Você está na página 1de 36

História e Estética

Fotográfica
Material Teórico
O Mundo Passa a Ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Me. Rita Garcia Jimenez

Revisão Textual:
Prof.ª Esp. Kelciane da Rocha Campos
O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999)
e a Fotografia Publicitária,
de Gastronomia e de Ação/Esportes

• Introdução;
• Magnum Photos;
• Polaroid: A Câmera “Mágica”;
• Evolução da Fotografia em Cores;
• Eletrônica a Serviço da Fotografia;
• Retratos de Celebridades;
• Paparazzo: um Mosquito?
• A Fotografia Publicitária, de Dastronomia e de Ação/Esportes.

OBJETIVO DE APRENDIZADO
· Conhecer, contextualizar e analisar historicamente as diferentes fa-
ses do desenvolvimento da fotografia, técnica e artisticamente, na
segunda metade do século XX, assim como tendências, estilos e mo-
vimentos estéticos da fotografia;
· Reconhecer os subgêneros da fotografia publicitária, de gastrono-
mia e de ação/esportes a partir de sua história e principais nomes
de seus profissionais.
Orientações de estudo
Para que o conteúdo desta Disciplina seja bem
aproveitado e haja maior aplicabilidade na sua
formação acadêmica e atuação profissional, siga
algumas recomendações básicas:
Conserve seu
material e local de
estudos sempre
organizados.
Aproveite as
Procure manter indicações
contato com seus de Material
colegas e tutores Complementar.
para trocar ideias!
Determine um Isso amplia a
horário fixo aprendizagem.
para estudar.

Mantenha o foco!
Evite se distrair com
as redes sociais.

Seja original!
Nunca plagie
trabalhos.

Não se esqueça
de se alimentar
Assim: e de se manter
Organize seus estudos de maneira que passem a fazer parte hidratado.
da sua rotina. Por exemplo, você poderá determinar um dia e
horário fixos como seu “momento do estudo”;

Procure se alimentar e se hidratar quando for estudar; lembre-se de que uma


alimentação saudável pode proporcionar melhor aproveitamento do estudo;

No material de cada Unidade, há leituras indicadas e, entre elas, artigos científicos, livros, vídeos
e sites para aprofundar os conhecimentos adquiridos ao longo da Unidade. Além disso, você
também encontrará sugestões de conteúdo extra no item Material Complementar, que ampliarão
sua interpretação e auxiliarão no pleno entendimento dos temas abordados;

Após o contato com o conteúdo proposto, participe dos debates mediados em fóruns de discus-
são, pois irão auxiliar a verificar o quanto você absorveu de conhecimento, além de propiciar o
contato com seus colegas e tutores, o que se apresenta como rico espaço de troca de ideias e
de aprendizagem.
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Introdução
Após a Segunda Guerra Mundial (1939-1945), e até o início dos anos 1970,
os países ocidentais, principalmente, viveram um período de grande prosperidade
econômica, inclusive aqueles castigados duramente pelo conflito, como Alema-
nha, Japão e França. O período também foi marcado pela criação, em 1945, da
Organização das Nações Unidas (ONU), com sede em Nova York, cujo objetivo é
promover a cooperação internacional. Neste cenário, “os Estados Unidos concen-
travam sozinhos a quase totalidade da liquidez mundial. Seu território continen-
tal não havia sido atacado, e sua infraestrutura e malha industrial saíram ilesas”
(GASPAR, 2015, p. 268).

Figura 1 – Saul Leiter. Táxi, Nova York, 1957. Leiter trocou os filmes em preto e
branco pelos coloridos em 1948. O fotógrafo imortalizou as ruas de Nova York por mais
de meio século, desde os anos 1950, até sua morte, em novembro de 2013
Fonte: sva.edu

O desenvolvimento da pesquisa na área fotográfica, especialmente no território


norte-americano, por meio de George Eastman (leia-se Kodak), na época, fez com
que, em 1946, por exemplo, chegasse ao mercado o Kodak Ektachrome, o primei-
ro filme negativo colorido que os fotógrafos amadores podiam processar em casa,
usando os recém-lançados kits de químicos, simplificando a fotografia colorida.
E o que falar sobre a criação da mais importante agência de fotografia do mundo, a
Magnum Photos, em 1947, e que existe até hoje? Da câmera “mágica” Polaroid?
E da consolidação da fotografia em cores e de tantos outros momentos marcantes
na história da fotografia até o final do século XX? Então, vamos conferir!

8
Magnum Photos
“Magnum é uma comunidade de pensamento, uma qualidade humana comparti-
lhada, uma curiosidade sobre o que está acontecendo no mundo, um respeito pelo
que está acontecendo e um desejo de transcrever visualmente.” A frase de Henri
Cartier-Bresson (1908-2004) contextualiza o perfil da mais importante agência de
fotografia já criada: a Magnum Photos (https://goo.gl/9pyspV).

Logo após o fim da Segunda Guerra Mundial, em 1947, o húngaro Robert Capa
(1913-1954), o britânico George Rodger (1908-1995), o polonês David Seymour
(1911-1956) e o francês Cartier-Bresson, seguindo um modelo de cooperativa,
conceberam a agência “com o objetivo de tornar seus integrantes independentes
das revistas, que até então conservavam os direitos das fotografias que encomen-
davam” (HACKING, 2012, p. 326).

A Magnum documentou (e documenta) os principais eventos e personalidades


do mundo desde a sua criação, cobrindo indústria, sociedade e pessoas, locais de
interesse, eventos políticos e noticiosos, desastres e conflitos. “Resumindo, quando
você imagina uma imagem icônica, mas não consegue pensar em quem a tirou
ou onde ela pode ser encontrada, provavelmente veio da Magnum” (MAGNUM
PHOTOS, 2018).

Figura 2 – George Rodger. Os núbios, 1949. Fotografia. O campeão de uma luta livre
núbio é carregado nos ombros por seu oponente em uma aldeia no Sudão (África)
Fonte: Hacking, 2012

9
9
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Há mais de 70 anos, a Magnum fornece conteúdo fotográfico de alta qualidade


para uma base internacional de mídia, editores, marcas e instituições culturais.
A sua biblioteca é um arquivo atualizado regularmente com novos trabalhos de
todo o mundo, mas permanecendo fiel aos seus valores originais de “excelência
intransigente, verdade, respeito e independência” (MAGNUM PHOTOS, 2018).
Para que um fotógrafo seja associado da agência, é necessário um processo míni-
mo de mais de dois anos. Ser integrante da Magnum é um dos melhores reconhe-
cimentos da carreira de um fotógrafo. Atualmente, a agência possui escritórios em
Nova York, Paris e Londres.
A criação da Magnum possibilitou a seus fundadores afirmarem-se como
defensores de um fotojornalismo livre de estrutura que submetia a im-
prensa aos interesses do poder, um jornalismo humanista e de qualidade,
adotando como prática a proibição do uso de suas fotos fora do contexto
em que foram concebidas. (TOREZANI, 2015.)

