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Contexto e narrativa em fotografia

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Narrativas são usadas em muitos campos


do conhecimento em que oferecer ao
públi<>o uma linha condutora ou um conceito
a ser dominado pode ser útil na análise ou
Narrativa linear
A série de fotos Fui/ Circle [Círculo completo],
de Susan Oerges, por exemplo, mostra
girinos emergindo das ovas e seu posterior

Titulo:
[Circu
Fotógr
transmissão de informação em um contexto Fotogn
desenvolvimento. Essa sequência retrata girinos
específico; por exemplo, compartilhar literalmente o crescimento da vida de uma VISUal C
experiências para ampliar o conhecimento forma linear. No entanto, essa representação
ou instigar mudanças. literal foi criada e apresentada de uma maneira
Em termos simples, uma narrativa geralmente que permite uma interpretação mais ampla
consiste de início, meio e fim. No entanto, das imagens. Visualmente, a linha condutora
uma narrativa fotográfica pode não seguir é fornecida quando nos damos conta da
necessariamente essa estrutura; por exemplo, contínua evolução: das ovas ao girino às rãs.
pode simplesmente dar a entender o que Essa metamorfose literal, somada à beleza dos
aconteceu ou sugerir o que pode vir a acontecer. detalhes e à sequência das imagens, pode
Uma narrativa fotográfica pode ser uma levar o público a interpretar a obra como
interpretação fictícia de uma determinada uma alegoria ou metáfora visual.
pessoa, lugar, evento ou momento. Como Falando de seu trabalho, diz Derges :
Chris Killip escreve no prefácio de suas fotos "A água é o foco de meu trabalho fotográfico
publicadas no livro In Flagrante [Em flagrante] há 27 anos. Tomei conhecimento da fragilidade
{1988}: "Essas fotos podem dizer mais sobre e preciosidade desse elemento pela primeira
mim do que sobre o que elas descrevem. vez quando morei no Japão no início dos
O livro é uma ficção sobre uma metáfora". anos 1980; percebi, então, seu potencial
Especialmente na comunicação visual, uma para funcionar como metáfora para uma
narrativa não precisa seguir um sentido linear. abordagem holística do mundo natural,
Pode ser cíclica, ou estar contida em uma única que inclui nossa participação criativa".
imagem, ou fazer referências cruzadas que,
quando reunidas, substanciam o entendimento
ou interpretação que o espectador faz das
intenções do fotógrafo.

"Se eu estiver procurando alguma história


que seja, ela está em minha relação com
o objeto - não a história que eu conto.
mas aquela que me conta".
Bruce Davidson, estadunidense, fotógrafo da Magnum
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98-99
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:>leto], •
Titulo: da série Fui/ Clrcle
[Círculo completo]
Fotógrafa: Susan Derges
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Fotogramas de ovas eclodindo em
a girinos representam uma metáfora
na visual da perspectiva científica.
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~ Introdução do capitulo 1O que é narrativa? 1Série ou cOnJunto de fotos -7


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A simbiose de processos e ldelas Como nos capítulos anteriores, vemos mais


Derges costuma usar fotogramas e outros uma vez o artista mencionando seu método
métodos para produzir imagens sem câmera. de produção como um ingrediente essencial
Olhando para as imagens, o espectador pode para transmitir sua intenção. Podemos
começar a ler e entender "do que elas são" imaginar, em relação a Fui/ Gire/e, de
devido à continuidade visual identificada Derges, a "fazedora", como ela se descreve,
na cor, no tamanho do tema e no ângulo de envolvendo-se com seu tema durante o
perspectiva. De modo geral, uma vez que as período de tempo em que fez as imagens,
imagens mantêm esse nível de continuidade, enquanto a metamorfose ocorria. Essa
o espectador pode olhar o todo e ver que metamorfose leva o projeto adiante, com
há certa progressão de uma imagem para um tema em constante crescimento e
outra. Após uma inspeção mais minuciosa evolução, e se presta à produção de uma
dos detalhes, o espectador pode, então, série de imagens narrativas.
identificar "do que é" que as impressões Esse é apenas um exemplo de como técnicas
são, o modo como o tema se desenvolve narrativas podem ser usadas. Outros métodos
e arriscar uma interpretação. de produção e formas de apresentação serão
Falando da relação entre ideias e processo, abordados nas próximas seções.
Derges diz:
"Reluto em pensar em mim como fotógrafa
porque muito de meu trabalho com a luz
tem a ver com desenhar com luz e lidar de
maneira bastante tátil com papéis e texturas e
diferentes tipos de emulsões. Considerar-me
gravurista implicaria ter uma base artesanal
muito forte, e não me sinto completamente
à vontade com isso também. Certamente
me vejo como uma artífice e me sinto à
vontade com a ideia de minha identidade
ser vista principalmente como a de uma
criadora, uma fazedora. Meu trabalho

Titulo: da séria Fu/1 C/rcle
[Circulo completo]
Fotógrafa: Susan Derges
e minhas ideias sempre vêm do ato Fui/ Circle lida especificamente com
de fazer e se desenvolvem a partir os ciclos naturais da vida e com a
relação entre as ovas, g1nnos e rãs
desse fazer, nunca ao contrário." e a água em que habitam.

Introdução do capítulo 1 O que é narrativa? 1Série ou conjunto de fotos ~


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Série ou conjunto de fotos


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Uma série ou conjunto de fotos pode funcionar Continuidade estética


como ulna narrativa, sendo que o método de No projeto Birds [Pássaros], de Jill Cole,
produção e a forma de apresentação podem o significado sub)acente da obra transparece
sugerir ao público indícios visuais sutis que na maneira como ela fotografou seu tema.
darão corpo à leitura. Por exemplo, nos ensaios Cole enquadra seus objetos de modo que
fotográficos típicos das revistas Picture Post haja um forte nível de continuidade visual
e Life, a 'história" é contada em algumas entre as imagens. A continuidade também
páginas, e cada foto desempenha um papel pode ser vista na iluminação, nas cores
na representação de um aspecto do relato. e na gama tonal das imagens. As imagens,
No caso, o fotógrafo precisa ter em mente portanto, apesar de às vezes parecerem
vários pontos-chave durante a produção bastante perturbadoras, "agradam o olhar";
e o planejamento da apresentação de seu elas passam uma sensação de fragilidade.
trabalho. Precisa refletir sobre como o público As fotos são instigantes e motivam o público
vai ver as imagens e sobre como o contexto a observar mais fundo.
pode influir nas escolhas que ele faz.
Clare Grafik, curadora da The Photographer's
Por exemplo, o que você pretende criar? Galery, de Londres, ao avaliar, para a revista
Uma tipologia, conforme discutido no capítulo 3 Source, os talentos egressos das faculdades
(página 86}? Ou um ensaio fotográfico em que de fotografia on-line, descreve assim o trabalho
cada foto mostre um aspecto da história de Cole: "Jill tem uma elaborada sensibilidade
que evolui para criar uma impressão geral? visual, que lhe permite combinar vários
Ou mesmo uma instalação que exija elementos diferentes em uma série de
do público certo grau de interatividade, fotos coerente e de grande impacto".
e de sua parte alguma ' definição de cena"
para incentivar tal interatividade? Ou será
que você está produzindo um conjunto de
fotos que podem trabalhar como imagens
autônomas, mas que também assumem
maior relevância quando apresentadas "Urr
em conjunto? Ou uma série de fotos que
dependem de uma determinada sequência
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para mostrar certo grau de desenvolvimento se'
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"Uma boa imagem é criada por um estado


de graça. E a graça se manifesta quando

Titulo: da série 8/rds [Pássaros]
Fotógrafa: Jill Cole
se vê liberta das convenções. livre como Esta imagem é parte de uma séne,
elaborada durante um período de
uma criança em suas primeiras descobertas 18 meses. com aves capturadas para
pesquisa científ1ca e preservação
do mundo. A brincadeira é, então. organizar em uma reserva natural dentro de
uma unidade do exérc1to no norte
o retângulo." da Inglaterra. Como parte de um
programa nacional de monttoramento
Sergio Larraln, chileno, fotógrafo da Magnum e colocação de anilhas, os pássaros
foram capturados durante o voo em
redes finas colocadas entre estacas.
Anilhadores treinados cu1daram para
que o bem-estar das aves fosse
mantido durante todo o processo
de captura, coleta de dadas,
anilhamento e liberação.

