuais sutis que na maneira como ela fotografou seu tema.
darão corpo à leitura. Por exemplo, nos ensaios Cole enquadra seus objetos de modo que
fotográficos típicos das revistas Picture Post haja um forte nível de continuidade visual
e Life, a “história” é contada em algumas entre as imagens. A continuidade também
páginas, e cada foto desempenha um papel pode ser vista na iluminação, nas cores
na representação de um aspecto do relato. e na gama tonal das imagens. As imagens,
No caso, o fotógrafo precisa ter em mente portanto, apesar de às vezes parecerem
vários pontos-chave durante a produção bastante perturbadoras, “agradam o olhar”;
e o planejamento da apresentação de seu elas passam uma sensação de fragilidade.
trabalho. Precisa refletir sobre como o público As fotos são instigantes e motivam o público
vai ver as imagens e sobre como o contexto a observar mais fundo.
pode influir nas escolhas que ele faz.
Clare Grafik, curadora da The Photographer’s
Por exemplo, o que você pretende criar? Galery, de Londres, ao avaliar, para a revista
Uma tipologia, conforme discutido no capítulo 3 Source, os talentos egressos das faculdades
(página 86)? Ou um ensaio fotográfico em que de fotografia on-line, descreve assim o trabalho
cada foto mostre um aspecto da história de Cole: “Jill tem uma elaborada sensibilidade
que evolui para criar uma impressão geral? visual, que lhe permite combinar vários
Ou mesmo uma instalação que exija elementos diferentes em uma série de
do público certo grau de interatividade, fotos coerente e de grande impacto”.
e de sua parte alguma “definição de cena”
para incentivar tal interatividade? Ou será
que você está produzindo um conjunto de
fotos que podem trabalhar como imagens
autônomas, mas que também assumem
maior relevância quando apresentadas
em conjunto? Ou uma série de fotos que
dependem de uma determinada sequência
para mostrar certo grau de desenvolvimento
da história ou ideia?
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 102—103

LLLL

“Uma boa imagem é criada por um estado  ∞ 


Título: da série Birds [Pássaros]
de graça. E a graça se manifesta quando Fotógrafa: Jill Cole
se vê liberta das convenções, livre como Esta imagem é parte de uma série,
elaborada durante um período de
uma criança em suas primeiras descobertas 18 meses, com aves capturadas para
pesquisa científica e preservação
do mundo. A brincadeira é, então, organizar em uma reserva natural dentro de
uma unidade do exército no norte
o retângulo.” da Inglaterra. Como parte de um
programa nacional de monitoramento
Sergio Larrain, chileno, fotógrafo da Magnum e colocação de anilhas, os pássaros
foram capturados durante o voo em
redes finas colocadas entre estacas.
Anilhadores treinados cuidaram para
que o bem-estar das aves fosse
mantido durante todo o processo
de captura, coleta de dados,
anilhamento e liberação.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ O que é narrativa? | Série ou conjunto de fotos | A imagem individual ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Série ou conjunto de fotos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
A narrativa sequencial Pontos a ser considerados em relação
Em Trashumantes [Transumantes], José às técnicas narrativas:
Navarro documentou uma jornada de três
semanas realizada num mês de novembro, • Quanto controle você tem sobre a ordem
quando um rebanho de 5 mil ovelhas em que as imagens serão vistas?
atravessou cerca de 450 quilômetros de • O público verá todas as fotos de
campos espanhóis, guiado por pastores uma vez?
seminômades. Ele viu o rebanho deixar
• O público seguirá uma sequência
as pastagens de verão, já exauridas, de
identificada?
sua nativa Serranía de Albarracín, rumo
às encostas verdes, usadas no inverno, • Algumas fotos terão mais destaque
na Andaluzia. Seguindo uma tradição que que outras?
remonta a mil anos, eles percorreram • Você precisa de uma imagem de abertura
a pé as antigas trilhas dos tropeiros, uma ou que resuma sua intenção?
alternativa barata, eficiente e ecológica ao
transporte rodoviário.
As fotos transmitem a grandeza da jornada à
medida que o público acompanha o rebanho
ao longo dos campos e das cidades. Esse é
um exemplo de narrativa sequencial, em que
ritmo e fluxo natural são ditados pelo próprio
acontecimento. Uma vez que para a maioria
do público os detalhes e pontos altos da rota
eram desconhecidos, a ordem das fotos pode
sofrer alteração para produzir uma sequência
visual mais fluida. A continuidade é reforçada
pelo uso do mesmo formato de câmera e
mesma qualidade tonal de preto e branco.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 104—105

LLLL

 ∆ ◊ 
Título: da série Trashumantes
[Transumantes]
Fotógrafo: José Navarro
Navarro acompanhou os pastores
transumantes (seminômades)
em sua jornada sazonal de 450
quilômetros através da Espanha e
conta: “Durante a viagem, vivenciei o
senso de camaradagem que há entre
eles e testemunhei como a atividade
define completamente quem eles
são. Eles são transumantes e não
poderiam nem gostariam de ser outra
coisa. Infelizmente, eles muitas vezes
são vistos como um anacronismo
em nossa sociedade tecnológica.
No entanto, para os transumantes,
a viagem não é um exercício de
nostalgia, mas uma alternativa
econômica e ecologicamente viável
ao transporte rodoviário: eles poupam
dinheiro ao conduzir as ovelhas a
pé em vez de levá-las de caminhão.
A atividade está indiscutivelmente
enraizada em uma moderna
economia de mercado”.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ O que é narrativa? | Série ou conjunto de fotos | A imagem individual ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Série ou conjunto de fotos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Pontuação visual Também vale a pena questionar o olho
Vimos várias técnicas narrativas específicas da câmera em relação à narrativa. Seria
por meio de um conjunto ou série de imagens. a câmera uma quarta parede, o olho do
Outro ponto a considerar, que abordamos espectador, ou o “olho” do objeto, como
em um capítulo anterior quando observamos nas imagens de Jürgen Perthold feitas com
a apresentação, é a relevância do tamanho a câmera do gato (ver página 85)? Você
e do formato das imagens. Se você estiver pode querer estender essa questão e pensar
produzindo um conjunto sequencial de em outras perspectivas que o olho da câmera
imagens, pode ser possível conseguir poderia representar. Também pode ser útil
certo andamento usando um tamanho observar outras formas de comunicação visual
ou um formato particular de imagem em e refletir em como esse uso da perspectiva
um ponto-chave da sequência, seja como auxilia no ritmo e na interpretação das imagens.
tema recorrente ou único. Esse é o tipo Abordaremos a relevância de signos, símbolos
de técnica que poderia ser descrito e texto em capítulos posteriores, mas vale
como uma forma de pontuação visual. a pena reconhecer aqui sua relevância na
Outra técnica é a produção de trípticos construção e elaboração de uma narrativa
e similares, imagens que funcionam como visual.
pequenos conjuntos dentro de um corpo
maior. A justaposição de imagens diferentes
também pode ajudar a apresentar um
argumento ou levantar uma questão;
um exemplo óbvio é a tensão entre
positivo e negativo; outro, é o contraste
entre exterior e interior.

“Estou interessada no espaço psicológico ◊


Título: da série Beds [Camas]
entre o sono e a consciência, e em Fotógrafa: Barbara Taylor
como a mudança que ocorre dentro A série Beds, de Barbara Taylor,
foi produzida usando diferentes
desse espaço é registrada pelos lençóis. formatos de câmera ao longo de um
período de tempo, largamente ditado
Por meio das fotografias, capturo a tensão pelo uso de qualquer câmera que ela
estivesse portando. A partir de uma
de vulnerabilidade entre a experiência perspectiva narrativa, o que costura
o projeto é o tema: as camas desfeitas
privada do sono e o espaço público em quartos de hotel e a variedade
de luz.
do hotel.”
Barbara Taylor, fotógrafa estadunidense
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 106—107

LLLL

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ O que é narrativa? | Série ou conjunto de fotos | A imagem individual ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
A imagem individual

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

 ∞ 
Título: Mháithreacha agus
Iníonacha [Mães e filhas]
Fotógrafa: Laura Mukabaa
Laura Mukabaa sobrepõe três
gerações de mulheres nesta
fotografia para transmitir o vínculo
entre mães e filhas em um único
quadro.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 108—109

LLLL
Então, o que é exatamente a narrativa dentro Criando significado
de uma imagem individual e como o fotógrafo No capítulo 1, abordamos o trabalho
faz para transmiti-la ou criá-la? A narrativa teatralmente construído de Gregory Crewdson
pode ser traçada por todos os componentes (ver página 17). Ao construir literalmente suas
da imagem, pela tensão e dinâmica dos imagens, ele claramente está refletindo sobre
componentes e entre os componentes. Pode o que mostrar ao público, como ele mostra
ser que a fotografia transmita o turbilhão e a e, até certo ponto, por que ele o faz. Talvez
confusão de um momento, ou a serenidade ele também tenha tido a oportunidade de
e a calma; seja o que for que a foto transmita, trabalhar e responder ao input de suas
a narrativa será traçada a partir de como os atrizes. Nesse tipo de circunstância é possível
componentes básicos aparecem no momento responder aos subsídios dos próprios temas
de fotografar. As questões levantadas pelo vivos. Por exemplo, o sujeito fotografado pode
modo como os componentes da fotografia expressar uma emoção de uma maneira
aparecem talvez fiquem no âmbito de: isso que agregue algo inesperado, mas valioso,
é uma foto de quê? O que está acontecendo? à imagem.
Qual a relevância do espaço vazio/céu escuro/
O ponto em questão é que é importante estar
cor do tapete? Pode até soar muito simples,
alerta e seguro da própria intenção ao realizar
mas decompor os vários elementos pode
qualquer projeto fotográfico. É fundamental
ajudar o fotógrafo a refletir sobre o que ele
estar ciente dos dispositivos narrativos e suas
está mostrando ao público, como e por quê.
implicações, mas ao mesmo tempo estar aberto
a elementos inesperados que possam contribuir
para a foto. Em última análise, o objetivo
da técnica narrativa é proporcionar sentido
e coesão, ou ancorá-los, em favor da
imagem e de seu público.

“Não há nada inerente a qualquer meio de expressão


que garanta seu valor como arte. A relação entre fato
e símbolo, expressão e ideia, pela qual detectamos a
presença da arte em um objeto, não é dom de algum
meio em particular, mas o resultado de um embate do
artista com o mundo real segundo certos princípios.”
Mike Weaver, “The Picture as Photograph” [A imagem como fotografia],
em The Art of Photography [A arte da fotografia]

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB
∆ Série ou conjunto de fotos | A imagem individual | Estudo de caso ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
A imagem individual

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Extraindo imagens individuais de obras A arte como produto derivado
maiores do fotojornalismo
Algumas imagens individuais muito conhecidas O acadêmico estadunidense Claude
foram originalmente produzidas como elemento Cookman, da Universidade de Indiana,
de um ensaio fotográfico ou como parte de entrevistou Cartier-Bresson, em 1998,
uma obra maior. Henri Cartier-Bresson, por para a edição de primavera da revista
exemplo, é mais conhecido hoje por suas History of Photography [História da
imagens individuais. No entanto, escrevendo fotografia] e descreveu da seguinte
para o jornal The Independent, em 1998, maneira suas fotos do funeral de Gandhi:
Colin Jacobson nos lembra da experiência “Muitas de suas fotos individuais podem
de Bresson como fotojornalista: “Vinte e cinco funcionar como arte, mas ele não fotografou
anos depois que Cartier-Bresson parou de o funeral de Gandhi pensando em estética.
fotografar, parece haver um movimento Fotógrafos de arte não se acotovelam numa
na crítica contemporânea de fotografia multidão de um milhão e meio de pessoas.
reivindicando sua obra fotográfica para Eles não exibem a força e o vigor demonstrados
o mundo da arte e negando que ele um por Cartier-Bresson quando ele teve de disputar
dia tenha sido fotojornalista. Cartier-Bresson um lugar na cabeceira da pira funerária
é parcialmente responsável por isso. de Gandhi”.
Ao extrair imagens individuais do contexto Essas imagens individuais extraídas de
das reportagens a que pertenciam para trabalhos maiores podem muitas vezes
reapresentá-las em exposições e livros, transmitir a essência absoluta da intenção
ele se permitiu tornar-se mais conhecido por trás da imagem, ao capturar os aspectos
como fotógrafo que produzia imagens fundamentais do instante, da pessoa, do
individuais”. acontecimento ou da ideia. À medida que
Jacobson descreve a cobertura que Cartier- um fotógrafo mergulha mais fundo no processo,
Bresson fez do funeral de Mahatma Gandhi: ele passa a assimilar e a representar sua
“Há exemplo mais clássico de fotojornalismo experiência tridimensional por meio da lente
profissional do que a cobertura de Cartier- da câmera, e ele faz isso de uma maneira
Bresson do funeral de Gandhi, na Índia, que combina o uso da linguagem visual com
em 1948? Cartier-Bresson trabalhou em sua reação pessoal àquela experiência e seu
50 eventos diferentes nos três dias de luto, entendimento.
disparando 30 rolos de filme, capturando Esse processo inclui interagir com o ambiente
todos os ângulos possíveis”. sem descuidar da própria intenção fotográfica,
linguagem visual e decisões técnicas. Como
Don McCullin observa: “Mesmo em fotografia
de guerra, eu me viro de costas para fazer
a leitura da exposição. Que sentido terá
sua morte se você tiver cometido um erro
de exposição?”.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 110—111

LLLL

∞ 
Título: India. Delhi. 1948. The
Cremation of Gandhi on the Banks
of the Summa River. [Índia. Délhi.
1948. A cremação de Gandhi
às margens do rio Summa].
Fotógrafo: Henri Cartier-Bresson
Como no caso desta foto, extraída
dos 30 rolos de filme que Cartier-
Bresson usou para fotografar o funeral
de Gandhi, a força de uma imagem
individual pode derivar do esforço
e envolvimento do fotógrafo durante
o processo físico e mental de produzir
uma obra maior.

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∆ Série ou conjunto de fotos | A imagem individual | Estudo de caso ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
A imagem individual

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Dedicação absoluta Esse empenho e essa dedicação por parte
A imersão total no processo permite que do fotógrafo contribuem enormemente para
o fotógrafo esteja altamente sintonizado a criação de uma narrativa em uma única
com os aspectos fundamentais da foto. imagem. É esse processo interativo em
Em frações de segundo, ele pode perceber imersão total que “faz” a fotografia.
como a dinâmica de um instante pode ser Como Henri Cartier-Bresson explica: “Fotografar
condensada em uma fotografia que transmite significa reconhecer − simultaneamente e em
sua intenção em sua cabeça, olho e coração. uma fração de segundo − tanto o fato em
O fotógrafo pode perceber o significado si quanto a organização rigorosa das formas
simbólico, alegórico ou metafórico visualmente perceptíveis que lhe dão sentido.
nos aspectos de uma cena; quando esses É colocar a cabeça, o olho e o coração na
aspectos são enquadrados em uma única mesma linha de mira”.
exposição, feita na hora certa, eles podem
transmitir algo que o fotógrafo viu ou teve
intenção de mostrar.
À medida que o fotógrafo se torna mais
experiente nesse processo, é possível prever:
• Em que grau a imagem ficará desfocada
(efeito blur) usando uma velocidade de
obturador baixa.
• Em que ângulo e lugar no quadro o
movimento ficará congelado.
• O que ficará nítido (e o que não ficará) usando
pouca profundidade de campo.
• Como e onde a luz está incidindo.
• Se a exposição ficará melhor com muita luz
ou pouca luz.
• Quantos quadros serão precisos até que
um objeto em movimento fique exatamente
no ponto certo.
• Onde se posicionar, ou como posicionar
a câmera, a fim de compor a foto como
pretende.
Tudo isso em frações de segundo, ao
mesmo tempo em que interage com o objeto
e o ambiente.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 112—113

LLLL
Fotografia de estúdio e natureza-morta
Mesmo em fotografia de estúdio ou natureza-
morta, o fotógrafo pode ficar tão envolvido com
a própria ideia e tema que o mais simples dos
objetos pode se tornar todo um universo
e se comunicar com ele em seu código
de linguagem visual. Refletir sobre a
composição, a iluminação e as relações
entre os temas permitirá que o fotógrafo
componha sua narrativa dentro de uma
única imagem ou entre algumas imagens.
Por exemplo, em seu livro John Blakemore’s
Black-and-White Photography Workshop
 ∞  [Oficina de fotografia em preto e branco de
Título: da série Derry Road John Blakemore] (2005), Blakemore reflete
[Estrada Derry] sobre sua viagem e o tempo gasto para
Fotógrafa: Lydia O’Connor fotografar tulipas: “Passei muito tempo
Derry Road é um ensaio sobre uma apenas contemplando as flores, sem pensar
comunidade de pessoas que vivem
ao longo de uma estrada de seis na câmera. Eu me deliciava com a presença
quilômetros que atravessa Kildare, voluptuosa das tulipas. Esses períodos de
na Irlanda. O tema central é investigar contemplação, de prazer visual, são uma
como uma comunidade molda a
paisagem em torno dela e como parte imprescindível de meu processo de
essa paisagem a molda. Esta imagem trabalho. É um aprofundamento de minha
individual, embora pertencente experiência e de meu relacionamento com
a um corpo maior, transmite com
simplicidade a essência da intenção meu tema”.
do projeto, uma vez que os laços
visuais entre o sujeito e seu ambiente
estão muito claros.