Figura 3 – Robert Capa. Pablo Picasso e Françoise Gilot, 1948. Fotografia


Fonte: aperture.org

10
Polaroid: A Câmera “Mágica”
“A fotografia Polaroid tem uma materialidade imediata, que se distancia dos
processos fotográficos convencionais e a aproxima mais da imagem digital contem-
porânea [...]” (FRANDOLOSO, 2014, p. 12). Por incrível que pareça, a fascinante
história da Polaroid tem início na indagação de uma criança de três anos, que não
entendia por que demorava tanto para ela ver as suas fotos das férias de verão.
O pai, o cientista norte-americano Edwin H. Land (1909-1991), respondeu à sua
filha com a colocação no mercado, em 1948, de uma das mais revolucionárias câ-
meras fotográficas já comercializadas: a Polaroid Land Model 95 (Fig. 4), primeira
câmera fotográfica instantânea da história. A partir daquele momento, a filha de
Land poderia ver as suas fotos reveladas em até 60 segundos após serem tiradas.

Figura 4 – Polaroid Land Model 95, a primeira câmera instantânea do mundo, lançada em 1948
Fonte: iStock/Getty Images

O primeiro modelo Polaroid fez tanto sucesso que permaneceu em produção,


com apenas pequenas alterações, até 1961. Foram fabricadas mais de 1,5 milhão
de câmeras do Modelo 95, incluindo as variações 95A e 95B. Na época, os produ-
tos Polaroid eram distribuídos em mais de 45 países em todo o mundo. Entretanto,
a principal dificuldade encontrada pelas câmeras Polaroid no mercado foi o alto
custo unitário das fotos, sua qualidade questionável e o pequeno tamanho de suas
fotos: 6 x 10 cm.

11
11
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

O apogeu da marca se deu nos anos 1970 com o lançamento do modelo SX-70
Land (Fig. 5), considerada uma das melhores câmeras instantâneas já fabricadas.
A câmera era completamente automática e revolucionária com um sistema de
fole, que, quando fora de uso, podia ser dobrada, cabendo em qualquer bolso.
Até 2002, a Polaroid havia fabricado um total de 13 milhões de câmeras.

Figura 5 – Polaroid SX-70 Land, lançada em 1972, com estojo e caixas


com filmes em cores e preto e branco. Um sucesso
Fonte: iStock/Getty Images

Figura 6 – O criador da Polaroid, Edwin Land, foi capa da revista Life, em outubro de 1972.
Ele segura uma Polaroid SX-70 Land, considerada uma das melhores câmeras instantâneas já fabricadas
Fonte: aiga.org

12
Co Rentmeester. Sem título, 1972. O fotógrafo da revista Life teve a oportunidade de experi-
Explor

mentar a câmera Polaroid SX-70 Land antes do seu lançamento comercial: https://goo.gl/Z2g2rS

Steve Jobs & Edwin Land


Explor

Edwin Land, criador da Polaroid, é o caso de um inventor com imensas habilidades nos negócios.
Uma união perfeita. Entre as décadas de 1950 a 1970, a Polaroid foi considerada a mais
inovadora empresa de tecnologia do mundo, possuindo menos patentes apenas que Thomas
Edison, criador da lâmpada elétrica incandescente, entre suas 2.332 patentes registradas.
Steve Jobs, assumia abertamente ter várias vezes visitado Edwin Land e usado a Polaroid como
modelo para criar a Apple, aliando qualidade com simplicidade de uso. Deu certo!

Vamos ver como ocorre a “mágica” em uma câmera Polaroid analógica:

Quadro 1 – Processo químico e físico das primeiras câmeras Polaroid


· O material para o positivo e o negativo estão presentes em cada fotografia,
além do revelador e do fixador. Quando a foto é retirada da câmera,
elementos químicos reagem e juntam-se, homogeneamente, revelando e
fixando a fotografia rapidamente.
· Ao apertar o disparador, o filme Polaroid passa entre dois mecanismos,
que estouram uma bolha com reagentes químicos. Esta bolha é uma
cápsula que fica na borda do papel, longe do material sensível à luz
(prata), impedindo que ele seja revelado antes da exposição”.
· O líquido é espalhado para o meio do papel-filme, que é composto de
várias camadas químicas sensíveis à luz.
· Os reagentes penetram nas camadas do filme e ativam os reveladores, que
soltam as tintas coloridas para formar a foto na camada da imagem.
· Os reagentes dissolvem os bloqueadores de luz, que, com a reação
química, ficam mais claros. A imagem já está revelada, mas o clareamento
faz com que ela apareça aos poucos, dando a impressão de estar se
formando só depois que sai da câmera.
Fonte: Torezani, 2015.

A Polaroid também não resistiu à investida digital, que ocorreu forte a partir do
final do século XX. Em 2008, a empresa lançou a PoGo digital com a inovadora
tecnologia de impressão Zink, sem o uso de tinta (Zero ink). O segredo está no
papel, que possui cristais de corantes, ativados no momento da impressão da foto.
Tudo isso em menos de um minuto. Também é possível, por meio de bluetooth,
enviar imagens de celular para a impressora compatível com a tecnologia. A câme-
ra possibilita a edição da fotografia antes da sua impressão.
Explor

Polaroid PoGo digital com tecnologia de impressão Zink: https://goo.gl/c7ecsT

13
13
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Explor
Em 2010, a Polaroid firmou parceria com a cantora pop norte-americana Lady Gaga, que
assumiu o posto de diretora criativa da marca, em uma clara intenção de modernizar e atrair
jovens consumidores. Gaga ajudou na criação de novos modelos de máquinas digitais – como a
GL30 (Fig. 7a e b), com resolução de 12 megapixels e tecnologia de impressão instantânea Zink
– lançados comercialmente, em 2011, nas cores preta, azul e vermelha. Outro produto criado
com a colaboração da cantora foram uns óculos que permitem ao usuário tirar e exibir fotos por
meio das suas lentes (Fig. 7c). A história da Polaroid parece não ter fim.

Figuras 7a e 7b – Câmera GL30, com tela LCD – para mostrar


as fotos para os amigos – e impressora “escondida” na base
Fonte: Divulgação

Figura 7c – Óculos Polaroid GL20


Fonte: Divulgação

Evolução da Fotografia em Cores


Por que a fotografia em cores não teve uma disseminação mais rápida em
comparação com o desenvolvimento da fotografia em preto e branco? A resposta
pode estar, conforme Dias (2016), em dois motivos básicos: dificuldade de fixar a
imagem em cores em um suporte viável do ponto de vista técnico; e o medo que
alguns fotógrafos tinham de mudar para um processo no qual perderiam parte do
controle da revelação e da impressão (além de ser mais dispendioso).