<:- O que é narrat1va? 1Série ou conjunto de fotos A imagem individual ~


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Série ou conjunto de fotos
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A narrativa sequenclal Pontos a ser considerados em ralaçio


Em Tràshumantes [Transumantes]. José às técnica• narrativas:
Navarro documentou uma jornada de três
semanas realizada num mês de novembro, · Quanto controle você tem sobre a ordem
quando um rebanho de 5 mil ovelhas em que as imagens serão vistas?
atravessou cerca de 450 quilômetros de • O público verá todas as fotos de
campos espanhóis, guiado por pastores uma vez?
seminômades. Ele viu o rebanho deixar
· O público seguirá uma sequência
as pastagens de verão, já exauridas, de
identificada?
sua nativa Serrania de Albarracín, rumo
às encostas verdes, usadas no inverno, • Algumas fotos terão mais destaque
na Andaluzia. Seguindo uma tradição que que outras?
remonta a mil anos, eles percorreram · Você precisa de uma imagem de abertura
a pé as antigas trilhas dos tropeiros, uma ou que resuma sua intenção?
alternativa barata, eficiente e ecológica ao
transporte rodoviário.
As fotos transmitem a grandeza da jornada à
medida que o público acompanha o rebanho
ao longo dos campos e das cidades. Esse é
um exemplo de narrativa sequencial, em que
ritmo e fluxo natural são ditados pelo próprio
acontecimento. Uma vez que para a maioria
do público os detalhes e pontos altos da rota
eram desconhecidos, a ordem das fotos pode
sofrer alteração para produzir uma sequência
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visual mais fluida. A continuidade é reforçada Fotót
pelo uso do mesmo formato de cãmera e Na va
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Titulo: da série Trashumantes
[Transumantes]
Fotógrafo: José Navarro
Navarro acompanhou os pastores
transumantes (seminômades)
em sua jornada sazonal de 450
quilômetros através da Espanha e
conta: "Durante a viagem, vivenciei o
senso de camaradagem que há entre
eles e testemunhei como a atividade
define completamente quem eles
são. Eles são transumantes e não
poderiam nem gostariam de ser outra
coisa. Infelizmente, eles muitas vezes
são vistos como um anacronismo
em nossa sociedade tecnológica.
No entanto, para os transumantes,
a viagem não é um exercício de
nostalgia, mas uma alternativa
econômica e ecologicamente viável
ao transporte rodoviário: eles poupam
dinheiro ao conduzir as.ovelhas a
pé em vez de levá-las de caminhão.
A atividade está indiscutivelmente
enraizada em uma moderna
economia de mercado".

~ O que é narrativa? 1Série ou conjunto de fotos A imagem Individual ~


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Pontuação visual Também vale a pena questionar o olho


Vimos várias técnicas narrativas específicas da câmera em relação à narrativa. Seria
por meio de um conjunto ou série de imagens. a câmera uma quarta parede, o olho do
Outro ponto a considerar, que abordamos espectador, ou o "olho" do objeto, como
em um capítulo anterior quando observamos nas imagens de Jürgen Perthold feitas com
a apresentação, é a relevância do tamanho a câmera do gato (ver página 85)? Você
e do formato das imagens. Se você estiver pode querer estender essa questão e pensar
produzindo um conjunto sequencial de em outras perspectivas que o olho da câmera
imagens, pode ser possível conseguir poderia representar. Também pode ser útil
certo andamento usando um tamanho observar outras formas de comunicação visual
ou um formato particular de imagem em e refletir em como esse uso da perspectiva
um ponto-chave da sequência, seja como auxilia no ritmo e na interpretação das imagens.
tema recorrente ou único. Esse é o tipo Abordaremos a relevância de signos, símbolos
de técnica que poderia ser descrito e texto em capítulos posteriores, mas vale
como uma forma de pontuação visual. a pena reconhecer aqui sua relevância na
Outra técnica é a produção de trípticos construção e elaboração de uma narrativa
e similares, imagens que funcionam como visual.
pequenos conjuntos dentro de um corpo
maior. A justaposição de imagens diferentes
também pode ajudar a apresentar um
argumento ou levantar uma questão;
um exemplo óbvio é a tensão entre
positivo e negativo; outro, é o contraste
entre exterior e interior.

"Estou interessada no espaço psicológico 11


Título: da série Beds [Camas]
entre o sono e a consciência. e em Fotógrafa: Barbara Taylor
como a mudança que ocorre dentro A série Beds, de Barbara Taylor,
fo1produZida usando diferentes
desse espaço é registrada pelos lençóis. formatos de câmera ao longo de um
período de tempo, largamente ditado
Por meio das fotografias. capturo a tensão pelo uso de qualquer câmera que ela
estivesse portando. A partir de uma
de vulnerabilidade entre a experiência perspectiva narrativa, o que costura
o projeto é o tema: as camas desfeitas
privada do sono e o espaço público em quartos de hotel e a variedade
de luz.
do hotel."
Barbara Taylor, fotógrafa estadunidense
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O que é narrativa? Série ou conjunto de fotos 1 A 1magem individual -.:;.


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•Titulo: Mhálthreacha agus


lníonacha [Mães e filhas]
Fotógrafa: Laura Mukabaa
Laura Mukabaa sobrepõe três
gerações de mulheres nesta
fotografia para transmitir o vínculo
entre mães e filhas em um único
quadro.
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108-109
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Então, o que é exatamente a narrativa dentro Criando significado


de uma imagem individual e como o fotógrafo No capítulo 1, abordamos o trabalho
faz para transmiti-la ou criá-la? A narrativa teatralmente construído de Gregory Crewdson
pode ser traçada por todos os componentes (ver página 17). Ao construir literalmente suas
da imagem, pela tensão e dinâmica dos imagens, ele claramente está refletindo sobre
componentes e entre os componentes. Pode o que mostrar ao público, como ele mostra
ser que a fotografia transmita o turbilhão e a e, até certo ponto, por que ele o faz. Talvez
confusão de um momento, ou a serenidade ele também tenha tido a oportunidade de
e a calma; seja o que for que a foto transmita, trabalhar e responder ao input de suas
a narrativa será traçada a partir de como os atrizes. Nesse tipo de circunstância é possível
componentes básicos aparecem no momento responder aos subsídios dos próprios temas
de fotografar. As questões levantadas pelo vivos. Por exemplo, o sujeito fotografado pode
modo como os componentes da fotografia expressar uma emoção de uma maneira
aparecem talvez fiquem no âmbito de: isso que agregue algo inesperado, mas valioso.
é uma foto de quê? O que está acontecendo? à imagem.
Qual a relevância do espaço vazio/céu escuro/
O ponto em questão é que é importante estar
cor do tapete? Pode até soar muito simples,
alerta e seguro da própria intenção ao realizar
mas decompor os vários elementos pode
qualquer projeto fotográfico. É fundamental
ajudar o fotógrafo a refletir sobre o que ele
estar ciente dos dispositivos narrativos e suas
está mostrando ao público, como e por quê.
implicações, mas ao mesmo tempo estar aberto
a elementos inesperados que possam contribuir
para a foto. Em última análise, o objetivo
da técnica narrativa é proporcionar sentido
e coesão, ou ancorá-los, em favor da
imagem e de seu público.