∆ 
Título: The Watermill, Korana
[O moinho d’água, Korana] da
série Vražji Vrt (The Devil’s
Garden) [O jardim do diabo]
Fotógrafa: Eleanor Kelly
Este projeto ainda em curso se
concentra na região da Croácia cortada
pelo rio Korana, que desce dos lagos
e cachoeiras de Plitvice Jezera em
direção à cidade renascentista de
Karlovac. Esta imagem sobrevive
de maneira autônoma, mas também
pode representar o corpo da obra,
pois contém indícios que remetem
às crenças e circunstâncias da região.

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∆ Série ou conjunto de fotos | A imagem individual | Estudo de caso ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Estudo de caso: Tema cinza médio − Kim Sweet

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL


Título: da série Average Subject
[Tema cinza médio]
Fotógrafa: Kim Sweet
O título da série Average Subject
é tirado de uma configuração da
câmera vintage usada, algo a meio
caminho entre “tema escuro” e “tema
claro”. O manual da câmera sugere
que esta configuração seja usada
para “cenas de jardim e margens
de rios, pessoas de corpo inteiro
com roupas de tons entre claro
e escuro, cenas bem iluminadas”.
O título faz uma perfeita associação
entre o conceito por trás do projeto
e a técnica usada.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 114—115

Estudo
LLLL

de caso
Kim Sweet se formou na Central St. Martins School of Art, em Londres, no fim
da década de 1980. Em 2010, ela quis voltar a trabalhar com fotografia como
meio criativo e assim reacender sua voz visual e desenvolver suas habilidades
técnicas junto com seu modo de ver e interpretar o mundo a seu redor.
Tendo mudado de Londres para Eastbourne, uma estância balneária famosa por
sua popularidade entre aposentados, Sweet resolveu documentar sua nova
cidade como forma de conhecer e explorar seu ambiente − em particular
o espaço entre sua casa e o cais, uma distância de aproximadamente
um quilômetro. A intenção subjacente era entender melhor a cidade, seus
moradores e visitantes, bem como a reputação de “cidade de aposentados”.
Alguns aspectos da cidade e da orla haviam permanecido relativamente
inalterados ao longo dos últimos 40 anos, mas agora estão lentamente
desaparecendo e sendo substituídos por uma identidade mais moderna.
O atrito entre o velho e o novo (ou jovem) constituiu um desafio na determinação
do objeto de cada imagem e no modo como ele poderia ser documentado.
Começando com uma Olympus OM-1, 35 mm, e filme preto e branco, Sweet
usou cerca de dois rolos de filme a cada semana durante um período de dez
semanas. Quando a primavera deu lugar ao verão, a qualidade da luz mudou,
assim como a população visitante e o uso da orla marítima. Sweet começou
fotografando visitantes, como casais, pessoas solitárias ou em grupos, cultivando
velhas amizades ou fazendo novas. O grande número de bancos à beira-mar
fez da orla uma excelente locação, uma vez que era usada tanto como espaço
social quanto para meditação.

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∆ A imagem individual | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Estudo de caso: Tema cinza médio” − Kim Sweet

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Experimentação
Os pequenos detalhes que haviam motivado Sweet a fotografar
as pessoas sentadas nos bancos, como seus tipos de penteado,
chapéu, cachecol, roupas de férias, perdiam o poder evocativo
em 35 mm, preto e branco; as fotos ficavam muito datadas,
óbvias demais. Sweet então decidiu fazer experimentações
com médio formato e câmeras vintage, e voltou-se para
uma antiga Kodak, comprada em um bazar de caridade local.
A combinação de distância predeterminada do ponto de foco
com filme colorido e a escolha do tema produziram imagens
suaves, evocativas da qualidade das fotos de férias dos anos
1970 (coincidentemente, mesma época em que a câmera
começou a ser produzida).
Conforme ela mesma diz: “Levei um tempo para entender
que estava tentando desacelerar o documentário, a ‘fotografia
de rua’, para encontrar o que Gerry Badger descreve, em
The Pleasure of Good Photographs [O prazer das boas
fotografias] (2010), como uma abordagem ‘silenciosa’
que tenta evocar − mais do que definir − o espaço e uma
determinada geração de pessoas que visitam ou habitam
a cidade. Eu queria olhar para uma fase da vida pela qual
todos nós inevitavelmente passaremos, mas também abordar
nosso desejo de reter ou lembrar aquilo que se torna familiar
para cada geração. Embora eu tenha começado fotografando
pessoas, em última análise a informação que eu queria
encontrar estava no espaço público e privado de jardins,
casas e hotéis, muitos dos quais mantiveram uma qualidade
particular. Eu queria fazer imagens que pudessem evocar
esse sentimento de idade − observar sem fazer julgamentos”.
O ponto a salientar aqui é que Sweet não se contentou com
as imagens óbvias que fez nas primeiras semanas do projeto.
Ela voltou à locação escolhida e continuou a experimentar
e explorar suas ideias. Um dos temas centrais de Sweet era
observar sem fazer julgamento, e isso se manifesta na técnica
escolhida e em suas imagens “silenciosas”.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 116—117

LLLL
√◊
Título: da série Average Subject
[Tema cinza médio]
Fotógrafa: Kim Sweet
A narrativa nas imagens de Sweet
é permeada por sua abordagem
“silenciosa” e pela escolha de uma
antiga câmera dos anos 1970 que,
quando combinadas, dão coerência
visual às imagens.

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∆ A imagem individual | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Capítulo 4: Exercícios e resumo

Exercícios:
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL

Desconstrua
a narrativa
◊ Reveze-se com seus colegas para editar o trabalho uns dos outros.
Reorganize e reagrupe um conjunto de dez a 15 cópias de cada
um. Observe como, com um arranjo diferente, as impressões podem
transmitir diferentes narrativas, que ficarão condicionadas ao
sequenciamento e às relações que elas estabelecem entre si.
◊ Escolha uma obra de qualquer fotógrafo e, usando cerca de 1.500
palavras, descreva como cada imagem influencia em sua interpretação
geral. Indique o contexto em que você vê tamanho, formato, cor e qualidade
tonal. Estabeleça conexões entre os “fatos” daquilo que você vê em
termos daquilo que realmente está lá, como você interpreta as relações
entre as imagens, e que impacto, se houver algum, isso tem sobre sua
leitura.
◊ Escolha uma foto de Tina Barney ou Annie Leibovitz (ver página 96).
Olhe atentamente para a foto e escreva mil palavras sobre ela. Baseie-se
no conteúdo, composição, iluminação e dinâmica interna da imagem para
descrever a narrativa e sua resposta.
◊ Tente fazer o exercício acima com um colega, ambos escrevendo sobre
a mesma foto. Não conversem sobre a imagem antes de escreverem, cada
um, o seu texto. Leiam o texto um do outro e, em seguida, discutam
as semelhanças e diferenças nas interpretações. Tentem desenvolver
a discussão explorando o raciocínio por trás das respostas.
◊ Examine uma obra de qualquer fotógrafo. Leia uma crítica ou
apresentação dessa obra depois de ter visto as imagens. Em que
medida a crítica e os textos de outros podem influenciar sua
interpretação? Reflita e tome notas.
◊ Assista ao filme La Jetée [O cais] (1962), de Chris Marker (disponível
no YouTube), para se inspirar no uso de técnicas narrativas.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 118—119

Resumo
LLLL

◊ Analisamos técnicas narrativas em imagens individuais e em séries


de fotografias.
◊ Reconhecemos, mais uma vez, a importância subjacente da intenção
do fotógrafo direcionando escolhas quanto a métodos adequados de
produção e técnicas narrativas.
◊ Ao vinculá-lo à apresentação, reconhecemos que o contexto no qual
uma imagem é vista também contribui para a narrativa.
◊ A participação ativa do fotógrafo no processo de produção da imagem
será definida pelas perguntas “o quê?”, “como?” e “por quê?”, que
podem proporcionar coesão e ancorar o sentido.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 120—121

Signos
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

e símbolos
 ∆ Signos e símbolos fazem parte de nossa vida cotidiana;
Título: da série The Consumed desde sinais de trânsito, embalagens de alimentos, sinais
[O consumido] de ligar e desligar e de aberto e fechado. Alguns desses
Fotógrafa: Christine Hurst signos e símbolos têm aplicações universais e requerem
The Consumed é uma obra que pouca apresentação, como vermelho e azul simbolizando
explora uma área de bosque
usada no passado como quente e frio. Outros signos, como o código Morse ou a
localização de um sanatório linguagem de sinais dos surdos, requerem muito estudo.
para tuberculosos. O trabalho
reflete antigos relatos de família O estudo dos signos é chamado de semiótica e é aplicado
e se inspira em reminiscências em muitos campos, incluindo linguística, ciências e artes
relativas aos tratamentos pouco visuais. A semiótica pode ser usada para iluminar a
ortodoxos que tiveram lugar no
sanatório. linguagem visual de uma forma interessante, aplicável
e socialmente relevante. No entanto, podem surgir
problemas se o pano de fundo mais amplo da sociedade
não for levado em consideração; o contexto dos signos
em análise, bem como as condições sociais, culturais
e políticas do entorno, que influenciam na interpretação,
devem ser considerados.
Em suma, em termos de signos e símbolos, é o contexto
em que eles serão usados e interpretados o que realmente
importa para os fotógrafos e seu público. Neste capítulo,
vamos abordar os pontos-chave que devem ser levados
em consideração pelos fotógrafos ao lidar com signos
e símbolos em seu trabalho.

5 BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Narrativa | Signos e símbolos | Texto ◊


LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Base teórica

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Embora este livro esteja direcionado ao Modelos semióticos e terminologia
estudante de fotografia no processo de Ferdinand de Saussure e Charles Sanders
criação de imagens e, portanto, enfatize Peirce desenvolveram seus modelos de
questões de ordem prática, é importante semiótica mais ou menos na mesma
estar ciente do pano de fundo teórico dos época. Saussure usou um modelo diádico,
aspectos práticos, a fim de reconhecer ou dicotômico. Segundo ele, um signo
como seu trabalho se posiciona em é composto de:
relação a conceitos e discussões
• Significante (signifiant) − a forma que
fundamentais.
o signo assume.
As principais figuras a ter em conta na
• Significado (signifié) − o conceito que
semiótica relacionada à fotografia são
ele representa.
o linguista suíço Ferdinand de Saussure
(1857-1913) e o filósofo estadunidense Peirce usou um modelo triádico, ou tripartite:
Charles Sanders Peirce (1839-1914). • Representamen: a forma que o signo assume
Referências a seus modelos principais (não necessariamente material).
são frequentes, especificamente em • Interpretante: não um intérprete, mas o sentido
relação a significado e significante que se faz do signo.
e à natureza indexical da fotografia.
• Objeto: aquilo a que o signo se refere.
A semiótica não é o único método de
O crítico literário, filósofo e semiólogo francês
decodificar, desconstruir, interpretar,
Roland Barthes (1915-1980) era sensível às
ler ou responder a fotografias. Fotografias
nuanças sutis da linguagem visual fotográfica;
são usadas para muitas finalidades em
ele reconheceu que, quando a significação
diversos contextos, cada qual com seus
pessoal é comunicada aos outros, sua lógica
próprios referenciais. Por exemplo, uma
simbólica pode ser racionalizada. O livro
fotografia pode também ser lida:
A câmara clara, que Barthes começou
• Como um elemento de prova. a escrever em 1977, ano da morte de sua
• Em relação ao contexto e intenção do fotógrafo. mãe, é uma exploração das relações
• Em referência a processo e técnica. complexas entre subjetividade, significado
e meio cultural. Dois conceitos-chave
• Como um estudo de estética e tradições
que ele desenvolve nesse livro são:
na arte.
• O studium: o entusiasmo geral ou interesse
• Em relação a etnia, classe social e gênero.
cortês pela fotografia.
• O punctum: aquilo que prende a atenção, que
depende do indivíduo; aquilo que punge, que
“fere o apreciador”.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 122—123

LLLL
 ∆ √ 
Título: da série The Spectre of an
Impossible Desire [O espectro
de um desejo impossível]
Fotógrafa: Emma Blaney
Blaney explora o significado que muitas
vezes reveste os pequenos objetos do
cotidiano: “O desejo é lembrar e ser
lembrado. Este projeto centra-se em
pequenos objetos do cotidiano que
muitas vezes passam despercebidos.
Mas são objetos como esses que
costumam despertar nas pessoas
lembranças profundamente enraizadas
de gente (ou momentos) do passado”.

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∆ Introdução do capítulo | Base teórica | Lidando com signos e símbolos ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Base teórica

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Símbolos e ícones Indicialidade
Devemos ter em mente alguns pontos Um significante indicial está ligado de
essenciais na abordagem semiótica, maneira física ou causal ao significado.
em especial: reconhecer e entender Essa ligação pode ser observada ou inferida.
o que querem dizer significado e significante; Por exemplo, signos naturais incluem fumaça
saber a diferença entre um símbolo e um (indicando fogo ou calor), trovão (indicando
ícone; e, talvez o mais importante para a relâmpago) e pegadas (indicando passos).
teoria fotográfica, reconhecer e entender Da mesma forma, sintomas físicos como
a “natureza indicial” da fotografia. dor, erupção cutânea ou pulsação acelerada
Um símbolo é uma coisa que representa podem ser signos, ou indicadores, de um
outra coisa. No caso, o significante não se problema médico relacionado.
assemelha ao significado. A relação deve A indicialidade, como descrita pelo filósofo
ser aprendida, como é o caso de idiomas, estadunidense Peirce, é particularmente
números, código Morse, semáforos pertinente para a fotografia simplesmente
e bandeiras. porque uma foto é um “rastro” literal, ou
Ícones são um pouco diferentes; nesse “indício”, de seu objeto original. Essa conexão
caso, o significante é percebido como uma indicial entre objeto e imagem gera muitos
imitação do significado ou semelhante a ele; debates e complexas análises críticas sobre
é semelhante por possuir algumas de suas fotografias.
qualidades, como é o caso de um retrato, O crítico literário judeu-alemão Walter Benjamin
uma caricatura, uma maquete, metáforas, (1892-1940) escreveu as obras A Short
efeitos sonoros e gestos imitativos. History of Photography [Uma breve história
da fotografia] em 1931 e A obra de arte na
era de sua reprodutibilidade técnica em
1936, nas quais abordou o impacto da
fotografia sobre o trabalho de arte artesanal.
Ele levantou dois pontos principais para
discussão: a capacidade da tecnologia de
criar reproduções e a maneira como a câmera
representava o mundo.
O que importa aqui, no que tange aos
“Fotografia para mim não é ver, termos fundamentais e à natureza indicial
é sentir. Se você não consegue da fotografia, é uma apreciação por parte
do público; este, ao olhar para uma fotografia,
sentir aquilo que está vendo, se deixa envolver por noções de verdade
você nunca vai conseguir fazer e realidade que surgem simplesmente
por causa do meio de expressão escolhido,
que os outros sintam alguma independentemente de sua função e intenção.
coisa quando virem suas fotos.”
Don McCullin, Sleeping With Ghosts: A Life’s Work
in Photography [Dormindo com fantasmas: uma vida
de trabalho na fotografia]
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 124—125

LLLL

 ∆ ∞ 
Título: da série The Spectre of
an Impossible Desire [O espectro
de um desejo impossível]
Fotógrafa: Emma Blaney
Embora use pessoas específicas
e inclua frases dessas pessoas para
explicar o significado de cada objeto,
o projeto de Blaney tem um apelo
mais amplo, já que possuir um bem
de valor sentimental é algo com que
muitas pessoas se identificam. Isso
é enfatizado por sua escolha da
composição: os objetos em si são
o foco principal das imagens.