14
Entretanto, a introdução comercial da máquina de 35 mm, na década de 1930,
fez com que tudo mudasse. Os fotógrafos saíam mais facilmente dos estúdios para
realizar trabalhos de moda, documental ou autoral, com um investimento menor se
comparado com as máquinas de médio e grande formatos. Os fotógrafos passaram,
então, a se arriscar mais na utilização da cor.

Nas revistas do grupo editorial Condé Nast – Vogue, Vanity Fair e House &
Garden –, por exemplo, o uso de fotografias em cores foi incentivado a partir da
década de 1950, tendo como mote a ousadia e o moderno. O sucesso da fotogra-
fia em cores na publicidade e na moda nessas revistas foi tão grande que o grupo
“se viu sob o risco de adquirir uma reputação de frivolidade comercial populista,
ao passo que imagens em preto e branco transmitiam uma ideia de rigor artístico e
seriedade” (HACKING, 2012, p. 396). Sem querer ficar para trás, a Life publicou,
em setembro de 1953, 24 fotografias coloridas de Nova York, feitas pelo imigrante
austríaco Ernst Hass (1921-1986) – integrante da Magnum –, considerado um dos
mestres da fotografia em cores (Fig. 8).

Figura 8 – Ernst Hass. Billboard painter, Nova York, 1952. Fotografia


Fonte: Ernst Hass, 1952

“17 lições que Ernst Haas me ensinou sobre fotografia de rua”, por Eric Kim. O website
Explor

de Eric Kim é em inglês, entretanto, caso você queira ler o material em português, basta
clicar com o botão direito do mouse e clicar em “Traduzir para o português”:
https://goo.gl/Xaw7EL

15
15
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Figura 9 – Ernst Haar. Kyoto, Japão, 1984. Fotografia


Fonte: Ernst Hass, 1984

A partir da década de 1960, a fotografia em cores realmente disse a que veio,


atingindo o mesmo nível da imagem em preto e branco em diversas categorias,
como natureza, retrato, guerra, moda, publicidade, fotografia documental e cien-
tífica. Nesse período, também foi iniciada a formação acadêmica de fotografia em
escolas e universidades.

Até os anos 1980, a maioria dos fotógrafos que trabalhava com a imagem em
cores era bem remunerada somente pelos seus trabalhos em fotografia de moda ou
em trabalhos encomendados para outro tipo de produção. “Em galerias de arte ain-
da prevalecia o valor da imagem monocromática, sendo que muitos trabalhos feitos
a cores só atingiram preços elevados quando muitos dos seus autores já tinham fa-
lecido” (DIAS, 2016, p. 62). Outros atingiram esse reconhecimento público ainda
vivos, como William Eggleston (1939 —) e Annie Leibovitz (1949 —), entre outros.

Figura 10 – William Eggleston. Sem título, Menphis, 1970. Fotografia


Fonte: HACKING, 2012

16
A fotografia documental também se rendeu às cores. Um dos mestres neste tipo
de trabalho, que combina as cores como ninguém, é o fotojornalista norte-ameri-
cano Steve McCurry (1950 —). Ele ficou mundialmente conhecido pela imagem
de uma jovem afegã, publicada na capa da National Geographic Magazine, em
junho de 1985. McCurry é adepto da fotografia digital desde o seu aparecimento,
nos anos 1990, pela facilidade de observação e de correção de imagens, principal-
mente em áreas, regiões ou situações onde pode não haver uma segunda tentativa
(DIAS, 2016).

Steve McCurry. Fotografia da jovem afegã Sharbat Gula em um campo de refugiados da


Explor

cidade de Peshawar (Afeganistão), em 1985. A imagem foi capa da revista National


Geographic, em junho de 1985: https://goo.gl/FHMsRt

Eletrônica a Serviço da Fotografia


A introdução de componentes eletromecânicos e eletrônicos em câmeras foto-
gráficas, a partir da década de 1950, seguiu a tendência geral de aplicação da tec-
nologia na época, especialmente, em benefício da automação de processos antes
mecanizados. Essa orientação seguia a mesma demanda que levava à automação
na indústria: aumento de produção, controle dos padrões de qualidade e redução
dos custos de produção.

A indústria fotográfica do século XX, conforme Libério (2013), trabalhou para


tornar a fotografia uma atividade descomplicada e de operação simples, principal-
mente na operação do dispositivo fotográfico, com a inserção de componentes ca-
pazes de calcular ajustes, sem a necessidade de interferência do fotógrafo. O resul-
tado foi o lançamento de equipamentos capazes de realizar fotografias a partir de
modos automáticos, passando a ter grande influência sobre a forma de aquisição
de imagens. A primeira câmera com filme 35 mm com programação automática
de exposição, conforme a autora, foi a alemã Agfa Optima, de 1959.
Se você pedisse aos especialistas dos laboratórios fotográficos líderes
de mercado para listar os problemas mais comumente encontrados nas
fotos de clientes, eles rapidamente responderiam: exposição imprópria,
enquadramento ruim e erro de foco. Sistemas automáticos conseguem
agora dar conta do cálculo da exposição fotográfica para várias pessoas.
O enquadramento ainda precisa estar na cabeça do fotógrafo. E, até re-
centemente, este também era o caso com a escolha do foco, mas agora,
sofisticados sistemas eletrônicos estão começando a colocar um fim nisso.
(LIBÉRIO apud JACOBS, 1980, p. 97.)

17
17
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Figura 11 – Câmera fotográfica Agfa Optima, de 1959, a primeira com programação automática de exposição
Fonte: Wikimedia Commons

As indústrias fotográficas japonesas, como Nikon, criada em 1917; Olympus e


Asahi Pentax, em 1919; Minolta (1928); Canon (1933); Fuji (1934); e Yashica,
fundada em 1949, passariam, a partir de meados do século XX, a praticamente
dominar o mercado de dispositivos fotográficos, essencialmente pela sua qualidade
e inovação tecnológica – liderança confirmada ainda mais a partir do final do século
XX, com as câmeras digitais.

A Yashica Electro 35 (Fig. 12), lançada em 1966, revolucionou a oferta de câ-


meras amadoras com um modelo compacto e novas tecnologias, como o obturador
eletrônico e exposição semiautomática. O equipamento teve várias atualizações até
o início dos anos 1970, quando foi substituído pela Yashica ME1 (Fig. 13), câmara
amadora de visor direto que bateu recordes de venda e motivou a instalação de uma
fábrica da Yashica no Brasil, em 1977. Esses dois modelos utilizavam filme 35 mm.