"Não há nada inerente a qualquer meio de expressão


que garanta seu valor como arte. A relação entre fato
e símbolo. expressão e ideia. pela qual detectamos a
presença da arte em um objeto, não é dom de algum
meio em particular. mas o resultado de um embate do
artista com o mundo real segundo certos princípios."
Mike Wea~er, "The Plcture as Photograph" [A Imagem como fotografia],
em The Art of Photography [A arte da fotografia]

<E- Série ou conjunto de fotos 1A Imagem Individual I Estudo de caso ~


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111~111m A imagem índivldual · ·· ·· ·
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Extraindo imagens individuais de obras A arte como produto derivado


maiores do .fotojornalismo
Algumas imagens individuais muito conhecidas O acadêmico estadunidense Claude
foram originalmente produzidas como elemento Cookman, da Universidade de Indiana,
de um ensaio fotográfico ou como parte de entrevistou Cartier-Bresson, em 1998,
uma obra maior. Henri Cartier-Bresson, por para a edição de primavera da revista
exemplo, é mais conhecido hoje por suas History of Photography [História da
imagens individuais. No entanto, escrevendo fotografia] e descreveu da seguinte
para o jornal The Independem, em 1998, maneira suas fotos do funeral de Gandhi:
Colin Jacobson nos lembra da experiência "Muitas de suas fotos individuais podem
de Bresson como fotojornalista: "Vinte e cinco funcionar como arte, mas ele não fotografou
anos depois que Cartier-Bresson parou de o funeral de Gandhi pensando em estética.
fotografar, parece haver um movimento Fotógrafos de arte não se acotovelam numa
na crítica contemporânea de fotografia multidão de um milhão e meio de pessoas.
reivindicando sua obra fotográfica para Eles não exibem a força e o vigor demonstrados
o mundo da arte e negando que ele um por Cartier-Bresson quando ele teve de disputar
dia tenha sido fotojornalista. Cartier-Bresson um lugar na cabeceira da pira funerária
é parcialmente responsável por isso. de Gandhi".
Ao extrair imagens individuais do contexto Essas imagens individuais extraídas de
das reportagens a que pertenciam para trabalhos maiores podem muitas vezes
reapresentá-las em exposições e livros, transmitir a essência absoluta da intenção
ele se permitiu tornar-se mais conhecido por trás da imagem, ao capturar os aspectos
como fotógrafo que produzia imagens fundamentais do instante, da pessoa, do
individuais". acontecimento ou da ideia. À medida que
Jacobson descreve a cobertura que Cartier- um fotógrafo mergulha mais fundo no processo,
Bresson fez do funeral de Mahatma Gandhi: ele passa a assimilar e a representar sua
"Há exemplo mais clássico de fotojornalismo experiência tridimensional por meio da lente
profissional do que a cobertura de Cartier- da câmera, e ele faz isso de uma maneira
Bresson do funeral de Gandhi, na Índia, que combina o uso da linguagem visual com
em 1948? Cartier-Bresson trabalhou em sua reação pessoal àquela experiência e seu
50 eventos diferentes nos três dias de luto, entendimento.
disparando 30 rolos de filme, capturando Esse processo inclui interagir com o ambiente
todos os ângulos possíveis". sem descuidar da própria intenção fotográfica,
linguagem visual e decisões técnicas. Como
Don McCullin observa: "Mesmo em fotografia
de guerra, eu me viro de costas para fazer
a leitura da exposição. Que sentido terá
sua morte se você tiver cometido um erro
de exposição?".
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Titulo: lndla. De/h/. 1948. The
Crematlon of Gandhl on the Banks
of the Summa R/ver. [lndla. Délhi.
1948. A cremação de Gandhi
às margens do rio Summa].
1mbiente Fotógrafo: Henri Cartier-Bresson
ográfica, Como no caso desta foto, extraída
.Como dos 30 rolos de filme que Cartier-
Bresson usou para fotografar o funeral
>tografia de Gandhi, a força de uma imagem
fazer individual pode derivar do esforço
Há e envolvimento do fotógrafo durante
o processo físico e mental de produzir
erro uma obra maior.

~ Série ou conjunto de fotos 1A Imagem Individual I Estudo de caso -7


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iiiii!!!!!:::;~,:~~:~~~::í:~:~:~:~:~:~:::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
Dedicação absoluta Esse empenho e essa dedicação por parte
A imersão total no processo permite que do fotógrafo contribuem enormemente para
o fotógrafo esteja altamente sintonizado a criação de uma narrativa em uma única
com os aspectos fundamentais da foto. imagem. É esse processo interativo em
Em frações de segundo, ele pode perceber imersão total que "faz" a fotografia.
como a dinâmica de um instante pode ser Como Henri Cartier-Bresson explica: "Fotografar
condensada em uma fotografia que transmite significa reconhecer - simultaneamente e em
sua intenção em sua cabeça, olho e coração. uma fração de segundo - tanto o fato em
O fotógrafo pode perceber o significado si quanto a organização rigorosa das formas
simbólico, alegórico ou metafórico visualmente perceptíveis que lhe dão sentido.
nos aspectos de uma cena; quando esses É colocar a cabeça, o olho e o coração na
aspectos são enquadrados em uma única mesma linha de mira".
exposição, feita na hora certa, eles podem
transmitir algo que o fotógrafo viu ou teve
intenção de mostrar.
À medida que o fotógrafo se torna mais
experiente nesse processo, é possível prever:

Tit~
[Es·
Foto
Der
· Em que grau a imagem ficará desfocada COIT
(efeito b/ur) usando uma velocidade de ao h
obturador baixa. quilc
na h
· Em que ângulo e lugar no quadro o COIT

movimento ficará congelado. DaiS


eSSl
· O que ficará nítido (e o que não ficará) usando IOdÍI

pouca profundidade de campo. a ur


stml
· Como e onde a luz está incidindo. do~
su
· Se a exposição ficará melhor com muita luz .:stà
ou pouca luz.
· Quantos quadros serão precisos até que


um objeto em movimento fique exatamente
no ponto certo.
Titu
· Onde se posicionar, ou como posicionar [O n
a câmera, a fim de compor a foto como sério
pretende. Gan
Foté
Tudo isso em frações de segundo, ao
Este
mesmo tempo em que interage com o objeto cone
e o ambiente. pelo
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;:ão por parte Fotografia de estúdio e natureza-morta


nemente para Mesmo em fotografia de estúdio ou natureza-
uma única morta, o fotógrafo pode ficar tão envolvido com
rativo em a própria ideia e tema que o mais simples dos
rafia. objetos pode se tornar todo um universo
)lica: "Fotografar e se comunicar com ele em seu código
neamente e em de linguagem visual. Refletir sobre a
to o fato em composição, a iluminação e as relações
sa das formas entre os temas permitirá que o fotógrafo
he dão sentido. componha sua narrativa dentro de uma
coração na única imagem ou entre algumas imagens.
Por exemplo, em seu livro John 8/akemore's


8/ack-and-White Photography Workshop
[Oficina de fotografia em preto e branco de
Titulo: da série Derry Road John Blakemore] (2005), Blakemore reflete
[Estrada Derry] sobre sua viagem e o tempo gasto para
Fotógrafa: Lydia O'Connor fotografar tulipas: "Passei muito tempo
Derry Road é um ensaio sobre uma apenas contemplando as flores, sem pensar
:omumdade de pessoas que VIVem
o longo de uma estrada de seis na câmera. Eu me deliciava com a presença
quilômetros que atravessa Kildare, voluptuosa das tulipas. Esses períodos de
na Irlanda. O tema central é investigar contemplação, de prazer visual, são uma
como uma comunidade molda a
patsagem em torno dela e como parte imprescindível de meu processo de
essa paisagem a molda. Esta imagem trabalho. É um aprofundamento de minha
tndtvtdual, embora pertencente experiência e de meu relacionamento com
a um corpo mator, transmite com
stmplicidade a essência da intenção meu tema".
do projeto, uma vez que os laços
vtsuais entre o sujeito e seu ambiente
estão muito claros.