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∆ Introdução do capítulo | Base teórica | Lidando com signos e símbolos ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Lidando com signos e símbolos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Como um fotógrafo lida com o uso de signos Um fotógrafo que trabalhe de forma jornalística
e símbolos em seu trabalho? Muitos dizem ou em fotorreportagens talvez precise tomar
que respondem intuitivamente ao momento, mais decisões imediatas. Se ele tiver clareza
situação ou evento, enquanto ao mesmo de ideias quanto à função, propósito e intenção
tempo mantêm sua intenção em mente. por trás das fotografias, tais decisões serão
Outros talvez construam uma imagem, mais fáceis, especialmente se ele tiver
de maneira cuidadosa e consciente, escolhido sua locação e tema em função
antes, durante ou após o ato de fotografar. dos signos e símbolos que oferecem.
Outros argumentam que não existe “intuição” O fotojornalista talvez tenha uma única chance
e que, em vez disso, respondem a seus de fazer uma determinada imagem, de modo
objetos com uma linguagem visual eficiente que a decisão quanto aos componentes
e personalizada. Eles acreditam que essa simbólicos a incluir pode ser mais crucial
linguagem visual se desenvolve a partir do que quando há oportunidade de fazer
da combinação de vivenciar um ambiente uma série de diferentes composições.
e usar imagens tanto como consumidor O aparecimento dos signos e símbolos pode
quanto como profissional. ser o resultado de uma decisão deliberada
O aparecimento de um signo ou símbolo para usá-los de um modo específico em
em uma fotografia pode ou não ter sido uma imagem, série ou conjunto de imagens,
predeterminado e orquestrado pelo fotógrafo. ou pode ser uma inclusão mais livre, que
Um fotógrafo que trabalhe em um cenário permeia toda a série de imagens, na medida
cuidadosamente construído terá tempo que o fotógrafo responde a cada objeto
para analisar e usar signos e símbolos. ou locação individual.

 ◊ 
Título: da série Sense of Place
[Senso de lugar]
Fotógrafa: Maria Short
Em 1993, meu padrasto foi
diagnosticado com uma grave
insuficiência renal e colocado
em diálise. Ele era produtor rural,
e o tempo que passou no hospital
longe de suas plantações, durante
o período de crise, fez que grande
parte da safra passasse do ponto
de colheita e aos poucos se
deteriorasse. Visualmente, eu pude
ver uma relação clara entre a vida
das culturas em ambiente aberto
e sua nova vida em ambiente
fechado, adaptando-se à diálise.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 126—127

LLLL
Significado simbólico A fotografia intitulada Political Rally, Chicago
O livro The Americans [Os estadunidenses], 1956 [Comício, Chicago 1956] introduz
de Robert Frank, é uma referência constante a quarta e última parte do livro. Greenough
quando se deseja explorar o significado descreve essa imagem: “Observe como
simbólico em uma fotografia. Sarah Greenough, a tuba oculta por completo o rosto da
curadora sênior de fotografia da National pessoa que está atrás dela, sugerindo
Gallery of Art (Washington, D.C.) descreve que esses símbolos da democracia
The Americans: “Considerado pela maioria estadunidense, a saber, a banda marcial
como o mais importante livro de fotos desde e a bandeira tremulando acima dela, estão
a Segunda Guerra Mundial”. abafando a voz do cidadão comum que se
mantém por trás deles”.
Frank dividiu o livro em quatro seções.
Cada seção abre com a foto de uma bandeira A partir da leitura de Greenough, percebemos
e aborda um aspecto diferente da cultura como aspectos de uma cena podem ser
estadunidense. Com introdução de Jack enquadrados dentro de uma fotografia
Kerouac, The Americans é conhecido por para transmitir, intencionalmente ou não,
questionar a identidade estadounidense um significado que vai além de um mero
do pós-guerra. registro.

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∆ Base teórica | Lidando com signos e símbolos | Enigmas e verdades ◊
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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Lidando com signos e símbolos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
 ◊ 
Título: da série Gall
Fotógrafa: Maria Short
“A partir do momento em que o
homem o escolheu como companhia
de sua aventura infinita, o cavalo
revelou-se ágil em refletir o estilo,
o gosto e as inclinações de cada
civilização na própria constituição
física, andadura e até mesmo cor.”
Luigi Gianoli, Horse and Man [Cavalo
e homem]

Gall − inchaço dolorido, especialmente


em um cavalo; ferimento devido ao
atrito; estado ou causa de irritação;
ponto sensível; ponto sem pelos;
falha; falha ou protuberância;
desgastar ou ferir por fricção:
irritar; enervar-se; zombar.
LLLL
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 128—129

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A metáfora visual Respondendo aos signos
Gall foi um projeto que realizei em 1994-1995, À medida que o projeto se desenvolvia,
usando o cavalo como metáfora visual para muitas vezes eu avistava alguma coisa
expressar como eu me sentia diante dos enquanto fotografava na locação e tomava
desafios que jovens mulheres enfrentam nota mentalmente para procurá-la outra vez
com relação a seu sentimento de identidade no futuro. Por exemplo, certa vez observei
e posição social. Fotografando em diversas a “marca a frio” dos números de segurança
locações e cenários ao longo de um período no dorso de um cavalo, mas as condições
de seis meses, desenvolvi uma linguagem não eram propícias para uma foto nítida;
visual que se adequava às minhas intenção então fiquei atenta, e, quando um momento
e metodologia. A abordagem aos signos e mais apropriado chegou, eu estava pronta.
símbolos em cada imagem consistiu Achei esses símbolos difíceis de explicar, mas,
em fotografá-los de tal forma que, quando colocados juntos fotograficamente,
quando apresentados como uma pareceram fazer sentido. Em outra imagem,
série, eles expressariam coletivamente a ideia óbvia por trás de marcar a letra “P”
meus pensamentos ao mesmo tempo em é aquela de ter sido “dada” ou “atribuída”
que levantariam questões como: quando uma identidade particular, como no uso
a proteção se torna supressão? quando a literário de “marca” como “estigma”. No
liberdade se torna um clichê? Essa abordagem entanto, para construir visualmente essa
ou estrutura “oculta” nunca pretendeu ser imagem era necessário mais do que uma
didática, mas antes transmitir a essência simples foto da marcação: eu precisava
de minhas ideias e reconhecer os dilemas do ambiente, da iluminação, e precisava
em torno da expressão e representação. também que o cavalo trabalhasse de modo
que a dinâmica da imagem evidenciasse
o símbolo em questão.
A foto da marca “P” foi feita no estábulo
em que o cavalo estava quando cheguei
à locação. Pedi para fazer a foto antes de
a luz mudar ou o cavalo ser levado para fora;
ajustei o fotômetro no ponto de luminosidade
máxima, deixando que o resto do cavalo
ficasse em subexposição e desaparecesse.
Essa abordagem técnica criou uma imagem
“O espectador se conecta com que, para mim, revelava que a verdadeira
identidade estava oculta e apenas
um lugar além do visível. Tudo a estigmatizada estava visível.
muda quando você se mexe
e coisas diferentes entram em
foco em momentos diferentes
de sua vida, e você tenta
articular isso.”
Chris Steele-Perkins, britânico, fotógrafo da Magnum

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∆ Base teórica | Lidando com signos e símbolos | Enigmas e verdades ◊
LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Lidando com signos e símbolos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
Agregando significado
Ao desenvolver seu projeto, ou resposta
a um briefing, o fotógrafo pode achar que
está destacando certos aspectos de seu
objeto fotografando sob condições específicas,
como um edifício à noite, uma paisagem
durante uma tempestade ou um jardim
em diferentes estações. Especialmente
se o fotógrafo estiver produzindo uma série
ou conjunto de imagens, pode acontecer
que as condições particulares sob as quais
está fotografando deem origem a signos ou
símbolos − ou mesmo as próprias condições
podem se tornar simbólicas.
Por exemplo, Risaku Suzuki fotografou
as simbólicas flores de cerejeira durante
o Festival Sakura, que acontece todo ano
no início da primavera no Japão e é fonte
 ∞  de inspiração para artistas desde o reinado
Título: da série Sakura (Cherry
Blossom) [Flor de cerejeira] do imperador Saga, no século VIII. A floração
Fotógrafo: Risaku Suzuki das árvores após o inverno simboliza esperança
Em seu ensaio The Photographer e vigor, enquanto as pétalas que caem
as Pendulum [O fotógrafo como expressam a fragilidade da beleza e da
pêndulo], sobre a obra de Suzuki, própria vida.
o curador Harumi Niwa poetiza:
“Capturar a vida, que não pode ser Os signos e símbolos podem influenciar
capturada, em uma foto e deixar a dinâmica da imagem em si e a leitura que
um registro de sua existência.
Fotografias, que são rastros o público faz dela; podem proporcionar uma
químicos da passagem da luz, estrutura coesa para uma obra; e denotar
com o tempo esvanecem, suas ritmo, sequenciamento, levantar questões,
imagens desaparecem, apenas
o vazio branco do papel em que incorporar um subtexto visual e, sobretudo,
foram impressas permanece. Mas, agregar sentido ao objeto e a seu lugar na
mesmo então, Kumano*, a neve e imagem.
flores de cerejeira continuarão a existir
enquanto mudarem as estações em
seu ciclo interminável. O fotógrafo
aceita isso e cria suas fotografias a
partir da relação de tudo o que ele
fotografa − tempo, lugar, a própria
existência − consigo mesmo”.

* Kumano, uma cidade japonesa


localizada na província de Omie (N.E.).
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Fatores ambientais
Em uma viagem a Nova York, Jane Stoggles
(cantora profissional e fotógrafa amadora)
ficou particularmente tocada e inspirada
por duas cenas e decidiu fotografá-las
porque, para ela, essas cenas condensavam
aspectos do que ela havia vivenciado na
temporada que passou ali. Em ambas as
fotos, há símbolos indicativos de Nova York
e dos Estados Unidos, mas o que realmente
acrescenta uma atmosfera evocativa às
imagens não são esses signos isoladamente,
mas as condições meteorológicas e de
iluminação. Esse é um exemplo simples
das nuanças sutis exploradas pela
semiótica e linguagem visual.
Voltando a alguns dos pontos-chave que
abordamos em capítulos anteriores, não
se trata apenas do que é fotografado, mas
de como e em que condições. Em outras
palavras, para desenvolver ideias acerca
do senso de localização ou ambiente, muitas
vezes é importante levar em conta o que
Stoggles reconheceu em um instante:
como a hora e as condições de iluminação
e localização podem compor a atmosfera
da foto resultante.


Título: 5th Avenue, New York and
Radio City [Nova York, 5ª Avenida
e Radio City]
Fotógrafa: Jane Stoggles
A qualidade da luz na foto 5th
Avenue, New York − tirada contra
o sol, que ilumina as bandeiras
e transforma a cena da rua
praticamente em uma silhueta
− enfatiza o domínio da bandeira
sobre os acontecimentos cotidianos.
Do mesmo modo, a névoa na foto
Radio City acrescenta um ar sugestivo
à imagem.

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∆ Base teórica | Lidando com signos e símbolos | Enigmas e verdades ◊
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Enigmas e verdades

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Experiências na fratura da realidade Em um artigo para o jornal The Guardian, em
Alguns fotógrafos falam que, às vezes, se setembro de 2009, David Smith conta que
deparam com cenas das quais eles não têm Silva e Marinovich desconhecem a história
uma compreensão real do sujeito ou evento completa por trás de duas de suas imagens:
que as desencadeou, mas eles fazem a foto “Silva parou diante da foto que ele havia
mesmo assim porque a presença do sujeito tirado de uma multidão espancando uma
pode acrescentar algo à sua intenção original mulher com pedaços de pau enquanto um
ou dar à foto um ar de experiência em transeunte sorria para a câmera. Ele não
primeira mão. sabia por que eles tinham atacado a vítima.
Esse foi o caso de algumas fotos tiradas pelo ‘Essa é daquelas coisas que você nunca
Bang-Bang Club, um grupo de fotógrafos vai saber responder’, disse ele. A imagem
empenhados em cobrir a realidade do apartheid permanece um enigma.
na África do Sul. O nome foi atribuído a eles “Marinovich mostrou uma bela imagem em
em um artigo de revista e se referia ao trabalho preto e branco, tirada dentro de um albergue
coletivo dos fotógrafos Kevin Carter, Greg em Soweto antes de uma batida policial,
Marinovich, Ken Oosterbroek e João Silva. em 1992. Ali, ele havia se deparado com
Em 18 de abril de 1994, durante um tiroteio um homem zulu usando um vestido e
entre a Força de Manutenção da Paz Nacional comportando-se como mulher. Ele nunca
e partidários do Congresso Nacional Africano, conseguiu entender por quê.”
no município de Tokoza, Oosterbroek foi morto Marinovich coloca esse “desconhecimento”
e Marinovich ficou gravemente ferido. Em julho em contexto quando explica: “Escrever e
de 1994, Carter cometeu suicídio. Em 2000, pesquisar para escrever o livro nos custou
Marinovich e Silva publicaram o livro The Bang- muito tempo e nós realmente nos impusemos
Bang Club [O Clube do Bangue-Bangue], que o desafio de chegar às verdades, especialmente
documenta suas experiências. nossas verdades. É mais fácil chegar às
verdades de outras pessoas, mas desenterrar
aquilo que você tinha como sua versão da
realidade, e então escavar mais fundo ainda
e questionar sua própria percepção do que
aconteceu, foi um imenso desafio”.
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Reflexões sobre a verdade Signos e símbolos: pontos a se
Fotógrafos são frequentemente confrontados considerar
com situações-limite em que têm de decidir
sobre a realização de imagens visualmente • Qual é a função do signo ou símbolo
fortes, em ambientes voláteis, que suscitam em seu trabalho?
sérios questionamentos sobre ética e • Você está introduzindo um novo viés
integridade. Por isso é de suma importância, em um signo ou símbolo existente?
como vimos ao longo deste livro, refletir sobre
• Como você vai apresentar o significado
as noções de verdade e representação.
do signo ou símbolo a seu público?
Esses momentos com que o fotógrafo
• O símbolo funciona como um motivo
se depara, embora não estritamente em
recorrente, denotando um estado de ânimo
conformidade com as noções tradicionais
particular ou um ponto a salientar?
de signos e símbolos, operam de forma
semelhante: são parte da linguagem • Você espera que o público tenha
visual e podem, quando fotografados, conhecimento prévio do significado
se tornar representativos de uma ideia do signo ou símbolo?
ou transmitir o sabor de uma ideia. • Que enquadramento você dá ao contexto
Esses momentos fugazes podem de seu uso de signos e símbolos?
mesmo se tornar emblemáticos, • Você está usando alguma dinâmica de
metafóricos ou fornecer motivos relações, por exemplo, a justaposição?
para conceitos ou movimentos
muito mais amplos.