Figura 12 – Yashica Electro 35, lançada em 1966, com obturador eletrônico e exposição semiautomática
Fonte: Wikimedia Commons

Figura 13 – Yashica ME1: recorde de vendas e fábrica no Brasil, em 1977


Fonte: Wikimedia Commons

18
As 35 mm SLR (single-lens reflex) – ou simplesmente reflex, em que o fotógrafo
enxerga o objeto refletido por um conjunto de espelhos (visor óptico) – da Pentax,
Nikon, Canon, Minolta e Yashica, a partir do final da década de 1950, marcam a
chegada das máquinas de uma única lente, com enquadramento por meio da obje-
tiva. Os dispositivos permitem o uso de grande-angulares e teleobjetivas potentes,
além de motordrive para transporte rápido do filme.
As câmeras que mais se destacaram nessa época foram as da Nikon, que, após
tentativas de conquistar o mercado desde 1917, obtiveram êxito com a linha Nikon
F (Fig. 14). A primeira de muitos modelos Nikon F foi lançada em 1959 e se tornou
um sucesso mundial (EPRIN, 2018). Juntamente com a Leica M3, ela se tornaria a
preferida dos repórteres fotográficos. Nikon e Canon passam, então, a dominar o
mercado mundial de câmeras analógicas, até o final do século XX. A Canon AE-1,
por exemplo, foi a primeira no mundo a vir com um microcomputador embutido,
em 1976 (Fig. 15).

Figura 14 – A primeira Nikon F foi lançada em 1959


Fonte: Wikimedia Commons

Figura 15 – Canon AE-1, a primeira câmera do mundo a vir com um microcomputador embutido
Fonte: Wikimedia Commons

Em 1981, a Sony, outra marca japonesa, apresentou a Sony Mavica (abreviatura


de MAgnetic VIdeo CAmera), cuja principal característica era gravar as fotos (em
formatos de arquivos de imagem) em discos removíveis. As primeiras Mavicas não
eram exatamente câmeras digitais, mas “câmeras de vídeo estático”, ou seja, eram
basicamente câmeras de TV que congelavam imagens. As câmeras realmente
digitais só se tornariam populares na década de 1990.

A Sony Mavica (1981) – com lentes intercambiáveis – foi a primeira câmera totalmente
Explor

eletrônica que gravava as fotos em discos removíveis: https://goo.gl/NiR8ft

19
19
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Retratos de Celebridades
A era de ouro do cinema de Hollywood – entre os anos 1920 e 1960 –, prin-
cipalmente com os grandes filmes musicais, transformou rapidamente atores em
astros internacionais, levando consigo ao estrelado personalidades da música, da
arte, da literatura, da política e até da ciência. E as revistas de jornalismo, moda e
entretenimento precisavam de retratos dessas personalidades. Assim, a partir do
final da década de 1940, publicações como Life, Harper’s Bazaar e Fortune, nos
Estados Unidos, contrataram fotógrafos no mundo inteiro para entregar-lhes ima-
gens exclusivas dessas celebridades.
Retratos executados de forma meticulosa se tornaram cruciais na promo-
ção da aura das celebridades. Iluminados com esmero, habilmente estili-
zados e primorosamente retocados, esses retratos moldavam e fixavam a
imagem de uma estrela na mente do público. (HACKING, 2012, p. 350.)

O fotógrafo norte-americano Arnold Newman (1918-2006) se destacou nessa


área, assinando retratos icônicos de algumas das personalidades mais influentes e
inovadoras do século XX, entre pintores, cineastas, celebridades e figuras políticas.
Com uma carreira de quase sete décadas, ele é celebrado e reconhecido pela com-
posição meticulosa e por seu método de trabalho, que buscava captar a essência
de seus fotografados, mostrando-os em seus ambientes pessoais ao invés de serem
clicados em estúdio.

Uma das imagens mais famosas de Newman é um ensaio com o compositor,


pianista e maestro russo Igor Stravinsky (Fig. 16), uma das mais importantes figuras
da música do século XX. Ao colocar o retratado em um cenário que refletia sua
profissão ou personalidade, o fotógrafo desenvolveu um estilo próprio de retrato
“ambientado”. Ele observou como a tampa do piano faz lembrar a forma de um
bemol1, “sólido, forte e linear, as mesmas características que definem a música de
Stravinsky” (HACKING, 2012, p. 350).

Já o fotógrafo Irving Penn (1917-2009), que por mais de meio século tirou
fotografias para a Vogue americana, produzia suas fotos de celebridades, como o
artista Marcel Duchamp e o estilista Christian Dior, por exemplo, em um estúdio
anônimo (poucos sabiam do endereço), não bajulava os modelos e, na maioria das
vezes, “enfatizava a artificialidade do ambiente por meio da inclusão de cabos de
eletricidade e cenários montados” (HACKING, 2012, p. 351). Normalmente, ele
escolhia um fundo neutro que excluía toda e qualquer sugestão de narrativa, sem
objetos cênicos ou qualquer outra referência que demonstrasse a personalidade
retratada. “Era comum haver guimbas de cigarro, pedaços de tapetes e cabos à vista
no chão não pintado do estúdio, gerando o que Alexandre Liberman, diretor de arte
da Vogue, viria a reconhecer como ‘a sordidez do período’” (HACKING, idem).

1.  − Sinal gráfico que indica a redução de um semitom (meio tom) da nota que precede.

20
Figura 16 – Arnold Newman. Igor Stravinsky, cidade de Nova York, 1946. Fotografia
Fonte: moma.org

Figuras 17, 18 e 19 – Irving Penn. O ator Spencer Tracy, a artista visual


Georgia O’Keeffe e o estilista Jacques Fath, respectivamente. Fotografias
Fonte: artic.edu

O fotógrafo russo, naturalizado norte-americano, Philippe Halsman (1906-1979)


também tem parte nesta história ao realizar importantes retratos de Marilyn Mon-
roe e Salvador Dalí (Fig. 20), por exemplo. Antes da Segunda Guerra Mundial, ele
contribui com trabalhos fotográficos para a Vogue, ganhando reputação de um
bom retratista. Mas, foi com a fotografia do cientista Albert Einstein, em 1947,
que ele fez uma de suas mais famosas fotografias. Durante a sessão de fotos, um
triste Einstein contou seus arrependimentos sobre seu papel nos Estados Unidos,
pesquisando a bomba atômica. A foto seria usada mais tarde, em 1966, em um
selo postal dos Estados Unidos e, em 1999, na capa da revista Time, nomeando o
cientista a “Pessoa do século” (TOREZANI, 2015).

21
21
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Figura 20 – Philippe Halsman. Dalí atômico, 1948. Instantâneo fotográfico.