Titulo: The Watermill, Korana
[O moinho d'água, Korana] da
série Vraijl Vrt (The Devil's
Garden) [O jardim do diabo]
Fotógrafa: Beanor Kelly
Este projeto atnda em curso se
concentra na regtão da Croácia cortada
pelo rio Korana, que desce dos lagos
e cachoetras de Plitvice Jezera em
dtreção à cidade renascentista de
Karlovac. Esta imagem sobrevive
de maneira autônoma, mas também
pode representar o corpo da obra,
pots contém indícios que remetem
às crenças e circunstâncias da região.

Série ou conjunto de fotos 1A imagem individual I Estudo de caso ..;>


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Estudo de caso: Tema cinza médio - Kim Sweet
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11
Título: da série Average Subject
[Tema cinza médio]
Fotógrafa· Kim Sweet
O titulo da série Average SubJect
é ttrado de uma configuração da
câmera víntage usada. algo a meio
caminho entre 'tema escuro' e 'tema
claro'. O manual da câmera sugere
que esta configuração seja usada
para "cenas de jardim e margens
de rios. pessoas de corpo tntetro
com roupas de tons entre claro
e escuro. cenas bem iluminadas".
O titulo faz uma perfeita associação
entre o concetto por trás do projeto
e a técnica usada.
114-115

Estudo
de caso
Kim Sweet se formou na Central St. Martins School of Art, em Londres, no fim
da década de 1980. Em 2010, ela quis voltar a trabalhar com fotografia como
meio criattvo e asstm reacender sua voz vtsual e desenvolver suas habilidades
técnicas JUnto com seu modo de ver e interpretar o mundo a seu redor.
Tendo mudado de Londres para Eastbourne, uma estâncta balneána famosa por
sua popularidade entre aposentados, Sweet resolveu documentar sua nova
cidade como forma de conhecer e explorar seu ambiente - em particular
o espaço entre sua casa e o cais, uma distância de aproximadamente
um quilômetro. A tntenção subjacente era entender melhor a ctdade, seus
moradores e visitantes, bem como a reputação de "cidade de aposentados".
Alguns aspectos da cidade e da orla haviam permanectdo relattvamente
inalterados ao longo dos últimos 40 anos, mas agora estão lentamente
desaparecendo e sendo substttuídos por uma identidade mais moderna.
O atrito entre o velho e o novo (ou jovem) constituiu um desafio na determinação
do objeto de cada imagem e no modo como ele podena ser documentado.
Começando com uma Olympus OM-1, 35 mm, e filme preto e branco, Sweet
usou cerca de dois rolos de filme a cada semana durante um período de dez
semanas. Quando a primavera deu lugar ao verão, a qualidade da luz mudou,
asstm como a população visitante e o uso da orla marítima. Sweet começou
fotografando visitantes, como casais, pessoas solitárias ou em grupos, cultivando
velhas amtzades ou fazendo novas. O grande número de bancos à betra-mar
fez da orla uma excelente locação, uma vez que era usada tanto como espaço
soctal quanto para meditação.

aSSOCiaÇãO
projeto

~ A imagem mdividuall Estudo de caso 1Exercícios e resumo ~


Estudo de caso: Tema cinza médio,. - Klm Sweet
••.••. 'i;'H HfiBHHBHH'!HHIHI!Bmllm'iHíHHmllmHE"ã!IHB.mmHHHBHBlm.a:ltiBiiii~.üiliCDTIL

Experimentação
Os pequenos detalhes que hav1am mot1vado Sweet a fotografar
as pessoas sentadas nos bancos, como seus tipos de penteado,
chapéu, cachecol, roupas de férias, perdiam o poder evocativo
em 35 mm, preto e branco; as fotos ficavam muito datadas,
óbv1as demais. Sweet então dec1diu fazer expenmentações
com médio formato e câmeras vintage, e voltou-se para
uma antiga Kodak, comprada em um bazar de caridade local.
A combinação de distância predeterminada do ponto de foco
com filme colorido e a escolha do tema produz1ram imagens
suaves, evocativas da qualidade das fotos de férias dos anos
1970 (coincidentemente, mesma época em que a câmera
começou a ser produzida).
Conforme ela mesma diz: "Levei um tempo para entender
que estava tentando desacelerar o documentário. a 'fotografia
de rua', para encontrar o que Gerry Badger descreve, em
The Pleasure of Good Photographs [O prazer das boas
fotografias] (2010), como uma abordagem 'silenciosa'
que tenta evocar - mais do que def1nir - o espaço e uma
determinada geração de pessoas que visitam ou habitam
a c1dade. Eu queria olhar para uma fase da vida pela qual
todos nós 1nev1tavelmente passaremos, mas também abordar
nosso desejo de reter ou lembrar aquilo que se torna familiar
para cada geração. Embora eu tenha começado fotografando
pessoas. em última análise a informação que eu queria
encontrar estava no espaço público e privado de jardins.
casas e hotéis, muitos dos quais mant1veram uma qualidade
particular. Eu queria fazer imagens que pudessem evocar
esse sentimento de idade - observar sem fazer julgamentos".
O ponto a salientar aqu1 é que Sweet não se contentou com
as imagens óbvias que fez nas primeiras semanas do projeto.
Ela voltou à locação escolhida e continuou a expenmentar
e explorar suas ideias. Um dos temas centrais de Sweet era
observar sem fazer julgamento, e 1sso se man1festa na técnica
escolhida e em suas imagens "silenciosas".
.: ..
116-117 '

••
Titulo: da série Average Subject
[Tema cinza médio]
Fotógrafa: Kim Sweet
A narrativa nas imagens de Sweet
é permeada por sua abordagem
·silenciosa" e pela escolha de uma
antiga câmera dos anos 1970 que.
quando combinadas, dão coerência
vtsual às imagens.

... ..... ...


......... . .......... ..............
................. ... ... ......... . ........... .. .. . ...........
... ........ ... .. ........................
. . .... , ...
....
f- A imagem individual 1 Estudo de caso 1 Exercicios e resumo -:;.
:::::::: :::::::::::::::::::::: :::::::::::::::::::::::::: ·····························
·····························
::::::::::
::::::::::
Usando- o tex.to
Hiii~HH ::::::::::::::::: ::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::