“As fotos que tirei espontaneamente − com uma


sensação de bem-aventurança, como se elas há
muito habitassem meu inconsciente − por vezes
se mostraram mais poderosas do que aquelas
que eu tinha construído meticulosamente.
Eu capturei sua magia como que por encanto.”
Herbert List, alemão, fotógrafo da Magnum

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∆ Lidando com signos e símbolos | Enigmas e verdades | Técnicas práticas ◊
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Técnicas práticas

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Outro método de introduzir signos e símbolos Técnica como dispositivo emocional
na fotografia é pelo uso de técnicas práticas, Fusco descreve uma imagem em particular:
como abertura e velocidade do obturador ele viu uma família de pé ao lado dos trilhos,
em relação à velocidade do filme, objeto e e não havia nada perto deles, nem caminhões,
condições de iluminação. Um bom exemplo nem carros, nem motos. Ele tinha uma
é a série de fotos do funeral de Robert única oportunidade para capturar a imagem.
F. Kennedy feita por Paul Fusco. Ao ver a foto impressa depois, ele sentiu
No dia 8 de junho de 1968, Paul Fusco, então que era: “Uma constatação poderosa, para
fotógrafo da revista Look, se encontrava a mim, pessoalmente, de uma extraordinária
bordo do trem que transportava o caixão declaração de compromisso, do efeito que
de Robert F. Kennedy de Nova York a aquele homem exercia sobre as pessoas
Washington. O editor não havia lhe dado e da esperança que ele lhes deu”.
nenhuma recomendação sobre o que Fusco estava usando um filme de baixa
esperava ou queria; simplesmente disse sensibilidade que, num ponto em movimento,
“vá pegar esse trem”, e foi o que Fusco fez. registrando pessoas que se deslocam por
Em uma produção para o The New York Times vezes em condições precárias de luz,
intitulada The Fallen [Os caídos], publicada poderia ser um problema. Isso se traduziu
em 10 de junho de 2008, Fusco conta que em movimento capturado com obturador em
estava mais focado no que iria acontecer no baixa velocidade. Falando sobre isso, ele diz:
cemitério. Mas, quando o trem saiu de Nova “O movimento que aparece em inúmeras fotos
York, ele ficou perplexo ao ver centenas de enfatizou, para mim, a fragmentação de um
pessoas ao longo das plataformas. Seguindo mundo, a fragmentação emocional de uma
seus instintos, ele se levantou, foi até a janela sociedade. Todo mundo estava lá, o país
e abriu-a para fotografar o que estava vendo, inteiro saiu para chorar, para se lamentar,
o que estava acontecendo. para mostrar seu respeito e amor por um
A viagem de trem durou cerca de oito horas, líder, por alguém em quem eles acreditavam,
e ele passou o percurso todo em pé na janela, alguém que tinha lhes prometido um futuro
fotografando as pessoas que estavam nas melhor; e assistiram à esperança passar ao
margens dos trilhos. Fusco descreve aquelas largo, dentro de um trem”.
oito horas como “uma torrente constante
de emoção”. Ele conta que não tinha como
mudar seu ângulo de visão ou perspectiva;
tinha de “capturar o que eu conseguisse,
se eu conseguisse, tomara que eu tenha
conseguido”.
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Título: Robert Kennedy Funeral;
Train 1968 [Funeral de Robert
Kennedy; trem, 1968]
Fotógrafo: Paul Fusco/ Magnum
Photos
Fusco descreve o movimento como
se este enfatizasse “a fragmentação
de um mundo, a fragmentação
emocional de uma sociedade”.

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∆ Enigmas e verdades | Técnicas práticas | Estudo de caso ◊
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Estudo de caso: Les Moguichets − Betsie Genou

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Estudo
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de caso
O trabalho de Betsie Genou destaca como, mesmo nos ambientes mais simples,
um fotógrafo pode recorrer a uma rica simbologia, fazendo uso da luz e da
sensibilidade para com o tema, para traduzir suas ideias em imagens pungentes.
Les Moguichets é um ensaio sobre uma casa de família em deterioração na
França. Quando criança, Genou passou muitas férias com a avó em sua casa
em Les Moguichets. A tradução aproximada é “lugar decadente” ou “deserto”.
As casas da avó e do tio-avô de Genou ficavam no mesmo terreno. Durante
as férias com a avó, Genou ia brincar no jardim entre as duas casas. Quando
a avó faleceu, o tio-avô atravessou o jardim e mudou-se para a casa da avó,
deixando sua própria casa ser lentamente retomada pela natureza.
Quando estava prestes a terminar a graduação em Fotografia, Genou recebeu
a notícia da morte iminente do tio-avô e voltou a Les Moguichets para passar
um tempo com a família. Ela ficou visualmente fascinada pela casa que tinha
sido deixada em abandono.
A opção por uma câmera de grande formato com exposições longas, que
podiam variar de alguns minutos a mais de uma hora, deu a Genou tempo
para contemplar o passado; não só seu passado, mas o passado de sua família
e de seus ancestrais − algo com que muitos de nós podemos nos identificar, se
quisermos. Ela procurava um denominador comum universal, algo que tomasse
seu projeto, composto de suas próprias experiências pessoais, e o projetasse
a um amplo universo de entendimento mútuo, compartilhado.

 ∆ 
Título: da série Les Moguichets
Fotógrafa: Betsie Genou
A abordagem sensível de Genou
faz que o observador se sinta atraído
a entrar nas imagens. Não se trata
aqui de uma sinopse concisa e aguda
da aparência física da casa, ao
contrário; devido à contemplação
esmerada e ao cuidado com a
luz e com a composição, o ensaio
de Genou é uma jornada evocativa
através de um espaço rico em
dignidade, apesar da decadência.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Técnicas práticas | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊


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Estudo de caso: Les Moguichets − Betsie Genou

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Uma história pessoal
Nas palavras de Genou: “A casa se deteriorava lentamente
havia anos e estava trincada em inúmeros lugares; parecia
que podia desabar a qualquer momento. Como o último
ocupante estava morrendo, percebi que minha família ia
se desfazer da propriedade e das lembranças que ela nos
permitia visitar. Comecei a lamentar a perda de uma parte
fundamental de minha história, que era também a história
de minha família.
“A ideia para esse projeto veio naturalmente, e as imagens
foram produzidas muito instintivamente. O clima sombrio das
fotografias veio da limitada luz natural que se infiltrava pelas
brechas. Desocupada e intocada durante seis anos, a casa
parecia ter gentilmente preservado os vestígios de seus  ∞ ◊
ocupantes mortos, que aquela luz singular me permitia Título: da série Les Moguichets
revelar como também esconder em alguns desvãos. Fotógrafa: Betsie Genou
“Em relação ao conceito, o tema me permitiu começar a explorar Se olharmos estas imagens em
termos de como elas transmitem
um aspecto diferente do que teria sido um ‘lar’ criando imagens a relação da fotógrafa com o espaço,
que refletiam o passar do tempo e conceitos naturais como é possível reconhecer o uso sutil da
vida e morte. A deterioração do lugar ecoava o esmaecimento linguagem visual, não apenas literal,
mas metaforicamente. Os fragmentos
de minhas longínquas lembranças, de um tempo que era de pequenos detalhes de uma casa
nosso, mas que foge lentamente e desaparece, ecoando − um pedaço de louça, uma cortina,
a fragilidade da vida. persianas, as paredes nuas e o
piso exposto − são delicadamente
“Explorar e fotografar esse espaço foi um processo lento. explorados com a plácida luz
Usei grande formato para dar qualidade aos detalhes, e durante ambiente. Genou se aproximou das
experiências do espectador de uma
as longas exposições consegui refletir sobre o espaço e maneira sutil, que evoca a própria
sua memória, e aceitar aquele adeus iminente. Essa reflexão história por trás do projeto; o lento
foi uma parte intrínseca do projeto; meu próprio afeto pela rastejar do tempo e da decrepitude.
história do local ditou a abordagem e o tempo adequados.
Posteriormente, o ato de fotografar foi um processo lento
e delicado”.
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∆ Técnicas práticas | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
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Capítulo 5: Exercícios e resumo

Exercícios:
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variações
sobre um tema
◊ Faça uma caminhada em torno de sua casa observando quantos
tipos diferentes de signos e símbolos você encontra. Reserve 20 minutos
para descrevê-los e classificá-los em categorias, conforme detalhado
na seção que trata de “símbolo, ícone, indicialidade” (ver página 124).
◊ Faça o exercício descrito acima em uma rota familiar, talvez durante
sua caminhada para o trabalho, a faculdade ou a casa de um amigo.
◊ Observe o trabalho de um fotógrafo de sua escolha e escreva sobre
uma série ou conjunto de imagens que ele desenvolveu com o uso de
signos e símbolos.
◊ Assista ao filme Vanilla Sky (2001), de Cameron Crowe. Observe como
as imagens são usadas para construir a memória e transmitir noções de
felicidade.
◊ Realize um projeto curto usando uma metáfora visual para transmitir
uma ideia simples, como desenvolvimento ou decadência.
◊ Tente justapor temas básicos, como interior e exterior, quente e frio.
Incorpore a passagem do tempo.
◊ Explore as condições atmosféricas. Incorpore um elemento “fixo”
na imagem para dar às condições atmosféricas algo para repercutir
ou iluminar, por exemplo: “o coreto ou um cantinho da praça” ou “pela
janela do trem”.
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Resumo
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◊ O uso de signos e símbolos pode ser construído e predeterminado


ou incorporado segundo a resposta do fotógrafo ao ambiente.
◊ O ritmo e o fluxo da narrativa podem ser orquestrados por signos
e símbolos; estes podem ser significativos dentro de uma imagem
individual ou proporcionar uma conexão mais “solta” em termos de
uma linguagem visual abrangente que dê coesão entre as imagens
de uma série.
◊ Signos e símbolos podem ser componentes da estrutura e da
linguagem das imagens e podem fornecer um subtexto sutil entre elas.
◊ A função e finalidade das imagens, a abordagem e também a
experiência física do processo fotográfico, tanto no nível conceitual
quanto no prático, podem jogar luz sobre signos e símbolos.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


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Texto
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 ∆ Legendas, títulos, ensaios e textos editoriais de


Título: da série Life After Zog apresentação ajudarão o público a situar uma imagem.
and Other Stories [Vida depois O texto, portanto, está diretamente relacionado ao
de zog e outras histórias]
contexto em que uma imagem é vista.
Fotógrafa: Chiara Tocci
Textos que aparecem na imagem Um fotógrafo pode ser contratado para produzir uma
em si podem muitas vezes série de imagens para acompanhar um texto, e, nesse
transmitir como os habitantes caso, ele vai levar em consideração a relação entre a
de um lugar se relacionam com
ele, bem como questões culturais imagem e o texto. Por exemplo, as imagens precisam
e sociais de sua época. ilustrar o texto, ou podem ser independentes, operando
de uma forma mais evocativa? Alternativamente, o
fotógrafo pode procurar ou ser procurado por um editor
para produzir imagens que formarão a matéria principal
de uma reportagem, em que o texto servirá a um
propósito mais explicativo ou questionador. Esses
são apenas alguns exemplos das sutilezas da relação
entre imagem e texto.
Passaremos agora a explorar algumas das principais
considerações sobre a relação entre texto e imagem.

6 BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Signos e símbolos | Texto | Conclusão ◊


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Usando o texto

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É compreensível que um fotógrafo, cuja inquietantes paradoxos inerentes aos
principal intenção é se comunicar visualmente zoológicos me levaram a descobrir aspectos
por meio de fotografias, seja reticente quando de mim mesma, dos animais e de uma
se trata de usar texto. O público pode se sociedade que sente a necessidade
perguntar: “Se a fotografia precisa de laudas de confinar. Uma torrente de associações
de texto para ser explicada, será que ela está afetivas, sociais e psicológicas varreu minha
mesmo cumprindo seu papel?”. lente, e é precisamente por causa dessa
complexidade que eu nunca desejaria que
Reserve um tempo para refletir sobre as fotos
minhas imagens fossem didáticas ou mesmo
que vemos na vida diária e pense sobre o papel
definitivas. Elas não conseguem ilustrar
do texto em relação à fotografia e vice-versa.
meu mal-estar, mas parecem encarnar o
Uma campanha publicitária pode levar meses,
desconforto desse mal-estar que talvez
ou mesmo anos, para atingir o ponto em que
muitos de nós sintam. A intenção é permitir
o público reconhece a marca apenas pelo
matizes de interpretação de maneira que,
estilo e tema das imagens. Os anúncios,
se algum de meus sentimentos, impressões
portanto, usam slogans, legendas, títulos
e modos de olhar refletir alguma verdade,
para ajudar o público a situar o contexto
esta será reconhecida pelo espectador”.
da imagem. Essa abordagem também pode
ser eficaz em outras formas de trabalho Cada fotografia está legendada simplesmente
fotográfico. Há ocasiões em que uma simples com o número da placa, local e ano, por
frase explicativa pode ajudar o público a exemplo: “70, San Diego, 1995”. A simplicidade
entender o que está acontecendo na foto, das legendas permite que o espectador
de uma maneira que agrega à imagem, trabalhe com a profundidade de cada
em lugar de negar ou reduzir seu poder. imagem em um nível afetivo e pessoal.
Pode-se dizer que a legenda meramente
informativa e factual ajuda a prevenir que
Matizes de interpretação qualquer intenção “didática” influencie a
Em seu livro Zoo (1996), composto de 74 fotos interpretação do público. Dessa forma,
em preto e branco de animais em zoológicos, a fotógrafa está incentivando o público a
Britta Jaschinski inclui um pequeno texto, responder de maneira independente
curiosamente no final do livro, como um à linguagem visual.
postscriptum. Nesse texto ela diz: “Os

“Eu acho que o que você precisa fazer é


descobrir a verdade essencial da situação
e ter um ponto de vista sobre ela.”
Burt Glinn, estadunidense, fotógrafo da Magnum
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 ∞
Título: da série Zoo. Bremerhaven
1993 [Zoo. Bremerhaven, 1993]
Fotógrafa: Britta Jaschinski
Ao usar um título factual e ser clara
quanto à sua intenção subjacente,
Jaschinski permite que as imagens
falem por si mesmas, dando ao
público a oportunidade de refletir
sobre suas próprias ideias acerca do
cativeiro de animais. A simplicidade
do título principal, Zoo, e de cada
título individual, combinada com
o sequenciamento e a abordagem
técnica e criativa, levanta questões
para o público refletir.

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∆ Introdução do capítulo | Usando o texto | O texto integrado ◊
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Usando o texto

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Atingindo um público O poder da imagem visual
No capítulo 3, discutimos a possibilidade Randy Malamud, professor da Universidade
de a fotografia efetuar uma mudança social do Estado da Geórgia e autor de livros que
(ver página 78). Também vale a pena considerar questionam a exploração dos animais, entre
como o contexto no qual uma imagem é vista os quais Reading Zoos [Lendo zoológicos]
(onde e como é publicada) afetará o tamanho (1998), fala sobre sua “cúmplice” Jaschinski
e o perfil do público que ela atinge e, portanto, em um simpósio na Universidade de Stanford,
sua capacidade para instigar mudanças na Califórnia: “Adoro Reading Zoos (acho
sociais. Britta Jaschinski é um exemplo de que é o melhor livro que já escrevi ou jamais
fotógrafa que tem clareza acerca de seu escreverei), mas às vezes acho que a coisa
tema e é comprometida com ele; seu trabalho mais importante que ele faz é ter na capa
fotográfico já foi publicado em conjunto a surpreendente foto que Britta tirou... A arte
com textos de outras pessoas. Com isso, visual é ainda mais eficaz para subverter
ela ampliou seu público, que hoje abrange os zoológicos; ver os zoológicos em lugar de
fãs de fotografia e pessoas que trabalham lê-los; e vê-los não como os tratadores de
e se interessam por seu tema de escolha. animais querem que os vejamos, mas como
realmente são, mostrando os animais
desolados, congelados; mostrando o que
∆  o cativeiro animal realmente significa”.
Título: Trabalho realizado por
Em uma entrevista para a Captive Animal
encomenda para Dogs Trust
Protection Society [Associação protetora
Fotógrafa: Britta Jaschinski
dos animais em cativeiro], em novembro de
Em um capítulo anterior discutimos
a importância de o fotógrafo refletir 2009, Jaschinski disse: “Gosto de ouvir que
sobre seus próprios códigos de inspiro as pessoas a agir, porque faço esse
conduta ética. Se um fotógrafo tem trabalho para mudar alguma coisa. O que me
clareza quanto às suas intenções
fotográficas no todo, então é possível mantém em atividade é a esperança de ser
criar e se engajar em trabalhos que uma engrenagenzinha em um movimento
estejam alinhados com seu código lento. Já me perguntaram várias vezes se
de conduta. Aqui Jaschinski está
trabalhando com clientes cujos eu fico chateada quando outro fotógrafo
objetivos são semelhantes e estão ‘copia’ meu trabalho, e eu sempre respondo:
em consonância com os dela. a) não há como copiar uma foto, porque cada
Tradução dos textos da imagen fotógrafo vai incorporar algo novo ao tema,
do lado: mesmo que não seja de maneira consciente;
Acesso ilimitado à Vetfone por e b) quanto maior o número de fotos revelando
20 libras anuais. a verdade sobre os animais em cativeiro,
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∆ Introdução do capítulo | Usando o texto | O texto integrado ◊
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Usando o texto

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Influências literárias Como resultado, ele teve a ideia de usar
Além do texto do postscriptum e das legendas um elevador como espaço para fotografar
simples, contextualizando as imagens, e explorar a visualização das emoções.
Jaschinski conta que também já se baseou A pesquisa e as leituras de Robinson lhe
em influências literárias e artísticas: “Acho deram uma estrutura simples para trabalhar.
que se pode dizer que a literatura alemã Tendo estabelecido seus métodos de
e a arte do Leste Europeu, praticadas por trabalho e obtido o interesse de seus sujeitos,
artistas como Friedrich Nietzsche, Fiódor ele foi capaz de desenvolver suas ideias e
Dostoiévski, Josef Koudelka e László incentivar seus sujeitos a mergulhar no projeto.
Moholy-Nagy, contêm algo de sombrio A clareza da estrutura de trabalho permitiu
e influenciaram meu ‘estilo’”. que fotógrafo e sujeitos explorassem a
expressão das emoções de forma bastante
Muitos fotógrafos recorrem à literatura como
natural e interessante, o que influenciou
parte de sua pesquisa. Essa base literária
no resultado final.
pode moldar o projeto e a abordagem
do fotógrafo, além de dar vazão a novas Respondendo a um briefing também baseado
ideias ou caminhos a serem explorados. em texto, a estudante de fotografia Laura
Por exemplo, ao receber o briefing “Céu e Mukabaa produziu uma sequência de imagens,
inferno”, a reação do estudante de fotografia cada uma legendada com uma citação de
Andy Robinson foi ler sobre as interpretações Winterson Jeanette que, para Mukabaa, refletia
tradicionais de céu e inferno, mas também a atmosfera de viagem interior que ela desejava
sobre aplicações mais metafóricas. transmitir. Mukabaa se concentrou em
sentimentos universais de perda, tristeza
e desejo de elaborar essas emoções de
modo a seguir em frente. Ao fotografar cenas
cotidianas de cada época do ano casando-as
com citações, Mukabaa foi capaz de ampliar
sua experiência pessoal a um entendimento
comum compartilhado.