Halsman não usou montagens nem qualquer truque, apenas encenação e muita preparação,
paciência e numerosas tentativas. Por fim, na 28ª sessão foi conseguido o efeito pretendido
Fonte: moma.org

Philippe Halsman. Albert Einstein, 1947. Fotografia. Capa da revista Time, de dezembro de
Explor

1999: https://goo.gl/TirXgx

Um dos mais conceituados fotógrafos contemporâneos de celebridades do mun-


do é o norte-americano Mark Seliger (1959 —). Desde sua primeira contribuição à
revista Rolling Stone, em 1987, pelas três décadas seguintes, em trabalhos edito-
riais e projetos pessoais, ele fotografou desde o Dalai Lama (Fig. 21) e o presidente
Barack Obama (Fig. 22) até a comunidade transexual de Nova York e os últimos
remanescentes sobreviventes do Holocausto. Suas imagens documentam atores e
músicos, além de ativistas de direitos humanos e líderes políticos e espirituais que
moldaram a história (GOTTSCHALK, 2018).

22
Figura 21 – Mark Seliger. Dalai Figura 22 – Mark Seliger. Figura 23 – Mark Seliger.
Lama, 2011. Fotografia Presidente Barack Obama, Kurt Cobain, 1993. Fotografia
Fonte: Mark Seliger, 2011 2010. Fotografia Fonte: Mark Seliger, 1993
Fonte: Mark Seliger, 2010

Paparazzo: um Mosquito?
Avanços técnicos, como dos filmes de alta sensibilidade, das lentes teleobjetivas
e do flash, contribuíram para a redução da fronteira entre as vidas públicas e
privadas das celebridades a partir da década de 1960. Muitos fotógrafos, oriundos do
fotojornalismo, fizeram fama ao fotografar famosos, de preferência em ambientes
pouco convencionais, para revistas e jornais. Foi quando surgiram os paparazzi
(a palavra paparazzi, plural de paparazzo2, é de origem italiana, designando os
fotógrafos de celebridades). “Na maioria dos casos, as fotos são ‘roubadas’, ou seja,
invadem a intimidade do ‘alvo’ e são tiradas sem o consentimento da celebridade”
(DIAS et al., 2016, p. 1). Os retratos altamente produzidos até então deram lugar
a instantâneos com a intenção de serem íntimos e autênticos.
A profissão de paparazzo ainda é muito criticada devido ao seu caráter
invasivo e antiético, que acaba muitas vezes gerando confusões. Tal ofício
é reprovado tanto pelas celebridades, como também por fotógrafos
de outras áreas. Entre tantos motivos que essa profissão é odiada, o
principal advém da manipulação de cenas, ou seja, a prática de fotografar
determinado momento alterando seu real contexto [...] Apesar das
controvérsias, é uma profissão que exige demasiado esforço, pois vale de
tudo para conseguir uma informação e foto antes de outros paparazzi, até
mesmo arriscar a própria vida. (DIAS, et al., 2016, p. 3 e 4.)

2. Uma das teorias para a origem do termo é uma analogia entre um mosquito siciliano chamado “papareceo” com a
profissão de paparazzo. Esse mosquito é conhecido por ficar rodeando e perturbando as pessoas; normalmente é
assim que esses fotógrafos são vistos: inconvenientes, como o mosquito (DIAS, et al., 2016, p. 2).

23
23
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Em agências de fotografia, um paparazzo pode exercer seu trabalho dentro do


staff – funcionário com salário fixo –, e ganhar bônus relativo à importância da
foto, ou pode exercer a atividade como freelancer, recebendo 70% do valor da
foto vendida. Em muitos casos, os paparazzi trabalham em equipe para facilitar
a realização da foto. Há, também, pessoas que colaboram com esses fotógrafos,
informando o paradeiro das celebridades e relatando o que fazem no momento.
Essas fontes acabam recebendo certa quantia pelas informações. “Há também
fotos que são tiradas com o consentimento da pessoa, como ensaios sensuais ou
subcelebridades que procuram os paparazzi, já que dependem deles para aparecer,
os chamados ‘flagras forjados’” (DIAS et al., 2016, p. 6).

Trocando ideias...Importante!
Ron Galella, o Rei dos Paparazzi
O fotógrafo norte-americano Ron Galella (1931 −) teve um relacionamento profissional
com Jackie Onassis que pode ser descrito como frenético. A ex-primeira-dama tornou-se
uma obsessão para ele e seu comportamento pode ser visto como “predador”. Jackie o
processou, conseguindo uma ordem de restrição que o manteria a 46 metros de distân-
cia, embora ele a tenha quebrado repetidamente. Quando essa distância foi reduzida
para 7,6 metros, Galella levava uma fita métrica enorme para que ele pudesse manter a
distância. “Por que eu tenho uma obsessão com Jackie? Eu analisei. Eu não tinha namo-
rada. Ela era minha namorada, de certa forma”, afirmou (TIME, 2018). O que você acha?
Galella é chamado de O Rei dos Paparazzi.
Explor

Ron Galella. Jackie Kennedy, Nova York, 1971: https://goo.gl/J4KZBf

Apesar de ser uma profissão não muito bem aceita pelos famosos, ela está
ganhando cada vez mais espaço no mercado como forma de entretenimento por
meio da exposição de celebridades, especialmente a partir do advento da internet.
Ao escolher a profissão de paparazzo, conforme Dias et al. (2016), é necessário
adquirir equipamentos específicos que costumam ir além de uma boa câmera.
O profissional deve levar em conta questões como situações de pouca luz, lentes
rápidas e com boa performance.

A câmera deve oferecer uma boa resposta do obturador, fotografando imedia-


tamente após ser clicada. Alguns acessórios também são imprescindíveis, como várias
lentes, sendo as mais utilizadas a 28-70 mm e a 70-200 mm, flashes, além de um
tripé – um paparazzo pode passar horas a fio à espera do momento oportuno–, uma
pequena escada desmontável, entre outros, dependendo do tipo de trabalho e poder
aquisitivo do fotógrafo.

24
Importante! Importante!

A morte da princesa Diana e de seu namorado Dodi Al-Fayed, em um acidente de carro


em Paris, em 1997, foi resultado da negligência do motorista Henry Paul, que também
morreu, e dos paparazzi, que perseguiam o veículo no momento da colisão, segundo um
inquérito judicial sobre o caso. A decisão judicial confirmou o inquérito e colocou fim às
teorias de conspiração sobre a morte da princesa.

Paparazzo Digital
A profissão de paparazzo, como muitas outras, está sendo alterada pela era da
internet. Uma prova disso são alguns sites destinados aos paparazzi amadores,
onde pessoas comuns podem postar fotos de celebridades tiradas por elas mesmas.
“Desse modo, indivíduos comuns passam de receptores para emissores de fotos
e notícias, apenas usando câmeras ou smartphones, acessíveis à maioria hoje em
dia” (DIAS, 2016, p. 8).