É compreensível que um fotógrafo, cuja inquietantes paradoxos inerentes aos


• principal intenção é se comunicar visualmente zoológicos me levaram a descobrir aspectos
por meio de fotografias, seja reticente quando de mim mesma, dos animais e de uma
se trata de usar texto. O público pode se sociedade que sente a necessidade
perguntar: ·se a fotografia precisa de laudas de confinar. Uma torrente de associações
de texto para ser explicada, será que ela está afetivas, sociais e psicológicas varreu minha
mesmo cumprindo seu papel?". lente, e é precisamente por causa dessa
ReseNe um tempo para refletir sobre as fotos complexidade que eu nunca desejaria que
minhas imagens fossem didáticas ou mesmo
que vemos na vida diária e pense sobre o papel
definitivas. Elas não conseguem ilustrar
do texto em relação à fotografia e vice-versa.
Uma campanha publicitária pode levar meses, meu mal-estar, mas parecem encarnar o
ou mesmo anos, para atingir o ponto em que desconforto desse mal-estar que talvez
muitos de nós sintam. A intenção é permitir
o público reconhece a marca apenas pelo
matizes de interpretação de maneira que,
estilo e tema das imagens. Os anúncios,
portanto, usam slogans, legendas, títulos se algum de meus sentimentos, impressões
e modos de olhar refletir alguma verdade,
para ajudar o público a situar o contexto
esta será reconhecida pelo espectador".
da imagem. Essa abordagem também pode
ser eficaz em outras formas de trabalho Cada fotografia está legendada simplesmente
fotográfico. Há ocasiões em que uma simples com o número da placa, local e ano, por
frase explicativa pode ajudar o público a exemplo: "70, San Diego, 1995". A simplicidade
entender o que está acontecendo na foto, das legendas permite que o espectador
de uma maneira que agrega à imagem, trabalhe com a profundidade de cada
em lugar de negar ou reduzir seu poder. imagem em um nível afetivo e pessoal.
Pode-se dizer que a legenda meramente
informativa e factual ajuda a prevenir que
Matizes de interpretação qualquer intenção "didática" influencie a
Em seu livro Zoo (1996). composto de 74 fotos interpretação do público. Dessa forma,
em preto e branco de animais em zoológicos, a fotógrafa está incentivando o público a
Britta Jaschinski inclui um pequeno texto, responder de maneira independente
curiosamente no final do livro, como um à linguagem visual.
postscriptum. Nesse texto ela diz: ·os

"Eu acho que o que você precisa fazer é


descobrir a verdade essencial da situação
e ter um ponto de vista sobre ela."
Burt Gllnn, estadunldense, fotógrafo da Magnum
....................
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144-145
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1993 [Zoo. Bremerhaven, 1993)
Fotógrafa: Britta Jaschinski
Ao usar um título factual e ser clara
quanto à sua Intenção subjacente,
Jaschinski perm1te que as imagens
falem por si mesmas, dando ao
público a oportunidade de refletir
sobre suas próprias ideias acerca do
cativeiro de animais. A simplicidade
do titulo principal, Zoo, e de cada
título indiVIdual, combinada com
o sequenciamento e a abordagem
técnica e criahva, levanta questões
para o público refletir.

f- Introdução do capítulo I Usando o texto I O texto integrado -t


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Influências literárias Como resultado, ele teve a ideia de usar


Além do texto do postscriptum e das legendas . um elevador como espaço para fotografar
simples, contextualizando as imagens, e explorar a visualização das emoções.
Jaschinski conta que também já se baseou A pesquisa e as leituras de Robinson lhe
em influências literárias e artísticas: "Acho deram uma estrutura simples para trabalhar.
que se pode dizer que a literatura alemã Tendo estabelecido seus métodos de
e a arte do Leste Europeu, praticadas por trabalho e obtido o interesse de seus sujeitos,
artistas como Friedrich Nietzsche, Fiódor ele foi capaz de desenvolver suas ideias e
Dostoiévski, Josef Koudelka e László incentivar seus sujeitos a mergulhar no projeto.
Moholy-Nagy, contêm algo de sombrio A clareza da estrutura de trabalho permitiu
e influenciaram meu 'estilo'". que fotógrafo e sujeitos explorassem a
expressão das emoções de forma bastante
Muitos fotógrafos recorrem à literatura como
natural e interessante, o que influenciou
parte de sua pesquisa. Essa base literária
no resultado final.
pode moldar o projeto e a abordagem
do fotógrafo, além de dar vazão a novas Respondendo a um briefing também baseado
ideias ou caminhos a serem explorados. em texto, a estudante de fotografia Laura
Por exemplo, ao receber o briefing "Céu e Mukabaa produziu uma sequência de imagens,
inferno", a reação do estudante de fotografia cada uma legendada com uma citação de
Andy Robinson foi ler sobre as interpretações Winterson Jeanette que, para Mukabaa, refletia
tradicionais de céu e inferno, mas também a atmosfera de viagem interior que ela desejava
sobre aplicações mais metafóricas. transmitir. Mukabaa se concentrou em
sentimentos universais de perda, tristeza
e desejo de elaborar essas emoções de
modo a seguir em frente. Ao fotografar cenas
cotidianas de cada época do ano casando-as
com citações, Mukabaa foi capaz de ampliar
sua experiência pessoal a um entendimento
comum compartilhado .


Titulo: da série Stlll nme [alusão
a stll/1/fe, natureza-morta]
Fotógrafa: Laura Mukabaa
"Mesmo as coisas mats sólidas
e mats reais, mais amadas e mais
conhecidas, são apenas sombras
na parede. Espaço vazio e pontos
de luz."
Jeanette Winterson
........... ..............
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. . 148-149
.....................
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••
Título: Heaven and Hei/
[Céu e Inferno]
Fotógrafo: Andrew Robinson
Rob1nson decidiu usar um elevador
como símbolo do espaço de
Time [alusão transição entre os dois mundos,
morta] "céu e inferno·. Robinson descreve
as 1magens: ·o elevador é um estúdio
1kabaa e uma pnsão para as emoções do
ais sólidas passageiro - as portas se abrem
nadas e mais e as emoções ou pensamentos
nas sombras são revelados e expostos na transição
azio e pontos do privado para o público. A forma
de caixa do elevador e o formato
6 x 6 reforçam essa narrativa·.

f- Introdução do capítulo 1Usando o texto I O texto integrado -7


·····························································································
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O texto Integrado
. .
......................................................................................
···················································································

Outra maneira de usar o texto como estrutura Power visitou e fotografou cada um dos lugares
para um conjunto de fotografias é como mer:~cionados na previsão, tais como Cromarty,
parte explicitamente articulada e significativa Fisher e German Bight, entre outros, que
de um projeto do qual o público está ciente. tinham se tornado familiares para gerações
Um bom exemplo é The Shipping Forecast de ouvintes de todo o Reino Unido. O texto
[A previsão dos mares] de Mark Power. que acompanha cada foto dá a previsão das
The Shipping Forecast é um programa 6 da manhã do dia em que a foto foi feita.
de rádio, transmitido diariamente desde
1922, que informa os marinheiros sobre
Uma experiência multidimenslonal
as condições meteorológicas dos mares
de todo o litoral do Reino Unido. O trabalho foi exibido juntamente com uma
instalação sonora com gravações da previsão,
Segundo Power: "A previsão foi uma parte muito
reproduzidas aleatoriamente em rádios da
importante de minha infância; emanava do
marca Roberts espalhados pela exposição.
rádio gramofone de mogno no canto, perto
A marca do rádio importa porque Roberts
da cadeira de vime que pendia do teto por uma
era uma marca tradicional, quase uma
corrente, e flutuava suavemente por toda
"instituição", como as estações que eles
a sala de estar. Naquela época, quando a
difundiam. Como visto aqui, tanto a palavra
opção de estações era limitada, a maioria
escrita quanto a falada podem ser elementos
das pessoas ouvia o Home Service da BBC ...
interativos e centrais de uma obra fotográfica.
Sua linguagem esotérica, rítmica e estranha
é claramente romântica, criando, para nosso
país, a imagem de ilha fustigada pelo vento
e pelo mar agitado, o que explica por que o
lugar favorito de todos para ouvir o programa
era uma cama gostosa, quente e segura·.

"Fotografar é como pescar ou escrever.


É extrair do desconhecido aquilo que
resiste e teima em não sair à luz."
Jean Gaumy, francês, fotógrafo da Magnum
....................
....................
..... ..... ... ..... ..
..... .... ... . ...................
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Je a foto foi feita.

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Jma obra fotográfica.