Título: da série Still Time [alusão
a still life, natureza-morta]
Fotógrafa: Laura Mukabaa
“Mesmo as coisas mais sólidas
e mais reais, mais amadas e mais
conhecidas, são apenas sombras
na parede. Espaço vazio e pontos
de luz.”
Jeanette Winterson
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∆∞
Título: Heaven and Hell
[Céu e inferno]
Fotógrafo: Andrew Robinson
Robinson decidiu usar um elevador
como símbolo do espaço de
transição entre os dois mundos,
“céu e inferno”. Robinson descreve
as imagens: “O elevador é um estúdio
e uma prisão para as emoções do
passageiro − as portas se abrem
e as emoções ou pensamentos
são revelados e expostos na transição
do privado para o público. A forma
de caixa do elevador e o formato
6 × 6 reforçam essa narrativa”.

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∆ Introdução do capítulo | Usando o texto | O texto integrado ◊
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O texto integrado

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Outra maneira de usar o texto como estrutura Power visitou e fotografou cada um dos lugares
para um conjunto de fotografias é como mencionados na previsão, tais como Cromarty,
parte explicitamente articulada e significativa Fisher e German Bight, entre outros, que
de um projeto do qual o público está ciente. tinham se tornado familiares para gerações
Um bom exemplo é The Shipping Forecast de ouvintes de todo o Reino Unido. O texto
[A previsão dos mares] de Mark Power. que acompanha cada foto dá a previsão das
The Shipping Forecast é um programa 6 da manhã do dia em que a foto foi feita.
de rádio, transmitido diariamente desde
1922, que informa os marinheiros sobre
Uma experiência multidimensional
as condições meteorológicas dos mares
de todo o litoral do Reino Unido. O trabalho foi exibido juntamente com uma
instalação sonora com gravações da previsão,
Segundo Power: “A previsão foi uma parte muito
reproduzidas aleatoriamente em rádios da
importante de minha infância; emanava do
marca Roberts espalhados pela exposição.
rádio gramofone de mogno no canto, perto
A marca do rádio importa porque Roberts
da cadeira de vime que pendia do teto por uma
era uma marca tradicional, quase uma
corrente, e flutuava suavemente por toda
“instituição”, como as estações que eles
a sala de estar. Naquela época, quando a
difundiam. Como visto aqui, tanto a palavra
opção de estações era limitada, a maioria
escrita quanto a falada podem ser elementos
das pessoas ouvia o Home Service da BBC...
interativos e centrais de uma obra fotográfica.
Sua linguagem esotérica, rítmica e estranha
é claramente romântica, criando, para nosso
país, a imagem de ilha fustigada pelo vento
e pelo mar agitado, o que explica por que o
lugar favorito de todos para ouvir o programa
era uma cama gostosa, quente e segura”.

“Fotografar é como pescar ou escrever.


É extrair do desconhecido aquilo que
resiste e teima em não sair à luz.”
Jean Gaumy, francês, fotógrafo da Magnum
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 ∞ 
Título: GB. England. Scarborough. Tyne. Sunday 25 July 1993. West or Southwest 3 or 4 Increasing 5 or 6.
Showers. Good. Da série The Shipping Forecast, 1993-1996. [Grã-Bretanha. Inglaterra. Scarborough. Tyne.
Domingo, 25 de julho de 1993. Oeste ou Sudoeste 3 ou 4 aumentando para 5 ou 6. Chuvas esparsas. Bom.
Da série “A previsão dos mares”, 1993-1996]
Fotógrafo: Mark Power/ Magnum Photos

Mark Power descreve esses momentos “Quando eu estava em meu ponto de terno e colete, com um guarda-
“extraordinários”: “A beleza de trabalhar mais baixo, quando sentia que chuva fechado e um relógio de bolso,
assim, com um método que é − não tinha tirado uma foto decente aparecia jogando futebol, enquanto
essencialmente − fotografia de rua, havia três ou quatro dias, algo de um casal de idosos fazia castelos
é que você nunca tem certeza do extraordinário aparecia do nada... de areia em primeiro plano”.
que vai acontecer depois. um homem de meia-idade, vestido

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O texto integrado

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 ∞ 
Título: The Critic [A crítica]
Fotógrafo: Weegee
Weegee afirmou que só percebeu
a dinâmica dessa imagem durante a
impressão; porém, seu assistente
na época, Louie Liotta, afirma que
Weegee preparou cuidadosamente
o momento. Ao alterar o título de The
Fashionable People [Gente da moda]
para The Critic, ele efetivamente
desloca a atenção do público das
figuras centrais para a mulher que
as observa.
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O significado dos títulos
Segundo consta, Weegee armou a foto
The Critic para justapor o abismo entre ricos
e pobres. De acordo com seu assistente
Louie Liotta, Weegee lhe pediu que fosse
a um bar local, pagasse bebidas a uma das
frequentadoras e, em seguida, trouxesse
a mulher embriagada para a estreia,
exatamente no momento em que as
limusines faziam o desembarque de suas
passageiras da alta sociedade. As duas
mulheres bem vestidas nesta foto são
conhecidas beneméritas de instituições
culturais. Weegee alegou ter notado a
mulher observando as patronesses da
ópera somente depois da impressão
da foto.
A imagem apareceu pela primeira vez na
revista Life em 6 de dezembro de 1943
e foi intitulada The Fashionable People
[Gente da moda]; só ganhou o título
The Critic no livro Naked City [Cidade nua],
que Weegee lançou em 1945. Ao usar este
título, Weegee incentiva o público a observar
a relação entre as duas mulheres bem vestidas
e aquela que ele supostamente armou para
aparecer na imagem. Num segundo olhar,
pode parecer que esta é “a crítica”.
O International Centre of Photography, de
Nova York, descreve assim o trabalho
de Weegee: “Esse contraste de imagens,
entre os ricos, com suas joias, e as ‘pessoas
comuns’, de boas maneiras, é exatamente
o que Weegee sempre se esforçou para
obter em toda sua obra. A incongruência
da vida, entre o rico e o pobre, as vítimas
e os resgatados, os assassinados e os
sobreviventes − suas fotos tinham a
capacidade de nos transformar em
testemunhas e voyeurs”.

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O texto integrado

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Carregada de significado de Bangladesh, carnes de animais selvagens,
cherimólia, folhas de curry (Murraya), cascas
Em sua obra An American Index of the Hidden
de laranja secas, ovos frescos, caramujo
and Unfamiliar [Um catálogo estadunidense
gigante africano, crânio de antílope, sementes
do oculto e do estranho] (2008), a fotógrafa
de jaca, cajá-manga, café-do-sudão, manga,
Taryn Simon usou um texto complementar
quiabo, maracujá, focinho de porco, bochecha
para cada foto, disposto na página com
de porco, carne de porco, carne de ave crua
muita precisão, embaixo de cada imagem.
(frango), cabeças de porco-do-mato, tamarilhos,
A forma geral de apresentação faz alusão
limas-da-índia infectadas com cancro cítrico,
ao “catálogo” do título. Folheando as páginas
cana-de-açúcar (Poaceae), carnes cruas,
do livro, o leitor tem a sensação de que as
muda de planta subtropical não identificada.
imagens foram “catalogadas” − reminiscência
de um sistema de arquivamento em que cada “Todos os itens da foto foram apreendidos na
imagem é armazenada e rotulada. O texto bagagem de passageiros que desembarcaram
descreve o conteúdo e o local de cada foto no Terminal 4 do aeroporto JFK, nos Estados
de uma maneira simples e factual. Unidos, ao longo de um período de 48 horas.
O JFK recebe o maior número de voos
Em um artigo na revista Museo Magazine,
internacionais do país e processa mais
Geoffrey Batchen observa: “Apreciar uma
passageiros internacionais do que qualquer
dessas obras envolve olhar brevemente
outro aeroporto nos Estados Unidos.
para a imagem, tirar os olhos dela para ler
o texto e depois olhar de novo para a “Produtos agrícolas proibidos podem abrigar
imagem, demorando-se sobre ela, pragas de origem animal e vegetal, além
sorvendo-a totalmente, uma vez que ela de doenças que podem provocar danos
está recoberta de significado. Nesse ponto, a lavouras, rebanhos, animais de estimação,
a imagem é praticamente um híbrido entre ao meio ambiente e à economia dos
texto e fotografia: está carregada. Assim, Estados Unidos. Antes de entrar no país,
a marca de realismo social de Simon é também, os passageiros têm de declarar se portam
e talvez principalmente, uma forma de conduta frutas, legumes, plantas, sementes,
crítica que questiona seu próprio meio”. carnes, aves ou produtos de origem
animal. Autoridades aduaneiras determinam
A compreensão do espectador deriva da
se os produtos atendem aos requisitos de
combinação entre imagem e texto. Sem
entrada no país. Os Estados Unidos exigem
o texto, a imagem deixa de comunicar seu
autorização para entrada de animais e plantas,
pleno significado e vice-versa.
a fim de prevenir doenças altamente
O texto que acompanha a imagem de Taryn infecciosas, como a febre aftosa e a
Simon na página ao lado diz: “Ratazanas-do- gripe aviária. Todos os itens apreendidos
capim infestadas de larvas, inhames africanos são identificados, dissecados e depois
(Dioscorea), batatas andinas, cucurbitáceas triturados ou incinerados.
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Título: U.S. Customs and Border Protection, Contraband Room. John F.
Kennedy International Airport, Queens, New York. [Serviço de Alfândega
e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, Sala de Contrabando.
Aeroporto Internacional JFK, Queens, Nova York]
Fotógrafa: Taryn Simon

A relação entre o texto factual e o fato de que essas locações não


simples (acima) e a imagem quase concordaram em participar, cria um
clínica alude à natureza da fotografia retrato em consonância com o título
como prova criminal. A abordagem An American Index of the Hidden
simples ao longo da obra, and Unfamiliar [Um catálogo
combinada com a escolha de estadunidense do oculto e do
Simon das locações e, sobretudo, estranho].

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O texto na imagem

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Muitos fotógrafos fazem uso de textos que A personalidade da caligrafia
aparecem nas fotos. Por exemplo, no trabalho Vale a pena ter em mente a diferença entre
I Can Help [Eu posso ajudar], de Paul Reas, o texto manuscrito e o impresso; o texto
a foto do que parece ser uma fila [queue, manuscrito pode agregar à imagem um quê
em inglês] do lado de fora de um enorme da pessoa e de sua situação no momento da
supermercado contém as letras “que” no escrita de uma maneira que o texto impresso
plano de fundo. Outra de suas imagens da não pode. Por exemplo, Notes from Jo [Bilhetes
mesma série é uma cena de Natal mostrando de Jo] (1990-1994), de Keith Arnatt,
dois clientes esperando ser atendidos em um compreende uma série de mensagens
balcão vazio, com uma faixa ao fundo onde escritas por sua esposa, e fotografadas
se lê “Season’s Greetings” [Boas-festas]. por Arnatt após a morte dela, em 1996.
O fato de os dois clientes, carregados de São bilhetes que ela lhe deixava diariamente,
compras, não estarem sendo atendidos lembrando-o, por exemplo, a que horas ela
(que dirá “festejados”) cria uma tensão irônica estaria em casa.
com os dizeres da faixa, questionando dessa
Sophie Baylis, em um artigo para Hotshoe
forma o consumismo e a evidente inversão
International, observa: “A beleza por trás do
de valores.
trabalho de Arnatt é sua capacidade de extrair
De forma similar, Sick of Goodby© s [Doente prazer de objetos corriqueiros, mundanos,
de adeus], de Robert Frank, é uma poderosa itens descartáveis que são jogados fora
imagem em branco e preto de seu texto sem hesitação. Observações espirituosas,
rabiscado à mão em um espelho. Liz Jobey, como ‘Seu desgraçado, você comeu meus
editora adjunta da revista Granta e autora de últimos biscoitos!’, e lembretes mais práticos,
A Photographic History of the 20th Century incluindo ‘Apague o fogo se as cebolas
[Uma história fotográfica do século XX] começarem a queimar’, não apenas oferecem
(2000), descreve a imagem relacionando-a um instantâneo breve, mas comovente,
com experiências de vida do fotógrafo, da vida conjunta do casal, como também
suas perdas pessoais e sua dor: “Doente de simbolizam a convicção de Arnatt de que até
adeus é um quadro de exaustão emocional... um mínimo detalhe pode ser transformado
Nessa imagem está retratado todo o cansaço em um objeto de interesse ou beleza quando
de Frank. Muito já se foi”. isolado em uma fotografia”.

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Título: The Soldier [O soldado]
Fotógrafo: Barney Craig
O texto nesta imagem questiona a
mudança de valores sociais; como
é o caso do livro infantil The Soldier
sendo descartado no lixo.

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O texto na imagem

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Acrescentando texto ◊
Múltiplas exposições, rabiscos em negativos, Título: Sem título
sobreposição de texto na impressão ou Fotógrafa: Rhiannon Ellis
compor um negativo de texto com uma Estudante de design, Ellis tem
inclinação para o visual e está
imagem negativa são alguns métodos familiarizada com a exploração e
analógicos que se prestam a experimentações, criação de técnicas que podem ser
além dos softwares fotográficos digitais que aplicadas a um briefing ou conceito.
Neste trabalho, ela quis experimentar
permitem a introdução de texto na imagem. a sobreposição de camadas del
Incorporar diários escritos na imagem, ou imagens para ver como seus colegas
em um formato apropriado acompanhando reagiriam e interpretariam o impacto
visual, já pensando em arquivar o
as imagens, também pode ser um método resultado para um futuro trabalho.
interessante de combinar texto e imagem.

 ◊
Título: Sem título
Fotógrafa: Emily Watts
Watts fotocopiou uma página de
seu diário de viagem em acetato e,
em seguida, colocou o acetato sobre
o papel fotográfico na mesa sob o
ampliador pouco antes de expor um
negativo no papel. Como a exposição
foi feita através do acetato, a imagem
resultante combina a fotocópia
do diário em acetato e a imagem do
negativo que estava no ampliador.
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Sobreposição em camadas
A estudante de design gráfico Rhiannon
Ellis optou por escanear partes de livros
que continham inscrições; nesse caso, seu
método de trabalho veio antes do conceito.
Nos dois exemplos mostrados aqui, Ellis
combinou o scan das inscrições do livro
com fotos que ela mesma tirou da neve. Com
um direcionamento conceitual, a combinação
das duas imagens pode ser usada para aludir
a relacionamentos passados e presentes ou
ser desenvolvida para se projetar como uma
imagem individual ou como narrativa.