Até mesmo Instagram e Twitter acabaram se tornando uma grande rede de


paparazzi amadores, pois os usuários podem postar fotos a qualquer hora e de
qualquer lugar, repercutindo de modo instantâneo.

A Fotografia Publicitária, de Dastronomia


e de Ação/Esportes
A definição/criação de gêneros fotográficos, como retrato, paisagem, nature-
za-morta e documental, nas primeiras décadas do século XX, contribuiu para a
classificação e catalogação dos tipos de fotografia para cada um dos conjuntos
de variantes considerados como subgêneros. Nesse contexto, temos a fotografia
publicitária, de gastronomia e de ação/esportes, que ganharam importância nas
últimas décadas.

Fotografia Publicitária
A definição de fotografia publicitária a caracteriza como especialmente pro-
duzida para a difusão comercial de um produto, independentemente do suporte
escolhido pelo anunciante, que tanto pode ser a mídia impressa – jornais, revistas,
cartazes, outdoors ou folhetos – quanto audiovisual, como anúncios transmitidos
pela televisão, pelo cinema ou no meio digital (internet). Poucos recursos se torna-
ram tão indispensáveis quanto a utilização da fotografia no mercado publicitário.

25
25
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

De acordo com a Enciclopédia Itaú Cultural (2018), na fotografia publicitária, de


modo geral, a concepção prévia da imagem é esboçada pelo diretor de arte de uma
agência que detém a conta do cliente e a tomada da foto é respaldada na atuação de
um produtor que reúne o material necessário. Esse produtor pode, inclusive, organi-
zar os elementos constitutivos da composição. Nestes casos, esses profissionais po-
dem ser considerados como parceiros do fotógrafo na realização da fotografia final.

Gradualmente, nas primeiras décadas do século XX, as publicações foram subs-


tituindo as ilustrações nas propagandas por imagens fotográficas como o retra-
to, primeiro gênero fotográfico a ser incorporado de maneira mais sistemática à
propaganda. Normalmente, era utilizada a imagem de uma personalidade para
recomendar o uso do produto (PALMA, 2007).

A partir da década de 1920, o still-life fotográfico (composição com um ou


mais objetos de uso cotidiano, de pequeno porte) foi valorizado, em fotogra-
fias extremamente bem cuidadas do ponto de vista técnico e de composição.
Entretanto, “não havia intuito predefinido de destacar um ou mais aspectos dos
produtos, empregando técnicas e truques para embelezar objetos e espaços que
viriam a constituir futuramente uma sintaxe da imagem publicitária moderna”
(PALMA, 2007, p. 6).

Figura 24 – Ator Ramon Navarro para a brilhantina Stacomb. Revista A Cigarra, 15 out. 1929
Fonte: PALMA, 2007

Hoje, uma infinidade de produtos e serviços são anunciados sem que uma úni-
ca palavra seja dita, graças ao apelo e expressividade que a fotografia é capaz
de causar. Isso pode ser explicado, em parte, pela aproximação cada vez maior,
principalmente a partir da década de 1980, da fotografia publicitária com as artes
visuais e também da produção de uma imagem com extrema inovação estética em
detrimento apenas do produto ou serviço.

26
Desde 2004, o francês Jean-Yves Lemoigne trabalha para as melhores agências
do mundo, como DDB, BBH, Euro RSCG, Saatchi & Saatchi, BBDO, TBWA,
Wieden & Kennedy, criando fotografias para diversas marcas e campanhas. Seu
trabalho mais conceituado e conhecido é uma campanha para a marca de água
Perrier em que faz um tributo à obra surrealista do artista catalão Salvador Dalí
(1904-1989) (Fig. 25). Sua fotografia é considerada uma das melhores no mundo
da publicidade.

Jean-Yves Lemoigne. Campanha para a água Perrier. Fotografia e manipulação digital:


Explor

https://goo.gl/qHZiee

Fotografia de Gastronomia
Devido à expansão do mercado mundial de alimentos, com o crescimento de
redes fast-foods, de restaurantes, bares, padarias, alta gastronomia e espaços
gourmets, além de publicações impressas e online sobre gastronomia, aumentou,
consequentemente, a procura por profissionais que possam atender à demanda de
registros fotográficos especializados em alimentos. Assim, a fotografia gastronômica
passa a se tornar uma peça fundamental e influente, ao utilizar uma linguagem
específica para apresentar o alimento.
Talvez não passe pela cabeça das pessoas que um pimentão, para ser
fotografado e sobretudo para se impor com um poder de verossimi-
lhança irresistível, precisa ser preparado; é preciso escolher o legume
ideal em termos de cor e textura, trabalhar a sua casca com resinas
que lhe realcem o brilho, dispor a câmera e a iluminação de modo a
acentuar-lhe o relevo e assim por diante. Ninguém melhor que os fotó-
grafos que trabalham com publicidade conhece essa técnica de transfi-
gurar o referente para aumentar o poder de convicção de sua imagem.
(MACHADO, 1984, p. 56.)

A história da fotografia de alimentos começa a partir da segunda metade do


século XIX, bem próxima à origem da própria fotografia. Confira momentos
importantes no desenvolvimento da fotografia gastronômica:

Influência da Pintura
Em 1945, apenas seis anos depois do anúncio oficial da criação do daguerreótipo,
William Henry Fox Talbot (1800-1877), cientista inglês pioneiro da fotografia, fez
uma das primeiras imagens cujo motivo central era alimentos. Tratava-se de um
registro de cestas de pêssegos e um abacaxi. Nessa fase, em que livros de receita
raramente recorriam à fotografia e a publicidade era ainda incipiente, as fotos de
comida – na sua grande maioria frutas – eram fortemente influenciadas pelo gênero
natureza-morta da pintura.

27
27
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Figura 25 – William Henry Fox Talbot. A fruit piece, 1845


Fonte: metmuseum.org

Fotografia Gastronômica Caminha Sozinha


Na virada para o século 20, alguns fotógrafos, como o americano Paul Strand
(1890-1976), tentaram fotografar alimentos sem lançar mão das convenções da
natureza-morta. Nos anos 1930 e 1940, duas novidades transformaram a maneira
de representar a gastronomia em fotos: a popularização da fotografia em cores na
publicidade e a produção de panfletos promocionais e de livros de receitas com
imagens de alta qualidade, feitos por marcas de produtos alimentícios.

Figura 26 – Nickolas Muray. Lemonade and fruit salad, 1943


Fonte: aperture.org

A fotografia de comida não era mais apenas um gênero de arte, agora as imagens
eram utilizadas para vender. Para parecerem vivos e com cores atraentes, alguns
alimentos chegavam a receber uma camada de verniz ou spray para cabelo antes
do registro. A espuma da cerveja era substituída por bolhas de sabão e o leite de
cereais por cola (que, digamos, ainda é utilizada hoje).