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~uilo que

Título: GB. England. Scarborough. Tyne. Sunday 25 July 1993. West or Southwest 3 or 4/ncreaslng 5 or 6.
Showers. Good. Da série The Shlpplng Forecast, 1993-1996. [Grã-Bretanha. Inglaterra. Scarborough. Tyne.
Domingo, 25 de julho de 1993. Oeste ou Sudoeste 3 ou 4 aumentando para 5 ou 6. Chuvas esparsas. Bom.
luz." Da série "A previsão dos mares", 1993-1996]
Fotógrafo: Mark Power/ Magnum Photos

Mark Power descreve esses momentos "Quando eu estava em meu ponto de terno e colete, com um guarda-
"extraordinários": "A beleza de trabalhar ma1s baixo, quando sentia que chuva fechado e um relóg1o de bolso,
assim, com um método que é - não tinha !Irado uma foto decente aparecia JOgando futebol, enquanto
essencialmente - fotografia de rua. havia três ou quatro dias, algo de um casal de idosos fazia castelos
é que você nunca tem certeza do extraordinário aparecia do nada... de areia e~ primeiro plano".
que vai acontecer depois. um homem de meia-idade, vestido

~ Usando o texto 1O texto Integrado 1O texto na imagem -'?


..................................................................................................................................
lllllrrrrr·· ~- ~~~-~ -;~~~~;~~~· ··· ··· ···· ·· ············ ······ ······ ····· . . .... . .. . .......... _
...... ... .
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···:-:·:·:·:·:·::::::::::::·::::::::::::::::::···::::::::·::::':::::::::":::::::::::::'::::::::':::::::::::::::::::::":::·:-:":::::::::·::::::::::::

11
Título: The Crltlc [A crítica]
Fotógrafo: Weegee
Weegee afirmou que só percebeu
a dinâmica dessa imagem durante a
impressão; porém, seu assistente
na época, Louie Liotta, af1rma que
Weegee preparou cuidadosamente
o momento. Ao alterar o título de The
Fashionab/e People [Gente da moda)
para The Cntic, ele efetivamente
desloca a atenção do público das
figuras centrais para a mulher que
as observa.
....................
....................
.. . . . . .
..... 152-153
...................
.....................

O significado dos títulos


Segundo consta, Weegee armou a foto
The Critic para justapor o abismo entre ricos
e pobres. De acordo com seu assistente
Louie Liotta, Weegee lhe pediu que fosse
a um bar local, pagasse bebidas a uma das
frequentadoras e, em seguida, trouxesse
a mulher embriagada para a estreia,
exatamente no momento em que as
limusines faziam o desembarque de suas
passageiras da alta sociedade. As duas
mulheres bem vestidas nesta foto são
conhecidas beneméritas de instituições
culturais. Weegee alegou ter notado a
mulher observando as patronesses da
ópera somente depois da impressão
da foto.
A imagem apareceu pela primeira vez na
revista Life em 6 de dezembro de 1943
e foi intitulada The Fashionab/e People
[Gente da moda]; só ganhou o título
The Critic no livro Naked City [Cidade nua],
que Weegee lançou em 1945. Ao usar este
título, Weegee incentiva o público a observar
a relação entre as duas mulheres bem vestidas
e aquela que ele supostamente armou para
aparecer na imagem. Num segundo olhar,
pode parecer que esta é "a crítica".
O lnternational Centre of Photography, de
Nova York, descreve assim o trabalho
de Weegee: "Esse contraste de imagens,
entre os ricos, com suas joias, e as 'pessoas
comuns', de boas maneiras, é exatamente
o que Weegee sempre se esforçou para
obter em toda sua obra. A incongruência
da vida, entre o rico e o pobre, as vítimas
e os resgatados, os assassinados e os
sobreviventes - suas fotos tinham a
capacidade de nos transformar em
testemunhas e voyeurs".

~ Usando o texto 1O texto Integrado O texto na imagem ~


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iiii!HW O texto integrado


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Carregada de significado de Bangladesh, carnes de animais selvagens,


Em sua obra An American lndex o f the Hidden cherimólia, folhas de curry (Murraya), cascas
and Unfamiliar [Um catálogo estadunidense de laranja secas, ovos frescos, caramujo
do oculto e do estranho] (2008), a fotógrafa gigante africano, crânio de antílope, sementes
Taryn Simon usou um texto complementar de jaca, cajá-manga, café-do-sudão, manga,
para cada foto, disposto na página com quiabo, maracujá, focinho de porco, bochecha
muita precisão, embaixo de cada imagem. de porco, carne de porco, carne de ave crua
A forma geral de apresentação faz alusão (frango), cabeças de porco-do-mato, tamarilhos,
ao "catálogo" do título. Folheando as páginas limas-da-índia infectadas com cancro cítrico,
do livro, o leitor tem a sensação de que as cana-de-açúcar (Poaceae), carnes cruas,
imagens foram "catalogadas" - reminiscência muda de planta subtropical não identificada.
de um sistema de arquivamento em que cada "Todos os itens da foto foram apreendidos na
imagem é armazenada e rotulada. O texto bagagem de passageiros que desembarcaram
descreve o conteúdo e o local de cada foto no Terminal4 do aeroporto JFK, nos Estados
de uma maneira simples e factual. Unidos, ao longo de um período de 48 horas.
O JFK recebe o maior número de voos
Em um artigo na revista Museo Magazine,
internacionais do país e processa mais
Geoffrey Batchen observa: "Apreciar uma
passageiros internacionais do que qualquer
dessas obras envolve olhar brevemente
outro aeroporto nos Estados Unidos.
para a imagem, tirar os olhos dela para ler
o texto e depois olhar de novo para a "Produtos agrícolas proibidos podem abrigar
imagem, demorando-se sobre ela, pragas de origem animal e vegetal, além
sorvendo-a totalmente, uma vez que ela de doenças que podem provocar danos
está recoberta de significado. Nesse ponto, a lavouras, rebanhos, animais de estimação,
a imagem é praticamente um híbrido entre ao meio ambiente e à economia dos
texto e fotografia: está carregada. Assim, Estados Unidos. Antes de entrar no país,
a marca de realismo social de Simon é também, os passageiros têm de declarar se portam
e talvez principalmente, uma forma de conduta frutas, legumes, plantas, sementes.
crítica que questiona seu próprio meio". carnes, aves ou produtos de origem
animal. Autoridades aduaneiras determinam
A compreensão do espectador deriva da
se os produtos atendem aos requisitos de
combinação entre imagem e texto. Sem
entrada no país. Os Estados Unidos exigem
o texto, a imagem deixa de comunicar seu
autorização para entrada de animais e plantas,
pleno significado e vice-versa.
a fim de prevenir doenças altamente
O texto que acompanha a imagem de Taryn infecciosas, como a febre aftosa e a
Simon na página ao lado diz: "Ratazanas-do- gripe aviária. Todos os itens apreendidos
capim infestadas de larvas, inhames africanos são identificados, dissecados e depois
(Dioscorea) , batatas andinas, cucurbitáceas triturados ou incinerados.
....................
····················
...... ......
.............. 154-155
. . .. .. ..·.:.·:::
.. . ::.:: ·::.::::::::::
.. ...................
.....................

ais selvagens,
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dão, manga,
rco, bochecha
de ave crua
3to, tamarilhos,
ancro cítrico,
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identificada.
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nos Estados
de 48 horas.
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Je qualquer
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u danos
~ estimação,
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no país,
se portam
:es,
Jem
determinam
JUisitos de Titulo: U.S. Customs and Border Protectlon, Contraband Room. John F.
dos exigem Kennedy lnternatlonal Alrport, Queens, New York. [Serviço de Alfândega
e Proteção de Fronteiras dos Estados Unidos, Sala de Contrabando.
1ais e plantas,
Aeroporto Internacional JFK, Queens, Nova York]
ente
Fotógrafa: Taryn Simon
ea
~endidos A relação entre o texto factual e o fato de que essas locações não
jepois s1mples (acima) e a imagem quase concordaram em participar, cria um
clínica alude à natureza da fotografia retrato em consonância com o título
como prova crim1nal. A abordagem An American lndex ot the Hldden
simples ao longo da obra, and Unfamiliar [Um catálogo
comb1nada com a escolha de estadunidense do oculto e do
Simon das locações e, sobretudo, estranho].