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∆ O texto integrado | O texto na imagem | Informação complementar ◊
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Informação complementar

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Alguns projetos se prestam à inclusão de texto
sob a forma de um encarte complementar.
Mike Fearey, por exemplo, manteve um diário
para acompanhar seu ano de estudo no
loteamento de terras cultiváveis da Tenantry
Down Road. Usando uma Pentax 6×7
e filme preto e branco, Fearey fotografou
regularmente os lotes entre 1990 e 1991
e registrou, entre outras coisas, a lenta
mudança das estações. O diário relata
de forma minimalista cada visita feita
ao local e algumas mudanças e incidentes
que tiveram impacto sobre os lotes.
As imagens são por si elucidativas, não
necessitariam de texto. A inclusão do diário,
no entanto, agrega uma nova dimensão, a do
elemento das relações humanas, que podem
ser inferidas, mas não estão literalmente
retratadas nas fotos.
Em duas das entradas se lê:
Quarta-feira, 21 de novembro, 1990.
Horário 11 h
Velocidade: 1/125 s f5.6 − f8.  ∞  ◊ 
Título: da série Tenantry
Dia claro, nublado. Mais pessoas apareceram Down Road Allotments
hoje. Não falei com ninguém. Continuei [Lotes arrendados para
fotografando os galpões. cultivo na Tenantry Down Road]
Fotógrafo: Mike Fearey
Sábado, 12 de janeiro, 1991.
A abordagem de Fearey, simples e
Horário 14h48 prática, passeia com o espectador
Velocidade: 1/125 s f16. pelo loteamento. A diferença nos
pontos de vista de cada imagem
Primeira visita aos lotes da Tenantry Down sugere que não são as construções
Road em 1991. Dia bonito e ensolarado; e canteiros que devem ser
sem nuvens, mas com vento norte. Poucas comparados ou examinados em
detalhe, mas sim o modo como a
pessoas por aqui no momento. Tudo parece terra e seus habitantes trabalham
adormecido. Trouxeram estrume de cavalo juntos como um todo sazonal e
no Ano-novo. Conheci Caroline. Conversei ritmicamente em mudança.
com um rapaz que tem um lote vizinho
ao do pai na parte alta da encosta. Todos
os vidros de seu galpão foram quebrados,
mas os vândalos não conseguiram quebrar
a porta interna de metal − nada foi levado.
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∆ O texto na imagem | Informação complementar | Estudo de caso ◊
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Estudo de caso: Incerteza − Trevor Williams

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Título: da série Uncertainty [Incerteza]
Fotógrafo: Trevor Williams
“Levado por minha ávida ambição e inclinando para lá e para cá, para tentar
desejoso de ver a grande profusão discernir alguma coisa em seu interior;
de estranhas formas criadas pelo mas isso me foi negado pela imensa
engenho da natureza, vaguei por escuridão que nela habitava; depois
algum tempo entre os penhascos de algum tempo, dois sentimentos
umbrosos até me deparar com a subitamente brotaram em mim: medo
entrada de uma grande caverna. e desejo − medo daquela caverna
Permaneci diante dela por algum escura e ameaçadora, e desejo de
tempo, aturdido, perplexo com a ver se haveria lá dentro alguma
existência de algo assim, as costas espécie de milagre.”
encurvadas, a mão esquerda
descansando em meu joelho, Leonardo da Vinci (1452-1519), pintor,
a direita fazendo sombra para cientista e filósofo renascentista
os olhos, a todo momento me
LLLL
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Estudo
LLLL

de caso
A grande paixão de Trevor Williams é a mecânica quântica, ramo da física
que descreve o comportamento das partículas subatômicas. Uncertainty,
seu trabalho final para a graduação em fotografia, em 1997, se baseia nessa
paixão. O objetivo de Williams era responder ao tema com uma série de fotos
e comunicar sua compreensão e interpretação visual dos princípios fundamentais
da teoria ilustrando-os não de forma literal, mas evocando a essência dos
conceitos envolvidos. A intenção era que o público se envolvesse com a ideia
da mecânica quântica por meio das fotos. Williams concebeu uma estratégia
para fotografar objetos e cenas do cotidiano de uma maneira que atraísse
a atenção do espectador para o modo como a luz pode iluminar a existência
da matéria.
Ao experimentar sua abordagem técnica, Williams considerou a apresentação
final e o uso de texto. Ele poderia ter simplesmente oferecido uma
introdução para as fotos que explicasse em linguagem simples algumas
das ideias básicas por trás da mecânica quântica e da intenção do projeto.
No entanto, essa abordagem poderia se tornar excessivamente pessoal, com
pouca relevância para o espectador, ou criar uma via para a falta de coerência
entre as imagens; Williams, então, procurou uma estrutura que mantivesse
a coesão das imagens.

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∆ Informação complementar | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
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Estudo de caso: Incerteza − Trevor Williams

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Interpretando palavras e imagens  ◊ 
Depois de muito discutir e compartilhar suas experiências Título: da série Uncertainty
[Incerteza]
com os colegas, Williams chegou a 11 pontos-chave
Fotógrafo: Trevor Williams
para fotografar e apresentar. Ele decidiu usar as 11 letras
Duas das 11 imagens finais
da palavra uncertainty [incerteza] impressas em serigrafia apresentadas em um quadro sob
sobre um quadro branco, com cada uma das 11 reproduções medida; o título Uncertainty corre
cibachrome (em slides com dimensões 20 × 20 cm) na parte superior das fotografias,
e o texto de Leonardo da Vinci está
laminadas sobre placas de espuma e colocadas debaixo disposto em colunas embaixo
das 11 letras. Na parte inferior das imagens ele colocou de cada imagem. À primeira vista,
passagens de um texto de Leonardo da Vinci (ver página parecia que o texto era uma seleção
aleatória de palavras; entretanto, ao
anterior), de maneira que a cada imagem correspondesse ser lido da esquerda para a direita, o
uma coluna de palavras. Feito sob medida, o quadro media significado aparecia. Usar esse estilo
61 × 2,34 cm e tinha 5 cm de profundidade. de apresentação pode repercutir
a unidade conceitual por trás do
Williams explica: “A intenção era questionar a ideia de trabalho.
conhecimento absoluto − jogando com as convenções
de como vemos e interpretamos palavras e imagens,
métodos pelos quais adquirimos muito de nosso conhecimento.
Quando as pessoas olhavam pela primeira vez para as colunas
de palavras embaixo das imagens, viam palavras aleatórias.
Porém, ao fazer a leitura de uma coluna para outra, o texto fazia
sentido. Usei esse método de apresentação a fim de repercutir
minha intenção. Eu queria que o público descobrisse por si
mesmo como olhar para as imagens e o texto”.  ◊ 
O risco de um projeto que se baseia em questões científicas Título: da série Collapsing
the Wave Function [Colapso
ou filosóficas complexas é que pode dificultar o debate crítico da função de onda]
sobre as fotos − ou porque a natureza e a complexidade Fotógrafo: Trevor Williams
do assunto obstruem a discussão, ou porque a intenção Williams continuou a desenvolver as
por trás das imagens nega qualquer debate crítico por ser ideias de Uncertainty e atualmente
autoafirmativa ou evasiva. está trabalhando no projeto de longo
prazo Collapsing the Wave Function,
A chave para o bom resultado desse projeto foi a participação termo emprestado da teoria da
ativa de Williams em uma comunidade de fotografia prática e mecânica quântica. Inspirado
pela maneira como os fotógrafos
seu conhecimento profundo da mecânica quântica. Em função gravavam seus direitos autorais
da discussão regular com seus colegas, Williams teve de nas bordas das fotos analógicas
comunicar verbalmente sua intenção, o que o ajudou a definir impressas manualmente, Williams
grava um texto em cada imagem, no
claramente suas ideias. A abordagem sistemática de Williams canto esquerdo inferior, que compila
para fazer fotografias, apresentando-as em seminários, trocando os dados autorais, a descrição do
ideias, recebendo feedback e depois usando esse feedback projeto e a fórmula matemática
do colapso da função de onda.
para fazer novas fotos, revelou ser um método de trabalho
disciplinado e proativo que lhe permitiu desenvolver a obra.
A apresentação final é um exemplo de como uma relação
simples entre texto e imagem pode comunicar ideias
complexas.
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∆ Informação complementar | Estudo de caso | Exercícios e resumo ◊
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Capítulo 6: Exercícios e resumo

Exercícios:
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Usando
o texto
◊ Assista ao filme The Parallax View (A trama) (1974) de Alan J. Pakula,
especificamente a sequência “test film”. Observe o uso de texto, som,
sequenciamento e embaralhamento das imagens em relação ao texto.
Além disso, veja se você consegue identificar algumas fotos bem
conhecidas.
◊ Produza uma sequência curta de “test film” no estilo da sequência de
The Parallax View. Escolha um tema ou uma questão que deseje abordar.
Mostre a sequência a seus colegas e discuta a reação deles em relação
à sua intenção.
◊ Examine o trabalho de três fotógrafos diferentes e escreva um breve
ensaio comparativo de 1.500 palavras sobre o uso que fazem do texto.
◊ Em grupo, troque com seus colegas fotos das quais vocês tiraram
os títulos e revezem-se para dar novo título a cada uma. Imagine cinco
ou mais contextos em que essas fotos poderiam ser vistas e invente
um título diferente para cada uma. Compartilhe os resultados e discuta.
◊ Escolha um trecho de algum texto em prosa, poesia ou letra de música
e use-o para iniciar um projeto curto.
◊ Faça experimentações com exposições múltiplas e com técnicas
de pós-produção analógica e digital para combinar imagem e texto.
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Resumo
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◊ Uma variedade de métodos pode ser usada para combinar imagem


e texto. Os pontos importantes a se lembrar são a intenção subjacente,
a abordagem conceitual e a função da fotografia. Lógicas diferentes
pedem abordagens diferentes.
◊ Textos podem ser usados para melhorar e acrescentar algo a uma
imagem.
◊ Textos podem ser o estopim de uma ideia ou fornecer estrutura
e coerência às imagens.
◊ Fotografias podem ilustrar textos, e estes podem ser usados para
explorar ou problematizar fotografias.
◊ O texto pode estar dentro da fotografia, participar da imagem como
parte integrante dela, ser usado como título ou legenda ou funcionar
de uma maneira editorial tradicional. Essencialmente, o texto tem papel
importante quando apoia ou proporciona um contexto adequado para
a apresentação e leitura das imagens.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Estudo de caso | Exercícios e resumo


“Quando acadêmicos escrevem teses e dão palestras perante
alunos e quando escritores ou artistas publicam ou exibem seus
trabalhos, eles estão compartilhando suas reflexões e ideais com
seus semelhantes e, de certa maneira, influenciando a sociedade
e a política. Quanto mais extraordinário for o trabalho artístico
ou acadêmico, maior será sua influência sobre a época e mais
forte a probabilidade de que esse trabalho possa pavimentar
o caminho para uma mudança política.”
Daisaku Ikeda, fotógrafo, escritor, educador e promotor internacional da paz, em Choose Life: A Dialogue
[Escolha a vida: um diálogo]
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV
JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 168—169

Conclusão
VVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVVV

Este livro analisou como a função Como Bill Jay apaixonadamente afirma
intencional de uma fotografia pode em seu artigo “The Thing Itself: The
influenciar as escolhas dos fotógrafos Fundamental Principle of Photography”
com respeito ao uso de linguagem visual [A coisa em si: o princípio fundamental
e decisões técnicas apropriadas. Tais da fotografia]:
escolhas, por sua vez, moldam a obra “Se o objeto da fotografia é o veículo para
fotográfica na medida em que o fotógrafo chegar a questões mais profundas, então
faz uso do contexto e de táticas narrativas é responsabilidade do fotógrafo sentir e
para comunicar ao público o conceito refletir sobre essas questões com mais
por trás da fotografia. profundidade... O objetivo maior é uma
Reconhecer a importância do contexto oscilação entre o eu e o objeto, em que
e empregar táticas narrativas apropriadas a imagem é uma manifestação física,
podem significar um fotógrafo em sintonia ou materialização, dessa interface
com seu ambiente e com uma linguagem sobrecarregada entre o espírito e o mundo.
visual de abordagem própria. Também Vale reiterar: essa consciência do fotógrafo
podem significar uma viagem experimental, não é aprendida, nem apropriada, nem
exploratória ou reflexiva, já que o fotógrafo descoberta, nem adquirida rapidamente
usa o processo de fotografar para ou sem esforço. É uma missão de vida
desenvolver suas próprias ideias, do fotógrafo.”
respostas e metodologia criativa. Podemos inferir dessa perspectiva que
a relação entre conceito, objeto, técnica
e resultado é uma experiência simbiótica e
por vezes complexa que vai além da imagem
bidimensional. Poderíamos dizer que
a relação entre o entendimento íntimo
do fotógrafo sobre si mesmo, sua relação
com o mundo a seu redor, sua motivação
∆ e disciplina, bem como seu desejo de
Título: Missile Silos [Armazéns
de mísseis]. Agosto de 2007. crescer e se desenvolver, se expressam
Da série Greenham Common em seu trabalho.
2006–2010
Em última análise, a força motriz por trás
Fotógrafo: Richard Chivers
do uso de contexto e narrativa deveria ser
No Reino Unido, durante as décadas
de 1980 e 1990, Greenham Common a abordagem conceitual do fotógrafo, uma
se tornou sinônimo de Guerra Fria vez que esta irá moldar e influenciar tanto
e de protestos pacíficos contra o o processo quanto o resultado.
armazenamento de mísseis nucleares
na região. A força desses protestos foi
significativa, e Greenham se tornou
um ícone internacional da paz contra
a guerra nuclear.

BBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBBB ∆ Texto | Conclusão | Leituras recomendadas ◊


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Leituras recomendadas

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Capítulo 1: A fotografia Capítulo 2: Tema Capítulo 3: Público
Arnold, E. In Retrospect. New York: Evans, J. (ed.). The Camerawork Badger, G. The Genius of
Alfred. A. Knopf, 1995 Essays: Context and Meaning in Photography. London: Quadrille
Barthes, R. Camera Lucida: Photography. London: Rivers Oram Publishing, 2007.
Reflections on Photography. New Press, 1997. Bourdieu, P. Photography:
York: Hill and Wang, 1981 (edição Hill, P.; T. Cooper. Dialogue with A Middle-brow Art. Oxford: Polity
em português: A câmara clara. Rio Photography. Stockport: Dewi Press, 1996.
de Janeiro: Nova Fronteira, 2011). Lewis Publishing, 1998. Capa, R. Slightly Out of Focus. New
Berger, J. Ways of Seeing. London: Hurn, D.; B. Jay. On Being a York: Modern Library, 2001 (edição
Penguin Books, 2008 (edição em Photographer: A Practical Guide. em português: Ligeiramente fora de
português: Modos de ver. São Anacortes: Lenswork Publishing, foco. São Paulo: Cosac Naify, 2010).
Paulo: Rocco, 1999). 2004. Jacobson, C. Underexposed:
Bull, S. Photography. Oxon: Jay, B. Occam’s Razor. Munich: Pictures of the 20th Century They
Routledge, 2010. Nazraeli Press, 1992. Didn’t Want You to See. London:
Cotton, C. The Photography as Lifson, B. The Inner Vision. In: D. Wolf; Vision On Publishing, 2002.
Contemporary Art. London: N. Rosenthal (eds.). The Art of Lange, S. Bernd and Hilla Becher:
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arte contemporânea. São Paulo: Southam, J. The Red River. Levi Strauss, D. (ed.). Between the
WMF Martins Fontes, 2010). Manchester: Cornerhouse, 1989. Eyes: Essays on Photography and
Lury, C. Prosthetic Culture: Sudek, J.; A. Fárová. Josef Sudek: Politics. New York: Aperture, 2003.
Photography, Memory and Identity. Poet of Prague: A Photographer’s McCullin, D. Unreasonable
Oxon: Routledge, 1998. Life. New York: Aperture, 2004. Behaviour: An Autobiography.
Meiselas, S. Nicaragua. New York: Traub, C.; S. Heller; A. Bell. The London: Vintage, 2002.
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Penguin Books, 1979 (edição em Weaver, M. The Picture as Yochelson, B. Berenice Abbott:
português: Sobre fotografia. São Photograph. In: D. Wolf; N. Rosenthal Changing New York. New York:
Paulo: Companhia das Letras, 2004). (eds.). The Art of Photography, The New Press, 2008.
Szarkowski, J. The Photographer’s 1839–1989. New Haven: Yale
Eye. New York: The Museum of University Press, 1989.
Modern Art, 2007.
Wells, L. (ed.). The Photography
Reader. New York: Routledge, 2003.
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JJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ 170—171