28
Comida com Cara de Comida
Nos anos 1990, a fotografia comercial de comida passou a ser mais naturalista
e documental, e os alimentos voltaram a parecer mais comestíveis nas imagens.
Ao mesmo tempo, alimentos também estavam sendo utilizados por artistas e
fotógrafos em seus trabalhos artísticos e a qualidade das imagens dos livros de
receita tornou essas publicações mais parecidas com livros de fotografia.

Figura 27 – Revista Menu, nº. 160, 167 e 172, Editora Três, março de 2012
Fonte: SABBAG, 2014

Os Blogs de Gastronomia e o Instagram


No século XXI, a massificação das fotos de gastronomia por blogueiros e usuários
do Instagram, lançado em 2010, fez com que muito mais gente se interessasse por
comida e que as fotos de comida que se vê por aí ficassem cada vez melhores.

Contas do Instagram, como @symmetrybreakfast, de Michael Zee, conseguiram


atrair centenas de milhares de seguidores para suas refeições preparadas com arte.
As mídias sociais deram nova vida ao gênero.

Figura 28 – Michael Zee. @symmetrybreakfast, 2017


Fonte: Divulgação

29
29
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Fotografia de Ação/Esportes
Ao longo da história, muitas foram as dificuldades para que a fotografia de
esportes se consolidasse nas publicações. No passado, os fotógrafos de esportes
trabalhavam no “escuro”. As imagens registradas só eram vistas no momento de
sua revelação e ampliação. Nas coberturas de eventos esportivos importantes, os
fotógrafos montavam minilaboratórios nos banheiros dos hotéis, por exemplo,
revelando as fotografias captadas nos estádios e ginásios onde aconteciam as
competições. Hoje, em segundos, é possível ver os cliques e editá-los.

Desde as fotografias de esportes do francês Jacques Henri Lartigue (1894-1986),


na década de 1920 (Fig. 29), elas vêm sendo aprimoradas e impulsionadas pelos
desenvolvimentos tecnológicos, que criaram novas possibilidades expressivas.

Figura 29 – Jacques Henri Lartigue. Suzanne Lenglen, Nice, 1921


Fonte: Jacques Henri Lartigue, 1921

A evolução técnica da fotografia pode, conforme Oliveira (2012), ser dividida


em dois momentos fundamentais, ainda mais em relação à fotografia de ação
(esportes, natureza, cobertura de eventos):
1. As câmeras de 35 mm com controle de velocidade, que permitiram aos
fotógrafos o registro de imagens em movimento, por volta dos anos
1920/1930.
Para o fotojornalismo, a conquista do movimento revelou-se de impor-
tância vital, uma vez que permitiu “congelar” a ação, imprimi-la numa
imagem quase em tempo real, capturar o imprevisto, chegar ao instantâ-
neo e, com ele, acenar com a ideia de verdade: o que é assim capturado
seria verdadeiro; a imagem não mentiria [...] (OLIVEIRA apud SOUSA,
2000, p. 30.)

30
2. A tecnologia digital, surgida comercialmente nos anos 1990, que beneficiou
sobremaneira o profissional especializado em fotografia de ação. A automa-
ção da tomada fotográfica liberou o fotógrafo para fixar sua atenção no visor
da câmera, monitorando com mais precisão o desenrolar da ação.
No fotojornalismo a máquina digital começou a ser testada na Copa do
Mundo de Futebol dos Estados Unidos de 1994, mas o formato diferen-
te do corpo de câmera e as dificuldades em se transmitir os fotogramas
resultaram em seu pouco uso. Foi em outro grande evento esportivo que
esta tecnologia começou a chamar a atenção dos profissionais, nas olim-
píadas de Atlanta, em 1996, vários fotógrafos utilizaram o equipamento.
(OLIVEIRA, 2012, p. 2.)

Figura 30 – Eugênio Sávio. Atlético Mineiro, 2003. Fotografia


Fonte: SANTOS, 2004

Oliveira (2012, p. 7) afirma que comparar um fotógrafo a um atleta pode pa-


recer exagero, no entanto existem muitas semelhanças entre estas duas partes:
“Para a realização de um bom trabalho no campo do fotojornalismo esportivo é
necessário muito treino”. Segundo ele, assim como um jogador de qualquer mo-
dalidade, o fotógrafo necessita de muita prática para conseguir um bom resultado
no seu trabalho. “Uma das melhores maneiras de exercitar a fotografia esportiva
é presenciar treinamentos das equipes em pauta. Geralmente é quando os atletas
simulam situações de jogo e o fotógrafo pode trabalhar sem a pressão da cobertura
de uma partida oficial”, ensina.
Explor

Leo Mason. Olimpíada de Beijing, 2008: https://goo.gl/xATh74

31
31
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

  Sites
10 Fotógrafos de Gastronomia para Seguir no Instagram
https://goo.gl/E5JdRg

 Livros
Fundamentos da Fotografia Criativa
PRAKEL, David. Fundamentos da fotografia criativa. São Paulo: Gustavo Gili, 2015.

 Filmes
Amnésia (Memento)
Direção: Christopher Nolan. Estados Unidos, 2000. Sinopse: homem sofre de distúr-
bios de memória recente. O personagem, então, lança mão de várias estratégias para
encontrar segurança diante dos desdobramentos da trama, já que não tem a memória
natural. Um deles, além de tatuagens e anotações de caneta no corpo, é justamente o
uso de Polaroids para criar esse lugar de referência.
Sentença de um Assassino
Direção: Joshua Sinclair. Estados Unidos, 2008. Sinopse: Na década de 1950, o fotó-
grafo Philippe Halsman se torna famoso por fotografar artistas de sua geração, crian-
do imagens inesquecíveis de famosas personalidades, como Salvador Dali, Marilyn
Monroe, entre outros. Antes de ir para os Estados Unidos, porém, Halsman vive um
fato terrível. Ao embarcar para uma caminhada turística pela Áustria com seu pai, com
o qual mantinha uma relação turbulenta, algo inesperado acontece. O pai é encon-
trado morto numa trilha, e Halsman acaba sendo declarado culpado pela morte dele.

32
Referências
CAIN, Abigail. Food photography didn’t start on onstagram – Here’s its 170
year history (Fotografia de alimentos não começou no Instagram – Aqui está sua
história de 170 anos). 2017. Disponível em: <https://www.artsy.net/article/ar-
tsy-editorial-food-photography-start-instagram-170-year-history>. Acesso em: 25
jun. 2018.