~ Usando o texto I O texto integrado I O texto na imagem ;


1111111111
Ot
exto na tmag ~~"""'""'"'""""'""""_
....... '_'::;: : : : : : : : : : : :,: : :,: : :,: : : :
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····················
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• • • ••• o

156-157
.. .. .. ·-::·· ..... ·:··:· :::::::: ·::···:.~:·:·::. :.
....................
....................

Muitos fotógrafos fazem uso de textos que A personalidade da caligrafia


aparecem .nas fotos. Por exemplo, no trabalho Vale a pena ter em mente a diferença entre
1Can Help [Eu posso ajudar], de Paul Reas, o texto manuscrito e o impresso; o texto
a foto do que parece ser uma fila [queue, manuscrito pode agregar à imagem um quê
em inglês] do lado de fora de um enorme da pessoa e de sua situação no momento da
supermercado contém as letras "que" no escrita de uma maneira que o texto impresso
plano de fundo. Outra de suas imagens da não pode. Por exemplo, Notes from Jo [Bilhetes
mesma série é uma cena de Natal mostrando de Jo] (1990-1994), de Keith Arnatt,
dois clientes esperando ser atendidos em um compreende uma série de mensagens
balcão vazio, com uma faixa ao fundo onde escritas por sua esposa, e fotografadas
se lê "Season 's Greetings" [Boas-festas]. por Arnatt após a morte dela, em 1996.
O fato de os dois clientes, carregados de São bilhetes que ela lhe deixava diariamente,
compras, não estarem sendo atendidos lembrando-o, por exemplo, a que horas ela
(que dirá "festejados") cria uma tensão irônica estaria em casa.
com os dizeres da faixa, questionando dessa
Sophie Baylis, em um artigo para Hotshoe
forma o consumismo e a evidente inversão
lnternational, observa: "A beleza por trás do
de valores.
trabalho de Arnatt é sua capacidade de extrair
De forma similar, Sick of Goodby's [Doente prazer de objetos corriqueiros, mundanos,
de adeus], de Robert Frank, é uma poderosa itens descartáveis que são jogados fora
imagem em branco e preto de seu texto sem hesitação. Observações espirituosas,
rabiscado à mão em um espelho. Liz Jobey, como 'Seu desgraçado, você comeu meus
editora adjunta da revista Granta e autora de últimos biscoitos!', e lembretes mais práticos,
A Photographic History o f the 20th Century incluindo 'Apague o fogo se as cebolas
[Uma história fotográfica do século XX] começarem a queimar', não apenas oferecem
(2000), descreve a imagem relacionando-a um instantâneo breve, mas comovente,
com experiências de vida do fotógrafo, da vida conjunta do casal, como também
suas perdas pessoais e sua dor: "Doente de simbolizam a convicção de Arnatt de que até
adeus é um quadro de exaustão emocional. .. um mínimo detalhe pode ser transformado
Nessa imagem está retratado todo o cansaço em um objeto de interesse ou beleza quando
de Frank. Muito já se foi". isolado em uma fotografia" .


Titulo: Th e Soldler [O soldado]
Fot ógrafo: Sarney Craig
O texto nesta imagem questiona a
mudança de valores sociais; como
é o caso do livro infantil The So/d_ier
sendo descartado no lixo.

O texto integrado 1O texto na imagem ! Informação complementar ~


~tl:l..:t.l.:t.ll. .:.:·: ·: ~.::.:.~.:e.::~..:~.:~.:.:~.:::~~~~~:: ::::::::::::::::::::::::::::::::::::.: ::::.:::::.::::::::::::::::::::::::::::::::::::::
. -.. ~=. :::::::::::: :':::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::::·::::::: :::::::::::: :::'::::

Acrescentando texto
Múltiplas exposições, rabiscos em negativos,
sobreposição de texto na impressão ou
•Título: Sem titulo
Fotógrafa: Rhiannon Ellis
Estudante de design. Ellis tem
compor um negativo de texto com uma
inclinação para o visual e está
imagem negativa são alguns métodos famillanzada com a exploração e
analógicos que se prestam a experimentações, criação de técnicas que podem ser
além dos softwares fotográficos digitais que aplicadas a um brieftng ou concetto.
Neste trabalho, ela quis experimentar
permitem a introdução de texto na imagem. a sobreposição de camadas del
Incorporar diários escritos na imagem, ou 1magens para ver como seus colegas
em um formato apropriado acompanhando reagiriam e interpretariam o impacto
visual, já pensando em arquivar o
as imagens, também pode ser um método resultado para um futuro trabalho.
interessante de combinar texto e imagem .


Título: Sem título
Fotógrafa: Emily Watts
Watts fotocoptou uma págtna de
seu diário de viagem em acetato e,
em seguida, colocou o acetato sobre
o papel fotográfico na mesa sob o
ampllador pouco antes de expor um
negativo no papel. Como a exposição
foi feita através do acetato, a imagem
resultante combina a fotocópia
do diário em acetato e a imagem do
negativo que estava no ampllador.
. .. ... ..
o
• • • •
o

o

••••••
o



••
••••
158-159
• o. o o o
•••••••• o •• o o

Sobreposição em camadas
A estudante de design gráfico Rhiannon
)n Ellis Ellis optou por escanear partes de livros
n, Ellis tem que continham inscrições; nesse caso, seu
sual e está
exploração e método de trabalho veio antes do conceito.
que podem ser Nos dois exemplos mostrados aqui, Ellis
·fing ou conceito. combinou o scan das inscrições do livro
=lUis experimentar
:amadas del com fotos que ela mesma tirou da neve. Com
)mo seus colegas um direcionamento conceitual, a combinação
:ariam o 1mpacto das duas imagens pode ser usada para aludir
em arquivar o
Jturo trabalho. a relacionamentos passados e presentes ou
ser desenvolvida para se projetar como uma
imagem individual ou como narrativa.

~ O texto integrado 1 O texto na Imagem Informação complementar -


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. . ... . . . .
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::::::::::
Jnformação complementar
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·········· .. .
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.-
- ........................................................................................... .
. . . . .

Alguns projetos se prestam à inclusão de texto


sob a forma de um encarte complementar.
Mike Fearey, por exemplo, manteve um diário
para acompanhar seu ano de estudo no
loteamento de terras cultiváveis da Tenantry
Down Road. Usando uma Pentax 6 x 7
e filme preto e branco, Fearey fotografou
regularmente os lotes entre 1990 e 1991
e registrou, entre outras coisas, a lenta
mudança das estações. O diário relata
de forma minimalista cada visita feita
ao local e algumas mudanças e incidentes
que tiveram impacto sobre os lotes.
As imagens são por si elucidativas, não
necessitariam de texto. A inclusão do diário,
no entanto, agrega uma nova dimensão, a do
elemento das relações humanas, que podem
ser inferidas, mas não estão literalmente
retratadas nas fotos.