LLLL
Capítulo 4: Narrativa Capítulo 5: Signos e símbolos Capítulo 6: Texto
Berger, J. Another Way of Telling. Barret, T. Criticizing Photographs: Barth, M. Weegee’s World. Boston:
London: Granta Books, 1989. An Introduction to Understanding Little, Brown and Company, 2000.
Blakemore, J. John Blakemore’s Images. New York: McGraw-Hill, Hurn, D.; J. Fuller. Writing the
Black and White Photography 2005. Picture. Bridgend: Seren Books,
Workshop. London: David and Bate, D. Photography: The Key 2010.
Charles Plc, 2005. Conceitos. New York: Berg, 2009. Hurn, D.; C. Grafik. I’m a Real
Cartier-Bresson, H. The Mind’s Eye: Benjamin, W.; J. A. Underwood Photographer: Photographs by
Writings on Photography and (trans.). The Work of Art in The Age Keith Arnatt. London: Chris Boot,
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2004. London: Penguin, 2008 (edição em Kippin, J. Nostalgia for the Future.
Chandler, D.; R. Ferguson. Paul português: A obra de arte na época New York: Distributed Art Publishers,
Graham: Photographs 1981–2006. de sua reprodutibilidade técnica. 1995.
London: Steidl, 2009. Porto Alegre: Zouk, 2012).
Power, M.; D. Chandler. The Shipping
Derges, S.; C. Cotton; M. Hall; S. Burgin, V. (ed.). Thinking Forecast. London: Zelda Cheatle
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Kingswood: Stour Valley Arts, 2002. Frank, R. The Americans. Cornerhouse, 1988.
Killip, C. In Flagrante. New York: Manchester: Cornerhouse, 1993.
Taryn, S. An American Index of the
Errata Editions, 2009. Fusco, P.; E. Kennedy. Paul Fusco: Hidden and Unfamiliar. London:
Michals, D. Things are Queer. In: RFK. New York: Aperture Publishing, Steidl, 2007.
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Todoli, V.; P. Brookman. Robert
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em português: O Clube do Bangue-
Bangue: instantâneos de uma
guerra oculta. São Paulo:
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Everyday. Manchester: Manchester
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Wells, L. (ed.). Photography:
A Critical Introduction. Oxford:
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Recursos on-line J
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1000wordsmag.com Perfis dos fotógrafos markpower.co.uk
Revista eletrônica destacando o amber-online.com/exhibitions/ michaelhughesphotography.com
melhor da fotografia contemporânea. weegee-collection michellesank.com
aperture.org andrewrobinsonphotography.com
A Fundação Aperture apoia a mothers-of-invention.com (Kim
fotografia em todas suas expressões. barbara-taylor.org.uk Sweet)
Este site informa sobre exposições, betsiegenou.com mr-lee-catcam.de (Jürgen Perthold)
livros, revistas, palestras e outras brittaphotography.com newshatavakolian.com
atividades patrocinadas pela
Aperture. charleymurrell.com olenaslyesarenko.com
bjp-online.com chiaratocci.com pangeafoto.com (José A. Navarro)
A revista British Journal of christinehurst.co.uk paulfuscophoto.com
Photography foi fundada em 1854 e é commercegraphics.com/ba.html pollybraden.com
a revista mais antiga do mundo ainda (Berenice Abbott)
em circulação. rchivers.co.uk
eleanorkelly.com richardrowland.co.uk
foto8.com/new
Publicação semestral impressa e emmablaneyphotography.com robertmann.com/artists/southam/
revista eletrônica de fotojornalismo e gagosian.com/artists/gregory- about.html (Jem Southam)
fotografia documental. crewdson sebakurtis.com
fulltable.com henricartierbresson.org shaleentemple.com
Uma enorme fonte de referência em jamiesinclairphotography.blogspot.
narrativas visuais. shootbacknow.org
com
icp.org simoncarruthers.org.uk
janetbordeninc.com/artists/barney
O instituto The International Centre of (Tina Barney) stuartgriffiths.net
Photography tem uma extensa fonte susanderges.com
de referências on-line, incluindo o jillcole.com
arquivo “The Photographers Lecture katenolan.co.uk susanmeiselas.com
Series”. keithmorrisphoto.co.uk tarynsimon.com
lensculture.com laurapannack.com tomstoddart.com
Revista eletrônica que promove a trevwilliams.com
fotografia internacional. magnumphotos.com/evearnold
magnumphotos.com/robertcapa vosoughnia.com
magnumphotos.com
Fundada em 1947, a Magnum Photos mariashort.co.uk wix.com/eobphoto/eob (Emma
é uma cooperativa fotográfica O’Brien)
internacional de propriedade dos wix.com/mslydiaoc/photo (Lydia
cooperados. O’Connor)
photoworks.org.uk
A Photoworks encomenda e publica
fotografia contemporânea no sudeste
da Inglaterra.
portfoliocatalogue.com
Este site expõe fotografia
contemporânea na Grã-Bretanha; a
impressão em papel foi interrompida,
mas a página on-line cobre detalhes
de edições antigas.
seesawmagazine.com
Revista eletrônica de fotografia.
source.ie
Revista trimestral de fotografia
contemporânea com arquivo on-line.
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Créditos das imagens 172—173

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Páginas 60–63: Imagens da série Páginas 75–76: Imagens da série Página 131: Radio City e 5th Avenue,
Homeless Ex-Service © Stuart Shootback © Peter Ndolo/Shootback, New York © Jane Stoggles.
Griffiths. Saidi Hamisi/Shootback. Página 130: Sakura N-24 2002
Página 8: Mother of Martyrs Página 79: A Child Cries as he is Fed © Risaku Suzuki. Cortesia Gallery
© Newsha Tavakolian. by an Aid Worker in the Feeding Koyanagi.
Página 11: Sandy Springs Bank Centre at Ajiep, Southern Sudan, Página 135: USA. RFK Funeral Train.
Robbery (c. 1920). Cortesia National During the 1998 Famine © Tom USA. 1968. Robert Kennedy funeral
Photo Company Collection (Biblioteca Stoddart. Cortesia Getty Images. train. © Paul Fusco. Cortesia Magnum
do Congresso dos Estados Unidos). Páginas 81 e 142: Imagens da série Photos.
Página 15: Gladys, East London, Life after Zog and Other Stories Páginas 136–139: Rideau,
South Africa, 2009. Imagem cortesia © Chiara Tocci, 2010. Soucoupe, Volets e Noix
da artista, Shaleen Temple. Página 83: The First Wave of © Betsie Genou.
Página 16: Sem título, 1998–2002 American Troops Lands at Dawn. Página 145: Polar Bear, Bremerhaven
© Gregory Crewdson. Cortesia June 6th, 1944. Robert Capa Zoo © Britta Jaschinski.
Gagosian Gallery. © International Center of Photography. Página 146: Dogs Will be Dogs.
Páginas 18–19: Sem título Cortesia Magnum Photos. Fotógrafa: Britta Jaschinski. Cliente:
© Phil Glendinning. Páginas 84–85: Imagens da série Dogs Trust. Agência: Ogilvy & Mather.
Páginas 21 e 23: Nan e Dad Cat’s eye view © Mr. Lee. Página 149: Heaven and Hell
© Tim Mitchell. Página 87: Imagens da série © Andrew Robinson Photography,
Página 25: Josh and Luke e Constricted Reality © Jamie Sinclair, 2008. Modelos: Oscar Jeffery
Bronwyn da série Young Carers 2009. e Zubeida Dasgupta.
© Michelle Sank. Página 89: Madelaine e Sam Página 151: The Shipping Forecast
Página 27: Dr Feelgood © The estate © Laura Pannack, 2010. GB. England. Scarborough. Tyne.
of Keith Morris. keithmorrisphoto.co.uk. Páginas 91–93: Imagens da série Sunday 25 July 1993. West or
Página 29: Sandinistas at the Walls The King Alfred © Simon Carruthers. southwest 3 or 4 increasing 5 or 6.
of the Esteli National Guard Página 96: Sunday New York Times, Showers. Good. Da série The
Headquarters. 1979 © Susan 1982 © Tina Barney, Cortesia Janet Shipping Forecast, 1993–96. © Mark
Meiselas. Cortesia Magnum Photos. Borden, Inc. Power. Cortesia Magnum Photos.
Páginas 30–31: Imagens da série Páginas 99–100: Full Circle Página 152: The Critic © Weegee
Pavilion Unseen © Michael C. Hughes. © Susan Derges. (Arthur Fellig)/International Center of
Página 32: Family Burial Chambers Página 103: Imagem da série Birds Photography. Cortesia Getty Images.
© Mehdi Vosoughnia. © Jill Cole/Millenium Images Ltd. Página 155: U.S. Customs and
Páginas 34–37: Sem título © Richard Páginas 104–105: Trashumantes Border Protection, Contraband Room
Rowland. © José Navarro Photography. John F. Kennedy International Airport,
Página 43: Imagens da série Página 107: Birmingham 28 June, Queens, New York © 2007/2011
Constructed Childhoods © Charley 2005, London 1 July, 2005 e Long Taryn Simon. Cortesia Gagosian
Murrell Photography, 2010. Island 20 August, 2003 © Barbara Gallery/Steidl.
Página 44: Imagens da série China Taylor. Página 156: The Soldier
Between © Polly Braden. Páginas 108 e 148: Máithreacha © Barney Craig, 2010.
Página 47: Cuba. Havana. Bar Girl in Agus Inionacha, Fervor Forgotten, Página 158: Sem título
a Brothel in the Red Light District. Snaith ’09. © Laura Mukabaa. © Emily Watts, 2009.
1954. © Eve Arnold. Cortesia Página 111: Delhi. 1948. The Página 159: Sem título
Magnum Photos. Cremation of Gandhi on the Banks © Rhiannon Ellis.
Páginas 48–49: Imagens da série of the Sumna River. © Henri Cartier- Páginas 160–161: Imagens da série
Pickled © Olena Slyesarenko, 2008. Bresson. Cortesia Magnum Photos. The Allotment, Tenantry Down Road,
Páginas 50–52: Imagens da série Página 112: Sem título (The Brighton © Mike Fearey.
Red River © Jem Southam. Watermill, Korana) 2010. Imagem da Páginas 162–165: Imagens das
Páginas 56–57: Angel, Bubles, série Vrzji Vrt (The Devil’s Garden). séries Uncertainty e Collapsing the
Furniture e Gazebo © Seba Kurtis. © Eleanor Kelly, 2010. Wave Function © Trevor Williams.
Página 58: Summer’s Bounty Página 113: Caroline, da série Derry Página 168: Greenham Common,
© Ray Fowler LRPS. Road © Lydia O’Connor, 2010. Missile Silos, August 2007
Páginas 68–69: Imagens da série Páginas 114–117: Sem título © Kim © Richard Chivers.
The Bedrooms © Emma O’Brien, Sweet.
2010. Página 120: Sem título, da série Todas as demais fotos e imagens
Página 71: Sem título, da série The Consumed © Christine Hurst são cortesia da autora, Maria Short:
Neither © Kate Nolan. Photography. mariashort.co.uk
Página 72: News-stand; 32nd Street Páginas 123–125: Imagens da série
and Third Avenue. Nov. 19, 1935 © The Spectre of an Impossible Desire
2008 Commerce Graphics Ltd., Inc © Emma Blaney, 2010.

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Índice

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Os números das páginas em itálico contextos sociais 33, 36, 121 Frank, Robert 127, 157
indicam ilustrações. continuidade 101, 102, 104 Fusco, Paul 134, 135
Craig, Barney 156, 157
Abbott, Berenice 72, 73 Crewdson, Gregory 16, 17, 109 Gall (Short) 128, 129
Americans, The (Frank) 127 crianças 42, 43 Garnett, Joy 28
aparências, representação 10, 11 Critic, The (Weegee) 152, 153 Genou, Betsie 136, 137–138, 139
apresentação do trabalho 30, 48, 51, crítica coletiva 22 Glendinning, Phil 18–19
86, 102 crítica social 14, 15 Griffiths, Stuart 60, 61–63
Arnatt, Keith 24, 157
Arnold, Eve 33, 46, 47 dedicação no trabalho 110, 112 Hamisi, Saidi 76
arte e fotojornalismo 110 desconstruindo a narrativa 118 Homeless Ex-Service (Griffiths) 60,
autenticidade 74 Derges, Susan 98, 99–100, 101 61–63
Average Subject (Sweet) 114, 115–116, desenvolvimento da ideia 24, 69, 101 Hughes, Michael C. 30–31
117 ver também conceito Hurst, Christine 120, 121
destinação do trabalho 30, 53
background pessoal 55, 138 diários 158, 160 ícone 124
ver também pontos de vista distorção 12, 18, 28 identidade 12, 18
pessoais imagens “bem-sucedidas” 6
Bang-Bang Club 132 Ellis, Rhiannon 158–159, 159 imagens visuais
Barney, Tina 96, 97 enigmas 132–3 ver também imagem; fotografia
Barthes, Roland 12, 122 equipamento 48–53, 59 imersão no trabalho 110, 112
Becher, Bernd e Hilla 86 estabelecimento da intenção 74–77 indicialidade 124, 154
Benjamin, Walter 124 estética 92, 102 influências 55, 62, 148
Blaney, Emma 123, 125 estratagemas emocionais 134, 138, influências literárias 148
Braden, Polly 44, 45 144, 148, 149 intenção 42, 45, 67–77, 80–89
briefing 9, 20–27 estúdio fotográfico 113 interpretação 80–89, 144, 164
do aluno 22 Erwitt, Elliott 46 ver também público
profissional 26
Brodovitch, Alexy 67 fatores ambientais 131 Jaschinski, Britta 144, 145–146,
Bullaty, Sonja 58 ver também fatores externos 147–148
fatores climáticos 58–59 jornalismo 14, 78, 79, 110, 126
camadas 158–9, 159 fatores externos 54–59, 131 justaposição 106
Camera lucida (Barthes) 122 ver também condições de
cansaço da compaixão 79 iluminação Kelly, Eleanor 112, 113
Capa, Robert 82, 83 Fearey, Mike 160, 160–161 King Alfred, estudo de caso 90,
Carruthers, Simon 90, 91–92, 93 feito à mão 157 91–92, 93
Carter, Keith 70 flexibilidade 58, 59 Kurtis, Seba 54–55, 56–57
Cartier-Bresson, Henri 42, 110, 111 formatos de câmera 48, 51, 53, 82
Chivers, Richard 168, 169 fotografia legendas 144
clareza 77, 80, 86 de cena de crime 10, 11 Les Moguichets (Genou) 136,
Cole, Jill 102, 103 de natureza-morta 113 137–138, 139
composição 82 documental 14, 114, 115–116, Liotta, Louie 152–153
conceito 44, 45–47, 169 117, 154 locação 58–59
estética versus 92 experimental 116
intenção e 82, 88 funções da 10–19, 67 Malamud, Randy 147
signos/símbolos 138 séries/grupos de 102–107 Marinovich, Greg 132
ver também ideia fotografia comercial 18 materiais 48–53, 59
desenvolvimento ver também publicidade McCullin, Don 70, 110
condições de iluminação 58, 91, 129, comunicação Meiselas, Susan 28, 29
131, 136, 137–138 da intenção 42, 67, 80, 82 metáfora visual 98, 99–100, 101, 129
conexões pessoais 24, 62 variações na percepção 78 Mitchell, Tim 20, 21, 23
contar histórias 14, 98, 104 fotografias Morris, Keith 26, 27
ver também narrativa construídas 17–18, 19, 42, 43, movimento 134, 135
contexto 6–7, 28–37, 169 109 Mukabaa, Laura 108, 148, 148
público 66, 77, 80–89 sequenciais 104, 105, 106 Murrell, Charley 42, 43
signos/símbolos 121 fotogramas 99–100, 101 músicos 18, 26, 27
tema 45, 66 fotojornalismo 14, 78, 79, 110, 126
texto e 143, 147 fotos de família 13 narrativa 6–7, 96, 97–119, 169
contextos culturais 33, 36 Fowler, Ray 58–9 ver também contar histórias
LLLL
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LLLL
narrativa linear 98 semiótica 121–122 verdade 10, 12, 14, 84, 132–133
narrativas de imagem única 108, séries/grupos de fotografias 102–107 Vosoughnia, Mehdi 32, 33
109–113 The Shipping Forecast (Poder) 150, 151 Watts, Emily 158
Navarro, José 104, 104–105 Shootback project 74, 75–76, 77 Weegee 152, 153
Ndolo, Peter 75 Short, Maria 40, 66, 126, 127–128, Williams, Trevor 162, 163–164, 165
Nolan, Kate 71 129 Wong, Lana 74
significado
O’Brian, Emma 68–69 criação 109 Zoo (Jaschinski) 144, 145, 147
O’Connor, Lydia 113 símbolo 127, 130
objetos cotidianos 123, 157 texto e 154
olho da câmera 106 signos 120, 121–141 Compilado por Indexing Specialists
Silva, João 132 (RU) Ltda.
paixão 42, 54, 57, 62, 73 simbiose de ideias/processo 101
palavras símbolos 120, 121–141
ver também texto Simon, Taryn 154, 155
Pannack, Laura 88, 89 Sinclair, Jamie 86, 87
Peirce, Charles Sanders 122, 124 Slyesarenko, Olena 48–49
percepção-variações 78 Sontag, Susan 10
personalidade e texto 157 Southam, Jem 50, 51, 52, 53
perspectiva histórica 12, 28, 36, 138 Stoddart, Tom 78–79, 79
Perthold, Jürgen 84, 84–85 Stoggles, Jane 131, 131
pontos de vista pessoais 46 Sudek, Josef 58
ver também pessoal Suzuki, Risaku 130, 130
pontuação visual 97, 106 Sweet, Kim 114, 115–116, 117
Power, Mark 150, 151
preparação para locação 58–59 tema 40, 41–65
processo público e 40, 41, 45, 66
simbiose de ideias 101 briefing e 26
apresentação e 86 escolhendo 42
como razão 88, 169 fatores externos 54–59
processo de feedback 22 narrativa e 109
processos interativos 110, 112 conexões pessoais 24, 62
projetos autodirigidos24, 30 entendimento 46
publicidade 144
público 40, 41, 45, 66, 67–95 Tavakolian, Newsha 8, 9
narrativa e 102, 104 Taylor, Barbara 106, 107
respostas 78–79 técnica 48, 53, 82, 110
texto e 147 signos 129, 134, 135
teoria e 6
qualidade do filme 48 técnicas práticas
qualidade da imagem 51, 82 Temple, Shaleen 15
teoria
realidade 10, 12, 17–18, 84, 132 signos/símbolos 122–125
realidades alteradas 17, 18 técnica e 6
Reas, Paul 157 texto 142, 143–167
Regency House project, The 34, complementar 154, 158, 160, 161
35–37 adicional a fotografias 158
relação imagem-texto 142, 143–167 destinação do trabalho 30
requerimentos de saída 30, 53 integrado 150–155
representação e verdade 133 nas imagens 142, 156, 157–159
representação “pura” 84 tipo de filme/velocidade 53, 82
representações literais 10, 11, 98 tipologia 86
respostas intuitivas 68, 126 títulos 152, 153
Robinson, Andrew 148, 149 Tocci, Chiara 80, 81, 142, 143
Rowland, Richard 34, 35–37 trabalho multidimensional 150
tridimensionalidade 55
Salam (Kurtis) 54, 56–57
Sank, Michelle 24, 25 Uncertainty (Williams) 162, 163–164,
Saussure, Ferdinand de 122 165