CARVALHO JÚNIOR, Rone Fabio; VASCONCELOS, Andrei da Silva; SILVA,


Fernando Nogueira da. Fotografia de esportes: a evolução tecnológica e o seu auxí-
lio na valorização da imagem esportiva. In: 16º Congresso Nacional de Iniciação
Científica, Sindicato das Mantenedoras do Ensino Superior/Semesp, 2016. Dispo-
nível em: <http://conic-semesp.org.br/anais/files/2016/trabalho-1000023096.
pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.

DIAS, António Pedro. A cor na fotografia: reflexão sobre a evolução histórica e


ensaio prático. Dissertação apresentada à Creative University, curso de Design e
Cultura Visual. Laureate International Universities, Lisboa, 2016. Disponível em:
<https://comum.rcaap.pt/handle/10400.26/17220>. Acesso em: 19 jun. 2018.

DIAS, Guilherme et al. Paparazzi – Profissional sem celebridade. In: XXI Con-
gresso de Ciências da Comunicação na Região Sudeste, Intercom – Sociedade
Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Salto/SP, 17 a 19 jun.
2016. Disponível em: <http://www.portalintercom.org.br/anais/sudeste2016/
resumos/R53-1001-1.pdf>. Acesso em: 21 jun. 2018.

ENCICLOPÉDIA ITAÚ CULTURAL. Fotografia publicitária. 2018. Disponível


em: <http://enciclopedia.itaucultural.org.br/termo3868/fotografia-publicitaria>.
Acesso em: 22 jun. 2018.

EPRIN – Escola Profissional da Raia. A evolução da câmara fotográfica. 2018.


Disponível em: <https://www.eprin.net/gamanho/fotpb/AEvolucaodaCamara-
Fotografica.pdf>. Acesso em 30 mai. 2018.

FELZ, Jorge Carlos. A fotografia de imprensa nas primeiras décadas do século


XX – O desenvolvimento do moderno fotojornalismo. In: 6º Encontro Nacional
da Rede Alfredo de Carvalho/Alcar. Associação Brasileira de Pesquisadores de
História da Mídia, Niterói/RJ, 2008. Disponível em: <https://bit.ly/2shV9Py>.
Acesso em: 29 mai. 2018.

FRANDOLOSO, Luís Fernando. Retratos do cotidiano: o instantâneo fotográfico


a partir da Polaroid até o Instagram. Disponível em: <http://www.uel.br/even-
tos/encoi/anais/TRABALHOS/GT6/RETRATOS%20DO%20COTIDIANO%20
O%20INSTANTANEO.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2018.

GASPAR, Ricardo Carlos. A trajetória da economia mundial: da recuperação do


pós-guerra aos desafios contemporâneos. In: Cadernos Metrópole, vol.17, nº.
33, São Paulo/SP, maio 2015. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/cm/
v17n33/2236-9996-cm-17-33-0265.pdf>. Acesso em: 18 jun. 2018.

33
33
UNIDADE O Mundo Passa a ser Colorido (1946-1999) e
a Fotografia Publicitária, de Gastronomia e de Ação/Esportes

GOTTSCHALK, Molly. Celebrity photographer Mark Seliger on the stories


behind 8 of his iconic portraits (Fotógrafo de celebridades Mark Seliger e as
histórias por trás de oito de seus retratos icônicos). 2018. Disponível em: <https://
www.artsy.net/article/artsy-editorial-celebrity-photographer-mark-seliger-stories-
-8-iconic-portraits>. Acesso em: 25 jun. 2018.

HACKING, Juliet. Tudo sobre fotografia: técnicas criativas de 100 grandes fotó-
grafos. Rio de Janeiro: Sextante, 2012.

MACHADO, Arlindo. A ilusão especular: introdução à fotografia. São Paulo:


Brasiliense, 1984.

MAGNUM PHOTOS. Sobre a Magnum. 2018. Disponível em: <https://www.


magnumphotos.com/about-magnum/history/>. Acesso em: 19 jun. 2018.

LIBÉRIO, Carolina Guerra. Indústria fotográfica e fotografia do século XX ao XXI.


In: 9º Encontro Nacional de História da Mídia, Intercom – Sociedade Brasileira
de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Ouro Preto/MG, 2013. Disponível
em: <http://www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/9o-encontro-2013/arti-
gos/gt-historia-da-midia-audiovisual-e-visual/industria-fotografica-e-fotografia-do-
-seculo-xx-ao-xxi>. Acesso em: 04 jun. 2018.

OLIVEIRA, Pedro Revillion de. A fotografia esportiva e o momento decisivo. In:


XXXV Congresso Brasileiro de Ciências da Comunicação, Intercom – Socie-
dade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, Fortaleza/CE, 3 a
7 set. 2012. Disponível em: <http://www.intercom.org.br/sis/2012/resumos/
R7-1160-1.pdf>. Acesso em: 25 jun. 2018.

PALMA, Daniela. Fotografia e publicidade: primeiro ato. In: V Congresso Na-


cional de História da Mídia, Intercom – Sociedade Brasileira de Estudos Inter-
disciplinares da Comunicação, São Paulo/SP, 2007. Disponível em: <http://
www.ufrgs.br/alcar/encontros-nacionais-1/encontros-nacionais/5o-encon-
tro-2007-1/Fotografia%20e%20publicidade%20primeiro%20ato.pdf>. Acesso
em: 22 jun. 2018.

POLAROID. History. Disponível em: <https://www.polaroid.com/history>. Aces-


so em: 18 jun. 2018.

SABBAG, Pércia Helena. Fotografia gastronômica: um convite a comer com os


olhos. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Comunica-
ção da Universidade Paulista/Unip, 2014. Disponível em: <https://www.unip.br/
presencial/ensino/pos_graduacao/strictosensu/comunicacao/download/comu-
nic_perciahelenasabbag.pdf>. Acesso em 23 jun. 2018.

SALLES, Filipe. Breve história da fotografia. 2004. Disponível em: <http://


www.miniweb.com.br/artes/artigos/Hist%F3ria_fotografia.pdf>. Acesso em: 31
mai. 2018.

SANTOS, Rui Cezar dos. Anotações sobre a fotografia de futebol. In: Revista
Mediação, Universidade Fundação Mineira de Educação e Cultura/Fumec, nº 4,

34
dez. 2004. Disponível em: <http://www.fumec.br/revistas/mediacao/article/
view/242/239>. Acesso em: 25 jun. 2018.

TIME. Ron Galella, King of the Paparazzi (Ron Galella, Rei dos Paparazzi). Disponível
em: <http://content.time.com/time/photogallery/0,29307,2008078_2171511,00.
html>. Acesso em: 22 jun. 2018.

TOREZANI, Julianna Nascimento. A fotografia anos 1950 – Parte 2. 2015.


Disponível em: <http://ikoneblog.blogspot.com/2015/03/a-fotografia-anos-
-1950-parte-2.html>. Acesso em: 21 jun. 2018.

35
35

Você também pode gostar