...
Em duas das entradas se lê:
Quarta-feira, 21 de novembro, 1990.
Horário 11 h
Velocidade: 1/125 s f5.6- f8.
T itulo: da série Tenantry
Dia claro, nublado. Mais pessoas apareceram
Down Road Allotments
hoje. Não falei com ninguém. Continuei [Lotes arrendados para
fotografando os galpões. cultivo na Tenantry Down Road]
Fotógrafo: Mike Fearey
Sábado, 12 de janeiro, 1991.
A abordagem de Fearey, simples e
Horário 14h48 prática, passeia com o espectador
Velocidade: 11125 s f16. pelo loteamento. A diferença nos
pontos de vista de cada imagem
Primeira visita aos lotes da Tenantry Down sugere que não são as construções
Road em 1991. Dia bonito e ensolarado; e canteiros que devem ser
sem nuvens, mas com vento norte. Poucas comparados ou examinados em
detalhe, mas sim o modo como a
pessoas por aqui no momento. Tudo parece terra e seus habitantes trabalham
adormecido. Trouxeram estrume de cavalo JUntos como um todo sazonal e
no Ano-novo. Conheci Caroline. Conversei ntmicamente em mudança.
com um rapaz que tem um lote vizinho
ao do pai na parte alta da encosta. Todos
os vidros de seu galpão foram quebrados,
mas os vândalos não conseguiram quebrar
a porta interna de metal - nada foi levado.
....................
160-161
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O texto na 1magem ! Informação complementar 1Estudo de caso 7


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D
Titulo: da série Uncertalnty [Incerteza]
Fotógrafo Trevor Williams
"Levado por mmha áv1da amb1ção e Inclinando para lá e para cá. para tentar
desejoso de ver a grande profusão discem1r alguma coisa em seu mtenor;
de estranhas formas cnadas pelo mas isso me f01 negado pela 1mensa
engenho da natureza, vague1 por escundão que nela habitava; depois
algum tempo entre os penhascos de algum tempo, do1s sent1mentos
umbrosos até me deparar com a subitamente brotaram em m1m: medo
entrada de uma grande caverna. e desejo - medo daquela caverna
Permaneci diante dela por algum escura e ameaçadora. e desejo de
tempo, aturdido, perplexo com a ver se haveria lá dentro alguma
ex1stênc1a de algo assim, as costas espécie de milagre.·
encurvadas. a mão esquerda
descansando em meu joelho. Leonardo da Vinc1 (1452-1519). pintor,
a d1reita fazendo sombra para c1entista e f1lósofo renascentísta
os olhos. a todo momento me
162-163

Estudo
de caso
A grande paixão de Trevor Willíams é a mecânica quântica, ramo da física
que descreve o comportamento das partículas subatômicas. Uncertainty,
seu trabalho final para a graduação em fotografia, em 1997, se baseia nessa
paixão. O objetivo de Williams era responder ao tema com uma série de fotos
e comunicar sua compreensão e interpretação visual dos princípios fundamentais
da teoria ilustrando-os não de forma literal, mas evocando a essência dos
conceitos envolvidos. A intenção era que o público se envolvesse com a ideia
da mecânica quântica por meio das fotos. Williams concebeu uma estratégia
para fotografar objetos e cenas do cotidiano de uma maneira que atraísse
a atenção do espectador para o modo como a luz pode iluminar a existência
da matéria.
Ao experimentar sua abordagem técnica, Williams considerou a apresentação
final e o uso de texto. Ele poderia ter simplesmente oferecido uma
introdução para as fotos que explicasse em linguagem simples algumas
das ideias básicas por trás da mecânica quântica e da intenção do projeto.
No entanto, essa abordagem poderia se tornar excessivamente pessoal, com
pouca relevância para o espectador, ou criar uma via para a falta de coerência
entre as imagens; Williams, então, procurou uma estrutura que mantivesse
a coesão das imagens.

~ Informação complementar Estudo de caso Exercícios e resumo -.


........
.............
Estudo de caso: lncetteza - Trevor Williams

Interpretando palavras e imagens


DepoiS de muito discutir e compartilhar suas expenências
com os colegas, Williams chegou a 11 pontos-chave

Título: da série Uncertalnty
[Incerteza]
Fotógrafo· Trevor Williams
para fotografar e apresentar. Ele decidiu usar as 11letras
Duas das 11 imagens f1nais
da palavra uncertainty [incerteza] impressas em serigrafia apresentadas em um quadro sob
sobre um quadro branco, com cada uma das 11 reproduções med1da: o titulo Uncertamry corre
cibachrome (em slides com dimensões 20 x 20 em) na parte supenor das fotografias,
e o texto de Leonardo da Vinc1 está
lammadas sobre placas de espuma e colocadas debaixo disposto em colunas embaixo
das 11 letras. Na parte inferior das imagens ele colocou de cada 1magem. A prime~ra v1sta.
passagens de um texto de Leonardo da Vinci (ver pág1na parecia que o texto era uma seleção
aleatóna de palavras; entretanto, ao
anterior), de maneira que a cada imagem correspondesse ser lido da esquerda para a d1reita, o
uma coluna de palavras. Feito sob medida, o quadro media sigmhcado aparecia. Usar esse estilo
61 x 2,34 em e tinha 5 em de profundidade. de apresentação pode repercut1r
a unidade conce1tual por trás do
Williams explica: "A intenção era quest1onar a ideia de trabalho.
conhecimento absoluto - jogando com as convenções
de como vemos e interpretamos palavras e imagens,
métodos pelos quais adquirimos muito de nosso conhecimento.
Quando as pessoas olhavam pela primeira vez para as colunas
de palavras embaixo das imagens, viam palavras aleatórias.
Porém, ao fazer a leitura de uma coluna para outra, o texto fazia
sentido. Usei esse método de apresentação a fim de repercutir


minha intenção. Eu queria que o público descobrisse por si
mesmo como olhar para as imagens e o texto".
O risco de um projeto que se baseia em questões científícas Titulo: da série Col/apslng
the Wave Functlon [Colapso
ou filosóficas complexas é que pode dificultar o debate crít1co da função de onda]
sobre as fotos - ou porque a natureza e a complexidade Fotógr~ro: Trevor Willlams
do assunto obstruem a discussão, ou porque a intenção Wilhams continuou a desenvolver as
por trás das imagens nega qualquer debate crítico por ser 1deias de Uncertamty e atualmente
autoafirmativa ou evasiva. está trabalhando no projeto de longo
prazo Collapsmg the Wave Funct1on.
A chave para o bom resultado desse projeto foi a participação termo emprestado da teona da
ativa de Williams em uma comunidade de fotografia prática e mecân1ca quântica. lnsp~rado
pela mane~ra como os fotógrafos
seu conhecimento profundo da mecânica quântica. Em função gravavam seus d~reitos autora1s
da discussão regular com seus colegas, Williams teve de nas bordas das fotos anal6g1cas
comunicar verbalmente sua intenção, o que o ajudou a definir 1mpressas manualmente, W1lliams
grava um texto em cada 1magem, no
claramente suas ideias. A abordagem sistemática de Williams canto esquerdo Inferior, que compila
para fazer fotografias, apresentando-as em seminários, trocando os dados autoraiS, a descnção do
ideias, recebendo feedback e depois usando esse feedback projeto e a fórmula matemática
do colapso da função de onda.
para fazer novas fotos, revelou ser um método de trabalho
disciplinado e proativo que lhe permitiu desenvolver a obra.
A apresentação final é um exemplo de como uma relação
simples entre texto e imagem pode comunicar ideias
complexas.
.. 164-165

Uncertainty

a desenvolver as
e atualmente
no projeto de longo
the Wave Functíon,
da teoria da

em cada imagem, no
inferior. que compila
a descrição do
matemática
função de onda.

.......
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.,_ Informação complementar 1Estudo de caso 1Exercícios e resumo -:;..

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