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JJ4TJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJJ
Agradecimentos

LLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLLL
A todos os meus colegas e alunos da Universidade de Brighton:
sua integridade, humanidade, entusiasmo e compromisso
com a prática profissional das artes fazem que seja uma
alegria e um privilégio trabalhar com eles.
A meu caro amigo dr. Chris Mullen, por seu apoio contínuo
e inspirador, suas sábias palavras de incentivo e crítica
abalizada ao longo de minha carreira.
A meus estimados clientes, por me proporcionarem inúmeros
briefings interessantes e maravilhosos.
A meus queridos amigos e a todos aqueles que se envolveram
em meus projetos autodirigidos ao longo dos anos, e que
generosamente me presentearam com seu tempo, assistência
prática, acesso a recursos e muita fé em meu trabalho.
A todos os meus talentosos colaboradores, incluindo Georgia
Kennedy e Brian Morris da AVA, com quem gostei muito de
trabalhar.
Ao mentor de minha vida, Daisaku Ikeda.
A meus maravilhosos pais, Dorothy Leucha Hine e Ian Ernest
Short.
Lynne Elvins/Naomi Goulder
Lynne Elvins
Contexto e narrativa em fotografia Naomi Goulder

A ética profissional

Nota do editor

O tema da ética não é novo, mas seu A estrutura dispõe as considerações


destaque dentro das artes visuais éticas em quatro áreas e propõe
talvez não seja tão relevante quanto questões sobre possíveis implicações
deveria ser. Nosso objetivo aqui é práticas. Marcar sua resposta em
ajudar a nova geração de estudantes, cada uma dessas questões na escala
educadores e profissionais encontrar apresentada permitirá explorar mais
uma metodologia para a estruturação suas reações ao compará-las.
de seus pensamentos e reflexões
O estudo de caso apresenta um
nessa importante área.
projeto real e, em seguida, propõe
Esperamos que estas páginas algumas questões éticas para uma
sobre ética profissional possam análise mais aprofundada. Esse é o
proporcionar um grau de reflexão e foco do debate, em vez de uma análise
um método flexível para incorporar crítica, para que não haja respostas
preocupações éticas ao trabalho dos corretas ou erradas predeterminadas.
educadores, estudantes e profissionais.
Uma seleção de leituras adicionais
Nossa abordagem está dividida em
para que reflita com mais detalhe
quatro partes:
sobre as áreas de interesse específico.
A introdução é destinada a
oferecer uma rápida perspectiva do
panorama ético, em termos tanto de
desenvolvimento histórico como dos
A ética profissional

temas dominantes na atualidade.


Introdução


Ética é um tema complexo que Na atualidade, as mais importantes e
entrelaça a ideia das responsabilidades controversas questões éticas são as
em relação à sociedade com um amplo morais. Com o aumento populacional
leque de considerações pertinentes e a melhoria da mobilidade e das
ao caráter e à felicidade individuais. comunicações, não nos surpreende
Diz respeito às virtudes de compaixão, mais as considerações sobre como
lealdade e força, como também às estruturar nossas vidas juntos no
de confiança, imaginação, humor e planeta virem à tona. Para os artistas
otimismo. A pergunta básica de ética, visuais e comunicadores, não deveria
introduzida pela antiga filosofia grega, surpreender que essas considerações
é: o que devo fazer? A maneira como entrem no processo criativo.
conquistamos uma vida “boa” aumenta
Algumas questões éticas já estão
as preocupações referentes não
consagradas nas leis governamentais
apenas a questões morais sobre os
e nos regulamentos ou códigos de
efeitos das nossas ações sobre
conduta profissional. Por exemplo, o
os outros, mas também a questões
plágio e a quebra de confidencialidade
pessoais em relação à nossa própria
podem ser infrações puníveis.
integridade.
A legislação de várias nações tornou
como ilegal a exclusão de pessoas
com deficiência ao acesso à
informação e aos espaços. O comércio
de marfim como matéria-prima foi
banido em muitos países. Nesses
casos, traça-se uma linha clara sobre
o que é inaceitável.
Mas a maioria das questões éticas É justificável promover consequências
permanece aberta ao debate, tanto éticas mesmo quando são requeridos
entre especialistas como entre leigos, sacrifícios éticos ao longo do
e no final temos de fazer nossas caminho? Deve haver uma única teoria
próprias escolhas com base em nossos unificadora da ética (como a tese
princípios ou valores. É mais ético utilitarista de que o curso correto de
trabalhar para uma instituição de ação é sempre aquele que nos leva
caridade ou para uma empresa à felicidade em seu maior grau), ou
comercial? É antiético criar algo que sempre haveria muitos valores éticos
outros considerem feio ou ofensivo? diferentes que levam a pessoa em
várias direções?
Questões específicas como essas
podem nos levar a outras mais À medida que entramos em um
abstratas. Por exemplo, são somente debate de ética e nos envolvemos com
os efeitos nos seres humanos esses dilemas em um nível pessoal e
(e com o que se preocupam) os mais profissional, podemos mudar nossos
importantes, ou talvez os efeitos sobre pontos de vista ou o modo que vemos
a natureza também exigem atenção? os outros. Mas o teste real é se, ao
refletirmos sobre essas questões,
mudamos nossa maneira de agir, assim
como a forma que pensamos. Sócrates,
o “pai” da filosofia, supôs que as
pessoas fazem naturalmente o “bem”
se souberem o que é certo. Mas essa
questão poderia nos levar a outra:
como sabemos o que é certo?

A ética profissional

Uma moldura para a ética

Você Seu cliente


Quais são suas crenças éticas? Quais são seus termos?
Sua atitude com relação às pessoas e Relações de trabalho são fundamentais
às questões à sua volta será o centro para saber se a ética pode ser
de tudo o que você fizer. Para algumas incorporada em um projeto, e sua
pessoas, a ética é a parte ativa das conduta no dia a dia é a demonstração
decisões tomadas todos os dias de sua ética profissional. A decisão
como consumidores, eleitores ou com maior impacto é com quem você
profissionais. Outras podem pensar escolhe trabalhar em primeiro lugar.
pouco sobre a ética, e isso não Fábricas de cigarros ou comércio de
necessariamente as torna antiéticas de armas costumam ser citados como
imediato. Crenças pessoais, estilo de exemplos de até onde um limite
vida, política, nacionalidade, religião, é determinado, mas raramente as
gênero, classe social ou educação situações são tão extremas. Até que
podem influir no seu ponto de vista ponto você rejeitaria um projeto com
ético. base em princípios éticos e até quanto
a realidade de ter que ganhar a vida
Usando uma escala, onde você se
afeta na sua capacidade de escolher?
colocaria? O que você leva em conta
para tomar sua decisão? Compare Usando uma escala, onde você
seus resultados com os de seus colocaria um projeto? Como isso pode
amigos ou colegas. ser comparado ao seu nível ético
pessoal?

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Suas especificações Sua criação
Quais os impactos de seus Qual o propósito de seu trabalho?
materiais?
Entre você, seus colegas e um
Em tempos relativamente recentes, briefing concluído, o que sua criação
estamos aprendendo que muitos alcançará? Que propósito terá
materiais naturais estão cada vez mais na sociedade? Irá contribuir
escassos. Ao mesmo tempo, tornamo- positivamente? O resultado do seu
nos cada vez mais conscientes de que trabalho pode ir além do sucesso
alguns materiais sintéticos podem ser comercial ou industrial? Sua criação
nocivos, a longo prazo, às pessoas ou pode ajudar a salvar vidas, ou
ao planeta. O quanto você sabe sobre educar, proteger e inspirar outros?
os materiais que usa? Sabe de onde Forma e função são dois aspectos
eles vêm, a distância que percorrem estabelecidos para julgar uma criação,
e sob que condições são obtidos? mas há pouco consenso sobre as
Quando seu objeto de criação não for obrigações dos artistas visuais e
mais necessário, será fácil e seguro comunicadores com a sociedade ou
reciclá-lo? Vai desaparecer sem deixar o papel que podem ter na solução
vestígios? Essas considerações são de problemas sociais ou ambientais.
de sua responsabilidade, ou não estão Se você quer reconhecimento por
a seu alcance? ser o criador, o quanto você deve ser
responsável pelo que cria e até onde
Usando uma escala, marque até
chega essa responsabilidade?
que ponto a ética está presente nos
materiais selecionados. Usando uma escala, marque o quanto
ético é o propósito do seu trabalho.

A ética profissional

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Estudo de caso Composographs

Um aspecto da fotografia que causa O New York Evening Graphic de Bernarr


um dilema ético é o da verdade Macfadden foi apelidado de “O pornô
inerente na manipulação de imagens, animado” por conta de sua ênfase
particularmente com o uso das em sexo, fofocas e notícias policiais.
câmeras digitais. As fotos, sem dúvida, No início dos anos 1920, Macfadden
sempre foram manipuladas e, na precisava abrir novos caminhos e
melhor das hipóteses, representam publicar um jornal que falasse a língua
a visão subjetiva do fotógrafo em do povo. Uma das características
um determinado momento. Sempre da marca do jornal foi a criação e a
houve manipulação na câmara escura utilização dos composographs, fotos
por meio do retoque ou da dupla com retoques de colagens tratadas
exposição, mas esses efeitos são muito para implicar situações reais, que
mais fáceis de serem reproduzidos provocavam escândalo. O uso mais
digitalmente e mais difíceis de serem notório do composograph foi para o
detectados. No passado, o negativo sensacional julgamento do divórcio
era a evidência física do original, mas de Rhinelander em 1925.
as câmeras digitais não deixam marcas
Rico socialite de Nova York, Leonard
similares.
Kip Rhinelander casou-se com Alice
Embora a fotografia criativa não possa Jones, babá e lavadeira por quem se
capturar e interpretar as imagens apaixonara. Quando a sentença saiu,
com a mesma intenção da fotografia foi um dos mais chocantes escândalos
documental, há um engano inerente da alta sociedade em gerações. Não
em fazer com que um prato pareça só Alice era apenas uma empregada
mais saboroso, as pessoas pareçam doméstica comum, como também
mais bonitas ou um resort pareça revelou que seu pai era afroamericano.
mais amplo e atraente? Esse tipo de Depois de seis semanas de pressão
manipulação da imagem comercial é de sua família, Rhinelander pediu
feito para favorecer o conteúdo com o divórcio, alegando que a mulher
o intuito de agradar ou é contrário havia escondido sua origem mestiça.
ao interesse público, que resulta em Durante o julgamento, o advogado
uma compra por meio de uma foto de Jones tinha solicitado que ela
que nunca foi “a coisa real”? Quão se desnudasse da cintura para cima
responsável deve ser o fotógrafo como prova de que seu marido sabia
quando a alternativa mais real pode o tempo todo que ela era negra.
não vender?
Como o tribunal havia impedido os Produzir imagens falsas de
fotógrafos de testemunhar essa situações reais é antiético?
exibição, o Evening Graphic exibiu um
É antiético produzir imagens
composograph de Jones mostrando o
baseadas em sensacionalismo
torso nu a um júri totalmente formado
e nudez?
por brancos. Isso foi feito com a
combinação de diferentes fotos das Você teria criado composographs
pessoas envolvidas redimensionadas para o Evening Graphic?
em proporção. Harry Grogin, o diretor-
assistente de arte, tanbém arranjou
uma atriz para ser fotografada seminua
na pose que imaginava que Jones teria
feito. Grogin disse ter usado 20 fotos
separadas para chegar a uma tomada
compilada, mas a imagem resultante
era crível. Depois disso, a tiragem do “Uma fotografia é um segredo
Evening Graphic subiu de 60 mil para sobre um segredo. Quanto mais
várias centenas de milhares. ela diz, menos se conhece.”
Apesar das altas vendas, o jornal faliu Diane Arbus
porque sua má reputação não atraiu
assinantes. Apesar de sua má situação
financeira, Macfadden continuou
colocando seu próprio dinheiro na
empresa. O jornal durou apenas oito
anos – de 1924 a 1932 – e Macfadden
disse que perdeu mais de 10 milhões
de dólares no processo. Mas o
sensacionalismo, a nudez fabricada e
os métodos inventivos de reportagem
tornaram-se modelos para o jornalismo
de tabloides que conhecemos hoje.
A ética profissional
Leituras adicionais

AIGA.
Design Business and Ethics.
Nova York, AIGA, 2007.
Eaton, Marcia Muelder.
Aesthetics and the Good Life.
Nova Jersey, Associated University Press, 1989.

Ellison, David.
Ethics and Aesthetics in European Modernist Literature:
From the Sublime to the Uncanny.
Cambridge, Cambridge University Press, 2001.

Fenner, David E. W. (org.).


Ethics and the Arts: An Anthology.
Nova York, Garland Reference Library of Social Science, 1995

Gini, Al; Marcoux, Alexei M.


Case Studies in Business Ethics.
Upper Saddle River, Nova Jersey, Pearson Prentice Hall, 2005

McDonough, William; Braungart, Michael.


Cradle to Cradle: Remaking the Way We Make Things.
Nova York, North Point Press, 2002

Papanek, Victor.
Design for the Real World: Making to Measure.
Londres, Thames & Hudson, 1972

United Nations Global Compact


The Ten Principles.
Disponível em:
<www.unglobalcompact.org/AboutTheGC/TheTenPrinciples/index.html>.

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